O
TRABALHO CONTEMPORÂNEO:
Aluna Especial_ Roberta Barban Franceschi
número usp_
3766827
Habitação_ Metrópole_ modos . de . vida SAP_ 5846
Professor_ Marcelo Tramontano
2005
“...da mesma forma que a máquina
liberou o homem de um certo número de tarefas sofrível as ferramentas da
Informática o liberam do escritório” (TROPE, 1999, p.12)
A
possibilidade de uma comunicação global mediada por computadores, e algumas
mudanças no sistema econômico e empresarial, inseriu na sociedade novos
comportamentos, necessidades e possibilidades, seja de trabalho, de habitação
ou de relacionamentos.
O trabalho intelectual
domiciliar ou teletrabalho é um comportamento que esta conexão de redes e estas
mudanças proporcionaram. A abordagem do tema com suas implicações e
alternativas no âmbito da arquitetura e do design para melhora da qualidade de
vida desse cidadão é o que propomos discutir.
Teletrabalho, Home-Office, Novas
Mídias, Habitação.
SUMÁRIO
2.1 OBJETIVO
GERAL.................................................. 6
2.2 OBJETIVO
ESPECÍFICO......................................... 6
8. CONSIDERAÇÕES
FINAIS................................................. 29
Atualmente
os espaços residenciais estão adquirindo outros significados. As novas
tecnologias, a diversidade de agrupamentos familiares
e conseqüentemente as novas atividades desenvolvidas no interior da
residência revolucionam não só os hábitos domésticos como também os de
trabalho e, em alguns casos, provocaram uma fusão das atividades morar e
trabalhar no interior a das residências.
Falar das mudanças que vem ocorrendo na atividade de
trabalho, sem antes contextualizar e pontuar o que levou essa mudança, seria
muito superficial e unilateral. O retorno do trabalho para a residência é dado,
pela a inserção das novas mídias na sociedade e também pela profunda mudança
nas estruturas corporativas, o que provoca mutações comportamentais na sociedade, nos espaços que
a mesma utiliza.
É
importante lembrar, que o trabalho que nos referimos é o intelectual domiciliar, pois, como sabemos a
residência sempre acolheu outros tipos de trabalhos remunerados em seu interior
seja artesanal, artístico, manual, industrial ou comercial.
O presente trabalho aborda o
assunto do trabalho intelectual na residência e coloca cinco pontos que
configura a questão. O primeiro é a sua contextualização, o que mudou na
sociedade, para que houvesse um retorno do trabalho intelectual no espaço
doméstico. O segundo ponto é como fica a questão da relação público e privado
no espaço residencial, uma vez que estas relações atualmente estão tão
diluídas. O terceiro ponto é como essa
relação trabalho e família se
consolida dentro do espaço residência, foco de várias transformações
comportamentais da atualidade. O quarto ponto é a questão da mobilidade e lugar
geográfico, que lugar essas pessoas ocupam, a casa, a cidade? O quinto ponto é a relação HOMEM – OBJETO - ESPAÇO reflexão sobre a
relação projeto arquitetônico (residencial) e o projeto de design (mobiliário
de escritório residencial os chamados Home-Offices), e o homem como
usuário deste espaço e de objetos. Concluindo,foram estabelecidos critérios de auxilio a
reflexão e pode ser o
início de alternativas para a questão.
O mobiliário é um elemento ligado
as transformações comportamentais da sociedade. Auxilia na construção do espaço
e por meio da relação entre lugar, sujeito e objeto, provoca uma mudança na
concepção do projeto. Exige da arquitetura e do design uma nova relação com o
espaço, o sujeito tem necessidade de espaços e de objetos que permitam outras
configurações e usos. As relações arquitetura, usuário e mobiliário se
intensificam.
A
metodologia proposta para este trabalho foi à pesquisa bibliográfica de
teóricos que abordem assuntos relacionados com o tele-trabalho, as
transformações que está ocorrendo na sociedade com uso das novas mídias, como
também teóricos da área do design e da arquitetura.
Por
meio desta pesquisa pudemos construir um contexto com as questões que o tele-trabalhador está inserido.
2.1 OBJETIVO GERAL
Estudar o contexto que gerou o
tele-trabalho e sua inserção na residência, compreender as relações entre tele-trabalhador, o
ambiente residencial e mobiliário. Estabelecer uma agenda para discutir o
design desses espaços.
2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO
·
Entender melhor a sobreposição das esferas pública e
privada no espaço da habitação;
·
Entender
a relação entre família e trabalho e que
problemas traz para o tele-trabalhador;
·
Estabelecer
pontos para reflexão do design nesses espaços.
O
trabalho passou por diversas transformações no decorrer da evolução da
humanidade, eram executados no campo, como também em suas casa e
posteriormente, na cidade local em que a divisão do trabalho e do domicílio foi
consolidada.
Até o século XVII, a casa era um lugar público e não
privado. Abrigava grande número de pessoas, entre familiares, parentes, agregados
e empregados que dividiam o mesmo espaço e muitas vezes a própria cama. Apresentavam cômodos multifuncionais, onde trabalho e moradia eram
conciliados. (VILLA, 2002).
É no século XVII que ocorre a passagem do sistema
feudal para o capitalismo. O capital acumulado aumenta, permitindo a compra de
matéria-prima e de máquinas, fazendo com que muitas famílias que desenvolviam o
trabalho doméstico nas antigas corporações e manufaturas, tenham de dispor de
seus instrumentos de trabalho e, para sobreviver, vêem-se obrigadas a vender
sua força de trabalho em troca de um salário (ARANHA, 1986). O aumento do
volume da produção fabril altera o panorama econômico e social, mas é no século
XVIII que a mecanização da indústria sofre um impulso extraordinário.
No fim
do século XVIII o Ocidente dá um poderoso salto à frente, que envolveu todas as
disciplinas e todos os setores da vida prática em nome da razão e do consenso.
Esse impulso racionalizador levou às oficinas, aos escritórios, aos mercados e
aos bancos, uma nova organização. Quando esse novo ordenamento se fortaleceu
por meio dos extraordinários resultados produtivos e econômicos. Esse ideal
transbordou os limites dos locais de trabalho para os locais da vida e para as
cidades (DE MASI,1999).
