IMAGENS DE CERTA MODERNIDADE: A CASA KLABIN EM CAMPOS DE JORDÃO, UMA INSTÂNCIA DE EXPERIMENTAÇÕES ARQUITETÔNICAS

Denise Mônaco, Andressa Martinez

Denise Mônaco dos Santos é Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Professora Adjunta no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa e coordenadora do grupo de pesquisa Nó Lab. Estuda modalidades habitacionais metropolitanas, cidades e cultura digital, modelagem digital e políticas culturais com meios digitais.

Andressa Carmo Pena Martinez é Doutora em Urbanismo e Professora Adjunta no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa e coordenadora do grupo de pesquisa Nó Lab. Estuda projeto de arquitetura e urbanismo e processos digitais de projeto.


Como citar esse texto: SANTOS, D.M.; MARTINEZ, A.C.P. Imagens de certa modernidade: a Casa Klabin em Campos de Jordão, uma instância de experimentações arquitetônicas. V!RUS, São Carlos, n. 12, 2016. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus12/?sec=4&item=12&lang=pt>. Acesso em: 19 Abr. 2024.


Resumo:

O artigo busca fazer uma primeira leitura de uma casa de campo construída por Emmanuel Klabin em Campos do Jordão, SP, Brasil, no início dos anos 1950. Trata de apresentar obra e autor, tentando contextualizar as possíveis teias de filiações e referências que envolvem ambos. Busca entender quais ideias e conceitos teriam possivelmente influenciado o projeto e a construção, que, ao mesmo tempo em que é figurativamente associada a um submarino, sugere certo apego a procedimentos e princípios racionalistas. Se, por um lado, o caráter plástico formal da casa chama atenção, seu autor também se destaca. Irmão de Mina Kablin e cunhado de Gregori Warchavchik, esteve em contato direto com um contexto de efervescência cultural, especialmente ligado a arquitetura modernista no Brasil de meados dos anos 1920 e 1930, além de ser um empreendedor do setor imobiliário que se mantinha próximo ao canteiro de obras. Parte de uma pesquisa em andamento, o artigo apoia-se em informações baseadas em registros documentais, levantamentos in loco e entrevistas. Pretende dar visibilidade à possível atitude de “ruptura com procedimentos e modelos estéticos convencionais” que a casa apresenta, alinhando-se, nesse sentido, com a temática Modernos Radicais da V!12.

Palavras-chave:: habitação, modernismo, família Klabin.


ESTRANHEZA REFERENCIADA

Esse artigo é o primeiro registro de uma investigação em curso, derivada de uma situação inusitada: um convite despretensiosamente aceito para “dar uma olhada em uma casa estranha” em Campos do Jordão, da “década de 1940”, que foi de algum “Klabin”.

A primeira impressão foi de uma “estranheza” demasiadamente referenciada. Aberturas na forma de escotilhas, a chaminé enorme da lareira, que desponta como um grande volume em relação à casa, dispositivos que lembram periscópios de submarinos, grandes aberturas. Elementos que se associam à uma grande cobertura plana inclinada ligada a superfícies curvas, definidoras da volumetria. Uma casa que se distancia, e muito, das construções do lugar, conhecido por apresentar um conjunto arquitetônico eclético, de variada mistura de padrões, principalmente centrados no tratamento de fachadas e de telhados bastante inclinados, que aludem à arquitetura vernacular de países de clima frio. Ao mesmo tempo que chamava atenção o caráter plástico formal da casa frente ao contexto local, ao “gosto” dominante que transpira o lugar, também parecia se destacar frente ao contexto temporal, se considera-se o que era a arquitetura corrente no Brasil nas décadas de 1940 e 1950. E mais, parecia impossível não associar o sobrenome Klabin ao de Gregori Warchavchik, e consequentemente, aos primeiros anos do modernismo no Brasil.

Buscar mais informações a respeito da casa, seu projeto e construção, quem seria o autor do projeto e o proprietário, foi o passo seguinte para tentar entender quais ideias, conceitos, obras e arquitetos teriam possivelmente influenciado o projeto e construção daquela casa isolada no alto da Serra da Mantiqueira, que insistentemente remetia a imagens de um submarino e que possuía elementos que literalmente pareciam saídos de um navio (Figura 1). Foi impossível não pensar que a historiografia da arquitetura moderna destaca o transatlântico como um dos grandes objetos referência evocados por Le Corbusier para tratar o espaço mínimo, a autossuficiência, e a esfera coletiva dos programas habitacionais. Aquela que foi uma poderosa imagem para o consensualmente maior arquiteto moderno, estava figurativamente materializada na casa esquecida de Campos do Jordão.

Fig. 1: Casa Klabin, Campos do Jordão, vista da elevação sul, 1987.
Fonte: Acervo particular do atual proprietário da casa.

Este artigo busca fazer uma primeira leitura dessa casa, construída entre o final da década de 1940 e meados da década de 1950, como casa de campo, por Emmanuel Klabin, seu primeiro proprietário. Trata, especificamente, de uma obra e um autor ausentes, até então, em estudos acadêmicos. E também de um contexto de investigação onde os registros documentais não estão disponíveis a partir de acervos formalmente institucionalizados. Nesse sentido, as informações aqui apresentadas derivam de uma série de procedimentos iniciais de coleta de dados e pesquisa, que incluem, além dos registros fotográficos, levantamentos in loco, com medições externas e internas da casa, que balizaram a construção de modelos 3D, os desenhos em planta e das elevações. Uma pesquisa bibliográfica levantou dados a partir de trabalhos acadêmicos, principalmente dissertações, onde o autor é citado, ainda que em função de atividades que não necessariamente relacionadas às questões aqui tratadas. Levantamentos documentais atestam alguns dados biográficos. Algumas entrevistas também foram realizadas, no sentido de, por um lado, colher dados até então desconhecidos e, por outro, checar e confirmar informações que, à princípio, pareciam conflitantes1.

Fig. 2: Casa Klabin, vistas das elevações oeste (primeiro plano) e norte, 2016.
Fonte: Heloísa Mônaco dos Santos, 2016.

Este artigo é, como se disse, parte de uma pesquisa em andamento. Não pretende revisitar a historiografia; muito menos, lançar a obra/casa analisada, ou mesmo seu autor, no contexto do modernismo em arquitetura no Brasil. Pretende, sim, dar visibilidade à possível atitude de “ruptura com procedimentos e modelos estéticos convencionais” que a casa apresenta, alinhando-se, nesse sentido, com a temática Modernos Radicais da V!12. Pretende contextualizar essa possível atitude de ruptura, suas possíveis teias de filiações e referências, centrado, entretanto, numa exploração do objeto arquitetônico (Figura 2).

O “ERMITÃO INVENTIVO”2 , EMPREENDEDOR DO SETOR IMOBILIÁRIO

O autor do projeto e primeiro proprietário da casa localizada no Parque do Ferradura, em Campos do Jordão, foi Emmanuel Klabin3. Nascido em 1902 e falecido em 1985, foi o filho mais novo do industrial, imigrante lituano de origem judaica, Maurício Freeman Klabin e de Berta Osband Klabin. Era irmão de Jenny Klabin, casada com o pintor Lasar Segall, de Mina Klabin, casada com o arquiteto Gregori Ilitch Warchavchik e de Luísa Klabin, casada com médico Ludwig Lorch (VALADARES, 2011).

Ainda que se esteja trabalhando com um reduzido material documental de cunho biográfico, até então, sabe-se que Emmanuel Klabin teria estudado engenharia elétrica, primeiro na Escola Polytechnica de São Paulo (instalada em 1894)4, depois em Edimburgo, na Escócia5. Entretanto, é incerto se chegou a concluir esta formação superior. A trajetória de atuação de Emmanuel Klabin, vista a partir dos dados coletados até então, informam menos especificamente sobre sua obra em Campos do Jordão, e mais sobre as atividades relacionadas a investimentos imobiliários ligados aos recursos e bens recebidos em herança. Com o falecimento do pai, em 1923, Emmanuel Klabin, ainda muito jovem, passa a assumir parte da administração dos bens da família, que incluíam vastas porções de terras em vários bairros da cidade de São Paulo, e ainda, alguns dos recursos provenientes de indenização recebida com a saída da família da empresa Klabin Irmãos & Cia. (KIC), fundada pelo pai em 1899.

E. Klabin fundaria com tais recursos a Cerâmica Emefka em 1924, segundo Salla (2014). No mesmo trabalho, que estuda a indústria cerâmica paulistana no período da Primeira República, a autora destaca que, em 1935, a produção da Emefka estava voltada para “tijolos laminados e tubulares” (SALLA, 2014, p.176). Lara (2012) também relata esta atuação de E. Klabin:

Um dos familiares decidiu manter investimentos no setor industrial numa cerâmica situada ali mesmo, dentro da gleba de seu pai: “Em 1929, o filho [Emmanuel Klabin] cria a Cerâmica MKF, que seria a primeira olaria de forno contínuo em São Paulo, entre as atuais ruas Ricardo Jafet e Arcipreste Ezequias”. (METRÔ)6 A cerâmica MKF seria um investimento industrial com vistas a alta produtividade, com investimento pesado em maquinário, evidenciado pelo citado “forno contínuo”. (LARA, 2012, p.188)

Entretanto, esse autor destaca que “possivelmente o principal ramo de negócios das herdeiras e herdeiro de Klabin [Maurício Freeman Klabin] seria o imobiliário” (LARA, 2012, p.188). Outros trabalhos apontam também para a atuação desse segmento da família Klabin após a morte do patriarca, os apresentando como empreendedores do grande patrimônio imobiliário da família, que incluía a construção de casas e edifícios, principalmente para locação. É importante destacar que a produção da cerâmica Emefka supria a demanda de tijolos das construções patrocinadas pela família, reforçando esse interesse e foco no ramo imobiliário.

O registro da atuação de E. Klabin relacionada à construção aparece, quase exclusivamente, na dissertação de Denise Invamoto (2012), e de forma bastante pontual. A temática principal da pesquisa dessa autora é a preservação de bens culturais, e está centrada na reconstituição das trajetórias de processos de tombamentos de obras de um dos cunhados ilustres de E. Klabin, o arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972). Essa autora apresenta instantâneos da atuação de E. Klabin na gestão dos investimentos imobiliários da família, e consequentemente, em relação à atuação de G. Warchavchik, em diversos momentos do trabalho. Sobre os negócios familiares envolvendo filhos e genros de Maurício Klabin após seu falecimento, a autora destaca:

Seus herdeiros deram prosseguimento aos investimentos fundiários e imobiliários – aquisição de terras, parcelamento, urbanização, construção, etc., para venda e aluguel. Nesse sentido, Warchavchik tornar-se-ia peça fundamental para a gestão dos negócios familiares, com a elaboração de estudos de viabilidade, projetos e gerenciamento de obras. O arquiteto participava dos desenhos dos arruamentos, implantação dos loteamentos, cálculos de drenagem e divisão das áreas para destinação a cada um dos herdeiros, que eram partilhadas através de sorteio, com registro em ata. Quando a divisão não era exata, os terrenos excedentes passavam a ser de propriedade de todos os herdeiros (INVAMOTO, 2012, p. 223-224).

