Modos de fazer: uma experiência em processo de criação compartilhado e modelo de atuação transdisciplinar na relação entre design e artesanato

Virginia Pereira Cavalcanti, Ana Maria Queiroz de Andrade e Germannya D´Garcia A. Silva

Virginia Pereira Cavalcanti é Designer e Doutora em Estruturas Ambientais e Urbanas. Professora adjunta do curso de Design e do Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Líder do Grupo de Pesquisa Design, Tecnologia e Cultura do CNPq e do Laboratório de pesquisa/extensão O Imaginário (UFPE).

Ana Maria Queiroz de Andrade é Arquiteta e Mestre em Educação. Professora adjunta do curso de Design da Universidade de Pernambuco (UFPE) e Coordenadora do Laboratório de pesquisa e extensão O Imaginário (UFPE). Membro do Grupo de Pesquisa Design, Tecnologia e Cultura do CNPq. Pesquisa a gestão de design-ambientes artesanais.

Germannya D´Garcia A. Silva é Designer e Mestre em Engenharia de Produção. Professora do Núcleo de Design - Campus Acadêmico do Agreste e membro do Laboratório O Imaginário, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pesquisa a relação dos materiais com o planejamento e configuração dos artefatos e a relação do Design com Ergonomia.

Como citar esse texto: CAVALCANTI, V. P.; ANDRADE, A. M. Q.; SILVA, G. D. A. Modos de fazer: uma experiência em processo de criação compartilhado e modelo de atuação transdisciplinar na relação entre design e artesanato. V!RUS, São Carlos, n. 6, dezembro 2011. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus06/?sec=4&item=7&lang=pt>. Acesso em: 19 Abr. 2024.

Resumo

No final do século XX uma crescente corrente de designers 1 voltou sua atenção para os graves problemas sociais que se multiplicavam: pobreza, exclusão social, violência. Os desafios dessa sociedade complexa impuseram uma crítica reflexão sobre os processos de criação, e um cenário especialmente desafiador impactou a relação estabelecida entre designer x artesão2 x artefato. Entre o dilema de dialogar com tradição e inovação, autoria e criação coletiva, o design foi impelido a buscar novos modos de fazer para atuar junto a comunidades e grupos produtivos. O Laboratório O Imaginário vivenciou esses desafios e, desde 2001, experimenta um modelo de atuação transdisciplinar3 balizado pelos eixos: design, gestão, comunicação, produção e mercado e com foco na qualidade e sustentabilidade4. Construído a partir de uma abordagem dialética, as premissas do modelo abrangem o reconhecimento dos atores e fazeres locais, o entendimento dos valores culturais e das potencialidades socioeconômicas e ambientais locais. O objetivo deste artigo é descrever o processo de criação compartilhado pelo Laboratório O Imaginário e o grupo artesão – Cestaria Cana-Brava, pontuando as principais transformações vivenciadas na sua trajetória, desde sua criação em 2003, a partir das dimensões ligadas à organização, artefatos, materiais e processos. O relato dessa experiência aponta para o desenvolvimento compartilhado dos artefatos, a construção de projetos coletivamente, a valorização das referências e memória do local, a autonomia dos grupos e o fortalecimento da rede de parceiros.

Palavras-chave: processos de criação; design; artesanato; cultura.

Introdução

As políticas de inclusão social no Brasil adotam práticas que, mesmo necessárias, são insuficientes para garantir mudanças da condição social de comunidades produtoras de artesanato. As tentativas para integrar esses grupos no mercado de trabalho falham principalmente nas regiões menos favorecidas, onde os governos atuam como a principal fonte de geração de emprego.

Na contra mão dessa realidade e considerando a tradição cultural e turística do Nordeste, é possível afirmar que dentre as cadeias produtivas, o artesanato tem demonstrado elevado potencial para geração de renda. Pesquisas indicam que cerca de 3.3 milhões5 de nordestinos estão envolvidos nesta atividade, e neste sentido, é possível apontar o artesanato como uma importante alternativa para fomentar políticas de geração de trabalho e assim, configurar possibilidades sustentáveis de inclusão social.

A relação entre designers e artesãos aparece, nesse cenário, como uma oportunidade valiosa de estabelecer a troca de conhecimentos em diversos aspectos, que envolvem desde a construção de um projeto coletivo até a geração de negócios. Para os designers, possibilita a experimentação de conceitos e processos de design, especialmente os de criatividade para desenvolvimento de artefatos voltados a produção artesanal, descolados da produção industrial e com alto valor agregado e, para os artesãos, permite a oportunidade de transformação social traduzida pelo aumento na qualidade de vida dessas comunidades; desde que pautada sobre uma relação respeitosa entre tradição e inovação.

