1. INTRODUÇÃO

O Nomads.usp, Núcleo de Estudos Sobre Habitação e Modos de Vida, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, tem estudado as transformações comportamentais da vida cotidiana e as suas relações com o espaço da habitação contemporânea. A partir destes estudos, entende-se que o espaço da habitação, tal como ela se apresenta hoje, adequa-se mal aos novos modos de vida da sociedade brasileira devendo, portanto, ser repensado. Parte integrante do espaço doméstico e elemento fundamental para a sua reconfiguração, o mobiliário é igualmente objeto de estudos no Nomads.usp. Duas pesquisas do Núcleo realizaram um levantamento iconográfico bastante expressivo de peças de mobiliário visando um mapeamento das produções brasileira e internacional: a pesquisa "Intervenções: Mobiliário e equipamento requalificando e espaço da habitação social", de Marina Barros do Amaral, que concentrou-se na produção internacional entre 1998 e 2000, e a pesquisa "Design Brasil: uma leitura do design de mobiliário e equipamento para habitação na última década o século XX", de Cynthia Nojimoto, que tratou da produção nacional entre 1990 e 2002.

Os levantamentos tiveram como principais critérios de seleção e análise o caráter flexível das peças e a preocupação com a redução dos impactos ambientais, objetivando situar as duas produções frente a questões que estão sendo discutidas na contemporaneidade, verificando se o design de mobiliário está refletindo as mudanças em curso - ou desejáveis - no espaço doméstico.

2. CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO E ANÁLISE DO MOBILIÁRIO

2.1 O caráter flexível da peça de mobiliário

Na sociedade contemporânea, os grupos familiares e seus padrões de comportamento apresentam uma variedade cada vez maior. A inadequação dos espaços de morar em geral em relação à variedade e à quantidade crescentes de atividades desenvolvidas no seu interior têm como agravante a estanqueidade funcional proposta no projeto desses espaços. Para atender a este número crescente de atividades, acreditamos que os interiores domésticos precisam ser reconfiguráveis. Essa possibilidade demanda, sem dúvida, uma necessária multifuncionalidade de seus elementos, o que sugere, em última instância, a possibilidade de se sobrepor funções em um mesmo elemento constituinte do espaço, seja ele componente construtivo, equipamento ou peça de mobiliário. Para além do emprego mais conhecido - ainda que pouco explorado - de divisórias móveis, painéis e armários deslizantes, elementos recombináveis de piso e de vedações, e uma infinidade de outros dispositivos, percebe-se que o mobiliário, sobre o qual repousa boa parcela de responsabilidade pelo funcionamento do espaço doméstico, também deve apresentar características que contribuam para a reorganização contínua desse espaço.

Uma das características que permitem considerar flexível uma peça de mobiliário é a mobilidade, expediente adotado com freqüência por designers brasileiros. Com a diminuição de seu peso e a inserção de rodízios, a peça ganha a possibilidade de ser deslocada facilmente pelo espaço doméstico, recombinando-se com outras peças e equipamentos, ou simplesmente levando sua função a outros pontos da habitação. Essa propriedade tem esbarrado na diminuição sistemática de áreas das habitações brasileiras, sobretudo aquelas situadas em centros urbanos maiores. A manutenção da compartimentação de seus interiores com paredes fixas, a monofuncionalidade e as grandes dimensões das demais peças de mobiliário, e a pouca familiaridade do público brasileiro com processos de reorganização contínua de seu espaço doméstico agravam a pouca eficiência dessas medidas.

As peças de mobiliário também podem apresentar mais de uma função, sendo chamadas de multifuncionais. A caracterização de uma peça multifuncional pode ser entendida de, pelo menos, duas maneiras: uma delas é quando a peça é multifuncional por ter tido diferentes funções definidas em seu projeto, sejam elas sobrepostas ou ocorrendo independentemente uma da outra. Por exemplo, uma mesa que pode também ser usada como cadeira ou como banco: as funções de mesa, cadeira e banco podem ocorrer ao mesmo tempo ou alternadamente. A segunda maneira é quando a peça de mobiliário apresenta multifuncionalidade pela indeterminação de funções, ou seja, propositalmente seu projeto não define uma função, mas serve-se de um design que dá ao usuário condições de conferir-lhe usos diversos.

