UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Engenharia de São Carlos

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida

Prof. Dr. Marcelo Tramontano – São Carlos, novembro de 2004

CIDADE E HABITAÇÃO EM MINAS NOS SÉCULOS XVIII - XIX

Ana Aparecida Barbosa

Arquiteta, Mestranda em Arquitetura e Urbanismo na Escola de Engenharia de São Carlos–USP

            anaapbsp@sc.usp.br

 

 

ÍNDICE

1.        Introdução. 4

2.        Objetivos. 8

2.1     Objetivos específicos: 8

3.        Critérios portugueses na criação de arraiais, vilas e cidades no brasil 9

3.1     A lógica urbana portuguesa. 9

3.2     O traçado urbano Brasileiro: o caso de Minas Gerais. 12

4.        Caracterização da habitação setecentista, e da relação de sua importância na formação do espaço urbano  17

4.1     Características gerais. 17

4.2     Relações sociais estabelecidas – povoados mineiros. 20

4.3     A família. 23

4.4     A Habitação. 24

5.        A habitação no espaço urbano. 31

5.1     Loteamento. 33

6.        Considerações. 34

7.        Referência bibliográfica. 35

 


RESUMO

Caracterização sintética da habitação e dos modos de vida dos primeiros colonizadores portugueses, e dos demais habitantes em diferentes Vilas e Arrais do ciclo do Ouro e Diamante em Minas Gerais. A partir de pesquisa bibliográfica e da observação de registros remanescentes, estabelece uma breve análise da maneira de viver do período colonial dos habitantes dos povoados nas Minas Gerais, focando uma visão panorâmica entre as habitações e sua relação urbana.

Palavras-chaves: Habitação. Modos de vida. Relação urbana. Povoados Coloniais - Minas Gerais.

 

1.    Introdução

Compreender a história da habitação em Minas Gerais, e portanto de suas cidades, estudando um pouco da evolução dos modos de vida em cidades de origem colonial, é fundamental para a realização de um breve entendimento da trajetória das transformações urbanas ocorridas nestas localidades desde suas origens, até a atualidade. A história destas cidades como resultado da maneira de morar e de viver dos primeiros colonizadores, é reflexo de características humanas, comportamentos sociais, que participaram da construção destas povoações. A partir deste entendimento, e do conhecimento da cultura portuguesa e da maneira com que ela se mescla às demais culturas que formaram o Brasil, demonstra-se parte da realidade das cidades de origem colonial em tempos atuais.

Os núcleos populacionais que se desenvolveram em Minas Gerais no século XVIII estão diretamente ligados à exploração aurífera: Vila Rica (atual Ouro preto); Vila Albuquerque (Mariana); Vila Real de Sabará (Sabará); São João d’El - Rei; Vila do Príncipe (Serro); São José d’El - Rei (Tiradentes), Arraial do Tejuco (Diamantina) dentre outros. O ciclo do ouro, de extraordinária importância em face do destaque da produção da colônia no cômputo mundial, determinou a chegada de migrantes vindos de várias partes da colônia e de imigrantes metropolitanos e o estabelecimento de arraiais, alguns rapidamente se transformaram em vilas, tendo como cidade apenas a cidade de Mariana.

A composição social das cidades mineradoras mostra a existência de numerosas pessoas ricas ligadas à mineração, desde bandeirantes paulistas, escravos, a marginais urbanos, o funcionalismo da coroa, que nestas cidades teve um papel importante na fiscalização da produção e no exercício de outras atividades administrativas, e contingentes militares. A riqueza fácil proveniente da explosão do ouro e na seqüência dos diamantes, determinou um comportamento perdulário, o que contrastava com a formação senhorial-ruralista da colônia até então, e mesmo com o tipo de vida da maioria das cidades existentes.

A mineração possibilitou ainda, sem esquecer a extensão, que numerosos escravos tivessem conseguido suas cartas de alforria, o que de certo modo permitiu a ascensão social de elementos da população negra e a sua integração na vida urbana. Por outro lado, a mineração determinou uma enorme concentração de população marginal, "os desclassificados do ouro" (SOUSA, 1982). Já no século XIX, por toda a província de Minas Gerais, já havia expressiva miscigenação racial, com forte participação de mulatos na vida social dos povoados.

As cidades mineiras, em sua maioria, encravadas nas montanhas, cresceram da junção de arraiais localizados ao longo das encostas, adaptando-se a uma topografia desfavorável à criação de um sítio urbano, apresentando uma configuração linear, paralela às curvas de nível. “Estas cidades, de acordo com a hierarquia da organização administrativa colonial, se transformavam de pequenos arraiais em vilas, com o aglomerado usual da Igreja Matriz, com o Pelourinho nas proximidades. Desse modo apresentavam um conjunto urbano específico, com edifícios oficiais – que constituíam o centro dominante da dinâmica cultural – balizando a imagem urbana.” (PESTANA, 2001).

 

Ouro Preto/MG

fonte: revista Urbanismo 3 de origem portuguesa

 

 

Por questões de interesses políticos e financeiros, Minas Gerais representava um território rigorosamente controlado pela coroa portuguesa, onde as ordens religiosas não tiveram permissão para se fixar, sendo permitido apenas à igreja, a presença da Santa Casa e das ordens ou confrarias. Da relação entre a Igreja e a sociedade estratificada da capitania, se fizeram presentes a irmandade dos negros de Nossa Senhora do Rosário, a dos brancos, as Ordens Terceiras de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo e a confraria das Mercês, agrupando os crioulos, representando importantes elementos da integração da sociedade, que apresenta ainda uma estratificação social com base na fidalguia de sangue. A questão das origens sociais na formação destes povoados é fundamental.

Os funcionários da coroa, contratadores, intendentes, produtores de ouro,  representavam um grupo social perante os comerciantes, os tropeiros, os faiscadores que trabalhavam por conta própria, ex-escravos negros e mulatos já alforriados, formando um tipo de estratificação social decorrente do processo natural de circulação da riqueza que,  desenvolveu a formação de uma quase aristocracia, de uma determinada “elite”, segmentos em que despontaram as contradições. “Enquanto os brasileiros dissipam descuidosamente o que possuem, os portugueses ajuntam tostão por tostão, privando-se de tudo para se tornarem ricos. Ao se tornarem ricos, conservam a grosseria inata e a ela sobrepõem a mais  insuportável arrogância, tratando com desdém os brasileiros, a quem devem a fortuna”. (SAINT-HILAIRE, 1974)

No surgimento destas povoações nas Minas Gerais, do desenho da cidade medieval à cidade renascentista e iluminista, os portugueses transpuseram para os espaços coloniais o desenho que se adaptava melhor às circunstâncias, quer quando a malha obedecia a um traçado, quer nos casos de crescimento espontâneo. A apropriação do espaço urbano reflete, de certo modo, os interesses das classes e segmentos sociais envolvidos no processo de colonização, interesses esses que nem sempre coincidiram com os da coroa. O modelo das cidades mineiras setecentistas é representado por ruas tortuosas e intrincadas, conforme tradição medieval portuguesa, definindo um sistema de padrão irregular, com arruamentos transversais à encosta, atravessados perpendicularmente por ruas paralelas, travessas e becos. Com as casas amoldando e determinando o traçado das ruas, foram se estabelecendo espaços sinuosos, com alargamentos e estreitamentos, com as mais tortuosas formas, conforme nos esclarece Pestana, 2001.

Os arraiais e vilas que deram origem às cidades do ciclo do ouro mineiro, foram criados em curto espaço de tempo, refletindo uma lógica própria na apropriação do espaço urbano. Eles resultaram de uma cultura regional própria, diferentemente das povoações litorâneas, que obedeceram inicialmente a um traçado militar defensivo, evidenciando não só o desenho mas um estilo de vida que se aproximava dos da metrópole. Na colônia, em que durante os primeiros dois séculos de colonização predominavam os interesses senhoriais do mundo rural, a constituição dos núcleos urbanos, apoiados pela coroa, fez-se num passo decisivo na criação de uma rede urbana dinâmica com um papel apreciável no processo de modernização. (MOURÃO, 2000).

