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Nomads diz:
Olá Yacine!

ElectronicShadow diz:
Olá Marcelo!

ElectronicShadow diz:
O Acabamos de mandar uns textos prá vocês por e-mail

Nomads diz:
Ok, nós vamos olhar... Desculpem-nos por essa correria...!

ElectronicShadow diz:
Sem problemas. Podemos enviar imagens também.

Nomads diz:
Seria ótimo! Nós vimos os vídeos no site de vocês, que nós poderíamos talvez incluir no nosso site. Isso porque, como eu havia explicado a vocês, VIRUS se compõe de duas peças, uma impressa e a outra 'virtual' – um site na internet.

ElectronicShadow diz:
Ok

Nomads diz:
Nós decidimos fazer uma relação com o projeto de vocês na Sicília, Itália: quando se entra no site do VIRUS haverá uma mensagem dizendo "Aqui você está no 25o fuso horário..."
Em seguida se pergunta ao visitante: "De onde você vem?", e ele tem possibilidade de interação para responder.

ElectronicShadow diz:
Muito obrigado! Esse é um dos nossos temas mais importantes.

Nomads diz:
Que bom! Então, se vocês quiserem explicá-lo um pouco melhor, sintam-se à vontade.

ElectronicShadow diz:
Vocês querem que nós respondamos agora a todas as perguntas? Nós temos um pouco de tempo livre.

Nomads diz:
Ok, ótimo, há outras pessoas do Nomads aqui que também terão perguntas a fazer a vocês.

ElectronicShadow diz:
Ok. Naziha está aqui ao meu lado.

Nomads diz:
Olá Naziha!

ElectronicShadow diz:
Sim, o 25o fuso horário é a idéia do espaço compartilhado, para além das fronteiras físicas, em um pensamento de arquitetura que integra a rede [internet] em sua própria concepção
ElectronicShadow diz:
Olá Marcelo!

Nomads diz:
Nós também queríamos enfatizar o processo de criação de vocês. Vocês poderiam falar disso um pouco?

ElectronicShadow diz:
Ok, os textos são descrições dos projetos e não dizem nada sobre nosso processo, então vamos responder.

Nomads diz:
Vocês me falaram dessa idéia do 25o fuso horário durante nosso encontro em Paris, mencionando uma relação possível com o espaço concreto, lembram-se?

ElectronicShadow diz:
Sim, e nós criamos o ElectronicShadow com essa idéia de hibridação entre realidade física e extensão digital.
ElectronicShadow diz:
Potencialmente ela cria novos territórios, e uma relação especial com o espaço

Nomads diz:
Sim, lembro-me que vocês contaram que têm um apartamento para dormir e receber as contas... e que é no espaço virtual onde o trabalho realmente acontece

ElectronicShadow diz:
É isso mesmo.
ElectronicShadow diz:
Na verdade, é engraçado mas nós somos realmente produtos de uma cultura nômade. Isso quer dizer que não nos definimos em relação a uma origem territorial. Estamos em movimento, num espaço-entre, que nos leva de novo a essa idéia de hibridismo. Nessas condições, o espaço virtual torna-se um lugar em si mesmo.
ElectronicShadow diz:
Aplicamos essa maneira de pensar ao nosso trabalho e à nossa estrutura, que é completamente móvel. O nosso site na internet é o nosso único "ponto fixo". Foi o que aconteceu quando ficamos em Palermo durante quase um ano, mas também esse ano que passamos no Japão, na Itália...
ElectronicShadow diz:
Porque, paradoxalmente, quanto mais virtualizamos a relação com o espaço mais viajamos, já que a estrutura física não corresponde necessariamente à abrangência da rede.

Nomads diz:
Como vocês usaram o site como ponto de referência quando estavam viajando?

ElectronicShadow diz:
Nosso servidor é realmente nosso escritório e nossa sala de reuniões. Passados os encontros iniciais e as fases preparatórias, nós desenvolvemos um site para cada projeto em curso, que nós compartilhamos com nossos parceiros e clientes, onde quer que eles estejam.