Apesar da separação entre trabalho e moradia ter se
concretizado no final do século XVIII, a consolidação das fábricas tornou os
escritórios espaços importantes nas estruturas das empresas e da sociedade.
Ocorre um crescente aumento dos serviços administrativos tanto público como
privado, as atividades tornam-se mais complexas e apresentam diferenciação
hierárquica e funcional.
As
mudanças do começo do século XX foram alimentadas por muitas fontes: grandes
descobertas nas ciências físicas, com a mudança da nossa imagem do universo e
do lugar que ocupamos nele; a industrialização da produção, que transforma
conhecimento científico em tecnologia, acelerando o próprio ritmo de vida; o
rápido e muitas vezes catastrófico crescimento urbano; sistemas de comunicação
de massa, dinâmicos em seu desenvolvimento que embrulham e amarram, no mesmo
pacote, os mais variados indivíduos e sociedades; (BERMAN, 1993).
A segunda metade do século
XX entra em uma nova dinâmica, mais acelerada e a conseqüência é a necessidade
de atualização e de reformulação de conceitos e teorias. Neste período os
ganhos de produtividade começaram a definhar na maioria dos ramos industriais dos países capitalistas
desenvolvidos, por meio da insatisfação dos empregados com as condições do
trabalho. Por isto há uma forte tendência
administrativa das relações humanas behaivorista.
O
ambiente de escritório passou por diversas mudanças de concepção tanto de
mobiliário como de espaço, as tentativas de melhoria de conforto, de bem
estar e de organização dos espaços de
trabalho, perdura até hoje. O que podemos perceber é que a forma do trabalho se transforma continuamente e que
devemos nos adaptar a isto.
O capitalismo,
também se reestrutura neste momento, de 1870 até a Segunda Guerra O capitalismo organizado – que se seguiu ao
“capitalismo liberal”- era o regime da maioria das sociedades ocidentais, que
consistia de alguns aspectos conhecidos da sociedade industrial: concentração,
centralização e controle de empreendimentos econômicos na estrutura da
nação-estado; produção em massa, segundo os princípios fordistas e tayloristas;
padrão corporativo de relações industriais, concentração geográfica e espacial
de indivíduos e produção em cidades industriais; modernismo cultural.
Na década de 60,
começou o processo de inversão desse fundamentos começou “O capitalismo desorganizado”,
processo este ainda em andamento cujo início variou em diferentes países. O
desenvolvimento de um mercado mundial integrado resultou numa descartelização e
desconcentralização do capital, a especialização flexível e as formas flexíveis
de organização de trabalho substituem cada vez mais a produção em massa. A
classe trabalhadora industrial de massa se contrai e se fragmenta, dando origem
a um declíneo da política de classe e a dissolução do sistema nacional
corporativista de relações industriais. Uma classe de serviços separada,
originalmente um efeito do capitalismo organizado, tornou-se, em seu
desenvolvimento posterior, uma fonte de novos valores e novos movimentos
sociais, que pouco a pouco se desorganizaram o capitalismo. A desconcentração
industrial é acompanhada pela descentralização espacial, na medida em que
trabalhadores e trabalho deixam as cidades e regiões industriais mais antigas e
que a produção é descentralizada e dispersa por todo o mundo, grande parte dela
tomando a direção, do terceiro mundo. O pluralismo e a fragmentação aumentam em
todas as esferas da sociedade. (KUMAR, 1997, p.61)
A
evolução da informática contribuiu para as mudanças nas indústrias, nos
ambientes corporativo, residencial. Nos anos 60 grandes empresas e universidades faziam usos
desta tecnologia, grandes máquinas, ocupavam grandes áreas refrigeradas que
executavam cálculos científicos, estatísticos e de gerenciamento. A década de
70 nos trouxe o microprocessador -um
pequeno chip eletrônico – provocou uma grande mudança em todas as áreas de
sociedade. Nas indústrias trouxe a automação, linhas de produção flexível,
robótica, nos bancos a automatização, instaura-se a sistemática de ganhos de
produção pelo uso dos computadores, redes de comunicação. Na década de 80 a
informática tem uma penetração grande na vida das pessoas com a invenção do
computador pessoal, o computador torna-se uma ferramenta para diversos
profissionais por abranger diversas funções de criação de textos, imagens,
desenhos, planilha, música entre outros. As transformações foram ainda maiores,
no início dos anos 90 que como diz Pierre Lévy (1999, p.32) “As tecnologias
digitais sugiram, então, como a infra-estrutura do ciberespaço, novo espaço de
comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também novo
mercado da informação e do conhecimento”.
As
mudanças na sociedade foram o desenvolvimento e a promoção de modos de
pensamento e comportamento individualistas; a cultura da livre iniciativa; o
fim do universalismo e da padronização na educação, fragmentação e pluralismo
em valores e estilos de vida,
privatização da vida doméstica e de atividades de lazer.
Nos anos 90 a nova tecnologia de informação
integrou os escritórios em redes de informação, com muitos microcomputadores
interagindo entre si, formando uma rede interativa capaz de comunicar-se e
tomar decisões em tempo real. Essa interação é a base para um novo tipo de
escritório os “escritórios alternativos” ou “escritórios virtuais” em que
trabalhadores individuais munidos por poderosos dispositivos de processamento e
transmissão de informação, executam tarefas em localidades distantes, por meio
das redes de informação (CASTELLS, 1999).
A
formação de rede é uma prática humana muito antiga, durante a maior parte da
história, as redes foram ferramentas de organização capazes de congregar
recursos em torno de metas centralmente definidas, eram fundamentalmente o
domínio da vida privada (CASTELLS,2003). Agora, no entanto, com a introdução da
informatização e das tecnologias de comunicação baseadas no computador, e
particularmente a Internet, as redes permitem uma flexibilidade e adaptabilidade,
que são características essenciais para se sobreviver e prosperar num ambiente
de rápida mutação. Sua natureza revolucionária é oposta as formações praticadas
anteriormente, caracterizadas por serem centralizadoras e bem definidas.
Quando uma empresa
depende da rede para funcionar, a qualidade e eficiência na conexão é um
requisito importante, o que torna a conexão por linhas telefônicas padrão
insuficientes para transportar e distribuir as informações necessárias. A
empresa é dependente de sistemas avançados de telecomunicação (redes de fibra
óptica) uma condição necessária para a competição entre cidades na economia
global. Com isto a geografia da economia, se transforma em área de negócios
dotadas de equipamentos de telecomunicação de ponta, formando áreas específicas que se interconectam.