Caixa de texto:  
Traçado urbano de Tiradentes – MG
Fonte: IPHAN/13ªSR –Sítio Histórico de Tiradentes/Fundamentos, Proposta de Critérios e Normas de Intervenção

A vida cotidiana dos mineiros oscilava entre a rotina rural durante a semana, e nos fins de semana centravam na vida religiosa, nos povoados, da província de Minas Gerais (SAINT-HILAIRE, 1975). O isolamento formal imposto pela coroa e o processo econômico da mineração levaram à emergência de uma autonomia cultural qualitativamente diferenciada que caracterizou os núcleos humanos das Gerais (MOURÃO, 2000). No que se refere à vida social, as mulheres ficavam praticamente em uma clausura em sua própria casa. No cotidiano, nunca tinham qualquer contato com estranhos.

O universo rural colonial, mineiro, de certo modo pouco conhecido, apesar das proibições reinóis, a fim de concentrar a mão-de-obra dos escravos na mineração, desenvolveu a produção de açúcar e de aguardente, ao arrepio da lei, conseguindo alcançar uma "relativa auto-suficiência". Neste contexto Sainti-Hilaire relata sobre a fraca tradição portuguesa quanto à agricultura, que trouxe aos habitantes da província o conhecimento restrito quanto ao cultivo da terra, levando-os ao abando da habitação, quando do esgotamento da lavra aurífera. E, no caso dos muito pobres, com construção de suas habitações em pau a pique, a facilidade em construir outra casa em novas localidades, os impulsionava à procurar melhores possibilidades de vida.

Citando ainda Saint-Hilaire, em sua viajem de 1816 em Minas Gerias, quando da decadência aurífera das minas e conseqüente abandono das casas, há expressivo esvaziamento das povoações. Segundo ele, por influência da Inconfidência Mineira, que em função das providências tomadas pela Coroa Portuguesa, que exilou grande parte dos habitantes mais intelectualizados da província, com consecutiva penhora e leilão de seus bens, que de forma sucessivamente foram comprados por diferentes cidadãos, sem condições financeiras de mantê-los, contribuiu para a gradativa decadência física de tais imóveis. O esvaziamento foi reforçado, pela fuga de outros habitantes, devido à insegurança e medo, e incapacidade de pagamento dos impostos cobrados pela coroa.

Entendemos que a ampliação de conhecimentos, tais como as referências citadas, nos possibilitará melhor compreender o perfil dos habitantes destas povoações setecentista mineiras, que as construíram e modificaram ao longo da história, e com isto, traçar uma breve trajetória das transformações urbanísticas, e do modo de viver nestas cidades, a partir dos valores nelas existentes, ou nelas criados.

2.    Objetivos

Compreender os valores existentes, ou valores criados em cidades setecentista mineiras, para algumas transformações urbanas e do modo de viver nelas ocorridas ao longo do tempo, priorizando seu momento de formação.

Para tanto, é necessário entendimento sobre a população que morava ou possuía habitação nos povoados, da região da Capitania das Minas Gerais, na busca pelo entendimento das relações entre os núcleos de povoação destas regiões de exploração mineral da ocasião.

2.1      Objetivos específicos:

3.    Critérios portugueses na criação de arraiais, vilas e cidades no brasil

3.1      A lógica urbana portuguesa

“A cidade[1] portuguesa é o resultado de várias influências e de várias concepções de espaço, que nela confluem e se sintetizam. Por um lado, uma concepção de espaço de natureza mediterrânica, vernácula e muito ligada à estrutura do território, que pode ser verificado nas cidades gregas, em que o elemento essencial, são os edifícios localizados em posições dominantes, que dão sentido e estruturam os espaços urbanos envolventes. Por outro lado, uma concepção de espaço racional, intelectual e abstrata, que embora presente nas cidades romanas de colonização não é especificamente mediterrânica” (TEIXEIRA,2000). De igual importância é a influência da cultura mulçumana nas cidades portugueses, uma vez que eles dominaram o território que hoje é Portugal por aproximadamente 500 anos, do século VIII ao século XIII, deixando como forte herança a tradição da estrutura urbana uniforme (http://urban.iscte.pt/Revista/numero2).

As cidades portuguesas contemplam os princípios teóricos e as intervenções urbanas desenvolvidas em diferentes regiões da Europa, fazendo parte da cultura erudita européia, partilhando os mesmos valores. O urbanismo português partilha inteiramente desta evolução, tornando-se cada vez mais racional e identificado com esta cultura urbana européia de raiz erudita. (TEIXEIRA, 2000)

Historicamente, as cidades tradicionais construídas no Brasil possuem características morfológicas na tradição urbana portuguesa. Podemos citar características de destaque, como a lógica das suas localizações, nas especificidades topográficas dos sítios em geral, na relação que estabelecem com o território, na estrutura global da cidade e nas suas principais linhas estruturantes, nas características do traçado, na estrutura de quarteirões e na estrutura de loteamento, nas suas características arquitetônicas, vernáculas[2] (que predomina no caso mineiro) ou eruditas[3]. Segundo TEIXEIRA, 2000 “Uma das principais características do urbanismo português é a sua capacidade de síntese destas duas vertentes, que pode ser observada ao longo da história. Não existem tipos puros de traçados nas cidades de origem portuguesa. A cidade portuguesa caracteriza-se sempre pela síntese destas duas concepções de espaço, harmonizando num todo coerente estas duas formas de fazer cidade, aí residindo, em grande parte, a sua especificidade.”

Verificamos que a tradição vernácula tem como uma de suas características mais importantes, a relação com o território, que pode ser observada na escolha de localizações, nas características específicas dos sítios selecionados para a sua fundação, na escolha de locais proeminentes para a implantação de edifícios institucionais, na definição das principais vias estruturantes, que se inserem simultaneamente numa lógica territorial e urbana que as articulam, na estruturação global da cidade e definição do seu traçado, assim como no desenvolvimento de espaços urbanos com características formais específicas.

No território português, em diferentes momentos históricos, há traçados urbanos com características de regularidade, que resultaram de processos de planejamento. Segundo TEIXEIRA, 2000, podemos citar as “cidades romanas dos séculos I e II, as cidades medievais planeadas dos séculos XIII e XIV, e os traçados regulares quatrocentistas e quinhentistas que evidenciam as novas concepções de espaço renascentista. A partir do século XV começam também a construir-se nas ilhas atlânticas, e a partir do século XVI no Brasil, traçados urbanos regulares, evidenciando as influências daqueles modelos planeados. Os traçados urbanos quinhentistas e seiscentistas brasileiros vão afirmando a crescente regularidade e geometrização do urbanismo de origem portuguesa. Os traçados setecentistas que se desenvolvem quer no Brasil quer em Portugal representam o aparente triunfo e predomínio da racionalidade sobre os outros princípios vernáculos de estruturação urbana. Mas só aparentemente.”

O urbanismo português retrata uma capacidade de se moldar ao território, ainda que às vezes a partir da utilização de um relativo menor rigor geométrico. Cada uma das duas principais componentes que compõem o urbanismo português (vernacular e erudita) afirma-se mais ou menos conforme a época histórica, a cultura urbanística do momento da sua construção, e as razões conjeturais que presidiram ao seu desenvolvimento.

Caixa de texto:  
Processo de Formação da cidade de Lisboa/Portugal
Fonte:

Constatamos a partir de TEIXEIRA, 2000, que a especificidade da cidade portuguesa[4] tem a ver com múltiplos aspectos: as diferentes influências e concepções de espaço que estão na sua origem; os critérios de seleção dos locais para a construção das cidades; a escolha dos sítios topograficamente dominantes para a implantação dos núcleos originais dos aglomerados urbanos; a íntima articulação do seu traçado com a topografia; a estruturação da cidade em núcleos distintos, com malhas urbanas diferenciadas, correspondendo cada uma delas a diferentes unidades de crescimento; a localização de edifícios institucionais, de natureza religiosa, civil ou militar, em sintonia com as particularidades topográficas e o papel destes edifícios na estruturação dos traçados urbanos; a lenta estruturação formal das praças urbanas, associadas a diferentes núcleos geradores e a funções distintas em muitos casos; a constância da estrutura de loteamento e das tipologias construtivas a ela associadas; finalmente, o próprio processo de planeJamento e de construção da cidade portuguesa, que apenas se concretiza no confronto com a estrutura física natural do território.

