O OLHAR DISTINTO DOS IAPS E A IMPLANTAÇÃO HABITACIONAL MODERNA

Silvia Pina

Silvia Mikami Pina é Doutora e Livre-Docente em Arquitetura e Urbanismo e professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Produz estudos da habitação para projetos de arquitetura e desenho urbano.

Natalia Taroda Ranga é Mestra em Arquitetura, Tecnologia e Cidade. Estuda a escala urbana da habitação de interesse social.


Como citar esse texto: PINA, S.M; RANGA, N.T. O olhar distinto dos IAPs e a implantação habitacional moderna. V!RUS, São Carlos, n. 12, 2016. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus12/?sec=4&item=8&lang=pt>. Acesso em: 23 Abr. 2024.


Resumo:

Um rápido olhar para a produção habitacional de interesse social recente no Brasil pode transparecer que a baixa qualidade dos empreendimentos seja uma constante. Contudo, a história da habitação social no país destaca a produção dos Institutos de Aposentadoria e Pensões – IAPs, que construíram um número significativo de moradias com projetos de alta qualidade arquitetônica e urbana. A radicalidade de alguns projetos significou um rompimento com a visão tradicional de implantação das unidades e inserção urbana, motivada pelo ideário moderno. Este trabalho apresenta uma análise do Conjunto Habitacional Várzea do Carmo (1938-1942), projetado pelo arquiteto Attilio Corrêa Lima, a cargo do IAPI em São Paulo. O exemplo é emblemático pela expressão dos preceitos modernistas na sua arquitetura e urbanismo apropriados ao contexto brasileiro. Sua relevância se dá pelo seu caráter social inovador que associava edificações habitacionais com equipamentos sociais, de lazer, área verde, sistema viário, dentre outros. Buscava-se concretizar espaços que abrigassem e incentivassem um novo modo de vida operário, moderno, coletivo, compatível ao modelo de desenvolvimento nacional estimulado na época. A análise se concentra nos aspectos inovadores da implantação proposta, vinculada à tipologia habitacional, inserção urbana, densidade, desenho e equipamentos urbanos e os espaços abertos e coletivos.

Palavras-chave:: Habitação Social; Instituto Aposentadoria e Pensões; Implantação.


1. INTRODUÇÃO

Um rápido olhar para a produção habitacional de interesse social recente no Brasil pode transparecer que a baixa qualidade dos empreendimentos seja uma constante. Contudo, a história da habitação social no país destaca a produção dos Institutos de Aposentadoria e Pensões – IAPs, que construíram um número significativo de moradias com projetos de alta qualidade arquitetônica e urbana. A radicalidade de alguns projetos significou um rompimento com a visão tradicional de implantação das unidades e inserção urbana, motivada pelo ideário moderno. Este trabalho apresenta uma análise do Conjunto Habitacional Várzea do Carmo (1938-1942), projetado pelo arquiteto Attilio Corrêa Lima, a cargo do IAPI1 em São Paulo. O exemplo é emblemático pela expressão dos preceitos modernistas na sua arquitetura e urbanismo apropriados ao contexto brasileiro. A análise se concentra nos aspectos inovadores da implantação proposta, vinculada à tipologia habitacional, inserção urbana, densidade, desenho e equipamentos urbanos e os espaços abertos e coletivos.

2. A ESCALA DA IMPLANTAÇÃO E A INOVAÇÃO PROGRAMÁTICA DO CH VÁRZEA DO CARMO

O conjunto está localizado nas imediações do Parque D. Pedro II junto à Avenida do Estado e entre as ruas Luiz Gama, Otto de Alencar, Leopoldo Miguez e Praça Nina Rodrigues, entre os bairros da Liberdade e Cambuci. O projeto do Conjunto Habitacional Várzea do Carmo (CHVC) previa duas fases de implantação, compreendendo um total de 48 edifícios com 2880 unidades de habitação na primeira fase e 59 edifícios com 4038 unidades habitacionais na segunda fase2, alcançando uma densidade de 1250 habitantes por hectare, distribuídas em seis tipologias diferentes de blocos de edifícios verticais, implantados em um extenso parque verde (BRUNA, 2010; BONDUKI, 2010, 2014).

A implantação foi elaborada a partir da distribuição dos dois tipos principais de blocos laminares, dispostos com orientação longitudinal norte-sul, de forma que os ambientes de maior permanência ficassem voltados para nascente, permitindo melhores condições de insolação. Tais blocos eram dispostos de forma intercalada e soltos dentro de um parque que visava a formação de várias praças para uso coletivo e também a garantia de boas condições de iluminação e de ventilação. A proposta do parque, áreas verdes e das áreas abertas coletivas tinha o propósito de qualificar o conjunto, mas, sobretudo, de valorizar os lugares de estar social, convívio e lazer da comunidade. A abundância da natureza conformando o volume dos espaços buscava integrar conjunto à cidade, abrindo-se através dos espaços abertos, integrando o espaço urbano, criando áreas claras e sombreadas e passagens que orientariam os caminhos a serem percorridos. Por fim, a circulação prevista dos pedestres pelo conjunto alinhavava o conjunto como um todo, através dos caminhos em zig-zag que percorriam e acessavam as moradias (Fig. 1).

Fig. 1: Implantação das tipologias e serviços do C.H Várzea do Carmo. Fonte: Autoras, 2014.

