DA PROPOSIÇÃO MODERNA NA CONTEMPORANEIDADE: SUPERAÇÃO OU RESGATE?

Flávia da Costa, Rafael Brandão

Flávia Nacif da Costa é Doutora em Teoria, História e Crítica da Arquitetura. Professora Adjunta da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Estuda experiência, corpo, percepção, prótese, arquitetura, design, arte, estética, sensibilidade, tecnologia e cidade.

Rafael Silva Brandão é Doutor em Tecnologia da Arquitetura. Professor Adjunto da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Estuda conforto ambiental, planejamento urbano, energia e tecnologia da arquitetura e do urbanismo.


Como citar esse texto: COSTA, F.N; BRANDÃO, R.S. Da proposição moderna na contemporaneidade: superação ou resgate? V!RUS, São Carlos, n. 12, 2016. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus12/?sec=4&item=7&lang=pt>. Acesso em: 25 Abr. 2024.


Resumo:

Considerando-se que a produção modernista de arquitetura no Brasil ganhou relevância internacional, verifica-se que o discurso moderno resiste na discussão acadêmica brasileira, com reflexos na prática profissional e cotidiana da proposição espacial. No entanto, a velocidade da transformação tecnológica e social percebida atualmente demanda uma constante revisão da pertinência destas teorias e valores. Neste artigo, busca-se discutir a validade de uma perspectiva moderna – entendendo-a não como um bloco monolítico de conceitos, mas como um movimento complexo e mais diversificado do que pode aparentar na superfície – para a abordagem da proposição contemporânea do espaço. Assim, investiga-se o Movimento Moderno a partir de três questões básicas que dizem respeito à persistência, relevância e responsabilidade da Arquitetura como campo de conhecimento e do arquiteto como agente espacial. Para além delas, busca-se compreender se o Modernismo é, ainda hoje, uma referência a partir da qual se pode explorar a radicalidade de estratégias ainda não totalmente esgotadas, ou se faz-se necessária sua desconstrução e superação, para que seja possível encontrar novos caminhos mais condizentes com as demandas do século XXI.

Palavras-chave:: Moderno; contemporâneo; revisão; relevância; responsabilidade.


A CONTEMPORANEIDADE É MODERNA?

Em sua singularidade e complexidade, a arquitetura e a cidade se apresentam como construções históricas resistentes, tradicionalmente dotadas de maior inércia temporal quando comparadas a outros bens tecnológicos ou produtos culturais. Este(a) ambiente/ambiência construído(a) oferece uma possibilidade de registro e investigação para além das oportunidades de vivência que se apresentam cotidianamente, acumulando experiências de contextos anteriores que influenciam modos de ação contemporâneos. As reflexões em torno de um sentido de modernidade a partir do processo de industrialização originado no século XIX, responsável por redesenhar radicalmente a estrutura da cidade, vem acompanhando o exercício teórico do campo da arquitetura em diversas correntes. Historiador da arte, Argan defende esta relação intrínseca entre a constituição e os componentes urbanos e a cultura de uma determinada comunidade, discutindo não só os processos de projeto e planejamento especializado mas também as construções do acaso que nascem das interações não programadas entre os agentes do espaço.

De fato, tudo que se oferece como fato histórico no conjunto urbano é interpretável, suscetível de atribuição de valor, objeto de juízo. Interessa-nos menos que àqueles objetos seja conservado ou imposto o valor que lhes é reconhecido pelos especialistas [...] do que a possibilidade de serem continuamente reavaliados, reinterpretados pela comunidade urbana (ARGAN, 2005, p. 220).

Assim, é possível perceber que a herança modernista, movimento circunscrito ao século XX, ainda reverbera fortemente, não só no discurso arquitetônico contemporâneo, mas também embrenhada no próprio tecido urbano e em seus processos constitutivos, não permitindo um esgotamento das especulações possíveis sobre o período. Embora seja frequente encontrar, em diversos autores, datas para o fim do Movimento Moderno - Frampton (2000) estabelecendo como critério o término da Segunda Guerra Mundial, devido à homogeneidade de meios e fins, Jencks fixando o final simbólico do Modernismo e a passagem para o Pós-Moderno de 15h32min de 15 de julho de 1972, quando o projeto de desenvolvimento da habitação Pruitt-Igoe foi dinamitado -, também é possível deparar-se com diversas discussões sobre a superação de suas questões, a continuação de suas influências ou mesmo a inacabada propagação do Estilo Internacional (KOPP, 1990; MONTANER, 2011; JENSON, 2014).

A persistência do Modernismo foi anunciada durante sua consolidação. Ao ser considerado o ápice da racionalidade na produção arquitetônica, o Movimento Moderno se coloca como processo definitivo, finalizando a sucessão de estilos que o antecedera. Fica assim fácil compreender o que leva Le Corbusier (1986) a afirmar textualmente que o estilo não mais existe e que um novo e revolucionário estilo, condizente com o momento histórico, havia sido criado. O estilo, neste sentido, seria não só um arcabouço de formas e combinações possíveis, mas uma própria prática definitiva que, como conclui o autor, forneceria as ferramentas formais para solucionar os problemas habitacionais causadores das tensões sociais urbanas. Assim, seria possível afastar definitivamente uma eventual revolução, ou seja, um rompimento com o status quo capitalista industrial. De um modo ou de outro, seu sonho utópico conduz a uma busca pela estabilidade total, produzindo um sistema canônico que orienta toda e qualquer tomada de decisão.

Nesse sentido, é curioso lembrar o contexto em que surgiram os preceitos do Movimento, considerando que sua arquitetura se desenvolveu no rastro das vanguardas artísticas do início do século XX (FRAMPTON, 2000). Imbuídas do espírito de experimentação das manifestações artísticas radicais em suas diversas correntes, dentre as quais se destacam o dadaísmo, o surrealismo, o expressionismo e o construtivismo russo, visavam especialmente à exploração de novas formas de expressão que refletissem o modo de vida da cidade maquínica, novas linguagens e, muitas vezes, denúncias políticas através da arte.

As vanguardas modernas realizavam processos de desconstrução em uma sociedade que apenas começava a descobrir o sentido da individualidade e da ciência formalizada. Neste ponto, tratavam de processos experimentais e experienciais, abertos a construir um caminho de sociedade ainda obscuro para os integrantes daquele tempo. Uma das abordagens mais comuns às várias manifestações vanguardistas – explorar técnicas de desfamiliarização estética – toma corpo nas estratégias surrealistas de ênfase ao “maravilhoso cotidiano” e reforça a validade e a intencionalidade da obra como instâncias questionadoras das realidades sociais, além da habilidade de instaurar novas instâncias críticas, implicando choque pela ruptura com a tradição e o senso comum (SÁ; VELLOSO; GRILLO, 2010). O estabelecimento de um estado de permanente alerta, de constante transformação da obra, deslocando os elementos de suas práticas cotidianas e lugares comuns e relançando os objetos familiares em formas improváveis é uma tática surrealista inspiradora para o momento inicial do Movimento Moderno, a quem interessava instaurar um novo modo de vida, incorporando novas técnicas e explorando novas plasticidades. Mas a estética do choque na arte sempre se apresentou como uma condição limite para a arquitetura. Acolher a estratégia do estranhamente familiar (VIDLER, 2006) significa eliminar as fronteiras do real e do irreal para provocar uma ambiguidade perturbadora, admitindo o real patológico e colocando em primeiro plano o corpo e o usuário. A certa altura, as investigações da arquitetura desviam-se da arte e se materializam, num primeiro momento, apoiadas na crença de que a forma segue a função e na capacidade de transformação social e política por meio da atuação no cenário arquitetônico e urbano baseado especialmente nos preceitos corbusianos. Diante dessa bifurcação, a arquitetura moderna escolhe a abstração e o modelo em detrimento da multiplicidade de sentidos e possibilidades de constantes experimentações, reduzindo a flexibilidade à pretensa liberdade da planta livre.