A experiência do Laboratório O Imaginário da Universidade Federal de Pernambuco em comunidades produtoras de artesanato tem permitido a organização de grupos produtivos, o desenvolvimento de artefatos, a melhoria do processo produtivo e articulação de parcerias que criam as oportunidades de inserção no mercado consumidor para artesãos e jovens de maneira sustentável.

Este artigo descreve o processo de criação compartilhado pelo Laboratório O Imaginário e o grupo artesão - Cestaria Cana-Brava, pontuando as principais transformações vivenciadas na sua trajetória, desde sua criação em 2003, a partir das dimensões ligadas à organização, artefatos, materiais e processos. O relato dessa experiência aponta para o desenvolvimento compartilhado dos artefatos, a construção de projetos coletivamente, a valorização das referências e memória do local, a autonomia dos grupos e o fortalecimento da rede de parceiros.

A estrutura do relato apresenta, inicialmente, o Laboratório O Imaginário, sua missão e ritual de chegada às comunidades, e o grupo artesão Cestaria Cana-Brava de Pontas de Pedra, município de Goiana-PE, sua história e contexto cultural. A seguir, uma reflexão sobre a descrição da construção do processo de criação compartilhado através da análise da trajetória do grupo pontuada pelos aspectos mais significativos em cada uma das dimensões: organização, artefato, materiais e processos.

O Laboratório O Imaginário nas comunidades artesanais

O Imaginário é um laboratório de pesquisa e desenvolvimento em design de caráter multidisciplinar6, formado por professores, estudantes e técnicos de diversas áreas do conhecimento, que atuam com foco no design como instrumento a serviço da sustentabilidade ambiental, econômica e social. É o resultado da evolução de projetos de pesquisa e extensão, que somavam esforços para a inserção do design tanto no âmbito industrial quanto artesanal.

Figura 1. Esquema gráfico da estrutura de atuação do laboratório O Imaginário. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

Quando direcionado à produção artesanal, as ações do laboratório visam contribuir para firmar a atividade artesanal enquanto meio de vida sustentável, através de intervenções que respeitem os valores culturais das comunidades produtoras de artesanato. No âmbito industrial, as ações do laboratório objetivam fortalecer a articulação da Universidade com o setor produtivo, visando à troca de informações entre academia e empresas, ampliando as possibilidades de atuação dos designers no Estado e contribuindo para ampliar as possibilidades de inserção de novos designers no mercado de trabalho local.

Ao longo de sua atuação, desde 2000, o O Imaginário Pernambucano vivenciou o uso de diversos materiais e técnicas produtivas em diferentes grupos artesãos. Essa experiência permitiu o desenvolvimento de estratégias que demonstraram ser eficazes tanto para a geração de trabalho e renda quanto para a promoção da inclusão social e do desenvolvimento sustentável, com ampla capacidade de replicação em variados grupos populacionais.

Figura 2. Mapa de Pernambuco e indicação das localidades de atuação do Imaginário. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

Em linhas gerais, o modelo transdisciplinar desenvolvido pelo Laboratório O Imaginário tem sido utilizado em comunidades com perfis diferentes e com diversos estágios de organização e mobilização social. Pautada em princípios éticos que respeitam e valorizam a cultura local, a ação do Imaginário busca promover a autonomia dos grupos trabalhados, e para tal, estimula a interlocução de diversas áreas do conhecimento a partir de uma reflexão e discussão pautada na realidade, e aplicação na construção de projetos coletivos.

Nesse sentido, é possível refletir sobre o entendimento de criatividade a partir dos aspectos do modelo utilizado. Partilhando diversos olhares e, por isso, rico em soluções, o modelo perpassa cinco eixos norteadores e mobiliza recursos humanos e financeiros para promover a inclusão social. Cabe esclarecer, no entanto, que a representatividade desse Laboratório se dá por diversos aspectos, dentre os quais, alguns são descritos por Andrade (et al., 2006) ao afirmar que:

A atuação do Imaginário apóia-se [...] em um modelo participativo, a partir do entendimento de que as artesãs e artesãos são sujeitos de suas práticas; coletivo, por meio do incentivo à construção de acordos coletivos e ao reconhecimento de lideranças; individualizado, através do reconhecimento de habilidades e competências dos envolvidos; crítico, na medida em que leva artesãs e artesãos a refletir sobre seu próprio fazer artístico; e contextualizante, já que a intervenção está calcada nas necessidades, nos desejos e no respeito aos valores de cada comunidade artesã (ANDRADE et al., 2006, p. 30).