A flexibilidade do mobiliário pode ainda apoiar-se na potencialização do seu uso. Apesar de monofuncionais em seu projeto, as peças podem permitir usos variados para necessidades familiares determinadas. O uso potencializado da peça pode ser gerado por meio de mecanismos e sistemas que facilitem sua adaptação a situações espacíficas. Por exemplo, a alteração das dimensões de uma mesa em função do número de pessoas presentes à refeição, ou a regulagem de altura de uma cadeira visando suprir atividades diversas, como trabalhar, comer, descansar, entre outras.

O conceito não se restringe, no entanto, a usos e funções do mobiliário acabado, que pode ainda ser considerado flexível examinados seus componentes, durante o seu processo produtivo. Tal flexibilidade está na capacidade de produzir peças de mobiliário com design distinto - e, eventualmente, usos igualmente distintos -, utilizando-se de um número reduzido e recorrente de componentes construtivos. Além de possibilitar a produção em série, essa flexibilidade dos componentes construtivos permite a otimização da produção e redução de gastos, já que um mesmo componente pode ser utilizado na fabricação de diferentes peças de mobiliário.

A modulação dimensional de uma peça de mobiliário pode igualmente facilitar a reconfiguração do espaço. Com a peça de mobiliário em módulos, o usuário pode rearranjá-los de acordo com as suas necessidades, seja alterando as dimensões, seja alterando a forma do conjunto de módulos. Esta é uma prática comum adotada pela indústria moveleira de produção em série, ao procurar atender a um grande número de usuários e suas variadas tipologias habitacionais, ainda que, em geral, se restrinja a estantes, mesas de apoio e assentos sem encosto.

Nos espaços cada vez mais reduzidos da habitação contemporânea, a facilidade de estocar a peça de mobiliário quando não estiver em uso pode auxiliar na reconfiguração dos espaços, potencializando sua flexibilidade. Essa facilidade na estocagem pode ser aumentada com o uso de dispositivos de montagem e desmontagem, assim como de diminuição de dimensões das peças em estoque, e é evidente que estes dispositivos também serão úteis em outras fases do ciclo de vida da peça, notadamente em sua comercialização e transportes.

2.2 O baixo impacto ambiental da peça de mobiliário

Além das alterações da vida cotidiana, a pesquisa considerou a possibilidade de redução dos impactos ambientais como segundo critério de seleção e análise das peças de mobiliário. A preocupação com o meio ambiente, tal como vem sendo discutida desde a década de 1960, ganhou mais expressão a partir dos anos 1980, em função da degradação acelerada dos recursos naturais causada, em grande parte, pela industrialização e seus diversos sub-produtos, amplamente conhecidos. O design de mobiliário tem certamente muito a dizer na busca de soluções para uma produção seriada menos predatória, e seu leque de recomendações não se restringe ao uso de materiais oriundos de fontes renováveis ou recicláveis, mas abrange a redução dos impactos ambientais durante todo o ciclo de vida da peça, que vai desde a extração da matéria-prima da qual o mobiliário é feito, seu processamento e a fase de produção, sua distribuição e comercialização, seu uso e descarte.

A redução de impactos ambientais deve ser buscada desde o início do processo de criação da peça de mobiliário, levando-se em consideração a materialidade, a redução no consumo de energia durante a extração, produção e uso das peças de mobiliário, o destino dos resíduos do processo produtivo da peça e o destino da própria peça, que, depois de descartada, pode se tornar - ou ajudar a compor - uma nova peça de mobiliário, com funções e características novas.

Apesar de seus princípios válidos, em geral, para a totalidade do planeta, os métodos de redução dos impactos ambientais devem ser estudados e escolhidos de acordo com pressupostos e dados locais. Um bom exemplo é, obviamente, a questão sobre o uso de materiais provenientes de fontes renováveis e daqueles originários de fontes não renováveis. Muitos defendem o uso dos primeiros, como a madeira, para a produção de mobiliário, argumentando corretamente que a floresta está em constante crescimento, podendo ser objeto de manejo e planejamento eficiente. No contexto brasileiro, onde o volume potencial de madeira disponível é enorme, tal afirmação é coerente. Ao se considerar, no entanto, a produção moveleira em certos países europeus ou asiáticos, pobres em florestas e grandes importadores de madeira, talvez seja preciso aventar a hipótese de se priorizarem materiais de fonte não renovável, como metais e plásticos, visando a redução dos impactos ambientais, já que o consumo de energia durante o transporte poderia ser menor, além da possibilidade de estas peças terem durabilidade maior. Vale notar, contudo, que, em muitos desses países, uma parcela crescente dos materiais de fonte não renovável tem sido sistematicamente reciclada e reutilizada no processo produtivo de novas peças.