A partir da década de 1930, as experimentações vão sendo substituídas por uma estrutura cada vez mais enrijecida e prescritiva, respondendo tanto a um esgotamento das vanguardas como a uma pressão sistêmica de mercados de construção civil. Montaner (2011) aponta como um dos pontos focais desta transformação a realização, em 1932, no Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York, da exposição “The International Style: architecture from 1922”, discutindo que esta exposição acontece dentro do contexto de uma política norte-americana de controle sobre o discurso e a produção cultural e artística mundial. Esta postura é reforçada pelas recomendações dos CIAMs (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna), condensadas na Carta de Atenas. O estabelecimento dos cinco pontos da arquitetura moderna, aliados a outros propostos por Le Corbusier, Mies Van der Rohe e Adolf Loos, entre outros - volumes puros, honestidade dos materiais, abolição do ornamento - são um exemplo claro da redução de uma discussão teórica, política e artística extremamente ampla por meio da criação de um conjunto de normas estilísticas limitado. Não se trata aqui de rejeitar estas estratégias completamente, sendo perfeitamente possível reconhecer que, em determinados contextos, elas produzem resultados espaciais adequados, ou mesmo de excelente qualidade. Interessa, sim, apontar como as restrições impostas por este conjunto de regras eliminam um conjunto infinito de possibilidades que produziriam não só níveis iguais ou maiores de qualidade, mas também uma diversidade de situações urbanas que seria extremamente benéfica às cidades. Como apontam Sá, Velloso e Grillo (2010), enquanto o Modernismo na arte envolveu a implosão do sistema de percepção, a invenção de uma nova linguagem e a ruptura com o ilusionismo por meio do qual a arte educa uma sociedade, a arquitetura como campo de conhecimento o compreendeu de dois modos distintos, em torno de duas ideias de cidade: do plano - relacionada a um processo de racionalização e abstração, desenho e regramento, espaço geográfico e geométrico - e do cotidiano - dizendo respeito a um processo de desintegração das categorias básicas de espaço, tempo e causalidade, experiência do transitório/fluido/fortuito, lugar do informe e da mobilidade opaca. Neste processo, a radicalidade das vanguardas modernas foi progressivamente convertida em um arcabouço formal estilístico que se aplicaria a qualquer contexto e situação, transformando um processo inicialmente experimental e aberto em um cânone homogeneizado.

Esta condição é ainda reforçada pelo agrupamento destes princípios sob um estandarte de racionalidade e funcionalidade absolutas na arquitetura, universalizando sua aplicação a qualquer tipo de situação e para um homem-tipo, encarnado na proposição do Modulor de Le Corbusier, em 1942. A neutralidade da razão é das mais perversas ideologias, pois não admite rebatimento, construindo sua argumentação dentro de um encadeamento lógico inatacável, sem deixar perceber que suas premissas foram subjetivamente estabelecidas e coletivamente acordadas ou validadas, conferindo a elas o caráter político que lhes deveria ser ou legitimamente reconhecido ou combatido como estratégia de poder e dominação. Flusser (2002) é um dos críticos deste processo de racionalização contemporâneo herdado da modernidade, apontando que ele tem, em nossa sociedade, substituído os princípios metafísicos religiosos com o mesmo tipo de fervor, adoração e fé cega. Condiz com esta lógica observar que, mesmo depois de grandes fracassos ou distorções nos projetos modernistas, ele ainda continua a ter influência, não apenas no discurso arquitetônico contemporâneo, mas também dentro dos universos científico e econômico que o sustentam, relegando a um segundo plano o caráter social e político das ações realizadas pelos diversos agentes espaciais.

Ainda que o Pós-Modernismo tenha deixado suas marcas no cenário arquitetônico, estabelecendo claramente outras premissas (BROWN; VENTURI; IZENOUR, 2003; HARVEY; 1992), recuperando velhas linguagens plásticas historicistas e criando a possibilidade de outras manifestações e expressões, livres dos preceitos formais modernistas, é possível notar que a atual produção arquitetônica ainda guarda muitas referências do momento anterior. Seja nas imagens de um novo brutalismo paulista, nas fachadas em vidro e concreto de inúmeros edifícios de escritório ou na base metodológica projetual que ainda considera conceitos como o binômio forma e função, percebe-se que alguns aspectos da arquitetura moderna permanecem vivos e frequentes. Talvez sua maior herança seja a escolha por um caminho de produção mercadológica uniformizada e padronizada em detrimento da liberdade de experimentações e questionamentos; de racionalidade e abstração sobre a experiência do cotidiano e o interesse na apropriação do espaço como ato político transformador.

Neste sentido, não há ruptura com o Moderno. Embora a arquitetura espetacular e a teoria arquitetônica contemporânea se esforcem para experimentar novas práticas, uma proporção maciça da produção do espaço construído ainda se assenta sobre bases modernas. Novos discursos ambientais, sociais e simbólicos buscam suporte nos processos científicos, mas são domesticados e incorporados pelos sistemas e instituições vigentes passando a servir à manutenção do status quo. Assim, a demanda por sustentabilidade converte-se em uma busca pela eficiência no uso de recursos, visando à preservação da sociedade industrial; as preocupações sociais passam a objetivar o apaziguamento de conflitos e a redução de tensões produzidas nas classes de renda mais baixa, e o debate sobre o patrimônio histórico é apropriado para a construção de cenários e memórias que justifiquem e sustentem as visões de mundo desejadas (COSTA, 2000; HARVEY, 2014; GHIRARDO, 2009). Estes discursos domesticados oferecem upgrades tecnológicos às premissas modernas, com novos sistemas, anexados a espacialidades racionalizadas e padronizadas, produzindo uma espécie de progresso e crescimento contínuo, mas que mantém, de modo equivocado, uma autonomia da arquitetura como objeto artístico-tecnológico (arché+techné) estanque e descontextualizado, resistente (quando não impermeável) à intervenção do usuário e fortemente ligado ao sistema econômico e ao desejo e percepção do autor (autoria). O resultado são intervenções enrijecidas no tecido urbano, que nem conversam com os processos populares e vernaculares ou com as estruturas preexistentes, nem abrem novas fronteiras de discussão ou potencializam apropriações coletivas e relações sociais diversificadas. O indivíduo é relegado a segundo plano em sua escala e modo de ação (GEHL, 2013), encapsulado e desconectado do corpo físico (COSTA, 2007), sendo estas considerações e reconexões as principais questões a serem abordadas na contemporaneidade.

Assim, a crise do Moderno não trata de uma simples obsolescência estilística, mas sim de sintoma de um questionamento profundo de toda a filosofia que lhe confere base, desafiando as próprias noções de confiança e certeza (PÉREZ-GOMÉZ; PELLETIER, L.,2000). Com a desconstrução de relações causais inequívocas, também no âmbito das ciências naturais, mas principalmente nas ciências humanas e sociais, abre-se caminho para uma possibilidade infinita de desdobramentos e reconfigurações problematizadoras da realidade, que se virtualiza intensamente. Caso falhe em perceber este processo, a arquitetura arrisca-se à irrelevância no universo contemporâneo.

HÁ RELEVÂNCIA DA ARQUITETURA?