O modelo do Laboratório no ambiente artesanal encontra-se em constante adaptação, “sendo ajustado mediante o “feedback” das ações implementadas” (ANDRADE et al., 2006). Isso significa dizer que o modelo traz, em sua essência, um processo de reavaliação constante que é resultado das experiências vivenciadas no cotidiano da atuação do Laboratório junto aos grupos artesãos. É ainda orientado segundo “eixos que geram estratégias capazes de mobilizar recursos (humanos e financeiros) e de promover a inclusão social” (id), tanto dos membros do grupo trabalhado e, em certos aspectos, da própria comunidade.

Figura 3. Representação gráfica do modelo de atuação do Laboratório O Imaginário | ambiente artesanal. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

A representação gráfica do modelo tem como foco central a comunidade artesã e o seu produto que se articula com os demais eixos, e está pautada pela qualidade, sustentabilidade e parcerias. Esse foco se justifica porque contribuir para mudar a condição de vida das comunidades artesãs faz parte da missão do Imaginário, o que só pode acontecer, dentre outras coisas, mediante a sustentabilidade econômica desses grupos produtivos, daí sua necessária vinculação ao produto.

No modelo apresentado, o eixo design encarrega-se de criar e desenvolver, de forma compartilhada, peças a partir da valorização do saber popular, reconhecimento das tradições, habilidades e uso dos materiais, juntamente com formas, texturas e cores que refletem os valores culturais e sociais das comunidades.

No eixo comunicação, são geradas informações e estratégias capazes de sensibilizar e mobilizar a opinião do consumidor para o valor do artesanato. Essas estratégias vão desde a divulgação na mídia à participação em concursos locais e nacionais, além da comunicação dos grupos com os poderes locais.

Em relação à gestão, as ações promovem a formação, articulação e fortalecimento de grupos com base na construção de acordos coletivos. No mesmo sentido, os relacionamentos com os diversos atores e instituições no entorno local são incentivados, a partir da replicação dos conceitos de respeito e transparência nas relações. O reconhecimento e o apoio às lideranças visam conscientizar o grupo artesão para o valor do seu trabalho e de sua autonomia.

Associar as potencialidades dos grupos de produtores às demandas de segmentos específicos de consumidores é o foco das ações do eixo mercado. Pesquisas são realizadas no sentido de identificar esses segmentos específicos de mercado capazes de reconhecer o valor agregado ao produto do artesanato e garantir uma remuneração justa que possibilite a continuidade do fazer artesanal. A ideia é possibilitar um diálogo respeitoso entre produtor-cliente que assevere o ritmo de vida e o processo produtivo dos grupos artesãos.

1 [...] design é atividade criativa, que tem o objetivo de estabelecer múltiplas qualidades a objetos, processos, serviços e sistemas por todo o seu ciclo de vida. Contudo, design é o fator central da inovação humanizadora de tecnologias e um fator crucial para a troca cultural e econômica. ICSID – International Council of Societies of Industrial Design (2007). Se o design tem seu surgimento ligado à dissociação entre o projetar e o executar [tarefa delegada à indústria, que se especializou na produção repetitiva, rápida e massiva, hoje se percebe uma reaproximação do executor original: o artesão]. Victor Papaneck, Tomás Maldonado, Gui Bonsiepe são exemplos de designers que dedicaram atenção ao papel social do design, cujos trabalhos tiveram repercussão na América Latina e no Brasil, principalmente nos anos 80. A relação design /artesanato foi estimulada, a partir dos anos 90, no Brasil, por programas e políticas governamentais que podem ser exemplificados pelo Programa O Artesanato Solidário, Programa de Artesanato do SEBRAE que evolveram designers e atuaram em diversas regiões do país.

2 O artesanato está entre as primeiras formas de ação do homem sobre o meio ambiente e sobre si mesmo. É com as mãos que ele começa também a se construir e a se inventar como ser humano. Isso, porque, por incrível que pareça - o homem não nasce humano, ele se torna humano, pelo trabalho, pela inteligência (GULLAR, 2000, p. 20).

