Ana Isabel Junho A. de Sá é arquiteta e urbanista. Pesquisadora do grupo de pesquisa “Indisciplinar”, da Escola de Arquitetura, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estuda produção contemporânea do espaço urbano, cidade instantânea, urbanismo performativo, cartografias críticas, cultura e território.
Como citar esse texto: SÁ, A. I. J. A.Cidades de código aberto: por um urbanismo de segunda ordem.V!RUS, São Carlos, n. 10, 2014. [online] Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus10/?sec=4&item=5&lang=pt>. Acesso em: 09 Nov. 2024.
Resumo
O presente artigo parte dos processos participativos e decisórios que norteiam a produção do espaço urbano no Brasil para refletir acerca de alternativas para ampliar a cooperação cidadã. Propõe-se investigar novas práticas e ferramentas que surgem no contexto de uma ampla expansão das tecnologias digitais de comunicação voltadas à defesa de cidades mais abertas, à construção coletiva e à colaboração, identificadas como urbanismo open source ou entre pares, táticas que se apropriam do conceito do it yourself (DIY) – ‘faça você mesmo’ e, mais precisamente, da sua evolução mais recente para a noção de do it with others (DIWO) – ‘faça com os outros’. Pretende-se abordar essas propostas a partir de conceitos do autor Vilém Flusser e da cibernética de segunda ordem, buscando utilizá-los para formular um conjunto preliminar de parâmetros e levantar questões que possam orientar a produção de novas iniciativas.
Palavras-chave: planejamento urbano, urbanismo open source, participação, tecnologias digitais, cibernética de segunda ordem.
Introdução
Os principais instrumentos de planejamento e de gestão urbanos vigentes no Brasil atual se dizem participativos e advogam em defesa da “participação popular”1 como instrumento fundamental à elaboração de políticas públicas urbanas. Por outro lado, vários autores questionam a efetividade desses mecanismos que, muitas vezes, não promovem mais do que uma “participação entre aspas”: restrita à função eletiva, desprovida de poder decisório e utilizada, principalmente, como ferramenta para a validação de propostas realizadas de maneira centralizada, heterônoma e tecnocrática (SOUZA, 2013, pag. 182).
Paralelamente, a expansão das tecnologias digitais de comunicação se integram à experiência e à infraestrutura das metrópoles contemporâneas como elementos codependentes e indissociáveis de sua dimensão físico-territorial, protagonizando uma mudança de paradigma profunda para a arquitetura e o urbanismo. A incorporação de recursos computacionais à produção do espaço acontece de forma ampla, que abrange desde softwares voltados prioritariamente ao objeto arquitetônico em si – ultrapassando o nível de representação para estabelecer novas práticas de projeto2 – às cidades inteligentes (smart cities), que integram as tecnologias de informação em busca de maior eficiência, sustentabilidade e competitividade no mercado global. Pretende-se explorar, mais especificamente, iniciativas que se apropriam do vocabulário próprio ao universo informacional, a partir de termos como open source ou copyleft, para sugerir processos abertos e colaborativos de transformação das cidades.
Há grande controvérsia acerca dos impactos da contaminação crescente da sociabilidade humana pelas redes digitais de comunicação, envolvendo questões como privacidade, controle de subjetividade e o fetichismo que conduz ao encantamento com a tecnologia por si só. Acredita-se que conceitos da cibernética de segunda ordem e do autor Vilém Flusser sejam valiosos para orientar o debate da aplicação dos recursos computacionais à produção do espaço, sobretudo no que toca ao estudo de mecanismos colaborativos que apresentem alternativas às noções vigentes de participação e proponham ampliar o grau de liberdade cidadã nos processos decisórios de transformação urbana.
Cibernética de segunda ordem: princípios básicos para a produção colaborativa do espaço
A expressão “de segunda ordem”, na cibernética, refere-se ao estudo dos chamados “sistemas observantes”, ou seja, aqueles nos quais se reconhece a presença e a interferência do observador, e a sua relação com o sistema observado.3 Von Foerster aponta que, enquanto a cibernética predecessora cria uma epistemologia para a investigação de processos biológicos ou regulatórios “de primeira ordem” (como a homeostase ou a habituação); a cibernética de segunda ordem possui uma estrutura conceitual capaz de lidar satisfatoriamente com processos “de segunda ordem”, tais como a cognição, o diálogo ou as relações sócio-culturais (VON FOERSTER apud GLANVILLE: s. d., p.18, tradução livre,ano?). Trata-se, portanto, da abordagem de certos mecanismos ou sistemas a partir de aspectos relacionais. Ao pressupor a interação entre observador e sistema observado, se estabelece uma condição de circularidade, outra de suas noções centrais: “objetos formam processos, assim como processos formam objetos” (GLANVILLE: op. cit., p. 17, tradução nossa). A defesa da neutralidade científica é rompida, optando-se por uma postura que assume o observador como parte do sistema observado, transformando-o a partir de sua presença e intervenção e sendo, ao mesmo tempo, transformado por ele.
Von Foerster revela a dimensão libertadora presente na cibernética de segunda ordem, a partir do momento em que se exploram, prioritariamente, questões metafísicas: “Nós escolhemos quem queremos nos tornar quando optamos por perguntas que sejam, por princípio, insolúveis”4 (VON FOERSTER: 1991, p. 5). A contrapartida dessa liberdade, contudo, é a responsabilidade por aquilo que se produz, da qual é frequentemente possível esquivar-se pelo discurso da neutralidade científica. A saída que o autor sugere para tal impasse é o que formula como seu postulado ético (o qual aponta só ser aplicável a si mesmo, pois aplicá-lo a outros seria contraditório por natureza): “aja sempre de forma a aumentar o número possível de escolhas” (VON FOERSTER apud GLANVILLE: op. cit., p. 6, tradução nossa). Destaca-se, aqui, que Von Foerster dá ao termo escolhas (choices, no original) um caráter fundamentalmente decisório, de maneira diversa do que seria caso argumentasse pelo maior numero possível de opções, o que traria uma conotação muito mais eletiva.
No universo do planejamento urbano, Souza demonstra como a figura do especialista “pretensamente neutro e imparcial” é central (SOUZA: op. cit., p. 182). Sobretudo nas correntes tecnocráticas, essa suposta objetividade é usada para legitimar processos impermeáveis à participação cidadã, ou nos quais a participação existente não produz oportunidades efetivas de decisão. Em que pese a importância do conhecimento especializado e o papel fundamental de profissionais qualificados nos processos de planejamento, recorre-se com frequência ao rigor tecnicista para justificar propostas baseadas em análises e diagnósticos que se dizem neutros, mas cuja elaboração releva os verdadeiros anseios e preocupações dos usuários. Acredita-se que o pensamento da cibernética de segunda ordem, especialmente sob a ótica do postulado ético de Von Foerster, levanta questões fundamentais à noção de participação nos processos atuais de planejamento e à proposição de ferramentas abertas à colaboração coletiva e à ampliação de processos decisórios.
Planejamento e participação: da abordagem tecnocrática a um modelo de segunda ordem
Souza identifica o modelo de planejamento predominante no Brasil atual como “planejamento politizado” (SOUZA, op. cit., pag. 162). Tendo como principais instrumentos os novos planos diretores, elaborados sob a orientação do Estatuto da Cidade (2001), tal padrão configura uma adaptação à esquerda das práticas de “planejamento estratégico”.5 Embora geralmente baseado no ideário de reforma urbana e incorporando avanços na crítica social, se comparado ao planejamento regulatório modernista, o formato superestima a importância de leis e planos, dedicando pouca atenção à implementação efetiva de processos participativos decisórios, o que acaba por reforçar práticas e valores tecnicistas, configurando o que Souza define como “tecnocratismo de esquerda” (SOUZA, op. cit., p.163).
O Estatuto da Cidade fixa diretrizes para a elaboração de políticas urbanas e define a obrigatoriedade da “gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano” (Estatuto da Cidade, 2001, art. 2º, inciso II). O tratamento dado à participação cidadã no Estatuto, entretanto, é bastante vago. Ao não estabelecer se seu papel deve ser decisório ou meramente consultivo (o que ocorre na maior parte das situações), acaba por converter a participação institucionalizada em mais uma tarefa a ser levada adiante para cumprir exigências burocráticas. Nesse sentido, cabe questionar a pertinência do próprio termo participação, uma vez que, independentemente do seu grau de implementação, sempre “sugere uma outra instância, não composta pelos próprios ‘participantes’, que determina e coordena o processo” (KAPP, 2012., p. 467-468).
