Tipo e tipologia na palafita amazônica da cidade de Afuá

Ana Kláudia de Almeida Viana Perdigão

Ana Kláudia de Almeida Viana Perdigão é Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Professora Associada II da Universidade Federal do Pará (UFPA). Estuda planejamento, processo projetual e habitação.


Como citar esse texto: PERDIGÃO, A. K. A. V. Tipo e tipologia na palafita amazônica da cidade de Afuá. V!RUS, São Carlos, n. 13, 2016. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus13/?sec=4&item=2&lang=pt>. Acesso em: 19 Abr. 2024.


Resumo:

Aborda-se a palafita amazônica da cidade de Afuá (PA) como resistência à extinção da tradição cultural ribeirinha. Propõe-se uma análise tipológica por meio do tipo e da tipologia, baseada em aspectos topológicos e geométricos, respectivamente. A análise conjunta do tipo e da tipologia contribui operativamente para que análise e proposição associadas à vivência e à aparência dos espaços propiciem melhor compreensão da adaptação e bem estar do morador da região. Os resultados evidenciam um modo peculiar de produção e de apropriação do espaço com a manifestação de valores locais do ambiente construído descritos pelo tipo na proximidade com o rio e com a floresta, na continuidade entre estiva privada, avarandado, casa, quintal, etc, e na sucessão com a presença de espaços de transição entre a estiva pública e a casa, bem como descritos pela tipologia, confirmando a volumetria, as proporções entre as partes e o todo, além do destaque de elementos como empenas, portões de acesso e elementos de fachada. A análise tipológica apresentada aproxima saberes intelectuais e populares e proporciona categorias de análise que permitem identificar condicionantes de projeto não tradicionais para a produção de ambientes mais condizentes com a vida amazônica fortalecendo os códigos profissionais da arquitetura.

Palavras-chave:: Palafita; Tipo; Tipologia; Amazônia; Habitação.


Introdução

A Amazônia concentra em seu histórico de ocupação a submissão por uma ordem fabricada, estrangeira à ordem de vida que nela habita. Os valores externos, alheios à região, se sobrepõem até mesmo através da população local, ficando ainda mais crítico quando tal fabricação ocorre com os profissionais locais voltados contra a cultura amazônica. Quando a arquitetura como campo de conhecimento assume que o melhor vem apenas de fora, um pensamento arcaico se instala e traz conflitos espaciais, visto que polariza, saber popular e saber intelectual, não contribuindo para a integração de saberes locais.

Situações recentes confirmam o perigo de uma ordem fabricada, tais como a intervenção para a revitalização do Complexo do Ver-o-Peso e o projeto para uma nova ocupação do prédio das Onze Janelas, ambos na área do Centro Histórico de Belém. Tanto a concepção do projeto arquitetônico quanto a mudança de uso em prédio de importância arquitetônica, histórica e artística, respectivamente, motivaram mobilizações por parte da sociedade, com manifestações técnicas de conselhos estaduais e outros, demonstrando em que medida as decisões arquitetônicas oferecem resistência às distorções provenientes de forças dominantes em oposição à cultura amazônica.

Os episódios de resistência ocorreram em áreas da cidade com poder constituído pela sociedade civil organizada, em contrapartida ao poder público. O mesmo não ocorre atualmente com a produção do habitat amazônico em programas habitacionais em curso. A cultura amazônica vem se deformando frente às forças que lutam contra a tradição e modo de vida tão peculiarmente estabelecido na região. Estes descaminhos inspiraram a composição da música “Belém Pará Brasil” na década de 80, apresentada na Figura 1, pelo então vocalista da banda de rock Mosaico de Ravena, Edmar Idálio da Rocha, estudante de arquitetura da UFPA e morador da cidade Velha onde se iniciou a cidade de Belém.

Boas notícias para tempos difíceis é uma chamada que estimula a discussão e a reflexão no campo da arquitetura sobre o habitat amazônico, abordando-se a palafita como resistência à extinção da tradição cultural da casa ribeirinha. Um contexto que prescinde de instrumento analítico como apoio ao pensamento de natureza operativa, pela discussão das representações espaciais na gênese arquitetônica topológica e geométrica, a favor do reconhecimento do vocabulário popular local para apoiar o caminho de volta “às coisas da terra” na produção do ambiente construído pelo meio profissional. A reprodução de palafitas na cidade de Afuá (PA) é uma fonte incontestável de manifestação da cultura ribeirinha e do respeito à tradição amazônica.

Por que a palafita?! Porque a discussão entre tipo e tipologia? Quais as contribuições das palafitas construídas em Afuá na Ilha do Marajó (PA)? São questões que aguardam respostas para contestar arquitetonicamente algumas distorções que estão além da arquitetura. Dados estatísticos acerca do cotidiano de vida de comunidades amazônicas, tendo como referência o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), não expressam a realidade ao classificar oito municípios marajoaras como os piores lugares para se viver no país, pois trata-se de uma matriz avaliativa das políticas públicas no Brasil sustentada pela lógica eurocentrada, urbana, letrada e globalizadora, que não levam em consideração a diversidade geohistórica e sociocultural da região (SIMÕES, 2014).

Fig. 1: Música "Belém Pará Brasil", autoria: Arq. Edmar Idálio da Rocha / Mosaico de Ravena. Fonte: Mosaico de Ravena. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=8r_2NX6aB0k. Acesso em 25.set.2016.

Além de avaliações realizadas por indicadores pouco alinhados com a vida amazônica, temos os dilemas internos a serem resolvidos. O Brasil é um país com extenso território e variedade cultural e que ainda é desconhecido por muitos brasileiros. A realidade local é muitas vezes pouco conhecida inclusive para a totalidade dos habitantes da região. O interesse de abordagem sobre a palafita visa ampliar a discussão sobre uma tipologia recorrentemente avaliada como sendo uma edificação precária do ponto de vista construtivo, em contraponto a uma tipologia decisiva, aceita e culturalmente reproduzida nos solos alagados e alagáveis da região norte.

Marcadamente, o contexto amazônico tem sido fragilizado e até certo ponto hostilizado, associando palafita com a total condição de precariedade, um pensamento generalista que traz implicações distorcidas no âmbito das políticas habitacionais, visto que são válidas para todo o país. A decomposição do senso de precariedade apoiariam ações mais efetivas ao se considerar que uma parte está relacionada ao saneamento e outra ao espaço. No campo disciplinar da arquitetura, o espaço é o foco de interesse, para o qual se direcionam a produção de conhecimento para a concepção e a constatação de que o saber popular local é de grande importância para a compreensão do habitat amazônico. A arquitetura espontânea, anônima, construída sem arquitetos, configura a fisionomia da cidade ao revelar com linguagens e expressões, o significado do lugar e o ambiente onde foi construída, a arquitetura vernacular (BARDA, 2009). E, assim, tem se estabelecido a cultura ribeirinha na Amazônia, com seus traçados, suas ruas, suas casas, sua vida, os quais expressam com sabedoria seu modo de habitar.

O padrão rio-várzea-floresta é a ocupação tradicional da Amazônia, preponderante até os anos 60 do Séc. XX, a partir do qual foi se consolidando um outro padrão de ocupação, estrada-terra firme-subsolo (GONÇALVES, 2010). A palafita é o modelo de edificação que traduz o padrão tradicional, respeitando as massas d’água, o ciclo das marés, o modo típico da morada amazônica. A rede hidrográfica na Amazônia é um poderoso condicionante para a ocupação do território (PONTE, 2007).

O conhecimento depositado na produção do ambiente construído, preponderantemente popular, como ocorre na produção das palafitas, oferece soluções próprias de um saber intuitivo em conexão com as condições ambientais da Amazônia. Trata-se, portanto, de uma produção orgânica, de fácil adaptação espacial pelos usuários. Contudo, na prática corrente da arquitetura, via de regra, o processo de concepção tem sido distanciado da vivência espacial, dos modos de adaptação realizados pelo usuário, sem que os mesmos sejam reconhecidos e sirvam de referência.