A autora relata ainda, em nota de rodapé, que “A título de curiosidade há inclusive uma carta que documenta a queixa de Emmanuel Klabin de que sempre ficava com os piores terrenos, de maior declividade só porque era engenheiro” (INVAMOTO, 2012, p. 224).

Gregori Warchavchik esteve à frente do projeto de alguns empreendimentos imobiliários da família Klabin destinados ao aluguel que atendiam aos quatro herdeiros. Parece que se tratavam de projetos em que os investimentos se faziam mais rentáveis se realizados conjuntamente, como no caso do conhecido conjunto de casas geminadas Vila Bertha, na Vila Mariana. Entretanto, parece importante o registro de Invamoto quanto aos projetos que Warchavchik desenvolvia para sua esposa e as irmãs, como, por exemplo, de casas para o loteamento Vila Afonso Celso, que não contemplava projetos para Emmanuel Klabin “[...] pois ao que consta, construía por conta própria” (INVAMOTO, 2012, p. 226). Além de Invamoto, algumas entrevistas realizadas até então, apontam também para o fato de E. Klabin ter atuado na atividade de construtor de casas para aluguel de forma independente da família. E de gerenciar, ao que consta, com a ajuda de um funcionário, uma equipe de pedreiros que construía, a partir de suas ideias, tais casas.

Nesse sentido, procura-se destacar aqui, que o idealizador da casa Klabin em questão, era familiarizado com o universo da construção civil, e esteve às voltas com esse universo desde meados dos anos 1920, em função dos investimentos financeiros familiares e pessoais na área. E. Klabin parece ter sido um investidor privado cuja atuação se enquadra na chamada produção rentista da habitação, fenômeno que configurou o contexto paulistano da produção habitacional desde as últimas décadas do século XIX até os anos 1930, estudado por Nabil Bonduki em 1998.

Nesse sentido econômico, as soluções habitacionais de aluguel produzidas em série para os operários e a classe média - cortiços, vilas, conjunto de casas geminadas, minipalacetes de edificação seriada etc. - tinham o mesmo significado e representavam agenciamentos específicos do mesmo movimento financeiro, ou seja, capitais buscando aplicação rentável através da exploração de locação habitacional. (BONDUKI, 2011, p. 45).

No atual momento da pesquisa, ainda não foram coletadas informações sobre os diferentes projetos e construções que E. Klabin conduziu, principalmente na Vila Afonso Celso, e tão pouco se conhece os procedimentos adotados para a legalização dos empreendimentos que patrocinava junto aos órgãos públicos. No entanto, as entrevistas apontam números significativos que atestam seu envolvimento com o universo da construção e do mercado imobiliário: “construiu mais de 200 casas" de aluguel (DOMINGUES, 2016), deixou como herança "cerca de 400 imóveis" (WARCHAVCHIK,2016). Apesar de ainda não ser possível precisar exatamente o período inicial e final dessa produção, parece pertinente considerar que, muito provavelmente, faz parte de um contexto em que o mercado de locação está centrado numa “gama de soluções habitacionais de distintas dimensões, qualidade e padrões”, que por um lado, buscava atender as demandas de segmentos variados, e que, por outro lado, refletia “a estratificação social então prevalecente”. (BONDUKI, 2011, p.46).

É certo que E. Klabin não se casou formalmente, não teve filhos, embora tenha vivido por décadas na companhia de Anna Theresia Hamburguer. Não fez testamento, não nomeou herdeiros, deixando seu grande patrimônio sujeito às deliberações das instâncias judiciais e a acordos tutelados pelas mesmas. Os relatos até então coletados apontam para um conjunto de conflitos em relação à herança de E. Klabin envolvendo sua companheira, que faleceu dois anos depois dele, seus sobrinhos, e alguns poucos funcionários mais próximos a ambos. Sabe-se também que residiu em uma casa na mesma Vila Mariana da infância e juventude, bairro até então suburbano, pouco ocupado, onde ficava a mansão dos pais na Rua Afonso Celso, momento de vida em que esteve próximo desses e das irmãs, exceto nos períodos em que juntos, ou separados, estavam em viagem à Europa, seja a negócios, a estudo, a passeio ou em função de tratamento médico, como era comum à elite paulistana abastada. A vizinhança entre sua casa da vida adulta e as casas das irmãs, já casadas, Jenny Klabin Segall e Mina Kablin Warchavchik, que diz respeito apenas poucos quarteirões, parece pressupor proximidade, convívio e harmonia familiar que, por ora, alguns relatos insistem em contradizer.

Parece que E. Klabin era avesso às relações familiares, cultivava poucas amizades, mantinha-se, de certa forma, isolado, o que levou alguns entrevistados a descrevê-lo como ermitão. Ainda que seja demasiado arriscado incorrer em imprecisões, é marcante as descrições quanto ao distanciamento que estabelecia, deliberadamente, da sua família, mesmo tendo tantos negócios em comum. Não se sabe se será possível recuperar as circunstâncias em que esse distanciamento foi estabelecido, e de que forma, mas ele justamente contradiz uma das proposições primeiras que se elaborou quando se visitou pela primeira vez a casa Klabin em Campos do Jordão: a de que ela teria sido concebida sobre a influências de princípios modernistas em função da relação entre a família Klabin e o arquiteto G. Warchavchik. Lira (2007, pg. 145), um dos principais estudiosos sobre este arquiteto, apresenta-o como “elo fundamental entre arquitetura e modernismo no Brasil”, elo corroborado pela historiografia em maior ou menor grau, com matizes diferentes, como se sabe.

Entretanto relatos parecem delinear uma personalidade ímpar, não só avessa às formalidades, mas provocadora em certos momentos e que fazia questão de manter distância dos círculos em que atuavam suas irmãs e seus já notórios cunhados, G. Warchavchik e L. Segall. No trabalho de Forte (2008) o nome de E. Klabin figura como um dos membros da SPAM Sociedade Pró-Arte Moderna, uma agremiação idealizada e dirigida por L. Segall entre os primeiros anos da década de 1930, formada por artistas e intelectuais de elite, “num processo de continuidade aos procedimentos da Semana de 1922” (FORTE, 2008, p.10). Ainda que elencado como membro desse grupo na categoria “Amigos das Artes”, fica a dúvida se ele realmente participou das atividades do grupo. Ou se tratou de mais uma prerrogativa das atividades “obrigatórias” relacionadas à atuação da família, seja em âmbito social, jurídico-legal, ou ainda, no plano dos negócios, em que seu nome aparecia sem que ele, necessariamente, estivesse, de fato, envolvido com as ações em questão. Exemplo disso pode ser ilustrado pelas atuações como representante legal dos herdeiros de Maurício Klabin nos processos protocolados junto à prefeitura para a obtenção de Alvará de Construção, apresentados por Invamoto (2012). Em 1927, ele assinou os pedidos iniciais de dois projetos de G. Warchavchik, a serem construídos em terrenos dos Klabin: o da famosa casa da Rua Santa Cruz7, na mesma Vila Mariana, e do conjunto de casas Barão de Jaguara, na Moóca. Se esses relatos atestam a proximidade entre E. Klabin com os membros da família que eram protagonistas e ativistas em um “momento construtivo mais amplo na história cultural no modernismo brasileiro” (LIRA, 2007, pg. 145), ao mesmo tempo, não atestam sobre o caráter dessa proximidade.

O que parece importante destacar aqui é que, ainda que avesso a sociabilidades, e aparentemente se mostrando alheio e pouco engajado com as “questões modernas”, especialmente voltadas a arte, arquitetura e construção, E. Klabin esteve em contato direto com contexto de efervescência cultural que estava à sua volta, seja no círculo familiar, seja no circuito da elite local à qual pertencia8. Parece inegável que tenha tido, especialmente quando jovem adulto, no Brasil e exterior, contato com intelectuais e artistas, pessoas que “emprestaram seus espíritos irrequietos à busca de superação de paradigmas, atentos ao que se passava em áreas, países e culturas distintos dos seus, dispostos a colocar seu trabalho em prol da redefinição de linguagens e de referenciais” (V!RUS 12). Entretanto, ao que tudo indica, esse contato parece ter reverberado apenas em numa instância de prática privada, e para ser apropriada de forma esporádica, como nas casas de campo9. Sua “produção rentista”, urbana, anônima até então, passou despercebida ao lado do conjunto dos empreendimentos habitacionais patrocinados pela iniciativa privada. Na obra única, isolada e declaradamente autoral, para deleite doméstico, explorações e inquietações parecem poder florescer, entrar em ação, assim como certo descompromisso com regras e princípios previamente estabelecidos e demarcados. Pode-se ser ambíguo, ousado, pode-se brincar. Sem necessidade de legitimação, sem querer ser exemplar, emblemático. Ou mesmo precisar seguir legislação e códigos de posturas. A casa, que se situa longe da cidade, que está alheia à exposição urbana, está também livre dos juízos de qualquer natureza. Seu autor tem também, como talvez desejado, garantido o anonimato.

O contato com fluxos e redes de atores envolvidos com a modernização nos anos 1920 e 1930, com um circuito cultural atualizado, de renovação em amplo sentido, teria de certa forma condicionado, determinado, modelado o projeto da casa de Campos do Jordão, realizada vinte anos mais tarde? Os estudos em engenharia, as atividades de empreendedor realizadas tão proximamente aos canteiros de obras, teriam influenciado as “engenhosidades” curiosas, com caráter de maquinaria, da casa de Campos de Jordão, apresentadas abaixo? Quais ressonâncias da cultura arquitetônica teriam influenciado E. Klabin? Embora ainda seja difícil sugerir qualquer aproximação, a indagação primeira permanece: a casa é demasiado referenciada para ser fruto apenas do possível gênio inventivo do seu autor.

PROJETO E CONSTRUÇÃO SIMULTÂNEOS, ABERTOS A MODIFICAÇÕES

A casa Klabin foi construída, muito provavelmente, entre os anos de 1948 e 195610. Fica em uma área de 121.000 m², aproximadamente à 14km do centro de Campos do Jordão e foi uma das primeiras casas construídas no Parque do Ferradura, um loteamento empreendido pela Companhia Imobiliária e Financeira - C.I.F., de Paulo Plínio da Silva Prado, nos anos 1940, que ainda é pouco ocupado e apresenta características bastante rurais11.

Fig. 3: Vista aérea da casa Klabin e da casa do caseiro (logo acima), provavelmente da década de 1990. Fonte: Acervo particular do atual proprietário da casa.