Nos itens descritos a seguir, estão resumidos algumas medidas que poderiam ser úteis para a redução dos impactos ambientais.

2.2.1 Uso de madeira certificada e madeira reflorestada

A madeira certificada, que vem sendo utilizada por muitos designers de mobiliário para a produção de suas peças, possui o chamado "selo verde" do FSC ou do IBAMA. Este selo não certifica somente a espécie da madeira, mas também a floresta de onde é extraída, a madeireira, a transportadora e o depósito onde ela será estocada. Todas estas certificações buscam garantir ao usuário final que a madeira adquirida provém de uma extração sustentável.

Também muito utilizada na fabricação de mobiliário, a madeira reflorestada é encontrada mais freqüentemente do que as peças feitas em madeira certificada. As espécies mais comuns são pinus, eucalipto e teca, esta considerada mais nobre que as outra duas, utilizando-se o jargão mercadológico. A madeira reflorestada geralmente é usada nas peças de mobiliário na forma de compensados, aglomerados e MDFs, pois os processos produtivos destes compostos os torna mais resistentes do que se fossem utilizados na forma maciça.

2.2.2 Componentes descontextualizados e componentes descartados

Os componentes descontextualizados são aqueles produzidos para uma finalidade que não é o mobiliário. O design de Humberto e Fernando Campana exemplifica bem a utilização de materiais fora de seu contexto. Eles se utilizam de mangueiras, por exemplo, para a fabricação de uma cadeira. Os componentes usados fora de seu contexto não são necessariamente componentes descartados.

Com a discussão dos últimos anos de se reaproveitar os materiais, muitas das peças de mobiliário podem ser feitas com componentes que foram descartados, seja durante o processo produtivo, como restos de materiais, seja após o seu ciclo de vida, quando o componente não tem mais uso. Estes componentes podem ser retirados de lixo residencial, lixo industrial, entre outros sistemas de descarte. O reaproveitamento daquilo que já foi usado é uma alternativa para a redução da quantidade de lixo descartado e que não pode ser reciclado ou cuja reciclagem é um processo muito poluente.

2.2.3 Recursos renováveis e não renováveis

A grosso modo, recursos renováveis são aqueles cuja matéria-prima está em constante reposição na natureza, como a madeira, quando provém de florestas plantadas ou objeto de manejo sustentado. O recursos não renováveis são aqueles cuja reposição na natureza ocorre muito dificilmente, como os metais e o petróleo. É evidentemente preferencial o uso de matéria-prima de recursos renováveis, por ser uma fonte inesgotável de material, desde que extraída da natureza de modo sustentável.

2.2.4 Material reciclado e material reciclável

Entende-se por reciclado um material que passou por processos de reciclagem, diferentemente das peças que utilizam componentes e materiais descartados onde não há o processo de reciclagem envolvido na produção da peça. para se evitar o desperdício de material. Para peças de mobiliário, diversos são os materiais recicláveis passíveis de ser usados, como o papelão, o vidro, o alumínio - cujo processo de reciclagem aproveita quase 100% do material e gasta muito menos energia do que se ele fosse produzido a partir da bauxita -, as resinas obtidas a partir da reciclagem de embalagens PET, ou politereftalato de etileno.

Pode-se pensar no design de mobiliário com o enfoque para o seu descarte, usando materiais com potenciais de serem reciclados, como os metais, o papel, o vidro e alguns polímeros. Porém, a reciclagem de alguns materiais depende do processo de produção pelo qual este material passou, e qual o tratamento de acabamento lhe foi dado (tipos de polimento, vernizes, pinturas, entre outros), pois estes processos podem prejudicar ou até impossibilitar a reciclagem.

2.2.5 Economia no consumo de material

O consumo de material pode ser reduzido para se amenizar os impactos ambientais, já que menos matéria-prima será extraída para a produção de material. O consumo de material pode ser reduzido nas peças de mobiliário através de um menor número de componentes e quantidade de material, com a utilização de materiais descartados, como se viu acima, e a utilização de materiais reciclados. Dessa maneira, evita-se a extração de recursos naturais para a produção de mais materiais. A alta tecnologia está aliada à redução do consumo de materiais, pois com o avanço de técnicas de produção de materiais, conseguem-se materiais mais resistentes com menos matéria, e, portanto, menos gastos de recursos naturais.

2.2.6 Economia de energia durante o processo produtivo

A economia de energia durante o processo produtivo é um fator importante para a redução dos impactos ambientais e muitas vezes não é levada em consideração. Este é um fator importante, principalmente para aqueles países que utilizam como fonte de energia recursos não renováveis como o petróleo.

