"Com o perdão do mestre [Le Corbusier], a casa é uma máquina para carregar consigo, a cidade uma máquina na qual conectar-se".
David Greene. Living Pod.


A arquitetura processada através de conexões desenvolvida pelo Archigram, por si só já remete à organização de máquinas. O interesse dos integrantes do Archigram pelos processos que reconhecem o edifício como dividido em partes fixas e instrumentos móveis, que seriam intercambiáveis, reflete-se na produção de muitos de seus projetos, como é o caso de Plug-in City e Living Pod. O Projeto da Plug-in-City parte de idéias discutidas pelo grupo no segundo e terceiro números da Revista Archigram, e também em projetos embrionários para arquiteturas móveis, mutantes e expansíveis criados entre os anos de 1962 e 1964. A partir de 1965, após realizarem uma série de projetos mega-estruturais, voltados mais à complexidade de cidades e estruturas maiores, os componentes do Archigram lançaram vários projetos intermediários mais voltados para a arquitetura, deixando as propostas urbanísticas em segundo plano. Nessa época, o interesse da produção do grupo se voltou para um certo tipo de unidade residencial autônoma, com máxima flexibilidade, praticidade e adaptabilidade, e contrária a monumentalidade. Eles pensavam que estes espaços que estavam propondo deveriam existir independente de sistemas complicados de suporte ou de mega-estruturas que sustentariam esses espaços. Nessa fase temos como exemplos desse pensamento os projetos: Living Pod Project [1965] de David Greene e The Cushicle [1966] de Mike Webb.
O Living Pod Project consistia no estudo de uma casa cápsula, que poderia ser transformada em uma casa trailer. Essa cápsula, casa ou trailer poderia ser inserida numa estrutura urbana maior, como uma plug-in , e também poderia ser transportada e implantada numa paisagem aberta, demonstrando liberdade e flexibilidade em sua implantação. Ela poderia ser definida basicamente como uma cápsula hermética, pequena e confortável, com seu interior pensado a partir de compartimentos planejados para múltiplos usos. Essa espacialidade seria como uma arquitetura híbrida, mesclando o espaço em si e as máquinas anexadas a ele. Na proposta, Greene pensava que a maquinaria acoplada à estrutura principal seria equipada com aparelhos de última geração, transformando o ambiente numa perfeita máquina de morar, planejada para ser implantada até no fundo do mar. Neste projeto, David Greene, reavalia o que seria o habitar, o lar para uma só pessoa, um envoltório único, sua roupa, seu Living Pod, sua bolsa.

 

Integrantes ARCHIGRAM: Warren Chalk; Peter Cook; Denis Crompton; David Greene; Ron Heron; Mike Webb.

Projeto Living-Pod:David Greene

 

ARCHIGRAM | David Greene

"Este é um novo terreno em que a informação é quase uma substância, um novo material com o poder de reformular os arranjos sociais, em que a cidade se converte em sítio de construção contínua em um sentido muito literal, em que coisas e pessoas vibram e oscilam ao redor do globo em consumo estático de energia, em que a busca modernista pelo autêntico é um anacronismo, em que a inquietude é a condição cultural vigente. Este é o território habitado por Archigram."
[David Greene]

 

No início dos anos 1960, passado o trauma da segunda guerra mundial, em um momento em que muitos países do primeiro mundo entravam em um período de grande expansão econômica e tecnológica, impulsionando o desenvolvimento de revolucionários meios de transporte e de comunicação. As políticas de conquista espacial, o crescimento das redes de telecomunicações via satélite, o surgimento da robótica, dos computadores e a proliferação de todo tipo de eletrodomésticos, principalmente, a televisão, indicavam um novo panorama de desenvolvimento e de bem estar. Como conseqüência dessa revolução tecnológica, eclodiu nas sociedades avançadas uma nova cultura de massas, uma cultura mediática fundamentada na relação com os novos sistemas comunicacionais e informacionais e com as novas tecnologias eletrônicas vertiginosas mudanças econômicas, sociais e culturais estimulavam a experimentação e o desenvolvimento de alternativas de planejamento espacial fundamentadas em princípios como a mobilidade, a flexibilidade, a instabilidade, a mutabilidade, a instantaneidade, a efemeridade, a obsolescência e a reciclagem. A partir destes princípios foram surgindo os projetos do Archigram. Entusiasmados com os efeitos dessa perspectiva de progresso, muitos arquitetos da época viam a arquitetura tradicional como um grande artefato obsoleto e compartilhavam a crença de que era possível e necessário uma transformação total da disciplina arquitetônica. Esse é o caso do grupo Archigram, formado por Peter Cook, Ron Herron, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene e Mike Webb. Estes arquitetos ingleses não temiam romper todos os vínculos com a tradição e com os padrões estabelecidos. As suas propostas tinham sempre um caráter inovador e desafiador, elevando a moderna apologia do novo à enésima potência. Um conjunto de idéias, imagens e objetos inspirados nas múltiplas possibilidades entreabertas pela ciência e pela alta tecnologia da era espacial. Os membros do grupo imaginavam a construção de plataformas orbitais e de cidades intergalácticas. Alguns dos objetos arquitetônicos experimentais criados por eles voavam como foguetes lunares, ou então, afundavam e emergiam da água como glóbulos. Outros, eram planejados para desdobrarem-se em vários módulos, reduzindo e crescendo no espaço como um robot de desenho animado. O projeto de Peter Cook denominado Plug-in City ou Cidade Interconexa (1964) apresentava a proposta de uma cidade tentacular que seria construída a partir de uma mega-estrutura em forma de rede (net-work), erguida com produtos pré-fabricados, com vias de comunicação e de acesso interligando cada ponto do terreno. As múltiplas partes dessa mega-estrutura se comunicavam entre si através de um sistema de conexões físicas e de uma malha de circuitos comunicacionais e informacionais, materializados por amplas tubulações e articulações metálicas que serpenteavam como passarelas por todos os setores. Um espaço urbano planejado como um só edifício, constituído por elementos arquitetônicos móveis e inter-cambiáveis que se conectavam em elementos estruturais fixos do tipo espacial.


REFERÊNCIAS

COOK, Peter e outros. Archigram. London: Studio Vista Publishers, 1972.

Cabral, C. P. C.. Grupo Archigram, 1961-1974.Uma Fábula da técnica . Tese de Doutorado Universidade Politécnica de Catalunha. Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona, ETSAB. Departamento de Composição Arquitetônica. Disponível em: <http://www.tdx.cesca.es/TESIS_UPC/AVAILABLE/TDX-0219104-183033/> Acesso em 22 de abril de 2005.

GUIHEUX, A. Archigram. Paris: Centre Georges Pompidou, 1994.

Greene, D. Living Pod. in: Architectural Design. London, nov. 1966.

Official Web Site. Archigram. http://www.archigram.net/index.html

 

 

 

LIVING-POD [1961]

ARCHIGRAM | David Greene [Inglaterra]