NOMADS: Quais principais conceitos podem se relacionar diretamente com seu trabalho?
SPUYBROEK: Há diferentes conceitos que eu venho desenvolvendo há anos. Meu maior tema é o machining, que significa procedimentos informacionais influenciando os diferentes estágios da produção arquitetônica. Machining se dá em três estágios: antes de algo ser construído, (procedimentos de design), durante a construção (técnicas de fabricação) e após a construção estar pronta (interatividade, experiência, etc.). Esta é minha "maior" matriz de pensamento. Meus temas específicos em arquitetura são, por um lado, o entendimento da organização de variação e, por outro lado, a relação entre percepção e ação, ou em termos arquitetônicos, entre parede e piso, ou estética e programa.NOMADS: Qual a relação entre o seu trabalho e outras disciplinas criativas (como arte, literatura, cinema, música, etc.)?
SPUYBROEK: Principalmente arte. Em relação aos outros, não faço nenhuma relação com cinema ou literatura. Eu me interesso por arte. Na verdade, um terço do meu trabalho é como artista, pelas pesquisas específicas que eu posso fazer sobre a natureza da experiência: como a experiência no aqui e agora afeta decisões de uma pessoa? Em arquitetura, tudo tem a ver com rotinas e hábitos, ações consideradas repetitivas, como se o tempo não existisse. Na arte, eu consigo ver que o contrário é igualmente importante. Programaticamente falando, meu trabalho sempre aborda a relação entre hábito e experiência, entre o formal e o informal, não como opostos, mas existindo em um continuum.NOMADS: Quais são as suas principais referências?
SPUYBROEK: Há tantas, eu dificilmente tenho referências específicas em arquitetura. No lado negro da arquitetura, eu adoro Jujol, o braço-direito de Gaudi, eu adoro Borromini (mais por seu caráter melancólico do que pelo seu trabalho em si), Nicholas Hawksmoor (com seu trabalho surpreendentemente belo), adoro também os irmãos Asam, do sul da Alemanha, figuras barrocas singulares. No lado histórico da arquitetura eu amo Mies mais do que Corbusier (sim!), Louis Kahn, Schinkel – eu sei que você não esperava por isso! Mas no lado mais importante da arquitetura, o lado da pesquisa e não do projeto, eu adoro Buckminster Fuller, Frei Otto e Gaudi, porque eles trabalham com princípios e máquinas de design.NOMADS: Que artistas da atualidade inspiram você? Que arquitetos atuais você indicaria para a nossa pesquisa?
SPUYBROEK: Artistas: Olafur Eliasson, Matthew Barney, Tim Hawkinson, Knowbotic Research.
Arquitetos: Nenhum. Com os arquitetos contemporâneos, eu sempre vejo suas falhas mais claramente do que suas grandezas. É preferível deixar esse assunto de lado, do que ver grandezas.
02 ESCRITÓRIO
NOMADS: Como se estrutura atualmente o seu escritório?
SPUYBROEK: Eu sou o chefe. A organização do escritório depende do projeto. Primeiro, eu faço uma análise do projeto: o que podemos fazer, o que devemos fazer, como vamos fazê-lo? Geralmente eu organizo o projeto por diferentes ângulos ao mesmo tempo: programa de um lado, mecanismos formais de outro. Isto significa que há um grupo trabalhando nas questões programáticas sem ver o trabalho do outro grupo, que trabalha sobre técnicas formais específicas que eu quero desenvolver para aquele projeto. É claro que eu próprio sei quais questões programáticas estão por trás da pesquisa formal, e quais questões formais estão por trás da pesquisa programática, mas eu sempre achei que as pessoas no escritório começam a ter respeito demais pelos pontos de vista dos outros quando o trabalho em equipe é feito de forma muito próxima. Programa e circulação têm de ser fortemente limitados em um escritório, têm de ser quase “vigiados”.NOMADS: Vocês contratam profissionais de outras áreas para integrar as equipes? Como isso funciona?
SPUYBROEK: Não, mas as pessoas no escritório são bastante diversas: há arquitetos muito bons em todos os níveis, junto a pessoas mais especialistas, como em modelagem 3-D, ou em scripting computacional, ou em cálculos.NOMADS: Quais os principais programas de computador que você usa no escritório, durante o processo de criação?