Nomads diz:
Ok

ElectronicShadow diz:
Nosso endereço IP é mais importante do que o nosso endereço físico porque raramente ficamos duas semanas seguidas no mesmo lugar.
ElectronicShadow diz:
No entanto, se alguém nos manda um e-mail pode ter absoluta certeza de que receberá resposta
ElectronicShadow diz:
onde quer que nos encontremos fisicamente.
ElectronicShadow diz:
Para o projeto do Centro Cultural Francês em Palermo, na Sicília, a idéia era transferir para a internet uma parte das funções do espaço físico, repartindo, assim, uma série de informações e de conteúdos entre os dois espaços
ElectronicShadow diz:
sem ter que deslocar-se fisicamente no lugar.
ElectronicShadow diz:
Mas notem que não se trata de um pensamento totalmente virtual, na medida em que essa elaboração só se faz mediante um contato prévio e, igualmente, a existência de um receptor.

Nomads diz:
Como isso se deu em Palermo?

ElectronicShadow diz:
Em Palermo, nós ficamos sete meses lá para acompanhar a obra e desenhar todos os detalhes.

Nomads diz:
Mas me parece que havia no projeto uma vontade de aproximar as atividades do espaço físico de interações no virtual, não?

ElectronicShadow diz:
Sim.
ElectronicShadow diz:
Essa dimensão não foi realizada, mas o princípio era que uma ação ou presença no espaço físico tinha conseqüências na visita do site virtual e vice-versa.
ElectronicShadow diz:
Dessa maneira, cada lugar físico deveria tornar-se o acesso a uma rede muito mais vasta.

Nomads diz:
Me parece também que essa idéia foi explorada em um evento organizado entre Helsinque e Palermo...

ElectronicShadow diz:
Sim, isso mesmo.
ElectronicShadow diz:
Nós realizamos uma instalação interativa que colocava dois públicos em um mesmo espaço compartilhado.
ElectronicShadow diz:
Nós o chamamos de Mediterrâneo Virtual.
ElectronicShadow diz:
A idéia era que os dois portos compartilhavam um mesmo mar, o mar da informação, e que os dois públicos em seus respectivos fusos horários compartilhavam o mesmo espaço.
ElectronicShadow diz:
Foram essas pesquisas e realizações que nos levaram a elaborar nosso trabalho atual.

Nomads diz:
Ainda sobre o processo de criação de vocês, como ele ocorre no cotidiano da prática profissional, ou como as idéias são construídas, interligadas, realizadas...?

ElectronicShadow diz:
Como você sabe, Naziha é arquiteta e eu venho da direção (tv, multimídia). Nós sempre começamos pelo desenho, trocamos idéias e partimos em geral de pontos completamente diferentes que acabam se unindo de maneira complementar entre o espaço e o imaginário.
ElectronicShadow diz:
Com muito trabalho, nós desenvolvemos uma linguagem que faz com que Naziha trabalhe tanto a imagem quanto eu trabalhe o espaço. Nós pensamos as duas coisas em simbiose.
ElectronicShadow diz:
E ao nível da execução técnica, cada um de nós tem suas especialidades, que derivam da mesma fase de concepção conjunta.
ElectronicShadow diz:
Assim, nossas produções embricam de maneira totalmente indissociável a arquitetura, a imagem (design gráfico, foto, video) e muito freqüentemente a interatividade, que é uma terceira pedra nesse edifício.
ElectronicShadow diz:
Uma vez que o projeto está concebido, nós elaboramos a produção entre as partes que dependem diretamente de nós e da nossa estética, e os fornecedores, a quem encomendamos tarefas bem precisas. Podem ser um pedreiro, um eletricista, um programador em informática, etc.
ElectronicShadow diz:
A etapa de produção é muito importante
ElectronicShadow diz:
e é a razão pela qual nós acabamos montando nossa própria estrutura de produção, que nos permite propor respostas abrangentes para cada projeto.

Nomads diz:
Vocês contam isso de uma maneira bonita... É admirável a maneira como vocês conseguem organizar o trabalho a partir dessas idéias.

ElectronicShadow diz:
Obrigado, é realmente uma escolha de vida que nós fizemos.

Nomads diz:
Sim, é isso que se entende: que, de fato, todas essas instâncias precisam estar interligadas, da vida privada do artista/arquiteto à maneira de produzir, e finalmente às características do próprio produto.

ElectronicShadow diz:
Exatamente, nós só temos uma vida!

Nomads diz:
Fica claro que todo esse conjunto de coisas se abriga sob a idéia de hibridação.

ElectronicShadow diz:
Sim, isso mesmo. Esse é o termo que melhor resume nosso trabalho. A idéia do 25o fuso horário é a versão espacial planetária desse conceito, que também pode ser encontrado no nosso projeto Ex-îles.

