MONOGRAFIA

 

 

 

 

O TRABALHO CONTEMPORÂNEO:

 RELAÇÃO HOMEM- ESPAÇO - OBJETO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aluna Especial_ Roberta Barban Franceschi

 número  usp_  3766827

 

 

Habitação_ Metrópole_ modos . de . vida    SAP_ 5846

Professor_ Marcelo Tramontano

 

 

 

 2005

 

 

“...da mesma forma que a máquina liberou o homem de um certo número de tarefas sofrível as ferramentas da Informática o liberam do escritório” (TROPE, 1999, p.12)


 

 

RESUMO

         A possibilidade de uma comunicação global mediada por computadores, e algumas mudanças no sistema econômico e empresarial, inseriu na sociedade novos comportamentos, necessidades e possibilidades, seja de trabalho, de habitação ou de relacionamentos.

O trabalho intelectual domiciliar ou teletrabalho é um comportamento que esta conexão de redes e estas mudanças proporcionaram. A abordagem do tema com suas implicações e alternativas no âmbito da arquitetura e do design para melhora da qualidade de vida desse cidadão é o que propomos discutir.

 

PALAVRAS – CHAVES

Teletrabalho, Home-Office, Novas Mídias, Habitação.

 


SUMÁRIO

 

 

 

1 INTRODUÇÃO................................................................... 5

2   OBJETIVOS...................................................................... 6

2.1  OBJETIVO GERAL.................................................. 6

2.2   OBJETIVO ESPECÍFICO......................................... 6

 

3.   EVOLUÇÃO DO TRABALHO E DA INFORMATIZAÇÃO......... 7

 

4.  PÚBLICO E PRIVADO........................................................ 15

 

5.  FAMÍLIA E TRABALHO....................................................... 19

 

6.  MOBILIDADE E LUGAR GEOGRÁFICO............................... 23

 

7.  HOMEM – OBJETO – ESPAÇO.......................................... 26

 

8.  CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................. 29

 

9 BIBLIOGRAFIA...................................................................  31

1 INTRODUÇÃO

 

Atualmente os espaços residenciais estão adquirindo outros significados. As novas tecnologias, a diversidade de agrupamentos familiares  e conseqüentemente as novas atividades desenvolvidas no interior da residência revolucionam não só os hábitos domésticos como também os de trabalho e, em alguns casos, provocaram uma fusão das atividades morar e trabalhar no interior a das residências.

Falar das mudanças que vem ocorrendo na atividade de trabalho, sem antes contextualizar e pontuar o que levou essa mudança, seria muito superficial e unilateral. O retorno do trabalho para a residência é dado, pela a inserção das novas mídias na sociedade e também pela profunda mudança nas estruturas corporativas, o que provoca mutações  comportamentais na sociedade, nos espaços que a mesma utiliza.

É importante lembrar, que o trabalho que nos referimos é o  intelectual domiciliar, pois, como sabemos a residência sempre acolheu outros tipos de trabalhos remunerados em seu interior seja artesanal, artístico, manual, industrial ou comercial.

O presente trabalho aborda o assunto do trabalho intelectual na residência e coloca cinco pontos que configura a questão. O primeiro é a sua contextualização, o que mudou na sociedade, para que houvesse um retorno do trabalho intelectual no espaço doméstico. O segundo ponto é como fica a questão da relação público e privado no espaço residencial, uma vez que estas relações atualmente estão tão diluídas.  O terceiro ponto é como essa relação trabalho e família se consolida dentro do espaço residência, foco de várias transformações comportamentais da atualidade. O quarto ponto é a questão da mobilidade e lugar geográfico, que lugar essas pessoas ocupam, a casa, a cidade? O quinto ponto é a relação HOMEM – OBJETO - ESPAÇO reflexão sobre a relação projeto arquitetônico (residencial) e o projeto de design (mobiliário de escritório residencial os chamados Home-Offices), e o homem como usuário deste espaço e de objetos. Concluindo,foram estabelecidos critérios de auxilio a reflexão e pode ser o início de alternativas para a questão.

O mobiliário é um elemento ligado as transformações comportamentais da sociedade. Auxilia na construção do espaço e por meio da relação entre lugar, sujeito e objeto, provoca uma mudança na concepção do projeto. Exige da arquitetura e do design uma nova relação com o espaço, o sujeito tem necessidade de espaços e de objetos que permitam outras configurações e usos. As relações arquitetura, usuário e mobiliário se intensificam.

A metodologia proposta para este trabalho foi à pesquisa bibliográfica de teóricos que abordem assuntos relacionados com o tele-trabalho, as transformações que está ocorrendo na sociedade com uso das novas mídias, como também teóricos da área do design e da arquitetura.

Por meio desta pesquisa pudemos construir um contexto com as questões  que o tele-trabalhador está inserido.

 

2   OBJETIVOS

2.1  OBJETIVO GERAL

         Estudar o contexto que gerou o tele-trabalho e sua inserção na residência, compreender  as relações entre tele-trabalhador, o ambiente residencial e mobiliário. Estabelecer uma agenda para discutir o design desses espaços.

 

2.2   OBJETIVO ESPECÍFICO

 

·         Entender  melhor a sobreposição das esferas pública e privada no espaço da habitação;

·         Entender a relação entre família e trabalho e  que problemas traz para o tele-trabalhador;

·         Estabelecer pontos para reflexão do design nesses espaços.

 

3.   EVOLUÇÃO DO TRABALHO E DA INFORMATIZAÇÃO

 

O trabalho passou por diversas transformações no decorrer da evolução da humanidade, eram executados no campo, como também em suas casa e posteriormente, na cidade local em que a divisão do trabalho e do domicílio foi consolidada.

Até o século XVII, a casa era um lugar público e não privado. Abrigava grande número de pessoas, entre familiares, parentes, agregados e empregados que dividiam o mesmo espaço e muitas vezes a própria cama. Apresentavam cômodos multifuncionais, onde trabalho e moradia eram conciliados. (VILLA, 2002).

É no século XVII que ocorre a passagem do sistema feudal para o capitalismo. O capital acumulado aumenta, permitindo a compra de matéria-prima e de máquinas, fazendo com que muitas famílias que desenvolviam o trabalho doméstico nas antigas corporações e manufaturas, tenham de dispor de seus instrumentos de trabalho e, para sobreviver, vêem-se obrigadas a vender sua força de trabalho em troca de um salário (ARANHA, 1986). O aumento do volume da produção fabril altera o panorama econômico e social, mas é no século XVIII que a mecanização da indústria sofre um impulso extraordinário.