Gustavo Biagioni, morador de Campos do Jordão, antigo funcionário da C.I.F. na implantação do Parque do Ferradura, foi o construtor responsável pela obra, sob a orientação de E. Klabin. Segundo Benedita Biagioni (2016), o marido foi funcionário assalariado de E. Klabin por anos, contratado para conduzir a construção da casa contando ocasionalmente com uma pequena equipe de outros pedreiros locais. Ainda conforme B. Biagioni (2016), Gustavo Biagioni fazia diariamente o trajeto da cidade à obra a pé, enquanto os materiais de construção, comprados em um grande depósito local, chegavam transportados por carroças puxadas a cavalo. E. Klabin ia a Campos do Jordão quase todo mês, e junto com o construtor decidia a condução da construção, cuja parte de carpintaria e esquadrias de madeira teriam ficado sob a responsabilidade do cunhado de Gustavo Biagioni, João Costa Amâncio12.

A esposa de Gustavo Biagioni relata que, durante os mais de quatro anos em que esteve à frente da obra, o marido fazia pequenos desenhos à lápis em "papel de pão” que depois eram submetidos à aprovação do proprietário. Ao que parece, E. Klabin também fazia esboços da construção. Vários deles foram encontrados em uma agenda promocional na própria casa, por volta de 1987, quando esta é transferida a seu atual proprietário13. Na agenda do ano de 1954 é possível identificar alguns desenhos que parecem ser estudos de alguns elementos da casa elaborados pelo próprio E. Klabin, como se vê adiante, e que foram feitos concomitantemente à construção da casa14.

Importante destacar aqui é que o projeto e a construção da casa parecem terem sido realizados simultaneamente15. De modo bastante informal, sem um desenho técnico que representasse o objeto a ser construído na sua totalidade, ou talvez um croqui que determinasse onde se deveria chegar, de antemão, E. Klabin e G. Biagioni, o proprietário/idealizador e o construtor de fato, iam trabalhando em conjunto, embora, é certo, que o segundo sempre estando sujeito às decisões finais do primeiro, “o único que dizia o que está certo ou não está, e aí se modificava o que queria”, nas palavras de B. Biagioni (2016). Parece que havia, entretanto, uma certa permeabilidade entre as ações daquele que concebe, ainda que aos poucos, o projeto, e daquele que executa a obra. A divisão já plenamente institucionalizada de tarefas, a especialização, aqui parece não ser tão estanque. Havia uma troca, embora, pressupõe-se, bastante hierarquizada.

Há ainda outros relatos que corroboram esse envolvimento direto de E. Klabin com as obras que patrocinava, em especial em São Paulo. Em um deles, diz-se que ele acompanhava muito de perto as construções que realizava, sempre tendo à sua volta uma pequena equipe de pedreiros, eletricistas, e outros profissionais, que eram seus funcionários16. Podemos aqui pensar que se trata de alguém muito envolvido com o fazer construtivo, não só porque ali concentrava-se grande parte do seu investimento financeiro, mas também porque talvez tivesse prazer em por em prática algumas ideias. Entretanto, ideias que não necessariamente fossem formal e previamente sistematizadas, elaboradas e representadas em projetos, mas que talvez fossem insights derivados justamente dessa aproximação mais direta com o fazer.

Aspectos ligados a uma possível simultaneidade entre projeto e construção, como à possível estruturação de um canteiro de obras aberto a sugestões e mudanças, foram aqui destacados não só porque foram indicados na coleta de informações até então realizadas, mas também porque, de certa forma, induziram a leitura da obra apresentada a seguir.

A CASA KLABIN EM CAMPOS DO JORDÃO, OU A CASA “SUBMARINO” ESQUECIDA NA SERRA DA MANTIQUEIRA

É preciso dizer que a leitura, ou análise, a seguir é um instantâneo. Uma primeira aproximação que pode adquirir outras feições a medida em que a pesquisa avançar. Os levantamentos, entrevistas e pesquisas documentais realizadas até então, no entanto, direcionam parte das proposições aqui sugeridas.

Implantada seguindo orientação rigorosa norte-sul para as maiores elevações, no pico mais alto do terreno, a casa se assenta em uma área aplanada, de forma aproximada de uma elipse. É certo que se destaca em relação a paisagem, às outras pequenas construções do entorno, entretanto, a vegetação densa e alta que margeia o terreno junto à estrada a isola, esconde ou ainda, protege (Figura 3).

Como se disse, à primeira vista, em termos formais, a casa apresenta certa figuratividade. Faz alusão ora ao submarino, a partir da elevação sul, ora ao transatlântico, com a sinuosidade dos planos de fechamento da cobertura de acentuada inclinação. Reforça estas referências o volume vertical da chaminé da lareira, que além de concentrar parte da infraestrutura de calefação (lareira, caldeira e aquecedor), também comporta um mirante, cujo acesso se dá através de uma escada-alçapão, engenhosamente construída. A chaminé da lareira é, literalmente, um mirante, como também o é a vela do submarino17. Aberturas na forma de escotilhas, uma sequência de blocos de vidro que repetem ao mesmo ritmo e lembram pequenas aberturas dos submarinos, dutos que se assemelham à diversos periscópios e a relação do elemento vertical da lareira com a curvatura da elevação sul, reforçam a referência à linguagem formal dos submarinos nucleares da década de 1950 (Figuras 4 e 1).

Fig. 4: A figuratividade do submarino e do navio.
Fonte: Casa Klabin, Heloísa Mônaco dos Santos, 2016. Imagens dos submarinos, CHINA'S... (2014) e RÚSSIA... (2013).

O processo de levantamento métrico e de representação da casa sugeriram a formulação de algumas proposições quanto ao processo de projeto e construção (Figura 5). Destaca-se três possíveis etapas construtivas da casa, com diferenciação nas soluções plásticas e funcionais, ainda que não se possa atestar a distância temporal entre elas. Reforçam esta proposição o caráter de simultaneidade de projeto e construção, discutido acima, e também o relato de B. Biagioni (2016) sobre o fato de E. Klabin frequentar quase mensalmente Campos do Jordão para instruir a construção da casa e se hospedar lá mesmo, na casa principal. Além disso, a construção que começara por volta de 1948, com os primeiros movimentos de terra, teria se estendido, pelo menos, pelos anos de 1954, 1955 e 1956, conforme indicam alguns croquis e registros financeiros da obra, dispostos na referida agenda do antigo proprietário, já citada.

Fig. 5: Planta da casa Klabin, a partir de levantamentos in loco.
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2016.

Chama atenção, inicialmente, no que seria a primeira etapa construtiva, o contraste de certa ousadia plástico-formal, presentes, por exemplo, no acentuado balanço da cobertura da elevação norte, com um pequeno núcleo no interior da edificação (Figura 6). Este assemelha-se, em planta, a uma casa compacta, modesta. O pé-direito convencional de 2,96m parece não ter sido pensado para receber a variação acentuada da inclinação da cobertura. O forro inclinado dessa mesma cobertura, no exterior da edificação, apresenta grandes variações nas elevações norte e sul. Fato que aparenta ter sido a solução mais imediata para compor esse fechamento e fazer conexão entre cobertura e paredes, como se esta cobertura tivesse sido concebida em um momento posterior de projeto (Figura 7).

Fig. 6: Núcleo inicial.
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2016.

Fig. 7: Inclinação dos forros nas elevações norte e sul.
Fonte: Heloísa Mônaco dos Santos, 2016.

Esse núcleo privilegia a disposição dos dormitórios e sala para a orientação de maior incidência solar, provavelmente em função das baixas temperaturas registradas no local, que fica próximo ao Pico do Itapeva com seus 2.025m de altitude. Todas as suas aberturas concentram-se nas elevações paralelas norte-sul (exceto a porta do vestíbulo). Ainda que as diferentes dimensões e tratamento entre elas estejam claramente relacionadas às prerrogativas funcionais, parecem também configurar uma diferenciação entre uma fachada frontal, principal, marcada pela exata disposição dos três grandes elementos de abertura, e uma fachada de fundos, à semelhança de uma implantação convencional em lote urbano.

O interior desse mesmo núcleo é marcado pela tripartição da planta em setores social, íntimo e de serviços. A planta retangular parece ser definida por uma rígida modulação quadrada. Percebem-se três quadrados alinhados à elevação norte e três presentes na elevação sul, porém a modulação foi seguida de forma rigorosa na compartimentação dos cômodos e alinhamento das paredes na elevação norte, onde quartos e sala apresentam exatamente as mesmas dimensões. Entretanto, perde-se na divisão interna dos ambientes adjacentes à elevação sul, que abriga as áreas molhadas, vestíbulo e sala de jantar. É notória também certa racionalização na disposição dos alinhamentos entre as portas internas dos dormitórios e banheiros, e da própria área de circulação como um todo18.

As esquadrias também possuem dimensões e design racionalizados. A elevação norte, como se disse, é caracterizada por um conjunto de porta-janelas em madeira, que podem ser abertas totalmente como um único plano, ou através das duplas “folhas” que correm embutidas nesse plano, no sentido vertical, com esquadrias de venezianas e vidro. As venezianas apresentam-se compartimentadas em seis folhas verticais cada, enquanto as esquadrias da elevação sul, em ferro e vidro, também apresentam subdivisões em seis partes, porém horizontais. Enquanto as primeiras foram claramente produzidas exclusivamente para essa obra, a partir de um desenho bastante elaborado, as segundas podem ter sido compradas prontas, dado seu desenho bastante padronizado. O que acentuaria a ideia de uma certa “nobreza” da elevação norte frente à sul.

A segunda etapa construtiva aparenta marcar as primeiras soluções plástico-formais que tanto chamam atenção na residência: a concepção da grande cobertura inclinada, e o tratamento e a valorização formal de todas as elevações, reduzindo a aparente hierarquia frente e fundos da etapa anterior. Não é possível definir se o ambiente da lareira é concebido como volumetria-mirante nesta fase, uma vez que este não aparece no croqui que supostamente mostra um estudo compositivo da elevação oeste (Figura 8, 1 e 2).

Fig. 8: Croquis de E. Klabin a partir de fotos da agenda: (1) supostos estudos de plano inclinado sobre o núcleo inicial da casa; (2) concepção da elevação oeste; (3) a modulação do quadrado presente em diversos estudos; (4) possível continuidade entre cobertura e paredes; (5) casco do navio?
Fonte: Agenda de E. Klabin, fotos de Heloísa Mônaco dos Santos, 2016.

