CARLOS LEITE

Carlos Leite é Arquiteto e Urbanista; Mestre e Doutor pela FAU.USP. Professor na FAU.Mackenzie onde coordena o Laboratório de Cocriação em Territórios Informais_Heliópolis. Diretor de Stuchi & Leite Projetos e Consultoria. Autor de Cidades Susterntáveis, Cidades Inteligentes (Bookman, 2012). www.stuchileite.com, carlos@stuchileite.com


Como citar esse texto: Como citar esse texto: LEITE, C. TERRITÓRIOS HÍBRIDOS + REINVENÇÃO URBANA: AMERIKA. V!RUS, São Carlos, n. 9 [online], 2013. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus09/?sec=8&item=1&lang=pt>. Acesso em: 13 Mai. 2025.


 


Em 2007 o Teatro Waidspeicher Puppet de Erfurt desenvolveu uma versão para palco do romance Amerika de Kafka, um trabalho que Kurt Tucholsky descreveu como “um dos mais belos livros em toda a literatura alemã”. O romance conta a estória de um emigrante europeu que, rejeitado por sua família, procura sua sorte na “terra da oportunidade”. O jovem Karl Rossmann vem à Nova York pretendendo se tornar um engenheiro. Sua chegada e aguardada. Karl encontra o rico tio e se muda para um aposento na casa deste homem feito por si só, no alto da cidade. Um novo início que começa tão surpreendentemente e promissor logo toma um rumo para o pior quando o guardião legal do rapaz o coloca na rua. Sozinho e procurando trabalho, o protagonista encontra companheiros que o atormentam, assim como sádicos chefes e exigentes mulheres.

Figura 1. “Kafka. Amerika“. Versão para teatro por Thomas Potzger, soVersion for theatre by Thomas Potzger, após o romance com o mesmo nome de Franz Kafka. Direção: Bernd Weißig. Design: Frank Zauleck. (Fonte: http://www.kurt-weill.de/images/photos/2009/2009_V12.jpg)

São nestes territórios híbridos de uma América “não oficial” que alguns usuários da cidade estão criando inovadoras e inspiradoras reinvenções urbanas. Reativando territórios. Promovendo práticas criativas. Dotando de novos significados arquiteturas e urbanismos. Atuando nos limites do formal e do informal. São nesses territórios não esperados, pelo choque de diferenças, que reinvenções locais contaminam e ajudam a fazer um novo mapa da América contemporânea. Amerika 1 , como brilhantemente retratada por Franz Kafka em seu romance de 1927.

Kafka nunca pisou na América. Sua percepção do território é uma forte leitura entre realidade e imaginação, criação e recriação. Um território híbrido, preenchido por ressignificações.

O Karl Rossman que navega pelas comunidades nas bordas de Nova Iorque, entre prostitutas e trapaceiros, jovens empreendedores e imigrantes resignifica o território e lhe dá novas possibilidades de uso e interpretação.

Não é dual. É complexo. Reinventado,

De acordo com um artigo recente publicado por Saskia Sassen, não apenas a influência das cidades vai eclipsar o poder das nações-estado nesse século, mas também nós estamos enfrentando as “sementes de uma geopolítica urbana e muito de sua informalidade”: a ascensão de novos vetores que incluem em uma curta lista de somente sete vetores urbanos emergentes, a região de São Paulo-Rio de Janeiro 2 .

São Paulo, com quase 20 milhões de pessoas em sua região metropolitana, surge como um megacidade emergente, a locomotiva do novo Brasil, 7ª maior economia no Mundo. O PIB da megacidade é comparável ao do maior vizinho do Brasil, Argentina, e igual ao de um país rico como a Áustria (U$ 318 bilhões, 2012).

Considerando o Rio de Janeiro, existe um impressionante fenômeno de “Fênix urbana” em curso na cidade desde 2010, com enormes obras de infraestrutura urbana ocorrendo por toda a cidade, poder econômico e politico finalmente sendo recuperados depois de décadas de decadência e a perda de poder para São Paulo e a cidade recebendo os maiores eventos internacionais – Copa do Mundo de Futebol em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016 –, parece estar recuperando o orgulho próprio.