No fim do século XVIII o Ocidente dá um poderoso salto à frente, que envolveu todas as disciplinas e todos os setores da vida prática em nome da razão e do consenso. Esse impulso racionalizador levou às oficinas, aos escritórios, aos mercados e aos bancos, uma nova organização. Quando esse novo ordenamento se fortaleceu por meio dos extraordinários resultados produtivos e econômicos. Esse ideal transbordou os limites dos locais de trabalho para os locais da vida e para as cidades (DE MASI,1999).

Apesar da separação entre trabalho e moradia ter se concretizado no final do século XVIII, a consolidação das fábricas tornou os escritórios espaços importantes nas estruturas das empresas e da sociedade. Ocorre um crescente aumento dos serviços administrativos tanto público como privado, as atividades tornam-se mais complexas e apresentam diferenciação hierárquica e funcional.

As mudanças do começo do século XX foram alimentadas por muitas fontes: grandes descobertas nas ciências físicas, com a mudança da nossa imagem do universo e do lugar que ocupamos nele; a industrialização da produção, que transforma conhecimento científico em tecnologia, acelerando o próprio ritmo de vida; o rápido e muitas vezes catastrófico crescimento urbano; sistemas de comunicação de massa, dinâmicos em seu desenvolvimento que embrulham e amarram, no mesmo pacote, os mais variados indivíduos e sociedades; (BERMAN, 1993).

A segunda metade do século XX entra em uma nova dinâmica, mais acelerada e a conseqüência é a necessidade de atualização e de reformulação de conceitos e teorias. Neste período os ganhos de produtividade começaram a definhar na maioria  dos ramos industriais dos países capitalistas desenvolvidos, por meio da insatisfação dos empregados com as condições do trabalho. Por isto há uma forte tendência  administrativa das relações humanas behaivorista.

O ambiente de escritório passou por diversas mudanças de concepção tanto de mobiliário como de espaço, as tentativas de melhoria de conforto, de bem estar  e de organização dos espaços de trabalho, perdura até hoje. O que podemos perceber é que a forma do  trabalho se transforma continuamente e que devemos nos adaptar a isto.

O capitalismo, também se reestrutura neste momento, de 1870 até a Segunda Guerra  O capitalismo organizado – que se seguiu ao “capitalismo liberal”- era o regime da maioria das sociedades ocidentais, que consistia de alguns aspectos conhecidos da sociedade industrial: concentração, centralização e controle de empreendimentos econômicos na estrutura da nação-estado; produção em massa, segundo os princípios fordistas e tayloristas; padrão corporativo de relações industriais, concentração geográfica e espacial de indivíduos e produção em cidades industriais; modernismo cultural.

Na década de 60, começou o processo de inversão desse fundamentos  começou “O capitalismo desorganizado”, processo este ainda em andamento cujo início variou em diferentes países. O desenvolvimento de um mercado mundial integrado resultou numa descartelização e desconcentralização do capital, a especialização flexível e as formas flexíveis de organização de trabalho substituem cada vez mais a produção em massa. A classe trabalhadora industrial de massa se contrai e se fragmenta, dando origem a um declíneo da política de classe e a dissolução do sistema nacional corporativista de relações industriais. Uma classe de serviços separada, originalmente um efeito do capitalismo organizado, tornou-se, em seu desenvolvimento posterior, uma fonte de novos valores e novos movimentos sociais, que pouco a pouco se desorganizaram o capitalismo. A desconcentração industrial é acompanhada pela descentralização espacial, na medida em que trabalhadores e trabalho deixam as cidades e regiões industriais mais antigas e que a produção é descentralizada e dispersa por todo o mundo, grande parte dela tomando a direção, do terceiro mundo. O pluralismo e a fragmentação aumentam em todas as esferas da sociedade. (KUMAR, 1997, p.61)

A evolução da informática contribuiu para as mudanças nas indústrias, nos ambientes corporativo, residencial. Nos anos 60 grandes empresas e universidades faziam usos desta tecnologia, grandes máquinas, ocupavam grandes áreas refrigeradas que executavam cálculos científicos, estatísticos e de gerenciamento. A década de 70 nos trouxe  o microprocessador -um pequeno chip eletrônico – provocou uma grande mudança em todas as áreas de sociedade. Nas indústrias trouxe a automação, linhas de produção flexível, robótica, nos bancos a automatização, instaura-se a sistemática de ganhos de produção pelo uso dos computadores, redes de comunicação. Na década de 80 a informática tem uma penetração grande na vida das pessoas com a invenção do computador pessoal, o computador torna-se uma ferramenta para diversos profissionais por abranger diversas funções de criação de textos, imagens, desenhos, planilha, música entre outros. As transformações foram ainda maiores, no início dos anos 90 que como diz Pierre Lévy (1999, p.32) “As tecnologias digitais sugiram, então, como a infra-estrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do conhecimento”.

As mudanças na sociedade foram o desenvolvimento e a promoção de modos de pensamento e comportamento individualistas; a cultura da livre iniciativa; o fim do universalismo e da padronização na educação, fragmentação e pluralismo em valores e estilos de vida,  privatização da vida doméstica e de atividades de lazer.

Nos anos 90 a nova tecnologia de informação integrou os escritórios em redes de informação, com muitos microcomputadores interagindo entre si, formando uma rede interativa capaz de comunicar-se e tomar decisões em tempo real. Essa interação é a base para um novo tipo de escritório os “escritórios alternativos” ou “escritórios virtuais” em que trabalhadores individuais munidos por poderosos dispositivos de processamento e transmissão de informação, executam tarefas em localidades distantes, por meio das redes de informação (CASTELLS, 1999).

A formação de rede é uma prática humana muito antiga, durante a maior parte da história, as redes foram ferramentas de organização capazes de congregar recursos em torno de metas centralmente definidas, eram fundamentalmente o domínio da vida privada (CASTELLS,2003). Agora, no entanto, com a introdução da informatização e das tecnologias de comunicação baseadas no computador, e particularmente a Internet, as redes permitem uma flexibilidade e adaptabilidade, que são características essenciais para se sobreviver e prosperar num ambiente de rápida mutação. Sua natureza revolucionária é oposta as formações praticadas anteriormente, caracterizadas por serem centralizadoras e bem definidas.

Quando uma empresa depende da rede para funcionar, a qualidade e eficiência na conexão é um requisito importante, o que torna a conexão por linhas telefônicas padrão insuficientes para transportar e distribuir as informações necessárias. A empresa é dependente de sistemas avançados de telecomunicação (redes de fibra óptica) uma condição necessária para a competição entre cidades na economia global. Com isto a geografia da economia, se transforma em área de negócios dotadas de equipamentos de telecomunicação de ponta, formando áreas  específicas que se interconectam.

