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A
partir de uma linha de pensamento dos processos de semiosis, o que
entendo como concretude e como realidade, só se manifesta na linguagem.
As linguagens são o suporte de todos os significados que existem e
que forjam toda a comunicação e informação do
mundo que conhecemos. A grande manifestação da concretude só
acontece nas linguagens, que são as mediadoras do nosso pensamento
e sua relação com o mundo. Tudo o que absorvemos do mundo e
para ele devolvemos só pode se concretizar apoiando-se nessas linguagens,
que se manifestam através de códigos - ou sistemas, na sua grande
maioria artificiais -, para que se tenha uma maior interatividade homem x
máquina, homem x e natureza, assim como todas as variáveis que
envolvem este processo.
Em primeiro lugar tem-se que perceber que a nossa inserção no
mundo se dar a partir do conhecimento desses sistemas e códigos, mediados
por linguagens. Ao rastrear a semiosis veremos que se trabalhamos com
o pensamento, que é uma substituição, e que mundo e as
coisas se manifestam de uma forma facetada, multivalente e plurívoca,
o objeto nunca é o mesmo, o fenômeno nunca se manifesta de forma
idêntica. Portanto, a representação deste real, deste
fenômeno pode ter uma série de significados.
Quando a linguagem se amplia, gera novas articulações e novas
possibilidades de mediação, de diálogo com o mundo. Nisso
já está embutida uma intraface, porque é o objeto falando
de si para si, propondo novas qualidades, e que por ser múltiplo ele
vai oferecer esta multi-possibilidade. O objeto, tendo muitas possibilidades
de significação, pode manter interfaces muito inusitadas, inesperadas.
Isso não é sinal de uma invenção, mais sim de
uma leitura mais apurada do objeto, enxergando suas potencialidades.
Quanto mais me aproximo do fenômeno para que ele possa produzir representação,
para que possa se concretizar, ser afável, em termos de linguagem,
é preciso concretizá-lo em linguagem. Uma idéia não
é nada sem a sua representação, sem a mediação
de códigos, não tendo como se manifestar sem sua concretização.
A realidade é uma mediadora, e a consciência é o topos
onde se processa essa tradução, para possibilitar a mediação.
E os códigos do mundo são o suporte da concretude. Hoje o suporte
é as novas mídias, a televisão, o computador, que em
outros tempos era o papiro e, mais anteriormente, era a pedra, sendo tudo
muito equivalente. Muda-se o suporte, mas o núcleo da célula
da significação é semelhante, e o processo da comunicação
na sua mediação de linguagem se equivale. |
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Mudaria
muito, porque existiria uma extensão completa dos cinco sentidos. Freqüentemente,
nos esquecemos que a nossa inserção no mundo é uma inserção
sinestésica, com os estímulos que vêm para a nossa epiderme
através dos cinco sentidos, sendo elaborados no cérebro. Destes
sentidos é que nascem todas as linguagens. Mesmo a indução
telepática é uma linguagem de sensibilidade sinestésica.
A televisão, sendo háptica pelo seu próprio conteúdo
tecnológico, envolve totalmente seu espectador. Como ela ainda trabalha
na concretude de linguagem extremamente baseada no conteúdo e não
elabora a sua estrutura de linguagem, não faz metassignagem, não
tem uma reflexão do código sobre o próprio código
que, esta é envolvência nos torna extremamente passivos. Não
interagimos com ela. A proposta da informatização, da informatização
automatizada via computador, já tem uma proposta de envolver mais o
usuário no processo, tornando-o menos passivo. Só que o modo
que está sendo organizado ainda é um baseado em normas e regras
antigas, isso em termos de grande massa, já que pontualmente já
existem pessoas que estão entendendo a linguagem do computador. Mesmo
porque o computador pode ser usado para coisas mais objetivas, produzindo
informações necessárias e extremamente funcionais, como
também pode ser usado para gerar novas formas de elaboração
de pensamento. Que é o que aconteceu com todos os meios de comunicação.
Já a tridimensionalização não estar muito distante
de nós. Quando eu trabalhava em Mogi das Cruzes, com Paulo Martins,
já pensávamos em trabalhos arquitetônicos holográficos.
O trabalho de graduação em arquitetura do Paulo consistia em
uma cortina holográfica que vinha da Escola Normal São Caetano
até o Teatro Municipal de São Paulo, gerando um outro entorno
para a cidade. Mas fomos extremamente banidos pela escola.