A noção dessa “outra instância”, externa ao contexto sócio-espacial de uma ação proposta, mas supostamente mais capacitada para decidir em seu favor, revela o caráter heterônomo dos mecanismos usuais de planejamento e de gestão das cidades, relacionando-se diretamente ao modelo de distanciamento do observador mencionado previamente. A defesa de um formato que prioriza a participação puramente consultiva, preservando a primazia do especialista para a tomada de decisões e elaboração de propostas, se baseia em um argumento de viés técnico: após ouvida a população na etapa participativa, os profissionais especializados seriam os mais aptos a materializar suas demandas, determinando o que é ou não viável tecnicamente e fornecendo as soluções mais apropriadas para cada caso. Para muitos, tal justificativa é suficiente: o conhecimento específico faz com que determinado grupo tenha maior habilidade para definir propostas melhores ou mais criativas, garantidas contra interesses políticos preestabelecidos pela perspectiva de neutralidade. Em que pese a ingenuidade por trás de tal construção – ou rejeição deliberada da atribuição de responsabilidade – e a fragilidade da noção de objetividade, convém retomar alguns conceitos da cibernética de segunda ordem, referentes à Lei de Ashby6, para discutir a pertinência do presente argumento, ainda que sob um ponto de vista estritamente operacional.
A Lei de Ashby determina que “para qualquer sistema ser efetivamente controlado por outro sistema, não restringindo seus possíveis resultados a priori, esse sistema deve ter, no mínimo, a mesma variedade de elementos que o sistema controlado”.7 Tomando as cidades como os sistemas controlados, com sua enorme complexidade articulada por diversas variáveis, e como sistemas controladores os mecanismos tradicionais de planejamento urbano, resta apenas deduzir que estes operam, necessariamente, por restrição. Ou seja, por mais que uma estrutura institucional, burocrática e hierárquica se componha por uma equipe qualificada e organizada, tal arranjo, por si só, dificilmente será capaz de dar respostas que correspondam à complexidade e à diversidade de sistemas como as metrópoles contemporâneas.
No artigo “The Value of Being Unmanageable: Variety and Creativity in CyberSpace” (1957), Glanville se baseia na Lei de Ashby para discutir formas de lidar com sistemas complexos (ou seja, potencialmente “inadministráveis”). Além do controle por restrição da complexidade, exemplificado no parágrafo acima, o autor apresenta duas possibilidades: o controle mútuo entre grupos ou a aceitação da “inadministrabilidade” e o reconhecimento da vida como algo fora de controle. Partindo do princípio de que a segunda alternativa envolve um mudança filosófica profunda – talvez demasiado abstrata para ser aplicada à produção efetiva de processos e de ferramentas de planejamento –, a primeira opção, no entanto, revela um horizonte fértil. Glanville demonstra como o termo controle assumiu uma conotação negativa a partir da associação com regimes ou personalidades autoritários. No entanto, em oposição ao que prega o senso comum, uma relação de controle não pressupõe, necessariamente, um sentido linear unidirecional, mas pode acontecer de forma circular entre os participantes de um dado sistema. Assim, é possível que exista controle sem que haja empobrecimento das variáveis ou autoritarismo (GLANVILLE, s.d., p. 2-5). Para que isso se concretize, contudo, se faz necessário transformar as estruturas e os instrumentos existentes, expandindo-os de forma a abranger múltiplos atores e criando mecanismos que possibilitem operacionalizar modelos de controle mais distribuídos.
Cabral Filho, no texto “The Ethical Implications of Automated Computation in Design” (2013), advoga por uma “arquitetura de segunda ordem”, orientada pelos preceitos que orientam o pensamento cibernético da mesma natureza. Criticando o uso hegemônico da automação computacional no projeto arquitetônico – mais voltado a aspectos formais e à ampliação de processos de design já consolidados do que à criação de novas práticas que ampliem a integração dos usuários finais –, o autor propõe a promoção da arquitetura a um nível dialógico, concebendo-a como sistema que compreende tanto o edifício quanto seus habitantes (CABRAL FILHO, 2013, p. 1358). O argumento se dirige ao objeto arquitetônico, mas nada impede que seja transposto à reflexão sobre a produção do espaço urbano de maneira mais ampla. Seria possível criar mecanismos que busquem instituir um “urbanismo de segunda ordem”?
Ao que tudo indica, esforços nesse sentido vêm sendo empreendidos pelos preconizadores do denominado urbanismo open source ou entre pares, a partir da criação de plataformas colaborativas em rede para a transformação das cidades e da investigação de novos instrumentos de planejamento e de governança.
Urbanismo de código aberto, cidades copyleft, plataformas colaborativas
Os softwares de código aberto, ou open source, são aqueles cujo código fonte é licenciado para que tenham desenvolvimento público e colaborativo. A expressão copyleft surge, em contraposição aos direitos autorais ou patentes copyright, como permissão para copiar e distribuir conteúdos de maneira aberta e gratuita. O copyleft se opõe à expressão all rights reserved (todos os direitos reservados), típica dos produtos com copyright, por meio do termo all rights reversed (todos os direitos invertidos). Tais noções se inserem em uma lógica que explora o potencial das redes de comunicação para promover a difusão do conhecimento livre e buscar a construção de uma sociedade mais solidária.
Nos últimos anos, é possível observar um número crescente de iniciativas voltadas à produção e à intervenção no espaço urbano que se baseiam nesses preceitos e incorporam o seu vocabulário, dando origem ao que vem sendo chamado de urbanismo peer to peer ou entre pares, arquitetura open source, cidade copyleft ou wikitetura. Não obstante sejam a formação de redes, a ação coletiva e o incentivo à participação cidadã recursos há muito explorados para a transformação das cidades, o advento da internet expande exponencialmente a capacidade de comunicação e a conectividade, tornando-se um importante catalisador para práticas dessa natureza.
Muito se debate acerca da associação entre o uso crescente das redes digitais de comunicação e a consolidação de um cenário de cidades fragmentadas, marcadas pelo esvaziamento de seus espaços públicos, assim como pelo declínio do convívio face a face e da dimensão corporal da experiência urbana. A invasão de privacidade e a utilização de sistemas e dispositivos de vigilância – cada vez mais difusos e imperceptíveis –, por parte de governos e de grandes empresas, são ameaças recorrentes. Ademais, o fetichismo puramente consumista por gadgets contribui para nada além de “dispersão, distração e divertimento”, que Flusser aponta como fragilidades de uma sociedade informática (FLUSSER, 2008, p. 92).8 O autor defende haver duas tendências básicas para as estruturas sociais na era das imagens técnicas: a primeira, em consonância com as inquietações discutidas acima, se orienta rumo a uma “sociedade totalitária, centralmente programada, dos receptores das imagens e dos funcionários das imagens”. A segunda tendência, mais otimista, conformaria “uma sociedade telemática dialogante dos criadores de imagens e dos colecionadores de imagens” (FLUSSER, op. cit., p. 12), aproximando-se do conceito do it yourself (DIY) – ‘faça você mesmo’ – e, principalmente, da noção traçada a partir de sua evolução mais recente para o que se propõe pela expressão do it with others (DIWO) – ‘faça com os outros’.
Conectado à ideia de autosuficiência e a graus variados de crítica ao consumismo exacerbado, o do it yourself (DIY) se manifesta de maneiras diversas em múltiplas disciplinas. Suas origens podem ser traçadas desde o final do século XIX, com o movimento Arts & Crafts, que defendia a produção artesanal como ferramenta de transformação social e de oposição à divisão do trabalho resultante da industrialização. Passando por experiências na década de 1950, como a casa Kwikset, proposta por Charles e Ray Eames – um kit pré-fabricado para que os usuários pudessem montar e customizar sua moradia –, o DIY ganha força nos anos 1970 com os movimentos punk e anarquista, especialmente por meio da produção musical e editorial (publicação de zines e de outros veículos de comunicação independentes), que advogavam pela autonomia com relação às corporações e à indústria cultural. Posteriormente, a noção de “faça você mesmo” se expande para os mais diversos campos, da arte à arquitetura de interiores, em iniciativas com gradações variadas de engajamento social e político, para as quais a consolidação da internet representa um importante meio de difusão.