A variedade de profissionais que trabalham via rede tem aumentado, são caracterizados pelos altos níveis de instrução, iniciativa e qualidade de  educação. Kumar (1997) aponta para o surgimento de uma nova classe de serviço de trabalhadores do ramo do conhecimento, o trabalho desses profissionais se caracterizará por altos níveis de perícia técnica e conhecimento teórico que, correspondem a longos períodos de educação e treinamento. Castells (2003) coloca  os serviços como finanças, seguros, consultoria, serviços legais, contabilidade, publicidade e marketing como o centro nervoso da economia do século XXI. 

 

Segundo Pierre Lévy (2001),

“...é cada vez mais difícil encontrar o emprego clássico. Podemos observar uma tendência muito interessante já vários anos: Trata-se do aumento do número de pessoas que são autônomas, self-employed, que são empresários individuais. Adquiriram competência estudando em uma ou outra empresa ou dando consultorias, etc. finalmente, o que significa trabalhar hoje: trabalhar é prestar serviços aos outros. Podemos dar esta definição muito simples...Portanto, prestamo-los serviço. Além do crescimento do setor de serviços onde isso é evidente, o que estamos fazendo? Prestamos serviços uns aos outros, cada um à sua maneira... .“

 

Num contexto geral, a dinâmica da sociedade e do trabalho é a dinâmica da economia, o processo de acumulação de capitais é, cada vez maior, e cada vez mais monopolista. A técnica e a tecnologia, que aceleram a acumulação de capitais, causam efeitos enormes no espaço e nas relações sociais, ao mesmo tempo, são fruto condicionado da necessidade do trabalho em acelerar a produtividade e aumentar a lucratividade.

A nova economia permite a flexibilização do trabalho  que, contribui para a nova forma de sociabilidade e novas condições de trabalho. Mesmo com toda essa dependência do virtual, o trabalho humano continua sendo fonte de produtividade, inovação e competitividade. Segundo Castells (2003, p.77) “A economia eletrônica não pode funcionar sem profissionais capazes de navegar, tanto tecnicamente quanto em termos de conteúdo, nesse profundo mar de informações, organizando-o, focalizando-o e transformando-o em conhecimento específico, (...)”.

A flexibilidade permite o trabalhador realizar diversas tarefas, a flexibilidade também se insere no modo de contratar, de remunerar e de alocar espacialmente. Surgem a partir daí as formas “modernas” de contratação, a terceirização e contratos temporários, permitindo a redução dos custos com encargos sociais e ajustes no quadro de funcionários às flutuações da demanda. A flexibilidade de remuneração transfere todo o risco para os trabalhadores.

A entrada maciça de mulheres no mercado de trabalho foi provocada pelo aumento da participação das mulheres na universidade, um dado importante e indispensável para o desenvolvimento da nova economia e da flexibilização do trabalho. Requisito indispensável para esse novo contexto do mercado de trabalho, flexibilidade e autonomia que para mulher permitiu a aproximação à vida familiar, executar sua funções profissionais em horários alternativos, sem prejudicar o dia-dia doméstico.

A autonomia no trabalho é ainda mais evidente nos indivíduos que trabalham como consultores ou subcontratadores que munidos de um computador, uma linha telefônica, um telefone móvel, um local em algum lugar, muitas vezes em casa, sua formação, sua experiência e, o ativo principal, sua cabeça, consegue desenvolver o seu trabalho.

Pierre Lévy (1999) aponta que a entrada para o ciberespaço cada vez mais se amplia, as interfaces que os aparelhos de comunicação (computadores, telefone celular, laptop, palmtop) nos proporciona está cada vez mais desprendido do lugar. Para entender as transformações culturais e sociais contemporâneo devemos abordar as “grandes tendências técnicas contemporâneas”. Com isto aponta o aumento exponencial das performances dos equipamentos (capacidade de memória, velocidade), a melhora conceitual e teórico dos softwares e o uso social do virtual. 

Podemos perceber que o trabalho estável, de período integral, sob definição contratual, de direitos e obrigações comuns à força de trabalho,  seja no setor público ou privado está cada vez mais difícil. O emprego na nova economia é caracterizado pelo trabalho autônomo, o emprego em meio expediente, o emprego temporário e a subcontratação.

O modo em que as pessoas se sociabilizam vem sendo alterado, baseado no lugar seja no campo ou na cidade, fonte importante de interação social. Essa sociabilidade era fundada não só em vizinhanças, mas em locais de trabalho. (Castells,1983; Espinoza, 1999; Perlman, 2001 apud CASTELLS)

Wellman (2000) coloca a evolução da comunicação de em diferentes etapas de sociabilidade, primeiramente a comunicação era feita em porta-à-porta, a pessoa deslocava-se até a casa do vizinho para se comunicar, de modo que a maioria dos relacionamentos acontecia dentro das casas. Com o desenvolvimento das cidades e dos meios de transporte as pessoas começaram a se deslocar mais e viajar para locais mais distantes, o contato era feito de lugar-à-lugar. Atualmente, a comunicação é dada de pessoa-à-pessoa. A idéia de permanecer no lar é reforçada pelo desenvolvimento das comunicações, pela facilidade de comunicação com muitas pessoas, enraizando o usuário em suas mesas da moradia ou do trabalho.O celular e os equipamentos portáteis liberam as pessoas do grupo e do lugar, torna a  vida móvel e os relacionamentos fisicamente dispersos. A comunicação evolui para  um contato de papel-à-papel, pois os contatos na rede estão cada vez mais especializados a pessoa mantém contato com seus pares, seja emocional profissional e outros,o importante é ter um interesse em comum.

Pierre Lévy (1999, p.49) coloca:

“Indiretamente, o desenvolvimento das redes digitais interativas favorece outros movimentos de virtualização que não é o da informação propriamente dita. Assim, a comunicação continua, com o digital, um movimento de virtualização iniciado há muito tempo pelas técnicas mais antigas, como a escrita, a gravação de som e imagem, o rádio, a televisão e o telefone. O ciberespaço encoraja um estilo de relacionamento independente dos lugares geográficos (telecomunicação, telepresença) e da coincidência  dos tempos (comunicação assíncrona)... Contudo, apenas as particularidades técnicas do ciberespaço permitem que os membros de um grupo humano (que podem ser tantos quanto se quiser) se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma memória comum, isto quase em tempo real, apesar da distribuição geográfica e da diferença de horários. O que nos conduz diretamente à vitualização das organizações que, com a ajuda das ferramentas da cibercultura, tornam-se cada vez menos dependentes de lugares determinados, de horários de trabalho fixos e de planejamentos a longo prazo ...”