“A cidade portuguesa constrói-se sempre de acordo com um plano, ou uma idéia de ordenamento pré-definido, mas tendo em consideração as particularidades do sítio e explorando-as quer no que se refere ao ordenamento do traçado quer à localização dos principais edifícios e funções urbanas.” (TEIXEIRA, 2000).

3.2      O traçado urbano Brasileiro: o caso de Minas Gerais

As cidades portuguesas apresentam coerência formal e se estruturam na base de um mesmo conjunto de princípios, que podem ser observados em Portugal e nos territórios ultramarinos[5], em diversas épocas históricas e em traçados de origem vernácula ou erudita, existindo evidentes exemplos em algumas cidades brasileiras.

fig.  29

Planta, da cidade de Salvador/BA – 1612

Fonte: Urbanismo 3 de origem portuguesa - Biblioteca Pública Municipal do Porto

 

A organização municipal e urbanização no Brasil, aconteceu por meio das ordenações, que trouxeram a organização municipal portuguesa para a colônia, com suas raízes romanas e suas funções político administrativa e judiciárias. “As humildes vilas brasileiras tiveram seu nascedouro subordinado a um programa elaborado em Lisboa. Todas se erguiam debaixo da organização municipal que desde o seu dia inicial lhes presidia os movimentos e lhe marcava o futuro.” (REIS, 2000)

A maior parte das cidades brasileiras tradicionalmente se desenvolveram em situações costeiras, à beira de uma baía, ou junto a rios ou outros cursos de água. “As que se desenvolvem junto ao mar situam-se geralmente em terrenos de encosta, mais ou menos acidentados, pendendo para o mar. As que desenvolvem junto a rios situam-se geralmente em pendentes suaves. Os seus traçados – seja de cidades costeiras seja de cidades de interior – apresentam princípios idênticos. Uma e outra são variantes de um modelo mais geral. O ponto topograficamente dominante do território é ocupado geralmente pelo castelo, ou por qualquer outra situação defensiva, desenvolvendo em torno de si um pequeno núcleo construído. A primeira grande via estruturante da cidade desenvolve-se no entanto a uma cota mais baixa, ao longo do mar, ou do rio.” (TEIXEIRA, 2000).

A realidade das povoações da Capitania de Minas Gerias, resultaram em cidades à beira-rio em encostas voltadas para rios, riachos ou ribeirões, em sua maioria à meia encosta, deixando os terrenos mais perto do curso de água livres. A implantação está geralmente condicionada a permitir a abertura de poços artesianos, para abastecimento de água dentro do aglomerado urbano.

A primeira via do povoado, desenvolve-se de nível, sempre à mesma cota, e paralela ao curso de água.

 

Formação urbana de Mariana/MG

Fonte: Fundação João Pinheiro

Caixa de texto:     
conjunto arquitetônico e urbanístico de Serro
fonte: arquivo Ana Barbosa - 2004

O fato de a rua acompanhar a estrutura do terreno, tem como resultado o seu caráter orgânico. Conforme descreve SAINT-HILAIRE, Vila do Príncipe, por exemplo, foi edificada sobre a encosta de um morro alongado, com as casas dispostas em anfiteatro, possibilitando a visibilidade dos quintais entre elas, onde as ruas de leste a oeste, paralelas à base do morro, eram em sua maioria pavimentadas.

Caixa de texto:

Em termos gerais, as povoações mineiras surgiram a partir da fixação do comércio nas estradas, em regiões auríferas (VASCONCELLOS, 1977). Estes caminhos, em cada possibilidade de surgimento de uma povoação, acontecia com a consolidação do mesmo em uma via cujos extremos marcados geralmente por capelas, que se constituíam como “pontos de amarração”, e que provavelmente surgiram logo no início da ocupação deste trecho. Cada uma destas capelas pontuava um espaço aberto, um simples adro, um largo que em tempo se estruturavam formalmente como praças. Ao mesmo tempo, intencionalmente ou não, estes espaços e estes edifícios, constituem perspectivas que se têm para um e outro lado desta via. É ao longo deste primeiro percurso que se definem os primeiros lotes e se constroem as primeiras casas, seguindo o seu alinhamento.

 

 

Povoado de Canjica/MG

Fonte: arquivo pessoal – Ana Barbosa

 

Caixa de texto:  
Evolução urbana de Ouro Preto/MG
Fonte:Vila Rica – Sylvio de Vasconcellos

Muitas vezes os espaços associados a estas capelas, situadas de um e outro lado deste eixo fundamental, tinham características distintas. Minas Gerais apresenta a especificidade de não ter sido autorizado, por Carta Régia, as ordens religiosas, congregações (franciscana, carmelita, jesuíticas, dentro outras), que se responsabilização por grande parte da arquitetura religiosa do litoral brasileiro, e a correspondente relação dessa arquitetura com o desenvolvimento e estratificação social da região. Desta maneira, em Minas, devido a ausência dessas congregações, ficou transferido para o povo a responsabilidade destas questões religiosas. Organizaram-se em grupos, compondo confrarias, irmandades, ordens terceiras, sem maiores assistências do clero. Estes grupos corresponderam aos agrupamentos sociais então existentes. Esta correspondência entre a arquitetura religiosa e o sistema social, em Minas Gerias, representa importância para a compreensão desta arquitetura, e principalmente para a compreensão do desenvolvimento social nela tão bem traduzido.

 

Caixa de texto:  
Ouro Preto/MG
Fonte:Vila Rica – Sylvio de Vasconcellos

Numa segunda fase, observa-se a ocupação dos pontos dominantes do território por funções urbanas e edifícios significativos – civis e religiosos – e o desenvolvimento de ruas dirigindo-se para eles. Estes pontos dominantes podem ser os topos de colinas mais altas ou as elevações mais proeminentes da meia encosta onde a cidade se desenvolve. Geralmente, as ruas que se dirigem para estes edifícios são perpendiculares ao eixo original, mas em pontos onde, apesar da grande inclinação, a pendente é menor.

Uma vez ocupada completamente a primeira via estruturante do aglomerado urbano (a rua Direita) assiste-se ao desenvolvimento de outras ruas paralelas a esta primeira via longitudinal, e de outras vias travessas, perpendiculares a elas. E,outra longitudinal em cota mais baixa, mais próxima do fundo do vale, e as restantes longitudinais a uma cota superior.

De forma gradual, estrutura-se um sistema de duas vias principais cruzando-se um ângulo reto, com uma praça no seu cruzamento. Trata-se da estrutura urbana básica que os romanos haviam racionalizado e de geometrizado (TOLEDO, 2000).

O melhor exemplo cidades  estruturadas segundo processos vernáculos e traçados informais no século XVIII, quando a racionalização se fazia expressiva, é provavelmente Minas Gerais, onde se observa um processo tardio, e rápido, de crescimento de cidades que, na maior parte, não foram objeto de um plano estruturador, e onde podemos entender que se condensa todo o conhecimento vernáculo de épocas passadas do urbanismo português.

É importante lembrarmos que os próprios traçados regulares que crescentemente se afirmam no urbanismo português possuem raízes nesta tradição vernácula. Esta crescente racionalização dos traçados urbanos portugueses é, em todas as épocas, apenas a ordenação do modo vernáculo (ou natural, ou territorial) de fazer cidade. (TEIXEIRA, 2000)

4.    Caracterização da habitação setecentista, e da relação de sua importância na formação do espaço urbano

4.1      Características gerais

Caixa de texto:  Manchas de povoamento no Brasil – século XVIII
Fonte: História da Vida Privada no Brasil– Volume1

Segundo, REIS,2001, durante as primeiras décadas do século XVIII o desenvolvimento da mineração no interior do território brasileiro, permitiu a formação de áreas de colonização com população expressivamente urbana se comparada com a do litoral. O desenvolvimento da mineração trouxe também um impulso significativo às atividades de comércio nas vilas e cidades, vinculados agora não mais aos objetivos da agricultura agro-exportadora. Estando já em 1720, clara a importância da vida urbana para o sistema colonial, já existindo na Capitania de Minas Gerais oito vilas, que representam as atuais cidades de Mariana Sabará, Ouro Preto, São João Del Rei Serro, Caeté, Pitangui, Tiradentes.