Chega-se então a uma questão fundamental: o mundo precisa de arquitetos? No começo do século XX, a resposta óbvia para esta questão seria: “desesperadamente!”. Colocados a serviço da sociedade os amplos desenvolvimentos tecnológicos dos séculos anteriores, a construção de métodos científicos e técnicos adequados a todas as disciplinas do saber humano deveria ser a solução para todos os problemas apresentados. Firmes nessa crença, os cânones modernistas (após abandonarem o processo experimental que foram as vanguardas) esforçaram-se por setorizar, racionalizar, padronizar e tornar mais eficientes o planejamento e a construção espacial, atendendo às demandas e diretrizes de uma sociedade industrial em processo de ampliação e massificação. Heynen (1999, p. 13) denomina esta visão modernista de "visão pastoral", na qual todas as contradições e dissonâncias modernas são negadas, fortalecendo um objetivo comum a todos os atores envolvidos que seria uma imagem abstrata de progresso. Sob esta perspectiva, o saber técnico e teórico do arquiteto era peça fundamental em um rearranjo revolucionário da sociedade, aquele que possibilitasse, dentro de um verniz utópico e universalista, a manutenção permanente de uma determinada ordem social - capitalista e industrial. Uma vez assumido este papel, e priorizando a potencialidade da racionalidade construtiva em face da produção seriada, atrelou-se a produção arquitetônica a um sistema de cunho mercadológico e perdeu-se a habilidade de instaurar uma instância crítica, em âmbito coletivo, e uma consciência, em âmbito social (SÁ; VELLOSO; GRILLO, 2010), desejo anunciado em seus preceitos éticos e morais estabelecidos no início do Movimento. Tschumi (2006, p. 578) reflete:

A “salubridade das cidades” hoje é mais determinada pela lógica da economia do uso do solo, enquanto a “boa ordem da vida civil” é quase sempre a ordem dos mercados privados. O resultado disso é que a maioria dos empreendimentos arquitetônicos parece enredada em um dilema insolúvel. Se, por um lado, os arquitetos reconhecem a dependência ideológica e financeira do seu trabalho, aceitam implicitamente as restrições que a sociedade lhes impõe. Se, por outro lado, eles se fecham em uma redoma, sua arquitetura é acusada de elitismo.

Arantes (2012) é forte crítico deste processo de elitização, considerando que ele produz uma arquitetura espetacularizada e segregadora. O autor discute o 'efeito Bilbao', decorrente da instalação de um museu da franquia Guggenheim na cidade de mesmo nome, com o objetivo de criar uma imagem global positiva e atrair investimentos. Trata-se de uma apropriação do conceito marxista de 'renda da forma' dentro do capitalismo avançado. Neste contexto, os edifícios adquirem complexidade formal, mas se distanciam cada vez mais do universo da construção física e do trabalho. No âmbito urbano, criam uma socialização de custos com privatização de resultados, promovendo a valorização (e em última instância, a especulação) imobiliária e a gentrificação (HALL, 2007; SOUZA, 2011). Além de permitir e incentivar a segregação espacial, este processo desconecta também o campo da arquitetura das questões cotidianas. Kapp, Nogueira e Baltazar (2009) ironizam a falta de empatia do arquiteto com as demandas populares, entendendo que as proposições conceituais e estéticas dos arquitetos contemporâneos servem mais ao reforço de uma imagem distanciada e elitista destes profissionais do que a uma potencialização dos usos do espaço. Encontram-se aqui novas evidências do processo de padronização moderno, que reduz o homem a conceitos e medidas abstratas. No panorama internacional, a construção civil torna-se cada vez mais dominada por regulações técnicas nem sempre produtivas, gerando efeitos indesejáveis diretos e indiretos (BROWN; HAMPSON; FURNEAUX, 2007) tais como aumento de custos, impactos urbanos negativos ou mesmo a restrição de inovações ou a limitação demasiada dos processos criativos. Decorrente disso, os desdobramentos espaciais tornam-se cada vez mais previsíveis e monótonos, com claros impactos na vida urbana.

Quando se avalia o contexto brasileiro, verifica-se uma situação ainda mais complexa, quase em um sentido oposto. Fortemente influenciada pela lógica da autoprodução, principalmente nos espaços periféricos (BONDUKI, 1998; FERRO, 2012), a maior parte da construção civil brasileira acontece à revelia da arquitetura institucionalizada. No entanto, embora estime-se que cerca de 70% do parque edificado brasileiro seja autoproduzido, percebe-se que há uma incorporação distorcida de elementos e estratégias dos "estilos arquitetônicos eruditos" (WEIMER, 2005). A herança modernista, por exemplo, se manifesta em uma tentativa de padronização dos componentes construtivos, muitas vezes sem um arranjo formal claro, e na aparente racionalização da construção, com o objetivo de cortar custos e simplificar a obra. A referência em um projeto de eficiência e massificação industrializada é clara, mesmo com as novas tecnologias de produção digital que permitem uma diversificação dos componentes e montagens nunca antes imaginada, e um processo de execução que é basicamente manufatureiro (ARANTES, 2012; FERRO 2012).

Neste sentido, se o arquiteto tem pouco impacto na produção efetiva do espaço – perde não apenas para outros especialistas da área, como engenheiros, mestres de obra e pedreiros, mas também para gestores, incorporadores e políticos – ele se torna importante formador de opinião e delineador de tendências plásticas. Estas tendências, de caráter eminentemente imagético, produzem o efeito de obsolescência programada necessário para fazer girar as rodas de todas as indústrias, incluindo aí a produção de móveis ou materiais de construção e o próprio mercado imobiliário (ARANTES, 2012; GHIRARDO, 2009). Ou seja, por mais que se considere que a discussão arquitetônica acadêmica é extremamente elitista e desconectada da realidade, seus desdobramentos são sensíveis no cotidiano urbano. São difundidos ora pelos trabalhadores da construção civil, que levam inovações estilísticas de uma obra para outra, ora pela indústria de entretenimento e notícia, que ressalta a qualidade de determinado projeto ou o apresenta em um filme ou documentário, e ora pelo próprio cidadão urbano que coleta experiências conscientes ou não e as leva para a produção de seu próprio espaço. Se a Arquitetura reclama uma ampliação de suas responsabilidades como agente espacial, faz-se necessário perguntar até que ponto o campo já tem consciência de seu efetivo impacto social.

POR QUE SOMOS RESPONSÁVEIS?

Se no Design e na Comunicação a responsabilidade é tema amplamente abordado, na Arquitetura ela costuma aparecer de forma apenas tangencial, talvez exatamente por este afastamento da política que o Modernismo buscou promover. Para Bonsiepe (2011, p. 19), a atividade projetual (design) consiste exatamente na apresentação de alternativas ao status quo, promovendo processos de democratização e autonomia. Para o autor, é relevante que "(e)nquanto as ciências enxergam o mundo sob a perspectiva da cognição, as disciplinas de design o enxergam sob a perspectiva do projeto, sendo seu olhar sempre ativo e propositivo, visando, para além de entender o mundo, transformá-lo”. Flusser (2007) discute as armadilhas desta posição: mais do que a produção de objetos, o projeto (desenho/design) produz modos de ação, criando limites onde eles previamente não existiam e direcionando o fazer pela criação de cultura. O autor ressalta o entendimento da relevância desta atividade, conclamando o designer a uma postura reflexiva no lidar com esta imposição de limites ao outro. Torna-se, assim, fundamental a superação de uma abordagem exclusivamente técnica em nome de outra mais aberta, focada na autonomia e na alteridade, conectada com a ampliação das experiências potenciais dos usufruidores do espaço.

Na arquitetura, por outro lado, encontra-se tradicionalmente uma associação a conceitos inibidores da autonomia do indivíduo, como tipologias, partidos e prescrições programáticas (SÁ; VELLOSO; GRILLO, 2010). Guatelli (2012) aponta o perigo de uma ligação excessivamente estreita entre programa e processo na arquitetura, que interfere, de modo essencial, nos processos de produção e recepção da obra, e é bastante visível na prática modernista. Com o discurso em defesa do funcionalismo e a questionável busca de uma correspondência entre os conteúdos e a forma, numa nova linguagem e a partir de uma pretensa universalização, as possibilidades de manipulação e intervenção nos espaços supostamente diminuíram ou foram desencorajadas pelos limites que o programa impunha.