Nomads diz:
E quais são os outros conceitos essenciais qui alimentam o trabalho de vocês? Como vocês dialogam com campos de conhecimento tão diversos como a filosofia, as artes, as ciências...?

ElectronicShadow diz:
De certa maneira, nós tentamos não delimitar nosso campo de criação e sobretudo permanecer sempre muito abertos. Nossas fontes de inspiração são, assim, extremamente diversificadas. Podem ir de leituras científicas às artes mais narrativas: cinema, literatura...
ElectronicShadow diz:
Nosso projeto H2O se referencia na novela "A invenção de Morel", de Bioy Casares.
ElectronicShadow diz:
O arquiteto e pensador Yona Friedman também influenciou muito nossa visão não-geográfica, notadamente com sua obra "Utopias realizáveis". É um pouco isso que fazemos através do virtual e da imagem encenada fisicamente: tornar tangíveis certas realidades utópicas, como no projeto 3minutes².
ElectronicShadow diz:
Mas para nós, as referências e influências são sempre absorvidas. Quase nunca são o ponto de partida de um projeto.

Nomads diz:
Com origem no terreno das artes plásticas, há discursos que alimentam as concepções gráficas de interfaces de vocês?

ElectronicShadow diz:
Não
ElectronicShadow diz:
É uma história tão recente que nós contribuímos diretamente experimentando novas idéias
ElectronicShadow diz:
Além disso, há uma questão de referência geracional, que faz com que as interfaces evoluam.
ElectronicShadow diz:
No início, tratava-se de interfaces metafóricas porque ainda fazíamos referência ao real
ElectronicShadow diz:
mas as interfaces desenvolveram sua própria linguagem e começaram a tornar-se mais abstratas.
ElectronicShadow diz:
No nosso trabalho, procuramos nos afastar da idéia de metáfora remetendoo corpo ao centro da interatividade

ElectronicShadow diz:
diminuindo pouco a pouco tudo que há entre o corpo e a interação. É a direção que nós tomamos em nossas instalações interativas que aplicamos hoje em outros campos.
ElectronicShadow diz:
A hibridação da interface faz com que não precisemos mais de um dublê virtual para agir em outras dimensões

Nomads diz:
O centro dessa reflexão é a relação sujeito-objeto, buscando relacioná-los de uma maneira que também faz alusão à hibridação...?
Nomads diz:
buscando fusioná-las...?

ElectronicShadow diz:
Sim, é exatamente isso, de novo uma idéia de hibridação.
ElectronicShadow diz:
Essa é a razão pela qual nós escolhemos esse nome "Electronic Shadow": se a sombra é eletrônica, o sujeito é absolutamente real
.
Nomads diz:
Sim, mas isso coloca o problema da necessidade de mediação entre sujeito e objeto quando se trata de mundos virtuais, não?

ElectronicShadow diz:
Para nós, o mundo virtual não existe à parte, como no filme Matrix. Ele representa uma extensão diferente do mundo físico
ElectronicShadow diz:
e sobretudo a maneira como o representamos hoje é totalmente imersiva, e sua percepção se faz com o corpo.
ElectronicShadow diz:
Essa visão de mundo virtual ficou prá trás. Ela foi necessária para que o público leigo aceitasse responsabilidades em relação ao mundo eletrônico, mas a percepção corporal continua sendo nossa medida para enxergar nosso ambiente.
ElectronicShadow diz:
O espaço virtual e o espaço físico constituem um mesmo espaço
ElectronicShadow diz:
e a percepção que temos dele se situa entre os dois.
ElectronicShadow diz:
Não é mais o virtual em uma tela, mas em um espaço, constituindo esse espaço.

Nomads diz:
Visto que VIRUS visa principalmente arquitetos, designers e estudantes dessas matérias, nós queríamos saber o que vocês pensam dessas formações e quais sugestões teriam para enriquecê-las.
Nomads diz:
Na verdade, antes de mais nada queríamos saber se vocês acham necessária uma formação específica para conceber espaços e obras híbridos
Nomads diz:
e qual poderia ser o papel do arquiteto e do designer em sua produção.

ElectronicShadow diz:
Não sabemos como é a situação no Brasil, mas na Europa há uma tendência de se segmentar enormemente os campos de criação.

Nomads diz:
Essa parece ser uma tendência planetária, infelizmente...!