 

A inédita possibilidade de interagir à distância e em tempo real, faz o ambiente residencial cada vez mais ativo, une o trabalho e o habitar no mesmo ambiente, onde atividades da vida doméstica, social, de trabalho, produção, reprodução e divertimento interagem continuamente (DE MASI, 2000).  É importante frisar a necessidade de estudar as mudanças em conjunto. As mudanças na vida do trabalho de um número muito grande de indivíduos estão afetando grupos importantes de profissionais de nível superiores e várias outras categorias de trabalhadores  – faz-se acompanhar  de outras alteração na vida familiar, no lazer, na cultura e na política. (KUMAR, 1997)

        A inserção dos novos meios de comunicação altera o ritmo da vida, ocasionando mudanças na família, no trabalho, na sociedade. As transformações sociais e tecnológicas geralmente são mais rápidas que as transformações espaciais.

 

4.  PÚBLICO E PRIVADO

 

Ao longo da história, a casa, passou por diversas transformações, seja de usos ou de organização do espaço. Atualmente, o fenômeno do retorno do trabalho para dentro da habitação nos faz refletir sobre a questão dos espaços na moradia. Ainda, que esse movimento, de certa maneira, é um retorno à casa medieval tendo em vista que esta conciliava as atividades de trabalho e de moradia no mesmo local.

É preciso lembrar que o espaço que habitamos é fruto das transformações ocorridas nos hábitos e costumes do final do século XVIII e começo do XIX (LEMOS, 1978), em que a casa era organizada em áreas de estar (lazer em geral, receber visitas e estudo dos filhos), íntima (funções de dormir, repousar, convalescença de doenças, higiene pessoal, necessidades fisiológicas e vida sexual dos casais) e de serviço (estocagem de alimentos e produtos de limpeza, trabalho culinário, refeições, limpeza de cozinha e equipamentos afins a lavagem, a passagem de roupas, a costura e manutenção das roupas) e o trabalho físico e intelectual definitivamente sairia das residências e migrava para ambientes fabris.

Esta mudança trouxe resultados produtivos e econômicos extraordinários, esta racionalização, transborda dos locais de trabalho para os locais da vida e para as organizações das cidades (DE MASI, 1999).Os ambientes de escritórios são cada vez mais comuns nas cidades, os espaços públicos e privados se consolidam.  A moradia é o lugar da família da vida intima, o espaço privado do trabalho, da cidade, das atividades culturais e de lazer pertencente ao espaço público.

O fordismo inaugurava uma nova época na sociedade capitalista. O planejamento invadiu todas as esferas da sociedade, tudo era planejado, a economia, a produção, a cidade e as pessoas. O fordismo era regulava desde a linha de montagem, à vida sexual e familiar do trabalhador, instaurando uma forte relação  entre os métodos de trabalho e o modo de pensar, de viver e sentir. (KUMAR, 1997)

A automação e a reorganização no processo produtivo permitiu uma escala de produção em massa, elevando o número de mercadorias, a ampliação do mercado era necessária, constituindo as empresas transnacionais. O fordismo vê o trabalhador  sendo o seu consumidor, cria a chamada sociedade de consumo de massa. 

O período do pós-guerra Pratschke, Tramontano e Marquetti  coloca como a entrada das mídias e dos equipamentos domésticos na moradia. A mulher tem o auxilio das máquinas para os serviços domésticos, um facilitador de seus afazeres, já a família as mídias trousse o entretenimento. Esta mudança provocada pelo avanço das tecnologias e por seu consumo graças ampla divulgação feita através da publicidade e do cinema, provocou um “redesenho do espaço doméstico e uma redefinição de suas funções”.

Neste período, os escritórios começam a se informatizar, a trabalhar com comunicação a distancia, mas é em meados dos anos 1980 que o computador chega a habitação e em 1990 penetra mais lares, o computador amplia suas funções e passa a auxiliar as atividades de trabalho, de estudo, de lazer e entretenimento.

A inserção de novas mídias no ambiente doméstico trouxe uma mudança de comportamento, de uso e de funções desse espaço, segundo Pratschke, Tramontano e Marquetti, “caracteriza-se essas mudanças como impactos diretos e induzidos. Os diretos caracterizam-se pela maior permanências da família no espaço residencial, motivada por novas possibilidades de trabalho, lazer, compras que o espaço virtual tem possibilitado. Outros pontos colocados por Tramontano, são os equipamentos que  possibilitam uma mobilidade como Laptos, telefones móveis que transcende a noção de tradicional espaço doméstico e coloca nos a idéia de “habitar a cidade”. Os impactos induzidos são a idéia de telepresença (provocada pela possibilidade de estar virtualmente em vários lugares), a não linearidade (linguagens utilizadas na produção do espaço virtual), coloca que essa não linearidade tem reflexo no espaço doméstico por espaço que não tem um hierarquização definida como os lofts nova yorkinos.”

O modo de organizar o espaço residencial citado por Lemos (1978) em áreas de estar, íntima e de serviço, setoriza  a própria casa em áreas voltadas para o público como as áreas de estar e locais privados como áreas intima e de serviço. A tecnologia não transformou só o ambiente residencial, ela transformou a sociedade com um todo, a questão é o que é público e o que é privado? A possibilidade de equipar o quarto com telefone, televisão, computador e internet, o indivíduo tem a liberdade de se comunicar com quem quiser, assistir o filme que escolher, ter acesso a vários lugares pela rede de comunicação, trabalhar sem precisar sair de casa. Uma vez que o trabalho está inserido dentro de casa e as novas tecnologias permitem estar em diversas instâncias, pública (trabalho, entretenimento e lazer) privada domicílio. Nos perguntamos essa divisão existe? O que define uma instância pública ou privada é a atividade? Mesmo sabendo que os cômodos estão cada vez mais multifuncionais.

Paul Virilio se posiciona sobre a questão de público e privado da seguinte forma:

“Por outro lado, com a interface da tela (computador, televisão, teleconferência...) o que até então se encontrava privado de espessura – a superfície de inscrição – passa a existir enquanto “distância”, profundidade de campo de uma representação nova, de uma visibilidade sem face a face, na qual desaparece e se apaga a antiga confrontação de ruas e avenidas: o que se apaga é a diferença de posição, com o que isto supõe, com o passar do tempo, em termos de fusão e confusão. Privado de limites objetivos, o elemento arquitetônico passa a estar à deriva, a flutuar em um éter eletrônico desprovido de dimensões espaciais, mas inscrito na temporalidade única de uma difusão instantânea. A partir de então ninguém pode se considerar separado por obstáculo físico ou por grandes “distâncias de tempo”, pois com a interfachada dos monitores e das telas de controle o algures começa aqui e vice-versa. Esta súbita reversão dos limites introduz, desta vez no espaço comum, o que até o momento era da ordem da microscopia: o pleno não existe mais, em seu lugar uma extensão sem limites desvenda-se em uma falsa perspectiva que a emissão luminosa dos aparelhos ilumina. A partir daí o espaço construído participa de uma topologia eletrônica na qual o enquadramento  do ponto de vista e da trama da imagem digital renovam a noção de setor urbano. À antiga ocultação público/privado e à diferenciação da moradia e da circulação sucede-se uma exposição onde termina a separação entre o “próximo” e o “distante”, da mesma forma que desaparece, na varredura eletrônica dos microscópios, a separação entre ”micro” e “macro”(1993, p.10).