O povoamento da capitania de Minas Gerais ocorreu basicamente por imigrantes aventureiros com ambição financeira em detrimento da moral ou de direito. Chegaram homens das mais diversas origens e raças, “paulistas afeitos à vida rude, experimentados no sertão e na caça do índio, brasileiros do norte, boiadeiros, vadios do litoral, ciganos, judeus e cristãos-novos, uns e outros prontos para a guerra e para a desobediência. Por outro lado, seriam pouco acomodados os portugueses que para as minas se acomodaram. Juntaram-se a estes os negros, em grande número, trazidos à força prontos à rebeldia, fugindo para os quilombos, embriagando-se nas vendas. Não há notícia do elemento indígena.” VASCONCELLOS, 1977. Os povoadores mineiros possuíam forte tendência urbana. Segundo algumas referenciais de Vasconcellos, 1977, verifica-se uma média de 08 pessoas por habitação urbana (estando excluídos escravos). Mas as habitações urbanas brasileiras eram marcadas pela presença de escravos nas atividades em geral, e pela ausência da maioria dos proprietários na rotina do dia a dia, que mantiam suas casas fechadas na maior parte do ano, principalmente nos dias úteis da semana, mas faziam questão de ser uma residência no povoado, e estar presente na vida urbana pelo menos aos finais de semana. Conforme esclarece Reis, 2001, e a esta realidade “acrescia-se o costume das famílias de residir em chácaras na periferia”.

 

 

 

Mapas evidenciando a manutenção de imóveis em chacreamento na cidade de Diamantina – séc.XIX e XXI

Fonte: DID/IPHAN – RJ, apresentação do trabalho de Inventário Nacional de Bens Imóveis

 

Esta forte dinâmica urbana da capitania de Minas Gerais, no século XVIII, possibilita-nos compreender este século como sendo aquele em que a arte brasileira tradicional, produziu suas obras mais originais, podemos exemplificar a obra de Aleijadinho. “A partir da metade deste século, pode-se constatar um maior florescimento de uma arte tida especificamente como brasileira em oposição à arte luso-brasileira ou arte portuguesa feita no Brasil. As mais notáveis obras vão ocorrer em regiões onde a mineração se deu de forma mais intensiva. A formação de uma rede de cidades em regiões distantes do litoral, é circunstância alinhada entre as razões do afastamento dos padrões estabelecidos nos dois primeiros séculos de colonização” (TOLEDO,2000).

Grande parte do solo urbano era utilizada para construções particulares, que resultavam em sua maioria por habitações, de uso residencial com seu depósito, uso comercial em parte da edificação quando térrea, ou em seu primeiro pavimento, quando a edificação era um sobrado. E, no caso mineiro a volumetria das edificações em sua maioria prevalecia pelo térreo, e sobrados de dois pavimentos. “Ao iniciar o século XVIII, as residências haviam adquirido em relação às ruas um tratamento decididamente formal, que era fruto da valorização dessas e que iria se manifestar daí por diante não apenas nas construções de maior importância, como em cada uma delas em particular, ou em várias como um conjunto.” (REIS, 2001). Os espaços com características da cultura urbana muçulmana, mantêm em muitas cidades portuguesas a tradição dos espaços fechados, a sinuosidade dos traçados.

No cotidiano destas povoações, com referências mulçumanas, as necessidades de defesa, as características ecológicas do espaço geográfico em que estas cidades se construíam, e o estilo de vida não ostensivo prescrito pelo Corão contribuíam para o caráter íntimo das suas ruas, tortuosas, com diferentes perfis ao longo do percurso, das quais saíam ruas em cotovelo ou becos que davam acesso a pequenos conjunto de casas construídas em torno de impasses. “As condições climáticas aconselhavam igualmente o sombreamento e a pouca largura das ruas. As casas eram por todas estas razões viradas para pátios interiores, e as poucas aberturas para a rua eram protegidas por janelas, rótulas e muxarabis.”(http://urban.iscte.pt/Revista/numero2).

Esta realidade pode ser claramente observada na arquitetura destas cidades mineiras de origem setecentista.

 

  

Biblioteca Antônio Torres – Diamantina/MG

Fonte: Bens Tombados de Diamantina-13ªSR/IPHAN-MG

 

4.2      Relações sociais estabelecidas – povoados mineiros

A população era heterogenia e irrequieta o que determinou a formação de uma sociedade instável. O interesse regia as ações, e só se cuidava em ampliar riquezas, sem se consultarem os meios proporcionados a uma aquisição inocente “a soberba, a lascívia, a ambição, o orgulho e o atrevimento tinham chegado ao último ponto”. (VASCONCELLOS, 1977). Revoltas e desavenças são constantes em Minas, desde as primeiras décadas do século XVIII, com a guerra dos emboabas e paulistas, até 1842 com a luta entre conservadores e liberais. Minas “É habitada de gente intratável, sem domicílio, e ainda que está em contínuo movimento. Os dias nunca amanhecem serenos: o ar é um nublado perpétuo, tudo é frio. As conturbações são constantes: a terra parece que evapora tumultos, a água exala motins, o ouro troca desaforos. O clima é tumba da paz e berço da rebelião.”[6]

Na Capitania de Minas Gerais, por determinação de cartas régias, não foi permitido a existência de ordens religiosas, congregações (franciscanas, carmelitas, jesuíticas, dentre outras). Desta maneira, ficou transferida para o povo a responsabilidade da estruturação das questões religiosas. Os mineiros se organizaram em grupos, compondo irmandades, confrarias, ordens terceiras, sem maior assistência do clero. Estes grupos representavam os grupos sociais então existentes.

“Essa correspondência entre arquitetura religiosa e organismo social em Minas, é importante para a compreensão desta arquitetura, assim como é de fundamental importância para a reconstituição do desenvolvimento social nela traduzido” (VASCONCELLOS,1983).

 

Caixa de texto:  
Festa de Nossa Senhora do Rosário 2003– Serro/MG
fonte: arquivo Ana Barbosa - 2003
Conforme nos aponta Vasconcellos, no início, as povoações primeiras, uniam os indivíduos em torno de uma única capela, de construção precária, núcleo da povoação nascente, e ponto de referência do lugar. Aqui o povo se reunia em festas, todos sem diferenças maiores, igualmente esperançoso e homogêneo.Com o progresso do lugar, uns se enriquecem e outros se vêem pobres. Surgem novas atividades e um outro tipo de gente: o comércio. Começam a se definir as classes sociais: pobres, ricos, trabalhadores braçais, comerciantes, administradores, brancos pretos. A localidade tende a se estabilizar, exigindo paróquia provida de vigário próprio. Neste contexto, a classe de melhores condições financeiras, construía a matriz. Dentro destas diferenças sócias, é interessante que, a invocação normalmente escolhida pelos ricos se apegava aos poderosos, diretamente ao Rei, erigindo suas matrizes ao Santíssimo Sacramento. Vasconcellos diz que a evocação acentuada à figura de virgem Maria, pode estar atrelada ao fato da figura feminina ser pouco presente na capitania, principalmente da mulher branca.