O interior que supostamente está associado à esta etapa construtiva é marcado pela adoção de elementos que conferem certo grau de flexibilização aos espaços, em oposição à rigidez e compartimentação estanque dos cômodos da primeira etapa (Figura 9). A flexibilidade dos espaços internos é conseguida aqui a partir de alguns dispositivos descritos a seguir. [1] A cortina que desliza sobre trilhos presos ao teto que, quando fechada, separa uma sala menor (a única presente na etapa anterior) e a grande sala, onde se encontra o espaço da lareira, um ambiente de 3,97m por 2,75m. [2] As portas articuladas que fazem o fechamento lateral da sala, que seguem o mesmo desenho das portas rotatórias dos quartos, mas também articulam-se lado a lado para promover a abertura total desse plano lateral, que dá para uma varanda, maximizando a perfeita integração entre interior e exterior. Essa solução, disposta na elevação oeste, favorece justamente a vista para a Pedra do Baú19 e o pôr do sol, além de aumentar a incidência solar no interior do edifício. [3] As grandes portas-armários que ocupam dois vãos, do piso ao teto, ao lado da abertura do espaço da lareira, e guarnecem a grande sala com espaços de estocagem, e, ao mesmo tempo, são os acessos para outros ambientes, ou, os 'ocultam'. [4] As portas-armários do hall, que quando deslocadas para as aberturas das portas convencionais do banheiro e do dormitório de visitas, levam espaços de estocagem para dentro dos mesmos. [5] O espaço da lareira, contínuo à sala, que pelas dimensões e equipamentos que abriga - a própria lareira, um aquecedor/fogão à lenha, a escada-alçapão de acesso ao mirante-, permite vários usos: chaminé, que agrega os dutos destes equipamentos, bem como circulação vertical ao mirante. (Figura 10).

Fig. 9: Segunda etapa construtiva. Flexibilidade dos elementos componentes em contraste com a rigidez de modulação e racionalização do núcleo inicial.
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2016.

Fig. 10: Dispositivos de flexibilidade: a chaminé da lareira como mirante; as portas-armários, na sala e no hall, respectivamente.
Fonte: Heloísa Mônaco dos Santos, 2016.

Além dos elementos que qualificam o espaço com possibilidades de diferentes configurações e usos, o quadrado como módulo também é resgatado na planta desta porção da casa, e mantém o mesmo padrão do anterior: o quadrado em planta como compartimento, do lado da elevação norte (a grande sala) e a presença nos ambientes da elevação sul, porém sem definir exatamente a compartimentação de cômodos.

Nesta etapa, percebe-se uma setorização flexível também a partir da disposição de acessos de um conjunto de ambientes que abriga um dormitório, um banheiro e um hall, provavelmente destinado ao uso de eventuais visitas. Deslocado do setor íntimo da casa, possui acesso exterior independente. Esse hall, que também é circulação e é vestíbulo, flexibiliza o uso do banheiro, ora como lavabo, integrando-o à sala, ora como parte de uma grande suíte, que pode ser acessada do exterior ou ainda de dentro da casa, como se disse, mas que também pode ficar oculta pela grande porta-armário. Também a outra grande porta-armário disposta do outro lado da abertura do ambiente-lareira leva a um espaço que é, ao mesmo tempo, passagem de serviços entre exterior e interior, e espaço de estocagem.

Parece pertinente destacar nesse contexto ainda dois dispositivos que faziam parte da configuração original da casa Klabin. Trata-se, primeiro, de um grande anteparo que ficava acoplado, quando fechado, junto à superfície externa do telhado, na elevação norte, exatamente na área onde se situa a abertura horizontal da grande sala. Quando acionado por um sistema mecânico de alavancas e cabos de aço, dispunha um grande plano vertical que funcionava como quebra-ventos, ou ainda, brise. O segundo elemento, situado exatamente na mesma abertura, era uma grade externa, que também acionada por um mecanismo composto por um conjunto de contrapesos, poderia ser suspensa, deixando totalmente livre a visão da paisagem circundante através da grande esquadria de madeira, de aproximadamente 6m, que dispunha seis panos de vidro. Tais dispositivos, operam a partir de uma lógica mecânica, de máquina, e imprimem possibilidades de alterar elementos construtivos da casa, seja para um melhor desempenho em termos de conforto ambiental, ou ainda, simplesmente para remover temporariamente desagradáveis aparatos de segurança.20 Estes dispositivos atestam, por si, o envolvimento criativo e inventivo de E. Klabin aplicado à prática construtiva.

A terceira e última etapa construtiva se caracterizaria pela inserção do volume que abrigaria as funções de garagem e depósitos (Figura 11). Percebe-se certa indefinição dos usos efetivamente pensados para esses ambientes que hoje são depósitos. A inexistência de informações leva a pensar que bem poderiam ter sido concebidos como, por exemplo, um dormitório com banheiro, ou ainda espaços de serviços. Entretanto, o mais importante é destacar aqui que justamente a presença da cobertura da garagem, plana e independente do grande plano inclinado, reforça a proposição de que esta volumetria poderia ter sido pensada posteriormente ao núcleo inicial da casa. Alguns croquis de E. Klabin também indicam possíveis estudos desta elevação e de sua composição com a chaminé-mirante (Figura 12). Não é possível afirmar, contudo, se essa volumetria vertical já estava construída ou se foi pensada concomitantemente ao volume da garagem, ou seja, há incerteza quanto coincidência ou não de elaboração de projeto e construção do que aqui está se chamando de etapa dois e etapa três.

Fig. 11: As três etapas construtivas em planta-baixa.
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2016.

Fig. 12: Croquis de E. Klabin a partir de fotos da agenda: (6) supostos estudos da volumetria da garagem e o elemento vertical da lareira; (7) outros estudos a partir da modulação do quadrado.
Fonte: Agenda de E. Klabin, fotos de Heloísa Mônaco dos Santos, 2016.

Ainda que apenas especulação, a volumetria que corresponderia à terceira etapa, parece “encobrir” parcialmente a elevação de fundos da edificação, do núcleo inicial, criando uma relação formal de continuidade com o volume curvo proposto para compor a elevação oeste e parte da elevação norte, e, em conjunto, reforça nessa mesma elevação a referência formal ao submarino (Figura 13). A elevação norte, que a partir do núcleo inicial configurava-se como menos importante, como visto acima, torna-se então bastante significativa, apta também a ser observada e gerar interesse. Essa elevação está justamente em um campo de visão privilegiado dentro do percurso de acesso à casa a partir do portão considerado como principal, seja para o pedestre ou para o veículo.21 Destaca-se também que, de certa forma, o tratamento dado externamente à superfície curva do suposto depósito, do lado oeste, simulando uma continuidade que não acontece internamente, reforça a ideia que houve a intencionalidade de trabalhar de forma independente alguns elementos de elevação. Nesse caso, esse elemento curvo faz referência à que? À igreja da Pampulha?22 Talvez. A modulação a partir do quadrado é usada nos estudos de E. Klabin para o fechamento dessa parede curva (Figura 12-7), como é também sugerida na pavimentação original que circundava toda a casa.

A modulação desse pavimento, que avança para além dos limites da projeção das coberturas da casa, certamente confere coesão a todo o conjunto, que embora tratado aqui a partir de uma suposta diferenciação marcada por etapas construtivas, parece terem sido sistematicamente elaborados e repensados, justamente, considerando a ideia do todo .

Fig. 13: As quatro elevações da casa.
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2016.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda que o recorte delimitado para este artigo não tenha permitido uma apresentação e uma discussão mais aprofundada do mobiliário encontrado na casa em Campos do Jordão, concebido por E. Klabin, é importante destacar não só a presença de um design bastante elaborado, como de alta qualidade na execução. Chama atenção não só conjuntos e peças sobre rodízios, os objetos articulados, modulados, que expandem e retraem, como o grande cubo-adega ou os pequenos armários-cubo da cozinha, mas principalmente aqueles que estão imbricados às paredes, portas e janelas, alguns deles apresentados aqui. Interessante pensar que a flexibilização que pressupõe, ou mesmo a racionalização do uso dos espaços que possibilitam, estaria fortemente associado a uma ideia de máximo aproveitamento do espaço, o que parece não ser necessário no contexto em questão. Armários embutidos em nichos ou junto às paredes, ou mesmo formando divisória entre ambientes, foram exaustivamente explorados no contexto do modernismo dos anos 1920 e 1930, quando a pauta era a discussão da habitação mínima urbana. Seriam eles aqui, artifícios que dotaria a casa de certo ar de modernidade? Ou seriam também apenas “experimentos” como talvez o fossem os dispositivos como o brise móvel, ou mesmo a parede-abertura articulada?

A parte interior da casa sugere certo rigor, certo apego a procedimentos que remetem a princípios funcionais, racionalistas, de flexibilidade. O exterior, ainda que apresente um jogo volumétrico marcante e conciso, recorre, como procedimento, à disposição de uma diversidade de elementos com um apelo figurativo, prioriza certo tratamento “fachadista”, que lhe imprime uma atmosfera fake, estranha, por vezes provocativa, bem mais próxima de uma outra vanguarda, literalmente, pós-moderna.

O que parece claro, é que, independentemente do processo projetual de E. Klabin ser convencional ou não, de ser referendado por uma formação formalista, sua prática estava imbuída da noção da “construção como todo”, da premissa de que o design integra a obra nas suas diferentes escalas, assim como pensavam alguns notórios que foram seus contemporâneos. Talvez seja exatamente aqui que o modernismo em arquitetura se materialize na casa de Campos do Jordão.

AGRADECIMENTOS

A todos os entrevistados e, em especial, a Alexandre Salas, Heloísa Mônaco dos Santos, José Antônio Domingues e Luiz Carlos Marinho de Andrade.

REFERÊNCIAS

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VALADARES, Paulo. Lafer-Klabin de Poselvja: empreendedores e intelectuais brasileiros. Boletim Histórico do Arquivo Judaico Brasileiro, São Paulo, v.48, p. 36-40, out 2011.

WARCHAVCHIK, Mauris Ilia Klabin. Mauris Ilia Klabin Warchavchik: Entrevista concedida [mai. 2016]. Entrevistador: Denise Mônaco dos Santos. Registro sonoro 00:32:20.

1 As principais entrevistas realizadas até então: [1] Mauris Ilia Klabin Warchavchik, filho de Gregori Warchavchik e Mina Klabin Warchavchik, sobrinho de Emmanuel Klabin; [2] Benedita Costa Biagioni, esposa de Gustavo Biagioni, construtor da casa; [3] Hahahel Salas Peres, segundo e atual proprietário da casa; [4] José Antônio Domingues, advogado inventariante da companheira de Emmanuel Klabin, Anna Theresia Hamburguer. Conversas informais: Sra. Jacira Paschoal, filha dos antigos caseiros da propriedade; Sr. Carlos Wagner, topógrafo que projetou o Parque do Ferradura, onde situa-se a casa; Alexandre Salas, filho do atual proprietário.

2 Em entrevista, Mauris I. K. Warchavchik (2016), quando indagado sobre o projeto da casa Klabin em Campos do Jordão diz, de antemão, “a questão toda é a seguinte, você tem que entender a personalidade do meu tio: um ermitão inventivo [...]”.

3 A autoria do projeto foi atestada principalmente por Mauris I. K. Warchavchik (2016) e Benedita Costa Biagioni (2016).

4 Uma publicação do jornal Correio Paulistano, de 19 de fevereiro de 1920, sobre os resultados dos exames da Escola Polytechnica do ano letivo de 1919, aponta Emmanuel Klabin como um dos aprovados no Exame Vestibular.