A ampliação das possibilidades de conexão em rede faz com que se avance na direção da ideia de do it with others (DIWO): ‘faça com os outros’.9 Segundo Garret, o DIWO é proposto originalmente em 2006 pela comunidade de artistas e revista online Furtherfield,10 em referência a processos artísticos de criação em rede e de curadoria aberta e horizontal (GARRET, 2012, tradução nossa). O conceito é rapidamente apropriado a outras disciplinas e passa a ilustrar uma abordagem para a produção colaborativa de maneira mais ampla, sempre ligada à ideia de inteligência coletiva, de conhecimento livre e de empoderamento dos atores envolvidos. Myers enfatiza o papel do software livre para tais processos na esfera digital: “O software livre pode, portanto, ser entendido historicamente e eticamente como a defesa da liberdade pluralista contra uma ameaça real. É uma questão ética, de liberdade, o que é muito diferente de ser apenas um novo método de organização ou um meio mais eficiente de produção” (MYERS apud GARRET, op. cit.). É nesse sentido que se inserem (ou se devem inserir) as propostas de cidade open source que começam a ser delineadas.
Sassen contrapõe urbanismo entre paresà noção de cidade inteligente (smart city), em voga atualmente nas discussões sobre espaço urbano e tecnologia. Segundo Sassen, no lugar de colocar a tecnologia em posição de diálogo com o usuário, a cidade inteligente a torna invisível e a põe no comando. Reproduz-se, assim, a tendência a uma gestão urbana heterônoma, e perdem-se as oportunidades de se beneficiar do potencial gerado pela abertura e pela indeterminação de uma abordagem open source. Ao se abrirem para a colaboração, sistemas institucionais de conhecimento sobre a cidade, usualmente centralizados e hierárquicos, poderiam contaminar-se por novas camadas de informação às quais costumam ser impermeáveis. Em analogia à plataformaWikiLeaks, a autora cria a imagem de vizinhanças que “vazam” sabedoria local e cotidiana, desestabilizando estruturas verticalizadas e originando relações novas e surpreendentes, pautadas por instituições mais porosas à cooperação cidadã (SASSEN,2013).
Ações recentes que se identificam com esse pensamento apontam no sentido de promover a interação face a face, de intensificar o intercâmbio com o contexto urbano e de ativar processos decisórios na esfera local. A consolidação da web 2.0 e de ferramentas de georreferenciamento – que permitem sobrepor, em tempo real, o universo material e o digital –, possibilitam uma situação de realidade aumentada e o aprofundamento do caráter ubíquo da vivência espacial. Sem que se desconsiderem as contradições decorrentes do amplo controle governamental e corporativo exercido sobre o ambiente online, sobretudo nas redes sociais, a internet cria, ao mesmo tempo, condições para a emergência de verdadeiros laboratórios de práticas colaborativas de experiência da cidade e da vida comum. “Hoje, a plataforma com maior influência para a criação de encontros face a face e para o aperfeiçoamento dos espaços públicos talvez seja, de maneira interessante e paradoxal, a web: um sistema horizontal com forte potencial para a rápida disseminação de ideias e informações ao qual todos têm acesso, e no qual podem atuar como indivíduos” (BATTISTELA, 2013, tradução nossa).11
Tais propostas se inserem em um contexto no qual se torna cada vez mais difícil distinguir as esferas física e informacional da experiência urbana, tornando-se mais pertinente concebê-las como campos indissociáveis de práticas sociais codependentes e reciprocamente mutáveis de um espaço híbrido. Di Siena (2014) defende que a esfera in situ não se enfraquece, mas, ao contrário, tem papel essencial nessa dinâmica com a mídia informatizada proporcionando uma expansão do ambiente de comunicação em que conectividade, sincronia e descentralização são catalisadores da organização de qualquer ação planejada. Surgem oportunidades para que se formem novos modelos de controle cidadão das autoridades pela sociedade, mais próximos da proposta cibernética de controle mútuo entre grupos; instrumentos são criados para pressionar governos a respeitar a opinião pública e a implementar políticas mais transparentes e participativas. As condições atuais de distribuição da informação viabilizam ferramentas antes impossíveis de serem coordenadas, possibilitando, segundo o autor, transformar as estruturas vigentes de distribuição de poder: “Há um novo sistema baseado na adição ou na acumulação dos pequenos potenciais (ou poderes) dos cidadãos comuns que, graças à comunicação na internet, podem igualar ou superar o poder (ou potencial) dos que hoje ocupam posições privilegiadas” (DI SIENA, op. cit., tradução nossa).
No que concerne às práticas de planejamento urbano em vigor, ao papel e às atribuições do arquiteto, a consolidação de sistemas colaborativos em rede sinaliza uma mudança de paradigma que transforma profundamente as formas hegêmonicas de conceber e de gerir o espaço. Sikiaridi e Vogelaar, do escritório Hybrid Space Lab, responsáveis por vários projetos dessa natureza, defendem que esse tipo de plataforma pode vir a substituir, gradualmente, a lógica de design da era industrial, a partir da qual a “classe criativa” projeta para as massas incultas (SIKIARIDIe VOGELAAR, 2012). Não se trata, em absoluto, de desqualificar o conhecimento específico ou de subestimar o papel de profissionais especializados em processos de produção do espaço. Mas, entretanto, de valorizar a contribuição que pode vir de usuários não experts, a partir de seus saberes e vivências específicos e, sobretudo, de reconhecer que o argumento de autoridade técnica não deve se sobrepor à vontade coletiva nos processos decisórios que a envolvam. O papel do especialista se desloca cada vez mais, portanto, do exercício convencional de elaboração de propostas e de tomada de decisões em direção à articulação de processos de criação coletiva, à consultoria técnica e à produção de modelos que possam ser testados e modificados pelos usuários finais.
Parâmetros preliminares para um urbanismo de segunda ordem
Conexão e diálogo
Essas pessoas deverão tecer os fios transversais, os fios ‘antifascistas’, a fim de abrir o campo para diálogos que perturbem os discursos entorpecentes e a fim de transformar a estrutura social de feixes sincronizados em rede (FLUSSER: op. cit., p. 93).
Atuar na formação de redes conectando os diversos atores presentes nas cidades é tarefa imprescindível para iniciativas que proponham um urbanismo “de código aberto”. Para Flusser, diálogo é criação em conjunto de informação nova, é aquilo que ultrapassa a “conversa fiada” – mera repetição de discursos – e que tem potencial criativo e transformador; é o que inspira o “novo engajamento” (ibidem, p. 96). Nos processos de produção urbana, o agir comunicativo se apresenta como prática essencial para construir decisões coletivas e para fortalecer o contato com a alteridade, não sem que haja desafios, sobretudo em contextos de profunda desigualdade social – como o brasileiro –, que comprometem as condições de um debate justo.12
Redes sociais como Facebook e Twitter, apesar dos mecanismos de vigilância e de monitoramento de conteúdo, vêm adquirindo grande relevância para a mobilização cidadã, configurando meios fundamentais de articulação de movimentos como o 15M, na Espanha, a partir de 2011; os protestos na Turquia pela praça Taksim e as jornadas de junho brasileiras – cujas manifestações, apesar do caráter heterogêneo e de grande complexidade, apresentaram uma série de reivindicações diretamente relacionadas à transformação urbana e ao direito à cidade – (ambos em 2013). Esses exemplos paradigmáticos têm repercussão mundial, mas representam uma parcela pequena dentre inúmeras situações em que as redes sociais se tornam veículo de organização da ação coletiva em diversas escalas. O uso da web como ambiente dialógico e de busca por transformação social se evidencia, por exemplo, nas discussões online que se pode presenciar no contexto atual das eleições,13 nas quais o uso das redes digitais vem desempenhando um papel crucial. Paradoxalmente, o uso de robôs (bots) e de perfis falsos pelas campanhas políticas, visando manipular a opinião pública, compromete as condições democráticas de debate. Conforma-se, portanto, um campo de batalha pautado pela tensão constante entre a perpetuação dos “discursos entorpecentes” por meio dos subterfúgios mencionados e a construção de um diálogo legítimo, de potencial transformador.
Se havia, no século XX, filtro humano da relevância social eficaz que foi a imprensa, nas redes sociais, apesar de ampla democratização do pensamento que elas trazem, muitas “gangues digitais” passaram a vender a capacidade de pautar a sociedade por meio de estratégias refinadas de geração de “trending topics”. Agem de modo tão forte, que os tweets orgânicos (das pessoas comuns, filhos de Deus) perdem a relevância no seio do aluvião de mensagens que os robôs produzem, porque acabam por impedir que uma mensagem fique mais tempo à disposição do usuários (GOUVEIA, 2014).