SPUYBROEK: Nos estágios iniciais, sempre Maya e Rhino para modelagem, (incluindo seus módulos de scripting, como MEL), e Ilustrator para diagramas. Depois, tudo se torna AutoCAD.
03 HABITAÇÃO
NOMADS: Como você acredita que deveria se configurar a Habitação na atualidade para atender as transformações da sociedade contemporânea, incluindo os novos modos de vida e a inserção das novas tecnologias?
SPUYBROEK: A habitação sempre foi controlada por tipo: tipos fixos para entidades sociais fixas como a família, os idosos, o indivíduo que mora sozinho, etc. Isso explodiu, pelo menos na Holanda: há hoje em dia tantos tipos que não se pode mais chamá-los de tipos. Por outro lado, a economia e a renda têm um papel muito importante no planejamento espacial. Então, o tema principal é “variação”, que é sutilmente diferente do que sempre foi chamado de “flexibilidade”. Flexibilidade sempre foi uma abertura a longo prazo para mudanças. Variação é uma flexibilidade a curto prazo que compreende que a preferência da flexibilidade por neutralidade na verdade não permite que as pessoas façam escolhas. Portanto, variação é ao mesmo tempo flexibilidade formal e programática.NOMADS: O que mudou no processo de projeto de uma casa, nesta chamada “Era Digital”? Como você trabalha?
SPUYBROEK: Pelo fato de eu ver o projeto como uma forma de “diferença organizada”, ou “variação organizada”, o computador é a única ferramenta para gerenciar isso. Isso funciona da mesma maneira para o projeto da habitação. “Organizada” basicamente significa esperar que toda variação tem suas limitações e precisa de uma estrutura. Para dar um exemplo biológico, uma zebra não é um cavalo, e as diferenças entre as zebras são menores do que a diferença entre um cavalo e uma zebra. Como o filósofo Bergson coloca: há diferenças em tipos, e há diferenças em graus. Portanto, no projeto da habitação o tipo ainda conta, mas não da mesma maneira que contava anteriormente.
Uma casa semi-isolada ou isolada, uma casa em fileira ou um prédio ainda são muito diferentes uns dos outros, não? Variação pode funcionar nas interfaces entre elas, mas geralmente a variação existe na estrutura de um tipo. O que eu faço é encontrar técnicas para isso, encontrar níveis de variabilidade. É como o design de carros: há uma BMW (por exemplo) com todos os sonhos e desejos ligados a esta marca. Depois, há uma escolha: você quer um modelo da série 1, 3, 5 ou 7? Depois dessa escolha há a embalagem: você prefere Eco, Família, Esportivo, Conforto, etc. etc.. Para esse carro você pode escolher embalagens mais específicas, que o tornam mais "a sua cara”. Depois, no final, há os acessórios, os extras, que o torna plenamente seu. Assim, há todo tipo de etapas entre a marca e o indivíduo: marca, modelo, embalagem, acessórios.
Isso é chamado de customização em massa, ou próximo disso, e é o que estou fazendo com casas. Não é exatamente habitação, que sempre parece muito próximo de habitação social. Meu projeto tem uma natureza mais de bairros residenciais. Estou chamando esse projeto de MyHouse, mas será um projeto de muito longo prazo e não está absolutamente finalizado ainda. Estou trabalhando neste projeto com um investidor aqui da Holanda. Não é um projeto totalmente radical como o projeto “OffTheRoad” que eu fiz em 1999, mas é uma versão sensível dele.NOMADS: Dê um exemplo de bom projeto contemporâneo de habitação, e explique a razão da sua escolha.
SPUYBROEK: MyHouse, é meu, mas ainda está em andamento. É quase contemporânea.
04 WEBSITE
NOMADS: Quais relações possíveis você enxerga entre o seu site na internet e a sua produção?
SPUYBROEK: Nenhuma, eu lamento. Eu pedi a um designer muito bacana (Diogo Terroso) e ele fez meu website.
É apenas um catálogo, muito simples, mas pela qualidade do seu design, é claro que é "representativo" do que o NOX faz.NOMADS: Qual a importância do seu site para o escritório atualmente?
SPUYBROEK: Não há muito retorno. Ele atrai muitos visitantes, mas eu sinto que são na maioria estudantes, e não clientes ou jornalistas. Em arquitetura, clientes não agem desta maneira.
