Ainda hoje, no século XXI, a tripartição da habitação parisiense que nasceu durante as reformas do barão Haussmman é modelo para as habitações contemporâneas, onde podemos identificar as áreas íntima, social e de serviço.
Percebemos que nesse dois séculos muito aconteceu em relação aos hábitos da população, a composição do grupo doméstico, a economia e aos novos meios de comunicação, porém poucas novidades estão refletidas no ambiente doméstico. Desejos e necessidades dos moradores não são levados em conta pelos produtores de moradia, que repetem as mesmas soluções em diversos empreendimentos.
Durante a análise do material coletado algumas soluções se mostraram mais freqüentes, como o surgimento do terceiro ou quarto dormitório reversível. Resultados de plantas cada vez menores, esse quarto é um atrativo de mercado e uma reserva de área para as habitações.
Soluções como sala em “L” também se mostrou muito presente, onde o espaço da sala de estar está conjugado com o da sala de jantar. Percebemos que esse espaço, previsto em layout como espaço de refeições, é resultado da articulação dos cômodos e não necessariamente planejado, já que são quase sempre é mal iluminados e ventilados.
O que notamos é uma nova vertente nos anúncios dos anos 2000. Se na década passada a preocupação era anunciar o espaço da habitação, vemos hoje anúncios que valorizam os espaços comuns. Nos últimos anos a oferta de equipamentos no espaço coletivo vem aumentando consideravelmente. Os recuos estão sendo usados como espaço coletivo, assim o espaço entre o edifício e o muro abrigam jardins, pista de cooper, pomares e espaço recreativos.
Os anúncios estão enfatizando também a oferta de sistema de segurança. Tal fenômeno se apóia na sensação de medo, crescente numa parcela significativa da população, mesmo que não haja ameaça reais.

"Ao invés de ir para o trabalho deixando os filhos pequenos serem levados para uma pracinha da vizinhança pelas mãos de uma babá que é, no fundo, uma desconhecida, os pais mais ricos passaram a preferir que a pracinha viesse fazer parte dos domínios protegidos do edifício. Foi o que bastou para que tais empreendimentos se dotassem não só de espaços para crianças, mas também de grades, muros, guaritas, câmeras, bloqueios e agentes de seguranças, em uma espiral que não parou mais de subir." (TRAMONTANO, 1998)

As análises e leituras apresentadas nesse relatório, assim como o banco de dados complementado durante a pesquisa auxiliarão diversas outras pesquisas em curso no Nomads.usp.