Dessa forma, uma importante manifestação cultural amazônica, a arquitetura ribeirinha e sua espacialidade, não tem sido decodificada pelo conhecimento formal da arquitetura, sendo que a espacialidade é parte integrante da natureza do ser. O ser é espacial. O espaço é, portanto, constitutivo da existência humana, pertence à essência do ser. Ele não é apenas funcional, racional ou simbólico. Sendo existencial, ele é tudo isso, uma vez que incorpora as necessidades, expectativas e desejos que fazem parte da existência humana (MALARD, 2006).

A aproximação entre o conhecimento popular e o conhecimento formal no campo da arquitetura (DEL RIO, 1998; KUHN, 1970) é um caminho fértil para revigorar a resistência à extinção de soluções do conhecimento popular pelo conhecimento intelectual. Entende-se que o campo da arquitetura é aquele campo capaz de chegar ao sucesso integrativo de saberes no que se refere ao habitat amazônico.

O conhecimento formal abrange pressupostos definidores de um ambiente adequado e adaptado ao usuário final. Nesta direção, o aprimoramento e conhecimento da vida espacial no meio profissional e científico pela produção de conhecimento sobre as soluções da arquitetura sem arquitetos (RUDOFSKY, 1964) que aprimoram uma vivência espacial satisfatória, são fontes importantes de estímulo para revigorar o campo da arquitetura. O valor da arquitetura vernacular (OLIVER, 2006) é inquestionável, porém o maior desafio está na elaboração de estratégias de compartilhamento deste conhecimento e sua consequente incorporação ao processo de projeto, de modo a impulsionar a assimilação do saber popular pela produção formal de arquitetura. Para tanto, entende-se que a projetualidade dialoga com a espacialidade no sentido de incorporar o uso espacial aos processos cognitivos e operativos da concepção arquitetônica, como estratégia do compartilhamento de saberes.

Assim sendo, a discussão tipológica estimula um caminho profícuo para que o pensamento projetual se revigore com avanços cognitivos e operativos. O investimento do raciocínio analógico como mecanismo de concepção (CHUPIN, 2013), primeiro entre a reprodução das palafitas onde as analogias são claramente percebidas, em segundo nos métodos de projeto (MAHFUZ, 1984). Isto porque todo projeto arquitetônico tem um aspecto tipológico, seja no sentido de que o arquiteto busca conscientemente aproximar-se de um tipo1 ou afastar-se dele, seja no sentido de que toda obra arquitetônica visa, definitivamente, colocar-se como um tipo (ARGAN, 2001). A catalogação de tipos, então, seria um mecanismo estimulante para o pensamento arquitetônico voltado à prática projetual, ainda que menos usual e invisível, considerando a tradição da visibilidade referente à tipologia em sua representação geométrica.

O caso da cidade de Afuá (PA) é emblemático para análise da palafita amazônica entre tipo e tipologia, pois o respeito ao lugar se reflete na manifestação da palafita como forte resistência à extinção de uma cultura arraigada ao ambiente natural, avessa aos apelos do consumo e à da chamada “modernidade” que chega com os valores dos grandes centros urbanos e mais recentemente pela internet, não contaminaram a vida local devido ao valor atribuído à cidade e ao modo de vida instalado. Afuá vem se mantendo fiel à tradição de um modo de vida que tanto lhe faz peculiar. Os sinais são evidentes pela cidade, conforme mostrado na Figura 2. Observa-se uma placa “não passe por cima”, e não há como deixar de associar a um aviso dizendo “-não passe por cima de nossos hábitos e costumes, nós nos orgulhamos deles”.

A formosa Afuá, um de seus adjetivos, tem suas defesas de proteção firmes. A paisagem da cidade impressiona, manifestando como edificações em palafita podem diferir da imagem atribuída à precariedade, à favela, ao caos. A cidade suspensa apresenta explicitamente uma ordem própria, um senso de identidade marcante e um bem estar reconfortante observados no semblante das crianças, jovens, adultos e idosos, especialmente registrados quando realizou-se em agosto de 2016 uma oficina com a população local relacionada à concepção arquitetônica do Fórum Eleitoral da 16a zona em Afuá referenciada por soluções espaciais e construtivas locais, onde constatou-se a consciente valorização e satisfação por sua história, tradições e modos de vida (PASSOS NETO, 2016).

Uma observação rápida é capaz de captar o espírito da cidade, o orgulho dos jovens por seu lugar e pelas peculiaridades que a população aproveita cotidianamente, a cidade frutifica experiências sensoriais e visuais, enriquecendo as soluções espaciais em termos topológicos e geométricos, entre ambiente natural e ambiente construído. Provoca uma vibrante experiência de cidade para ser usufruída.

Fig. 2: Cenas de Afuá, Ilha do Marajó, Pará. Fonte: Kláudia Perdigão, 2016.

A análise arquitetônica da palafita tanto pelo tipo quanto pela tipologia se mostra pertinente para o fortalecimento do pensamento sobre a gênese do projeto de arquitetura. A manifestação da palafita na cidade de Afuá, especialmente apoiada pela vivência espacial e com forte identidade pelo conjunto de soluções culturalmente construídas, é um caso emblemático da vida ribeirinha na Amazônia, aprovada pela rica variedade de espaços em palafitas, como a mais pura expressão de uma “cidade suspensa” no norte do Brasil.

Tipo e tipologia

A análise conjunta do tipo e da tipologia contribui operativamente para que análise e proposição associadas à vivência e à aparência dos espaços propiciem melhor compreensão da adaptação e bem estar do morador da região. Em termos projetuais, o tipo está longe de ser um tema esgotado (PERDIGÃO, 2009). O tipo se constitui em fundamento epistemológico uma vez que nos proporciona um instrumento analítico e operativo. O tipo preside os processos hermenêuticos e os processos de formalização. Apresenta uma dupla vertente, fundamentando e instrumentalizando tanto os processos de conhecimento como os de criação (TRACHANA, 2011). Por isso a importância de sua análise conjunta com a tipologia, mais tradicionalmente adotada na análise arquitetônica.

A discussão tipológica, entre tipo e tipologia, refere-se ao contexto das representações espaciais pela definição do ponto de partida (PERDIGÃO; BRUNA, 2009), nas quais o tipo encontra-se no âmbito das relações espaciais e melhor descrito por representações topológicas, enquanto que a tipologia, o modelo da coisa espacial, é melhor descrita por representações geométricas. A geometria revela um aspecto manifesto e percebido dos objetos – ela tem uma forma, é vista em pontos, linhas e superfícies – a topologia é menos visível. De fato, as características topológicas decorrentes do arranjo espacial de um objeto arquitetônico, seja edifício ou situação urbana, são invisíveis em sua totalidade (AGUIAR, 2010).

A tipologia arquitetônica é relacionada à dimensão histórica e aos mecanismos de projeto. Com o intuito acadêmico, tipo e modelo apresentam recorrência de abordagem na arquitetura (MONTANER, 2001). Recorre-se aos sistemas de representação espacial topológico e geométrico associados aos métodos de projeto sistematizados por Mahfuz (1984). O método tipológico usa analogias com o tipo no sistema topológico enquanto o mimético refere-se ao uso de analogias com o modelo/tipologia no sistema geométrico.

O conhecimento operativo do projeto de arquitetura através da análise da palafita em termos topológicos e geométricos, além de permitir uma atuação mais direcionada ao atendimento de vários níveis, escalas, e olhares sobre a natureza do espaço arquitetônico, permite também a compreensão dos vários níveis de necessidades próprias ao ciclo de desenvolvimento humano, dadas pelas interações do ser humano com seu ambiente (PIAGET; INHELDER, 1948; MUNTAÑOLA, 2000), visto que no período de dois a sete anos estabelece relações de natureza topológica e projetiva, ainda sem conseguir realizar as operações propriamente lógicas como a percepção de esquemas geométricos.

