NUMA DANCETERIA COOL DA NOITE PAULISTA, UMA HISTÓRIA QUE NUNCA CHEGARÁ AO FIM

Ela estava sentada em um canto do bar e quase não conseguia ouvir as palavras que lhe atravessavam. Olhava a pista de dança. Ouvia o som que permeava o seu corpo, mas é como se não conseguisse se sentir inteira aquela noite. O corpo misturado na fumaça, como se estivesse com a boca escancarada na saída de um escapamento de carro. O que estava faltando? Aquelas imagens de corpos e copos corriam ao seu redor, mas no seu corpo ganhavam outro feitio. Talvez por afeição, talvez por sofrimento ou simplesmente porque "é-assim-mesmo-que-a-vida-se-organiza". Antes de fazer parte de tudo que (não) conseguia perceber, eles

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Texto de Chris Greiner
Texto de Carlos Roberto
Monteiro de Andrade
Texto 'O corpo, a alma, o
tempo: pequenas
histórias', de Chris Greiner

eram os corpos, os copos, a imagem do seu corpo perturbado pelo que via e sentia, a mudança de estado do seu corpo já contaminado pela nova informação e o modo como então percebia apenas uma pequena porcentagem de tudo o que rolava naquele instante. Parece que é sempre assim. No bar, em casa, na sala de espera de um hospital ou na feira, percebemos e somos conscientes de apenas 5% do que acontece conosco o tempo inteiro. O resto vive apenas em estado de construção, porque a cada instante já não é mais o que era antes. Inclusive nós mesmos.