Na estruturação dos povoados a partir das igrejas e capelas, ocorria que, às vezes a matriz era erigida por um grupo com menos riqueza, mas nesta situação existia um grupo líder, que comandava os outros, como numa federação. Ficando assim a matriz com o altar principal ao Santíssimo Sacramento, e os vários altares laterais tão presentes nas igrejas mineiras, às associações filiadas. (VASCONCELLOS,1983). A partir de então, com um maior avanço do lugar como um todo, o progresso amplia a estratificação social existente, surgindo conflitos, e uma convivência heterogenia entre as já formadas classes sociais. A harmonia que então existia é quebrada, onde cada grupo resolve a seu modo os problemas existentes. Uns se dissolve, outros se empenham na construção de novas capelas. Aqui, conforme esclarece Vasconcellos, 1983, ocorrem as mais importantes obras arquitetônicas de Minas, que representa uma fase de curta duração, logo superada pelo declínio da economia do ouro. Esta realidade resulta no empobrecimento geral da então nítida separação de classes sociais existentes, que sem mais condições financeiras de continuarem seus projetos e construções, concentram seus esforços em benefício do templo geral, a Matriz. Vasconcellos, nos apresenta um esquema de formação e organização social das povoações, desde sua formação no início do século XVIII até o século XIX.

 

Caixa de texto:  Entre 1700 e 1720, ocorre a formação das povoações, ainda há ausência de classes sociais. As Capelas são precárias, ocorrendo invocações de santos, e um só altar.

 

Caixa de texto:  Entre 1720 e 1750, as povoações já estão estabilizadas, ocorre o início da formação de classes sócias com a predominância de uma delas, ocorrendo o agrupamento de classes diferenciadas. As igrejas Matrizes, possui invocação do SS., e multiplicidade de altares.

 

Caixa de texto:  Entre 1750 a 1800, as povoações estão maduras, e as classes fortemente diferenciadas, ocorrendo rivalidade de classes. Há um processo de reconstrução das primitivas capelas, e construção de novas, evidenciando a decadência das matrizes

Caixa de texto:

A partir de 1800, há a decadência econômica e dissolução da diferenciação social nos povoados. Acontecendo paralisação das novas construções ou acabamento deficiente das mesmas; surgindo neste momento novo apogeu das matrizes.

 

 

 

 

Desenvolvimento social a partir da arquitetura religiosa

Fonte: Sylvio de Vasconcellos – Arquitetura dois estudos

 

Considerando este esquema desenvolvido por Vasconcellos, podemos entender que houve etapas definidas da sociedade e da arquitetura mineira, correspondentes entre si, etapas que concluídas, materializaram-se na arquitetura, tendo com forte determinante do espaço as referências espaciais da Igreja Católica. A questão do povoamento súbito e extraordinário na Capitania de Minas Gerais, resultou em grande número de construções, com formação e consolidação de vários povoados.

As várias classes sociais formadas, propiciam ao homem a busca por posições cada vez mais elevadas, em um esforço para aparentar riqueza acima de suas posses, com falsas ostentações, prejudiciais ao conforto da família. Neste contexto quando as vaidades não permitiam a valoração individual, serviam-se então de iniciativas de cunho coletivo e religioso, representando orgulho e promoção para seus realizadores. As “sinhás” transitavam com requinte e luxo, exibindo o poder financeiro, servindo-se de cadeirinhas de arruar decoradas de pinturas finas, carregadas por negros, e segundo Vasconcellos, 1977, muitas vezes suas vestimentas se resumiam em simples camisolões e o conforto a rústicos tamboretes de couro.

 

4.3      A família

Na maior parte do período de colonização, a organização da família e da vida doméstica foi expressivamente influenciada por elementos que marcaram a sociedade brasileira, desde a extensão territorial do Brasil à diversidade étnica dos povoadores assim o sistema escravocrata implantado na colonização

A constituição da família em uma sociedade estratificada, ocorreu a partir de uma formação complexa, e de uma certa desorganização social em termos gerais. A intimidade da família ocorre a partir do concubinato de certa maneira na perversão facilitada pela escravatura. Neste contexto, p rei considerou que o povo mineiro não se constituía civilizado determinou que as pessoas tomassem estado de casados, o que possibilitaria maior amor a terra, se tornando mais obedientes às Reais ordens. Tendo poucas mulheres brancas no Brasil, os homens “usam-se” das negras, numa realização de seus apetites sexuais “triste fruto da escravidão, mulatas prostituídas encontram-se em todas as povoações” (SAINT-HILAIRE, 1975). Há ainda, dificuldades na consolidação do casamento, pela escassez de sacerdotes, e falta de recursos para o “dote”, ou para a vida honesta levando as mulheres a se prostituírem, assim, concorrendo, também, para a facilidade dos costumes”. Como fruto da união entre Homens e mulheres negras ou mulatas, gerava filhos forros, com a visão de pessoas forras não precisam trabalhar, reforçando ainda mais o regime escravocrata. Contudo era claro a visão de que o casamento dignifica as pessoas.

Em virtude de todos esses fatores, e da importância na compreensão da sociedade colonial, a composição da família é fundamental no entendimento da intimidade, da moradia, na sociabilidade doméstica na colônia. (NOVAIS,1997)

 

4.4      A Habitação

 

Caixa de texto:  Planta primitiva de habitação do século XVIII
Vila Rica – Sylvio de Vasconcellos

As primeiras habitações mineiras, em função do estabelecimento de aventureiros, do caráter de transitoriedade, foram os ranchos, estruturados basicamente por quatro esteios de pau roliço, quatro frechais, e uma cumeeira ao alto, com cobertura em fibras vegetais sobre caibros de madeira roliça. Inicialmente abertos, posteriormente fechados, com tábuas, varas, pau roliço, para sustentar o pau a pique.

Caixa de texto:

Quando o homem se fixa à terra, busca maior conforto, construindo sua casa com cômodos separados de acordo com as funções que lhe interessa(dormir, estar, cozinhar). Segundo Vasconcellos, a planta quadrada que era única nos ranchos, divide-se em cruz. Com essa divisão passa a habitação a receber melhor acabamento, evidenciado esta realidade no revestimento das paredes com argamassa de barro ou de cal e areia, também caiadas. Surgem as esquadrias, com enquadramento pesado, folha de madeira, forros de esteira de taquara ou tabuado grosso. O pé direito é baixo, com aproximadamente 2,50 (dois metros e cinqüenta centímetros), abrindo-se as janelas em proporção quadrada, à igual distância dos frechais e baldrames.

Caixa de texto:

Estas primeiras casas da Capitania das Minas Gerais, apresentam partido com plantas, cômodos e janelas quadrados postas à meia altura das paredes. O pano do telhado é em telhas semi-cilindricas grandes, que avançam em beirais apoiados em cachorros de madeira ou série de telhas sobrepostas (beira-seveira).

 

 

 

Evolução da planta primitiva de habitação do século XVIII

Fonte: Vila Rica – Sylvio de Vasconcellos

 

Com a consolidação das povoações (1720-1750), conforme apresentamos anteriormente, constituíram-se as famílias, e a habitação ampliou-se em multiplicadas partes. Em princípio com ”puxados” aos fundos ou para frente, aproveitando a mesma cobertura. As plantas se fazem então em “U” ou em “L”, tendo os cômodos periféricos com diminuta altura.

Na maturidade das povoações tais arranjos não mais atendiam aos desdobramentos das famílias, que pela melhoria econômica das povoações, buscavam ampliação do conforto em sua habitações. Passou-se então a construir casas alteadas do chão por embasamentos mais altos, tangenciando os arruamentos e acabadas com maior apuro. Aqui foram desprezados os partidos quadrados, alongam-se transversalmente em retângulos proporcionados, mas às vezes ainda decorrentes do quadrado. Os pés direito passam a 3,00 (três metros) ou 3,50m(três metros e cinqüenta centímetros), e as janelas se alteiam aproximando dos beirais. A distância entre elas e os frechais é agora a metade do espaçamento inferior, entre o peitoril e o baldrame.

Caixa de texto:  
Habitação térrea
Fonte: Arquitetura dois Estudos
“A casa, posta ao comprido, prefere a horizontal, acentuada pelas largas beiradas e pela sucessão de vãos que se equivalem aos cheios de parede”.(VASCONCELLOS,1983).