Esta proposta de implantação rompia claramente com o desenho urbano tradicional presente na cidade na época, inclusive no entorno próximo ao conjunto habitacional e, especialmente com o conceito de lote urbano, salientada pela tessitura modernista dos blocos soltos no parque e seu padrão morfológico distinto do entorno, cujo principal destaque era a permeabilidade da trama urbana. Por isso, foi realizada proposta de apartamentos com dois dormitórios, sala, cozinha e banheiro, cuja área variava de 45m2 a 67m2. Contudo, a partir dessa tipologia-base, há uma variedade grande de unidades, de um até quatro dormitórios e correspondente variação tanto de área construída quanto de agenciamento dos ambientes (Tab. 1).

Neste aspecto, a inovação novamente deve ser destacada, pois além de contemplar a racionalidade construtiva preconizada pelo movimento modernista, a proposta previa ainda alternativas de flexibilidade e de capacidade adaptativa das tipologias, por exemplo, nos edifícios do tipo B onde se previu a possibilidade de um dos dormitórios ser incorporado ora por um apartamento, ora por seu vizinho, artifício que permitia alterações mesmo após a obra finalizada, na intenção clara de ajustar as unidades à demanda das famílias e suas composições.

"Edifício/ tipo apartº"ABCDJK
Tipo 1 (1dorm) 50,96 m27248
Tipo 2 (2 dorm) 67,34 m23624
Tipo 3 (1 dorm) 41,14 m25436
Tipo 4 (2 dorm) 54, 39 m23624
Tipo 5 (3 dorm) 75,04 m28
Tipo 6 (4 dorm) 85, 04 m28
Tipo 7 (2 dorm) 60,04 m28
Tipo 8 (2 dorm) 54,03 m232
Tipo 9 (2 dorm) 66,15 m2v8855
Tipo 10 (2 dorm) 66,15 m255
Total1982432132 + lojas88110

Tabela 1: tipologias habitacionais previstas no C.H. Várzea do Carmo. Fonte: Revista Municipal de Engenharia, 1943. Edição das autoras

Contudo, o projeto não foi completamente executado, ficando restrito apenas à construção dos blocos tipo B e C, 22 blocos de quatro pavimentos com 584 unidades habitacionais e praças (Fig. 2).

Fig. 2: Implantação atual do C.H. Várzea do Carmo, 2013.

Fonte: Google Earth, 2013. Edição das autoras.

Ao longo dos anos, o C.H. Várzea do Carmo sofreu algumas modificações. É marcante o fechamento em unidades de condomínio. Os espaços que conformavam os pátios entre os edifícios foram transformados em áreas de estacionamento (Fig. 3). Cada condomínio apresenta diferentes graus de conservação e manutenção e, apesar da individualização de cada bloco do conjunto, ainda é notória a presença do elemento verde nos espaços abertos, de uso semi-público e que foram privatizados, bem como nos espaços de uso público.

Ainda que o C. H. Várzea do Carmo tenha alcançado somente parte das ambições do projeto, a sua construção foi relevante para a cidade, pois valorizou a paisagem na qual está inserido, sendo claramente identificável no tecido urbano, sem perder a sua integração com a paisagem da região. A grandiosidade da proposta para o C.H. Várzea do Carmo exemplifica como a habitação de interesse social foi o caminho vislumbrado por alguns arquitetos como meio de introduzir hábitos e um modo de vida “moderno”, imaginados como capazes de romper com injustiça social, ignorância e com a permanência de práticas de produção atrasadas no meio urbano. A orientação progressista que predominava tinha como plataforma incutir na classe trabalhadora outros hábitos, distintos daqueles que traziam do campo ou ainda das suas vivências em ambientes urbanos espontâneos, considerados não desenvolvidos.

A distribuição das unidades no parque e, principalmente, o complexo e extenso programa arquitetônico associado ao projeto de moradias traduz o olhar distinto e a intenção de alguns arquitetos do período em criar parques coletivos com vida social para a classe trabalhadora, expressando como a arquitetura e o urbanismo brasileiros poderiam enfrentar o desafio de inserir a modernidade na cidade e sociedade brasileiras. O principal componente deste ideário moderno era a unidade de vizinhança, com os serviços e equipamentos urbanos relacionados com a vida social de um bairro, que a análise da implantação do conjunto deste trabalho destaca.

O impacto das intervenções como o C.H. Várzea do Carmo significou a construção de complexos urbanos importantes que contribuíram para implantar no país vários dos princípios do movimento moderno. Sua relevância se dá não apenas pelo volume de área construída, mas sim pelo seu caráter social inovador que associava edificações habitacionais com equipamentos sociais, de lazer, área verde, sistema viário, dentre outros. Buscava-se concretizar espaços que abrigassem e incentivassem um novo modo de vida operário, moderno, coletivo, compatível ao modelo de desenvolvimento nacional que o Estado estimulava na época.

A proposta do conjunto sem fechamentos, como muros e cercas, tinha a intenção de fazer com que as circulações do conjunto criassem conexões com as áreas adjacentes do entorno, principalmente pela implantação dos edifícios de uso público e coletivo ao redor. Isso criaria uma gradação de fluxos no conjunto, formando uma proteção para as áreas habitacionais locadas nas áreas mais centrais do terreno e contribuiria para o controle e a segurança das áreas abertas do conjunto, possibilitando para as áreas habitacionais a redução gradativa de fluxos, voltados cada vez mais para os próprios moradores do conjunto.