Algumas medidas podem contribuir para a redução no consumo de energia durante o processo produtivo. Peças de mobiliário que utilizam componentes descartados, por exemplo, apresentam economia de energia durante o processo produtivo por não necessitar de fabricação de novos componentes, ou seja, todo o processo de produção de um material e de um componente é feito somente uma vez. A utilização de materiais descontextualizados e alguns reciclados, como o alumínio reciclado, também pode significar redução de energia durante o processo produtivo.

2.2.7 Transporte

Assim como no item anterior, para avaliar a peça de mobiliário de acordo com a quantidade de energia gasta com o transporte, deve ser considerado o transporte da matéria-prima, o transporte dos componentes e o transporte da revendedora até o usuário. A otimização de montagem e desmontagem, assim como a otimização na estocagem, permite o transporte de um maior número de peças de mobiliário e, neste sentido, pode haver uma economia de energia de transporte, transportando-se mais com menor gasto de energia. Além disso, o transporte de mercadorias, que, no Brasil, é feito principalmente por caminhões, acaba tendo outros efeitos indesejáveis, como a emissão de gazes nocivos durante todo o percurso, e o incentivo à pavimentação contínua de estradas, utilizando-se asfalto.

2.2.8 Flexibilidade

O caráter flexível de uma peça de mobiliário é, igualmente, desejável do ponto de vista ambiental. Isso porque, em princípio, quanto mais usos uma peça proporcione, mais longa será sua vida útil, e menor, portanto, será a possibilidade de ela cair em desuso e vir a ser descartada. Além disso, frente às mudanças tão rápidas dos comportamentos e, portanto, das atividades realizadas nos interiores domésticos, tudo indica que projetar peças sem função definida mas que atendam requisitos claros pode ampliar significativamente seu período de uso.


3. A PRODUÇÃO NACIONAL FRENTE AOS LANÇAMENTOS INTERNACIONAIS

Analisadas e comparadas as produções nacional e internacional, percebeu-se que, com relação a requisitos expressos pelos novos modos de vida da população, as peças de mobiliário produzidas no exterior apresentam respostas mais adequadas. Essa melhor adequação parece dar-se, principalmente, pelo fato de o atendimento às várias tendências comportamentais e formatos familiares ser, para esses designers, um dado central de projeto, diferentemente da maioria dos designers brasileiros estudados. O desenho de boa parte das peças da compilação internacional preocupa-se em reforçar ou auxiliar o caráter flexível e multifuncional da habitação. Nesse sentido, não raramente essas peças são mais leves, facilitando seu deslocamento pelo usuário, possuem mais de uma função, sejam elas alternadas ou concomitantes, e podem ser compactadas com facilidade, entre outras características que ajudam a reconfigurar rapidamente o espaço que ocupam e buscam qualificar.

Quando analisada a produção brasileira, percebe-se que as preocupações com a flexibilidade e multifuncionalidade das peças ainda não se encontra consolidada, e, muitas vezes, nem mesmo formulada. Em sua maioria, as peças produzidas no Brasil são funcionalmente estanques e seu design costuma privilegiar o redesenho do mobiliário convencional. Por exemplo, redesenha-se uma cadeira, ao invés de se conceber uma peça que permitiria sentar-se, mas também eventualmente deitar-se, trabalhar, estocar objetos, iluminar, etc. Quando existe a preocupação em se dotar de flexibilidade peças de mobiliário, o expediente mais comum é a colocação de rodízios, nem sempre aliado à diminuição do peso geral da peça ou da previsão de outros dispositivos que facilitem o deslocamento, como alças ou relevos.

Quanto às preocupações ambientais, observou-se nas peças brasileiras o uso extensivo de madeira em detrimento de outros materiais, o que certamente se justifica pela grande diversidade e quantidade de espécies de madeira que o país produz. No entanto, a quantidade de peças utilizando madeira certificada, de reflorestamento ou proveniente de manejo sustentável ainda é muito pequena, apesar de toda a divulgação que vem sendo feita nos últimos anos para o uso da madeira de modo consciente.

Aliás, é bom lembrar que a intensa divulgação da madeira com certificado pode produzir uma idéia errônea do que seria um design correto do ponto de vista ambiental. Muitos designers empregam a madeira certificada ou de manejo sustentável em suas peças de mobiliário, buscando oferecer a imagem de um mobiliário totalmente correto no que diz respeito à questão ambiental, para atender ao mercado, que, nos últimos anos, vem usando como apelo de vendas o aposto de "ambientalmente correto". Todavia, em muitas peças, a madeira encontra-se associada a materiais absolutamente "incorretos", do ponto de vista ambiental, como, por exemplo, o aço cromado, cujo processo produtivo é tóxico e prejudicial ao ambiente.