 

O lugar está bastante relacionado com a instância público/privado. A sociabilidade mediada por computadores organiza as pessoas em redes sociais, os novos meios de sociabilidade não têm como referência os lugares e sim afinidades. As redes de comunicação estão substituindo os lugares como suportes da sociabilidade nos bairros e nas cidades. Com o desaparecimento da relação das pessoas com os lugares o público/privado  também desaparece e as distinções entre escritório e lar, entre trabalho e ócio, que são em grande parte, secundárias.

 

5.  FAMÍLIA E TRABALHO

 

As novas tecnologias de informação e comunicação interferiram nos meios de produção com a desconcentração geográfica das atividades produtivas. Em busca dos menores níveis de salários, as empresas buscam trabalhadores em regiões com remuneração inferior e sem tradição sindical. Esta descentralização traz a possibilidade de trabalhar no domicílio.

Os teletrabalhores são empregados que trabalham principalmente na moradia ou em espaços não fixos. Surgiram de uma reestruturação organizacional provocada por mudanças no mercado, levando a redução dos empregados, redução e eliminação dos espaços dos escritórios, e a flexibilização. Muitos dos teletrabalhadores preferem este modo de trabalho por permitir uma aproximação da família, por uma maior autonomia. (WELLAN, 2000).

O retorno do trabalho para a residência altera a relação do homem com o seu ambiente. Provocando vantagens e desvantagens nesse processo, compreendidas pela perda de privacidade pessoal, possibilidade de excesso de carga de trabalho, indefinição de horário de trabalho e lazer e tendência ao isolamento social. Ainda, algumas  das desvantagens profissionais podem ocorrer como a desatualização de conhecimentos gerais, ambiente confinado,  sobrecarga de trabalho, desvantagens financeiras, interferência de assuntos domésticos nos profissionais, preconceito do mercado formal e a dificuldade na obtenção de crédito (RIZZATTI, 2004).

A interferência do trabalho na esfera doméstica, familiar e pessoal, é acrescido de vários equipamentos de comunicação como: telefones móveis, sistemas de correio de voz, correio eletrônico, internet, scanners de códigos de barras, comunicação via satélite, redes informáticas de alta capacidade permite o tele-trabalhador trabalhar em tempo real com outra pessoa, que o torna conectado e disponível 24 horas por dia.

O tele-trabalho transita entre local de trabalho e de repouso. Proporciona há um grande número de mulheres, trabalhar em horários flexíveis. A experiência da mulher e do homem com relação ao teletrabalho são distintas, a mulher por acumular o trabalho mais a administração da casa e da família, é freqüente apresentarem elevado nível de estresse entre as demandas trabalho e da família e sentirem falta de lazer, mas, se dizem satisfeitas com esta forma de trabalho talvez por estarem mais próximo da família e do trabalho, facilitando o relacionamento entre as funções da mãe e da profissional, a mulher acaba ajustando seus horários de trabalho com os horários domésticos, trabalha quando o filho está na escola, mas o que relatam é que dividem o tempo em 50% para trabalho e 50% para a família, ocorre uma melhora no relacionamento com os filhos (WELLAN, 2000).

O homem vê o tele-trabalho como privilégio, por ter uma maior autonomia, enquanto o relacionamento com a família é um acréscimo desse processo, já as mulheres vêem a flexibilidade, autonomia de horários, e a possibilidade de conciliar trabalho e família como privilégios (WELLAN, 2000).

Montali (2000) estudou as tendências do mercado de trabalho nos anos 90, com o intuito de perceber como as transformações na economia e no mercado de trabalho indeferiram nos arranjos familiares, nas relações hierárquicas na família. Aponta em seu estudo a redução do emprego industrial, o crescimento das ocupações ligadas ao terciário – de caráter formal ou informal – e o progressivo empobrecimento da população. A redução de postos de trabalho, principalmente para ocupações predominantemente masculinas, cresce a participação da mulher-cônjuge entre os ocupados da família; reduz da participação dos filhos, tanto maiores como menores de 18 anos, e a redução do peso do chefe masculino, cresce por sua vez, nas famílias de chefe feminino sem cônjuge e nas famílias na etapa da “velhice” com a presença de filhos residentes.

 A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou na maioria dos países do mundo, seja em períodos de prosperidade ou de recessão (MONTALI,2000). As mulheres sempre tiveram dificuldade de arrumar emprego por terem conciliar o trabalho com a sua vida doméstica, o tele-trabalho proporcionou a um grande número de mulheres  trabalhar em horários flexíveis. É comum a mulher apresentar um elevado nível de estresse por acumular trabalho, mais a administração da casa e da família e não ter tempo para o lazer. Apresentam uma satisfação com esta forma de trabalho talvez por estarem mais próximo da família e do trabalho, facilitando o relacionamento entre as funções da mãe e da profissional, a mulher acaba ajustando seus horários de trabalho com os horários domésticos, trabalha quando o filho está na escola, mas o que relatam é que dividem o tempo em 50% para trabalho e 50% para a família, ocorre uma melhora no relacionamento com os filhos. (WELLAN, 2000).

A experiência da mulher e do homem com relação ao tele-trabalho são distintas, o homem vê o tele-trabalho como privilégio, por ter uma maior autonomia e o relacionamento com a família é um acréscimo desse processo, já as mulheres vêem a flexibilidade, autonomia de horários, e a possibilidade de conciliar trabalho e família como privilégios.  (WELLAN, 2000).

Montali relata:

 “... a mudança na organização econômica da família provoca transformações nas relações internas à família. A impossibilidade concreta de manutenção da família pelo chefe, e também de mantê-la sob sua autoridade, deverá provocar, médio praso, asociado a outros fatores que tem indicado maior equalização das relações de gênero, mudanças na família: inicialmente, na divisão do trabalho interna à família, através das alterações na inserção dos seus componentes no mercado, e, num segundo momento, na divisão sexual do trabalho na família, o que implicará mudanças nas relações hierarquizadas de gênero no seu interior” (2000, p.67).

 

Tramontano (1993) em estudos das novas formas de estruturas familiares constata, que ao longo das últimas décadas o núcleo familiar tradicional (pai, mãe e filhos) tem cedido lugar a outros formatos familiares: pessoas vivendo sós em diferentes momentos da vida, famílias monoparentais, uniões livres, casais sem filhos, coabitantes sem vínculos conjugais ou parentesco. Relaciona uma série de fatores a esta nova configuração familiar como; a queda acentuada da fecundidade, o aumento da longevidade, a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho, a liberação sexual, a fragilidade das uniões, o individualismo acentuado acrescenta a estes fatores a entrada das telecomunicações no espaço da habitação alterando todos os hábitos e comportamento e coloca o tele-trabalho como um deles. São elementos que ajudam a configurar as mudanças que vêm acontecendo na família, e vêem de encontro com as constatações do estudo de Montali (2000).