Fig. 3: Edifícios do C.H. Várzea do Carmo (2013): estado geral de conservação, estacionamentos nos antigos pátios e blocos fechados em condomínios atuais.

Fonte: Acervo das autoras, 2013.

A proposta da área verde estava associada às circulações projetadas, como as calçadas com dimensionamentos diferentes para cada contingente de fluxo, verificando-se calçadas mais largas nos locais de uso público. As áreas habitacionais poderiam ser acessadas pelos caminhos sinuosos rodeados de área verde, criados no interior das grandes quadras, interrompidos pelas áreas de transição formadas pelos térreos dos edifícios de tipo A, de 11 pavimentos sobre pilotis (Fig. 4). Nota-se, assim, a intenção constante da aplicação estética moderna na composição da totalidade do conjunto.

Fig. 4: Organização dos acessos e Sistema Viário e Uso das áreas do C. H. Várzea do Carmo .

Fonte: Acervo das autoras, 2014.

Atualmente, as rotas de caminhos que levariam os pedestres do passeio público até o acesso às caixas de escada no miolo dos blocos apresentam-se desorganizadas, incluindo-se algumas pequenas construções que desordenaram a marcação original das construções. A grande perda com as transformações realizadas pelos moradores ao longo dos anos foi, sem dúvida da trama modernista dos blocos habitacionais soltos no parque pelas inúmeras subdivisões em condomínios cercados e murados, com controle de acesso (Fig. 5). Fica evidente, com tais divisões, um retrocesso à cidade tradicional, ou seja, o lote urbano redesenhado pelos moradores em condomínios que transformaram os espaços públicos e coletivos em espaços controlados e privativos, retirando, em parte, o senso de vida coletiva que tanto almejava o arquiteto na sua proposta. Com isto, as condições de vivência sociais coletivas previstas em projeto foram totalmente alteradas, configurando relações espaciais mais estéreis do conjunto com o entorno. Em alguns trechos do conjunto é impossível perceber a permeabilidade da trama urbana original devido à construção de tantos muros e cercas edificadas no entorno dos espaços abertos entre os blocos habitacionais, cuja espacialidade passou a ser idêntica a de uma rua corredor (Figura 5), comprometendo completamente a permeabilidade do espaço público através do conjunto.

Em sua maioria, os projetos dos IAPs não previam estacionamentos, já que na época o automóvel particular não apresentava a frequência atual. Essa questão foi solucionada pelos moradores ao longo dos anos, que passaram a utilizar as áreas livres para estacionamentos, bem como a privatização de outros espaços públicos, como as praças intersticiais entre os blocos de apartamentos e da área vazia onde seriam implantados os blocos tipo A de onze pavimentos. Entretanto, se o conjunto fosse implantado integralmente, as áreas livres poderiam prever estacionamentos em bolsões ao longo do conjunto.

Fig. 5: C.H. Várzea do Carmo (2013): fechamento em condomínios, perda da permeabilidade urbana, muros e cercas edificadas para fechamento das áreas abertas coletivas originais e controle de acesso. Fonte: Acervo das autoras, 2013.

Apesar do tratamento completamente acessível ao conjunto, como citado anteriormente, a implantação dos edifícios públicos nas áreas mais adjacentes hierarquiza os fluxos e valoriza as áreas de uso coletivo. Dessa forma também os espaços abertos públicos, atrelados ao elemento verde, conciliam áreas de transição entre o público e o privado, além da flexibilização dos usos propostos, configurando diversos tipos de ocupação e apropriações de acordo a escala desses locais. Os espaços entre as edificações habitacionais que conformam pátios abertos, por exemplo, entre os blocos B e C, possibilitam sua utilização para áreas ajardinadas de estar e lazer e proporcionam uma visão controlada desses locais pelos moradores dos apartamentos próximos.

Mesmo com fechamentos e cercas, as áreas abertas e verdes são marcantes na paisagem do conjunto e também para o bairro, podendo-se observar ainda uma relação de convívio e coletividade entre os moradores do conjunto (Figura 6). Nota-se presente, a busca por um senso de comunidade, uma vez que, junto à forma de implantação, criaram-se locais que conformam áreas de transição de fluxos e privacidade, como no espaço entre as edificações habitacionais, além também das áreas destinadas aos edifícios de uso público e coletivo, garantindo a segurança desses locais pela sua aproximação das unidades habitacionais.

A implantação total do conjunto original buscava criar uma identidade comunitária em relação ao entorno local, sem apresentar barreiras físicas, pois os espaços abertos conectavam as habitações à cidade.

Fig. 6: C.H. Várzea do Carmo (2013): áreas abertas coletivas atuais.

Fonte: Acervo das autoras, 2013.

O partido do projeto original previa a construção das habitações sobre um extenso parque verde. Os espaços abertos que permeiam as edificações conformam áreas verdes em diferentes escalas. As entradas para essas edificações voltam-se para as áreas verdes, assim como as varandas previstas nos edifícios tipo A, conformando áreas de transição entre os espaços públicos do conjunto e as unidades habitacionais (Fig. 7) e evidenciando a preocupação em qualificar os espaços do parque como lugar de convívio e lazer. Além da área verde prevista para as habitações nas áreas de uso público e coletivo, os espaços abertos também foram destinados a áreas verdes.