 

E agora a planta se complica em função da ampliação da especialização das funções. Aparece o corredor de entrada, o quarto de hospedes, a grande sala de receber e a varanda de trás de serviço. Cozinhas se mantêm em puxados posteriores, insinuando pátios internos. Os forros passam a ser de madeira, lisos ou emoldurados, com abas e cimalhas, valorizados por pintura decorativa, folhas das portas e janelas em madeiras almofadadas perfiladas. A pedra começa a ser usada com a fase polida e trabalhada, através da enxilharia nos portais cunhais, escadas e outros elementos.

 

 

 

 

Caixa de texto:  
Planta de habitação urbana térrea
Fonte:Revista Topos

Caixa de texto:  
Planta de habitação urbana térrea
Fonte:Revista Topos
Quando os povoados progridem, escasseiam-se os lotes disponíveis os terrenos arruados. As casas amplas restringem aos extremos do povoado (à periferia), e no centro as habitações acontecem espremidas umas as outras tendo uma única parede separando uma casa da outra. A habitação passa a ocupar o lote de maneira longitudinal, antes voltadas para a rua, passam a votar-se para os fundos, com estreitas fachadas. Esta é a casa típica das vilas e cidades brasileiras, conclui Sylvio de Vasconcellos, conforme é registrado por Debret, Vautier, dentre outros estudiosos.

 

Caixa de texto:  
Planta de habitação urbana assobradada
Fonte: Revista Topos

Nesta habitação, “o corredor lateral de entrada, corredor que penetra por inteiro a moradia, servindo de entrada, nobre em seu terço anterior, de distribuidor, íntimo, em seu terço médio e de serviço, de saída, em seu terço final. A casa coloca-se ao comprido, para os fundos, como o corredor de banda, eixo da construção, ladeado pelos cômodos postos em sucessão. Na frente a sala, no meio as alcovas, atrás o serviço. O corredor é peça vital: dá acesso à habitação, atende à circulação interna, permite o transito da rua ao quintal. Por ele entram as visitas, o cavalo areado ou o burro carregado. Por ele atinge o porão, quando existe, acessão ao telhado, escada discretamente agenciadas”. (VASCONCELLOS, 1983).

A habitação se restringia em espaços cada vez menores, em média cômodos de 8,00m2 , exceto a sala da frente, os quartos no interior da construção sem janelas, as alcovas, atribuídas por vários estudiosos como quarto das donzelas, devido ao zelo, ciúmes, proteção indevassável das mesmas.

Nesta precariedade de espaço, e terrenos disponíveis para a necessária expansão, com poucas condições de aproveitamento dos fundos. Surge então os sobrados, nem sempre para atender a ampliação de moradia, mas para abrigar dependências anexas à vida e ao trabalho dos moradores. Espaço pra animais, carros, areios, mantimentos, senzalas, depósitos, e principalmente para comércio. Moradia em cima e atividades em baixo. A escada entala-se transversalmente entre a sala da frente e as alcovas, e a planta da moradia não se altera substancialmente. O térreo abre-se em salões, eliminando divisões, e as fachadas em geral se apegam ao verticalismo acentuado. Alteiam-se os pés direitos, que chegam a 4,00m (quatro metros), e os vãos espicham-se para cima e para baixo, em janelas rasgadas por inteiro, providas de sacadas ou parapeitos entalados com balaústres, que acentuam o caráter vertical da fachada. Estreitas e altas, abrem-se as fachadas quase por inteiro em janelas e portas, aproveitando ao máximo as faces livres da construção, enriquecidas pelo ondular das vergas curvas quase contínuas. (VASCONCELLOS, 1983). Vasconcellos esclarece que, com esses sobrados fecha-se, quase em retorno, o ciclo das esquematizações sofridas pela arquitetura residencial, do século XVIII e XIX.

Desta maneira, das primeiras habitações de pequena expressão do início do século XVIII que povoaram a província de Minas Gerais, até as mais enfeitadas já no século XIX, podemos verificar o trajetória clara de desenvolvimento, nas características da habitação mineira. Tendo como referência estudo desenvolvido por Vasconcellos, apresentamos um esboço com 4(quatro) fases cronológicas, apenas como ilustração, uma vez que a diversidade de características em função do período de surgimento de cada povoado, é relevante no sentido de evidenciar situações que não se enquadram na cronologia apresentada. Entretanto ela trata de importante parâmetro norteador para o entendimento das transformações arquitetônicas ocorridas em Minas ao longo dos século XVIII e XIX.

1ª fase – 1700 a 1750 – Casa simples de pau-a-pique e cobertura vegetal;

2ª fase – 1750-1800 – Casa de pau-a-pique ou alvenaria de adobes ou pedra, mas coberta de telhas;

3ªfase – 1800 a 1850 – Casa com as mesmas características, porém mais leve em função do uso do vidro. Às vezes a construção é em pedra(raramente), começa a utilização de cimalha sobre os vãos, rótulas, e sacadas ou varandinhas nos sobrados.

4ªfase – 1850 a 1900 – Começa a utilização do chalé. O telhado passa a ter sua empena para frente, com o beiral em madeira recortada. Inicia-se uma fase de expressiva influência francesa.

 

Caixa de texto:  
Transformações arquitetônicas ocorridas em Minas ao longo dos século XVIII e XIX
Fonte: Sylvio de Vasconcellos – Revista Topos

Na busca pela maior exposição de ostentação pelos mineiros, prevalecendo os conceitos arquitetônicos, vigentes naquela época, “onde as fachadas se consideravam elementos autônomos da construção, os proprietários esforçavam-se sempre pó um melhor tratamento das frentes das construções e das peças de recepção, relegando-se em segundo plano o interior das residências” (VASCONCELLOS, 1977). O que reforça a verificação das mudanças de fachadas conforme a moda da época. Com a passagem rápida de inúmeros povoados a vilas, a Capitania de Minas Gerais recebeu autoridades públicas, que possuíam uma vida luxuosa.

No interior da habitação ao corredor e à sala de jantar, comunicavam-se os quartos de dormir principais. Para a varanda dos fundos davam portas a cozinha e outras dependências secundárias, inclusive um sórdido cubículo sem janelas, onde se depositam os vasos de serviço intimo e se tomava o banho em gamelas grandes ou bacias de arame. As cocheiras, galinheiros, quartos de arreios e dormidas de escravos eram muitas vezes de baixo da casa.

Nas casas sem capelas, existia um quarto reservado às práticas religiosas “onde sobre uma cômoda se encontrava um oratório de jacarandá, ou outra madeira, onde se arrumava o crucifixo e demais santos de devoção. O mobiliário em geral em jacarandá ou cedro, compunha as habitações mineiras de “banco rústico medieval às cômodas, contadores, mesas, cadeiras, arcos, leitos torneados ou entalhados, todos os requintes da marcenaria e estilos peninsulares, são representados em obras de valor nas mansões das Minas.” (LIMA, 1978)

Nos primeiros tempos das Minas, houve importação de mobiliário da corte, as mesas, arcas, leitos trabalhados na capitania eram ainda muito toscos, trabalhados indistintamente em várias madeiras, como jacarandá cedro, e aroeira. Já em meados do século XVIII, os marceneiros já acompanhavam o desenvolvimento artístico europeu. Estes moveis são confeccionadas em sua maioria para os eclesiásticos e para as classes sociais ricas. O mobiliário era executado para os quartos de dormir, leitos cadeiras, cômodas, contadores, bufets; nos salões de receber e quartos de santos. Segundo Lima, 1978, as salas de jantar raramente participavam do mobiliário de luxo.Nas salas de comer, além de mesas e cadeiras colocavam-se armários embutidos, e a grande mesa tosca com bancos com encosto em tábuas. Os tamboretes de pés torneados, garra de leão ou pé de burro, assentos em couro, ou tábuas eram presentes por toda a habitação.