Outro evento recente e bastante publicado na mídia internacional foi a eleição de Medellin como a “cidade mais inovadora do mundo” 3 .

A cidade se tornou um caso internacional de renascimento urbano quase deixando para trás a dramática guerra urbana dos cartéis de drogas nas décadas de 80 e 90, assim como novos e reconhecidos projetos de arquitetura que tem atuado como poderosos agentes de inclusão social.

Quanto à Bogotá, é fato conhecido a sua reinvenção nas recentes décadas com uma série de soluções urbanas, do enorme sistema Transmilênio BRT – inspirado no sistema de Curitiba – às novas bibliotecas e parques urbanos, habitação coletiva e uma impressionante rede de linhas dedicadas às bicicletas as quais transformaram seu último transformador, o Prefeito Enrique Peñalosa em um consultor popstar em sustentabilidade na cidade.

Mas o que está aparecendo por trás destas manchetes nas cenas das cidades, por detrás das histórias oficiais?

O que está acontecendo no palco concreto da comunidade de pessoas comuns na cidade?

Territórios Híbridos, reinvenção urbana.

Existe um processo de reinvenção urbana e inovação social através das pessoas nesses territórios híbridos das cidades emergentes.

Em muitas cidades ao redor do globo neste século estamos vendo o reflexo no território do final da era fordista – cidades que construíram enormes infraestruturas para os carros, sem urbanidade local (dimensões urbanas locais). As transformações recentes no território urbano são baseadas em forte demanda dos “urbanoides”: cidadãos urbanos reinventando lugares em todo lugar para encontrar pessoas, interagir, compartilhar, inovar.

Encarando o desafio de aliar masterplans estratégicos e a construção de enormes infraestruturas para a cidade com táticas de infiltração macro-micro, existe uma emergência de construção da urbanidade, construindo táticas de apropriação de dimensão local. A reativação do território local.
Cidades para pessoas. Reinventada por pessoas. Em densas cidades não formais. Criando algo novo entre realidades formais e informais. Territórios híbridos.

Como recentemente lembrado por Koolhaas:

Apesar de infraestruturas poderem separar comunidades, pode também ajudar a integrá-las. Se ruas, ruelas e espaços públicos são porosos, um termo usado pelo sociólogo urbano Richard Sennett para explicar a natureza das fronteiras da cidade, ela têm potencias para criar uma sociedade urbana mais integrada. Se elas não são, você deve terminar com cidades de guetos. Um dos maiores desafios que prefeitos e urbanistas encaram é como lidar com o metabolismo existente da cidade (KOOLHAAS, 2012, p. 2229).

Uma solução comum para essas estratégias “out-of-the-box” da cidade é a crescente função da sociedade civil e novas formas de governança, espacialmente ações do tipo Hélice Tripla (universidades + empresas + governo), ou projetos os quais são levados pela sociedade ou pelo setor privado e politicamente patrocinado pelo governo local.


Além dessa estratégia, que podemos ver em muitas cidades ao redor do mundo hoje em dia, a particularidade básica aqui é um processo menos formal de situações botton-up criativas e inovadoras nesses territórios da cidade. Práticas criativas e micro-planejamento urbano no território híbrido.

São Paulo, Rio de Janeiro, Bogotá e Medellin estão nos mostrando novas formas de reinvenções urbanas, inventivamente conectando o formal e o informal, criando entre as situações, programas não-ortodoxos.

Emerge um poder contagiante de reinvenção nesses grandes aglomerados urbanos. As pessoas e as cidades que estão sendo redescobertos de forma criativa e inovadora, reconstruindo o seu destino depois de períodos de declínio e gerando situações híbridas contaminadas por antigas condições pré-existentes e as emergências do novo: oportunidades, programas, eventos, pessoas.

Figura 2. Unsolicited Urbanism, Hybrid Urbanism. BioUrban Complex, Bairro Amarelo, ressignificação do espaço. São Paulo. Jeff Anderson e Biourban. (Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=BADKZF5o7OU

À semelhança de Karl Rossman, Jeff Anderson deixou o mundo formal de sua classe média paulistana há alguns anos, para viver na favela, ressignificando o território junto à comunidade local e reinventando-se. Seu Biourban se replica pelos territórios híbridos de São Paulo, na fronteira do formal e do informal.