Propõe-se que a análise tipológica por meio do tipo seja realizada em termos topológicos a partir das categorias de análise proximidade, continuidade e sucessão, desenvolvidas com base na teoria do espaço existencial apresentada por Norberg-Schulz (1971) e que a análise tipológica por meio de tipologia seja realizada em termos geométricos, apoiada no pensamento de Argan (2001) considerando o todo, as partes e as partes significativas.

A análise pelo tipo incorpora abstrações e esquemas elementares de organização com o estabelecimento de centros ou lugares (proximidade), direções e caminhos (continuidade) e áreas ou regiões (sucessão), são relações topológicas captadas pelo ser humano que fortalecem seu senso de orientação como parte do espaço existencial e, como mencionado anteriormente, os esquemas geométricos vem mais tarde, no ciclo de desenvolvimento humano (NORBERG-SCHULZ, 1971). O tipo palafita amazônico relacionado aos programas habitacionais envolvendo remanejamento e reassentamento de famílias em ações governamentais na cidade de Belém, foi elaborado por Menezes (2015).

A análise da tipologia arquitetônica é aqui definida pela conceituação de Argan (2001), que abrange configurações inteiras de edifícios (o todo), os grandes elementos construtivos (as partes) e os elementos significativos (partes significativas). Em concordância com Argan (2001), insere-se a tipologia conforme abordada nos métodos de projeto sistematizados por Mahfuz (1984), adotando-se a análise de modelo/tipologia em palafita com base no método mimético. Ou seja, adapta-se a conceituação de Argan (2001) ao pensamento projetual de Mahfuz (1984) a fim de que as categorias analisadas possam também desempenhar um papel operativo no processo de projeto, ou seja, elementos físico-espaciais funcionando como a manifestação das variações do tipo.

Palafitas de Afuá (PA): tipo e tipologia

As palafitas refletem a vida amazônica na cidade de Afuá. Localiza-se na parte ocidental, ao norte da Ilha do Marajó (PA), distante cerca de 254 Km da Cidade de Belém (PA), conforme Figura 3. O município possui uma área total de 8.372.795 Km2, sendo 1,7Km2 de área urbana. Com população de 37.398 habitantes dos quais 73% vivem em pequenos vilarejos ribeirinhos (IBGE, 2015). O acesso à Afuá tem duração de duas a quatro horas, com saída do porto de Macapá (AP) e de 36 horas com saída do porto de Belém (PA).

Fig. 3: Localização de Afuá (PA). Fonte: Arquivos LEDH, 2016.

O traçado urbano de Afuá apresenta uma configuração orgânica, em harmonia com as condições naturais e o modo de vida local. A cidade foi crescendo de forma espontânea e irregular, formando combinações de malhas abertas e fechadas, com vias principais e secundárias, interligando os Bairros Central e o Capim Marinho, separados pela pista de pouso do Aeroporto de Afuá (MONTEIRO, 2015), conforme Figura 4.

Fig. 4: Pista de pouso do aeroporto no limite dos bairros Capim Marinho e Centro. Fonte: Kláudia Perdigão, 2016.

A principal característica da cidade é que ela não interrompe o ciclo das águas dos rios que a circundam. Assentada em área de várzea, as edificações e espaços públicos estão erguidos até dois metros do solo, em média. Além dos alagamentos controlados pela suspensão da cidade, Afuá está sujeita a alagamentos mais críticos quando a cada três anos a cidade fica imersa nas águas dos rios. A conformação de cidade sobre palafitas e circulação de pessoas realizadas sobre estivas, a cidade não admite carros e motocicletas. Todo transporte de passageiro e de carga, além de serviços urbanos, realizado por meio de bicicleta, um meio de transporte ativo, não motorizado.

Observa-se um enorme respeito entre o cidadão afuaense e seu entorno natural e construído, como bem descreve o poeta paraense Paes Loureiro (1995, p. 235) “o caboclo observa, analisa, conhece, destaca, valoriza, sente, humaniza, estetiza, em sua relação geográfica antológica com a vida. Vive com a paisagem na relação de complementaridade”. Para Pinheiro et al. (2012), o homem da região criou um mundo todo especial onde a cultura favorece como marco de sua existência e de sua resistência, através dos tempos.

A análise tipológica concentrará a demonstração das soluções adotadas nas palafitas de Afuá, descritas pelo tipo e pela tipologia. O tipo palafita amazônico pela relação de proximidade que exerce com o ambiente natural se evidencia ainda mais em áreas menos adensadas, pelo contato com o rio e com a floresta, configurações típicas das cidades amazônicas, as chamadas ‘Cidades na Floresta’ (TRINDADE JUNIOR, 2010).

Tipo palafita amazônico: qualidades topológicas

O tipo palafita amazônico é caracterizado a partir de qualidades topológicas desenvolvidas por Norberg-Schulz (1971), sendo destacadas as relações de proximidade, de continuidade e de sucessão, para descrever a relação da edificação com o ambiente natural e entorno, bem como o interior das edificações (MENEZES, 2015; MENEZES; PERDIGAO; PRATSCHKE, 2015). As relações de proximidade referem-se ao contato com o ambiente natural, o rio e a floresta, enquanto que as relações de continuidade envolvem a presença do sistema mata-rio-roça-quintal (LOUREIRO, 2001) e, por fim, a relação de sucessão aponta para os espaços de transição entre a edificação e o entorno construído.

Para a descrição do tipo palafita amazônico de Afuá, as relações de proximidade, de continuidade, e de sucessão, serão analisadas apenas a partir da relação da edificação com o entorno, nos bairros Centro e Capim Marinho. Essas relações nos dois bairros já demonstram diferenças bem marcadas na relação da edificação com o ambiente natural. O Bairro Centro é bem mais adensado e com menos presença de áreas vegetadas de grande porte, mais afeito às transformações construtivas, especialmente nas proximidades da área portuária, bastante diferente do Bairro Capim Marinho.

Para efeito comparativo das diferenças mencionadas, foram selecionadas duas palafitas para análise de qualidades topológicas. Localizadas no Bairro Centro e no Bairro Capim Marinho, conforme Figuras 5 e 6.

Na relação de proximidade, entre a edificação com o ambiente natural, observam-se dois aspectos. A relação de proximidade com o rio se dá pela manutenção do livre fluxo das marés, que nos períodos de cheia compõem o entorno próximo das casas suspensas do solo. O segundo aspecto é a presença de vegetação de grande porte especialmente no bairro mais afastado da área portuária, que é muito mais adensada e sujeita às dinâmicas da vida urbana. A relação de continuidade se mantém desde a estiva de acesso à palafita até o final, quando as áreas descobertas e cobertas funcionam como quintais suspensos, dando suporte para atividades de geração de renda ao grupo familiar. Quanto à relação de sucessão, cabe destacar que em raríssimos casos há um acesso direto da estiva pública para a casa, inclusive no Bairro Centro que é mais adensado. No Bairro Capim Marinho, onde nenhum caso foi registrado de acesso direto da rua para a casa foi registrado entre a estiva pública e a palafita. No Bairro Centro a estiva pública e estiva de acesso à palafita de pequena extensão de corrente do adensamento do bairro enquanto que no Bairro Capim Marinho a estiva privada é de maior extensão. A grande maioria dos casos das palafitas dos bairros Centro e Capim Marinho apresenta um espaço de transição entre a estiva privada e o corpo principal da palafita.

Fig. 5: Análise topológica de palafita, Bairro Centro, Afuá (PA). Fonte: LEDH/PPGAU/UFPA, 2016.

Fig. 6: Análise topológica de palafita, Bairro Capim Marinho, Afuá (PA) Fonte: LEDH/PPGAU/UFPA, 2016.