A
variedade de profissionais que trabalham via rede tem aumentado, são
caracterizados pelos altos níveis de instrução, iniciativa e qualidade de educação. Kumar (1997) aponta para o
surgimento de uma nova classe de serviço de trabalhadores do ramo do
conhecimento, o trabalho desses profissionais se caracterizará por altos níveis
de perícia técnica e conhecimento teórico que, correspondem a longos períodos
de educação e treinamento. Castells (2003) coloca os serviços como finanças, seguros,
consultoria, serviços legais, contabilidade, publicidade e marketing como o
centro nervoso da economia do século XXI.
Segundo Pierre Lévy (2001),
“...é cada vez mais difícil encontrar o emprego clássico. Podemos
observar uma tendência muito interessante já vários anos: Trata-se do aumento
do número de pessoas que são autônomas, self-employed, que são empresários
individuais. Adquiriram competência estudando em uma ou outra empresa ou dando
consultorias, etc. finalmente, o que significa trabalhar hoje: trabalhar é
prestar serviços aos outros. Podemos dar esta definição muito
simples...Portanto, prestamo-los serviço. Além do crescimento do setor de
serviços onde isso é evidente, o que estamos fazendo? Prestamos serviços uns
aos outros, cada um à sua maneira... .“
Num contexto geral, a dinâmica da sociedade e do trabalho é a dinâmica
da economia, o processo de acumulação de capitais é, cada vez maior, e cada vez
mais monopolista. A técnica e a tecnologia, que aceleram a acumulação de
capitais, causam efeitos enormes no espaço e nas relações sociais, ao mesmo
tempo, são fruto condicionado da necessidade do trabalho em acelerar a
produtividade e aumentar a lucratividade.
A
nova economia permite a flexibilização do trabalho que, contribui para a nova forma de
sociabilidade e novas condições de trabalho. Mesmo com toda essa dependência do
virtual, o trabalho humano continua sendo fonte de produtividade, inovação e
competitividade. Segundo Castells (2003, p.77) “A economia eletrônica não pode
funcionar sem profissionais capazes de navegar, tanto tecnicamente quanto em
termos de conteúdo, nesse profundo mar de informações, organizando-o,
focalizando-o e transformando-o em conhecimento específico, (...)”.
A flexibilidade permite o trabalhador
realizar diversas tarefas, a flexibilidade também se insere no modo de
contratar, de remunerar e de alocar espacialmente. Surgem a partir daí as
formas “modernas” de contratação, a terceirização e contratos temporários,
permitindo a redução dos custos com encargos sociais e ajustes no quadro de
funcionários às flutuações da demanda. A flexibilidade de remuneração transfere
todo o risco para os trabalhadores.
A entrada maciça de mulheres no mercado de trabalho foi
provocada pelo aumento da participação das mulheres na universidade, um dado
importante e indispensável para o desenvolvimento da nova economia e da
flexibilização do trabalho. Requisito indispensável para esse novo contexto do
mercado de trabalho, flexibilidade e autonomia que para mulher permitiu a
aproximação à vida familiar, executar sua funções profissionais em horários
alternativos, sem prejudicar o dia-dia doméstico.
A autonomia no trabalho é ainda mais evidente nos
indivíduos que trabalham como consultores ou subcontratadores que munidos de um
computador, uma linha telefônica, um telefone móvel, um local em algum lugar,
muitas vezes em casa, sua formação, sua experiência e, o ativo principal, sua
cabeça, consegue desenvolver o seu trabalho.
Pierre Lévy (1999)
aponta que a entrada para o ciberespaço cada vez mais se amplia, as interfaces
que os aparelhos de comunicação (computadores, telefone celular, laptop,
palmtop) nos proporciona está cada vez mais desprendido do lugar. Para entender
as transformações culturais e sociais contemporâneo devemos abordar as “grandes
tendências técnicas contemporâneas”. Com isto aponta o aumento exponencial das
performances dos equipamentos (capacidade de memória, velocidade), a melhora
conceitual e teórico dos softwares e o uso social do virtual.
Podemos perceber que
o trabalho estável, de período integral, sob definição contratual, de direitos
e obrigações comuns à força de trabalho,
seja no setor público ou privado está cada vez mais difícil. O emprego
na nova economia é caracterizado pelo trabalho autônomo, o emprego em meio
expediente, o emprego temporário e a subcontratação.
O modo em que as pessoas se sociabilizam vem sendo
alterado, baseado no lugar seja no campo ou na cidade, fonte importante de
interação social. Essa sociabilidade era fundada não só em vizinhanças, mas em
locais de trabalho. (Castells,1983; Espinoza, 1999; Perlman, 2001 apud
CASTELLS)
Wellman
(2000) coloca a evolução da comunicação de em diferentes etapas de
sociabilidade, primeiramente a comunicação era feita em porta-à-porta, a
pessoa deslocava-se até a casa do vizinho para se comunicar, de modo que a
maioria dos relacionamentos acontecia dentro das casas. Com o desenvolvimento
das cidades e dos meios de transporte as pessoas começaram a se deslocar mais e
viajar para locais mais distantes, o contato era feito de lugar-à-lugar.
Atualmente, a comunicação é dada de pessoa-à-pessoa. A idéia de
permanecer no lar é reforçada pelo desenvolvimento das comunicações, pela
facilidade de comunicação com muitas pessoas, enraizando o usuário em suas
mesas da moradia ou do trabalho.O celular e os equipamentos portáteis liberam
as pessoas do grupo e do lugar, torna a
vida móvel e os relacionamentos fisicamente dispersos. A comunicação
evolui para um contato de papel-à-papel,
pois os contatos na rede estão cada vez mais especializados a pessoa mantém
contato com seus pares, seja emocional profissional e outros,o importante é ter
um interesse em comum.