5 Como comprova certificado da George Heriot Watt College, de 1922.

6 COMPANHIA DO METROPOLITANO DE SÃO PAULO. Ação cultural do Metrô – Linha 2 – verde. São Paulo, s/d. Disponível em: http://www.chacaraklabin.com.br. Acesso em 11/10/2010.

7 Construída em 1928 para ser residência do próprio arquiteto e de sua esposa, essa casa é, segundo Lira (2007, pg. 164), “considerada a primeira obra brasileira de arquitetura moderna, salão modernista dos mais importantes da cidade”.

8 Interessante notar que, em uma rápida pesquisa nos arquivos do jornal Correio Paulistano, das décadas de 1910 à 1940, (disponíveis na Hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital) encontram-se inúmeras pequenas publicações que citam o nome de E. Klabin. A maioria delas envolvendo campeonatos e jogos de tênis dos clubes paulistanos Club Regatas Tietê, Paulistano e Harmonia, e notas sobre o andamento de processos junto à Prefeitura Municipal e na Secção Judiciaria. Trata-se do mesmo jornal, que em 1928, publicou uma série de escritos de G. Warchavchik, agora reunidos no livro Arquitetura do século XX e outros escritos (MARTINS, 2006), e que também publicou em 5 de janeiro de 1927 uma nota sobre as núpcias do arquiteto e Mina Klabin, de quem E.Klabin foi padrinho, no civil.

9 Durante essa fase de levantamentos de dados, tomou-se conhecimento de uma outra casa de campo projetada e construída por E. Klabin nos arredores de São Paulo, próxima à Rodovia Anchieta, na qual também seria destaque uma torre-mirante, que abrigaria uma caixa-d’água e uma adega. Segundo Mauris I. K. Warchavchik (2016), o tio construiu essa grande torre porque “ele queria ver o mar”. A sua própria casa da Vila Mariana, localizada na esquina das ruas Tirso Martins e Capitão Rosendo, parece que também foi construída seguindo suas orientações, e possuía alguns dispositivos da mesma natureza aos apresentados abaixo, na casa de Campos do Jordão.

10 Segundo Benedita Biagioni (2016), "em 1950 estava levantando as paredes [da casa], tinha ainda muita coisa para fazer”.

11 No lote, além da casa principal, objeto desse estudo, encontra-se a casa do caseiro e pelo menos mais duas construções, uma que abrigava um gerador, e outra, em ruínas, que abrigava uma bomba d’água.

12 Gustavo Biagioni e João Costa Amâncio foram construtores e artesãos autodidatas, e ficaram bastante conhecidos na cidade, posteriormente, pela participação na construção de diferentes obras para a prefeitura. Gustavo Biagioni, inclusive, dá nome a uma rua de Campos do Jordão.

13 Hahahel Salas Peres recebeu a propriedade como pagamento dos honorários pelos serviços prestados como um dos inventariantes do espólio de E. Klabin. Importante dizer que, na casa principal, foram “deixados” pelos herdeiros todo o mobiliário e muitos objetos, principalmente louças e objetos decorativos da sala de jantar, que até hoje encontram-se lá, muito bem conservados. No geral, parece que houve pouca intervenção na casa desde então, como se vê a seguir.

14 Na agenda da empresa Sudeletro S.A e Line Material do Brasil também estão anotadas algumas listas contendo materiais de construções e outros produtos, suas quantidades e valores, e também pagamentos a funcionários, datados de 1954, 1955 e 1956.

15 A averbação do imóvel na escritura do terreno foi realizada pelo atual proprietário, o que reforça a ideia que pode não ter havido projeto, pelo menos o legal, para aprovação na prefeitura.

16 Um dos entrevistados relata que era comum vê-lo na Vila Mariana, onde situava a maioria das casas que construiu para alugar, vestido com roupa de operário, empurrando “carrinhos” com materiais de construção.

17 Chama-se vela a pequena torre que se sobressai da parte alta do submarino, e que abriga também os periscópios, dispositivos usados para captar imagens acima da água.

18 Essa racionalização é ainda mais acentuada quando se considera a disposição e design do mobiliário. Aqui cabe destacar que os armários dos quartos possuem seção quadrada e estão justamente alocados nos vãos menores entre as portas internas e as paredes, com aberturas diagonais; e a mesa da sala de jantar é disposta paralelamente à área de circulação, encostada na parece ao lado da cozinha, onde também se situa um dos passa-pratos da cozinha.

19 Grande rocha que fica a 1.950m de altitude, referência na paisagem do Parque Estadual de Campos do Jordão, e nesse município.

20 Esta era a única grade que a casa possuía. Atualmente, todas as aberturas são protegidas, inclusive essa mesma abertura conta com duas camadas de grades, a antiga, externa e a nova, interna. Algumas informações fornecidas pelos atuais proprietários da casa Klabin mostram que foram realizadas outras poucas intervenções na casa. As mais significativas foram: [1] a troca das telhas de amianto, que acompanhou o modelo original; [2] a troca do forro de madeira dos beirais laterais das coberturas externas, que antes era feito com chapas soft de fibras de madeira pintadas de branco (como o modelo da marca Eucatex) e foram trocados por ripas de madeira com um encaixe do tipo macho e fêmea; [3] o fechamento da porta que ligava o exterior da casa, o compartimento de armazenamento ao lado da lareira e a sala principal; [4] o fechamento da porta externa do vestíbulo, na elevação leste da casa.

21 Há duas entradas que dão acesso à propriedade a partir da estrada, dois caminhos que levam à casa principal. São marcadas por dois portais com desenhos bastante distintos, um mais simples e outro mais elaborado. O mais simples, segundo relatos, era considerado a entrada principal, e o que segue uma linguagem mais elaborada, era o acesso de serviços. Ambos pressupõem um percurso diferente até casa. Ainda não foram feitos estudos que conduzam a leituras mais consistentes sobre esses acessos e suas relações com a casa. Importante dizer também que estão ausentes nesse estudo as leituras sobre os espaços verdes e ajardinados externos em sua relação com a casa, que serão objeto de outas leituras, oportunamente.

22 Em algumas circunstâncias a casa remete à Igreja São Francisco de Assis de Oscar Niemeyer, na Pampulha, em Belo Horizonte, obra finalizada em 1943. Alguns elementos das elevações sul e oeste da casa Klabin, sua lareira e garagem, remetem às abóbodas, ao campanário e a marquise da entrada dessa obra. Enquanto composição volumétrica, entretanto, algumas dessas aproximações, bem discutíveis, só são possíveis a partir de determinadas imagens, como, por exemplo, de alguns croquis do próprio arquiteto.

IMAGES OF A CERTAIN MODERNITY: KLABIN HOUSE IN CAMPOS DO JORDÃO, INSTANCE OF ARCHITECTURAL EXPERIMENTATION

Denise Mônaco, Andressa Martinez

Denise Mônaco dos Santos is Doctor in Architecture and Urbanism, Adjunct Professor at the Architecture and Urbanism Department of the Federal University of Viçosa, Brazil, where she coordinates the research group Node Lab. She studies metropolitan housing modalities, cities and digital culture, digital modeling and cultural policies with digital media.

Andressa Carmo Pena Martinez is Doctor in Architecture and Urbanism, Adjunct Professor at the Architecture and Urbanism Department of the Federal University of Viçosa, Brazil, where she coordinates the research group Node Lab. She studies architecture and urbanism design, digital design processes.


How to quote this text: Santos, D.M. and Martinez, A.C.P., 2016. Images of a certain modernity: Klabin House in Campos de Jordao, instance of architectural experimentation. V!RUS, [e-journal] 12. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus12/?sec=4&item=12&lang=en>. [Accessed: 19 April 2024].


Abstract:

This paper seeks to make a first reading of a cottage built by Emmanuel Klabin in Campos do Jordão, Brazil, in early 1950s. The author and his work are presented, trying to contextualize the possible affiliations and references involving both. It seeks to understand which ideas and concepts have possibly influenced the design and construction, which, at the same time that is figuratively associated with a submarine, it suggests certain attachment to procedures and rationalist principles. If, in one hand, the formal plastic character of the house draws attention, the author also stands out. Mina Kablin’s brother and Gregori Warchavchik’s brother in-law, he was in direct contact with a context of cultural effervescence connected to the Modern Architecture in Brazil in the mid-1920s and 1930s, as well as being an entrepreneur in the real estate. As a part of an ongoing research, the paper relies on information based on records, surveys and on-site interviews. It aims to give visibility to a possible attitude of "breaking with conventional procedures and aesthetic models" that the house has, aligning, accordingly, with the theme Radical Moderns V!12.

Keywords:: housing, modernism, Klabin family


WEIRDNESS REFERENCED

This article is the first record of an ongoing investigation, derived from an unusual situation: an unpretentiously accepted invitation to "take a look at a strange house" in Campos do Jordão, from the decade of "1940", which was of some "Klabin’s".

The first impression was too much referenced "weirdness". Openings in the form of hatches, the huge chimney of the fireplace, which emerges as a large volume in relation to the house, devices that remembers a submarine’s periscope, large openings. Elements that associate themselves to a large flat roof sloping attached to curved surfaces, defining the volumes. A house very unusual to the common constructions present in that place, where the architecture is known to present an eclectic architectural ensemble of varied mix of standards, mainly centered in the treatment of facades and very sloped roofs, which allude to the vernacular architecture of colder climates. At the same that the plastic formal character of the house grabs attention in opposition to the local context, the dominant local "taste" that exudes from the place also seemed to stand outside the temporal context, considering what was the current architecture in Brazil in decades 1940 and 1950. Moreover, it seemed impossible not to associate the Klabin surname to Gregori Warchavchik, and consequently, the early years of modernism in Brazil.

Research on more information about the house, its design and construction, who was the author of the project and the owner, was the next step to try to understand what ideas, concepts, works and architects have possibly influenced the design and construction of the isolated house on top of Serra da Mantiqueira, which insistently remitted to images of a submarine and had elements that literally were like something out of a ship (Figure 1). It was impossible not to think that the history of modern architecture highlights the transatlantic as one of the reference objects evoked by Le Corbusier to treat the minimum space, self-sufficiency, and the sphere of collective housing programs. This, which once was a powerful image for the greatest architect of the modernism, was materialized in that forgotten house at Campos do Jordão.

Fig. 1: Klabin house, Campos do Jordão, view of the south elevation, 1987.
Source: Private collection of the current owner.

This article seeks to make a first reading of this house, built between the late 1940s and mid-1950s, as a vacation house, by its first owner Emmanuel Klabin. These were, specifically, a work and a missing author, until then, in academic studies. And also of a research context where the documentary records are not available from formally institutionalized collections. In this sense, the information presented here derive from a series of initial data collection and research, which includes photographic records, on-site surveys, with internal and external house measurements, that guided the construction of 3D models, plant schemes and elevations. A research on the literature looked for data from academic papers, mainly dissertations, where the author is cited even if not necessarily relating to the issues addressed here. Documentary surveys attest some biographical data. Some interviews were also carried out in order to collect unknown data and to check information that in a first moment seemed conflicting1.