Como, então, produzir uma arquitetura que é, ao mesmo tempo, voltada para o (ou preferencialmente produzida pelo) coletivo, validada e apropriada individualmente com transições adequadas? Que seja conectada a valores globais, com princípios humanos universais e contemporâneos, mas entendida e adaptada às necessidades e especificidades do indivíduo e da sua experiência real e cotidiana?

Jenson (2014) defende uma série de conceitos orientadores para esta prática, sendo aqui destacados dois deles. O primeiro denomina-se architecture writ large que, embora literalmente signifique uma "arquitetura em larga escala", seria melhor traduzido como uma "arquitetura em amplo sentido". Dentro desta perspectiva, transpõe-se o raciocínio de organização espacial e problematização típico da formação arquitetônica para além de suas fronteiras disciplinares, trabalhando sistematicamente a interface com outros saberes e dialogando com o desenho (design) das mais diversas áreas e atividades humanas. Um segundo conceito trazido pelo autor é uma abordagem filosófica da Arquitetura, como uma solução para o contexto de crise na qual o campo estaria mergulhado desde o fim do Movimento Moderno. Com isso, Jenson sugere não uma epistemologia rígida e predefinida para se aproximar da realidade ou do design, mas sim uma postura inquisitiva, reflexiva e constantemente crítica na problematização das questões relativas ao espaço contemporâneo. Este conceito se relaciona com o princípio da curiosidade epistemológica, proposta na teoria educacional de Freire (2014), na qual os sujeitos caminham de uma abordagem ingênua para uma crítica, aproximando-se de forma cada vez mais rigorosa do objeto cognoscível - no caso, o espaço. Esta estratégia pode dizer respeito não apenas ao próprio arquiteto, mas aos demais agentes, sejam eles especialistas ou leigos.

A autonomia, defendida por Freire, mas também por autores como Souza (2011, p. 174), aconteceria em duas instâncias: uma, político-institucional e material, que permitiria o "consciente e explícito autogoverno de uma determinada coletividade" e outra, individual, que garantiria "a capacidade de indivíduos particulares realizarem escolhas em liberdade, com responsabilidade e com conhecimento de causa". Abandona-se, assim, a autonomia disciplinar, criticada anteriormente, para construir uma autonomia de outrem, em um processo de solidarização ligado ao conceito de alteridade, relevante na definição de práticas coletivas e desvinculadas de uma necessidade autoral (Fig. 1).

Fig. 1: Alteridade – a Storefront Gallery for Art and Architecture de Steven Holl não apenas estabelece uma crítica às restrições do mercado contemporâneo de arte e arquitetura, mas também propõe uma fachada flexível e modular, que permite aos usuários (expositores e por vezes visitantes) a adequação do ambiente às suas demandas e necessidades.
Fonte: Rafael Brandão, 2013.

É possível também criticar a narrativa única da historiografia e teoria modernas, típica das visões utópicas, que estabelece um processo evolutivo e tecnológico contínuo, que se inicia na barbárie e na selvageria, terminando com a solução tecnológica de todos os problemas humanos. Massey (2008) propõe o abandono desta narrativa temporal (histórica) como fio condutor em favor de uma narrativa espacial (geográfica), substituindo a lógica da concatenação e consistência histórica por uma relação de dissenso, da fragmentação e da diversidade. A autora considera que, por estar sempre em transformação ao longo do tempo, o espaço jamais se conclui ou se acaba, apresentando-se necessariamente em processo. Este entendimento relacional e processual sugere a necessidade de conexão e costura da heterogeneidade espacial, permitindo que estas coexistências conflitantes produzam continuamente novas configurações e situações. Neste sentido, a fluidez torna-se uma premissa fundamental para o estabelecimento destas relações, podendo servir como norte ao trabalho intervencionista ou ativista do arquiteto (Fig. 2).

Fig. 2: Fluidez - no Parque de Los Deseos, do colombiano Felipe Uribe, abre-se espaço para convivência de diversos públicos e usos simultaneamente. Pequenas alterações topográficas e marcações de desenho configuram espaços para as atividades sem desconectá-las ou segregá-las. Fonte: Rafael Brandão, 2014.

Para permitirem a construção de novas relações, estes processos de intervenção devem se aproximar da experiência do usuário, inclusive em um nível corporal. Lefèbvre (1999) discute a existência de duas escalas principais: uma, macro-estrutural e abstrata, dada pelos sistemas deorganização social e econômico que claramente impactam as conformações espaciais, e uma outra, micro, próxima ao corpo, sensível e cotidiana, percebida nas configurações espaciais, nas relações estabelecidas e no seguir da vida diária. Acredita-se que o Modernismo desconectou-se progressivamente da escala cotidiana, caminhando para uma abstração e monumentalidade. Brandão (2009) investiga a questão das escalas entre diversas áreas – geografia, meteorologia, planejamento urbano, arquitetura – apresentando uma proposta conceitual para o tratamento de intervenções espaciais urbanas, incluindo estratégias possíveis para cada um dos níveis de atuação. Mais do que entender estas ordens de grandeza separadamente, é necessário compreender que elas coexistem e influenciam-se mutuamente, pelo acúmulo e fragmentação ou por impactos indiretos, sendo que a capacidade de transicionar entre cada escala é o que permite uma apropriação efetiva pelo usufruidor do espaço (Fig. 3).

Fig. 3: Escala - o novo edifício da Cooper Union, do escritório Morphosis, trabalha claramente o conceito de intervalo entre as escalas do edifício e do pedestre ao projetar uma marquise sobre a calçada e dotá-la de espaços de estar, proporcionando alternativas de ocupação e criando uma antessala urbana.
Fonte: Rafael Brandão, 2013.

CONCLUI-SE?

Assim, propõe-se que a prática contemporânea deve basear-se na revisão das prescrições dos cânones modernos, abandonando-os ou reestruturando-os a partir de uma análise crítica que considere os fundamentos de alteridade, fluidez e escala acima apresentados. Como processo metodológico, sugere-se recuperar a radicalidade das vanguardas do início do século XX, da qual a arquitetura se desviou, no que tange à liberdade de experimentação, e que visam, justamente, à priorização da autonomia do indivíduo, que deve ser capaz de experimentar a obra em seu tempo imbuído de suas próprias histórias e referências, dotado de senso crítico e socialmente incluso. Ampliar a capacidade do usufruidor de se apropriar do espaço demanda potencializar as escolhas individuais do habitante e instaurar um processo de autonomia de apropriação que é a condição primeira para que a forma se apresente como lugar da experiência arquitetônica e como mediadora da extrinsidade urbana (SÁ; VELLOSO; GRILLO, 2010). Se a forma pode potencializar ou inibir a participação efetiva do usufruidor no espaço, a apropriação do espaço pelos habitantes, os autores reivindicam uma forma como atitude, não esvaziada, de teor político transformador da condição urbana. O choque, numa obra arquitetônica radical, desloca o hábito, alterando o comportamento. Nesse sentido, uma atitude libertária, no processo de projeto, ante os preconceitos populares ou acadêmicos consolidados, potencializa a experiência corpórea na apropriação dos espaços, desloca o foco de atenção da mercantilização para a vivência espacial e posiciona-se politicamente frente à realidade social.