Pierre Lévy (1999, p.49) coloca:
“Indiretamente, o
desenvolvimento das redes digitais interativas favorece outros movimentos de
virtualização que não é o da informação propriamente dita. Assim, a comunicação
continua, com o digital, um movimento de virtualização iniciado há muito tempo
pelas técnicas mais antigas, como a escrita, a gravação de som e imagem, o
rádio, a televisão e o telefone. O ciberespaço encoraja um estilo de
relacionamento independente dos lugares geográficos (telecomunicação,
telepresença) e da coincidência dos
tempos (comunicação assíncrona)... Contudo, apenas as particularidades técnicas
do ciberespaço permitem que os membros de um grupo humano (que podem ser tantos
quanto se quiser) se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma memória
comum, isto quase em tempo real, apesar da distribuição geográfica e da
diferença de horários. O que nos conduz diretamente à vitualização das organizações
que, com a ajuda das ferramentas da cibercultura, tornam-se cada vez menos
dependentes de lugares determinados, de horários de trabalho fixos e de
planejamentos a longo prazo ...”
A inédita possibilidade de
interagir à distância e em tempo real, faz o ambiente residencial cada vez mais
ativo, une o trabalho e o habitar no mesmo ambiente, onde atividades da vida
doméstica, social, de trabalho, produção, reprodução e divertimento interagem
continuamente (DE MASI, 2000). É importante frisar a necessidade
de estudar as mudanças em conjunto. As mudanças na vida do trabalho de um
número muito grande de indivíduos estão afetando grupos importantes de
profissionais de nível superiores e várias outras categorias de
trabalhadores – faz-se acompanhar de outras alteração na vida familiar, no
lazer, na cultura e na política. (KUMAR, 1997)
A inserção dos novos meios de
comunicação altera o ritmo da vida, ocasionando mudanças na família, no trabalho,
na sociedade. As transformações sociais e tecnológicas geralmente são mais
rápidas que as transformações espaciais.
Ao longo da história, a casa, passou por
diversas transformações, seja de usos ou de organização do espaço. Atualmente,
o fenômeno do retorno do trabalho para dentro da habitação nos faz refletir
sobre a questão dos espaços na moradia. Ainda, que esse movimento, de certa
maneira, é um retorno à casa medieval tendo em vista que esta conciliava as
atividades de trabalho e de moradia no mesmo local.
É
preciso lembrar que o espaço que habitamos é fruto das transformações ocorridas
nos hábitos e costumes do final do século XVIII e começo do XIX (LEMOS, 1978),
em que a casa era organizada em áreas de estar (lazer em geral, receber visitas e estudo dos filhos), íntima (funções de dormir, repousar,
convalescença de doenças, higiene pessoal, necessidades fisiológicas e vida
sexual dos casais) e de serviço
(estocagem de alimentos e produtos de limpeza, trabalho culinário, refeições,
limpeza de cozinha e equipamentos afins a lavagem, a passagem de roupas, a
costura e manutenção das roupas) e o trabalho físico e intelectual
definitivamente sairia das residências e migrava para ambientes fabris.
Esta mudança trouxe resultados produtivos e econômicos extraordinários,
esta racionalização, transborda dos locais de trabalho para os locais da vida e
para as organizações das cidades (DE MASI, 1999).Os ambientes de escritórios
são cada vez mais comuns nas cidades, os espaços públicos e privados se
consolidam. A moradia é o lugar da
família da vida intima, o espaço privado do trabalho, da cidade, das atividades
culturais e de lazer pertencente ao espaço público.
O
fordismo inaugurava uma nova época na sociedade capitalista. O planejamento
invadiu todas as esferas da sociedade, tudo era planejado, a economia, a
produção, a cidade e as pessoas. O fordismo era regulava desde a linha de
montagem, à vida sexual e familiar do trabalhador, instaurando uma forte
relação entre os métodos de trabalho e o
modo de pensar, de viver e sentir.
(KUMAR, 1997)
A automação e a reorganização no processo produtivo permitiu uma escala
de produção em massa, elevando o número de mercadorias, a ampliação do mercado
era necessária, constituindo as empresas transnacionais. O fordismo vê o
trabalhador sendo o seu consumidor, cria
a chamada sociedade de consumo de massa.
O período do
pós-guerra Pratschke, Tramontano e Marquetti coloca como a entrada das mídias e dos
equipamentos domésticos na moradia. A mulher tem o auxilio das máquinas para os
serviços domésticos, um facilitador de seus afazeres, já a família as mídias
trousse o entretenimento. Esta mudança provocada pelo avanço das tecnologias e
por seu consumo graças ampla divulgação feita através da publicidade e do
cinema, provocou um “redesenho do espaço doméstico e uma redefinição de suas
funções”.
Neste período, os
escritórios começam a se informatizar, a trabalhar com comunicação a distancia,
mas é em meados dos anos 1980 que o computador chega a habitação e em 1990
penetra mais lares, o computador amplia suas funções e passa a auxiliar as
atividades de trabalho, de estudo, de lazer e entretenimento.
A inserção de novas
mídias no ambiente doméstico trouxe uma mudança de comportamento, de uso e de
funções desse espaço, segundo Pratschke, Tramontano e Marquetti, “caracteriza-se essas mudanças como
impactos diretos e induzidos. Os diretos caracterizam-se pela maior
permanências da família no espaço residencial, motivada por novas
possibilidades de trabalho, lazer, compras que o espaço virtual tem
possibilitado. Outros pontos colocados por Tramontano, são os equipamentos
que possibilitam uma mobilidade como
Laptos, telefones móveis que transcende a noção de tradicional espaço doméstico
e coloca nos a idéia de “habitar a cidade”. Os impactos induzidos são a idéia
de telepresença (provocada pela possibilidade de estar virtualmente em vários
lugares), a não linearidade (linguagens utilizadas na produção do espaço
virtual), coloca que essa não linearidade tem reflexo no espaço doméstico por
espaço que não tem um hierarquização definida como os lofts nova yorkinos.”
O
modo de organizar o espaço residencial citado por Lemos (1978) em áreas de estar, íntima e de serviço, setoriza a própria casa em áreas voltadas para o
público como as áreas de estar e locais privados como áreas intima e de
serviço. A
tecnologia não transformou só o ambiente residencial, ela transformou a
sociedade com um todo, a questão é o que é público e o que é privado? A possibilidade de equipar o quarto com telefone,
televisão, computador e internet, o indivíduo tem a liberdade de se comunicar
com quem quiser, assistir o filme que escolher, ter acesso a vários lugares
pela rede de comunicação, trabalhar sem precisar sair de casa. Uma vez que o trabalho está
inserido dentro de casa e as novas tecnologias permitem estar em diversas
instâncias, pública (trabalho, entretenimento e lazer) privada domicílio. Nos
perguntamos essa divisão existe? O que define uma instância pública ou privada
é a atividade? Mesmo sabendo que os cômodos estão cada vez mais
multifuncionais.