 

mobiliário setecentista mineiro

fonte: História da Vida Privada-volume 1

 

Caixa de texto:  
mobiliário setecentista mineiro
fonte: História da Vida Privada-volume 1

Este mobiliário foi de uso generalizado nas Minas Gerais, revelando uma certa opulência no viver. Além deles, as residências possuíam louças da índia que entraram no Brasil expressivamente, segundo Lima, 1978. Ele afirma ainda que a prata teve uso generalizado em baixelas, serviço de toucador, peças de ornatos, arreatas, que além de fabricação européia, também foram produzidas em Sabará e Vila Rica.

As roupas de cama e mesa eram em linho importado ou tecido de Minas, e algodão, com tecidos de fabricação caseira. A coroa proibiu no Brasil instalação de qualquer indústria de tecido e bordado – veludos, cetins, tafetás, sedas em geral, tecidos de lã, restringindo a produção da capitania, que contudo não deixou de produzir outros produtos em pedras, com panelas, candeeiros, canecas pratos lamparinas, castiçais, dentro outros

 

 

5.    A habitação no espaço urbano

A Coroa Portuguesa tão logo assumia o encargo da organização efetiva das povoações, transformando-as em Vilas, providenciava normas reguladoras de sua existência, contemplando a arquitetura e o urbanismo. Através de Cartas Régias definia-se localização adequada para praças, com o pelourinho, reservando área para a igreja com dimensões amplas para significativo número de fiéis, assim como as demais áreas para casas de audiência, cadeias, oficinas públicas, fazendo-se delinear as habitações dos moradores, buscando a utilização da linha reta no intuito de se terem ruas largas e direitas. Contemplava-se ainda a plasticidade das edificações definindo-se que as mesmas fossem fabricadas de maneira uniforme pela parte exterior, ainda que internamente a liberdade construtiva fosse permitida ao proprietário, buscando-se assim certa uniformidade na busca pela a mesma “formosura” nas diferentes vilas.

Segundo Vasconcellos, 1977, normas drásticas às vezes ocorriam na ordenação pela coroa aos povoados, como por exemplo quando da elevação da Vila do Carmo à cidade de Mariana, onde seria realizado projeto pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim, Dom João V assim determinou: “Façam-se logo a planta da nova povoação, elegendo sítio para praça espaçosa, e demarcando as ruas, que fiquem direitas, e com bastante largura, sem atenção a conveniências particulares, ou edifícios que contra essa ordem se achem feitos no referido sítio dos pastos, por que se deve antepor à formosura das ruas, e cordeadas estas que se demarquem sítios em que se edifiquem os edifícios públicos, e depois se aforem as braças de terra, que os moradores pedirem, preferindo sempre os que tiverem aforados no caso em seja necessário demolir-se parte de algum edifício para se observar a boa ordem que fica determinada na situação da cidade..., ficando estabelecido que em nenhum tempo poderão dar licença para se tomar parte da praça, ou das ruas demarcadas, e que todos os edifícios se hão de fazer à face das ruas, cordeadas as paredes em linha reta.”[7]

As construções e surgimento de espaço urbano era rigorosamente acompanhado pela Coroa que através de ordenações e Leis do Reino de Portugal, definia a demanda de “que se fizerem sobre o fazer, ou não fazer de paredes de casas, de quintais, janelas, frestas e eirados , ou tomar ou não tomar de águas de casas, ou colocar traves ou qualquer outras madeiras nas paredes, ou sobre estercos, imundícies, ou águas que se lançam como não devem, e sobre canos, e enxurros, sobre fazer de calçadas e ruas, assim como construções de edificações e geral”[8].

Este trabalho de ordenação, dispõe sobre as edificações particulares, permitindo que fossem feitos eirados com peitoril, janelas, frestas e portais, desde que não descubram casa ou quintal alheio; em beco não se permitem janelas nem portas, sem especiais licenças; as águas a serem lançadas nas ruas não poderiam incomodar o vizinho, assim como inúmeras outras orientações. Além deste tipo de orientação vindo direto de Portugal, as Câmaras locais definiam legislações complementares, como aforamentos de terrenos a receberem construções, licença para construir. Os terrenos eram cordeados a arquitetura metrificada na frente dos edifícios, as casas deveriam se constituídas com “20 palmos de altura, desde a soleira até a superfície do frechal, da superfície do primeiro soalho até o segundo 20 palmos de altura, da superfície do segundo soalho até o terceiro 18 palmos por cada andar, as ombreiras devendo ter 12 e meio palmos de altura, as portas e janelas a mesma altura e seis palmos limpos de largura.”[9]

Em 1795, em Ouro Preto ficou resolvido que os proprietários não poderiam construir sem antes apresentar um prospecto do que era pretendido para ser aprovado primeiramente. E, para melhorar o aspecto do espaço urbano, os moradores ficam obrigados a limparem suas testadas, não lançar coisas imundas nas ruas, becos públicos em geral, conforme nos relata Vasconcellos, 1977.

 

5.1      Loteamento

 

Caixa de texto:  
casa com lote irregular
fonte: Vila Rica - Sylvio de Vasconcelos

 

As povoações mineiras ocorreram preferencialmente em terrenos com topografia expressivamente acidentada. Nestas encosta de morros, as casas foram construídas em terrenos irregulares, raramente com conformação em quadra. Muitas destas edificações eram cercadas por muros, quando a região possibilitava eram em pedra, que também separavam áreas internas. Estas áreas podem se entendidas como lotes. Suas dimensões são resultado da própria área de mineração, em alguns povoados, assim como da utilização do próprio pomar da habitação. Estas áreas são muito variáveis, de acordo com o povoado e localização na área urbana. Nos limites externos das vilas e arraias, os terrenos eram aproveitados para chácaras, já com testadas e arruamento. Já nas áreas urbanas de maior valoração, os lotes tradicionalmente configurados por áreas mínimas, com testadas predominantemente na faixa de no máximo 10m em sua grande maioria. No caso de abertura de nova rua paralela à rua existente, criam novas frentes nos fundos dos terrenos que se subdividem.

Neste contexto as edificações ficavam sujeitas aos lotes disponíveis, as habitações não se localizavam segundo preferência de orientação solar, tendo como referência a via pública mais próxima, tangenciando-a e quase sempre as laterais do lote. Tendo em vista a busca pela maior utilização dos lotes, e a divulgação da abastança e do poder as classes sociais favorecidas economicamente, utilizavam da construção de sobrados na busca por este destaque social. Muitas vezes estes sobrados eram construídos sobrepostos a antigas casas térreas, que muitas vezes em função da declividade natural da topografia, já possui porões às vezes com pés direito, que possibilitavam melhor uso destes espaços.

6.    Considerações

A compreensão da estrutura urbana e social dos povoados que originaram e formaram o Estado de Minas Gerais é fundamental para o entendimento da formação das cidades, na relação da sociedade atual com esta arquitetura dos primórdios da história urbanística mineira, principalmente no que se refere à preservação destas cidades que atualmente são reconhecidas como patrimônio nacional, ou até mesmo patrimônio da humanidade.

Neste sentido, as velozes transformações que a dinâmica da sociedade contemporânea trouxe ao ambiente urbanístico, nos colocam em uma posição investigativa na busca por maiores compreensões a respeito da sociedade que hoje habita estas cidades e nelas possuem sua origem. Para isso é importante compreender também a origem setecentista e oitocentista da estrutura social, econômica, física, dentre outros fatores, nestas localidades, na expectativa de que estes entendimentos possam auxiliar a ampliação da percepção da “cidade tradicional”, hoje envolvida pela “cidade contemporânea”, necessitando ser preservada em toda a sua complexidade artística e histórica, considerando suas referências de identidade cultural.


7.    Referência bibliográfica

ALGRANTI, L. M. Famílias e vida doméstica. In: Mello e Souza, L (org) História da Vida Privada no Brasil. V. 1: Cotidiano e vida Privada na América Portuguesa. Companhia das Letras, 1977. p.83-154.

ÁVILA, Cristina e GOMES, M. do C. A representação espacial das Minas Gerais no século XVIII. Relações entre a Cartografia e a Arte. Barroco, 15: 446, 1990-1992

CASTRIOTA, L. B. (org.). Urbanização Brasileira: Redescobertas. Belo Horizonte: IAB-UFMG. 2003.