Fig. 7: Áreas Verdes do Conjunto Habitacional Várzea do Carmo.

Fonte: Acervo das autoras, 2013.

A proposta de uma grande unidade de vizinhança que deveria ser autossuficiente em relação ao entorno definiu um desenho de implantação em grandes quadras abertas e edificações mais verticalizadas que os bairros existentes na região. Dessa forma, a alta densidade, atrelada à baixa taxa de ocupação de 18,5%, possibilitou ao conjunto a provisão de diversos espaços abertos, aproveitando-se das melhores condicionantes do terreno, criando uma identidade mesmo com um traçado rígido orientado pelos blocos laminares perpendiculares às ruas principais.

3. Conclusão

O exemplo do C.H. Várzea do Carmo, assim como outros projetos realizados na produção dos IAPs, apresenta o plano de implantação como uma de suas notáveis inovações, suficiente para uma inserção na cidade de um ponto de vista moderno, especialmente por evitar a usual segregação de moradias da classe trabalhadora. Ao incluir no plano de implantação diversos equipamentos urbanos como escolas, creches, praças e quadras esportivas, dentre outros, a proposta visava muito mais que atender as necessidades cotidianas do habitar de seus moradores, pois também permitia que tais lugares exercessem um papel integrador entre comunidades, para além das fronteiras do conjunto habitacional.

Este aspecto, no exemplo analisado, poderia ter sido de uma abrangência e inserção muito maiores, caso o programa originalmente elaborado pelo arquiteto tivesse sido implantado na sua totalidade, principalmente pelos equipamentos integradores na escala da cidade, como o hotel e a estação rodoviária.

A criatividade da produção habitacional dos IAPs está justamente em propor uma solução brasileira do moderno, a partir da nova ordem social que se revelava. Livre da rigidez, mas valendo-se dos aspectos sociais do movimento moderno, as soluções habitacionais do conjunto Várzea do Carmo contribuíram para o rompimento de uma visão conservadora de cidade sem adotar completamente a cartilha progressista, mas ainda distante da utopia socialista. Mesmo incompleto, o C.H. Várzea do Carmo revela uma visão promissora de cidade mais integradora e igualitária. A opção por blocos habitacionais coletivos para locação, com grande número de equipamentos sociais e comunitários pode ser considerada expressão clara da visão de alguns arquitetos em oposição à concepção da casa própria no meio do lote, com quintal e horta, modelo que onera a cidade pela extensa expansão horizontal que provoca e prioriza o individualismo em detrimento do coletivo.

A radicalidade das propostas habitacionais coletivas modernas dos IAPs visava, sobretudo, a construção de uma sociedade que requeria um novo modo de morar e sua consequente inovação, trabalhando a habitação da classe trabalhadora sob outra ótica formal, produtiva social e cultural. Mais que isto, a denominada indisciplina programática das soluções modernas brasileiras (ARANTES, 1977) se expressou através da aplicação das lições modernas num contexto social diverso do original que, por isto mesmo, evidenciava mais claramente a ideologia da nova ordem internacional.

Atualmente, os conceitos da humanização do habitar afirmam que a construção de habitações deve estar diretamente relacionada com a construção e desenvolvimento de comunidades locais (COELHO, 2009). Desde a década de 1980, diversos estudos vêm enfatizando a importância do senso de comunidade atrelado ao desenho urbano na conservação e manutenção de áreas residenciais, em especial, por este estar vinculado à satisfação de seus usuários em relação ao ambiente construído, levando em conta principalmente as relações de escala para melhor coesão social, como as questões dimensionais de fluxos e vias, além da inclusão de usos mistos nesses locais (SHIGEHARU; KANASHIRO, 2014). Reforça-se, assim, que os projetos realizados pelos IAPs, através da qualidade apresentada na implantação de seus espaços públicos, estão em consonância com tais questões, propondo uma diversidade de espaços de transição, fluxos, privacidade e usos, aproximando a construção cada vez mais da escala humana.

A provisão estatal de habitação vem sendo realizada da mesma forma há mais de meio século e, desde o BNH, estão ausentes dos projetos de conjuntos habitacionais a construção de equipamentos públicos relevantes, numa repetição contínua de uma mesma tipologia padrão que inclui apenas habitação, ruas e estacionamentos, configurando uma paisagem árida e monótona nas periferias das cidades que, infelizmente, vem-se repetindo também na produção do Programa Minha Casa Minha Vida vigente. Dessa forma, além do fator segregativo, a localização desses conjuntos em áreas distantes do tecido urbano possibilitou a reprodução de um padrão de conjunto habitacional de grandes escalas, “empreendimentos [...] que priorizam o alto adensamento populacional em territórios negligenciados da periferia e que têm gerado impacto ambiental não condizente com os parâmetros aceitáveis, bem como dificultam o bem-estar físico e emocional dos usuários” (BARROS; PINA, 2010, p. 122).

A inserção urbana dos conjuntos habitacionais dos IAPs relacionada ao desenho urbano da implantação possibilitou, desse modo, o desenvolvimento desses conjuntos aproximando a escala humana da escala urbana através de seus espaços públicos, propostos como áreas de transição entre a habitação e a cidade, inserindo e expandindo a moradia urbana como célula inseparável de suas áreas adjacentes.