Algumas propostas em rede têm surgido com o objetivo de se pensar a produção do espaço a partir do diálogo entre cidadãos. O What If?Cities14 – ‘CidadesESe?’, em português – propõe estimular e registrar a imaginação e o desejo coletivos dos habitantes com relação às suas cidades. O aplicativo permite que usuários publiquem comentários, propostas ou questionamentos em mapas georreferenciados e em fóruns de discussão, buscando colocar em pauta questões urbanas e incentivar a mobilização e a auto-organização. Disponibilizado com código aberto, para livre apropriação e adaptação, pode se adequar a contextos de escalas e de naturezas diversas, sendo que, nas situações em que foi implementado pelos seus desenvolvedores, aliou-se o uso da plataforma online a oficinas presenciais.
Fig. 1: Plataforma What if? Cities. Fonte: <http://whatif.es/>. Acessado em 5/07/2014.
O Fix My Transport tem um ponto de partida comum a muitas outras plataformas: coletar denúncias sobre problemas nos serviços públicos, nesse caso, o transporte – como também o faz o Não Move15, em Belo Horizonte, dentre outros –, mas traz a especificidade de articular os usuários ao poder público e às empresas operadoras de transporte, pressionando-os a se posicionarem sobre as reclamações e a tomarem providências. O aplicativo agrupa automaticamente relatos semelhantes em campanhas, permitindo que pessoas com problemas similares possam discutir e se organizar para reivindicar melhorias ou para propor soluções.
Informação
Parte-se aqui da noção flusseriana do termo informar (FLUSSER: op. cit., p. 63-73), que o desloca de sua acepção convencional para associá-lo à ideia de apontar novos sentidos, de conferir significado às imagens criadas. Às “imagens informativas” se contrapõem as “imagens redundantes”, repetitivas, tediosas, que dão a impressão de já terem sido vistas milhares de vezes, ou seja: que não informam.
O conceito de informação se conecta à produção de modelos, simulações que podem ser submetidas a teste e modificadas a partir de parâmetros preestabelecidos.16 Poder colocar à prova diferentes cenários, seus impactos e suas consequências, é fundamental para orientar processos esclarecidos de decisão coletiva, uma vez que a dificuldade de compreender com clareza propostas de intervenção e suas implicações, dentre outros fatores, constitui um importante obstáculo à participação cidadã. A representação arquitetônica tradicional, sobretudo o desenho técnico, é com frequência usada como estratégia para restringir o pleno entendimento de seu conteúdo criando a necessidade de se disponibilizarem ferramentas que possam ser facilmente lidas e manipuladas pelo público em geral.
O site Streetmix,17 por exemplo, ilustra como uma plataforma extremamente simples pode auxiliar na simulação de transformações no espaço: parte-se de uma seção transversal típica de uma via, cuja largura e entorno são determinados pelo usuário, à qual se pode acrescentar ou remover elementos como faixas de circulação de veículos, estacionamento, ciclovias, calçadas, mobiliário urbano, pistas de transporte público, etc. Com poucos cliques e de maneira intuitiva, é possível visualizar os impactos de intervenções e imaginar novas configurações para as ruas da cidade.
Fig. 2: Plataforma streetmix. Fonte: <http://streetmix.net/>. Acessado em 5/07/2014.
De maneira semelhante, o City KIT,18 desenvolvido para o departamento de habitação de Hong Kong, tem como público-alvo jovens familiarizados com o universo da informática, mas menos envolvidos com o contexto urbano. Uma interface de jogo permite que se intervenha em modelos digitais dos diversos bairros, criando uma ponte entre seus residentes e os profissionais de planejamento, incentivando o engajamento com questões ligadas ao ambiente físico-construído.
Fig. 3: Plataforma City Kit. Fonte: <http://www.world-architects.com/en/pages/hybrid-space-lab>. Acessado em 5/07/2014.
Obviamente ferramentas como as citadas acima não abrangem todas as questões de intervenções em contextos específicos, não esgotam as possibilidades de soluções imagináveis e não permitem, sozinhas, o desenvolvimento de propostas. Contudo sua potência reside em serem modelos que ao serem “informados” coletivamente, formam também a reflexão acerca das possibilidades de transformação da cidade e dos processos que podem orientá-la.
Natureza performativa
As cidades são transformadas e produzidas o tempo todo. Não apenas por arquitetos, urbanistas e gestores públicos, mas especialmente por seus habitantes, a partir da vivência cotidiana. Enquanto as pessoas se deslocam pelo espaço, utilizam-no, experimentam-no ou o observam, deixam de atuar apenas como receptoras ou consumidoras para serem, ao mesmo tempo, suas agentes produtoras. A cidade se torna o fruto, em mutação constante, da experiência coletiva; esse processo é o que Sophie Wolfrum define como “urbanismo performativo” (WOLFRUM in ROSA, 2011).
O planejamento urbano tecnocrático, por outro lado, concebe a produção do espaço a partir de uma sequência linear de etapas: diagnóstico, elaboração de propostas, participação (quando, em geral, são validadas propostas pré-concebidas), intervenção e entrega de um produto final. Essas etapas costumam ser impermeáveis umas às outras e às transformações que acontecem paralelamente na cidade. Os trâmites burocráticos fazem com que o processo seja, em geral, muito lento e que as intervenções, quando prontas, encontrem contextos muito diferentes daqueles para os quais foram projetadas.
Faz-se necessário pensar(desenvolver?) ferramentas que possibilitem a incorporação da dimensão performativa, concebendo a cidade dentro de um processo constante de mudança em que as etapas aconteçam e atualizem umas às outras simultaneamente – com a colaboração coletiva como parte de todas as fases, não como uma etapa em si mesma. Não se trata de descartar a possibilidade de planejamento a longo prazo, nem de desconsiderar que certos procedimentos demandem tempo e avaliação cautelosa para que aconteçam com o devido critério. Contudo cabe questionar se a gestão urbana não poderia acontecer em diversos níveis, dos quais alguns fossem mais leves e mais ágeis, mais porosos às transformações cotidianas da cidade e às práticas auto-organizadas.
Espacialização da tecnologia
Conforme anteriormente discutido, as esferas física e informacional das relações sociais nas cidades vêm se fundindo de maneira crescente, fazendo surgir um espaço híbrido cuja experiência é pautada pela ubiquidade. A expansão da internet e das redes sociais digitais não levou as pessoas ao isolamento progressivo, como muitos previam, mas, ao contrário, teve que se adaptar a dispositivos cada vez mais portáteis para que o universo digital pudesse ser carregado com seus usuários pelo espaço. Boa parte do que se acessa em aplicativos móveis diz respeito ao entorno físico e permite que se “interaja” com ele, seja acessando informações sobre o que está ao redor, verificando o horário do próximo ônibus, localizando percursos ou compartilhando uma foto de algo que se vê.
Contudo por mais que essas dimensões em larga medida se sobreponham, a fragmentação persiste. A interação computacional, na maior parte dos casos, ainda acontece em interfaces bidimensionais, como apontado por Cabral Filho (op. cit., pag. 1358), comprometendo o engajamento corporal. As tecnologias digitais têm obtido grande sucesso em se ocupar da cidade, mas menos êxito em ocupá-la, especialmente em se tratando de ferramentas voltadas para fins dialógicos e de transformação espacial – como observa Sassen (ano) a respeito das smart cities, onde a tecnologia se espacializa de maneira bem sucedida, porém invisível e autoritária.
Observações finais
Seria possível pensar que propostas de uma cidade produzida e gerida “entre pares” indicam um movimento rumo a um urbanismo de segunda ordem: dialógico, colaborativo e aberto à indeterminação? Os exemplos pesquisados até agora (tanto os aqui apresentados quanto outros semelhantes) revelam possibilidades frutíferas e caminhos a serem explorados, mas ainda se mostram um tanto tímidos ante à potência das ideias que os inspiram. Trata-se, no entanto, de experiências recentes em processo contínuo de multiplicação e de aperfeiçoamento. Acredita-se que ações semelhantes tendam a se formar e a ganhar mais corpo e visibilidade rapidamente, reunindo novos parâmetros e contribuindo para o enriquecimento do debate sobre a produção espacial. Entretanto, cabe ressaltar que o fortalecimento desse pensamento depende de um salto rumo a novos arranjos institucionais e à incorporação efetiva de mecanismos colaborativos às infraestruturas e aos serviços urbanos; assim como da abertura para a transformação social e de vontade política.