CHOAY, F. A Regra e o Modelo: sobre a teoria da arquitetura e do urbanismo. São Paulo: Perspectiva. 1985.

DOURADO, O. Por um Restauro Arquitetônico: novas edificações que restauram cidades monumentais. RUA, Revista de Arquitetura e Urbanismo/ufba, Salvador, v.1, n°8, p.8-13, julho/dezembro. 2003.

DRUMOND, C. Morte de Casa de Ouro Preto. In. Obras Completas. Aguilar. Rio de Janeiro. 1976.

FREYRE, G. Casas de Residência no Brasil Patriarcal: em Torno de Testemunho de um Engenheiro-arquiteto Francês. In: Oh de Casa! (em torno da casa brasileira e de sua projeção sobre um tipo nacional de homem). Artenova/IJNPS. Recife. 1979

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO; OURO PRETO (MG); MARIANA(MG). PREFEITURA. Plano de conservação, valorização e desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana: relatorio sintese. Belo Horizonte: 1975. 69p.

GEDDES, P. Cidades em Evolução. Papirus. Campinas. 1994.

LEMOS, C. Cozinhas, etc.. 2ªedição. São Paulo: Perspectiva, 1978.

LIMA, A. A Capitania das Minas Gerais. Ed. Livraria Itatiaia Editora Ltda. 1978

MOREIRA, V. (tradutor), SAINT-HILARE, A (1779-1853). Coleção Reconquista do Brasil. Vol.4. Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Minas Gerais. Itatiaia. 1975.

NOVAIS, F. A. (coord). História da vida Privada no Brasil:Cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo. Companhia das Letras. 1997.

REIS FILHO, N. G. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: ed. Perspectiva. 1976.

REIS FILHO, N. G. Contribuição ao estudo da Evolução Urbana no Brasil. São Paulo: ed. Pini Ltda. 2001.

RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma idéia. Rio de Janeiro: Record. 1996

TOPOS Revista de Arquitetura. Contribuição para o estudo da arquitetura civil em Minas Gerais. Sylvio de Vasconcellos. Belo Horizonte. Imprensa Universitária. P148-163, jul/dez. 1999.

TRAMONTANO, M. Novos modos de vida, novos modo de morar. São Carlos:EESC/USP, 1993.

VASCONCELLOS, S. Vila Rica.São Paulo. Perspectiva. 1977

VASCONCELLOS, S. Arquitetura dois Estudos.Porto Alegre. Ed Goiania. 1960

 

Referência Bibliográfica retirada da internet:

Urbanismo 4 de origem portuguesa. Ação dos Engenheiros Militares na Ordenação do Espaço Urbano no Brasil. Benedito Lima de Toledo Comunicação apresentada no Colóquio "A Construção do Brasil Urbano", Convento da Arrábida - Lisboa 2000. http://urban.iscte.pt/Revista/numero4/default.htm

Urbanismo 3 de origem portuguesa. Os Modelos Urbanos Portugueses da Cidade Brasileira. Manuel C. Teixeira Comunicação apresentada no Colóquio "A Construção do Brasil Urbano", Convento da Arrábida - Lisboa 2000-http://urban.iscte.pt/Revista/numero3/default.htm

As Formas Urbanas das Cidades de Origem Portuguesa – 5. A influência da cultura muçulmana nos traçados urbanos portugueses. http://urban.iscte.pt/Revista/numero2

Urbanismo 3 de origem portuguesa. A Lógica Territorial na Génese e Formação das Cidades Brasileiras; O Caso de Ouro Preto. Maria Rosália Guerreiro Comunicação apresentada no Colóquio "A Construção do Brasil Urbano", Convento da Arrábida - Lisboa 2000 - http://urban.iscte.pt/Revista/numero3/default.htm

Urbanismo 3 de origem portuguesa. Brasília: O Coroamento do Milênio através de uma Metamorfose iniciada em Vila Rica - Paixão e Estética na Leitura do Traçado das duas Cartas Urbanas. Fernando Augusto Albuquerque Mourão Comunicação apresentada no Colóquio "A Construção do Brasil Urbano", Convento da Arrábida - Lisboa 2000. http://urban.iscte.pt/Revista/numero3/default.htm



[1]As especulações teóricas sobre as morfologias da cidade ideal tinham a principal fonte em Vitruvius, a primeira publicação do seu tratado é feita na Itália, em 1486. Já a especulação sobre a estrutura ordenada da cidade no Renascimento, tinha outras componentes. Por um lado, o desenvolvimento no decorrer do século XVI de novas técnicas de representação gráfica da cidade, através de uma projeção plana, aumentava a tendência para encarar a estrutura de uma cidade como uma abstração e levava a representá-la e a planejá-la de uma forma tão regular quanto possível. Foi também no Renascimento que a construção da cidade passou a ser encarada como parte da disciplina da arquitetura, passando o desenho da cidade a ser sujeito aos mesmos critérios de rigor de base matemática. Finalmente, o desenvolvimento de novas técnicas de guerra, particularmente da artilharia, levou a que as muralhas das cidades passassem a ser construídas de acordo com regras geométricas rigorosas, que aumentavam as suas capacidades de defesa. Em muitos casos, serão os engenheiros militares que, encarregues do desenho das fortificações, irão também ocupar-se do desenho das cidade. O traçado interno das cidades, acomodando-se à forma das muralhas envolventes, viria a ser igualmente desenhado de uma forma rigorosa e geométrica. Portugal teve um papel importante no desenvolvimento destes novos conceitos de cidade. A componente ideológica que associava a cidade regular à boa ordem social estava necessariamente presente na construção do seu império ultramarino”. (TEIXEIRA, 2000).

[2] A vertente vernácula do urbanismo portuguesa, tem como característica fundamental uma grande ligação ao território.

[3] A vertente erudita do urbanismo portuguesa, tem como característica fundamental basear-se, a maior parte das vezes, em sistemas ortogonais, e esta está presente em todas as épocas históricas.

[4] A existência da regularidade da cidade, associada à beleza e ao bom governo que ela devia expressar, passava não apenas pela regularidade do traçado urbano, mas também pela adoção de modelos arquitetônicos uniformes aos quais deviam obedecer todas as construções de uma rua, de uma praça, ou de toda uma cidade. A associação da beleza da cidade à regularidade do plano e à arquitetura uniforme a que as várias construções deviam obedecer, estavam patentes nas Cartas Régias e nos Autos de Fundação.

[5]A cidade de Salvador da Bahia é um dos melhores exemplos da síntese de diferentes modelos que caracteriza o urbanismo português, ilustrando algumas das suas características morfológicas principais. Ela constitui um exemplo importante, quer da adaptação dos traçados urbanos às características físicas do território, quer da génese do urbanismo regular português. O traçado urbano de Salvador da Baía apresenta estreitas afinidades morfológicas com outros traçados urbanos portugueses contemporâneos, nomeadamente o Bairro Alto em Lisboa e cidade de Angra, nos Açores. A cidade alta de Salvador da Baía, iniciada em 1549 sobre um planalto sobranceiro à baía de Todos os Santos, foi uma cidade planeada segundo um traçado que, se por um lado se procurava adaptar às características topográficas do terreno seleccionado para a sua construção, adoptando por esse motivo um perímetro exterior de forma trapezoidal irregular, por outro lado era constituída no seu interior por um conjunto de quarteirões ortogonais”.(TEIXEIRA, 2000)

[6] Texto apresentado por VASCOCELLOS, 1977, como “discurso Hist. E Político sobre a sublevação que nas Minas Houve no ano de 1720, pelo Conde de Assumar.

[7] Segundo VASCONCELLOS, 1977, este texto se refere à Carta Régia transcrita por T. Barreto – Revista do IPHAN, nº2, página 189.

[8] Conforme Vasconcellos, 1977,trata-se aqui de definições das Ordenações e Leis do Reino de Portugal, Livro 1.,(Lisboa – 1747).

[9] Revista do IPHAN número 7, citada por Sylvio de Vasconcellos