Tipologia em palafita amazônica: elementos geométricos

Para análise dos aspectos geométricos, serão utilizadas as mesmas palafitas analisadas em suas qualidades topológicas. Entende-se que tal análise refletirá as variações do tipo palafita amazônico, conforme Figuras 7 e 8. O todo é representado pela volumetria da edificação, a relação entre partes e o todo se reflete nas proporções entre alturas da casa e a elevação do solo e também na proporção entre altura e largura no plano de fachada. A distância entre a estiva pública e a palafita, pela estiva privada, também é considerada como uma parte relacionada ao todo da edificação.

O bairro Centro vem apresentando algumas transformações na aparência das palafitas de madeira, com a mudança para lajes de alvenaria e uso de grades, porém as palafitas continuam sendo elevadas do solo através de estacas de madeira, mudanças feitas especialmente na via que acompanha a orla principal da cidade e suas adjacências. A utilização do portão marcando um limite frontal, sem a mesma ênfase dada às laterais, justifica-se pelo controle de acesso à palafita pelas vias principais. Destaca-se que a substituição de estivas de madeira por lajes de concreto ocorre tanto nas estivas principais quanto nas estivas de acesso à palafita. Trata-se de um bairro com acesso facilitado da área portuária através das vias principais da cidade, com mudanças justificadas pela segurança e pela proteção à presença de roedores, devido a grande concentração de pessoas e o acúmulo de lixo nesta área.

A análise geométrica da palafita leva à interpretação de que a volumetria é definida pela consequente espacialidade de uma planta baixa retangular da edificação, associada a uma volumetria da cobertura de duas águas com telhado aparente. Nas partes em relação ao todo, as proporções entre alturas e larguras não são condicionadas pela área disponível para implantação da palafita, são semelhantes nos dois bairros, com diferenças apenas na distância entre palafita e via pública. Sobre as partes significativas, cabe ressaltar os detalhes da cobertura, as empenas, os acabamentos, os detalhes decorativos, além de bancos, avarandados e detalhes de fachada que apresentam nas casas de madeira um extenso repertório de soluções, os quais permanecem mesmo nas casas de alvenaria no Bairro Centro, e repetidamente têm sido usados nas palafitas do Bairro Capim Marinho, conferindo forte identidade às edificações locais. Os elementos significativos são amplamente reproduzidos em casas de madeira, mesmo sem a pintura colorida das palafitas do Bairro Centro. Há uma riqueza de variações observadas no conjunto de palafitas da cidade de Afuá.

Fig. 7: Análise geométrica de palafita, Bairro Centro, Afuá (PA). Fonte: LEDH/PPGAU/UFPA, 2016.

Fig. 8: Análise geométrica de palafita, Bairro Capim Marinho, Afuá (PA). Fonte: LEDH/PPGAU/UFPA, 2016.

Considerações finais

Boas notícias para tempos difíceis nos estimula e encoraja ao estudo e reflexão sobre como o pensamento e a prática arquitetônica podem dialogar com a manifestação do habitat amazônico socialmente produzido. Neste contexto, a abordagem do tipo e da tipologia por meio da palafita amazônica evidencia um contraponto à hostilidade com a cultura amazônica pela financeirização da vida urbana, decisões do poder público, preconceito profissional, etc, decorrente da pouca valorização da sociedade pelo que foi produzido pelo saber popular.

A cidade de Afuá é um exemplo vivo da valorização da cultura ribeirinha amazônica, uma fonte inestimável para a investigação de novas conexões entre os saberes formal e popular. Na experiência amazônica de habitar, existe um conhecimento intuitivo e um sentimento de pertencimento tão próprios que merecem ser incluídos no saber formal da arquitetura.

A análise tipológica de palafitas construídas na cidade de Afuá implica, declaradamente, na reflexão sobre a importância e a necessidade de integração do saber popular ao conhecimento formal da arquitetura. A polaridade entre tipo e tipologia, que aqui foram abordados na análise de palafitas, servem como formação de repertório e referências da vida local para uma produção arquitetônica mais alinhada com a cultura Amazônica. A tentativa é de que a reflexão possa acontecer e com ela tipo e tipologia, em análise conjunta, possam subsidiar a gênese do projeto de arquitetura com mais senso de realidade e com a incorporação do saber popular.

As relações topológicas do tipo palafita amazônico se reproduzem entre os bairros mais afastados e mais próximos da área portuária, local de principal acesso à cidade de Afuá (PA). Contudo, percebe-se que graças ao maior adensamento no Bairro Centro, as áreas vegetadas são menos abundantes do que no Bairro Capim Marinho. Com relação aos elementos geométricos das partes significativas, as variações são mais visíveis nas palafitas do Bairro Centro, especialmente no que se refere à configuração das varandas e à definição dos limites da vida privada pelo portão de acesso, além da extensão da estiva privada que é menor em relação ao conjunto de estivas observadas no Bairro Capim Marinho. Nos dois bairros, raramente foi observado um acesso direto entre palafita e via pública, visto que ocorre por meio de uma estiva privada. Através de volumes, medidas e elementos de destaque na palafita, os modelos mostram-se variados e condizentes com o princípio gerador, o tipo palafita amazônico.

A complexidade do espaço doméstico de demanda social desafia muitos campos do conhecimento científico como a antropologia, a história, a geografia humana, as engenharias, o serviço social, a arquitetura e urbanismo, etc., na busca de respostas a problemas que apenas se transformam, sem que cheguem à solução. Sob o aspecto da natureza projetual, o espaço habitacional apresenta uma abrangência de questões a serem investigadas no campo da arquitetura, entre as escalas urbana e edilícia. Na escala do edifício, é de grande importância as pesquisas científicas que busquem o teste de evidências no uso espacial, para subsidiar a prática arquitetônica.

Constata-se que, mesmo em Afuá, com tanta tradição no modo de vida ribeirinho, a palafita é construída com ainda maior pureza de detalhes em áreas mais afastadas do centro e reservadas aos moradores da cidade, como no Bairro Capim Marinho. A continuidade da tradição construtiva local, demonstrando o respeito e orgulho dedicados à cidade espontânea e seus traços, são mantidos nas novas construções. São palafitas que adotam uma riqueza de relações e de elementos, que aferem uma identidade encantadora, mesmo aquelas com aparência provisória e sem acabamento. Por que será?! “Quem quiser venha ver”.

Nota

1 Uma definição muito precisa do tipo em arquitetura é dada por Quatremère de Quincy no seu Dicionário Histórico: “a palavra tipo não representa tanto a imagem de uma coisa a ser copiada ou imitada perfeitamente quanto a ideia de um elemento que deve ele mesmo servir de regra ao modelo [...] quando um tipo se fixa na prática ou na teoria arquitetônicas ele já existe numa determinada condição histórica da cultura, como resposta a um conjunto de exigências ideológicas, religiosas ou práticas (ARGAN, 2001).

Referências

AGUIAR, D. V. Alma espacial: o corpo e o movimento na arquitetura. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010.

ARGAN, G. C. Projeto e Destino. 1. ed. São Paulo: Ática, 2001.

BARDA, M. Espaço (Meta) Vernacular na cidade contemporânea. São Paulo: Perspectiva, 2009.

CHUPIN, J-P. Analogie et Théorie en Architecture. Del avie, de la ville e de la conception, même. Gollo: Infolio, 2013. (Collection PROJET & THÉORIE).

DEL RIO, V. Projeto de arquitetura: entre criatividade e método. In: DEL RIO, Vicente (Org.). Arquitetura: pesquisa e projeto. São Paulo: Pro Editores; Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 1998. p. 201-214.

GONÇALVES, C. W. P. Amazônia, Amazônias. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

 IBGE. Censo Demográfico. Estimativa da população residente com data referência 1 de julho de 2014. Rio de janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2015. Disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=150030&search=para|afua|infograficos:-informacoes-completas. Acesso em: 21 ago. 2016.