Paul Virilio se
posiciona sobre a questão de público e privado da seguinte forma:
“Por
outro lado, com a interface da tela (computador, televisão, teleconferência...)
o que até então se encontrava privado de espessura – a superfície de inscrição
– passa a existir enquanto “distância”, profundidade de campo de uma
representação nova, de uma visibilidade sem face a face, na qual desaparece e
se apaga a antiga confrontação de ruas e avenidas: o que se apaga é a diferença
de posição, com o que isto supõe, com o passar do tempo, em termos de fusão e
confusão. Privado de limites objetivos, o elemento arquitetônico passa a
estar à deriva, a flutuar em um éter eletrônico desprovido de dimensões espaciais,
mas inscrito na temporalidade única de uma difusão instantânea. A partir de
então ninguém pode se considerar separado por obstáculo físico ou por grandes
“distâncias de tempo”, pois com a interfachada dos monitores e das telas
de controle o algures começa aqui e vice-versa. Esta súbita reversão dos
limites introduz, desta vez no espaço comum, o que até o momento era da ordem
da microscopia: o pleno não existe mais, em seu lugar uma extensão sem limites
desvenda-se em uma falsa perspectiva que a emissão luminosa dos aparelhos
ilumina. A partir daí o espaço construído participa de uma topologia eletrônica
na qual o enquadramento do
ponto de vista e da trama da imagem digital renovam a noção de setor urbano. À
antiga ocultação público/privado e à diferenciação da moradia e da
circulação sucede-se uma exposição onde termina a separação entre o “próximo” e
o “distante”, da mesma forma que desaparece, na varredura eletrônica dos
microscópios, a separação entre ”micro” e “macro”(1993, p.10).
O lugar está bastante
relacionado com a instância público/privado. A sociabilidade mediada por computadores organiza as pessoas
em redes sociais, os novos meios de sociabilidade não têm como referência os
lugares e sim afinidades. As redes de comunicação estão substituindo os lugares
como suportes da sociabilidade nos bairros e nas cidades. Com o desaparecimento
da relação das pessoas com os lugares o público/privado
também desaparece e as distinções entre escritório e lar, entre trabalho
e ócio, que são em grande parte, secundárias.
As
novas tecnologias de informação e comunicação interferiram nos meios de
produção com a desconcentração geográfica das atividades produtivas. Em busca
dos menores níveis de salários, as empresas buscam trabalhadores em regiões com
remuneração inferior e sem tradição sindical. Esta descentralização traz a
possibilidade de trabalhar no domicílio.
Os teletrabalhores são empregados
que trabalham principalmente na moradia ou em espaços não fixos. Surgiram de
uma reestruturação organizacional provocada por mudanças no mercado, levando a
redução dos empregados, redução e eliminação dos espaços dos escritórios, e a
flexibilização. Muitos dos teletrabalhadores preferem este modo de trabalho por
permitir uma aproximação da família, por uma maior autonomia. (WELLAN, 2000).
O
retorno do trabalho para a residência altera a relação do homem com o seu
ambiente. Provocando vantagens e desvantagens nesse processo, compreendidas
pela perda de privacidade pessoal, possibilidade de excesso de carga de
trabalho, indefinição de horário de trabalho e lazer e tendência ao isolamento
social. Ainda, algumas das desvantagens
profissionais podem ocorrer como a desatualização de conhecimentos gerais,
ambiente confinado, sobrecarga de
trabalho, desvantagens financeiras, interferência de assuntos domésticos nos
profissionais, preconceito do mercado formal e a dificuldade na obtenção de
crédito (RIZZATTI, 2004).
A
interferência do trabalho na esfera doméstica, familiar e pessoal, é acrescido
de vários equipamentos de comunicação como: telefones móveis, sistemas de
correio de voz, correio eletrônico, internet, scanners de códigos de barras,
comunicação via satélite, redes informáticas de alta capacidade permite o
tele-trabalhador trabalhar em tempo real com outra pessoa, que o torna
conectado e disponível 24 horas por dia.
O tele-trabalho transita entre local de trabalho e de repouso.
Proporciona há um grande número de mulheres, trabalhar em horários flexíveis. A
experiência da mulher e do homem com relação ao teletrabalho são distintas, a
mulher por acumular o trabalho mais a administração da casa e da família, é
freqüente apresentarem elevado nível de estresse entre as demandas trabalho e
da família e sentirem falta de lazer, mas, se dizem satisfeitas com esta forma
de trabalho talvez por estarem mais próximo da família e do trabalho,
facilitando o relacionamento entre as funções da mãe e da profissional, a
mulher acaba ajustando seus horários de trabalho com os horários domésticos,
trabalha quando o filho está na escola, mas o que relatam é que dividem o tempo
em 50% para trabalho e 50% para a família, ocorre uma melhora no relacionamento
com os filhos (WELLAN, 2000).
O homem vê o tele-trabalho como privilégio, por ter uma maior autonomia,
enquanto o relacionamento com a família é um acréscimo desse processo, já as
mulheres vêem a flexibilidade, autonomia de horários, e a possibilidade de
conciliar trabalho e família como privilégios (WELLAN, 2000).
Montali (2000) estudou as tendências do mercado de trabalho nos anos 90,
com o intuito de perceber como as transformações na economia e no mercado de
trabalho indeferiram nos arranjos familiares, nas relações hierárquicas na
família. Aponta em seu estudo a redução do emprego industrial, o crescimento
das ocupações ligadas ao terciário – de caráter formal ou informal – e o
progressivo empobrecimento da população. A redução de postos de trabalho,
principalmente para ocupações predominantemente masculinas, cresce a
participação da mulher-cônjuge entre os ocupados da família; reduz da
participação dos filhos, tanto maiores como menores de 18 anos, e a redução do
peso do chefe masculino, cresce por sua vez, nas famílias de chefe feminino sem
cônjuge e nas famílias na etapa da “velhice” com a presença de filhos residentes.