No que concerne ao papel de arquitetos, urbanistas e demais profissionais envolvidos no planejamento e na gestão das cidades, acredita-se que os esforços se devam voltar cada vez mais à criação de ferramentas decisórias e à mediação de processos coletivos de transformação do espaço. Isso exige que, em grande medida, se abra mão do monopólio do controle sobre os produtos finais – ou ainda da noção de “produto final” em si mesma, uma vez que se reconheça a cidade em sua natureza de mutação constante –, em prol de práticas que consigam abrigar indeterminação. A tarefa pode parecer, a princípio, impraticável, pela ótica sob a qual se costuma operar. Mas, como Glanville demonstra, a “inadministrabilidade” e a perda de controle não são necessariamente negativas; ao contrário, podem trazer benefícios diretamente ligados ao aumento de responsabilidade, à liberdade de escolha e à criatividade (GLANVILLE, op. cit., p. 7-9).
Finalmente, retorna-se à discussão acerca da pertinência ou não de se utilizar o termo participação. Ao invés de sugerir seu abandono, talvez faça mais sentido propor seu deslocamento. No lugar de se assumir que os cidadãos devam participar de processos decisórios comandados pelas esferas técnicas e burocráticas, propõe-se imaginar como seria se essa estrutura científico-institucional é que fosse tomada como participante – oferecendo mecanismos, condições, informação e suporte – de processos decisórios conduzidos pela sociedade em seu sentido mais amplo.
Referências
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1 Kaap, no artigo Direito ao espaço cotidiano: moradia e autonomia no plano de uma metrópole, aponta problemas associados ao uso das expressões participação, em geral, e participação popular, mais especificamente. Partindo da demonstração de Agamben sobre as línguas europeias modernas – nas quais o termo povo se associa tanto ao sujeito político por excelência quanto às classes usualmente excluídas da política, como os pobres e os deserdados –, revela-se o caráter de distinção, em geral pejorativo, que a palavra implica: “se há o popular, deve haver o não popular” (p. 468).
2 Para mais informações sobre o uso da computação nos processos de projeto arquitetônico e seus desdobramentos, ver The Ethical Implications of Automated Computation in Design, de Cabral Filho, 2013.
3 Para uma conceituação mais aprofundada da cibernética de segunda ordem, sugere-se a leitura do artigo Second Order Cybernetics, de Glanville. Nele, o autor apresenta suas noções centrais, seus precursores e principais interlocutores, por meio de um panorama histórico, bem como sua aplicação em diferentes áreas do conhecimento, 1991.
4 O termo insolúveis foi a tradução escolhida para a expressão undecidable, usada pelo autor para se referir às questões fundamentalmente metafísicas, em uma palestra sobre ética e cibernética de segunda ordem ministrada em Paris, no ano de 1991. Segundo Von Foerster, só haveria sentido em buscar soluções para questões desse tipo, já que as demais estariam previamente determinadas por uma resposta logicamente irrefutável: “Why? Simply because the decidable questions are already decided by the choice of the framework in which they are asked, and by the choice of the rules used to connect what we label “the question” with what we take for an “answer”. In some cases it may go fast, in others it may take a long, long time. But ultimately we arrive after a long sequence of compelling logical steps at an irrefutable answer; a definite “yes”, or a definite “no”. (VON FOERSTER: 1991, p. 5)
5 Para uma descrição pormenorizada das principais abordagens de planejamento urbano da atualidade, dentre as quais consta o “planejamento politizado” em referência às práticas mais recorrentes no Brasil, ver Mudar a cidade: uma introdução critica ao planejamento e à gestão urbanos, parte II, de Souza, 2013.
6 Law of Requisite Variety. (GLANVILLE, 1956).
7 Ibidem.
8 No livro O universo das imagens técnicas: elogio da superficialidade, Flusser aborda os impactos socioculturais da proliferação do que chama de imagens técnicas (imagens pós-escrita: fotografia, vídeo, televisão, cinema e, em última instância, a imagem computadorizada) na sociedade contemporânea, partindo do pressuposto que se estabelece um rompimento absoluto de paradigma que dá origem não apenas a novas representações, mas a uma nova linguagem e a novos modelos de pensamento e imaginação.
9 Propostas análogas também podem ser identificadas pelo conceito do it together (DIT): ‘faça junto’.
10 http://furtherfield.org/. Acessado em 10/12/2013.
11 Embora Battistela se refira à web como um universo ao alcance de todos, especialmente no contexto brasileiro, não se pode relevar que o pleno acesso às redes de comunicação ainda é um fator de segregação social e objeto de disputa política. Contudo, o acesso à internet vem aumentando consideravelmente, atingindo os 105 milhões de usuários no segundo trimestre de 2013. Fonte: IBOPE, 2013.
12 Sobre o agir comunicativo nos processos de planejamento e gestão urbanos, ver SOUZA, 2013, p. 337, e item 7 da parte II, p. 149-151.
13 Este artigo foi escrito durante o período das eleições brasileiras de 2014 para os poderes executivo e legislativo nas esferas nacional e estadual.
14 Disponível em: <http://whatif.es/>. Desenvolvido pelo escritório Ecosistema Urbano: <http://www.ecosistemaurbano.org>.Acessado em 10/12/2013.
16 No artigo “De volta às origens: por uma arquitetura sempre contemporânea”, CABRAL FILHO (2014) discute a diferença entre a noção de maquete, que possibilita apenas uma visualização estática (e, muitas vezes, idealizada) do objeto arquitetônico, e a de modelo, que é operacional e pode se transformar a partir de controles parametrizados.
17 Disponível em: <http://streetmix.net/>Acessado em 5/07/2014.
18 Projeto desenvolvido pelo escritório Hybrid Space Lab. Disponível em: <http://www.hybridspacelab.net/> Acessado em 5/07/2014.
Ana Isabel Junho A. de Sá is architect and urban planner. Researcher at research group “Indisciplinar”, at Architecture College, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). She studies contemporary production of urban space, instant city, performative urban planning, critical cartography, culture and territory.
How to quote this text: Sá, A. I. J. A., 2014. Open source cities: towards a second order urbanism. V!RUS, 10. [e-journal] [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus10/?sec=4&item=5&lang=en>. [Accessed: 09 November 2024].
Abstract
This paper discusses the participatory and decision-making processes guiding urban space production in Brazil in order to reflect on alternatives to expand citizen cooperation. It proposes to investigate new tools and practices that arise in the context of a broad expansion of digital communication technologies, identified as open source or peer to peer urbanism, which pursue cities more open to collaboration and collective creation. Those tactics relate with the “do it yourself” (DIY) concept and, more precisely, with its latest developments towards “do it with others” (Diwo) propositions. It is intended to explore Vilem Flusser and other second-order cybernetics’ authors, in order to formulate a preliminary set of parameters and raise questions that could help guiding the production of similar initiatives.
Keywords: urban planning, open source urbanism, citizen participation, digital technologies, second order cybernetics.
Introduction
The main urban planning and management instruments effective on today’s Brazil regard themselves as participatory and advocate in defense of “popular participation”1 as a key aspect of the development of urban public policy. On the other hand, several authors question the effectiveness of such mechanisms, which seldom promote anything other than “participation in quotation marks”: restricted to the elective function, devoid of decision-making power and frequently used as a means of validating proposals created in a centralized, heteronomous and technocratic manner (Souza, 2013, p.182).
In parallel, the expansion of digital communication technologies integrates the experience and infrastructure of the modern metropolis as elements codependent and inseparable from their physical-territorial dimension, resulting on a profound paradigm shift for architecture and urbanism. The incorporation of computational resources to space production happens broadly, ranging from software primarily aimed at the architectural object itself – going beyond the representational level to establish new design practices2 – to proposals of smart cities which integrate technology information in search of greater efficiency, sustainability and competitiveness in the global market. It is intended, more specifically, to explore initiatives that borrow a vocabulary typical of the informational universe, adopting terms such as “open source” and “copyleft”, in reference to open and collaborative processes of cities’ transformation.