Fácil notar que, a depender da manutenção de conceitos e práticas baseadas em paradigmas muito prescritivos ou de perspectivas imutáveis, o que resta à Arquitetura contemporânea é repetir padrões e espaços, desatrelada de demandas e necessidades atuais. Libertar-se das coerções modelísticas dos preceitos modernistas, de suas prescrições funcionais, formais ou utilitárias e ressaltar a arquitetura como processo, não produto, implica admitir para o fazer arquitetônico um discurso reversível e sempre atualizável, produtor de espaços de apropriação real do lugar pelo habitante, que explora novos modos de fazê-lo a cada nova experiência. Recuperar o desejo de experimentação compartilhado pela arte e pela arquitetura moderna até os anos 1930 é produzir objetos arquitetônicos que funcionem como instrumentos potencializadores de múltiplas apropriações, além de permitir e solicitar a participação ativa do usufruidor na livre interpretação desses objetos. Resgatar a radicalidade experimental dos processos desenvolvidos pelas vanguardas modernas abre caminho para outras frentes de ação, reveladas a partir do privilégio de uma estrutura aberta, passível de reconfigurações, contradições e novas aglomerações, e retira a indesejável rigidez dos preceitos modernistas, restaurando sua vitalidade e capacidade de questionamento.

REFERÊNCIAS

ARANTES, P. F. Arquitetura na era digital-financeira: Desenho, canteiro e renda da forma. São Paulo: Editora 34, 2012.

ARGAN, G. C. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

BONDUKI, N. Origens da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

BONSIEPE, G. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher, 2011

BRANDÃO, R. S. As interações espaciais urbanas e o clima: incorporação de análises térmicas e energéticas no planejamento urbano. 2009. 350 p. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, Tecnologia da Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

BROWN, D. S.; VENTURI, R.; IZENOUR, C. Aprendendo com Las Vegas. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

BROWN, K.; HAMPSON, K.; FURNEAUX, C. Mapping the regulatory environment : implications for construction firms. In: CIB WORLD BUILDING CONFERENCE, 2007, Cape Town. Proceedings… Cape Town: QUT, 2007. Disponível em: <http://eprints.qut.edu.au/27323> Acesso em: 28 fev. 2016.

COSTA, F. N. A arquitetura de um novo corpo e o corpo mutante da arquitetura: as próteses como mediação sensório-espacial na experiência contemporânea. 2007. 239 p. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, Teoria, História e Crítica) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

COSTA, H. S. M. Desenvolvimento urbano sustentável: uma contradição em termos? Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, São Paulo: ANPUR, n. 2, p. 55-71, mar. 2000.

FERRO, S. Arquitetura e trabalho livre. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

FLUSSER, V. Da religiosidade. São Paulo: Escrituras, 2002.

FLUSSER, V. Design: obstáculo para a remoção de obstáculos? In: O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

FRAMPTON, K. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 49a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectivas, 2013.

GHIRARDO, D. Y. Arquitetura contemporânea: uma história concisa. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

GUATELLI, I. Arquitetura dos entre-lugares: sobre a importância do trabalho conceitual. São Paulo: SENAC, 2012.

HALL, P. Cidades do amanhã. São Paulo: Perspectivas, 2007.

HARVEY, D. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.

HEYNEN, H. Architecture and Modernity: a critique. Cambridge: MIT Press, 1999.

JENSON, M. K. Mapping the global architect of alterity: practice, representation, and education. NY, Oxon: Routledge, 2014.

KAPP, S.; NOGUEIRA, P.; BALTAZAR, A. P. Arquiteto sempre tem conceito, esse é o problema. In: PROJETAR, 4., 2009, São Paulo. Projeto como investigação: ensino, pesquisa e prática… São Paulo: FAU-UPM, 2009. Disponível em: <http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/05_biblioteca/acervo/kapp_nogueira_baltazar.pdf> Acesso em: 12 abr. 2015.

KOPP, A. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Nobel; Edusp, 1990.

LE CORBUSIER. Towards an new architecture. Nova Iorque: Dover, 1986.

LEFÈBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.

MASSEY, D. Pelo espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

MONTANER, J. P. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2011.

PÉREZ-GÓMEZ, A.; PELLETIER, L. Architectural representation and the perspective hinge. Cambridge: MIT Press, 2000.

SÁ, D. C. (org.); VELLOSO, R. C. L.; GRILLO, A. C. Forma como atitude: a experiência surrealista na metrópole. Belo horizonte: PUC Minas; FAPEMIG, 2010.

SOUZA, M. L. Mudar a Cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

TSCHUMI, B. O prazer da arquitetura. In: NESBITT, Kate. Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p. 573-584.

VIDLER, A. Uma teoria sobre o estranhamente familiar. In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p. 617-622.

WEIMER, G. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

ON MODERN PROPOSITIONS IN CONTEMPORANEITY: TO OVERCOME OR TO RESCUE?

Flávia da Costa, Rafael Brandão

Flávia Nacif da Costa is Doctor in Theory, History and Criticism of Architecture. She is Adjunct Professor at the Federal University of Sao Joao del-Rei, Brazil. She studies experience, body, perception, prosthesis, architecture, design, art, aesthetics, sensibility, technology and urban issues.

Rafael Silva Brandão is Doctor in Technology of Architecture. He is Adjunct Professor at Federal University of Sao Joao del-Rei, Brazil. He studies environmental comfort, urban planning, energy and technology of architecture and urbanism.


How to quote this text: Costa, F.N. and Brandão, R.S., 2016. On modern propositions in contemporaneity: to overcome or to rescue? V!RUS, [e-journal] 12. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus12/?sec=4&item=7&lang=en>. [Accessed: 25 April 2024].


Abstract:

Considering that Brazilian modern architecture is internationally recognized, modernist discourse is often present in the national academic debate which reflects in specialized and ordinary practice of spatial proposition. However, the currently fast technological and social transformation demands a constant review the pertinence of these theories and values. The present article aims to discuss the validity of a modern perspective - understood not as a monolithic conceptual structure but as a complex and diversified movement beyond the superficial appearance - in approaching contemporary spatial proposition. Therefore, this investigation of the Modern Movement is set upon three basic questions regarding the persistence, relevance and responsibility of Architecture as a field of knowledge and of the architect as a space agent. Furthermore, this paper ponders if Modernism is still a valid reference while exploring radical strategies or if its undoing is necessary in finding new ways to deal with 21st century demands.

Keywords:: modern; contemporary; review; relevance; responsibility


Is contemporaneity modern?

Architecture and cities, as singular and complex entities, are resilient historical constructs, traditionally presenting more temporal inertia than other technological or cultural products. These built environments often accumulate experiences of previous context that influence present life, offering investigative potential that surpasses daily perception. Reflecting about the sense of modernity generated by the industrialization processes of the 19th century, which has radically restructured cities, is a fairly common exercise in architectural theory. Art historian Argan defends this intimate relation among urban components and communitarian culture, discussing not only specialized planning, but also fortuitous construction that come from unprogrammed interactions of space agents.

"As a matter of fact, everything that is offered as a historical fact in the urban ensemble is object of interpretation, assessment and judgment. We are less interested in the preservation or imposition of specialist values over this objects than we are in their constant reevaluation and reinterpretation by the urban communities.1" (Argan, 2005, p.220)

Due to this cumulative nature of cities and architecture, the modernist heritage still reverberates, not only in the contemporary architectural discourse but also entangled in the urban tissue and in its constituent processes, despite of the fact that the Modern Movement itself was restricted to the 20th century. Even though several authors pinpoint the ending of the movement - Frampton (2000) sets it right after World War II, while Jencks declare its symbolic death and the beginning of Post Modernism at 3:32 P.M., July 15th, 1972, when the social housing compound Pruitt-Igoe was dynamited - one can still encounter many debate around the overcoming of their core issues, its persistent influence over construction and design or even about the ongoing propagation of the International Style (Kopp, 1990; Montaner, 2011; Jenson, 2014).

