objetos
nomads
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Cynthia Nojimoto é arquiteta e mestre em arquitetura, e pesquisadora do Nomads.usp sobre assuntos relacionados ao processo de design de objetos e mobiliário.
Cynthia Nojimoto is an architect and MSc. in Architecture. She is a Nomads.usp researcher on subjects related to objects and furniture design process.
Marcelo Tramontano é arquiteto, Doutor e Livre-docente em Arquitetura, Professor Associado na Universidade de São Paulo e coordena o Nomads.usp.
Marcelo Tramontano is an architect, Doctor and Professor in Architecture, Associate Professor at the University of San Paolo, and directs Nomads.usp.
A
Éos, o z.IP - Nomads Interactive
Portability - e o Pix, enquanto projetos de pesquisa,
são explorações práticas resultantes de investigações
sobre os objetos interativos realizadas por vários pesquisadores do
Nomads.usp. Fazem ainda parte de um projeto de pesquisa maior chamado D.O.S.
- Designers on Spot inserido no programa TIDIA-AE Tecnologia da Informação
para o Desenvolvimento da Internet Avançada da FAPESP - Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, no qual se pretende
não apenas apontar questionamentos sobre os objetos interativos enquanto
produto como também visam à compreensão dos processos
de design envolvidos em sua criação e concepção.
Enquanto objetos interativos, eles poderiam ser apresentados de várias
formas, tanto do ponto de vista técnico, ou seja, pela especificação
dos componentes eletrônicos, como também pela descrição
funcional de suas ações. Nesses âmbitos, a Éos
seria uma superfície automatizada cujos sensores capturariam dados
do ambiente e os enviariam aos micro-controladores para que fossem processados
e transmitidos aos atuadores provocando alterações nos
padrões de comportamento da Éos. O z.IP
seria um objeto interativo na escala do corpo humano. Por uma instância
informatizada, capturaria vários dados, como o deslocamento
e o posicionamento das pessoas que o portariam. Com o uso de outros aparatos
eletrônicos e de uma conexão de transmissão de dados como
a internet, poderia-se cruzar as informações do deslocamento
de cada pessoa com os de outras. Já o PIX consistiria
em uma fachada composta por uma matriz de leds (Light-Emitting Diode em
inglês, ou Diodo Emissor de Luz) que assumiriam padrões
de comportamento luminosos distintos conforme os dados que seriam captados por sensores.
Entretanto, pretende-se fazer uma leitura desses objetos que vá além de seus aspectos técnicos ou descritivos apenas. O intuito é analisar esses objetos por suas possíveis interações com os indivíduos, ou por uma perspectiva sistêmica. Significa entender os objetos e os indivíduos como elementos em interação dentro de um sistema. Essa abordagem dos objetos interativos baseia-se nas teorias de sistemas, principalmente, nas consideraçõs de Ludwig von Bertalanffy que define sua concepção de sistemas “como um complexo de elementos em interação” ( BERTALANFFY,1977, p.84) . Não se pode mais pensar em elementos unos e isolados, mas sim em partes que interagem entre si e com o ambiente. Para Edgar Morin, outro autor ao qual se recorreu para fazer a análise, o conceito de sistemas torna-se muito mais do que partes em interação. Envolve ainda como as partes ou elementos do sistema se organizam dentro e para o Todo. Com isso, chega-se à definição de sistemas como unidade complexa organizada (MORIN, 2005).
Assim, ao recorrer ao pensamento sistêmico, passa-se a pensar não apenas no objeto interativo isolado, mas por suas relações, ou interações com outros elementos do sistema, sendo que um deles é o indivíduo que está em contato com o objeto. As interações para um sistema seriam “ações recíprocas que modificam o comportamento ou a natureza de elementos, corpos, objetos, fenômenos em presença ou influência (MORIN, 2005, p. 72). Por essa descrição entende-se que não seria possível pensar em interações reativas entre objetos e indivíduos pautadas pelas leis da ação e reação apenas. A interação somente poderia ser considerada como tal caso existam ações mútuas agindo e alterando os elementos do sistema. Mas as interações apenas ocorreriam, dentro de um sistema, em determinadas condições para que elas pudessem se estabelecer. Assim as interações:
No
caso da Éos, o sistema do qual ela faz parte é constituído
pelo elemento indivíduo, pelos indivíduos enquanto grupo, e
pelo objeto interativo. No sistema no qual o z.IP é integrante os
elementos são os indivíduos, neste caso não conformados
enquanto grupo, e o objeto interativo. O objeto interativo Éos possui como estrutura física a fachada oeste da Unidade Experimental de
Habitação 001 e
o z.IP, considera o corpo como suporte físico para o objeto, mas pensando-o como sistema,
ele não se restringe a essa descrição. A questão
da escala do corpo tem para o z.IP mais importância, devido às
dimensões a serem assumidas pelos objetos providos de circuitos eletrônicos
e pela possibilidade de mobilidade e portabilidade conferida a esses objetos.