A participação das mulheres no
mercado de trabalho aumentou na maioria dos países do mundo, seja em períodos
de prosperidade ou de recessão (MONTALI,2000). As mulheres sempre tiveram
dificuldade de arrumar emprego por terem conciliar o trabalho com a sua vida
doméstica, o tele-trabalho proporcionou a um grande número de mulheres trabalhar em horários flexíveis. É comum a
mulher apresentar um elevado nível de estresse por acumular trabalho, mais a
administração da casa e da família e não ter tempo para o lazer. Apresentam uma
satisfação com esta forma de trabalho talvez por estarem mais próximo da
família e do trabalho, facilitando o relacionamento entre as funções da mãe e
da profissional, a mulher acaba ajustando seus horários de trabalho com os
horários domésticos, trabalha quando o filho está na escola, mas o que relatam
é que dividem o tempo em 50% para trabalho e 50% para a família, ocorre uma
melhora no relacionamento com os filhos. (WELLAN, 2000).
A experiência da mulher e do homem com relação ao tele-trabalho são
distintas, o homem vê o tele-trabalho como privilégio, por ter uma maior
autonomia e o relacionamento com a família é um acréscimo desse processo, já as
mulheres vêem a flexibilidade, autonomia de horários, e a possibilidade de conciliar
trabalho e família como privilégios.
(WELLAN, 2000).
Montali relata:
“... a mudança na organização
econômica da família provoca transformações nas relações internas à família. A
impossibilidade concreta de manutenção da família pelo chefe, e também de
mantê-la sob sua autoridade, deverá provocar, médio praso, asociado a outros
fatores que tem indicado maior equalização das relações de gênero, mudanças na
família: inicialmente, na divisão do trabalho interna à família, através das
alterações na inserção dos seus componentes no mercado, e, num segundo momento,
na divisão sexual do trabalho na família, o que implicará mudanças nas relações
hierarquizadas de gênero no seu interior” (2000, p.67).
Tramontano
(1993) em estudos das novas formas de estruturas familiares constata, que ao
longo das últimas décadas o núcleo familiar tradicional (pai, mãe e filhos) tem
cedido lugar a outros formatos familiares: pessoas vivendo sós em diferentes
momentos da vida, famílias monoparentais, uniões livres, casais sem filhos,
coabitantes sem vínculos conjugais ou parentesco. Relaciona uma série de
fatores a esta nova configuração familiar como; a queda acentuada da
fecundidade, o aumento da longevidade, a crescente inserção da mulher no
mercado de trabalho, a liberação sexual, a fragilidade das uniões, o
individualismo acentuado acrescenta a estes fatores a entrada das
telecomunicações no espaço da habitação alterando todos os hábitos e
comportamento e coloca o tele-trabalho como um deles. São elementos que ajudam
a configurar as mudanças que vêm acontecendo na família, e vêem de encontro com
as constatações do estudo de Montali (2000).
Estas
mutações que estão o correndo na estrutura familiar e os novos comportamentos
trazem ao espaço habitacional, outras necessidades e formas de utilização
provocando novas abordagens espaciais com relação ao objeto arquitetônico.
Neste contexto o computador
provocou uma grande mudança no ambiente residencial, o novo escritório se
tornou uma simples tela de computador, antes o que era um cômodo separado de
toda a dinâmica doméstica se condensou em uma máquina conectada ao mundo e cada
modelo lançado aumenta sua capacidade, amplia suas funções e diminui de
tamanho. Como resume Paul Virilio “o novo escritório... substitui o volume do
antigo cômodo, com sua mobília, sua arrumação. Seus documentos e plano de
trabalho...” O escritório passa a ter um papel importante na sociedade torna-se
um nó na rede de comunicações no qual o fluxo de informações é quase contínuo.
O
mobiliário, ou seja, os postos de trabalho destinado a colocar o computador e
seus periféricos no domicílio, não ha uma preocupação com Ergonomia, design e
aproveitamento racional do espaço, pois o interesse do trabalhador é
primeiramente reduzir seus custos operacionais já que os mesmos não são pagos
pelo empregador, o que acarreta problemas de saúde posteriores (OLIVEIRA,1996).
Com os locais de trabalho
desaparecendo e os lares se transformando no centro de uma atividade
multifuncional. Na verdade, o tele-trabalho não é uma prática disseminada e o
trabalho feito a partir de casa é apenas parcialmente relacionado com a
Internet. Numa série de estudos realizados nos EUA por Mohktarian e por Handy
na década de 1990 demonstrou que menos de metade das pessoas que trabalhavam em casa utilizavam computadores e o restante
trabalhava com o telefone, caneta e papel. (CASTELLS, 2003).
A internet sem fio evolui para
tele-trabalho móvel, o deslocamento é uma constante, viajam pelas áreas
metropolitanas, pelo país e pelo mundo, mantendo ao mesmo tempo contato com o
com seu escritório via Internet e telefones móveis. O desenvolvimento de
escritórios remotos, com base na Internet, que têm importantes conseqüências
espaciais, permite as empresas uma otimização nos espaços de escritório, de
modo que usem o espaço apenas quando ele é de fato necessário. Assim, o modelo
emergente de trabalho não é o tele-trabalhador em casa, mas o trabalhador
nômade, o “escritório em movimento” (CASTELLS, 2003)
O
acesso à informação e a comunicação mediada por aparelhos conectados a rede,
liberta a pessoa da referência do lugar e se torna o menos importante, a perda
desta referência traz uma nova experiência a da mobilidade.
A mobilidade só é possível, por existir uma
tecnologia que permite a concretização
da troca de informações, com pontos de saídas e de chegadas virtuais. A pessoa
é o receptor e o equipamento é o “veículo” utilizado para a transmissão de
informações. É possível uma pessoa iniciar uma conversa no supermercado, pagar
a conta, caminhar até a sua casa e concluir a conversa na cozinha de seu lar,
ou enviar um e-mail do escritório,
viajar para outro lugar e de lá acessar o e-mail com a resposta.
Equipamentos
como telefones móveis, computadores portáteis e palms são fundamentais para que
a mobilidade aconteça, como também Cibers Café, Lan Houses e locais em
hotéis, aeroportos com computadores ligados a rede ou pontos que permitam o
acesso pelos computadores portáteis pessoal.