A análise do projeto do IAP demonstrou que o sucesso de tais empreendimentos esteve diretamente relacionado à qualidade dos espaços públicos, envolvendo a provisão do habitar com o desenvolvimento urbano, na perspectiva da construção de bairros, ou seja, da unidade de vizinhança. A valorização da produção habitacional dos IAPs não se mostra apenas como um exemplo projetual, mas também como uma possível advertência para que novas reflexões sejam realizadas no âmbito da arquitetura brasileira em relação ao seu papel social na produção de uma cidade mais digna e igualitária.

REFERÊNCIAS

ARANTES, O. B. F. Do universalismo moderno ao regionalismo pós-crítico In: CARDOSO, L. A. F.; OLIVERIA, O. F. (Org.). Rediscutindo o Modernismo. Salvador: EUFBA, 1977.

BARROS, R. R. M. P.; PINA, S. A. M. G. Uma abordagem de inspiração humanizadora para o projeto de habitação coletiva mais sustentável. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 10, n. 3, p. 121-135, jul./set. 2010. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/ view/12890> Acesso em: 14 mar. 2012.

BONDUKI, N. Habitação social na vanguarda do movimento moderno no Brasil. In: GUERRA, A. (Org.). Textos fundamentais sobre história da arquitetura moderna brasileira. Parte 2. São Paulo: Romano Guerra, 2010.

BONDUKI, N. (Org). Os pioneiros da habitação social: Cem anos de política pública no Brasil, 1. São Paulo: Editora Unesp: edições SESC São Paulo, 2014.

BRUNA, P. J. V. Os primeiros arquitetos modernos: habitação social no Brasil 1930-1950. São Paulo: EDUSP, 2010.

COELHO, A. B. Entre casa e cidade, a humanização do habitar. In: TAVARES, A. (Ed.). Opúsculo 18: Pequenas construções literárias sobre arquitetura. Porto: Dafne Editora, 2009. p. 1-20. Disponível em: <http://www. dafne. com. pt/ pdf _upload/ opusculo_18. pdf> Acesso em: 06 jun. 2012.

Ranga, N., 2015. Implantação de Conjuntos Habitacionais: As Lições da Produção dos Institutos De Aposentadoria e Pensões. Master. Universidade Estadual de Campinas.

SHIGEHARU, M. A.; KANASHIRO, M. Avaliação do senso de comunidade em áreas residenciais: uma análise de instrumentos existentes. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO, 3, 2014, São Paulo. Anais eletrônicos... São Paulo: ANPARQ, 2014. p. 1-11. Disponível em: <http://www.anparq.org.br/ dvd-enanparq-3/htm/Artigos/SC/ORAL/SC-EPC-025_SHIGEHARU_KANASHIRO.pdf> Acesso em: 26 mar. 2015.

1 Institutos de Aposentadoria e Pensão dos Industriários, um dos maiores promotores de habitação do período de atuação do IAPs.

2 Projeto publicado na Revista Municipal de Engenharia, n. 6, v. 9, p. 3-12, nov. 1942.

THE DISTINCTIVE VIEW FROM IAPS AND THE MODERN HOUSING SITING DESIGN

Silvia Pina

Silvia Mikami Pina is Doctor and Livre-Docente in Architecture and Urbanism, and professor at the State University of Campinas, Brazil. She produces studies on housing for projects of architecture and urban design.

Natalia Taroda Ranga is Master in Architecture, Technology and City. She studies the urban scale of social housing..


How to quote this text: Pina, S.M. and Ranga, N.T., 2016. The distinctive view from IAPs and the siting design of modern housing. V!RUS, [e-journal] 12. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus12/?sec=4&item=8&lang=en>. [Accessed: 23 April 2024].


Abstract:

A quick glance at the recent social housing production in Brazil may suggest that the low quality of the housing development is a constant. However, the history of social housing in our country highlights the production of Institutes of Retirement and Pensions - IRPs, or IAPs in the acronym in Portuguese, which built a significant number of households with high-quality architectural and urban design. The radical nature of some of those housing projects was a disruption with the traditional view of deployment of units and urban integration, motivated by modern ideas. This paper presents an analysis of the Várzea do Carmo housing complex (1938-1942), designed by the architect Attilio Correa Lima, to the industrial IRP in the city of Sao Paulo. This example is an emblematic expression of the modernist principles in architecture and urbanism adapted to the Brazilian context. Its relevance may be understood by the innovative and social character of associating to housing buildings social facilities, leisure, green area, road system, among others. It was sought to achieve spaces able to shelter and encourage a new working-class way of life which would be modern, collective, public and consistent with national development model stimulated at that time. The analysis focuses on the innovative aspects of the siting design proposal, linked to the housing typology, urban integration, density, design and urban infrastructure and open and collective spaces.

Keywords:: Social housing; Institute of Retirement and Pensions, IAP, Siting design.


1. INTRODUCTION

A quick glance at the recent social housing production in Brazil may suggest that the low quality of the housing development is a constant. However, the history of social housing in our country highlights the production of Institutes of Retirement and Pensions - IRPs, or IAPs in the acronym in Portuguese, which built a significant number of households with high-quality architectural and urban design. The radical nature of some of those housing projects was a disruption with the traditional view of deployment of units and urban integration, motivated by modern ideas. This paper presents an analysis of the Várzea do Carmo housing complex (1938-1942), designed by the architect Attilio Correa Lima, to the industrial IRP in the city of Sao Paulo. This example is an emblematic expression of the modernist principles in architecture and urbanism adapted to the Brazilian context. The analysis focuses on the innovative aspects of the siting design proposal, linked to the housing typology, urban integration, density, design and urban infrastructure and open and collective spaces.