There is considerable controversy concerning the impacts of human sociability increasing contamination by digital communication networks, involving issues such as privacy, subjectivity control and a fetishism that leads to the enchantment with technology on its own. It is believed that concepts of second-order cybernetics and Vilém Flusser are valuable to guide the discussion concerning the application of computational resources to the production of space, especially regarding the study of collaborative mechanisms which present alternatives to the prevailing participation notions and search to increase citizen autonomy in decision-making processes of urban transformation.
Second order cybernetics: basic principles for collaborative space production
The term "second order" in cybernetics refers to the study of so-called "observing systems", ie, those which recognize the presence and interference of the observer and its relationship to the system observed.3 Von Foerster points out that while predecessor cybernetics create a epistemology for investigating biological or regulatory "first order" processes (as homeostasis or habituation); second-order cybernetics has a conceptual framework able to deal satisfactorily with "second order" processes, such as cognition, dialogue and socio-cultural relations (Von Foerster apud Glanville, n.d., p.18). The issue is, therefore, to approach specific mechanisms or systems from relational aspects. In assuming the interaction between observer and observed system, a circularity condition is established, another of its central notions: “Objects generate process, just as they are generated by process” (Glanville, op. cit., p.17). The defense of scientific neutrality is overcome, by opting for recognizing the viewer as part of the observed system, at the same time transforming and being transformed by it.
Von Foerster reveals the liberating dimension of second-order cybernetics, as it exploits, primarily, metaphysical questions: “We can choose who we wish to become when we have decided on an in principle undecidable question” (Von Foerster, 1991, p.5). The counterpart of this freedom, however, is responsibility for what one produces, from which it is often possible to evade through the discourse of scientific neutrality. The solution the author suggests for such impasse is what he defines as his ethical postulate (which he points can only be applicable to him, once applying it to others would be, in itself, a contradiction): “Tell them they should always try to act so as to increase the number of choices. Yes, increase the number of choices!” (Von Foerster, op. cit., p.6). It should be emphasized that Von Foerster gives the term choices a fundamentally decisory character, as opposed to which it would be in case he argued for increasing the number of options, what would express a more elective association.
Souza demonstrates how the character of the allegedly neutral and impartial expert is paramount in the universe of urban planning (Souza, op. cit., p.182). Especially in the technocratic approachs, this supposed objectivity is used to validate processes impervious to citizen participation, or in which the existing participation does not result in effective decision making opportunities. Despite the importance of specialized knowledge and the critical role of skilled professionals in the planning process, technical rigor is often used as a means to justify proposals based on analyzes and diagnoses that call themselves neutral, but which disregard the true yearnings and concerns of city dwellers. It is believed that the second-order cybernetic thought, especially from the perspective of Von Foerster’s ethical postulate, raises fundamental issues to the notion of participation in current planning processes and to the proposition of tools open to collective collaboration and the expansion of decisory processes.
Planning and participation: from a technocratic regard towards a second order model
Souza identifies the prevailing planning practices in today’s Brazil as “politicized planning” (Souza, op. cit., p.162). With its main instruments being the new municipal Masterplans, developed under the guidelines of the Cities’ Statute - ‘Estatuto da Cidade’ (2001), such approach configures a left oriented adaptation of “strategic planning”.4 Although usually based on urban reform inspired ideas and incorporating breakthroughs on social policies - in comparison with modern regulatory planning -, such model overestimates the role of bureaucracy and legislation, dedicating little attention to effectively implementing participatory processes open to collective decision making, which results in the reinforcement of technicist procedures and standards, configuring what Souza defines as a “left-oriented technocratism” (Souza, op. cit., p.163).
The Estatuto da Cidade determines guidelines for urban policy development and establishes the requirement of “democratic management through the participation of citizens and representative associations of the various sectors of community in the elaboration, implementation and monitoring of plans, programs and projects of urban development” (Estatuto da Cidade, 2001). The approach given to citizen participation in the statute is, however, vague. By not clarifying whether its role should be decisory or merely consultative (which occurs more often), it converts institutionalized participation into one more task to be carried forward to meet bureaucratic requirements. In this sense, one must question the pertinence of the term participation in itself, once regardless of the depth of its implementation it always “implies a different instance, not composed by the participants, which determines and coordinates the process” (Kapp, 2012, p.467-468).
The notion of this "other instance", external to the socio-spatial context of a proposed action, but supposedly more capable to decide in its favor, reveals the heteronomous character of existing mechanisms for the planning and management of cities, which directly relates to the distance of the observer model previously mentioned. The defense of an approach which prioritizes merely consultative participation, maintaining the primacy of the expert for decision making and design is based on a technically biased argument: once the people are heard at the participatory stage, this specialized professionals would be better suited to materialize citizens’ demands, establishing what is or is not technically viable and providing adequate solutions for each case. For many, such reasoning is sufficient: specific knowledge gives certain group a greater ability to define the best or most creative proposals, insured against pre-established political interests through the perspective of neutrality. Despite the ingenuity behind such thought - or deliberate responsibility avoidance - and the fragility of the notion of objectivity, some second-order cybernetics concepts are worth remembering to discuss the relevance of this argument, even under a strictly operational standpoint, especially ones referring to Ashby’s Law of Requisite Variety.5
Ashby’s Law determines that for any system to be effectively controlled by another system, without restricting its possible outcomes, the latter should have at least the same variety of elements as the controlled system (Ashby apud Glanville, [n.d.], p.2-3). Assuming cities as the controlled systems, with their significant complexity articulated by a number of variables, and traditional urban planning mechanisms as controlling systems, one could deduct that those necessarily operate by restriction. Ie, even if an institutional, bureaucratic and hierarchical structure is composed by a qualified and organized staff, such an arrangement, by itself, is unlikely to provide answers adequate to the intricacy and diversity of systems such as the contemporary metropolis.
On the article “The Value of Being Unmanageable: Variety and Creativity in CyberSpace” [n.d.], Glanville draws upon Ashby’s Law to discuss means of dealing with the control of complex systems (ie, potentially unmanageable). Besides restricting complexity, as exemplified above, the author presents two possibilities: mutual control within groups or the acceptance of unmanageability, and recognition of life as “out of control” (op. cit., p.5). Considering that the second option carries a very deep philosophical shift – perhaps too abstract to be applied to the effective production of planning tools and processes –, the first alternative, however, discloses a fertile perspective. Glanville demonstrates how the term control has acquired a negative connotation, through association with authoritarian personalities or regimes. Nevertheless, as opposed to what can be implied by common sense, a relationship of control does not necessarily presupposes a unidirectional linear sense, but can happen in a circular manner among participants in a given system. Thus, it’s possible that control could occur without variety impoverishment or authoritarianism (Glanville, [n.d.], p.2-5). In order for this to happen, it’s necessary to transform existing structures and instruments, expanding them to encompass multiple stakeholders and creating mechanisms that enable operational control over distributed models.
In the paper "The Ethical Implications of Automated Computation in Design" (2013), Cabral Filho argues for an "second order architecture”, guided by the precepts that drive the cybernetic thinking of that nature. By criticizing the hegemonic use of automated computation in architecture design – more directed towards formal aspects and consolidated creative processes than to developing new practices open to integration of final users –, the author proposes promoting architecture to a dialogical level, conceiving it as a system that includes both the building and its inhabitants (Cabral Filho, 2013, p.1358). The discussion is aimed at the architectural object, but could as well be transposed to the production of urban space more broadly. Would it be possible to create mechanisms that seek to establish a "second order urbanism"? By all indications, efforts have been undertaken by the proponents of the so-called open source or peer to peer urbanism, through the creation of networked collaborative urban production platforms and the research of new tools for planning and governance.
Open source urbanism, copyleft cities, and collaborative platforms
Open source softwares are those whose source code is made available to public and collaborative development. The term copyleft arises in opposition to copyright restrictions as a permission to openly copy and distribute contents. Copyleft founds the expression “all right reversed”, in contrast with the traditional “all rights reserved”. Such notions relate to the idea of exploring the potential of networked communication to promote the dissemination of free knowledge and pursue a more solidary society.
In recent years, one can observe a growing number of initiatives aimed at the production and intervention in urban spaces that are based on these principles and incorporate their vocabulary, giving rise to what has been called peer to peer urbanism, open source architecture, copyleft city or wikitecture. Despite resources such as network organization, collective action and participation encouragement have been long exploited for the transformation of cities; the advent of the internet exponentially expands communication capability and connectivity, making it an important catalyst for this kind of practice.