05 ENSINO
NOMADS: Como os conceitos sobre a “cultura digital” influenciam suas aulas e como você conduz discussões sobre esses assuntos com seus alunos?
SPUYBROEK: Eu faço várias coisas. Sou professor titular de Design Digital em Kassel, Alemanha (www.digital-design-techniques.de). Também sou professor visitante na Columbia, em Nova Iorque e na ESARQ, em Barcelona. Geralmente eu ensino metodologia de design. Ensino aos alunos que todas as decisões de projeto baseiam-se em regras, e por basearem-se em regras são paramétricas, isto é, variáveis. Às vezes os alunos fazem 12 versões de um projeto. Não apenas para apresentar variações, mas para entender que decisões de projeto são conjuntos de decisões e que a variabilidade influencia o objeto em si. Portanto, não são apenas curvas, ainda que uma curva seja a principal expressão de variação: é também entender que as curvas apenas se curvam (sempre são inicialmente retas) em relação a outras, e não sozinhas. Estas técnicas são o que chamo de técnicas de Figura-Configuração. A figura contém uma certa quantia de variabilidade, a configuração fixa aquela figura nas outras. Assim, parte e todo se influenciam mutuamente o tempo todo.NOMADS: Como poderia ser o curso ideal de arquitetura hoje?
SPUYBROEK: “Esqueça o que você aprendeu”, a aula começa às 9:00h.
.
NOMADS: Which major concepts would be directly related to your work?
SPUYBROEK: There are many concepts I have been developing for years. My biggest theme is “machining”, which means informational procedures influencing the different stages of architectural production. Machining happens on three levels: before something is built (design procedures), during the building (manufacturing techniques) and after the building has been built (interactivity, experience, etc.). That is my “larger” framework of thought. My specific themes in architecture are on one side the understanding of the organization of variation, and on the other side the relationship between perception and action, or in architectural terms, between wall and floor, or aesthetics and program.
NOMADS: Which relations do you see between your work and other creative disciplines (as art, litterature, cinema, music, etc)?
SPUYBROEK: Mostly art, for the other I don’t see any relationships with cinema or literature. I am interested in art, actually a third of my work is as an artist, because of the specific research I can do in the nature of experience: how does the experience in the here and now effect a person’s decisions? In architecture everything is about routines and habits, about acts that are considered repeatable, like time doesn’t exist. In art I can see that the reverse is as important. Programmatically speaking my work is always about the relationship between habit and experience, between the formal and the informal, not as oppositions but existing in a continuum.
NOMADS: What are your most important references?
SPUYBROEK: There are so many, I hardly have specific references in architecture. On the dark side of architecture I love Jujol, the right-hand of Gaudi, I love Borromini (but more for his melancholic character than for his work), I love Nicholas Hawksmoor (amazingly beautiful work), I love the Asam Brothers, in Southern Germany, strange Baroque figures on the side. On the historical side of architecture I love Mies more than Corbusier (yes!), Louis Kahn, Schinkel – I know you weren’t expecting that! But on the most important side of architecture, the side of research not of design, I love Buckminster Fuller, Frei Otto and Gaudi, because they work with principles and machines of design.
NOMADS: Which contemporary artists inspire you? Which present day architects would you recommend to our research?
SPUYBROEK: Artists: Olafur Eliasson, Matthew Barney, Tim Hawkinson, Knowbotic Research.
Architects: None, with contemporary architects I always see their flaws more clearly than their greatness. To see greatness it is preferred that the subject be dead.
02 OFFICE
NOMADS: How is your office currently structured?
SPUYBROEK: I am the boss. The organization depends on the project. So, first I do an analysis of the project: what can we do, what should we do, how are we going to do it? Generally I set up the project from different angles at the same time: program on one side, formal machining on the other side. This means that there is one group working on programmatic issues without seeing the work of the others, another group is working on specific formal techniques I want to develop for that project. Of course I myself know what the programmatic issues are behind the formal research, and what the formal issues are behind the programmatic research, but I have always found that people in the office start to have too much respect for each others views when the work is done too closely together. Program and circulation have to be strongly defended in an office, they have to be ‘policed’ almost.
NOMADS: Do you employ professionals from other disciplinary areas to be a part of your teams? How does this work?
SPUYBROEK: No, but the people in the office are very diverse: there are very good architects on all levels, next to people that are more specialists, like 3D-modelling or computational scripting or calculation.