2. THE SITING SCALE AND PROGRAMMATIC INNOVATION OF VÁRZEA DO CARMO HOUSING COMPLEX

The housing complex is located in the vicinity of Dom Pedro II Park, by the State Avenue and amidst the streets Luiz Gama, Otto Alencar, Leopoldo Miguez and Nina Rodrigues Square, in between the neighborhoods of Liberty and Cambuci. The design of Várzea do Carmo Housing Complex included two phases of implementation, comprising a total of 48 buildings, with 2880 housing units in the first phase and 59 buildings with 4038 housing units in the second phase1. They would achieve a density of 1250 inhabitants per hectare, distributed in six different types of vertical buildings blocks set within an extensive green park (Bruna, 2010; Bonduki, 2010, 2014).

The siting design was based on the distribution of the two main types of laminar blocks, following a North-South longitudinal orientation, so that most of long-stay rooms would face East, allowing better insolation conditions. These blocks were arranged interchangeably in a park aiming at creating several small public squares and also providing good lighting and ventilation. The proposal of a park, green areas and collective open areas was meant to qualify the whole housing complex, but above all to enrich the places of social welfare and community leisure. The abundance of nature shaping the volume of spaces sought to integrate the whole complex to the city, opening up through the open spaces, integrating the urban space, creating clear and shaded areas and passages that would structure all paths. Finally, the expected movement of pedestrians would baste the whole complex, through the zigzag paths giving access to housing buildings (Fig. 1).

Fig. 1: Implementation of typologies and services in Várzea do Carmo Housing Complex.

Source: Authors archives, 2014.

This siting design proposal clearly broke with the traditional urban design found in the city at the time, including the vicinity near the housing complex. Especially it broke away from the concept of urban plot, noticeable in the modernist distribution of blocks in the park and its morphology distinctive from the surroundings characterized by the permeability of the urban grid. Therefore, a proposal for apartments was held, with two bedrooms, living room, kitchen and bathroom whose area ranged from 45 sqm to 67 sqm. However, derived from this typology a variety of types of units, ranging from one to four bedrooms and corresponding variation both built area and the distribution of rooms (Table 1).

Here, innovation should again be highlighted, since design not only considered the constructive rationality praised by Modern Movement, but also provided flexible and adaptable typologies: for example, in buildings B type, one of the bedrooms can be incorporated either by an apartment, either by a neighboring unit. Such device allowed alterations even after the end of the construction process, which clearly shows an intention to adjust the units to the families’ demands.

"Housing Building Type of apart"ABCDJK
Type 1 (1 bedroom) 50,96 sqm7248
Type 2 (2 bedroom) 67,34 sqm3624
Type 3 (1 bedroom) 41,14 sqm5436
Type 4 (2 bedroom) 54, 39 sqm3624
Type 5 (3 bedroom) 75,04 sqm8
Type 6 (4 bedroom) 85, 04 sqm8
Type 7 (2 bedroom) 60,04 sqm8
Type 8 (2 bedroom) 54,03 sqm32
Type 9 (2 bedroom) 66,15 sqmv8855
Type 10 (2 bedroom) 66,15 sqm55
Total1982432132 + lojas88110

Table 1: Number of unities per housing typologies at Várzea do Carmo Housing Complex. Source: Municipal Engineering Journal, 1943. Edited by the authors.

However, the housing complex was not fully implemented. Only the blocks of B and C types were constructed, totalizing 22 blocks with four floors each, 584 housing units and some public gardens (Fig. 2).

Fig. 2: Current implementation of Várzea do Carmo H. C., 2013.

Source: Google Earth, 2013. Edited by the authors.

Over the years, the Várzea do Carmo H. C. underwent some changes. It is remarkable the closing of the buildings into condominiums. The courtyards between buildings were transformed into parking areas (Fig. 3). Condominiums exhibit different degrees of conservation and maintenance and, despite the individualized aspect of each set of blocks; greenery presence in open spaces is still notorious, as well in semi-public places then privatized, as in public spaces (Ranga, 2015).

Although the current complex materializes only a part of the project's ambitions, its construction was relevant to the city, as it enriched the landscape in which it is inserted, being clearly identifiable within the urban grid, without losing its integration with the neighboring landscape. The proposal's grandeur exemplifies how social housing was the way envisioned by some architects as a means of introducing habits and a modern way of life, and also how it could be able to break away from social injustice and retrograde production practices in urban areas. Its prevailing progressive orientation instilled in working classes habits distinct from those brought from the countryside, or even from prior urban experiences in spontaneous environments considered undeveloped.

The distribution of the units in the park and especially the complex and extensive architectural program associated with the housing project reflect the particular view and intention of some architects in the period to create collective parks able to house working class social life. This expresses how Brazilian architecture and urbanism could face the challenge to introduce modernity into the city and society. The main component of these modern ideas was the neighborhood unit, which put in relationship services and urban facilities, on one side, and the social life of a neighborhood, on the other side, highlighted in the present study of the complex siting.