KUHN, T. S. The Structure of Scientific Revolutions. 2. ed. Chicago e Londres: University of Chicago Press, 1970.

LOUREIRO, V. R. Pressupostos do modelo de integração da Amazônia aos mercados Nacional e Internacional em vigência nas últimas décadas: a modernização às avessas. In: COSTA, M. J. J. (Org.). Sociologia na Amazônia: debates teóricos e experiências de pesquisa. Belém: UFPA, 2001. p. 47-70.

MAHFUZ, E. C. Nada provém do nada. Revista Projeto, São Paulo, n. 69, 1984. p. 89-95.

MALARD, M. L. As aparências em arquitetura. Belo Horizonte: UFMG, 2006.

MENEZES, T. M. S. Referências ao projeto de arquitetura pelo tipo palafita amazônico na Vila da Barca (Belém-PA). Belém, PA: UFPA, 2015. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Universidade Federal do Pará, 2015.

MENEZES, T. M. S.; PERDIGÃO, A. K. A. V.; PRATSCHKE, A. O tipo palafita amazônico: contribuições ao processo de projeto de arquitetura. Oculum Ensaios, v. 12, p. 237-254, 2015. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/3517/351743262004.pdf. Acesso em: 15 ago. 2016.

MONTANER, J. M. Depois do Movimento Moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gilli, 2001.

MONTEIRO, E. C. Acessibilidade Espacial nas Calçadas em Estivas no Pará: estudo de caso na Ilha do Combú e na Cidade de Afuá. Florianópolis, SC: UFSC, 2015. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, 2015.

MUNTAÑOLA, J. Topogénesis. Barcelona: Edições UPC, 2000.

NORBERG-SCHULZ, C. Existence, space and architecture. Nova Iorque: Praerger, 1971. 

OLIVER, P. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Amsterdã: Elsevier, 2006.

PAES LOUREIRO, J. J. Cultura amazônica: uma poética do imaginário. Belém: Cejup, 1995.

PASSOS NETO, A. P. O projeto como objeto de investigação: processo de projeto de arquitetura institucional em Afuá (PA). Belém, PA: UFPA, 2016. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Universidade Federal do Pará, 2016.

PERDIGÃO, A. K. A. V. Considerações sobre o tipo e seu uso em projetos de arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 10, v. 114, p. 257-264, 2009. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.114/14. Acesso em: 15 ago. 2016.

PERDIGÃO, A. K. A. V.; BRUNA, G. C. Representações espaciais na concepção arquitetônica. In: PROJETAR 2009: projeto como investigação, 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: Alter Market, 2009. (CD).

PIAGET, J.; INHELDER, B. La répresentation de l’espace chez l’énfant. Paris: PUF, 1948.

PINHEIRO, T.; GÓES, K.; SILVA, M. G.; SILVA, J. Um modo de produção no espaço ribeirinho: um estudo no Distrito de Nazaré (RO). In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA. Território em disputa: os desafios da Geografia Agrária nas contradições do desenvolvimento brasileiro, 2012, Uberlândia. Anais… Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia (MG), 2012. Disponível em: http://www.lagea.ig.ufu.br/xx1enga/anais_enga_2012/eixo10.html. Acesso em: 15 ago. 2016.

PONTE, J. P. X. Cidade e água: Belém do Pará e estratégias de reaproximação das margens fluviais. Vitruvius: Arquitextos, arq085_02.asp, 2007. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.085/237. Acesso em: 15 ago. 2016.

RUDOFSKY, B. Architects without architects: a short introduction to nonpedigreed architecture. Nova Iorque: Museum of Modern Art, 1964.

SIMÕES, V. C. F. Ideadores de bicitaxi: cartografias de experiências estéticas em modos de viver e fazer bicitaxis na Veneza Marajoara (Afuá-PA). Belém, PA: UFPA, 2014. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Universidade Federal do Pará, 2014.

TRACHANA, A. Historia e Proyeto: una revisión de los conceptos de Tipo y Contexto. Buenos Aires: Nobuko, 2011.

TRINDADE JUNIOR, S-C. C. Cidades na floresta: “os grande objetos” como expressões do meio técnico-científico informacional no espaço amazônico. Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 51, p. 113-137, mar/set, 2010.

Type and typology of Amazon stilt house in Afuá, Brazil

Ana Kláudia Perdigão

Ana Kláudia de Almeida Viana Perdigão is Doctor in Architecture and Urbanism, Associate Professor at the Federal University of Pará (UFPA). She studies planning, design process and dwelling.


How to quote this text: Perdigão, A. K. A. V, 2016.Type and typology of Amazon stilt house in Afuá, Brazil. V!RUS, [e-journal] 13. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus13/?sec=4&item=2&lang=en>. [Accessed: 19 April 2024].


Abstract:

The Amazonian stilt of the city of Afuá (PA) is approached as a resistance to the extinction of the riverside cultural tradition. It is proposed a typological analysis by type and typology, based on topological and geometric aspects, respectively. The joint analysis of the type and typology operatively contributes to the analysis and proposition associated to the experience and the appearance of the spaces, providing a better understanding of the adaptation and well being of the inhabitants of the region. The results show a peculiar way of production and appropriation of space with the manifestation of local values ​​of the built environment described by the type in the proximity to the river and the forest, in the continuity between private stowage, balcony, house, yard, etc .; and in the succession with the presence of spaces of transition between the public stow and the house, as well as described by the typology, confirming the volumetry, the proportions between the parts and the whole, besides the prominence of elements such as gables, access gates and elements of facade. The typological analysis presented approximates intellectual and popular knowledge and provides categories of analysis that allow identifying non - traditional design constraints for the production of environments more compatible with the Amazonian life, strengthening the professional codes of architecture.

Keywords:: Stilts; Type; Typology; Amazon rainforest; Habitation.


Introduction

The Amazon’s occupation history is marked by submission to a strange, manufactured order, distinct from its natural life order. External and unrelated values also have overlapped regional ones through the local population. An even more critical issue emerges when value overlap occurs through local professionals who oppose the Amazon culture. When architecture, as a knowledge area, assumes that the best comes from the outside, an archaic mindset takes place combined with spatial conflicts, thereby polarizing popular and intellectual knowledge and impeding local knowledge integration.

Recent situations confirm the danger of a manufactured order, as seen in interventions for the Ver-o-Peso Complex revitalization and projects for new occupation of the Eleven Windows Building (Prédio das Onze Janelas), both in Belém’s Historical Center area. Both architectural project conception and conversion of use in an architecturally, historically, and artistically important building motivated social mobilization through technical manifestations of state councils and other entities. These cases indicate the level of architectural decisions’ resistance against distortions originated from dominant forces that oppose the Amazon culture.

Resistance episodes occurred in certain areas of the city, with organized civilian society acting against public power. At present, however, the same trend does not occur for Amazon habitat production associated with current habitational programs. Amazon culture has been deformed owing to forces acting against tradition and the regionally established lifestyle. This waywardness inspired the composition of the song “Belém Pará Brasil,” written in the 1980s by Edmar Idálio da Rocha, singer of the Mosaico de Ravena rock band and architecture student from the Federal University of Pará (UFPA), who lived in the Belém’s Historical Center area (Figure 01).

Good news for hard times is a call for discussion and architectural reflection on the Amazon habitat, addressing stilt houses as resistance against extinction of the cultural tradition of residing in riverside houses. This context lacks analytic instruments for supporting operational thinking, which may facilitate discussion on spatial representations in topological and geometric architecture genesis, in favor of recognizing local popular vocabulary and to support the way to reclaiming homeland traditions for the professional production of habitats. Stilt houses from Afuá, in Brazil, compose an undeniable manifestation of the riverside culture and respect for the Amazon tradition.