Fig.2: Klabin House, view of the west elevations (foreground) and north, 2016.
Source: Heloísa Mônaco dos Santos.

This article is part of an ongoing research. It does not mean to revisit the historiography and much less launch the work/home analyzed, or even its author, in the context of the modernism in the Brazilian architecture. The goal is to give visibility to the attitude of "break with conventional procedures and aesthetic models" that the house presents, aligning accordingly with the theme Radical Moderns of V!12. In other words, it aims to contextualize this possible “break attitude” and its possible connections and references, focusing in an exploration of the architectonic object (Figure 2).

THE "INVENTIVE HERMIT”2, REAL ESTATE SECTOR ENTREPRENEUR

The author of the project and first owner of the house in the Parque da Ferradura, in Campos do Jordão, was Emmanuel Klabin3. He was born in 1902 and died in 1985. He was the youngest son of the industrial Lithuanian immigrant of Jewish origin, Maurice Freeman Klabin and Berta Osband Klabin. He was the brother of Jenny Klabin, married to the painter Lasar Segall, Mine Klabin, married to architect Gregori Ilyich Warchavchik and Louise Klabin, which was married to the Doctor Ludwig Lorch (Valadares, 2011).

Even working with a small documentary material of biographical nature, so far, it is known that Emmanuel Klabin had studied electrical engineering, first in Polytechnica School of São Paulo (installed in 1894)4, then in Edinburgh, Scotland5. However, it is unclear whether he came to complete this educational level. The trajectory of Emmanuel Klabin's found in the data collected inform less specifically about his work in Campos do Jordão, but more about the activities related to real estate investments linked to the resources and assets received through inheritance. With his father's death in 1923, Emmanuel Klabin, still very young, assumed the responsibility of administrating his family properties, which included vast land portions in several neighborhoods of the city of São Paulo, and also some resources derived from compensation received when the family left the company Klabin Irmãos & Cia. (KIC), founded by his father in 1899.

According to Salla (2014) E. Klabin would create with those resources a ceramics company called as Emefka in 1924. In the same work that studies the Paulistana ceramic industry in the period of the First Republic, the author points out that in 1935 the production of Emefka was focused on "rolled and tubular brick" (Salla, 2014 p.176). Lara (2012) also reports the performance of E. Klabin:

One of the relatives decided to keep investments in the industrial sector in a ceramic situated right there, within the lands of his father: "In 1929, the son [Emmanuel Klabin] creates the MKF Ceramics, which would be the first continuous furnace pottery in São Paulo, between current streets Ricardo Jafet and Archpriest Hezekiah". (METRO)6. The MKF ceramic would be an industrial investment focusing on high productivity, with a heavy investment in machinery, evidenced by that "continuous furnace. " (Lara, 2012, p.188, our translation)

However, the author points out that "possibly the principal line of business of Klabin's heiresses and heir [Maurício Freeman Klabin] would be the real estate" (Lara, 2012, p.188). Other studies also point to the performance of Klabin family in this segment after the death of the patriarch, presenting them as entrepreneurs of large real estate holdings, which included the construction of houses and buildings, mainly for rental. It is important to note that the production of ceramic Emefka supplied the demand for bricks of the buildings sponsored by the family, reinforcing this interest and focus on real estate.

The registration of the E. Klabin activities related to the construction appears almost exclusively in the Denise Invamoto’s (2012) dissertation, and in a very timely manner. The main theme of this author’s research is the preservation of the cultural identity, and is focused on the trajectories of one of the most distinguished E. Klabin’s brothers in law, the architect Gregori Warchavchik (1896-1972). The author presents facts about the presence of E. Klabin in the management of his family’s investments, and consequently the participation of G. Warchavchik in various moments of the work. About the family business involving children and sons in law of Maurício Klabin after his death, the author presents:

His heirs continued with the real estate investments - land acquisition, parceling, urbanization, construction, and etc. all visualizing sales and rentals. In this sense, Warchavchik became a fundamental piece to the management of his family businesses through feasibility studies, project and construction management. The architect participated in the design of roads, implementation of subdivisions, drainage calculations and division of areas for each one of the heirs, which were divided by a lottery system, registered in the contract. When the division was not exact, the extra amount of land then owned by all heirs (Invamoto, 2012, pp.223-224, our translation).

The author reports, in a footnote, that "there’s a letter documenting Emmanuel Klabin complaint that he always had to stay with the worst lands. Most of them in slopes, just because he was an engineer" (Invamoto, 2012, p.224, our translation). G. Warchavchik was ahead of some real estate projects of the Klabin’s family that were rented to be shared between the four heirs. It seems that these were projects in which investments were made more profitable if performed together, as in the case of the houses known as Vila Bertha, in Vila Mariana. However, it seems important to look at Invamoto's records about the projects developed by Warchavchik to his wife and sisters, as the houses for the allotment known as Vila Afonso Celso, which were not projects for Emmanuel Klabin "[...] as according to information, he used to build at his own" (Invamoto, 2012, p.226, our translation). Besides Invamoto, some other interviews point that E. Klabin had worked in the construction of rental homes independently from his family. He managed those constructions with the help of an employee and a team of construction workers who built the house according to his desires.

In this sense, we try to point out here that the designer of Klabin house in question, was very familiar with constructions, and was around this business since the mid-1920s, due to family and personal financial investment in the field. E. Klabin seems to have been a private investor whose work falls under the so-called rental housing production, a concept that set the city of São Paulo context of housing production, since the last decades of the nineteenth century until the 1930s, which was studied by Nabil Bonduki in his work published in 1998.

In this economic context, housing solutions for rent produced in series to workers and the middle class - tenements, villages, set of terraced houses, serial building etc.- had the same meaning and represented specific assemblages of the same financial movement, in other words, capital seeking profitable application through the housing leasing operation. (Bonduki, 2002, p.45, our translation).

At this moment, no information about the different projects and buildings that E. Klabin overviewed were collected, especially in Vila Afonso Celso, and little is known about the steps followed to legalize all his constructions with public agencies (government). However, the interviews point to a significant number that prove his presence in the construction industry and real estate market, as "built more than 200 homes" to rent, and left more than "400 properties" as heritage. Although it is not yet possible to indicate exactly the initial and final period of his constructions, it seems appropriate to consider that, most likely, it is part of a context in which the rental market is centered on a "range of housing solutions of different dimensions, quality and standards," which, on one hand, sought to meet the demands of different segments and, on the other hand, reflected "the prevailing social stratification." (Bonduki, 2002, p.46, our translation).

It Known that E. Klabin was not formally married and had no children. However, he lived with Anna Theresia Burger for decades. He do not made a will, or appointed heirs, leaving his greats assets subject to the decisions of the courts and agreements tutored by the them. The previously collected reports pointed a number of conflicts regarding his inheritance, involving his companion, who died two years after him, his nephews and a few closer employees. It is also known that he lived in a house in Vila Mariana, the same place where he spent his childhood and youth. Vila Mariana was a suburban neighborhood until then, where his parents' mansion was located in the street Afonso Celso, a time frame of his life where he was close to his parents and sisters, except in periods where they were together or apart traveling to Europe, whether to business, study, or medical treatment function, as it was very common for the wealthy São Paulo elite. The closeness between his home on adulthood and the houses of his married sisters, Jenny Klabin Segall and Mina Kablin Warchavchik, presupposes that they were a very social and close family. However, some reports insist to contradict this believe.

It seems that E. Klabin was averse to family relationships, had few close friends and maintained himself somewhat isolated, which led some people to describe it as lonely. Although it is too risky incur in inaccuracies, there are good descriptions about the distance that was established in relation to his family, even though, they had many businesses together. It is not known whether it will be possible to recover the reasons why he was distant from his family, but this fact seems to contradict one of the first proposals when we visit for the first time the Klabin house in Campos do Jordão: it seems that the house was conceived under the modernist influences principles because of the relation between Klabin’s family and the architect G. Warchavchik. Lira (2007, P.145), one of the main researches about this architect, presents him as a "key link between architecture and modernism in Brazil," confirmed link by historiography, to a greater or lesser degree, with different nuances, as known.

However reports seem to delineate an unique personality, not only different from the usual, but provocative at times, as he made sure to keep away from the circles that his sisters and brothers-in-laws, Warchavchik G. and L. Segall, were present. In Forte (2008), the name of E. Klabin stands as one of the members of SPAM Society Pro-Arte Modern, a conceived organization directed by L. Segall in the early years of the 1930. This organization was formed by artists and intellectuals, in "a continuing process to the Week 1922 procedures " (Forte, 2008, p.10, our translation). Although he was said to be a member of this group in the category "Friends of Art", it is questionable whether he actually participated in the group activities. Or it was more a "mandatory" activity related his family presence, whether in the social, legal and judicial context, or in the business plan, in which his name appeared without being necessarily involved with the actions in question. An example of this can be illustrated by the performances as legal representative of Mauricio Klabin's heirs, willing filling petitions to obtain the building permits in the local government, as presented by Invamoto (2012). In 1927, he signed the initial applications of two G. Warchavchik’s projects to be built on one of the Klabin’s land: The famous house in Rua Santa Cruz 7, in the same Vila Mariana, and the group of houses Baron Jaguara in Moóca. If these reports attest the proximity of E. Klabin with family members, who were protagonists and activists in an "important moment to the development of the Brazilian modernism cultural history." (Lira, 2007, p.145, our translation), at the same time, do not prove the character of this proximity.

What seems important to point out here is that, although averse to sociability, and apparently showing little engagement with the "modern issues", especially those related to art, architecture and construction, E. Klabin was in direct contact with the cultural context that was around him, either in the family circle or around the local elite he belonged8. It seems true that he had contact with intellectuals and artists in Brazil and abroad at his young ages, people who "have lent their restless spirits to seeking the overcoming of paradigms, alert to what was going on in countries and cultures other then their own, dedicating their work to the redefinition of languages, the construction of new references.” (V!RUS 12). However, it seems, this contact seems to have reverberated only in a private instance, and sporadically in the vacation house9. His "rental production", urban, anonymous until then, was unnoticed next to the set of housing projects sponsored by private enterprises. In the isolated and reportedly authorial work, for domestic delight, exploration and concerns seem to flourish, to take action, as well as certain lack of commitment to rules and principles previously established. He could be ambiguous and bold, he could play. There was no need for legitimacy, no need to be exemplary, emblematic. Or even need to follow laws and codes. The house is located away from the city, and it is also free from the judgments of any kind. The author had also, as desired perhaps, guaranteed his anonymity.

Would the contact with the flux and networks of actors involved in the modernization in the 1920s and 1930s, with an updated cultural circuit renewal, in some conditioned way determined the design of the house in Campos do Jordão, held twenty years later? Would the engineering studies, entrepreneurial activities performed close to the construction sites, had influenced the engineering curiosity of the house in Campos do Jordão, listed below? Which resonances of the architectural culture have influenced E. Klabin? Although it is difficult to suggest any approach, the first question remains: the house has many references to be only the result of a possible inventive genius of its author.