3 Transdisciplinaridade é uma abordagem científica que visa à unidade do conhecimento. Desta forma, procura estimular uma nova compreensão da realidade articulando elementos que passam entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade (ROCHA FILHO, 2007).

4 Sustentabilidade aqui é compreendida de acordo com as premissas defendidas por Manzini, (O desenvolvimento de produtos sustentáveis) que aponta quando a proposta é um cenário de sustentatibilidade, o entendimento deve ser que a dimensão econômica está pautada na idéia de durabilidade no tempo. Neste sentido, o empreendimento deve ter características que, nas suas relações com o mercado, assegurem sua permanência. As orientações para a viabilidade econômica de uma sociedade sustentável fundamentam-se nas  condições necessárias para sua sobrevivência, e assim, a relação entre custo e benefício das práticas produtivas e de consumo deve ser equilibrada para alcançar padrões sustentáveis. A sustentabilidade social e cultural pretende a melhoria da qualidade de vida, à redução das desigualdades e injustiças sociais e à inclusão social por meio de políticas de justiça redistributivas. Como pano de fundo, a questão ambiental deve ser considerada no sentido de permitir que o ecossistema tenha capacidade de absorver ou se recuperar das agressões derivadas das atividades humanas. Assim, alcançar um novo equilíbrio entre as taxas de emissão ou produção de resíduos e as taxas de absorção ou regeneração da base natural de recursos (MANZINI; VEZZOLI, 2005).

5 Ações para o desenvolvimento do artesanato do Nordeste. Banco do Nordeste. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2002, p. 09.

6 Multidisciplinaridade é um conjunto de disciplinas a serem trabalhadas simultaneamente. Uma equipe multidisciplinar é um grupo com diferentes especializações funcionais que trabalham para alcançar um objetivo comum (MENEZES; SANTOS, 2002, p. 90). O laboratório O Imaginário atua com uma equipe multidisciplinar, uma vez que é composta por membros de diversas áreas do conhecimento, mas que trabalham balizados por um modelo de atuação transdisciplinar, já que os conhecimentos se articulam em função da compreensão e da resolução de problemas reais.

No que se refere à produção, o Laboratório trabalha com o respeito ao ritmo de vida das comunidades ao mesmo tempo em que otimiza os processos produtivos, melhora as condições de trabalho e o uso sustentável dos recursos naturais. Nesse caso, a inserção de novas tecnologias e ferramentas tanto garante a qualidade do fazer artesanal com mais segurança e menores custos humanos, como também, agrega valor ao produto.

Construir novos cenários para a atividade artesanal e que permitam o estabelecimento de um estilo de vida sustentável tem sido a grande meta do Imaginário. Os caminhos percorridos junto à comunidade de Ponta de Pedras serão apresentados a seguir a partir de relatos que compreendem a trajetória do grupo de artesãs, formado em 2003.

Ritual de chegada às comunidades: criando um ambiente favorável para a criatividade

As ações em comunidades são tratadas pelo Imaginário na forma de uma rede social, onde os grupos estão montados em “sua própria visão de mundo, ou seja, sua história os conduziu à forma de organização social, trabalho e modos de relacionamento tanto internos, quanto externos” (TABOSA, et al., 2007, p. 15). Compreender a forma de organização da comunidade, como funciona sua rede de vínculos é o ponto de partida para a construção do ambiente de troca entre a equipe do Laboratório O Imaginário e a comunidade artesã.

O reconhecimento dessa realidade tem início por meio de visitas, reuniões e conversas formais ou informais com artesãos, representantes da comunidade e parceiros. A participação do artesão é sempre voluntária e a tipologia do artesanato, em geral, já está definida pela própria comunidade, ora em função da matéria-prima ou do domínio que a comunidade tem de uma determinada técnica. Uma vez constituído o grupo são firmados acordos coletivamente.

A primeira ação, normalmente, é direcionada para a construção do projeto coletivo. A criação desse espaço para a discussão dos desejos e das possibilidades são estímulos para a mobilização e comprometimentos futuros. É nesse primeiro momento que os membros do grupo se expressam e compartilham visões de futuro. A partir do desenho do projeto coletivo é elaborado o planejamento estratégico, utilizando técnicas de trabalho em pequenos grupos e discussões colegiadas. A definição das ações, a partir do planejamento estratégico, irá configurar o plano de trabalho.