Olhares atentos descobrem facilmente nesses territórios CineFavelas, Hortas comunitárias em lajes de casas de favelas, cinemas ao ar livre itinerantes e praças da integração. Alguns deles foram mapeados por Marcos Rosa com grande repercussão internacional (ROSA, WEILAND, 2013).

Emerge uma proliferação de inciativas botton-up, práticas criativas e empreendedorismo local, mesmo que informal, que dão outra face à pujança das megacidades da América.

Esses poderosos lugares emergentes estão não mais no hemisfério norte, em países ricos e desenvolvidos. Eles estão em Mumbai, Bogotá, Lagos, Rio de Janeiro, São Paulo. Elas todas têm territórios em transformações dramáticas. Mutantes. Lá, pessoas estão vivendo em uma forma complexa e menos formal. Menos e menos parecidas com as cidades bem resolvidas formalmente como Nova York e Londres. Nelas, os territórios híbridos entre formal e informal aparecem agora como poderosos agentes de produtiva transformação e geram inovação.

As histórias de pessoas e lugares mesclam esses caminhos de reinvenções, onde o ponto de inflexão ocorre invariavelmente em relações simbióticas entre um e outro. As pessoas que construíram novas rotas a partir de uma virada criativa onde o ambiente urbano, a cidade, foi protagonista. Ambientes urbanos, cidades e territórios que reinventaram após mergulhos depressivos, estagnação urbana e econômica, decadência e abandono, através da presença de personagens locais que alavancaram novos usos e significados, e reprogramaram lugares, reativados, os reocuparam.

Tópicos atuais - temas, conceitos - estão emergindo nestas megacidades da América do Sul: a reinvenção, a resiliência, inovação, práticas criativas, urbanismo & alegria, a reinvenção da vida cotidiana, ativismo, ocupações criativas, pontos de encontro, dinâmicas formais-informais, micro empreendedorismo, economia criativa, emergências, contaminação, compartilhamento de cooperação, urbanismo tático, urbanismo “faça-você-mesmo” (Do-It-Yourself - DIY), urbanismo feito à mão, micro planejamento.

O tema sugere adicionar territórios informais e formais.

O território híbrido é uma peça aberta que anexa operações pós-estéticas que descobrem novos usos e oportunidades e resignificações.

Espaços mais fluidos, com maior liberdade de ação e possibilidades para momentâneas reconfigurações, e que nós poderíamos chamar arquitetura infraestrutural. Uma arquitetura como estrutura de apoio e alimentação de um futuro. Khôra, espaços “entre” (GUATELLI, 2013).

Rem Koolhaas em uma recente publicação considerando o Futuro das Cidades, apontou:

A reinvenção e a releitura das cidades está ocorrendo em todo o mundo. A energia que inspira reinvenção ou vem de pressão quando as forças negativas levam a um avanço, que é o que eu notei em Lagos-ou cidades obtêm sua energia a partir de esforço. As cidades são máquinas para a emancipação. Quando o esforço pela emancipação atinge a sua máxima intensidade, quando há a promessa mais clara de sucesso, a mudança é mais intensa...O economista Johnny Grimond disse uma vez, o seguinte sobre cidades: ‘Uma das coisas mais marcantes sobre as favelas é que muitas pessoas lá são bastante alegres. Isso é um tributo ao espírito humano que, mesmo encarando uma considerável adversidade, muitas pessoas continuam com suas vidas e se organizam em uma extraordinária e impressionante forma (KOOLHAAS, 2012, p. 2576).

Um novo ecossistema urbano: aglomerados líquidos em territórios híbridos.

No final do século 20, devido ao crescente processo do mundo digital, viu-se o aparecimento de fortes “verdades urbanas”: “morte da distância”, “fim da geografia”, “fim da história” e a “morte das cidades”.

Passados quinze anos, o que se vê agora é quase o oposto. Mesmo sendo mais e mais conectados digital e virtualmente, pessoas ao redor do mundo estão se encontrando fisicamente. Em cidades. Como nunca antes. Para fazer tudo, dos movimentos de ocupação (occupy), ao compartilhamento de conhecimento, cultura, emoções, trabalhos e ideias inovadoras.