DESIGN AND SIMULTANEOUS CONSTRUCTION, OPEN TO CHANGE

The Klabin house was built, most likely between the years 1948 and 1955 10. It is in an area of ​​121,000 m², about 14km of downtown Campos do Jordão and was one of the first houses built in the Parque do Ferradura, a land development enterprise owned by Real Estate and Financial Company - CIF, from Paul Pliny da Silva Prado, in the 1940s, which is still a little empty and has rural characteristics11.

Fig. 3: Aerial view of Klabin House and caretaker's house (just above), probably from the 1990s.
Source: Private collection of the current owner.

Gustavo Biagioni, who lived in Campos do Jordão, a former C.I.F. employee when the Parque da Ferradura was being implemented, was the responsible contractor for the house under the guidance of E. Klabin. According to Benedicta Biagioni, her husband worked as a salaried employee for E. Klabin during years. He was hired to lead the construction of the house, counting occasionally with a small team of other local workers. Gustavo Biagioni used to walk every day from city to work, while the building materials, purchased at a large local depot, were transported with carts pulled by horses. E. Klabin would go to Campos do Jordão almost every month, and along with the contractor managed the construction, whose part of carpentry and wood frames were under the responsibility of Gustavo Biagioni’s brother, João Costa Amancio12.

Gustavo Biagioni’s wife reports that during the more than four years he was in charge of the work, her husband would make small drawings using a piece of pencil and " paper of bread "which were then submitted to the owner’s approval. Apparently, E. Klabin also made sketches of the building. Several of them were found in a promotional agenda at home, around 1987, when it was transferred to its current owner13. In the 1954 year's book it is possible to identify some drawings that appear to be the studies of some of the elements of the house designed by E. Klabin itself, as shown below, and which were made concurrently with the construction of the house14.

It is important to notice that the design and construction of the house appears to happened simultaneously15. In a quite informally way, without a technical drawing that represents the object to be built completely, or perhaps a sketch to determine how the final design should look like. In advance E. Klabin and G. Biagioni, the owner / creator and builder indeed, were working together, although, admittedly, the second always being subjected to the final decisions of the first, "the one who said what is right or not, and then changed to what he wanted," in the words of B . Biagioni. It seems there was, however, a certain permeability between the actions of the one who conceives and the one who performs the work. The division of tasks seemed to be rigorous. There was an exchange, though, it is assumed, it was quite hierarchical.

There are other reports that show this direct involvement of E. Klabin works with the constructions he sponsored, especially in São Paulo. In one of these reports, it is said that he followed very closely the constructions performed and he always had around himself a small team of construction workers, electricians, and other professionals, who were his employees 16. We here think that he was someone very involved with construction process, not only because there was focused most of his financial investment, but also because he might enjoyed to put into practice some ideas. However, these ideas were not necessarily formally and previously systematized, developed and represented in projects, but may be just insights derived from this closeness with the tasks being performed.

Aspects related to a possible simultaneity between design and construction, as the possible structure of construction works open to suggestions and changes were highlighted here not only because they were indicated in the information gathered so far, but also because, in a way, induced the reading of the work presented below.

HOUSE KLABIN IN CAMPOS DO JORDÃO, OR THE FORGOTTEN "SUBMARINE" HOUSE IN THE MANTIQUEIRA MOUNTAIN

We must say that the following reading, or analysis, is a snapshot. A first approach which can acquire other features as the research moves forward. Surveys, interviews and documentary research conducted so far, however, direct part of the proposals suggested here.

Implanted following the strict north-south orientation for the highest elevations, at the highest peak in the land, the house sits on a flat area in a shape similar to an ellipse. It is true that it stands out from the landscape, from other small surrounding buildings, however, the dense and high vegetation that borders the land next to the road isolates the house, hides or even protects it. (Figure 3).

As mentioned, at first glance, in formal terms, the house is somewhat figurative. It refers either to a submarine, from the southern elevation, or either to a transatlantic, with the sinuosity of steep coverage closure planes. Reinforces these references the vertical volume of the fireplace chimney, which in addition to concentrate part of the heating infrastructure (fireplace, boiler and heater), also includes a gazebo, whose access is through a stair-trap, ingeniously built. The fireplace chimney is literally a gazebo, and so is the submarine sail17. Openings in the form of hatches, a series of glass blocks that repeat the same rhythm and resemble the small openings of the submarine, pipelines that remember various periscopes and the relationship of the vertical element of the fireplace with the curvature of the south elevation, reinforce the reference to the formal language of nuclear submarines during 1950s (Figure 4:01).

Fig. 4: The submarine and ship figuration
Source: Klabin House, Heloísa Mônaco dos Santos. Submarine images, CHINA'S... (2016) and RUSSIA... (2016).

The metric survey and representation process of the house suggested the formulation of some propositions about the process of design and construction (Fig. 5). It shows three possible steps followed to construct the house, with differentiation in the formal and functional solutions, although it cannot attest the temporal distance between them. This preposition is reinforced due to the character of simultaneity between design and construction, discussed above, and also B. Biagioni’s report on the fact that E. Klabin used to go to Campos do Jordao monthly to instruct the construction of the house and stay in the house that was being constructed. Moreover, the construction that started around 1948, was extended to at least around the years of 1954, 1955 and 1956, as shown by some sketches and financial records, found in the aforementioned agenda owned by Klabin.

Fig. 5: The plan of Klabin house, from site survey.
Source: Prepared by the authors.

Noteworthy, initially, in what would be the first constructive stage, the contrast in a certain plastic-formal boldness, present, for example, in the accented balance of the roof in the northern elevation, with a small core inside the building (Fig. 6). In a plan, this resembles a modest compact house. The conventional height of 2,96m seems to not being thought to comply with the an accented roof inclination. The inclined roof coverage outside the building, varies widely when comparing the north and south elevations of the house. This fact seems to be the most immediate solution to compose this ceiling and make connection between roof and walls, as if this coverage was conceived at a later time during the design project (Fig. 6).

Fig. 6: initial core.
Source: Prepared by the authors.

Fig. 7: Inclination of the holes in the north and south elevations.
Source: Heloísa Mônaco dos Santos.

This core focuses on the provision of dormitories and rooms for the higher solar incidence orientation, probably due to the low temperatures recorded at that city, which is close to the Pico do Itapeva with its 2.025m of altitude. All their openings are concentrated in the north-south parallel elevations (except the hall door). Although the different dimensions and treatment between them, they are clearly related to the functional prerogatives, also seem to clearly set a differentiation between a front, main facade, marked by the exact layout of the three major opening elements, and a facade of funds, as a conventional deployment in urban plot.

The interior of that core is marked by the tripartite plant in social sectors, intimate and services. The plan seems to be rectangular and defined by a rigid square modulation. It is possible to perceive three squares lined in the north elevation and three present in the south elevation, but the modulation was followed rigorously in the partitioning of rooms and alignment of the walls on the north elevation, where bedrooms and living room have exactly the same dimensions. However, that is lost in the internal division of the rooms adjacent to the southern elevation, which houses the wet areas, foyer and dining room. It is also notorious some rationalization in alignments between the bedrooms’ and bathrooms’ inside doors, as wells as all of the circulation area as a whole18.

The windows and doors also feature streamlined dimensions and design. The north elevation, as said, is characterized by a set of wooden door-windows that can be opened fully like a single plane, or through the double "leaves" running embedded in this plane in the vertical direction, with miter shutters and glass. The shutters have become compartmentalized into six vertical sheets each, while the frames in the south elevation, in iron and glass, also have six subdivisions, however they are horizontal. While the first ones were clearly produced exclusively for this construction, from a very elaborate design, the second may have been bought ready given its fairly standard design. What accentuate the idea of ​​a certain "nobility" in the north elevation when compared to the south elevation.

The second constructive stage seems to mark the first plastic-formal solutions that call the attention in this project: the design of the large inclined roof, and the treatment and the formal valuation of all elevations, which reduces the hierarchy between front and back of the previous stage. It is not possible to define if the fireplace environment is designed as a volumetric-viewpoint at this stage, since this does not appear in the sketch that supposedly shows a compositional study of the west elevation (Fig. 8, 1 and 2).

Fig. 8: Photos of Klabin's sketchs from his agenda: (1) supposed inclined plane studies over the initial core of the house; (2) west elevation skecth; (3) the square modulation in several studies; (4) possible continuity between roof and walls; (5) hull in a ship?
Source: E. Klabin's agenda, by Heloísa Mônaco dos Santos.

The interior that is supposedly associated with this constructive stage is marked by the adoption of elements that provide a degree of flexibility to the space in contrast to the rigid and watertight subdivision of the first stage rooms (Fig. 9). The flexibility of the internal spaces is achieved here by the dispositive described below. [1] The curtain that slides on rails attached to the ceiling that when closed separates a smaller living room (the only one present in the previous step) and the biggest living room, where the fireplace is located in space with 3.97 meters by 2.75 meters. [2] The hinged doors that close the lateral side of the living room, follow the same design of the rotating doors in the bedrooms, but are also articulated side by side to promote the full opening of this lateral plane, which leads out to a balcony, maximizing a perfect integration between the interior and exterior of the house. This solution on the west facade gives the views to the Stone Chest19 and the sunset, besides increasing sunlight inside the building. [3] The large cabinet-doors that occupay two spaces next to the fireplace space, which gives the large room a storage space, and also are access to other rooms, or even 'occult' them. [4] The cabinet-doors in the hall, which when moved to the conventional bathroom doors openings and guest room, can take storage space inside of them. [5] The fireplace location continuous to the living room, whose dimensions and equipment houses - the fireplace itself, a heater / wood stove, a stair-hatch access to the gazebo-, allows multiple uses: chimney, which aggregates the pipelines of such equipment, as well as the vertical circulation to the observatory. (Figure 10).

Fig. 9: The second constructive stage. Flexibility of the elements in contrast to the rigidity of the modulation and rationalization of the initial core.
Source: Prepared by the authors.

Fig. 10: Flexibility devices: the chimney of the fireplace as a gazebo; the cabinet-doors, in the living room and the hall, respectively.
Source: Heloísa Mônaco dos Santos.

Besides the elements that qualify the space with possibilities for different configurations and uses, the square as a module is also recovered in the plan of this part of the house, and maintains the same pattern as the previous one: the square in plan as a room on the side of the north elevation and its presence in the south elevation, but not exactly partitioning the rooms.

At this stage, we can see a flexible compartmentalization also from the access available to a set of rooms that houses a bedroom, a bathroom and a hall, probably for the use of any guests. Displaced from the intimate sector, these rooms have an independent access to outside. This hall, which is also circulation and vestibule, allow a more flexible use of the bathroom, either as a toilet, integrating it into the room, or as a part of a larger suite, which can be accessed from outside or even from inside the house, as mentioned, but it can also be hidden by the big cabinet-door. Also another great cabinet-door on the other side of the fireplace, leads to a space that is at the same time, service passage between exterior and interior, and a storage space.