ElectronicShadow diz:
O caminho que a informática abriu foi uma mestiçagem das ferramentas técnicas, mas que infelizmente também acabou sendo segmentada.
ElectronicShadow diz:
Quanto à concepção, ela implica em não enxergar um projeto em função da atuação de uma profissão mas em função de um resultado final, que implica muito mais componentes que uma única profissão

Nomads diz:
Eu me lembro que em Paris Naziha falava de sua experiência com sua formação em arquitetura. Ela dizia que os anos de estudo lhe abriram um leque multidisciplinar de possibilidades, mas que o último ano fechava esse leque, convergindo para um trabalho de fim de curso formulado de maneira muito estreita.

ElectronicShadow diz:
De fato, a arquitetura é uma das formações mais abertas, mas é verdade que uma vez formado, o arquiteto não se coloca mais forçosamente todas as questões ligadas a um projeto. Ao mesmo tempo, há muitas maneiras de se fazer arquitetura.
ElectronicShadow diz:
É também uma questão de gerações
ElectronicShadow diz:
Hoje, mais nenhum recém-formado pode esperar praticar a vida toda exatamente a mesma profissão, baseada na aprendizagem de algumas técnicas.

Nomads diz:
Haveria uma relação mais ou menos voluntária entre essas idéias e propostas e os princípios da transdisciplinaridade e do pensamento complexo?

ElectronicShadow diz:
É a transdisciplinaridade e a vontade de mesclar as influências tanto no plano criativo quanto nos contextos que nos levaram a desenvolver esse pensamento híbrido da criação
ElectronicShadow diz:
Naziha estudou arquitetura mas hesitou em relação à direção cinematográfica. Eu fiz mais ou menos o mesmo percurso mas ao contrário.
ElectronicShadow diz:
Trata-se de poder escolher sem excluir.

Nomads diz:
Que idéias principais vocês gostariam de sublinhar dirigindo-se a estudante e profissionais brasileiros em arquitetura e design?

ElectronicShadow diz:
Que responsabilidade...! Nós vamos pensar um pouco. Obrigado por essa tribuna!
ElectronicShadow diz:
Nesse momento em que a tecnologia nos recoloca a questão do território, a percepção do espaço físico torna-se novamente central na elaboração de novos espaços, distribuídos na rede. Essa idéia de arquitetura acompanha um pensamento muito mais global, uma visão de mundo sem fronteiras e sem limites.
ElectronicShadow diz:
A dimensão local, onde quer que ela se encontre no mundo, retoma seus direitos e permite a proposição de novas utopias.

Nomads diz:
Nós estamos contentes que os brasileiros vão ler isso. Às vezes nós notamos aqui muita resistência entre arquitetos em relação às novas tecnologias, com o argumento de que a mudialização não é sempre desejável, ou então, inversamente, ressentindo-se do fato de se estar distante dos "grandes eixos do mundo"...

ElectronicShadow diz:
Muita gente olha hoje para o Brasil quando se fala em utopia.
ElectronicShadow diz:
A partir do momento em que se entende o mundo sem centro, o mundo todo passa a ser um centro em potencial.

Nomads diz:
Amigos queridos, nós agradecemos a vocês por essa entrevista tão cheia de energia, de novas idéias e de esperança!...

ElectronicShadow diz:
Muito obrigado a vocês
ElectronicShadow diz:
Estamos muito contentes de contribuir assim para a rede.

Nomads diz:
Temos uma última perguntinha
Nomads diz:
A mesma que os visitantes do site do VIRUS deverão responder ao chegar ao 25o fuso horário, sobre o lugar físico onde eles se encontram no momento do acesso:
Nomads diz:
"De onde vocês vêm?"

ElectronicShadow diz:
Nós estamos em Paris

Nomads diz:
É de lá que vocês escrevem agora?

ElectronicShadow diz:
Sim
ElectronicShadow diz:
Se vocês tiverem Google Earth nós podemos enviar-lhes nossa posição precisa.

Nomads diz:
Legal!

ElectronicShadow diz:
Isso é o 25o fuso horário!

Nomads diz:
Sim, e nós estamos muito contentes de ter encontrado vocês nele!

Nomads diz:
Muito obrigado a vocês, Naziha e Yacine. Todos os Nomads mandam abraços!

ElectronicShadow diz:
Abraços a vocês todos também
ElectronicShadow diz:
Até breve!

Nomads diz:
Até breve!