Como lembrado pelo economista Enrico Moretti (2003), de Berkeley: “reinvenção urbana é possível pelas virtudes urbanas tradicionais que são encontradas em Detroit do século dezenove: trabalhadores educados, pequenos empreendedores, e ação recíproca criativa”.

Novas ideias estão chegando de megacidades emergentes como São Paulo, Rio de Janeiro, Bogotá e Medelin. Gerando novos tipos de inovações da/na cidade.

Jovens inovadores urbanóides estão reinventando o território do Vale do Silício também. Ônibus articulados, Muni, Caltrain, ciclovias, vans compartilhadas, e a Iniciativa Grand Boulevard transformando El Camino Real em um corredor de alta velocidade ligando o Vale à baía de São Francisco estão sendo reinventadas para conectar pessoas desde Berkeley à Palo Alto, desde SOMA à Stanford.

Eles estão interessados em morar e produzir ideias não mais em cidades de baixa densidade orientadas para os carros no Vale do Silício, mas em territórios  com maior urbanidade, densos, de uso misto com a concentração de pessoas diversas se encontrando e produzindo “cidade para as pessoas”. Eles estão mudando-se para a área da baía de São Francisco, reinventando lugares como SOMA, The Design District, Mission May.

O grande território do Vale do Silício e da baía de São Francisco estão começando a ser reinventadas pelas mais inovadores mentes de hoje em dia.

O que eles estão procurando? Design urbano e sustentabilidade, amenidades da cidade, transporte público e bons espaços públicos lotados de pessoas diversas.

Figura 3. DIY (faça-você-mesmo) Urbanismo, SPUR, San Franscisco 4

Assim como eles sabem que há uma forte relação entre territórios de classe criativa e a acessibilidade do transporte público, eles também sabem que proximidade e densidade criam “algo no ar”, como Alfred Marshall colocou em 1890 entregando ao mundo moderno os fundamentos da inovação e emergência de novas ideias dos ambientes aglomerados de pessoas (LEITE, 2012).

E de novo, aquelas jovens pessoas na área da Baía são menos formais. Mais ricas que sua geração nas cidades do Sul, mas com as mesmas demandas e táticas similares: reinventar o território, criar situações “entre”, gerar dinâmicas híbridas.

Edward Glaeser, talvez o mais renomado economista urbano de hoje em dia, coloca as habilidades das pessoas, pequenos empreendedorismos e fortes conexões ambientais e educação como os atributos básicos para a reinvenção das cidades do século 21 (GLAESER, 2011).

Ele também mapeou inovações emergindo em favelas do Rio de Janeiro e Mumbay. Certamente não a mesma inovação que tem sido gerada na área da baía de São Francisco. Megacidades brasileiras têm melhorado na inclusão social incluindo acesso à educação para pessoas em territórios informais, mas seu ambiente educacional está ainda muito distante das Universidades do Norte da Califórnia. O ponto comum não é este, mas todos os outros atributos e, provavelmente, alguns atributos intangíveis apresentados naquele híbrido e denso território emergente.

Steve Johnson, o teórico das ciências populares e novas mídias, revisitando o conceito básico de Jane Jacobs, foca nas demandas para a emergência de ideias inovadoras: o poder e potencial criativo das densidades urbanas para compartilhamento de ideias, geração de inovação e desenvolvimento de “inteligência coletiva” em territórios chamados de “ambientes líquidos.” (JOHNSON, 2002).

Talvez estejamos vendo a emergência de novas formas de aglomerações urbanas. Diferentemente dos aglomerações high-tech do tradicional Vale do Silício, estas são mais informais, híbridas, mas de novo baseadas em forte poder de concentração de pessoas gerando ideias e inovação. Pessoas diversas. Inovando no design social do território.

Figura 4. O Final Feliz de Amerika de Franz Kafka. Museu Boijimans Van Beuningen, Rotterdam, 1994, mídia mista, dimensões variáveis (Fonte: Estate Martin Kippenberger, Galerie Gisela Capitain, Colônia).