Estas mutações que estão o correndo na estrutura familiar e os novos comportamentos trazem ao espaço habitacional, outras necessidades e formas de utilização provocando novas abordagens espaciais com relação ao objeto arquitetônico.

Neste contexto o computador provocou uma grande mudança no ambiente residencial, o novo escritório se tornou uma simples tela de computador, antes o que era um cômodo separado de toda a dinâmica doméstica se condensou em uma máquina conectada ao mundo e cada modelo lançado aumenta sua capacidade, amplia suas funções e diminui de tamanho. Como resume Paul Virilio “o novo escritório... substitui o volume do antigo cômodo, com sua mobília, sua arrumação. Seus documentos e plano de trabalho...” O escritório passa a ter um papel importante na sociedade torna-se um nó na rede de comunicações no qual o fluxo de informações é quase contínuo.

O mobiliário, ou seja, os postos de trabalho destinado a colocar o computador e seus periféricos no domicílio, não ha uma preocupação com Ergonomia, design e aproveitamento racional do espaço, pois o interesse do trabalhador é primeiramente reduzir seus custos operacionais já que os mesmos não são pagos pelo empregador, o que acarreta problemas de saúde posteriores (OLIVEIRA,1996).

Com os locais de trabalho desaparecendo e os lares se transformando no centro de uma atividade multifuncional. Na verdade, o tele-trabalho não é uma prática disseminada e o trabalho feito a partir de casa é apenas parcialmente relacionado com a Internet. Numa série de estudos realizados nos EUA por Mohktarian e por Handy na década de 1990 demonstrou que menos de metade das pessoas que trabalhavam  em casa utilizavam computadores e o restante trabalhava com o telefone, caneta e papel. (CASTELLS, 2003).

A internet sem fio evolui para tele-trabalho móvel, o deslocamento é uma constante, viajam pelas áreas metropolitanas, pelo país e pelo mundo, mantendo ao mesmo tempo contato com o com seu escritório via Internet e telefones móveis. O desenvolvimento de escritórios remotos, com base na Internet, que têm importantes conseqüências espaciais, permite as empresas uma otimização nos espaços de escritório, de modo que usem o espaço apenas quando ele é de fato necessário. Assim, o modelo emergente de trabalho não é o tele-trabalhador em casa, mas o trabalhador nômade, o “escritório em movimento” (CASTELLS, 2003)

 

6.  MOBILIDADE E LUGAR GEOGRÁFICO

 

O acesso à informação e a comunicação mediada por aparelhos conectados a rede, liberta a pessoa da referência do lugar e se torna o menos importante, a perda desta referência traz uma nova experiência a da mobilidade.

 A mobilidade só é possível, por existir uma tecnologia que permite a  concretização da troca de informações, com pontos de saídas e de chegadas virtuais. A pessoa é o receptor e o equipamento é o “veículo” utilizado para a transmissão de informações. É possível uma pessoa iniciar uma conversa no supermercado, pagar a conta, caminhar até a sua casa e concluir a conversa na cozinha de seu lar, ou enviar um e-mail  do escritório, viajar para outro lugar e de lá acessar o e-mail com a resposta.   

Equipamentos como telefones móveis, computadores portáteis e palms são fundamentais para que a mobilidade aconteça, como também Cibers Café, Lan Houses e locais em hotéis, aeroportos com computadores ligados a rede ou pontos que permitam o acesso pelos computadores portáteis pessoal.

O projeto  Connecting People é um projeto que se estendeu por um ano, sob a coordenação de  Domenico De Masi, com contribuição de pesquisadores de cátedra de sociologia do trabalho e 300 alunos, uma parceria Nokia e Universidade. O foco era investigar de que modo à conectividade, associada à mobilidade, influência a criatividade dos grupos de trabalho.  Foram estudados vinte grupos criativos que atuam em vários âmbitos que usam a conectividade como instrumento para superar as distâncias físicas entre os membros: equipes de design, de publicitários, de artistas, de arquitetos, de redatores, de consultores, de biólogos, etc. Todas essas categorias, ao longo dos últimos anos, vêm experimentando novas formas de organização do trabalho e de comunicação determinadas justamente pelo advento da conectividade. (CUTRANO, 2005)

Constataram na pesquisa que: a vida móvel, o estar sempre conectado, comporta por outro lado, uma boa dose de estresse e angustia provocada por excesso de conectividade (Cutrano, 2005)”. Algumas pessoas não conseguem delimitar o próprio espaço privativo, não têm tempo para simplesmente estarem sozinhas e buscarem uma forma de paz e de serenidade íntima.

O celular é um aparelho de consumo em massa seu alcance é muito maior do que o computador, de fácil manuseio, extremamente pequeno, possui múltiplas funções e usos. O celular conecta-se a várias instâncias, pessoais, familiares e de trabalho, instâncias antes separadas e agora unidas por um único aparelho, que está sempre ao seu alcance.

A era digital está colocando em um novo ritmo e uma nova ordem em nossas vidas. O que antes era nítido e bem definido, como limites entre público e privado, entre dimensão individual e coletiva, entre tempo de trabalho e tempo livre, entre presença e ausência, entre escrita e linguagem falada, estão sendo transpostos e essas divisões estão se diluindo.

É válido frisar que toda essa mobilidade e essa liberação da referência do lugar não invalida a problemática do espaço habitacional, que acolhe essas mudanças e o tele-trabalhado, todas essas dicotomias (público/privado, dimensão individual/coletivo, tempo de trabalho/ tempo livre, presença/ausência, linguagem escrita /linguagem falada) sofrem a mesma diluição no espaço domiciliar.

Hoje as funções desenvolvidas na casa, segundo Marzano (1993) apontam para um olhar inovador entre as formas das relações “homem – objeto - espaço”, relação que significa uma maior aproximação nos âmbitos da utilização, simbologia e psicologia entre “homem” e “objeto”.  Sugerindo uma valorização dessas relações. Conseqüentemente, a qualidade do habitar volta a ser o cerne do design e esse tipo de relação ocupa um lugar central no esquema da concepção das novas gerações de objetos domésticos.

A geografia da internet e a geografia “física” trabalham em conjunto. A internet constituída de redes e nós de informação, gerada e administrada a partir de lugares, redefine distâncias, lugares, mas, não os anula. Como bem resume Manuel Castells, “novas configurações territoriais emergem de processos simultâneos de concentração, descentralização e conexão espaciais, incessantemente elaborados pela geometria variável dos fluxos de informação global”.