It seems relevant to note in this context that there were two dispositive in the original configuration of the house. First, a big screen that was attached, when closed, to the outer surface of the roof on the north elevation, exactly in the same direction of an horizontal opening in the living room. When triggered by a mechanical system with bars and cables this large vertical plane worked as a windbreaker. The second element that was also located exactly in the same opening was an external grid, which also worked with a mechanical system. This grid could be suspended using this mechanical system and would make possible to completely see the surrounding landscape through the large window of approximately 6 meters that had six glass panes. These devices operate from a mechanical logic machine, and would make possible to change the construction elements of the house for a better performance in terms of environmental comfort, or simply to temporarily remove unpleasant safety devices20. These devices show the creative and inventive mind E. Klabin had while the house was built.

The third and final construction stage is characterized by the insertion of the volume that would compose the garage and deposits (Figure 11). It is noticed some indefiniteness about the use of these locations that are now deposits. The lack of information suggests it could had been designed as, for example, a bedroom with bathroom or even a service space. However, the most important is to point out here that just the presence of the garage roof, flat and independent of the large slope reinforces the fact this design was thought after the initial construction of the house. Some of E. Klabin’s sketches also indicates a possible study of this elevation and its composition with the chimney-observatory (Figure 12). However, it is not possible to affirm if the vertical volumetric was already built or was designed concurrently with the volume of the garage. In other words, it is not possible to affirm if there is a connection between the design and construction of the second and third stage.

Fig. 11: The three stages.
Source: Prepared by the authors.

Fig. 12: Photos of Klabin's sketchs from his agenda: (6) supposed volumetric studies of the garage and the vertical element that composes the fireplace; (7) other square modulation studies.
Source: E. Klabin's agenda, by Heloísa Mônaco dos Santos.

Although it is only speculation, the volumes that correspond to the third stage, seems to "cover up" the south elevation, creating a composition between the west elevation and the north side, which together reinforce the formal reference to the submarine (Figure 13). The south elevation, that in a initial moment was thought to be less important, as shown above, became very important, becaming attention-grabbing and interesting. This elevation is in a privileged view on the way that gives access to the main gate either for the pedestrian or the vehicle 21. It also begs attention the external treatment given to the curved surface where is supposed to be the deposit, on the west side, simulating a continuity that does not happen internally, which reinforces the idea that there was the intention to design some elevation elements independently. In this case, the curved element refers to what? The Pampulha church22? Maybe. The square modulation is used in E. Klabin studies to the closing of this curved wall (Figure 12-7), as is also suggested in the original pavement that surrounded the entire house.

The modulation of the pavement, which advances beyond the limits of the house coverage, certainly gives cohesion to the whole, although the differentiation characterized by the constructive stages discussed here, appears to had been consistently designed and precisely planned when considering the whole idea23.

Fig. 13: the four facades.
Source: Prepared by the authors.

FINAL CONSIDERATIONS

Although this article did not presented a further discussion about the furniture found in the house of Campos do Jordão, designed by E. Klabin, it is important to highlight not just only the presence of an elaborate design but also the good quality of this design execution. It calls the attention not only the, wheeled and articulated and modulated objects, which expand and retract as the large cube-cellar or the small kitchen cabinets-cube, but especially those who are imprecated to the walls, doors and windows, some of those presented here. It is interesting to think that the flexibility that requires, or even the rational use of the spaces that make it possible, would be strongly associated with an idea of ​​maximum use of space, which does not seem to be necessary in the context. Closets in niches or along the walls, or even constituting the divisions between areas have been thoroughly explored in the context of modernism of the 1920s and 1930s, when the agenda was the discussion of the minimum urban housing. Were they here, devices that would provide the house an air of modernity? Would that be also only "experiments" as perhaps were devices such as the mobile brise, or the hinged wall-opening?

The inside of the house suggests a certain rigor, attached to procedures linked to functional, rationalists and flexible principles. The exterior, even if it presents itself as an striking an precise volume play, recurs as a procedure to the figurative appeal and prioritizes a "façade treatment" which gives it a fake, weird atmosphere, sometimes provocative and closer to another vanguard, literally, postmodern. (But this is a topic for another conversation.)

What seems clear is that, regardless if the design process of E. Klabin is conventional or not, endorsed by a formal training, his practice was imbued with the notion of "building as a whole," the premise that the design integrates the work in its different scales, as well as some notorious people, who were his contemporaries, thought. Maybe it's exactly here where the modernism in architecture is materialized in the house of Campos do Jordão.

THANKS

To all respondents, and especially, Alexandre Salas, Heloísa Mônaco dos Santos, José Antônio Domingues and Luiz Carlos Marinho de Andrade.

REFERENCES

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Warchavchik, G., 2006. Arquitetura do século XX e outros textos. (Organisation for Carlos A. Ferreira Martins.) São Paulo: Cosac Naify.

1 The main interviews conducted so far: [ 1 ] Mauris Ilia Klabin Warchavchik, Gregori Warchavchik and Mina Klabin Warchavchik’s son, Emmanuel Klabin nephew; [ 2 ] Benedita Costa Biagioni, Gustavo Biagioni’s wife, responsible constructor for the house; [3] Hahahel Salas Peres, the second and current owner of the house; [4] José Antônio Domingues, executor attorney lawyer of Emmanuel Klabin’s mate, Anna Theresia Burger . Informal conversations: Sra. Jacira Paschoal, daughter of the old caretaker; Sr. Carlos Wagner, surveyor who designed the Parque do Ferradura, where the house is located; Alexandre Salas, the current owner’s son.

2 In an interview , Mauris I.K. Warchavchik , when asked about the house in Campos do Jordão said beforehand , "the whole question is, you have to understand my uncle's personality: an inventive hermit [...]”.

3 The authorship of the project is attested mainly by Mauris I. K. Warchavchik and Benedicta Costa Biagioni.

4 A publication of the newspaper Correio Paulistano, on February 19, 1920, about the results of Polytechnica School exams of the school year 1919, shows Emmanuel Klabin as approved.

5 As the proof certificate of George Heriot Watt College, 1922.

6 Companhia do Metropolitano de São Paulo. Ação cultural do Metrô – Linha 2 – verde. [online] Available at: http://www.chacaraklabin.com.br [Accessed 11 Oct. 2010].

7 Built in 1928 to be the residence of the architect himself and his wife , this house is, according Lira ( 2007, p.164), "considered the first Brazilian work of modern architecture , the most important modernist hall of the city”.

8 In a quick search in the newspaper Correio Paulistano files, from the 1910s to 1940 (available on the National Digital Newspaper Library) there are several small publications mentioning the name of E. Klabin. Most of them are involving tennis games and championships in clubs, such as Club Regatas Tietê, Paulistano and Harmony. There are also some notes about the progress of proceedings in the Municipality and Judiciary. This is the same newspaper that in 1928 published a series of writings of G. Warchavchik, now collected in the book Arquitetura do século XX e outros escritos (Warchavchik, 2006). There is also a note on the marriage of the architect and Mina Klabin, published on January 5, 1927, who E.Klabin was mentioned as a godfather in civil.

9 During this data researching, it was mentioned another country house designed and built by E. Klabin around Sao Paulo, near the Anchieta Highway, which would also featured a tower-viewpoint, which would house a water tank and a wine house. According to Mauris I. K. Warchavchik, his uncle built this big tower because "he wanted to see the sea." His own house in Vila Mariana, located on the corner of Tirso Martins and Capitão Rosendo streets, it seems that was also built by following its guidelines, and had some similar devices to those presented below, in the house in Campos do Jordão.

10 According Benedicta Biagioni , "in 1950 he was raising the walls [of the house], and still had plenty to do”.

11 In the lot, in addition to the main house, object of this study, there is the caretaker's house and at least two other buildings: one that housed a generator and another in ruins, which housed a water pump.

12 Gustavo Biagioni and John Costa Amancio were self-taught builders and craftsmen, and were well known in the city, later, by participation in the construction of different buildings. Gustavo Biagioni even gives its name to a street of Campos do Jordão.

13 Hahahel Peres Salas received the property as payment of fees for services rendered as one of the executors of E. Klabin’s estate. It is important to say that, in the main house were "left" by the heirs all the furniture and many objects, mainly tableware and decorative objects from the dining room, which even today are there, very well kept. Overall, it appears that there was little intervention in the house since, as showed below.

14 On the agenda of the company Sudeletro S.A and Line Material do Brasil are also noted some lists containing materials and other products during the construction, their quantities and values, and also payments to employees, dated 1954 , 1955 and 1956

15 The property registration in the land was held by the current owner, which reinforces the idea that there could be no project, at least a legal one for approval.

16 One of the respondents reported that it was common to see him in Vila Mariana, which stood most of the houses built for rent, dressed in employee's clothes, pushing "carts", with construction materials.

17 It is the small tower that protrudes from the upper part of the submarine, which also houses the periscopes, devices used to capture images above water.

18 This rationalization is even more pronounced when considering the furniture design and its layout. Here it is noteworthy that the cabinets in the rooms have square sections and are just allocated the smallest gaps between the inner doors and walls with diagonal openings; and the dining room table is parallel arranged with the circulation area, leaning the wall next to the kitchen, where also lies an opening from this room.

19 Large rock which is 1.950m of altitude, reference in the landscape of the State Park of Campos do Jordão, and in this city.

20 This was the only grade the house had. Currently, all openings are protected, including the same opening with two layers of bars: the old, the external one and the new, internally . Some information provided by the current owners of the house shows that were made a few other interventions in the house. The most significant were: [1] the exchange of the roof tiles, similar to the original model; [2] the replace of the wood lining of the external covers eaves, which was previously done with soft sheets of wood fibers white painted (as the model of Eucatex, a brazilian brand), by wooden slats with a fitting male and female type; [3] the closing of the door that connected the outside of the house, the storage compartment next to the fireplace and the main room; [4] the closing of the hall's external door, in east elevation of the house.

21 There are two entrances as access to the property from the road, two roads leading to the main house. They are marked by two portals with quite different designs, a simpler one and another one more elaborated. The simplest, according to reports, was considered the main entrance, and the another one, was the service access. Both presuppose a different route to home. Studies don’t have been done yet, that lead to more consistent readings on relations of these accesses with the house. It is also important to say that, in this paper, there are not also readings on the green spaces and in its relationship to the house, which will be subject for future studies.

22 In some circumstances the house refers to St. Francis of Assisi Church of Oscar Niemeyer, completed in 1943, in Pampulha, a neighborhood in city of Belo Horizonte. Some elements of the south and west elevations of Klabin house, the fireplace and garage, refer to the vaults, the belfry and the marquee entrance of this building. As volumetric composition, however, some of these disputable approaches are only possible from certain points of views, as for example, a few sketches from the architect himself.

23 See the available animation at < http : //www.nomads.usp.br/virus/virus12 ...> .. Source: Prepared by the authors.