No entanto, enquanto sistema, a questão da escala é superada
justamente pela característica que lhe confere o caráter de
vestível: a portabilidade. Com essa possibilidade, o sistema pode ser
a cidade se, por exemplo, for ponderada a quantidade de elementos que poderiam,
potencialmente, fazer parte desse sistema. E mais, se forem consideradas nesse
sistema as redes sociais de comunicação à distância
na internet esse sistema pode alcançar uma dimensão
global.
O sistema do qual o z.IP se insere é mais abrangente que o da
Éos. Dada a portabilidade dos elementos do sistema colocada como questão
central, o espaço físico não se restringe à Unidade
Experimental de Habitação 001. A portabilidade permite a locomoção
para qualquer ponto, portanto, o sistema torna-se mais amplo na medida em
que aumentam as probabilidades de encontro, essenciais para a interação
entre os elementos que, por sua vez, tornam-se mais diversificados pela permeabilidade
do qual o sistema é dotado, ou seja, a permissão dada para que outros elementos entrem e saiam do sistema é maior no z.IP do que
na Éos, abrangendo mais situações possíveis.
No entato, tanto o z.IP como a Éos poderiam adquirir um caráter global enquanto
sistema. Cabe ao designer estabelecer os limites desses sistemas,
não pela imposição de regras ou restrições,
mas apenas como método de observação. E mesmo assim,
os limites não são claros e nem se espera que sejam. O que assinala
um sistema como tal é justamente o caráter complexo que lhe
é conferido como sistemas de sistemas de sistemas. É do observador
a capacidade de se aproximar ou de se afastar e ampliar seu horizonte em relação
ao objeto de observação.
O PIX apresenta-se de forma diferente em relação à
Éos e ao z.IP do ponto de vista sistemico. Tem como suporte físico a fachada leste da Unidade Experiemental
de Habitação 001. Essa fachada possui uma superfície
transparente de 3 metros de largura por 7 metros de altura cuja vedação
é feita com painéis de fibra de vidro, como foi comentado acima,
fixados sobre uma grelha de madeira que funciona como estrutura para a escada
do edifício. Essa grelha de madeira coberta por uma superfície translúcida
conforma um painel de baixa resolução. Com 1200 LEDs dispostos
em uma matriz formada por 10 células horizontais e 40 verticais e micro-controladores
que ditam o padrão de comportamento dos mesmos, o PIX potencializa a
fachada do edifício como uma interface de comunicação. Dessa forma, este objeto explora mais as formas de comunicacação entre as pessoas do que as relações de interatividade entre objeto interativo e indivíduos segundo uma abordagem sistêmica.
É possível pensá-lo como um elemento do sistema se em sua exploração forem consideradas as pessoas ou outros objetos que possam interagir com ele. Nessa lógica sistêmica, é preciso explorar as propriedades de cada elemento em suas relações. No entanto, as propriedades do PIX a serem trabalhadas são limitadas às formas de entrada e processamento da informação. E suas ações perante outros elementos serão sempre padrões luminosos.
A potencialidade do PIX como uma interface de comunicação reside na sua capacidade de permitir o envio e o recebimento de mensagens por indivíduos localizados nas proximidades do edifício ou dentro dele, mas também de pessoas geograficamente distantes, graças à associação dessa interface com redes de transmissão de dados como uma intranet ou a internet.Uma interface gráfica permite que qualquer pessoa em qualquer lugar, desde que conectado à rede, consiga produzir e enviar animações que, na verdade, dão instruções para o comportamento da matriz de LEDs. E para a visualização das animações na fachada física do edifício, uma câmera registra e envia os dados também via internet, em outra interface.
Para haver interação é necessário um agente de agitação. É preciso dar condições para que os elementos se encontrem. Na situação em que se encontra a Éos, os agentes de agitação seriam a própria existência do espaço físico da Unidade Experimental de Habitação 001, as atividades que ocorrem em seu interior e a incidência de luz solar no edifício. O espaço físico é o locus de encontro dos elementos indivíduos e objeto, as atividades realizadas no interior determinam a quantidade de pessoas e o posicionamento delas em relação ao espaço interno do edifício permitindo assim o encontro em diversos momentos com outros elementos do sistema, a incidência solar promove movimentação e agitação dos elementos, aumentando as probabilidades de encontro entre eles e, portanto, de interação.
No z.IP, as condições de encontro são fornecidas pela capacidade de locomoção dos elementos, tanto dos indivíduos como dos objetos interativos portáteis. As atividades do cotidiano também são fontes de agitação do sistema, possibilitando encontro e possíveis interações entre os elementos. O campo espacial do sistema z.IP é geograficamente ampliado, não se restringindo ao espaço da Unidade Experimental de Habitação 001, podendo alcançar dimensões globais. Mas, para o início do trabalho, os designers assumiram a escala da cidade para fazer as proposições para o z.IP.