Interventions such as the Várzea do Carmo H. C. encouraged the construction of major urban complexes, which contributed to implement in Brazil several principles of the Modern Movement. Their relevance is due not only by their extensive built area, but also for their innovative social character which associated residential buildings with social facilities, leisure, green area, road system, among others. It was a search to achieve spaces that would house and encourage a new working-class way of life, modern, public, consistent with the national development model fostered by the Government at that time.

The initial proposal of the housing complex - with no closings, such as walls and fences - intended making that circulations between blocks created connections with neighboring adjacent areas, especially locating public and collective buildings the edges of the housing estate. This would create a gradation of flows within the complex, forming a protection for residential areas located in the plot most central areas. Moreover, this would contribute to the control and security of open areas, allowing for housing areas the gradual reduction of flows, increasingly directed for residents.

Fig. 3: Buildings of Várzea do Carmo H. C. (2013): general status of conservation, parking areas in former courtyards, and blocks closed in current condominiums.

Source: Authors archives, 2013.

The proposal of a green area was associated with designed circulations, such as sidewalks with different sizes for each flow contingent, as wider sidewalks are found in places for public use. Housing areas could be accessed by serpentining paths surrounded by green areas, within large blocks, interrupted by transitional areas formed by the ground floor of the building type A, those with 11 floors over pilotis (Fig. 4). Thus, it is possible to note the constant intention of modern aesthetics application to the composition of the entire complex.

Fig. 4: Organization of access and road system and use of areas.

Source: Authors archives, 2014.

Currently, paths that would lead pedestrians from the street to the stairwells, in the core of the blocks, are unorganized, including some small buildings that cluttered the original buildings marking. The major loss carried by the changes made by residents over the years was undoubtedly the modernist frame of loose housing blocks in the park, by a numberless of subdivisions in fenced and walled condominiums with access control (Fig. 5). Such divisions evidence a return to traditional city: the urban plot redesigned by residents in condominiums have transformed collective and public spaces in controlled and private spaces, partially eliminating the sense of collective life that the architect intended to foster in his proposal. Social conditions for collective experience intended in the original design were totally changed by setting more sterile spatial relationships between the housing estate and its environment. In some parts of the housing complex, it is no longer possible to realize the permeability of the original urban grid due to the construction of so many walls and fences surrounding the open spaces between housing blocks. Indeed, their spatiality became identical to that of a street-corridor (Fig. 5), completely compromising the permeability of public space through the complex.

Most of IAPs projects did not provide parking areas, since at that time private car were not as frequent as nowadays. This problem was solved by inhabitants over the years, which got used to occupy free areas for parking, as well as other public spaces such as interstitial squares between building blocks and areas left empty where eleven floors blocks were initially planned. However, if the whole complex was fully implemented, free areas could provide parking in pockets along the housing development.

Fig. 5: Várzea do Carmo H. C. (2013): closing in condominiums, loss of urban permeability, built walls and fences to close the original collective open areas and access control.

Source: Authors archives, 2013.

Despite the treatment of full accessibility, as mentioned above, the implementation of public buildings in the edges ranks flows and valorize collective areas. Thus, also public open spaces, connected to green elements, conciliate a transition between public and private sectors, in addition to the uses flexibility. This sets up various kinds of occupation and appropriation according to the scale of those locations. Spaces between housing buildings as open courtyards, for example between B and C blocks, are convenient for staying and leisure. Their situation offers to residents of nearby apartments an overview, making control easier.

Even with closings and fences, open and green areas are remarkable in the landscape and allow the neighborhood to develop convivial relationships (Fig. 6). It is noticeable the search for a sense of community, as the sitting design created places that conform transitional areas of flows and privacy, such as the space between the housing buildings, besides areas intended for buildings public and collective use, ensuring the safety of these locations for their proximity to housing units.

Fig. 6: Várzea do Carmo H. C. (2013): current collective open areas.

Source: Authors archives, 2013.

The open spaces that permeate buildings create green areas at different scales. Buildings entrances are opened to green areas as well as the balconies provided in buildings type A. They provide transition areas between public spaces and housing units (Fig. 7) putting in evidence the architect's concern to qualify the park as a place for conviviality and leisure.

Fig. 7: Green areas of Várzea do Carmo Housing Complex.

Source: Authors archives, 2013.

The proposal of a large neighborhood unit, which should be self-sufficient related to the environment, determined a layout design with large open blocks and buildings higher than the neighboring ones. Thus, high density combined with a low 18.5% soil occupancy rate enabled the provision of several open spaces, taking advantage of the best conditions of the terrain, fostering identity somehow, despite the rigid framework defined by laminar blocks perpendicularly to the main streets.

3. CONCLUSIONS

The example of Várzea do Carmo housing complex, aside to other IRPs projects, presents its siting plan as one of its major innovations, sufficient for insertion into the city from a modern point of view, especially to avoid the usual segregation of working class dwellings. By including in the siting plan urban facilities such as schools, kindergartens, parks and sports fields, among others, the proposal targeted far more than meeting residents’ daily needs: it also allowed such places to play an integrating role among communities beyond the housing complex borders.

This aspect could have been a much larger scope if the original architect's design had been fully implemented, especially by integrating urban scale facilities such as a hotel and a bus terminal.

