N O M A D S ?
E V E N T O S
P E S Q U I S A
C R E W
L I V R A R I A
 

EXPOSIÇÃO INAUGURA ESPAÇO 001

Bancos Valentim Vlademir Iglesias/USO


Do ponto de vista ambiental, a construção brasileira em geral, e a de moradias em particular, é, como se sabe, um desastre apoiado pelo poder público e fomentado pelos especuladores. Uma série de razões conhecidas de todos respaldam esta afirmativa: gasto excessivo de energia em processos produtivos muitas vezes nocivos tanto para o homem como para o ambiente, utilização desregrada de recursos naturais não-renováveis, enorme desperdício de material em obras sem planejamento nem controle sistemático, implantação de edifícios de forma predatória em áreas cujo uso deveria estar sendo monitorado, etc.. Por outro lado, problemas ambientais de difícil solução e aparentemente desvinculados do universo da construção civil, como a despoluição de barragens e o acúmulo de embalagens plásticas em lixões das periferias urbanas, vão ganhar novo enunciado dentro de uma visão de sustentabilidade que pressupõe, além do domínio de questões estritamente técnicas do campo da engenharia ambiental, pensamentos e concepções multidisciplinares que envolvem, de forma direta, o modo de vida da população e suas maneiras de morar. Está-se, portanto, falando, certamente, de Educação Ambiental, de Políticas Públicas de Gerenciamento do Meio Ambiente, mas também de Arquitetura e Construção, mais específicamente, de projetos de habitação que concordem em ser revistos e repropostos a partir do crivo preciso e necessário do ambientalismo.

Peças em alumínio fundido, Dariane Bertoni

A exposição [DOMESTICIDADES_PLANEJADAS], organizada pelo Nomads.USP no Espaço 001, de 30 de novembro a 14 de dezembro de 2000, propôs que esta reflexão fosse estendida aos ítens de mobiliário e objetos utilitários que costumam compor a paisagem dos interiores domésticos. As peças expostas utilizavam-se de materiais em geral alternativos àqueles disponíveis no mercado formal de materiais, ou, ainda, propunham o uso alternativo de materiais convencionalmente comercializados neste mercado.

Cadeiras, série Borboleta, Marcelo Suzuki

É o caso dos bancos Valentim, do designer Vladimir Iglesias, da USO, que recuperam madeira de rejeito da floresta amazônica, e esculpem, na massa bruta da madeira lavada com ácidos, a forma tridimensionalizada dos conhecidos signos negros de Rubem Valentim. Ou ainda as cadeiras de Marcelo Suzuki, que empregam apenas peças de pequenas dimensões de madeira em sua confecção, o que traduz o desejo de diminuição de perdas e resíduos na produção moveleira. Com um design bastante contemporâneo, e reforçando as necessidades de flexibilidade para adaptar-se a espaços domésticos cada vez mais exíguos, a cadeira Catipi, da designer Rosana Folz, premiada pelo Museu da Casa Brasileira, emprega estrutura tubular de metal e madeira de reforestamento (pinus), pressupondo que, para a produção em série do móvel, não será preciso devastar áreas nativas. Também é desta forma que a divisória-estante Diálogos Transparentes, dos irmãos Campana, dialogam com as preocupações ambientais: o móvel, sobre rodízios, faz parte de um conjunto de divisórias em madeira de pinus e poliestireno translúcido, situando estes materiais entre novas possibilidades com baixo custo, característica, aliás, da produção da dupla.

Postura igualmente conseqüente em termos ambientais, ainda que indicando outras direções de pesquisa, é a do arquiteto Javier Robles, de New York. Sua luminária Caron é feita de restos de ferros de construção e de latas de óleo, com um resultado formal que, no entanto, a aproxima de gestos ligados às mais recentes discussões da arte contemporânea: a redução de resíduos como estratégia para manutenção da qualidade espacial, o resíduo transformado em objeto de arte, lembrando o caminho trilhado pelas primeiras estruturas metálicas do século 19, inicialmente reservadas aos edifícios industriais, até ganharem os interiores domésticos, com suavidades art-nouveaux. A luminária Diolinda, de Marcelo Tramontano e Marina Barros, inscreve-se nesta tendência, utilizando uma única chapa ondulada translúcida de fibra de vidro como componente principal, apenas fixada levemente com rebites metálicos.

Finalmente, os designers Joubert Lancha e Carmem Parlatore propõem o uso bruto e sem concessões da matéria natural, no caso lascas de mármore, evidenciando o caráter tectônico que esta relação com o meio natural pode assumir, dentro do universo doméstico. Conjugado com fitas plásticas transparentes recuperadas de antigas cadeiras conhecidas da maioria dos brasileiros, sua luminária, da série Luz Material, retrabalha a luz como ponto focal da estruturação do espaço. Gesto parecido é o dos designers Marcelo Vieira e Guilherme Rizzo, que esculpem em lascas de madeira espátulas cujo design depuradíssimo e rigoroso contrapõe-se à rusticidade comumente associada ao material.

Espátula, Marcelo Vieira e Guilherme Rizzo

[DOMESTICIDADES_PLANEJADAS]
 
Exposição [DOMESTICIDADES_PLANEJADAS]
Data
De 30 de novembro a 14 de dezembro de 2000
Local Espaço 001, campus USP,
São Carlos, SP
Apoio Chocolates Serra Azul


Designers
Carmen Parlatore
Dariane Bertoni
Fernando Campana
Fernando Garrefa
Guilherme Rizzo
Humberto Campana
Javier Robles
Joubert Lancha
Lucas Corato
Marina Barros
Marcelo Tramontano
Marcelo Suzuki
Marcelo Vieira
Ricardo Martucci
Rosana Folz
Simone Villa
Vlademir Iglesias/USO
Cadeiras, série Borboleta, Marcelo Suzuki
Cadeira Catipi, Rosana Folz
Luminária Caron, Javier Robles