O projeto Connecting People é um projeto que se
estendeu por um ano, sob a coordenação de
Domenico De Masi, com contribuição de pesquisadores de cátedra de
sociologia do trabalho e 300 alunos, uma parceria Nokia e Universidade. O foco
era investigar de que modo à conectividade, associada à mobilidade,
influência a criatividade dos grupos de trabalho. Foram estudados vinte grupos criativos que
atuam em vários âmbitos que usam a conectividade como instrumento para superar
as distâncias físicas entre os membros: equipes de design, de publicitários, de
artistas, de arquitetos, de redatores, de consultores, de biólogos, etc. Todas
essas categorias, ao longo dos últimos anos, vêm experimentando novas formas de
organização do trabalho e de comunicação determinadas justamente pelo advento
da conectividade. (CUTRANO, 2005)
Constataram na pesquisa que: a vida móvel, o
estar sempre conectado, comporta por outro lado, uma boa dose de estresse e
angustia provocada por excesso de conectividade (Cutrano, 2005)”. Algumas
pessoas não conseguem delimitar o próprio espaço privativo, não têm tempo para
simplesmente estarem sozinhas e buscarem uma forma de paz e de serenidade
íntima.
O celular é um aparelho de consumo em massa
seu alcance é muito maior do que o computador, de fácil manuseio, extremamente
pequeno, possui múltiplas funções e usos. O celular conecta-se a várias
instâncias, pessoais, familiares e de trabalho, instâncias antes separadas e
agora unidas por um único aparelho, que está sempre ao seu alcance.
A era digital está colocando em um novo ritmo
e uma nova ordem em nossas vidas. O que antes era nítido e bem definido, como
limites entre público e privado, entre dimensão individual e coletiva, entre
tempo de trabalho e tempo livre, entre presença e ausência, entre escrita e
linguagem falada, estão sendo transpostos e essas divisões estão se diluindo.
É
válido frisar que toda essa mobilidade e essa liberação da referência do lugar
não invalida a problemática do espaço habitacional, que acolhe essas mudanças e
o tele-trabalhado, todas essas dicotomias (público/privado, dimensão
individual/coletivo, tempo de trabalho/ tempo livre, presença/ausência,
linguagem escrita /linguagem falada) sofrem a mesma diluição no espaço
domiciliar.
Hoje
as funções desenvolvidas na casa, segundo Marzano (1993) apontam para um olhar inovador entre as formas das
relações “homem – objeto - espaço”, relação que significa uma maior aproximação
nos âmbitos da utilização, simbologia e psicologia entre “homem” e
“objeto”. Sugerindo uma valorização
dessas relações. Conseqüentemente, a qualidade
do habitar volta a ser o cerne do design e esse tipo de relação ocupa um
lugar central no esquema da concepção das novas gerações de objetos domésticos.
A geografia da
internet e a geografia “física” trabalham em conjunto. A internet constituída de
redes e nós de informação, gerada e administrada a partir de lugares, redefine
distâncias, lugares, mas, não os anula. Como bem resume Manuel Castells, “novas
configurações territoriais emergem de processos simultâneos de concentração,
descentralização e conexão espaciais, incessantemente elaborados pela geometria
variável dos fluxos de informação global”.
O tele-trabalho possibilita a
interação à distância, o que nos leva a refletir sobre a função dos espaços da
cidade e a sua vitalidade. Esta mudança não acarreta no seu desaparecimento, dependemos de seus
serviços, mesmo com a possibilidade de interagirmos à distância, é no
território urbano que se concentra as oportunidades de emprego, de geração de
renda, de educação e cultura.
Estamos cientes que
o ser humano está em constante transformação, à intensificação das
transformações sociais, culturais e tecnológicas, gerou no indivíduo outras
necessidades. Por meio das prerrogativas apontadas propomos a refletir sobre
como deve ser o espaço, o mobiliário (Home-Office)
em um ambiente em constante mutação.
A atividade de trabalho no domicílio geralmente ocupa espaços fundamentais de sua casa
(cozinha ou sala de jantar, quarto). Tal ocupação, não só deteriora as condições de vida
dos usuários, como altera seu comportamento, gerando uma desestruturação nos ritmos tradicionais da
casa, o que acarreta stress em seus moradores.
Oliveira
(1996) comenta que o
microcomputador é o posto de trabalho
típico do trabalhador no domicílio, e que geralmente, nos postos de trabalho
domiciliares, não há uma preocupação com Ergonomia, Design e aproveitamento
racional do espaço, pois seu interesse é primeiramente reduzir seus custos
operacionais já que os mesmos não são pagos pelo empregador. O usuário do Home-Office se encontra em condições de
trabalho aquém do ambiente corporativo tornando a aquisição de mobiliários
ergonômicos distante. Mas, é válido ressaltar que a maior parte dos postos de
trabalho é projetada para ambientes
corporativos,
o que difere muito de um ambiente residencial.
Isao Hosoe (apud.
MERINO e MAGER, 2002) aponta para algumas condicionantes que devem nortear o
design de Home Offices como a mobilidade e versatilidade. Coloca
que o atual desafio dos designers é dotar o ambiente de elementos essenciais
que não podem ser obtidos numa estação de trabalho convencional. Ele deve ser
nômade, para satisfazer diferentes exigências funcionais, para transformar em
termos de espaço e função, para aparecer e desaparecer, conforme a necessidade.
Não se deve esquecer de colocar o homem como centro de referência do mobiliário.
Costa
(1998:71) ao refletir a concepção do mobiliário de escritório propõem três
pontos de direcionamento projetual do objeto:
- O
primeiro passo é partir do usuário, das suas necessidades reais e aspirações
implicadas na “vivência” quotidiana dos espaços;
- O
segundo passo, o objeto, deve ter uma estética unitária, permitindo o uso do
mobiliário em todos os espaços: público, habitacional e laboral, não havendo
rupturas existenciais;
- O
terceiro passo é rever todos os
conceitos até aqui aplicados na implantação de equipamentos dos “espaços de
trabalho”, como também na arquitetura dos edifícios, que atualmente aplica o
conceito funcionalista em que a abordagem do problema e sua resolução são
tomadas sem levar em conta as necessidades e a ótica do usuário, sendo a nova
proposta aplicar o conceito humanista de “espaço de vivência”.