Why focus on stilt houses? What is the point of discussing type and typology? What are the contributions from stilt houses built in Afuá (Marajó Island), Pará, Brazil? These are questions waiting for answers, needed to challenge architectural distortions that are beyond architecture. Statistical data from the Human Development Index (HDI) on the daily life of Amazon communities are not realistic as they classify eight Marajó Island cities as the worst places to live countrywide, using a matrix for public policies evaluation sustained by a Eurocentric, urban, literate, and globalized logic, which does not consider regional geo-historical and sociocultural diversity (Simões, 2015).

Fig. 01: Belém Pará Brasil (translated version, originally written in Portuguese) by Edmar Idálio da Rocha, architect and singer of the Mosaico de Ravena band. Source: https://www.youtube.com/watch?v=8r_2NX6aB0k

In addition to evaluations performed using indicators poorly aligned with the Amazon lifestyle, there are internal dilemmas to be solved. Brazil has an extensive territory and a cultural variety unknown to most Brazilians. Local reality is often little known, even by locals. The aim in addressing the stilt house subject is to widen discussion on a recurrent typology evaluated as a precarious edification from a construction perspective, to oppose a decisive, accepted, and culturally reproduced typology in the Northern flooded ground.

The Amazon context has been remarkably weakened and even antagonized through assumed associations between stilt houses and total precariousness. This is a generalist mindset with distorted implications for habitational policies countrywide. Dissolution of the precariousness concept would support more effective actions, as one criterion is related to sanitation and another to space. In architecture, space is the interest, focus to which knowledge production is directed, to conceive and confirm that local popular knowledge is significantly important in understanding the Amazon habitat. Spontaneous and anonymous architecture compose the city’s physiognomy and reveals, through language and expressions, the meaning of the place and environment where vernacular architecture was established (Barda, 2009). This is how the Amazon riverside culture was established with its tracings, roads, houses, and lifestyle, all of which express its habitation style with wisdom.

River–floodplain–forest was the Amazon’s traditional occupation pattern until the 1960s, when another pattern was established: road–firm ground–underground (Gonçalves, 2010). The stilt house is a building model that translates the traditional standard and respects water bodies and tide cycles, thus the typical Amazon residence. The Amazon’s hydrographic network is a powerful conditioner for territory occupation (Ponte, 2007).

Knowledge contained in the predominantly popular built environment construction, as in stilt house production, offers quick solutions for intuitive connection with the Amazon’s environmental conditions. Therefore, it is an organic production, easily adapted by users. However, current architectural practices usually separate conception from spatial living, from user adaptation models, which are not recognized or referenced.

Thus, riverside architecture and its spatiality are important Amazon cultural manifestations and have not been decoded by formal architecture knowledge, although spatiality is a part of the nature of beings. Beings are spatial. Therefore, space is constitutive of the human existence and it belongs to the essence of beings. It is not only functional, rational, or symbolic; it is existential and it simultaneously represents all these factors, once it reflects the needs, expectations, and desires inherent to human existence (Malard, 2006).

Approximation between popular and formal architecture knowledge (Del Rio, 1998; Kuhn, 1970) is a fertile path for invigorating resistance against the extinction of popular knowledge solutions by intellectual knowledge. Architecture is an area capable of reaching integrative knowledge success in Amazon habitats.

Formal knowledge comprises assumptions that define an appropriate and adapted environment, from the end user’s perspective. In this sense, understanding and improving the spatial lifestyle by professionally and scientifically producing knowledge on architectural solutions “without architects” (Rudofsky, 1964) that improve a satisfactory spatial lifestyle are important stimuli for invigorating architectural knowledge. The value of vernacular architecture (Oliver, 2006) is undeniable; however, the greatest challenge remains within elaboration of strategies for sharing this knowledge and its consequent incorporation to projects to boost assimilation of popular knowledge by formal architecture. Thus, projects should enable dialogue with spatiality in order to incorporate the space usage into the cognitive and operational processes of architectural conception, as a strategy for knowledge sharing.

Therefore, a typological discussion stimulates an advantageous path to project thinking to be reinvigorated with cognitive and operative advances, with analogical thinking as a conception mechanism (Chupin, 2013); first, in stilt house reproduction where analogy is clearly established; and second, in project methods (Mahfuz, 1984). This is because every architectural project comprises a typological aspect, either in the sense that architects consciously seek to approach or stay away from a determined type1 or in the sense that all architectural work is definitely intended to be a type (Argan, 2001). Then, type cataloging would be a stimulating mechanism for architectural thinking related to project practices—even if unusual and invisible—different from typology-related visual traditions based on their geometric representations.

The case observed in Afuá, PA, Brazil, is emblematic for analyzing Amazon stilt houses through type and typology criteria. The sense of place is reflected through the manifestation of stilt houses as a strong resistance factor against the extinction of a culture ingrained in the natural environment, which opposes consumerism and the “modernity” appeals brought in association with values from large urban centers and, more recently, from the Internet, which has not influenced local lifestyle. Afuá has been committed to its own lifestyle, which makes it peculiar. Signs are evident along the city (Figure 2). There is a sign saying “do not pass over,” which is impossible not to associate with a warning: “do not pass over our habits and customs; we are proud of them”.

The beautiful Afuá is strongly defended. The cityscape is impressive and manifests itself with stilt house buildings that may differ from the image attributed to precariousness, slums, and chaos. The suspended city explicitly presents its own order, a remarkable sense of identity, and comforting welfare reflected on the faces of the children, youth, adults, and elderly residents. These points were especially noted in August 2016, when a workshop related to architectural conception was conducted with the local population for the Electoral Forum of the 16th zone in Afuá, where conscious appreciation and satisfaction for history, tradition, and lifestyle was observed, with reference to local spatial and constructive solutions (PASSOS NETO, 2016).

A quick look offers a glimpse of the city’s spirit, the pride of the youth for their location and for the peculiarities that the population enjoys daily, and sensorial and visual experiences emanated by the city, which enrich spatial solutions in topological and geometric terms, between natural and built environments. It provokes a vibrating city experience to be enjoyed.

Fig. 02: Scenes of Afuá, Marajó Island, Pará, Brazil. Photos by Klaudia Perdigão, 2016.

Architectural analysis of stilt house’ type and typology is pertinent for improving the thinking for architectural project process. Stilt houses in Afuá, especially supported by spatial experience and with a strong identity of culturally built solutions, symbolize the Amazon riverside life, approved by the rich variety of stilt house spaces as the purest expression of a Northern Brazilian “suspended city.”

Type and typology

Analysis of type and typology operatively contribute with analysis and proposition related to spatial life and appearance, complementing each other to shed light on the regional inhabitants’ adaptation and welfare. From a project perspective, type is far from becoming an exhausted topic (Perdigão, 2009). Type constitutes an epistemological foundation by providing an analytic and operative instrument. Type leads hermeneutical and formalization processes as well as presents a double-strand basing that underpins and instrumentalizes both the knowledge-related and creative processes (Tachana, 2011). Therefore, it is important to analyze type in association with typology, which is more traditionally adopted in architectural analysis.

Typological discussions for type and typology refer to the context of spatial representations by defining the start point (Perdigão & Bruna, 2009). Type is inherent to spatial relations and is better described by topological representations, whereas typology or the spatial object model is better described by geometric representations. Geometry reveals the manifested and perceived aspects of objects, including shapes and views through points, lines, and surfaces, whereas topology is less visible. Indeed, topological characteristics resulting from the spatial arrangement of an architectural object, such as a building or an urban situation, are totally invisible (Aguiar, 2007).

Architectural typology is related to the historical dimension and influences project mechanisms. In the academic sense, type and model present a recurrence of approach in architecture (Montaner, 2001). Topological and geometric spatial representation systems are used in association with systematized project methods (Mahfuz, 1984). The typological method uses analogies among types within the topological system, whereas the mimetic method refers to the use of analogies in model/typology within the geometric system.