Much has been debated about the association between the increasing use of digital communication networks and a consolidating scenario of fragmented cities, marked by the evasion of public spaces, as well as the decline of face to face socialization and the corporal sphere of urban experience. Privacy invasion and surveillance systems and devices - increasingly diffuse and elusive - by governments and large companies, are recurrent threats. Furthermore, purely consumerist fetishism for gadgets contributes to nothing but the "dispersion, distraction and fun," which Flusser points out as weaknesses of an information society (Flusser, 2008, p.92).6 The author argues that there are two basic trends for social structures in the era of technical images: the first, in line with the concerns discussed above, is oriented toward a “centrally planned, totalitarian society of images receivers and employees”. The second trend, more optimistic, would conform a "dialogic telematic society of image-makers and collectors" (Flusser, op. cit., p.12), getting closer to the do it yourself (DIY) concept and, especially to its recent development into the idea implied by the expression do it with others (DIWO).
Connected to the notion of self-sufficiency and to varying degrees of consumerism criticism, the do it yourself (DIY) idea manifests itself differently in multiple disciplines. Its origins can be traced from the late nineteenth century, with the Arts & Crafts movement, which advocated craft production as a tool for social transformation and opposition to the division of labor caused by industrialization. Having experiences in the 1950s, as the Kwikset house, proposed by Charles and Ray Eames - a prefabricated kit so that users could assemble and customize their home - DIY gains strength in the 1970s with the punk and anarchist movements, especially through music production and publishing (zines and other independent media vehicles), advocating for autonomy in relation to corporations and cultural industry. Later, the notion of "do it yourself" expands to the most diverse fields, from art to interior architecture, through initiatives with varying degrees of social and political engagement, for which internet consolidation represents an important means of communication.
The expanding possibilities of network connectivity brings a shift towards do it with others (DIWO) propositions. According to Garrett, DIWO is originally proposed in 2006 by the art community and online magazine Furtherfield, in reference to networked artistic creation and open/horizontal curating processes (Garret, 2012). The concept is rapidly adopted by other disciplines and begins to illustrate a broad approach to collaborative production, always linked to the idea of collective intelligence, free knowledge and empowerment of stakeholders. Myers emphasizes the role of free software for such processes in the digital sphere: "Free software can therefore be understood historically and ethically as a defense of pluralistic liberty against a real threat. It is an ethical question, of freedom, which is very different from just being a new method of organization or a more efficient means of production" (Myers apud Garret, op. cit.). It is in this sense that fall (or should fall) the proposals for open source cities beginning to be delineated.
Sassen contrasts peer to peer urbanism to the notion of smart city, a current trend in discussions about urban space and technology. According to Sassen, instead of placing the technology in a dialog position with the user, the smart city makes it invisible and puts it in command. A tendency to a heteronomous urban management is thus reproduced, and the opportunity to benefit from the potential generated by the openness and indeterminacy of an open source approach is lost. By opening up to collaboration, institutional knowledge systems about the city, usually centralized and hierarchical, could become contaminated by new layers of information to which they are often impervious. In analogy to the platform WikiLeaks, the author creates the image of neighborhoods which "leak" local everyday wisdom, destabilizing vertical structures and yielding surprising new relations based on institutions more porous to citizen cooperation (Sassen, 2013).
Recent actions identified with this thought point towards promoting face to face interaction, enhancing exchange with the urban context and enabling decision-making processes at the local level. The consolidation of the web 2.0 and georeferencing tools - which overlap, in real time, the material and the digital universes, enable augmented reality situations and deepen the pervasiveness of spatial experience. Without disregarding the contradictions arising from the broad government and corporate control over the online environment – especially on social networks –, the internet provides, at the same time, conditions for the emergence of true laboratories for the collaborative practice of urban common life. “Today, perhaps the most influential platform for creating real encounters and improving public spaces is paradoxically and interestingly the web, a horizontal/rhizomatic system with a high potential for quick dissemination of ideas and information where anyone can have access and act as individual” (Battistela, 2013).7
Such proposals take place in a context which makes it increasingly difficult to distinguish between the physical and informational spheres of urban experience, making it more pertinent to understand them as inseparable, codependent fields of mutually changing social practices of a hybrid space. Di Siena (2014) defends that the in situ sphere is not weakened, but instead, plays an essential role in this dynamic, with computerized media providing an expansion of the communication environment, where connectivity, sync and decentralization are catalysts for the organization of any planned action. Opportunities arise for new models of citizen control, closer to the cybernetic idea of mutual control between groups; instruments are designed to pressure governments to respect public opinion and to implement more transparent and participatory policies. Current information distribution conditions enable tools previously impossible to be coordinated, allowing, according to the author, the transformation of existing power structures: “There is a new system based on the addition or accumulation of all the small potentials (or powers) of the mass of citizens that, thanks to the systems of communication on the internet, can equal or exceed the power (or potential) of those who are in a privileged position today” (Di Siena, op. cit.).
Regarding current urban planning practices, as well as the role and responsibilities of architects, the consolidation of collaborative networked systems signals a paradigm shift that profoundly transforms hegemonic ways of conceiving and managing space. Sikiaridi and Vogelaar, from the office Hybrid Space Lab argue that this type of platform may gradually replace the design logic of the industrial era, from which the "creative class" designs for the "uncultured masses" (Sikiaridi and Vogelaar, 2012). This is not at all about disqualifying specific knowledge or underestimating the role of specialized professionals in the processes of space production. It is, however, about appreciating the contribution that can come from non-experts users, from their specific knowledge and experiences and, above all, to recognize that technical authority should not override collective will in public concerning decision making processes. Therefore, the role of the expert shifts increasingly from the conventional exercise of designing and deciding toward articulating processes of collaborative creation, technical consultancy and production of models that can be tested and modified by users.
Preliminary parameters for a second order urbanism
Connectivity and dialogue
These people should weave the cross wires, the 'antifascist' wires in order to open the field to dialogues that disrupt numbing discourses in order to transform the social structure of network synchronized beams (Flusser, op. cit., p.93, our translation).
Pursuing the creation of networks to connect cities' various actors is an imperative task for initiatives proposing an "open source" urbanism. According to Flusser, dialogue is the joint creation of new information, is what overcomes "chatter" - mere repetition of speeches - through its creative and transformative potential; it is what inspires the new "engagement" (ibidem, p.96). In urban production processes, communicative action presents itself as essential to possibilitate collective decision making and to strengthen contact with otherness, but not without challenges, especially in contexts of deep social inequality - like Brazil - which undermine conditions for a fair debate.8
Social networks like Facebook and Twitter, despite surveillance mechanisms and content monitoring, have acquired great relevance for citizen mobilization. They have turned into basic means of articulation in movements such as 15M in Spain, from 2011; Turkey's Taksim Square protests and Brazilian june journeys - whose demonstrations, despite the heterogeneity and complexity, presented a series of demands directly related to urban transformation and right to the city - (both in 2013). These paradigmatic examples have global repercussion, but represent a small fraction among numerous situations in which social networks become a vehicle for organizing collective action at various scales. The use of the web as a dialogical environment aimed at the quest for social transformation is evident, for example, in online discussions witnessed in the current electoral context, in which the use of digital networks has been playing a crucial role. Paradoxically, the use of robots (bots) and fake profiles aimed at manipulating public opinion, by political campaigns, undermines the democratic circumstances for debate. A battlefield is, therefore, conformed, marked by the constant tension between the perpetuation of "numbing discourses" through the mentioned subterfuges, and the construction of a legitimate and potentially transforming dialogue.
If there was, in the twentieth century, the effective human filter of social relevance of the press; in social networks, despite the broad democratization of thought, many "digital gangs" started selling the ability to guide the society through refined strategies such as creating "trending topics". They act with such strength, that organic tweets (from ordinary people, the sons of God) lose their relevance within the flood of messages produced by robots, because those ultimately prevent legitimate messages to be visible for a long period of time (Gouveia, 2014).
Some networked proposals have emerged with the goal of thinking space production through the dialogue between citizens. WhatIf?Cities, for example, proposes to stimulate and register urban dwellers' collective imagination and desire concerning their hometowns. The app allows users to post comments, questions or proposals in georeferenced maps and discussion forums, seeking to put urban issues on the agenda and encourage engagement and self-organization. It is open source, so it can be freely adapted and apropriated to various contexts and scales. On the occasions presented by the app’s developers, online use was combined with presencial workshops.