Para que haja interação é necessário ainda que
a natureza inerente aos elementos conduza a uma situação de
influência mútua entre eles. Seriam as propriedades dos elementos
se articulando determinando o que interliga com o que.
Pela apresentação das imposições inerentes ao
objeto interativo torna-se mais fácil compreender quais são
as referentes à natureza humana no caso da Éos.
As imposições da natureza do objeto interativo são definidas
pelo próprio designer, considerando-as dentro do conceito
de sistema, ou seja, parametrizando-as em relação ao comportamento
humano e às condições de agitação do sistema
– no caso, a incidência de luz solar. Portanto, as imposições
da natureza do objeto são os sensores (os de presença, os foto-sensíveis
e os de som), os atuadores (que seriam os motores coordenando o movimento
do objeto interativo) e, talvez o mais importante, a programação
dos micro-controladores, pois é por ela que o objeto realizará
determinado movimento segundo as informações captadas por seus
sensores. Aliando essas imposições com as dos indivíduos,
interações podem ser estabelecidas. Dada a impossibilidade de previsão de todas as interações,
cabe ao designer trabalhar os elementos do sistema. Para estimular
as interações, pode-se explorar as percepções sensórias
das pessoas, por exemplo, bem como as possibilidade de comunicação entre elas como ocorre nos objetos Éos, z.IP e PIX, cada um recorrendo a recursos específicos para estimular as interações. Ao designer cabe a competência de construir as relações
entre indivíduos e objetos de forma que as pessoas se sintam envolvidas
com aquilo estão fazendo. Os
projetos do Nomads.usp possibilitaram aos pesquisadores recorrer a um possível
método para se trabalhar com os objetos interativos, permitindo-se explorar
outras possibilidades de abordagem de suas proposições.
Referências
bibliográficas BERTALANFFY, L.V. (1977). Teoria geral dos sistemas. Tradução de Francisco M.Guimarães. Petrópolis: Vozes. MORIN,
E. (2005). O Método 1: a natureza da natureza.
Tradução de Ilana Heineberg. Porto Alegre: Sulina.
No z.IP, a natureza dos elementos impõe
regras de conduta da forma diferenciada quando em comparação
com o que ocorre na sistema da qual a Éos é parte. O indivíduo trabalha mais os aspectos cognitivos
e da comunicação nesse sistema. Os objetos interativos do sistema
z.IP possuem outros sensores, no caso, câmeras fotográficas e
gravadores de som além de um GPS (acrônimo de Global Positioning
System em inglês, ou Sistema Global de Posicionamento). Os atuadores
imediatos são displays e caixas de som.
Mas existe uma peculiaridade no z.IP. O conteúdo registrado pelos sensores
não se mostram apenas nos mostradores ou caixas de som existentes nos
próprios objetos. Existe outra imposição, determinada pela
natureza do objeto pelas quais as interações entre os elementos
são dependentes. A possibilidade de conexão em uma rede de transmissão
de dados. Com isso, o conteúdo dos objetos pode ser disponibilizado e
sobreposto com outros conteúdos provenientes de outros objetos. Essa
possibilidade é da natureza desses objetos, mas na verdade ela permite
que haja interações fortes entre os indivíduos e não
entre os indivíduos e os objetos. Os objetos até poderiam ser considerados
como uma condição para outro sistema, formado pelos indivíduos
como elementos apenas.
As propriedades da relação entre o PIX e outros elementos podem
ser trabalhadas de algumas formas. A presença das pessoas no interior
da 001 poderia ser uma mensagem a ser transmitida para outras pessoas, cujos
efeitos na comunicação seriam locais e geograficamente remotos,
considerando a interface gráfica que permite a visualização
dos padrões luminosos. Os sons do ambiente, que na Éos são
entradas que irão determinar as ações do objeto interativo,
também poderiam ser trabalhados na relação do objeto com
as pessoas.
Nos sistemas nada permanece fixo, nada é estanque. O que é imposição
pode virar condição, o que é condição pode
ser característica do elemento. Existem graus de incerteza quanto aos
elementos e às suas naturezas, mas mesmo este desconhecido é um
dado previsto. E com isso os sistemas se alteram e sempre se alterarão,
pois essa é a essência deles. Eles precisam estar em desequilíbrio,
pois é por essa capacidade do sistema que ele permite a entrada e saída
de elementos, tornando-o dinâmico.
Como
citar esse documento . How to quote this document:
NOJIMOTO, C.; TRAMONTANO, M. Objetos nomads. V!rus, São
Carlos, n.2, 2 sem. 2009. Disponível em <http://www.nomads.usp.br/virus/virus02/artigos_nomads/nojimoto.php>.
Acessado em
02/05/2025 .