The persistence of Modernism was announced during its own consolidation. Being considered the pinnacle of rationality in architecture, the Modern Movement comes out as the ultimate process, ending the style succession that preceded it. This clarifies why Le Corbusier (1986) states textually that the style was no more and that a new and revolutionary style, suited to the historical moment, was created. In that sense, style was not just a set of shapes, forms and combinations, but a definite practice that could offer the final formal tools that would solve the housing problems that caused urban social tension. It would divert any chance of an eventual revolution, any rupture with the industrial capitalist status quo, as an utopian dream that seeks total stability and produces a canonic and absolute decision-making system.

This stability clearly contrasts with the context that gave birth to Modernism's precepts, since this architecture developed in the wake of the artistic avant-garde of the early 20th century (Frampton, 2000). Imbued with an experimenting spirit of radical manifestations and movements - Dadaism, Surrealism, Expressionism and Russian Constructivism for instance - it aimed at exploring new forms of expression that would reflect the daily life of the machinic city, new languages and, frequently, political protests through art.

The modern avant-garde deconstructed a society that had just begun to realize individuality and formal science. They were about experimental and experiential processes, open to building new paths for a still wavering modern society. Exploring aesthetic unfamiliarity techniques was a common approach among these movements. Surrealists, for instance, emphasized the “wonderful everyday” and reinforced the works validity and intentionality as critical instances of social reality, implying a shocking rupture from tradition and common sense (Sá, Velloso & Grillo, 2010). This state of permanent awareness, constant transformation of artworks and intensive displacement of elements from daily practice and common place was a surrealist tactic that inspired the young Modern Movement in establishing a new way of life, with its new techniques and new plasticity. However, art’s shock aesthetics was always a limit condition for architecture. Embracing the “uncanny” (Vidler, 2006) meant the elimination of borders between the real and the unreal in order to provoke a disturbing ambiguity, to take in the pathologically real and to prioritize user and body. At a certain point, investigations in architecture drift apart from the arts and are shaped by the beliefs that form follows function and that Corbusian principles of architectural and urban practice could bring about tamed social and political transformation. While facing these options, modern architecture chooses abstraction and modeling instead of sensorial multiplicity and the possibility of constant experimentation, reducing flexibility to the alleged openness of the free plan.

From the 1930s on, the experimenting is replaced by a rigid and prescriptive structure, a response to the exhaustion of the avant-garde as well to the systemic pressure of the building business. Montaner (2011) indicates as a focal point for this transformation the 1932 exhibition, at the Museum of Modern Art (MoMA) of New York, “The International Style: architecture from 1922”, which was clearly included in North-American policy of controlling cultural and artistic discourse and production. Several editions of the International Modern Architecture Congress (CIAM - Congrès Internationaux d'Architecture Moderne) strengthened these principles, edited into the Athens Charter. The Five Points of Modern Architecture, along with propositions by Le Corbusier, Mies Van der Rohe, Adolf Loos and others – pure forms, material honesty, abolishing ornament – are clear examples of the reduction of a broad theoretical and political debate by through a limited set of stylistic rules. It is not that these strategies must be completely rejected, since one can clearly recognize that they might produce adequate, or even excellent, results in certain contexts. Nonetheless, the restrictions imposed by this set of rules eliminate an infinite roast of possibilities that could not only produce equal or better spatial results, but also provide an extremely beneficial diversity of urban situations. As stated by Sá, Velloso & Grillo (2010), while Modernism in Art imploded a perception system, invented a new language and broke away from the illusionism through which art educates a society, Architecture – as a field of knowledge – understood it in a twofold way, related to two ideas about the city. The first is the plan – a rational, abstract, controlling, design-oriented process dominating the geographic and geometric spaces – and the other is the ordinary life – where Modernism disintegrated basic categories of space, time and causality and experimented transience, fluidity and fortuity in place of deformity and opaque mobility. While doing this, the radicality of modern avant-garde was gradually converted into a stylistic formal set that could be applied to any given context and situation, transforming an initially open experimental process into an homogeneous canon.

This condition is reinforced by the grouping of this principles under the standard of absolute rationality and functionality in architecture, making their application universal in any situation for the standard men, incarnated in Le Corbusier’s 1942 Modulor. The neutrality of reason is a most vicious ideology, since it does not allow for debate. It builds its argument through an unassailably logical train of thought, hiding the fact that its assumptions were subjectively established and collectively agreed upon, which would grant it a political nature that should be either legitimately recognized or fiercely combated as a strategy of power and dominance. Flusser (2002) criticizes this contemporary rationalization process, inherited from modernity, indicating that it has been replacing the religious metaphysical principles in our society with equivalent fervor, adoration and blind faith. This agrees with that fact that despite major failures and distortions in modernist projects Modernism itself is still influential not only in contemporary architectural discourse, but also in the scientific and economic groups that support it. As a result, the social and political nature of most spatial agents’ actions continuously gets pushed to the background.

In spite of the fact that Post-Modernism has left its marks in the architectural scene and clearly established different parameters (Brown, Venturi & Izenour, 2003; Harvey, 1992) – recovering historicist plastic languages and allowing for other design expressions, free from modernist formal rules – current architectural production still constantly refers to the previous moment. Whether in the images of a new brutalism in Sao Paulo, in the curtain wall façades in office buildings or in the design methods that preconize concepts such as the binomial form-function, aspects of modern architecture remain alive and present. Perhaps its greatest legacy is the choice of uniform, standardized and market-oriented production of space over the liberty of experimentation and criticality, of rationality and abstraction over daily experience and space ownership as a transformative political act.

In that sense, there is no break with the Modern. Even though spectacular architecture and architectural theory do make an effort to experiment with new practices, a significant part of the built environment production still lies over modern basis. New environmental, social and symbolic discourses seek support in scientific processes, but are tamed and incorporated by current systems and institutions, serving the maintenance of the status quo. Therefore, sustainability becomes a quest for resource efficiency in order to sustain industrial society, social concerns aim towards appeasing conflicts and reducing low-income class unrest while preservation issues are appropriated to build sceneries and memories that support intended worldviews (Costa, 2000; Harvey, 2014; Ghirardo, 2009). These domesticated discourses offer technological upgrades to modern assumptions by adding new systems to the standardized rational spaces and creating a continuous sense of growth and progress. This feeling, though comforting, mistakenly maintains an autonomy of architecture as an artistic-technological (arché + techné) object, tight, decontextualized, resistant (if not impervious) to user interference and strongly attached to the economic system and to the desire and perception of the author (authorship). This results in stiff interventions inside the urban tissue that do not set up a dialogue with vernacular/popular processes and preexistent structures, stimulate new debates, create potential collective ownership nor promote diverse social relationships. The scale and actions of individuals are set aside (Gehl, 2013) as they are encapsulated and disconnect from their physical body (Costa, 2000). Accounting for these factors and re-connecting users with spaces and with themselves should be one of the main concerns in contemporaneity.

Therefore, the crisis of Modern is not just about stylistic obsolescence, but a symptom of deeper considerations about the Movement’s base philosophy as a whole, which challenges the very notion of and reliability and certainty (Pérez-Gómez, 2000). As unequivocal causal relations are deconstructed, in natural sciences as well, but especially within social sciences and humanities, a series of infinitely manifold paths open up while reality itself is constantly reconfigured, reassessed and virtualized. If Architecture fails to understand this, it risks becoming irrelevant in the contemporary world.

Is there relevance in Architecture?

