Processos de Design Cibersemióticos

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O campo da Arquitetura atualmente vem se transformando, alimentado por pesquisas desenvolvidas em comunicação, interação, computação gráfica, prototipagem, interfaces tangíveis, conectividade móvel, e outras mediações que envolvem os processos de design. Essas tecnologias alteram nossa percepção espacial e mudam a maneira como nos relacionamos uns com os outros. Para Usman Haque (apud PRATSCHKE 2009), “já não é possível pensar em Arquitetura como algo estático e imutável. Em vez disso, devemos vê-la como dinâmica e ágil.” Por questões inerentes aos processos de observação, representação e performance que se afirmam com as modificações estabelecidas nas praticas projetivas de arquitetos e designers a partir destas transformações, assim como das complexidades que decorrem destes processos, e do modo como são observados, interpretados e experimentados por todos os envolvidos, o presente projeto de pesquisa pretende, em um primeiro momento, estudar a meta-ciência denominada Cibersemiótica, proposta por Sören Brier, a partir dos princípios cibernéticos e semióticos, para posteriormente propor aplicações práticas que verifiquem esses conceitos de modo a revisar e potencializar os processos de design em Arquitetura.
Segundo os princípios do pensamento cibernético, a Arquitetura deveria ser um catalisador para redefinir as relações e os padrões entre as pessoas e instituições, exaltando um desejo apaixonante de melhorar a condição humana. Para o arquiteto Cedric Price[1], a Arquitetura deveria ter como uma de suas características principais a "não-permanência", sendo projetada para mudanças contínuas. Uma geração específica de arquitetos da era pós-máquina tratou de buscar algumas destas possibilidades por meio de abordagens transdisciplinares. A partir de Gordon Pask[2], a aproximação da Cibernética com a Arquitetura na década de 1960 efetivou colaborações realizadas em particular na Architectural Association de Londres, e no Massachussets Institute of Tecnology - MIT (que viria formar posteriormente o Media Lab[3]). Pode-se argumentar que essas colaborações estavam muito à frente de seu tempo e não foram totalmente aproveitadas pela comunidade arquitetônica, mas elas  ajudaram a definir as bases para  ambientes dinâmicos, ágeis e autenticamente interativos. (HAQUE, 2007). Ainda segundo Usman Haque, desta relação surgiram muitos nomes, como Cedric Price e John Frazer[4], que influenciaram e influenciam até hoje muitos arquitetos contemporâneos que agem dentro da chamada cultura digital. Esses arquitetos, por sua vez, remetem a outras gerações de arquitetos que manifestam um pensamento cibernético em sua origem mais essencial, mais ligada à própria Teoria Cibernética[5], e que merecerão nossa devida atenção, como por exemplo, o próprio Usman Haque[6].
Para uma Arquitetura baseada nos conceitos cibernéticos, incerteza calculada, obsolescência programada e vida útil levando-se em consideração o fator tempo, deveriam ser consideradas nos projetos. Para Cedric Price, uma construção deveria durar somente o tempo em que for útil. Por sua vez, os arquitetos deveriam proporcionar caráter antecipatório a seus projetos, permitindo às pessoas a possibilidade de moldarem seus próprios espaços, postura que reforça a ênfase performativa e que geraria um espaço que poderíamos chamar de espaço colaborativo responsivo.
Em várias áreas da ciência, tanto a Semiótica de Peirce quanto a Cibernética de Segunda Ordem se desenvolveram em seus universos teóricos e de aplicações em diversos níveis, porém de modo independente e, de certo modo, em paralelo. Portanto, caracterizados os conceitos básicos acerca da Semiótica de Peirce e da Cibernética de Segunda Ordem, torna-se importante considerar o fato de que da aproximação destes dois campos de conhecimento especialmente na área da Biologia a partir dos anos 2000, surge a meta-ciência denominada Cibersemiótica, conforme é proposta por Sören Brier:

A abordagem da cibersemiotica trabalha, por um lado, fazendo as sinergias entre a teoria dos sistemas de socio-comunicação de Luhmann e sua base na lógica de distinção de Spencer-Brown, a inclusão da teoria de Maturana e Varela de autopoiesis e a teoria de Heinz von Foerster da cibernética de segunda ordem, e por outro lado, da semiótica peirceana pragmática, na forma da nova biossemiótica de Thomas Sebeok (incluindo todos os sistemas vivos e do corpo humano na esfera semiótica), combinada com Lakoff (1987) e Lakoff e Johnson (1999),  e incorporando a semântica cognitiva Wittgenstein e da teoria dos jogos de linguagem. (BRIER, 2003).


[1] Cedric Price (11 de setembro de 1934 - 10 de agosto de 2003) foi um arquiteto inglês, professor e influente escritor na arquitetura, considerado um dos arquitetos mais visionários do século 20. Sua abordagem na arquitetura com base na não-permanência das intervenções urbanas, garantiu que seu trabalho tivesse uma influência duradoura sobre arquitetos e artistas contemporâneos.
[2] Andrew Gordon Speedie Pask (28 de junho de 1928 em Derby - 28 de março de 1996 em Londres) foi um ciberneticista Inglês e psicólogo que fez contribuições significativas para a cibernética, a psicologia instrucional, epistemologia experimental e tecnologia educacional.
[3]http://www.media.mit.edu/
[4] John Frazer é arquiteto e professor de Inglês e influente escritor sobre a arquitetura e tecnologias de CAD. Pioneiro em arquitetura, urbanismo e design, suas pesquisas iniciais foram desenvolvidas na Architectural Association de Londres, Cambridge University, da Universidade de Ulster, e, a Universidade Politécnica de Hong Kong, onde foi professor da cadeira Swire, chefe da Escola de Design e Diretor de Tecnologia da Design Research Centre.
[5] De acordo com Wiener (apud Ashby 1957) a Teoria Cibernética trata do controle e comunicação em animais e máquinas. Em uma atualização diagramática feita por Peter Solderitsch, podemos concluir que a Cibernética é a ciência de observar sistemas e compreender sistemas observados.