A ação humana potencializada
pelas TICs, a partir de uma nova instância virtual, vem sendo explorada
em larga escala, através de trabalhos das mais diferentes naturezas e em
várias partes do mundo, como experimentos onde podem ser verificados conceitos
mais relevantes para a época atual, também reconhecíveis em outras manifestações
culturais contemporâneas. No campo da arquitetura, também existem experimentos
diversos, a partir dos quais tornam-se possíveis caracterizações dos usos
de espaços, a partir de novos equipamentos informatizados. A produção arquitetônica
atual, em especial de espaços de habitação, tem à sua disposição a utilização
de meios informatizados, que pode ser dada em todas ou apenas em algumas
das suas distintas fases de projeto, da concepção ao uso. Inicialmente,
observa-se que uma considerável parcela desta produção é intuitiva, ou tende
a aplicar novos conceitos e novos usos a espacialidades convencionais. Com
o objetivo de se chegar à essência de critérios que podem orientar projetos
de espaços residenciais, a pesquisa aqui apresentada utiliza uma seleção
de projetos de habitação, cujos conceitos básicos advêm ou dialogam com
o campo da Virtualidade.
Nesse conjunto, são apresentados exemplos de reflexões sobre concepção espacial,
onde método e produto tendem a se relacionar com aspectos da chamada cultura
digital. Sistematizada segundo tópicos, esta seleção de projetos é utilizada
na intenção de investigar e reconhecer as essências nos discursos daqueles
que estão propondo novas maneiras de ocupar o espaço da habitação.
Durante a era industrial,
a produção serial respondeu às necessidades de consumo em massa, assim como
uma economia baseada, fundamentalmente, no emprego de métodos repetitivos
para a fabricação de produtos. Na era da informação, os equipamentos de
comunicação, frutos de uma produção industrial já consolidada, tornam-se
menores e, já utilizados na maioria dos espaços domésticos, indispensáveis
nas funções cotidianas deste espaço. Assim Nicholas Negroponte esboça a
trajetória das máquinas informatizadas que hoje equipam o interiore das
habitações. Para ele, já vivemos a era da pós-informação, onde a comunicação
em massa, que atendia demandas de grupos ou regiões, passa a ter um público
composto por uma única pessoa. A informação é personalizada, mas esta customização
informacional é uma tarefa individualizada, cabendo ao usuário dos meios
de comunicação a tarefa de editar o conteúdo informacional que lhe interessar,
em momentos e espaços determinados. Temos nos acostumado a acessar instâncias
abstratas e não lineares ao utilizarmos processos de trocas de informação
que, para Norbert Wiener, autor do livro “Cibernética e Sociedade”, dizem
respeito ao nosso ajuste ao nosso viver em um determinado meio ambiente.
Este acesso se dá a partir de meios de comunicação baseados em processos
numéricos, considerando que a menor parte em que uma informação pode ser
dividida é o bit, assim como o átomo em relação à matéria. Este modelo comparativo,
colocado por Negroponte, parece ser uma adequada metáfora para o momento
atual, colocando novas possibilidades de organização informacional à disposição
do interesse humano. À idéia de digitalização de vários aspectos da vida,
associa-se, conseqüentemente, uma cultura cujos princípios partem da edição
individual das informações obtidas das mais diferentes formas, assim como
da interatividade em processos informacionais que anteriormente eram fechadas
em si, por se tratar, radicalmente, de átomos e não de bits. Processos estanques,
solitários e, conseqüentemente, unilaterais, tornam-se processos contínuos,
em andamento, constituindo uma rede invisível e imaterial onde é vivida
uma experiência de produção coletiva.
Neste contexto de globalização da economia e da cultura, a presença física
e territorial tem cedido lugar a uma possível vivência em espaços virtuais,
inseridos em processos contínuos de construção e desconstrução, em constante
movimento, possivelmente em busca de significações e práticas para um mundo
simbólico próprio.