A
residência atual abrange diversas
atividades, acolhe novas funções dentre elas a atividade de trabalho. Assim, decidiu-se adotar para esta
reflexão o conceito utilizado por Costa (1998) o “espaço de vivência” que
propõem a continuidade da imagem do ambiente humano, baseado na continuidade do
comportamento das pessoas, que não devem mudar radicalmente de atitude quando
mudam de atividade como trabalhar, circular, relaxar, cozinhar entre outros, ou
seja o ambiente deve ter uma linguagem fluida e não uma linguagem compartimentada por cômodos funcionais. Por
meio da adoção deste conceito o olhar para o espaço da habitação se transforma,
os objetos e o usuário ganham uma nova importância.
De
acordo com Solá-Morales (1995) os mecanismos psicológicos são considerados na
produção do espaço. A visão, o tato, o movimento do corpo estabelecem as
condicionantes da existência do espaço, de modo que a produção de novos espaços
e de novas experiências espaciais está ligada á exploração dos mecanismos
perceptivos do sujeito humano.
Soma-se a estes mecanismos de percepção humana as novas
tecnologias de informação, que
propiciam a comunicação entre distintos espaços sem necessariamente recorrer ao
espaço tradicional em que cada atividade tem sua sala e cada compartimento está
conectado por elementos físicos, um dos fatores que impulsionou o retorno do
trabalho para moradia. Estes espaços impalpáveis permitem ao indivíduo uma
mobilidade por meio da infinita rede da internet. A sociedade através dessa
tecnologia altera o sentido de espaço, de contatos corporais, sociais e de
trabalho, surgindo uma cultura mediática em que as distâncias se encurtam
convertendo-se em instantâneas e não
estão relacionadas com o lugar preciso.
Os
lugares já não se interpretam como recipientes existenciais permanentes, são
entendidos com intensos focos de acontecimentos, como concentrações de
dinamismos, como fluxos de circulação, acontecimentos efêmeros, como momentos
energéticos, espaços mediáticos no qual não é predominante o espaço físico. A arquitetura se transforma em um
continente neutro (inclusive transparente) com sistemas de objetos, máquinas,
imagens e equipamentos que configuram os interiores modificáveis e dinâmicos.
Neste contexto o mobiliário ganha importância, pois o objeto dá suporte físico ao usuário criando um
espaço que permite o desenvolvimento das suas atividades, já os espaços
domésticos e os lugares de trabalho estão dentro das coordenadas do espaço
mediático.
O
crítico de arquitetura José Maria Montaner (1998:52) reflete sobre esse
contexto: “No futuro, os espaços habitacionais, com interiores povoados por
sistemas de objetos, que já configuram um espaço mediático, como um protagonizador, não será mais a arquitetura e
sim a engenharia e o desenho industrial”.
Hoje
as funções desenvolvidas na casa, segundo Marzano (1993) apontam para um olhar inovador entre as formas das
relações “homem – objeto - espaço”, relação que significa uma maior aproximação
nos âmbitos da utilização, simbologia e psicologia entre “homem” e
“objeto”. Sugerindo uma valorização
dessas relações. Conseqüentemente, a
qualidade do habitar volta a ser o cerne do design e esse tipo de relação ocupa
um lugar central no esquema da concepção das novas gerações de objetos
domésticos.
8.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Geralmente o
trabalho desenvolvido pelo tele-trabalhador necessita de silêncio e
concentração, em um ambiente domiciliar, as interferências ocorrem
constantemente, a não ser que a pessoa more sozinha. O stress é inevitável e é
gerado pelas “mazelas da vida
doméstica”, um sentimento de solidão também pode aflorar pelo isolamento e
distanciamento do ritmo e do cotidiano da empresa.
A mutação e a quebra dos paradigmas ocorrem em vários níveis e setores
da sociedade, propomo-nos aqui levantar “conceitos” para reflexão tanto de
mobiliário como de espaço arquitetônico. O trabalhar e o habitar exigem do
espaço, necessidades distintas. A nossa proposta é através dos critérios
baseados na reconfiguração do espaço e do uso, trazer pontos chaves de reflexão
para projetos arquitônicos e de mobiliário.
Elasticidade: modificação da superfície
fundindo um ou mais cômodos. Painéis divisórios deslizantes e sanfonados que ao
serem abertos permitem que todos os espaços do projeto formem uma grande
superfície aberta.
Espaço Apêndice: O escritório não necessariamente deve estar no interior
doméstico, pode estar em sua redondeza, ser compartilhado por outras pessoas,
pode ter um local de suporte para reuniões e serviços de apoio como secretária.
Espaço polivalente – fronteiras entre os diferentes se
diluem, onde não tratou de diferenciar entre as atividades públicas e privadas
ou instancias de dia e noite, ocorre uma Integração de funções. Zoneamento,
cômodos definidos pelas funções, se diluem e instala um novo tipo de
funcionamento o do momento da atividade exercida.
Evolução/Adaptabilidade: modificação ao longo prazo segundo
as transformações da família.
Flexibilidade: implica na liberdade de organização
espacial, a possibilidade de manipular o objeto seja na sua função ou
modificando a maneira de inseri-lo no lugar. Assim os espaços vão evolucionando segundo as
necessidades que sugerem, o que permite levar a cabo múltiplas atividades.
Mobilidade: implica uma rápida modificação dos espaços segundo as
horas e as atividades ocorridas.
Mobiliário Definidor: a função do ambiente se altera com a
disposição ou a organização da mobília, acessórios como rodízios para deslizar
no espaço são elementos importantes, como também um mobiliário estante que te
proporcionasse trabalhar nele e ao fecha-lo o escritório fica oculto e não
interfere na atividade que o cômodo abrigará a seguir.
Mobiliário nômade: o espaço do “tele-trabalhador” pode ser
em qualquer local da habitação, ou em outros lugares fora dela, desenvolver um
objeto que pudesse se transportado para diferentes lugares, leve, de fácil
manuseio.
Modulação: unidade de
mobiliário, de material de construção, etc. Planejada determinada a reunir-se
ou ajustar-se a outras unidades análogas, de várias maneiras, formando um todo
homogêneo e funcional.
Multifuncionalidade: busca associar o maior numero de
usos no objeto, possibilita a execução de atividades concomitante e faz com que
um uso não anule o outro.O
multiuso dos objetos permite a otimização dos espaços e uma maior utilização
dos objetos.
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