NOMADS: What are the main software programs used in your office? Which software programs are used during the creation process?
SPUYBROEK: In the early stages always Maya and Rhino for modeling (including their scripting modules like MEL), and Illustrator for diagrams. Later it all becomes AutoCAD.
03 HABITATION
NOMADS: How do you believe that present day housing could be adapted to accommodate the changes in today’s society, including the new way of life and considering the insertion of the new technologies?
SPUYBROEK: Housing was always controlled by type: fixed types for fixed social entities like the family, the elderly, the one-person household, etc. That has exploded, well, at least in the Netherlands, there are now so many types, you can’t call them types anymore. On the other hand economy and income play a very important role in spatial planning. So, the main theme is ‘variation’ which is slightly different than what was always called ‘flexibility’. Flexibility was always long-term openness to change, variation is more shorter term flexibility and it understands that flexibility’s preference for neutrality actually doesn’t allow people to make choices. So, variation is both a formal and programmatic flexibility.
NOMADS: In this so-called “Digital Era”, what has changed in the housing design process? How do you work?
SPUYBROEK: Since I understand a design as a form of “organized difference” or “organized variation”, the computer is the only tool to manage that. So, this works the same way for housing design. “Organized” basically means expecting that all variation has its limits and needs a framework. To put it biologically, a zebra is not a horse, and the differences between zebras are smaller than the differences between a zebra and a horse. As the philosopher Bergson put it: there is difference in kind, and there is difference in degree. So, in housing design type still counts but not in the way as it did before. A semi-detached or detached house, a row house or a block are still very different from each other, no? Variation can work in between, but generally variation exists within the framework of a type. What I do is find techniques for that, finding levels of variability. It is like car design, there is a BMW (for instance) with all of its dreams and desires connected to that Brand. Then there is a choice, do you go for a 1-, a 3- or a 5- or even a 7-series Model? Then, after that choice there is the Package, are you Eco, Family, Sports, Comfort, etc. etc. For that car you get specific packages of choice that make the car more “yours”. Then, at the end, there are the Accessories, the extras, that make it fully yours. So, all kinds of steps between the Brand and the individual: brand, model, package, accessories. This is called mass-customization, or close to it, that’s what I am doing for houses. This is not so much “housing” which is always close to social housing, my project is more suburban in nature. I am calling the project myHouse, but will be a very long-term project and is not at all finished yet. I am working on it with a developer here in Holland. It is not as totally radical as the OffTheRoad project I did in 1999, but it is a sensible version of it.
NOMADS: Please give me an example of a good contemporary habitation project, explaining the reason of your choice.
SPUYBROEK: MyHouse, it’s my own, but still underway. It is almost contemporary.
04 WEBSITE
NOMADS: What possible relations do you see between your website and your work?
SPUYBROEK: None, I am sorry. I just asked a very nice designer (Diogo Terroso) and he did my website. It is just a brochure, very simple, but because of its design quality it is of course “representative” of what NOX does.
NOMADS: What is the importance of the website to your office at the present time?
SPUYBROEK: Not a lot I gather, it gets a lot of visitors but my feeling is they are mostly students, not clients or journalists. Clients in architecture don’t work that way.
05 TEACHING
NOMADS: How do the concepts about ‘digital culture’ influence your teaching and how do you conduct discussions on this way with your students?
SPUYBROEK: I do different things. I am a full professor of Digital Design in Kassel, Germany (www.digital-design-techniques.de). But also Visiting professor at Columbia New York and ESARQ Barcelona. Generally I teach methodology over design, I teach students that all design decisions are rule-based and when they are rule-based they are parametric, that means variable. Sometimes students do 12 versions of one project. Not just to show off with variation, but to understand that design decisions are sets of decisions and that the variability influences the single object. So, it is not just curves, though a curve is the main expression of variation, it is also understanding that curves only curve (they are always straight first) in relation to others, not by themselves. These techniques are what I call Figure-Configuration techniques. The figure contains a certain amount of variability, the configuration locks that figure into the others. So, part and whole influence each other the whole time.
NOMADS: What would be the ideal architectural degree course today?
SPUYBROEK: “Forget what you have learned”, class starts at 9.00 hrs.
.
projetos nox no site do nomads
nox projects on nomads' site