A produção brasileira ainda padece de algumas deficiências quanto ao ciclo de vida das peças de mobiliário. O processo de concepção de muitas das peças não abrange desde a extração do material, à produção das peças, seu uso e descarte. Em boa parte do seu ciclo de vida ainda se desperdiça muito material e energia, principalmente durante as fases de produção e descarte. Algumas iniciativas para se amenizar os impactos ambientais, principalmente quanto ao descarte de material, já têm sido vistas no cenário do nacional, como o uso de componentes descartados e que foram descontextualizados para o mobiliário. Os exemplos desta descontextualização são bem variados, como a utilização de pneus velhos, garrafas PET, latas de tinta, entre outros.

Na seleção internacional, observam-se peças produzidas com alta tecnologia, o que costuma significar materiais mais resistentes e com menos matéria-prima em sua composição. Tem-se aí uma redução na quantidade de material, o que se torna um fator positivo quando se fala em redução de impactos ambientais. Além disso, as peças de mobiliário, utilizando menos materiais, tendem a ser mais leves e fáceis de serem transportadas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Comparada à produção internacional de mobiliário, a produção brasileira ainda se encontra em desvantagem quanto aos processos produtivos e à facilidade de obtenção de materiais adequados. Nos países europeus, devido às técnicas avançadas, o mobiliário apresenta uma grande variedade de materiais e uma preocupação sistemática de otimização da produção, seja através da economia de material, de energia ou de tempo. A produção nacional ainda parece ser bastante artesanal, devido à falta de técnicas avançadas de produção e à falta de um leque maior de materiais, o que obrigaria boa parte dos designers a optar pela madeira para a produção de suas peças.

Freqüentemente, a questão da sustentabilidade ambiental ainda se restringe ao uso de determinados materiais, quando falamos da produção brasileira. O uso de materiais ditos "naturais" nas peças de mobiliário, mesmo que associados a sintéticos ou a metais não reciclados, por exemplo, ainda é visto por muitos como uma escolha que está de acordo com as preocupações ecológicas, sem que o metal ou o material sintético seja avaliado segundo critérios ambientalistas. Na verdade, o que ocorre é uma distorção do que se entende por reduzir os impactos ambientais, tendendo-se a empregar materiais como a madeira, a palha e outros classificados habitualmente no universo da rusticidade. Na produção internacional analisada, muitas das peças são produzidas com polímeros e materiais sintéticos que, no entanto, podem estar causando muito menos impactos ambientais, pois todo o processo de produção está sendo avaliado.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, L. L. (2002). Materiais. Trabalho Programado apresentado à Comissão de Pós-Graduação do SAP-EESC-USP. São Carlos: Nomads.usp.

MANZINI, E; VEZZOLI, C. Lo sviluppo di prodotti sostenibili. I requisiti ambientali dei prodotti industriali. Rimini: Manggioli Editore.

NOJIMOTO, C. (2002). Design Brasil:uma leitura do design de mobiliário e equipamento para habitação na última década do século XX. Relatório Final Fapesp de Iniciação Científica. São Carlos: Nomads.usp.

TRAMONTANO, M. (1995). O Espaço da Habitação Social no Brasil: possíveis critérios de um necessário redesenho. Texto apresentado ao VII Seminário de Arquitetura Latino-Americana. São Carlos/ São Paulo: EESC-USP/ FAU-USP.

TRAMONTANO, M. (1998). Novos Modos de Vida, Novos Espaços de Morar: Paris, São Paulo, Tokyo. Tese de doutorado. São Paulo: FAU_USP.

VEZZOLI, C. (2000). Design for sustainability: design guidelines. São Paulo: Universidade de São Paulo.

DESIGN_BRASIL FIM-DE-SÉCULO
comparação entre compilações nacional e internacional

 

Como citar esse texto: Tramontano, M., Nojimoto, C. Design_Brasil fim de século: comparação entre compilações nacional e internacional. São Carlos: Nomads.usp, 2003. Internet: www.nomads.usp.br/site/livraria/livraria_artigos_online05.htm.

 

 

 

 

 

 

 

Todas as imagens extraídas do site TURNON Experimental housing vision prototype - Vitra Design Museum.

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