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O que se espera,
em relação às várias possibilidades exploradas nos projetos selecionados,
é que novas configurações do espaço possam ser observadas em relação ao desenho
interno das habitações, e que tragam em sua essência desdobramentos dos principais
conceitos sob os quais se estruturam os modos de vida atuais, relativos a
novas possibilidades tecnológicas, fundamentalmente. O espaço que abriga as
necessidades geradas por este viver é um lugar onde cruzam-se a maioria dos
fluxos que compõem a malha comunicacional - concreta e virtual - da metrópole.
Do ponto de vista das possibilidades conceituais e técnicas apresentadas nos
projetos selecionados, este espaço privado pode assumir papéis mais diversificados
e com um espectro muito mais amplo na relação entre as esferas pública e privada,
ou nas atividades da vida doméstica. E essa diversidade relaciona-se, certamente,
com os processos de hibridização entre os meios de comunicação, a partir de
meados do século XX.
A possibilidade de ajuste do espaço doméstico aos comportamentos individuais
de seus usuários, segundo os equipamentos e elementos construtivos disponíveis
hoje, já é experimentada em alguns dos casos estudados, e parece indicar um
cenário onde os propositores de espaços habitáveis são responsáveis por uma
concepção de possibilidades espaciais, ao invés de um produto final acabado.
Este produto depende das intenções de seu usuário, e não é determinado rigidamente
pelos conceptores, processo similar aos de sites na Internet em construção
contínua.
Nesta paisagem de possibilidades quase infinitas, em relação ao fluxo de informação
e à interatividade, a linha do horizonte parece ser determinada pela evolução
tecnológica das interfaces das trocas de informação à distância. Estes limites
impostos pela interface, delineando o alcance humano na exploração do espaço
virtual, podem ser lidos em vários exemplos onde se estabelecem limites físicos
nas formas contemporâneas de viver. Nesta comparação, a interface pode ser
considerada como uma possível fronteira, a partir da qual podem ser lidas
formas de se apropriar da situação limítrofe a favor de novas propostas projetuais.
As atuais fronteiras existentes nas formas de acesso à informação parecem
também definir, sob vários aspectos, e em vários níveis de escala, os limites
do espaço concreto, os quais são comentados a seguir.
A representação da cidade contemporânea não é mais determinada pelo cerimonial
de abertura de portas, o ritual das procissões, dos desfiles, a fileira das
ruas, das avenidas. A arquitetura urbana deve, daqui por diante, compor-se
com a abertura de um espaço-tempo tecnológico. O protocolo de acesso da telemática
segue então aquele do portal. À sucessão das portas segue-se a abertura dos
bancos de dados, a dos ritos de passagem de uma cultura técnica que avança
mascarada pela imaterialidade de seus componentes, de suas redes diversas,
cujas tramas não se inscrevem mais dentro do espaço de um tecido construído,
mas dentro das seqüências de uma imperceptível planificação do tempo em que
a interface homem/máquina substitui as fachadas dos imóveis, as superfícies
dos loteamentos.
Num momento inicial, semelhante ao que vivemos atualmente, as novas tecnologias
serão integradas ao espaço que reconhecemos por tradicional, para lentamente
se integrar às várias condições que possam orientar mudanças nos modos de
morar.
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