Fig.1: What if? Cities. Available at: <http://whatif.es/> Accessed 10 December 2013.
Fix My Transport has a starting point with is common to many other platforms: recording complaints about problems in public services, in this case, transportation - as does NãoMove,9 in Belo Horizonte, among others - but it brings the specificity of articulating users with public power and operating companies, pushing them to take a stand on complaints and to take action. The application automatically groups similar reports in campaigns, allowing people with shared problems to discuss and organize themselves to demand improvements or propose solutions.
Information
Flusser gives the term to inform a broader notion (Flusser, op. cit., p.63-73.), which shifts from its conventional sense to associate it with the idea of pointing out new directions, providing meaning to the images created. "Informative images" are opposed to "redundant images", tedious and repetitive, which give the impression of having been seen thousands of times, ie: they do not inform.
The concept of information relates to the production of models: simulations that can be subjected to testing and modified through predetermined parameters. Being able to test different scenarios, their impacts and consequences is fundamental to elucidate collective decision processes, since the difficulty in clearly comprehending intervention proposals and their implications, among other factors, constitutes a major obstacle to citizen participation. Traditional architectural representation, particularly technical drawing, is often used as a strategy to restrict the full understanding of its contents, thus creating a need for the development of spatial depiction tools that can be easily read and manipulated by people in general.
The website Streetmix,10 for example, illustrates how an extremely simple platform can help simulating space transformation: starting from a typical street cross section (whose width and surroundings are determined by the user), to which one can add or remove a series of elements such as sidewalks, vegetation, parking lanes, bicycle lanes, benches, bus stops, etc. With a few clicks and in a very intuitive way, it´s possible to visualize the impacts of interventions and imagine different situations on the street level.
Fig. 2: Streetmix. Available at: <http://streetmix.net/> Accessed 10 December 2013.
Similarly, the City KIT, developed for the Housing Department of Hong Kong, targets a young audience which is familiar with the computing world, but less involved with the urban context. A game interface allows users to intervene on digital models of various neighborhoods, creating a bridge between city residents and planning professionals, encouraging engagement with issues related to the physical and built environment.
Fig. 3: City Kit. Available at: <http://www.world-architects.com/en/pages/hybrid-space-lab>. Accessed 10 December 2013.
Clearly, mechanisms such as those mentioned above do not cover all the issues involved in the specific contexts of each intervention, do not exhaust the possibilities of conceivable solutions and are not sufficient, by themselves, for the full development of urban proposals. Their power lies, however, in generating models that during the process of being collectively "informed”, provide tools for the reflection on the transformation possibilities for the city and the necessary means for its achievement.
Performative character
Cities are produced and transformed all the time: not only by architects, planners and policy makers, but especially by its inhabitants, through daily life. As people move through the space, use it, experience and observe it, they cease to act only as receptors or consumers to become, at the same time, its producing agents. The city becomes the constantly changing outcome of collective experience; this process is what Sophie Wolfrum defines as "performative urbanism" (Wolfrum apud Rosa, 2011).
Technocratic urban planning, on the other hand, conceives the production of space from a linear sequence of steps: diagnosis, design, participation (when, generally, pre-conceived proposals are validated), intervention and delivery of an end product. These steps are generally impervious to each other and to parallel transformations that take place in the city. Bureaucratic procedures make the process usually very slow and result in interventions that, when finished, find very different contexts than those for which they were designed.
It is necessary to propose tools that incorporate the performative dimension, conceiving the city within a constant changing process in which the steps of interventions take place and update each other simultaneously - with collective collaboration as part of all phases, not as a stage itself. It is not about dismissing long-term planning nor disregarding that certain procedures demand time and careful evaluation to happen with due precaution. However, one must question if urban management could not happen at many levels, some of which could be lighter and more agile, porous to the daily transformations of the city and to self-organized practices.
Technology spatialization
As previously discussed, the physical and informational spheres of social relations in cities are increasingly merging, making arise a hybrid space whose experience is marked by ubiquity. The expansion of the Internet and online social networks did not lead people into progressive isolation, as many predicted, but rather, had to adapt to increasingly portable devices that allow the digital universe to be carried around with their users. Much of what is accessed in mobile applications concerns the physical surroundings and allows people to "interact" with it, either accessing information about what is around, checking the bus timetable, tracing routes or sharing a photo of something seen.
But as much as these universes largely overlap, fragmentation persists. Computer interaction, in most cases, still takes place in two-dimensional interfaces, as pointed out by Cabral Filho (op. cit., p.1358), compromising corporal engagement. Digital technologies have been very effective in engaging the city, but were less successful occupying it, especially when it comes to tools aimed at dialogic purposes and spatial transformation – as Sassen (2014) points out about smart cities, where technology is spatialized efficaciously but in an invisible and authoritarian manner.
Closing remarks
Would it be possible to think that proposals for a peer produced and managed city indicates a movement towards a second order urbanism: dialogical, collaborative and open to indeterminacy? The examples so far investigated reveal fruitful possibilities and paths to be explored, although they still don’t seem to be able to express the same strength as the ideas in which they are inspired. Yet, these are all recent experiences going through a constant process of improvement and expansion. It should be emphasized, however, that the consolidation of such thinking depends on the capability to take a leap towards new institutional arrangements and effective incorporation of collaborative mechanisms to urban infrastructure and services; as well as on the openness to social change and, above all, political will.
Regarding the role of architects, planners and other professionals involved in city design and management, it is believed that efforts should return increasingly to the development of decision-making tools and mediation of collective space production processes. This largely requires giving up the monopoly of control over the final product - or even the notion of "final product" in itself, once acknowledging the city as in constant change - in favor of practices able to accommodate indeterminacy. The task may seem at first impossible, but, as Glanville demonstrates, "unmanageability" and loss of control are not necessarily negative. On the contrary, they can result on benefits directly linked to increased responsibility, freedom of choice and creativity (Glanville, op. cit., p.7-9).
Finally, returning to the discussion about the pertinence or not of using the term participation: rather than suggesting its waiver, it might make more sense to propose a displacement. Instead of assuming that citizens are the ones who should participate in decision making processes controlled by the technical and bureaucratic spheres, couldn’t this scientific and institutional framework be taken as the participant – offering mechanisms, conditions, information and support – of decision-making processes conducted by society in its broadest sense?
References
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1 Kapp, in the paper “Right to everyday space: housing and autonomy in the plan of a metropolis”, points to problems associated with the use of the expressions participation, in general, and, more specifically, popular participation. Considering Agamben’s demonstration on modern European languages - in which the term people is associated with both the political subject par excellence as with those usually excluded from the political classes, such as the poor and the disinherited - the distinctive and generally pejorative character that the word implies is revealed: “if the popular exists, than the nonpopular must exist as well” (Kapp, 2012, p.468).
2 For further information about the use of computing in architectural design processes and its consequences, see Cabral Filho’s The Ethical Implications of Automated Computation in Design, 2013.
3 For a thorough conceptualization of Second-Order Cybernetics, we suggest Glanville’s paper Second Order Cybernetics [n.d.]. In it, the author presents the central notions, its precursors and key interlocutors, through a historical overview, as well as its application in different fields of knowledge.
4 For a detailed description of the main approaches to today’s urban planning, among which is included "politicized planning", in reference to the most recurrent practices in Brazil, see Souza’s Changing the city: an introduction to critical planning and urban management, part II, 2013.
5Law of Requisite Variety. (GLANVILLE, 1956).
6 In the book The Universe of Technical Images, Flusser discusses the sociocultural impacts of the proliferation of what he calls technical images (post-writing images: photography, video, television, film and, ultimately, computerized image) in contemporary society, assuming that establishes an absolute paradigm disruption that gives rise not only to new means of representation, but also to new language and models of thought and imagination.
7 Although Battistela refers to the web as a universe accessible to everyone, especially in the Brazilian context, one cannot disregard that access to communication networks is still a factor of social segregation and an object of political dispute. However, internet use has increased considerably, reaching 105 million users in the second quarter of 2013. Source: IBOPE, 2013.
8 About communicative action in planning and urban management, see Souza, 2013, p.337, and Item 7 of Part II, p. 149-151.
9 Available at: <http://naomove.com.br/>. Accessed 10 December 2013.
10 Available at: <http://streetmix.net/>. Accessed 10 December 2013.