“O problema não é ser livre, mas achar uma maneira de sair…” (DELEUZE, GUATTARI, 1986, p.7-8)

Referências

DELEUZE, G. e GUATTARI, F. Kafka: Towards a Minor Literature. Minneapolis: The University of Minnesota Press, 1986, p. 7-8.
GLAESER, E. Triumph of the City: How Our Greatest Inventions Makes us Richer, Smarter, Greener, Healthier and Happier. New York: Penguin Press, 2011.
GUATELLI, I. Arquitetura dos Entre-lugares. Sobre a importância do trabalho conceitual. São Paulo, Senac, 2012.
JOHNSON, S. Emergence. The Connected Lives of Ants, Brains, Cities and Software. New York: Scribner, 2002.
KOOLHAAS, R. The Future of the City. New York: Columbia University Press, Journal of International Affairs, Spring/Summer 2012, p. 2229
LEITE, C. Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes. Porto Alegre: Bookman, 2012.
MORETTI, E. The New Geography of Jobs. New York: First Mariner Books, 2013.
ROSA. M.; WEILAND, U. eds. Handmade Urbanism. From People Community Iniatives to Participatory Models. Berlim: Jovis, 2013.

1 Franz Kafka. Amerika. Kindle Edition. London: Randon House, 2012. Versão original 1927.

2 Saskia Sassen dominant urban vectors: 1. Washington/New York/Chicago; 2. Beijing/Hong Kong/Shanghai; 3. Berlin/Frankfurt/Brussels; 4. Istanbul/Ankara: Istanbul; 5. São Paulo/Rio de Janeiro/Brasilia; 6. Cairo/Beirut/Riad; 7. Geneva/Vienna/Nairobi. From: Sassen, Saskia, Ephemeral Kingdoms, Eternal Cities in The European, 11.03.2013.

3 In 2012, o Wall Street Journal Magazine junto ao Urban Land Institute (ULI) apontou a cidade como a mais inovativa do mundo (http://online.wsj.com/ad/cityoftheyear, acessado em 10/08/2013).

4 Mimi Zeiger. The Interventionist’s Toolkit: Project, Map, Occupy. Places, 27.03.12. http://places.designobserver.com/feature/the-interventionists-toolkit-part-4/32918/

CARLOS LEITE

Carlos Leite is an Architect and Urbanist with MSc and PhD from FAU.USP. Professor at FAU.Mackenzie where he coordinates the Smart Informal Territories Lab_Heliópolis. Director of Stuchi & Leite Projetos e Consultoria. Author of Cidades Susterntáveis, Cidades Inteligentes (Bookman, 2012). www.stuchileite.com, carlos@stuchileite.com


How to quote this text: LEITE, C., 2013. HYBRID TERRITORIES + URBAN REINVENTION: AMERIKA.V!RUS, São Carlos, n. 9 [online]. Translated from Portuguese by Vitor Locilento Sanches.


In 2007 the Waidspeicher Puppet Theatre from Erfurt developed a stage version of Kafka’s novel Amerika, a work that Kurt Tucholsky described as “one of the most beautiful books in all German literature”. The novel tells the story of a European emigrant who, rejected by his family, seeks his fortune in the “land of unlimited opportunity”. The young Karl Rossmann comes to New York intending to become an engineer. His arrival is awaited. Karl meets a rich uncle and moves into an apartment in the house of this self-made man, high over the city. A fresh start that begins so surprisingly and promisingly soon takes a turn for the worse when the boy’s legal guardian sets him out onto the street. Alone and seeking work, the protagonist meets companions who torment him, as well as sadistic bosses and demanding women.

Figure 1. “Kafka. Amerika“. Version for theatre by Thomas Potzger, after the novel of the same name by Franz Kafka. Direction: Bernd Weißig. Design: Frank Zauleck. (Available at: http://www.kurt-weill.de/images/photos/2009/2009_V12.jpg)

It is in these hybrid territories of a “non-official” America that some city users are creating innovative and inspiring urban reinventions. Creative practices. New meanings. In the borders of formal and informal. It is in these non-expected territories, through the shock of differences, that local reinventions contaminate and help make a new map of contemporary America. Amerika 1 , as brilliantly portrayed by Franz Kafka in his 1927 novel.