This brings a fundamental question: does the world need architects? In the beginning of the 20th century, the obvious answer would be: “desperately!”. As the extreme technological advances of previous centuries were put at society’s service, the construction of adequate technical and scientific methods in all areas of human knowledge should present solutions to all of humanity’s problems. Clinging to this belief, modernist canon (having abandoned the experimental process of the avant-garde) strived to compartmentalize, rationalize, standardize – i.e. to make more efficient – planning and construction, as a response to the demands of an expanding and massifying industrial society. Heynen (1999, p. 13) defines this process as “modernity’s pastoral view”, in which all dissent and contradiction was denied in order to strengthen a common search for an abstract image of progress. Under this perspective, the architect’s technical and theoretical knowledge was a key factor in a revolutionary rearrangement of society that provided, using an utopic and universal coat, the permanent maintenance of a certain social order – industrial capitalism. Once architects embraced this role, they prioritized the potential of constructive rationality enabled by serial production and linked architectural production to a market-oriented system while losing its ability to establish a critical collective instance and an enhanced social conscience (Sá, Velloso & Grillo, 2010) even though these intentions were professed on the Movement’s early ethical and moral principles. Tschumi (2006, p.578) ponders:

“The ‘salubrity of cities’ is now determined more by logic of land economics, while the ‘good order of civil life’ is more often than not the order of corporate markets. As a result, most architectural endeavors seem caught in a hopeless dilemma. If, on one hand, architects recognize the ideological and financial dependency of their work, they implicitly accept the constraints of society. If, on the other hand, they sanctuarize themselves, their architecture is accused of elitism.”

Arantes (2012) strongly criticizes this elitism, as it produces a spectacularized and segregating architecture. He discusses the “Bilbao effect”, due to the implementation of a Guggenheim museum in the Spanish city that hoped to create a positive global image and attract investment, which he considers an example of the Marxist-inspired concept of “rent of the form” inside advanced capitalism. It leads to increased formal complexity of buildings, which in turn distance themselves from physical construction and labor. In urban terms, they socialize costs and privatize profit, promoting real estate appreciation (and, eventually, speculation) and gentrification of urban areas (Hall, 2007, Souza, 2011). Besides allowing – or even encouraging – spatial segregation, this process disconnect architecture from routine life. Kapp, Nogueira & Baltazar (2009) deem ironical architects lack of empathy with popular concerns and point out that current architectural proposition only emphasizes the distant and elitist image of these professionals instead of promoting spatial user ownership. This is evidence that the modernist standard reduced people to abstract concepts and measures. Worldwide, construction is progressively ruled by an increased number of not always productive building regulations, which brings indirect and direct unwanted effects (Brown, Hampson, Furneaux, 2007) such as increased costs, negative urban impacts, restrictions to innovation and strongly limiting creative process. As a result, spatial configurations often come out more and more boring and predictable, with visible effects in urban life.

In the Brazilian context the situation is even more complex almost in an opposite direction. Strongly influenced by self-production of buildings, especially in peripheral districts (Bonduki, 1998; Ferro, 2012), most of Brazilian construction takes place outside the realm of institutional architecture. However, even though an estimate of 70% of the built environment is self-produced, there is a distorted incorporation of “erudite styles” in popular architecture (Weimer, 2005). Modernist legacy is manifested in an attempt of creating repetitive component patterns – often with no visible formal intention – and in the apparent rationalization, as means of cutting costs and simplifying construction. The reference to a project of industrial efficiency and mass production is clear, despite of new digital manufacturing technologies that vastly diversify materials or assemblages and of an execution process that is far from completely automated (Arantes, 2012; Ferro, 2012).

Therefore, if architects have little impact in current space production – surmounted by not only other specialists such as engineers, contractors and construction workers but also by managers, real estate agents and policy makers – they are important opinion leaders as indicators of formal trends. These trends, of a predominantly visual fashion, create the programed obsolescence effect that makes industrial wheels spin, including furniture production, construction materials and the real state market itself (Arantes, 2012; Ghirardo, 2009). In other words, even if the academic architectural debate is highly elitist and disconnected from reality, it reverberates in urban life. Sometimes construction workers carry stylistic innovations from one building to the other, sometimes the media or entertainment industry highlights buildings and design in films or shows, sometimes the regular urban citizens collect conscious or unconscious experiences and take them to the production of their own space. But if Architecture claims for more responsibility as a spatial agent, it needs to question how conscious it is of its own social impact.

What are we responsible for?

While in Design and Communication responsibility is a paramount concept, in Architecture it appears only tangentially, perhaps as an effect of the political detachment sought by Modernism. To Bonsiepe (2011, p.19), design consists in presenting alternatives to status quo, promoting democratization and autonomy. He points out that "while science views the world from the perspective of cognition, design sees it from the perspective of project, an active and propositive take, seeking not only to understand the world, but to transform it". Flusser (2007) questions the deadlocks of this take: more than object making, design involves proposing paths of action, creating limits where they did not exist and steering production through the creation of culture. The author emphasizes the relevance of these activities, urging designers to adopt a reflexive stance in dealing with imposing limits to others. As such, designers must overcome exclusive technical methods, opening up to autonomy and alterity, connected with an increased potential for user experience.

In architecture, however, typologies, formal parties and programmatic prescriptions often inhibit individual autonomy (Sá, Velloso & Grillo, 2010). Guatelli (2012) warns about the dangers of strict links between program and process in architecture, which are visible in modernist practice and strongly interfere with space production and reception. While defending functionalism, modernism seeks an arguable correspondence between form and content and creates a new language of alleged universality that, in fact, discourage the possibilities of space manipulation and intervention through the establishing of very narrow programmatic limits.

How, then, can there be an architecture that is produced for (or, preferably, by) collective entities while it is still validated and used individually, considering the need of proper transition? An architecture that is connected to global values, at one time human, universal and contemporary, but adapted to the needs and specificities of and understood by the individual in a real, daily basis?

Jenson (2014) presents several orienting concepts towards this kind of practice, two of which will be highlighted here. The first one is the "architecture writ large", where spatial organization and critical problematization, inherent to architectural thought, are expanded beyond disciplinary borders and interact systematically with other fields of knowledge and relate to designing a wide range of human activities. The other one is a philosophical approach towards Architecture as a solution to the crisis that engulfed the field since the end of the Modern Movement. Jenson suggests not an inflexible and predefined epistemology while analyzing reality or design, but instead an inquisitive view, critical and reflexive in considering problems and issues of contemporary space. This concept clearly relates to Paulo Freire's (2014) "epistemological curiosity" in education, where subjects move from a naive to a critical investigation, approaching in a progressively more rigorous way any given knowable object – in this case, space itself. As such, it is a valid strategy not only to architects, but to all specialist and lay spatial agents.

Autonomy, another relevant concept advocated by Freire and others (Sousa, 2011, p. 174), is also important in two stances. The first one, material, political and institutional, allows the "conscious and explicit self-government of a given collectiveness" and the second one, individual, guarantees the "ability of particular individuals to choose freely, knowingly and responsibly". The previously criticized disciplinary autonomy is therefore abandoned in favor of the autonomy of others, where the solidary concept of alterity defines new collective practices detached from the need of authorship (Figure 1).

Figure 1. Alterity - Steven Holl’s Storefront Gallery for Art and Architecture not only criticizes the restrictions of the contemporary art and architecture markets but also offers a modular and flexible façade that allows users (exhibitors and sometimes visitors) to suit the environment to their demands and needs. Source: Rafael Brandão, 2013.

The existence of a single narrative for modern historiography and theory, typical of utopian perspectives, is also an object for debate. It claims that there is a continuously evaluative technological process, starting at barbarism and ending at the technological solution to all of human problems. Massey (2008) proposes wavering this temporal narrative (historical) in favor of a spatial narrative (geographic), which replaces the logic of historical consistency and concatenation by relations of dissent, diversity and fragmentation. Space, for Massey, is always transforming through time, it never ends or concludes and is always in process. This relational understanding suggests the need for connecting and weaving this spatial heterogeneity, permitting that this conflicting coexistences continuously create new situations and configurations. In that sense, fluidity appears as a fundamental principle in establishing these relationships, orienting both, the designing or activist work of architects (Figure 2).