O tele-trabalho possibilita a interação à distância, o que nos leva a refletir sobre a função dos espaços da cidade e a sua vitalidade. Esta mudança não acarreta no  seu desaparecimento, dependemos de seus serviços, mesmo com a possibilidade de interagirmos à distância, é no território urbano que se concentra as oportunidades de emprego, de geração de renda, de educação e cultura.

 

7.  HOMEM – OBJETO - ESPAÇO

 

Estamos cientes que o ser humano está em constante transformação, à intensificação das transformações sociais, culturais e tecnológicas, gerou no indivíduo outras necessidades. Por meio das prerrogativas apontadas propomos a refletir sobre como  deve ser o espaço, o mobiliário (Home-Office) em um ambiente em constante mutação.

A atividade de trabalho no domicílio geralmente ocupa espaços fundamentais de sua casa (cozinha ou sala de jantar, quarto). Tal ocupação, não só deteriora as condições de vida dos usuários, como altera seu comportamento, gerando uma  desestruturação nos ritmos tradicionais da casa, o que acarreta stress em seus moradores.

Oliveira (1996)  comenta que o microcomputador  é o posto de trabalho típico do trabalhador no domicílio, e que geralmente, nos postos de trabalho domiciliares, não há uma preocupação com Ergonomia, Design e aproveitamento racional do espaço, pois seu interesse é primeiramente reduzir seus custos operacionais já que os mesmos não são pagos pelo empregador. O usuário do Home-Office se encontra em condições de trabalho aquém do ambiente corporativo tornando a aquisição de mobiliários ergonômicos distante. Mas, é válido ressaltar que a maior parte dos postos de trabalho é projetada para ambientes corporativos, o que difere muito de um ambiente residencial.

Isao Hosoe (apud. MERINO e MAGER, 2002) aponta para algumas condicionantes que devem nortear o design de Home Offices como a mobilidade e versatilidade. Coloca que o atual desafio dos designers é dotar o ambiente de elementos essenciais que não podem ser obtidos numa estação de trabalho convencional. Ele deve ser nômade, para satisfazer diferentes exigências funcionais, para transformar em termos de espaço e função, para aparecer e desaparecer, conforme a necessidade. Não se deve esquecer de colocar o homem como centro de referência do mobiliário.

Costa (1998:71) ao refletir a concepção do mobiliário de escritório propõem três pontos de direcionamento projetual do objeto:

- O primeiro passo é partir do usuário, das suas necessidades reais e aspirações implicadas na “vivência” quotidiana dos espaços;

- O segundo passo, o objeto, deve ter uma estética unitária, permitindo o uso do mobiliário em todos os espaços: público, habitacional e laboral, não havendo rupturas existenciais;

-  O terceiro passo  é rever todos os conceitos até aqui aplicados na implantação de equipamentos dos “espaços de trabalho”, como também na arquitetura dos edifícios, que atualmente aplica o conceito funcionalista em que a abordagem do problema e sua resolução são tomadas sem levar em conta as necessidades e a ótica do usuário, sendo a nova proposta aplicar o conceito humanista de “espaço de vivência”.

A residência atual  abrange diversas atividades, acolhe novas funções dentre elas a atividade de trabalho. Assim, decidiu-se adotar para esta reflexão o conceito utilizado por Costa (1998) o “espaço de vivência” que propõem a continuidade da imagem do ambiente humano, baseado na continuidade do comportamento das pessoas, que não devem mudar radicalmente de atitude quando mudam de atividade como trabalhar, circular, relaxar, cozinhar entre outros, ou seja o ambiente deve ter uma linguagem fluida e não uma linguagem  compartimentada por cômodos funcionais. Por meio da adoção deste conceito o olhar para o espaço da habitação se transforma, os objetos e o usuário ganham uma nova importância.

De acordo com Solá-Morales (1995) os mecanismos psicológicos são considerados na produção do espaço. A visão, o tato, o movimento do corpo estabelecem as condicionantes da existência do espaço, de modo que a produção de novos espaços e de novas experiências espaciais está ligada á exploração dos mecanismos perceptivos do sujeito humano.

Soma-se a estes mecanismos de percepção humana as novas tecnologias de informação, que propiciam a comunicação entre distintos espaços sem necessariamente recorrer ao espaço tradicional em que cada atividade tem sua sala e cada compartimento está conectado por elementos físicos, um dos fatores que impulsionou o retorno do trabalho para moradia. Estes espaços impalpáveis permitem ao indivíduo uma mobilidade por meio da infinita rede da internet. A sociedade através dessa tecnologia altera o sentido de espaço, de contatos corporais, sociais e de trabalho, surgindo uma cultura mediática em que as distâncias se encurtam convertendo-se  em instantâneas e não estão relacionadas com o lugar preciso.

Os lugares já não se interpretam como recipientes existenciais permanentes, são entendidos com intensos focos de acontecimentos, como concentrações de dinamismos, como fluxos de circulação, acontecimentos efêmeros, como momentos energéticos, espaços mediáticos no qual não é predominante o espaço físico. A arquitetura se transforma em um continente neutro (inclusive transparente) com sistemas de objetos, máquinas, imagens e equipamentos que configuram os interiores modificáveis e dinâmicos. Neste contexto o mobiliário ganha importância, pois o objeto  dá suporte físico ao usuário criando um espaço que permite o desenvolvimento das suas atividades, já os espaços domésticos e os lugares de trabalho estão dentro das coordenadas do espaço mediático.

O crítico de arquitetura José Maria Montaner (1998:52) reflete sobre esse contexto: “No futuro, os espaços habitacionais, com interiores povoados por sistemas de objetos, que já configuram um espaço mediático, como um  protagonizador, não será mais a arquitetura e sim a engenharia e o desenho industrial”.

Hoje as funções desenvolvidas na casa, segundo Marzano (1993) apontam para um olhar inovador entre as formas das relações “homem – objeto - espaço”, relação que significa uma maior aproximação nos âmbitos da utilização, simbologia e psicologia entre “homem” e “objeto”.  Sugerindo uma valorização dessas relações. Conseqüentemente, a qualidade do habitar volta a ser o cerne do design e esse tipo de relação ocupa um lugar central no esquema da concepção das novas gerações de objetos domésticos.

 

8.      CONSIDERAÇÕES FINAIS 

 

Geralmente o trabalho desenvolvido pelo tele-trabalhador necessita de silêncio e concentração, em um ambiente domiciliar, as interferências ocorrem constantemente, a não ser que a pessoa more sozinha. O stress é inevitável e é gerado pelas  “mazelas da vida doméstica”, um sentimento de solidão também pode aflorar pelo isolamento e distanciamento do ritmo e do cotidiano da empresa. 