Mas não vejo isso como uma coisa improvável, pelo contrário,
é altamente provável: já existe o cinema holográfico,
já existe a televisão holográfica. Mas a tecnologia ainda
não está tão desenvolvida para produzir isso em larga
escala. Lembremos Mayume quando foi ao Japão e entrou num jardim de
cerejeiras holográfico.
Agora isso muda. E muda porquê? É o novo suporte de linguagem,
é o suporte que trabalha no mundo da aparência. Só que
o mundo da aparência se viabiliza, ele é e não é,
o tempo inteiro, ele é sempre o 'vir a ser'. E isso, enquanto estímulo
sensorial, vai produzir um novo ser humano, que não é um Blade
Runner, um homem-máquina. E eu creio que, muito possivelmente, estejamos
vivendo um tipo de ritual de passagem para um novo Renascimento. Nós
vamos renascer, resgatando os nossos sentidos de uma maneira espetacular,
como quando éramos das cavernas. Mas agora num estágio avançado,
detentores de um conhecimento lapidado e elaborado.
Se começarmos a ler os índices, percebemos que estamos, na verdade,
em busca deste resgate. Novos modos de habitar, novos designs, a preocupação
com o ecossistema, a medicina alternativa... De uma forma grotesca, bastante
conteudista, estamos ainda buscando o nosso novo reconhecimento. Infelizmente,
o que se fala do mundo virtual parece criar uma distância, porque ainda
é muito simulacro, é signo de signo de signo de signo... Mas,
pensando no mundo da vitalidade, existe um paradoxo: você trabalha o
mundo da virtualidade, esse mundo que é que e não é,
este que está colocado aqui, não o holográfico, o que
virá, onde estamos pensando em um modo de aplicar, um modo de viver,
onde nós somos o centro das organizações de novos pensamentos.
E tem alguma coisa de virtual nisso? Não tem. O que existe é
a possibilidade de potencializar o significados e criá-los adequadamente
às suas necessidades, àquelas cuja sensibilidade está
à flor da pele.
E só parar e observar. Ora, as novas mídias, o mundo das vitalidades,
o mundo Pierre Lévy... Mas o que estamos realmente querendo? É
ser feliz, ser completo, não a felicidade romântica, mas o 'ser
feliz' da complementaridade, é ser íntegro, inteiro, é
saber sentir, saber fazer sua própria radiografia, saber ler os seus
processos mentais. Quando você está lendo seus processos mentais,
você está lendo seus processos sensíveis, porque as linguagens
nascem das leituras sensíveis. |
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Não
tem mais espaço público e não tem mais espaço
privado. Quando você está dentro de seu automóvel, você
acha que está isolado do mundo externo, mas você está
com seu telefone celular, janelas se comunicam com o mundo. Existe o paradoxo,
o conflito e o contraste ao mesmo tempo, tendo que saber trabalhar isso. Eu
não acredito mais no espaço privado, nós não temos
mais espaço privado. O celular é o que, a princípio,
deixa-nos menos em que espaço privado, ou seja, em qualquer lugar do
mundo que você esteja, você tem uma patrulha ideológica
ao seu lado. Claro que ele também é utilizado para coisas importantíssimas,
como nos aeroportos onde você vê pessoas tomando decisões
pelo celular. Mas na maioria das vezes em uma comunicação de
futilidades. Só que existe uma relação entre esses espaços,
que não são mais nem público nem privado, que acaba nos
conduzindo à noção de espaço que temos. E a arquitetura
vai ter que repensar isso. Por exemplo, Hawkins, em 'A casca de noz', conclui
que este espaço é o espaço quântico, é o
'vir a ser'. E aí que eu defendo a construção do pensamento.
A escola não pode mais ser compensatória como está sendo
até hoje. Isso significa você encher a cabeça dos alunos
de conteúdo, de histórias. E isso ele não precisa mais,
ele tem redes de integradas, e o que ele precisa é de um saber emancipatório,
que surge no momento em que ele é um sujeito da sua ação,
do seu pensamento, onde e ele sabe ser seletivo e decidiu. Neste momento ele
sabe observar as variáveis do mesmo processo, ele estará preparado
para usar os significados. E isso é a perda do espaço contínuo
e o resgate do espaço descontínuo. Mas é descontínuo
continuizado pela sua mente. No momento em que você sujeito da sua ação,
você tem o conhecimento e o saber legitimados, e aí não
existe mais certo nem errado, não existe mais público ou privado.
O que existe é uma articulação, aparentemente invisível,
mas vai se manifestar nas linguagens do cotidiano.
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