Operational knowledge on architectural projects through stilt house topological and geometric analyses permit actions targeted to meet various levels, scales, and visualizations of the architectural space, and enables the comprehension of various needs inherent to the human development cycle resulting from interactions with their environment (Piaget & Inhelder, 1948; Muntañola, 2000). From two to seven years old, projective and topological relations are established, but logic operations, such as perception of geometric schemes, may not be performed.

Type based typological analysis proposed herein should be performed through proximity, continuity, and succession relations derived from topological categories based on existential space theory (Norberg-Schulz, 1971). Typology based typological analysis proposed herein should be performed through geometric parameters considering the whole, parts, and significant parts (Argan, 2001).

Type analysis comprises abstractions and elementary organizational schemes, establishing centers or places (proximity), directions and paths (continuity), and areas or regions (succession). These topological relations are captured by human beings and strengthen their sense of orientation as a part of existential space and, as previously mentioned, geometric schemes arise later during the human development cycle (Norberg-Schulz, 1971). The Amazon stilt house type related to habitational programs involving families’ relocation and resettlement through government actions in Belém, Brazil, was investigated by Menezes (2015).

Architectural typology analysis is herein defined by the concept per Argan (2001), which comprises entire building configurations (whole), building elements (parts), and significant elements (significant parts). Typology is approached through systematized methods per Mahfuz (1984) and in accordance with Argan, by adopting stilt house model/typology analysis based on the mimetic method. Argan’s (2011) concepts are adapted to Mahfuz’s (1984) projective thinking, and analyzed categories may also play an operational role within the project process. Physical–spatial elements represent type’s varied manifestations.

Stilt houses Afuá, PA, Brazil: Type and typology

Stilt houses reflect Amazon life in Afuá, which is located in the western portion of the Pará state, in the Northern Marajó Island, Brazil. The city is approximately 254 km far from Belém, PA, Brazil (Figure 3) and its total area is 8,372,795 km2, of which 1.7 km2 corresponds to urban areas. The population is 37,398 inhabitants, of whom 73% live in small riverside villages (IBGE, 2015). Afuá is accessible through a two- to four-hour trip from the Port of Macapá, AP, Brazil, or a 36-hour trip from the Port of Belém, PA, Brazil.

Fig. 3: Location of Afuá, PA, Brazil. Source: LEDH Files, 2016.

The cityscape of Afuá presents an organic configuration of harmony between natural conditions and local lifestyle. The city grew spontaneously and irregularly, forming combinations of open and closed urban frameworks with primary and secondary paths that connect the Centro and Capim Marinho districts, which are separated by the Afuá Airport runway (Monteiro, 2015), per Figure 4.

Fig. 4: Airport runway separating the Capim Marinho and Centro Districts. Photos by Klaudia Perdigão, 2016.

The main city characteristic is the fact that it does not interrupt the cycle of surrounding rivers. Buildings and public spaces are suspended by up to an average of 2m from the ground level in floodplain areas. Flood control through suspension is crucial, as Afuá is subjected to critical floods every three years, when the city is completely submerged. The city’s stilt house design and human circulation using decks do not permit cars or motorcycles. All passenger and cargo transportation, in addition to urban services, are performed using bicycles, an active and non-motorized method.

Significant respect among citizens to their natural and built environments is observed, as described by Paes Loureiro (1995, p. 235), a poet from the state of Pará, Brazil: “The caboclo observes, analyzes, knows, emphasizes, appreciates, feels, humanizes, and aestheticizes, within his geographic-anthological relation with life. He lives with the landscape in a complementarity relationship”. Pinheiro et al. (2012) stated that the regional inhabitants created a special world, where culture prevails as their existence and resistance over time.

Typological analysis concentrates on the demonstration of solutions adopted for Afuá’s stilt houses, described by type and typology. The proximity relation of the Amazon stilt house type with the natural environment is evidenced in less dense areas by their contact with the river and the forest, a typical configuration of Amazon cities such that they are “Forest Cities” (Trindade Junior, 2010).

Amazon stilt house type: Topological qualities

The Amazon stilt house type is characterized per the topological qualities developed by Norberg-Schulz (1971), with emphasis on relations of proximity, continuity, and succession for describing relations between buildings, the natural environment, and surroundings, as well as building interior. Relations of proximity refer to contact with the natural environment (e.g., river and forest), whereas relations of continuity involve the presence of the forest–river–farm–yard system (Loureiro, 2001). Relations of succession comprise transitions between buildings and their constructed surroundings.

Description of the Amazon stilt house type in Afuá will be analyzed through the relations of the buildings with their surroundings in Centro and Capim Marinho districts. These relations between buildings and natural environment are significantly different in both districts. Centro District presents higher density and less tall-vegetation areas, thus more inclined for construction transformations, especially in the port area surroundings, which significantly differ from the case of Capim Marinho District.

Comparison of the aforementioned differences was performed by selecting two stilt houses for topological quality analysis, located in Centro and Capim Marinho District, shown in Figures 5 and 6.

Proximity relation between building and the natural environment presents two aspects. Proximity relation with the river occurs with the free flow of tides, which advance close to the suspended houses in flood periods. The second aspect is the presence of tall vegetation, especially in the district farther from the port area, a denser area subjected to urban life dynamics. Continuity relation is maintained from the stilt house access deck until another deck that extends to the back of the house, shaded or not, functioning as a suspended yard. Regarding succession relation, it is worth emphasizing that a direct access from the public deck to the house is rare, even in the denser Centro District. Private access decks are short in the Centro District owing to density, whereas private decks are larger in the Capim Marinho District. Majority of the stilt houses presented a transition space between the private deck and main stilt house area, in both the Centro and Capim Marinho Districts.

Fig. 5: Stilt house topological analysis, Centro District, Afuá, PA, Brazil. Source: LEDH/PPGAU/UFPA, 2016.

Fig. 6: Stilt house topological analysis, Capim Marinho District, Afuá, PA, Brazil. Source: LEDH/PPGAU/UFPA, 2016.

Amazon stilt house typology: Geometric elements

The same houses previously used for topological analysis will be used for geometric analysis. Such analysis will reflect variations of the Amazon stilt house type (Figures 7 and 8). The whole is represented by the building volume; the relation between parts and the whole is reflected by proportions between house height and ground elevation, as well as by the proportion between the height and width of the facade plane. The distance between the public deck and stilt house through the private deck is also considered as a part related to the whole of the building.

Stilt houses in Centro District have shown appearance modifications, such as the use of masonry slabs and fences; however, stilt houses are still elevated using wooden pillars. Changes have been mainly performed along the main city border and its surroundings. The use of a gate as the frontal limit without the same emphasis for the lateral areas is justified as access control from the main paths. It is worth emphasizing that the replacement of wooden decks with concrete slabs occurs along both main and access decks. This district presents an easy access, from the port area through the main paths, with modifications justified by safety and protection against rodents that are due to people concentration and garbage accumulation in this area.

Stilt house geometric analysis leads to an interpretation in which volume is defined by the consequent rectangular floor plan spatiality associated with the shading volume of an apparent “two-waters” roof. In relations between parts and the whole, proportions between house height and width are not conditioned by the available area for stilt house construction and are similar in both districts; the differences are in the distance between the stilt house and the public road. Among significant parts, details of shading, gables, finishes, and decoration, in addition to benches, balconies, and facade details, are present in wooden houses as an extensive solution repertory; these elements prevail even in masonry houses in the Centro District and have been repeatedly used in stilt houses of the Capim Marinho District. Thus, these elements provide a strong identity to local buildings. Significant elements are widely reproduced in wooden houses, even in the non-colorful painted stilt houses of the Centro District. There is a rich variety among the stilt houses of Afuá.

Fig. 7: Stilt house geometric analysis, Centro District, Afuá, PA, Brazil. Source: LEDH/PPGAU/UFPA, 2016.

Fig. 8: Stilt house geometric analysis, Centro District, Afuá, PA, Brazil. Source: LEDH/PPGAU/UFPA, 2016.