A mutação e a quebra dos paradigmas ocorrem em vários níveis e setores da sociedade, propomo-nos aqui levantar “conceitos” para reflexão tanto de mobiliário como de espaço arquitetônico. O trabalhar e o habitar exigem do espaço, necessidades distintas. A nossa proposta é através dos critérios baseados na reconfiguração do espaço e do uso, trazer pontos chaves de reflexão para projetos arquitônicos e de mobiliário.

Elasticidade: modificação da superfície fundindo um ou mais cômodos. Painéis divisórios deslizantes e sanfonados que ao serem abertos permitem que todos os espaços do projeto formem uma grande superfície aberta.

Espaço Apêndice: O escritório não necessariamente deve estar no interior doméstico, pode estar em sua redondeza, ser compartilhado por outras pessoas, pode ter um local de suporte para reuniões e serviços de apoio como secretária.

Espaço polivalente – fronteiras entre os diferentes se diluem, onde não tratou de diferenciar entre as atividades públicas e privadas ou instancias de dia e noite, ocorre uma Integração de funções. Zoneamento, cômodos definidos pelas funções, se diluem e instala um novo tipo de funcionamento o do momento da atividade exercida.

Evolução/Adaptabilidade: modificação ao longo prazo segundo as transformações da família.

Flexibilidade: implica na liberdade de organização espacial, a possibilidade de manipular o objeto seja na sua função ou modificando a maneira de inseri-lo no lugar. Assim os espaços vão evolucionando segundo as necessidades que sugerem, o que permite levar a cabo múltiplas atividades.

Mobilidade: implica uma rápida modificação dos espaços segundo as horas e as atividades ocorridas.

Mobiliário Definidor: a função do ambiente se altera com a disposição ou a organização da mobília, acessórios como rodízios para deslizar no espaço são elementos importantes, como também um mobiliário estante que te proporcionasse trabalhar nele e ao fecha-lo o escritório fica oculto e não interfere na atividade que o cômodo abrigará a seguir.

Mobiliário nômade: o espaço do “tele-trabalhador” pode ser em qualquer local da habitação, ou em outros lugares fora dela, desenvolver um objeto que pudesse se transportado para diferentes lugares, leve, de fácil manuseio.

Modulação: unidade de mobiliário, de material de construção, etc. Planejada determinada a reunir-se ou ajustar-se a outras unidades análogas, de várias maneiras, formando um todo homogêneo e funcional.

Multifuncionalidade: busca associar o maior numero de usos no objeto, possibilita a execução de atividades concomitante e faz com que um uso não anule o outro.O multiuso dos objetos permite a otimização dos espaços e uma maior utilização dos objetos.

 

9 BIBLIOGRAFIA

 

ARANHA, Maria L. de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 1986.

BERMAN, Marrshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. A aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras. 1993.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo, Paz e Terra: 1999.

_______________. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2003.

COSTA, Daciano da. Design para escritórios. In: COSTA, Daciano da. Design e Mal-Estar. Porto: Centro Português de Design, 1998.

CUTRANO, Fabiana (org.). Life goes móbile. In: Next Brasil – ciências organizacionais. 11nov. 2005.Internet: http://nextbrasil.com.br  Acesso: 20/11/2005.

DE MASI, D. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. São Paulo: Ed. UNB , 4 ed. 2000.

________, D. Linha Reta, Linha Curva. ArcDesign, São Paulo, n.36, p.56-58, 2004.

KUMAR, Krishan. Da Sociedade Pós-Industrial à Pós-Moderna. Novas Teorias sobre o Mundo Contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1997.

 

LEMOS, A. C. Cozinha, etc... Um estudo sobre as zonas de serviço da casa paulista. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1978.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34. 1999.

__________ . As formas do saber, Tecnologia, Transcrição de Video, Nomads.usp., 2001.In: http://www.saplei.eesc.usp.br/sap5865/leitura_semanal/PIERRE%20LEVY_tecnologia.htm  Acesso: 30/11/2005.

 Formas do Saber Trabalho.

MARZANO, S. Em direção a uma nova domesticidade. In: CALÇADA, A. et all.(Org.). Design em aberto: uma antologia. Porto: Ed. Bloco Gráfico, 1993.

MERINO, E., MAGER, G. B. A contribuição da ergonomia no design de home offices. IN: Abergo 2002, 2002, Recif. Abergo Anais Digitais 2002.

MONTALI, L. Família e trabalho na reestruturação produtiva: ausência de políticas de emprego e deterioração das condições de vida. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais v. 15 n. 42. Internet: http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n42/1736.pdf  Acesso: 20/11/2005.

MONTANER, J. M. Arquitectura, arte y Pensamiento Del Siglo XX. Barcelona: Gustavo Gili, 1998.

OLIVEIRA, M. M. V. (1996) A Ergonomia E O Teletrabalho No Domicílio. Dissertação apresentada no Programa de Pós‑graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do grau de mestre em Engenharia. Internet: http://www.eps.ufsc.br/disserta97/veras/

www.iesu.br/pesquisa/arquivos/um_estudo_com_os_agentes_de_desenvolvimento_do_bando_do_nordeste.pdf  Acesso em 22/11/2005.

 

Pratschke, A. Tramontano, M., Marquetti, M. Um toque de imaterialidade: o impacto das novas mídias no projeto do espaço doméstico, artigo online: http://www.nomads.usp.br/site/livraria_artigos_online_novas_midias.htm, Acesso: 30/11/2005.

RIZZATTI, G. Et all. Aspectos relacionados com Home Office. Disponível em:  <http://www.nuperh.ufsc.br/art_aspectos_rel_home_o.html>. Acesso em: 06 dezembro 2004.

SOLÁ- MORALES, I. Diferencias. Topografía de la arquitectura contemporánea.       Barcelona: Gustavo Gili, 1995.

TRAMONTANO, Marcelo. Novos Modos de Vida. São Carlos: EESC USP. 1993.

VILLA, S. B. Apartamentos metropolitanos: habitações e modos de vida na cidade de São Paulo. São Carlos: EESC, 2002.

VIRILIO, Paul. O espaço crítico e as perspectivas do tempo real. São Paulo: Editora 34. 1993.

WELLMAN, Barry, ett all. Computer Networks as social network: collaborative work, telework, and virtual community. In: Anual Review of Sociology. Vol 22: 213-238. Agust.1996. Internet: http://www.chass.utoronto.ca/~wellwma/publication/index.html Acesso em: 10/11/2005.

______________ . Changing conectivity: A future History of y2.30k’. In: Socialogical Ressearch Online, vol. 4, no 4. Internet: http://www.chass.utoronto.ca/~wellwma/publication/index.html. Acesso em: 10/11/2005.