The creative aspect of IRPs housing production is precisely its proposal of a modern solution in a Brazilian way in connection to a new social order once revealed. Freed up from rigidity, yet employing Modern Movement social aspects, Várzea do Carmo's housing solutions contributed to the breaking of a conservative view of the urban, without completely embrace progressive rules, but still far from the socialist utopia. Even though not concluded, Várzea do Carmo H. C. reveals a promising vision of a more inclusive and egalitarian city. The design choice of rental collective housing blocks, with a large number of social and communitarian facilities can be considered a clear expression of the view of some architects opposed to the concept of the detached houses, model encumbering the city by extensive horizontal expansion and prioritizing individualism over collective feelings.

The radicalism of IRPs' modern collective housing proposals aimed, above all, at constructing a society that demanded a new way of living and its consequent innovation, treating the working class housing from new formal perspective, as well as productive, social and cultural. More than that, the so-called programmatic indiscipline of Brazilian modern solutions (Arantes, 1977) was here expressed through the application of modern lessons in a diverse social context which underlined more clearly the ideology of the new international order.

Currently, concepts referring to the humanization of living claim that dwelling construction must be directly related to the development of local communities (Coelho, 2009). Since the 1980s, several studies emphasize the importance of the sense of community in association with urban design to the conservation and maintenance of residential areas, especially because of its connection with users satisfaction related to the built environment. It mainly takes into account scale relations for better social cohesion, as the dimensional aspect of flows and streets, and the inclusion of mixed use into these sites (Shigeharu and Kanashiro, 2014). Therefore, it is stressed that the housing design undertaken by IRPs, due to the quality of its public spaces layout, is aligned with these issues, proposing a variety of transitional spaces, pathways, privacy and uses, approaching buildings scale to the human one.

Public housing provision remained unaltered since over half a century and, from the BNH programs - [the National Housing Bank, discontinued in 1986], relevant public facilities are absent from housing complexes design. The same standard type has been continuously repeated which only includes dwellings, streets and parking plots. This choice sets a barren and monotonous landscape on the peripheries of cities which is being also repeated unfortunately through the production of the Minha Casa Minha Vida federal housing program. Thus, in addition to segregation, the location of such complexes in areas far from urban centers seems to create a pattern for large-scale housing developments, ‘[...] that prioritize the high population density in neglected areas of the periphery and have generated environmental impact not consistent with acceptable parameters, as well as hindered physical and emotional users well-being’ (Barros and Pina, 2010, p.122, our translation2).

Urban integration of IRPs complexes related to their siting design allowed their development in approaching human to urban scales through their public spaces, proposed as transition areas between dwellings and the city, entering and expanding urban housing as a cell inseparable from its adjacent areas.

The study of this IRPs architectural project demonstrated that the success of such projects was directly related to the quality of public spaces, approximating dwelling provision and urban development with a special view to community scale, ie, the neighborhood unit. The relevance of IRPs housing production is not only an example of architectural and urban design, but it is also a warning fostering new reflections within Brazilian architecture in relation to its social role in the production of a more dignified and egalitarian city.

REFERENCES

Arantes, O. B. F., 1977. Do universalismo moderno ao regionalismo pós-crítico In: L. A. F. Cardoso and O. F. Oliveira, Orgs. 1977. Rediscutindo o Modernismo. Salvador: EUFBA.

Barros, R. R. M. P. and PINA, S. A. M. G., 2010. Uma abordagem de inspiração humanizadora para o projeto de habitação coletiva mais sustentável. Ambiente Construído, July/September, 10 (3), pp.121-135. Available at: <http://seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/ view/12890> [Accessed 14 March 2012].

Bonduki, N., 2010. Habitação social na vanguarda do movimento moderno no Brasil. In: A. Guerra, org. 2010. Textos fundamentais sobre história da arquitetura moderna brasileira. Parte2. São Paulo: Romano Guerra.

Bonduki, N. org., 2014. Os pioneiros da habitação social: Cem anos de política pública no Brasil. São Paulo: Editora Unesp: edições SESC São Paulo, 2014.

Bruna, P. J. V., 2010. Os primeiros arquitetos modernos: habitação social no Brasil 1930-1950. São Paulo: Edusp.

Coelho, A. B., 2009. Entre casa e cidade, a humanização do habitar. In: A. Tavares, ed. 2009. Opúsculo 18: Pequenas construções literárias sobre arquitetura. Porto: Dafne Editora, pp.1-20. Available at: <http://www. dafne. com. pt/ pdf _upload/ opusculo_18. pdf> [Accessed 06 June 2012].

Ranga, N., 2015. Implantação de Conjuntos Habitacionais: As Lições da Produção dos Institutos De Aposentadoria e Pensões. Master. Universidade Estadual de Campinas.

Shigeharu, M. A. and Kanashiro, M., 2014. Avaliação do senso de comunidade em áreas residenciais: uma análise de instrumentos existentes. 3rd Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, Brazil. São Paulo: ANPARQ, pp.1-11. Available at: <http://www.anparq.org.br/dvd-enanparq-3/htm/Artigos/SC/ORAL/SC-EPC-025_SHIGEHARU_KANASHIRO.pdf> [Accessed 26 March 2015].

1 Architectural design published in the Revista Municipal de Engenharia journal, 6(9), nov. 1942. pp.3-12.

2 From the original in Portuguese: ‘empreendimentos [...] que priorizam o alto adensamento populacional em territórios negligenciados da periferia e que têm gerado impacto ambiental não condizente com os parâmetros aceitáveis, bem como dificultam o bem-estar físico e emocional dos usuários’ (Barros and Pina, 2010, p.122)