Final considerations

Good news for hard times stimulates and encourages studies and reflections on how architectural thinking and practices may interact with manifestations of the socially produced Amazon habitat. Within this context, type and typology approaches for Amazon stilt houses reveal an opposition to hostility against Amazon culture through urban life consumerism, public power decisions, professional prejudice, and other factors arising from low societal appreciation for what comes from the popular knowledge.

Afuá is a living example of the appreciation for Amazon riverside culture, an invaluable source for investigating new connections between formal and popular knowledge. The Amazon habitation experience comprises intuitive knowledge and a deep sense of belonging, which is worth including in formal architectural knowledge.

Typological analysis of stilt houses built in Afuá explicitly leads to reflections on the importance and need for including popular knowledge in formal architectural knowledge. The polarity between type and typology, herein addressed in the stilt house analysis, composes local life’s repertory and references for a more Amazon-aligned architectural production. The attempt is to engender reflections and a combined analysis of type and typology, which will support the genesis of architectural projects that are committed with sense of reality and incorporation of local references.

Amazon stilt house type topological relations are reproduced in other districts that are closer to the port and compose the main access to Afuá, PA, Brazil. However, the higher density observed in the Centro District results in less abundant vegetation compared with the Capim Marinho District. Variations of significant parts’ geometric elements are more visible in the stilt houses in the Centro District, especially those in balconies and private life limits (access gate), in addition to the smaller private deck size, when compared with those from the Capim Marinho District. Direct access between the stilt house and the public deck was rarely observed; access is done through a private deck. Models were varied and consistent with the Amazon stilt house type principles, considering volume, dimensions, and featured elements.

The complexity of the social demand for domestic space defies many scientific knowledge areas that have sought answers to problems that keep changing and are not solved, including anthropology, history, human geography, engineering, social work, architecture, and urbanism. From a project perspective, habitational space comprises various questions to be investigated by architecture, such as urban and building scales. The building scale requires scientific research to test spatial usage evidence to support architectural practices.

Even in Afuá, with its riverside lifestyle tradition, stilt houses are built with richer and purer details in areas farther from the center, which are reserved for city inhabitants, such as the Capim Marinho District. Local construction traditions are maintained for new buildings, showing respect and pride for the spontaneous city and its references. Stilt houses present a rich variety of relations and elements, which produce a charming identity, even for those unfinished structures and with provisional appearance. In the words of da Rocha, come and see if you’d like to.

Note

1 Quatremère de Quincy accurately described “type” in architecture in his Historic Dictionary: “The word ‘type’ presents less the image of a thing to copy or imitate completely than the idea of an element which ought itself to serve as a rule for the model (...) When a ‘type’ is fixed in architectural practices or theory, it already exists within a determined cultural historic condition as an answer to a group of ideologic, religious, or practical requirements” (Argan, 2001).

References

Aguiar, D. V., 2010. Alma espacial: o corpo e o movimento na arquitetura. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

Argan, G. C., 2001. Projeto e Destino. 1. ed. São Paulo: Ática.

Bardan, M., 2009. Espaço (Meta) Vernacular na cidade contemporânea. São Paulo: Perspectiva.

Chupin, J-P., 2013. Analogie et Théorie en Architecture. Del avie, de la ville e de la conception, même. Gollo: Infolio.

Del Rio, V., 1998. Projeto de arquitetura: entre criatividade e método. In: V. Del Rio, org. 1998, Arquitetura: pesquisa e projeto. São Paulo: Pro Editores; Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, pp. 201-214.

Gonçalves, C. W. P., 2010. Amazônia, Amazônias. 3. ed. São Paulo: Contexto.

IBGE. Censo Demográfico. Estimativa da população residente com data referência 1 de julho de 2014. Rio de janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2015. Available at: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=150030&search=para|afua|infograficos:-informacoes-completas > [Accessed 21 August 2016].

Kuhn, T. S., 1970. The Structure of Scientific Revolutions. 2. ed. Chicago and London: University of Chicago Press.

Loureiro, V. R., 2001. Pressupostos do modelo de integração da Amazônia aos mercados Nacional e Internacional em vigência nas últimas décadas: a modernização às avessas. In: M. J. J. Costa, org. 2001. Sociologia na Amazônia: debates teóricos e experiências de pesquisa. Belém: UFPA, pp. 47-70.

Mahfuz, E. C., 1984. Nada provém do nada. Revista Projeto, 69, 1984, pp. 89-95.

Malard, M. L., 2006. As aparências em arquitetura. Belo Horizonte: UFMG.

Menezes, T. M. S., 2015. Referências ao projeto de arquitetura pelo tipo palafita amazônico na Vila da Barca (Belém-PA). Belém, PA: UFPA.

Menezes, T. M. S., Perdigão, A. K. A. V. and Pratschke, A., 2015. O tipo palafita amazônico: contribuições ao processo de projeto de arquitetura. Oculum Ensaios, 12, pp. 237-254. Available at: <http://www.redalyc.org/pdf/3517/351743262004.pdf > [Accessed 15 August 2016].

Montaner, J. M., 2001. Depois do Movimento Moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gilli.

Monteiro, E. C., 2015. Acessibilidade Espacial nas Calçadas em Estivas no Pará: estudo de caso na Ilha do Combú e na Cidade de Afuá. Florianópolis, SC: UFSC.

Muntañola, J., 2000. Topogénesis. Barcelona: Edições UPC.

Norberg-Schulz, C., 1971. Existence, space and architecture. New York: Praerger.

Oliver, P., 2006. Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture. Amsterdam: Elsevier.

Paes Loureiro, J. J., 1995. Cultura amazônica: uma poética do imaginário. Belém: Cejup.

Passos Neto, A. P., 2016. O projeto como objeto de investigação: processo de projeto de arquitetura institucional em Afuá (PA). Belém, PA: UFPA.

Perdigão, A. K. A. V., 2009. Considerações sobre o tipo e seu uso em projetos de arquitetura. Arquitextos, year 10, 114, pp. 257-264. Available at: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.114/14 > [Accessed 15 August 2016].

Perdigão, A. K. A. V. and Bruna, G. C., 2009. Representações espaciais na concepção arquitetônica. In: PROJETAR 2009: projeto como investigação. São Paulo, 2009. São Paulo: Alter Market. (CD).

Piaget, J. and Inhelder, B., 1948. La répresentation de l’espace chez l’énfant. Paris: PUF.

Pinheiro, T., Góes, K., Silva, M. G. and Silva, J., 2012. Um modo de produção no espaço ribeirinho: um estudo no Distrito de Nazaré (RO). In: Encontro Nacional de Geografia: Território em disputa: os desafios da Geografia Agrária nas contradições do desenvolvimento brasileiro. Uberlândia, 2012. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia (MG). Available at: <http://www.lagea.ig.ufu.br/xx1enga/anais_enga_2012/eixo10.html > [Accessed 15 August 2016].

Ponte, J. P. X., 2007. Cidade e água: Belém do Pará e estratégias de reaproximação das margens fluviais. Vitruvius: Arquitextos, arq085_02.asp. Available at: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.085/237 > [Accessed 15 August 2016].

Rudofsky, B., 1964. Architects without architects: a short introduction to nonpedigreed architecture. New York: Museum of Modern Art.

Simões, V. C. F., 2014. Ideadores de bicitaxi: cartografias de experiências estéticas em modos de viver e fazer bicitaxis na Veneza Marajoara (Afuá-PA). Belém, PA: UFPA.

Trachana, A., 2011. Historia e Proyeto: una revisión de los conceptos de Tipo y Contexto. Buenos Aires: Nobuko.

Trindade Junior, S-C. C., 2010. Cidades na floresta: “os grande objetos” como expressões do meio técnico-científico informacional no espaço amazônico. Instituto de Estudos Brasileiros, March/September, 51, pp. 113-137.