Kafka never stepped in America. His perception of the territory is a strong reading in between reality and imagination, creation and recreation. An hybrid territory, filled by resignifications. The Karl Rossman that navigate through the borders of New York, between prostitutes and cheaters, entrepreneurs and immigrants re-signifies the territory and give it new possibilities of use and interpretation.

It´s not dual. It complex. Reinvented.

According to a recent article published by Saskia Sassen, not just the influence of cities will eclipse the power of nation-states in this century, but also we are facing the “seeds of an urban geopolitics and much of it is informal”: the rise of these new vectors would include in a short list of just seven urban emerging vectors, the region of Sao Paulo-Rio de Janeiro 2 . Sao Paulo, with 20 million people in its metropolitan region, emerged into a megacity emergent power in recent years as the locomotive of the new Brazil, 6th largest economy in the world. The megacity GDP is comparable to Brazil’s main neighbor, Argentina and equals to a rich country like Austria (381 U$ Billion, 2012).

Concerning Rio de Janeiro, there is an impressive Phoenix phenomenon in course in the city since 2010, with huge urban infrastructure works all over the city, favelas being pacified and urbanized, economic and political power finally being recovered after decades of decay and losing power to Sao Paulo, the city to receives to major international events – World Soccer Cup in 2014 and Olympic Games in 2016.

Another recent and well publicized in the international media event was the election of Medellin as the “most innovative city in the world” 3 .

The city became an international case of urban renaissance almost leaving behind the dramatic drug cartels urban war of the 80’s and 90’s, as well as recognized new architecture projects.

As for Bogota, it is a known fact its reinvention in the recent decades with a series of urban solutions from the Transmilenio BRT huge system – inspired in the Curitiba system – to the new public libraries and parks, collective housing and an impressive network of bike dedicated lines which transformed his last transformer Mayor Enrique Peñalosa into a city sustainability popstar consultant internationally.

But what is appearing behind and besides this headlines-curtain in the city scene, these official histories?

What is happening in the concrete community stage of common people in these cities?

Hybrid territories urban reinvention.

There is an urban reinvention and social innovation process through people in these emerging cities hybrid territories.

In many cities around the globe this century we are seeing the reflection on the territory of the end of the fordist era – cities built through huge infrastructures and for cars, without urbanity (local urban dimension).  The recent transformations on the urban territory are based on strong demands by urbanoids, urban citizens reinventing places everywhere for people to meet, interact, share, innovate. 

Facing the challenge of ally master strategic plans and construction of huge infrastructures for the city with tactics of macro-micro infiltration, there’s an emergence of construction of urbanity, building tactics of appropriation of local dimension.

Cities for people. Reinvented by people. In dense non formal cities. Creating something new in between formal and informal realities. Hybrid territories.

As recently remembered by Rem Koolhaas:

Even though infrastructure can separate communities, it can also help integrate them. If streets, alleyways and public spaces are “porous,” a term used by urban sociologist Richard Sennett to explain the nature of a city’s boundaries, they have the potential to create a more integrated urban society. If they are not, you may end up with a city of ghettos. One of the biggest challenges mayors and urban designers face is how to handle a city’s existing metabolism (KOOLHAAS, 2012, p. 2229).

A common solution for those “out-of-the-box” city strategies is the growing role of civil society and new forms of governance, especially Triple Helix actions (universities + businesses + government), or projects which are led by the society or the private sector and politically sponsored by the local government.

Besides this strategy, which we could see in many cities around the world nowadays, the basic particularity here is a less formal process of botton-up creative and innovative situations in these cities territories.

Sao Paulo, Rio de Janeiro, Bogota and Medellin are showing us new forms of urban reinventions, inventively connecting formal and informal, creating in between situations, non-orthodox programs.

Emerges a contagious power of reinvention in these large urban clusters. People and cities that are being rediscovered in a creative and innovative way, rebuilding their destiny after periods of decline and generating hybrid situations contaminated by old pre-existing conditions and the emergencies of the new: opportunities, programs, events, people.