Figure 2. Fluidity – Colombian architect Felipe Uribe opens up spaces at Parque de Los Deseos for so that different groups and uses can happen simultaneously. Small topographic changes and design marks configure spaces for this activities without disconnecting or segregating them. Source: Rafael Brandão, 2014.

In order to build new relations, these interventions should relate to user experience, even at a corporal level. Lefèbvre (2008) discusses the existence of two main scales: a macro-structural and abstract scale, provided by social and economic organization systems, which clearly impacts spatial form and a micro scale, closer to the body, sensorial and ordinary, which is perceived in spatial configurations, in established relationships and in everyday life. Modernism has been gradually disconnected from this second type, moving towards abstraction and monumentality. Brandão (2009) investigates the matter of scales in different areas - geography, meteorology, urban planning and architecture - and presents a conceptual proposal for dealing with urban interventions, including possible strategies for each scale level. Beyond the separate comprehension of each of these orders of magnitude, architects must understand that they coexist and influence each other by accumulation or fragmentation. The ability of transitioning between each scale is what allows an effective ownership of space by users (Figure 3).

Figure 3. Scale – In the new Cooper Union building, Morphosis clearly deals with the concept of interval between pedestrian and architectural scales. The marquise’s advance over the sidewalk and the use of urban furniture provide occupation alternatives and create an urban living room. Source: Rafael Brandão, 2013.

In conclusion?

Therefore, contemporary practice must be based on the review of the prescriptions of modern canons, which should be abandoned or restructured considering the fundamentals of alterity, fluidity and scale. As a methodological process, this means to recover the radical spirit of free investigation of the 20th century avant-garde, from which Architecture has defected, in order to prioritize the individuals’ autonomy and their capacity for experimenting buildings with their own references and stories, imbued of critical sense and social inclusion. This requires the enhancing of users ability of occupying space, which potentializes the inhabitants’ individual choices and establishes an autonomous ownership of space. It is a primary condition in instating form as a place of architectonic experience and as a mediator in urban contexts (Sá, Velloso & Grillo, 2010). If form can reinforce or inhibit the effective participation and ownership, the authors claim the realization of form as attitude, political and transformative of urban conditions. As shock, a quality of radical architecture, displaces habits and alters behavior, space production becomes a libertarian attitude against popular or academic consolidated prejudice, enhancing corporeal experience and taking the focus out of mercantilization, by stressing spatial experience and political action in dealing with social reality.

It is clear then that keeping practice based on immutable perspectives or prescriptive paradigms will lead contemporary Architecture down a path of repetitive patterns and spaces detached from required new demands. A possible way out relies on abandoning modernist precepts as models and utilitarian prescriptions in order to highlight the process, not the product. This implies an architecture that is always open to a reversible and updatable practice, producing spaces that are constantly experimented and sensed by inhabitants. The speculative spirit shared by art and modern architecture at 1930s should be recovered in order to allow buildings to be experienced in multiple forms, by active and participant users. The radicality of modern avant-gardes experimentations can guide architecture practice to an open and reconfigurable structure, accepting conflicts and producing new vital and questioning objects, compatible with contemporary society.

References

ARANTES, P. F. (2012). Arquitetura na era digital-financeira: Desenho, canteiro e renda da forma. São Paulo: Editora 34.

ARGAN, G. C. (2005) História da arte como história da cidade. São Paulo, Martins Fontes.

BONDUKI, N. (1998) Origens da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade.

BONSIEPE, G. (2011) Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher.

BRANDÃO, R. S. (2009) As interações espaciais urbanas e o clima; incorporação de análises térmicas e energéticas no planejamento urbano, PhD, FAUUSP, São Paulo.

(Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, Tecnologia da Arquitetura). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo.

BROWN, D. S., VENTURI, R. and IZENOUR, C. (2003) Aprendendo com Las Vegas. São Paulo: Cosac Naify.

BROWN, K., HAMPSON, K. and FURNEAUX, C. (2016) Mapping the regulatory environment: implications for construction firms. In: CIB World Building Conference, 2007, Cape Town. Proceedings CIB World Building Congress… Cape Town: QUT, 2007. Avaiable at: http://eprints.qut.edu.au/27323 [Acessed 28 feb. 2016]

COSTA, F. N. (2007) A arquitetura de um novo corpo e o corpo mutante da arquitetura: as próteses como mediação sensório-espacial na experiência contemporânea, PhD, UFRGS, Porto Alegre.

COSTA, H. S. M. (2000) Desenvolvimento urbano sustentável: uma contradição em termos? Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, n.2, p. 55-71.

FERRO, S. (2012) Arquitetura e trabalho livre. São Paulo: Cosac Naify.

FRAMPTON, K. (2000) História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes.

FLUSSER, V. (2002) Da religiosidade. São Paulo: Escrituras.

FLUSSER, V. (2007) Design: obstáculo para a remoção de obstáculos? In: O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naify.

FREIRE, P. (2014) Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

GEHL, J. (2013) Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva.

GHIRARDO, D. Y. (2009) Arquitetura contemporânea: uma história concisa. 2ªed. São Paulo: Martins Fontes.

GUATELLI, I. (2012) Arquitetura dos entre-lugares: sobre a importância do trabalho conceitual. São Paulo: SENAC.

HALL, P. (2007) Cidades do amanhã. São Paulo: Perspectiva.

HARVEY, D. (1992) Condição pós-moderna. São Paulo: Ed. Loyola.

HARVEY, D. (2014) Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes.

HEYNEN, H. (1999) Architecture and Modernity: a critique. Cambridge: MIT Press.

JENSON, M. K. (2014) Mapping the global architect of alterity: practice, representation, and education. NY, Oxon: Routledge.

KAPP, S., NOGUEIRA, P. and BALTAZAR, A. P. (2009) Arquiteto sempre tem conceito, esse é o problema. In: PROJETAR, 4, 2009. Projeto como investigação: ensino, pesquisa e prática. Available at: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/05_biblioteca/acervo/kapp_nogueira_baltazar.pdf [Acessed 12 apr. 2015]

KOPP, A. (1990) Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Nobel, Edusp.

LE CORBUSIER. (1986) Towards an new architecture. New York: Dover.

LEFÈBVRE, H. (1999) A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG.

MASSEY, D. (2008) Pelo espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

MONTANER, J. P. (2011) Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili.

NIEUWENHUYS, C. (1959) Une autre ville pour une autre vie. Internationale Situationniste, n.3, pp. 37-40.

PÉREZ-GÓMEZ, A. and PELLETIER, L. (2000) Architectural representation and the perspective hinge. Cambridge, Massachusetts: MIT Press.

SÁ, D. C. (org.); VELLOSO, R. C. L. and GRILLO, A. C. (2010) Forma como atitude: a experiência surrealista na metrópole. Belo horizonte: PUC Minas, FAPEMIG.

SOUZA, M. L. (2011) Mudar a Cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

TSCHUMI, B. (2006) O prazer da arquitetura. In: NESBITT, Kate. Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica 1965-1995. SP: Cosac Naify, pp. 573-584.

VIDLER, A. (2006) Uma teoria sobre o estranhamente familiar. In: NESBITT, Kate. Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica 1965-1995. SP: Cosac Naify, pp. 617-622.

WEIMER, G. (2005) Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes.

1 Translated from Portuguese: “De fato, tudo que se oferece como fato histórico no conjunto urbano é interpretável, suscetível de atribuição de valor, objeto de juízo. Interessa-nos menos que àqueles objetos seja conservado ou imposto o valor que lhes é reconhecido pelos especialistas (...) do que a possibilidade de serem continuamente reavaliados, reinterpretados pela comunidade urbana.”