Figure 2. Unsolicited Urbanism, Hybrid Urbanism. BioUrban Complex, Bairro Amarelo, ressignificação do espaço. São Paulo. Jeff Anderson e Biourban. (Available at: http://www.youtube.com/watch?v=BADKZF5o7OU

Similarly to Karl Rossman, Jeff Anderson left the formal world of his medium class of São Paulo society for several years, to live in slums, re-signifying the territory with the local community and reinventing himself. His Biourban replicates itself along the hybrid territories of Sao Paulo, on the borders of formal and informal.

Careful eyes easily discovers on these territories CineSlums, community gardens in slum houses’ slabs, outdoor itinerant cinemas and integration squares. Some of them were mapped by Marcos Rosa (ROSA, WEILAND, 2013).

Emerges a proliferation of botton-up initiatives, creative practices and local entrepreneurship, even informal ones, that gives other face to the American megacities puissance.

These emerging powerful places are no longer in the Northern Hemisphere, in rich, developed countries. They are in Mumbai, Bogota, Lagos, Shanghai, Rio de Janeiro, Sao Paulo. They all have territories in dramatic transformation. Mutants. There, people are living in a complex and less formal way. Less and less alike the well solved formal cities like New York or London. In them, the hybrid territories between formal and informal appear now as powerful agents of productive transformation and generating innovation.

The stories of people and places merge in these paths of reinventions, where the turning point occurs invariably in symbiotic relationships between one another. People who have built new routes from a creative turn where the urban environment, the city, was the protagonist. Urban environments, cities and territories that have reinvented after depressive dives, urban and economic stagnation, decay and abandonment, through the presence of local characters that leveraged new uses and meanings, and reprogrammed places, reactivated, reoccupied them.

Current topics – issues, concepts - are being presented in these megacities of South America: reinvention, resilience, innovation, creative practices, urbanism & happiness, the reinvention of everyday life, activism, creative occupations, meeting points, formal-informal dynamics, micro entrepreneurship, creative economy, emergencies, contamination, cooperation sharing, tactical urbanism, DIY urbanism, handmade urbanism, micro planning.

The theme suggests adding informal territories and formal territories.

The hybrid territory is, before they design, an open piece that attaches, post aesthetic operation of the look that discovers a new use.

Spaces more fluid, with more freedom of action and possibilities for momentary re-settings, and that we could call infrastructural architecture. An architecture as structure of support and power of a future. A Khôra, an in between-spaces (GUATELLI, 2013).

Rem Koolhaas on a recent publication concerning the Future of Cities, pointed out:

The reinvention and the reimagining of cities are taking place all over the world. The energy that inspires reinvention either comes from pressure—when negative forces lead to a breakthrough, which is what I noticed in Lagos—or cities get their energy from striving. Cities are machines for emancipation. When the striving for emancipation is at its most intense, when there is the clearest promise of success, change is at its most intense…The Economist’s Johnny Grimond once said the following about cities: ‘One of the striking things about slums is that many people there are really quite cheerful. It is a tribute to the human spirit that, even in the face of considerable adversity, so many people get on with their lives and organize themselves in an extraordinarily impressive way (KOOLHAAS, 2012, p. 2576).

1 Franz Kafka. Amerika. Kindle Edition. London: Randon House, 2012. Original version 1927.

2 Saskia Sassen dominant urban vectors: 1. Washington/New York/Chicago; 2. Beijing/Hong Kong/Shanghai; 3. Berlin/Frankfurt/Brussels; 4. Istanbul/Ankara: Istanbul; 5. Sao Paulo/Rio de Janeiro/Brasilia; 6. Cairo/Beirut/Riad; 7. Geneva/Vienna/Nairobi. From: Sassen, Saskia, Ephemeral Kingdoms, Eternal Cities in The European, 11.03.2013.

3 In 2012, the Wall Street Journal Magazine teamed up with the Urban Land Institute (ULI) to determine which city — wherever in the world — deserved the title “Innovative City of the Year.” For the first round, ULI produced a list of 200 contenders, and then asked readers of WSJ. Magazine and others to vote on the city that deserved the title. The original list of 200 was reduced to 25. They then asked readers and others to vote again and the list was narrowed to three finalists. From: http://online.wsj.com/ad/cityoftheyear.