É com base nesse plano que os papéis e funções são estabelecidos e, muito embora pareça simples, é uma etapa bastante delicada, quando ficam expostas as contradições e conflitos do grupo, expressas em dificuldades de cumprimento de prazos, ausência nas reuniões, ou mesmo, na disputa por poder. Cabe aos atores envolvidos, compreender e mediar diferentes situações de conflito, com o objetivo de facilitar a realização do projeto coletivo, o fortalecimento das lideranças e incentivo para que o grupo busque a sua autonomia. No caso do Laboratório O Imaginário, o protagonismo da liderança foi de fundamental importância para a mediação desses conflitos e a manutenção de um projeto coletivo.

A construção de um ambiente favorável é fundamental para o sucesso de atividades específicas como, por exemplo, as capacitações técnicas ou desenvolvimento de produtos. Compreender o conceito de qualidade, fazer autocrítica do seu desempenho individual em função do acordo coletivo, negociar soluções inovadoras dependem desse ambiente favorável, cuja importância pode ser observada pela dedicação traduzida em visitas semanais da equipe do Imaginário às comunidades artesãs. Essa é uma forma de organizar o processo de acompanhamento e ao mesmo tempo compreender atitudes, costumes e os modos de resolver problemas, que se apresentam no uso da matéria–prima, nos modos de produção e no desenvolvimento de produtos.

O desenvolvimento de novos produtos é feito sempre junto com o artesão, estabelecendo uma prática de criação coletiva e compartilhada. Nesse ambiente, identificar preferências e tirar partido das habilidades individuais pode ser uma estratégia para fortalecer o coletivo.

Ponta de Pedras: da pesca à cestaria - história e contexto cultural

A praia de Ponta de Pedras está localizada em Goiana, na zona da Mata Norte de Pernambuco, a 65 quilômetros de Recife. Ao tempo da colonização, Goiana era habitada pelos índios Caetés e Tabajaras, e pertencia à antiga Capitania de Itamaracá. Desde a instalação dos primeiros engenhos de açúcar, ainda na primeira metade do século XVI, o contato entre diferentes etnias marcou a cultura local. Assim é que, ao território outrora habitado apenas por nativos indígenas, sobreveio outro, transformado pelo trabalho do escravo africano e do branco colonizador (ANDRADE et al., 2006, p. 88).

Por se tratar de área de praia, Ponta de Pedras tem na pesca uma das principais fontes de emprego e renda. Foi a partir da fundação da colônia “Z-3”7, que pescadores da região consolidaram a atividade com o uso de covos8, equipamento necessário para a prática da pesca artesanal e que é repassado de pai para filho.

Figura 4. Confecção do covo de pesca em Ponta de Pedras. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

A matéria-prima utilizada na confecção dos covos é a cana-brava, uma espécie de bambu, encontrada abundantemente na região. A partir das visitas técnicas, observações e entrevistas com os moradores, artesãos, pescadores e agricultores da região foi possível perceber algumas características interessantes da planta.

O processo de extração da cana-brava é feito manualmente através de um corte transversal a aproximadamente 25 cm do chão, sem a remoção da raiz. Com isso, em apenas 03 meses a área extraída pode voltar a ser cortada, sem danos para a sustentabilidade da espécie. A cana-brava não possui período de restrição para extração, sendo possível seu fornecimento o ano inteiro. A adaptação da espécie ao mangue e seu crescimento rápido favorecem o abastecimento da produção.

A planta é composta por uma superfície externa e ciliada, denominada casca, uma camada interior onde se encontra a fibra, de superfície lisa, rígida e de aspecto encerado, por fim, um composto interno, chamado “miolo”. Todo material extraído da planta pode ser utilizado: o pendão possui uso decorativo, a fibra é utilizada para fazer esteiras, covos, cercados, além da cestaria. Para a confecção dos produtos faz-se necessária a utilização de secções das fibras, denominadas paletas. Já o miolo pode ser utilizado para confecção de papel artesanal.

Figura 5. Processo de extração e beneficiamento da fibra de cana-brava. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

Trajetória do Grupo: Organização

A cana-brava faz parte da história do local desde os primeiros habitantes, e até hoje, o seu trançado é utilizado para confecção de covos e cestas; ainda assim, esta habilidade encontrada na comunidade era pouco explorada como geração de trabalho e renda. No local, apenas dois mestres artesãos utilizavam a matéria-prima para a produção de cestas.

A identificação das potencialidades da matéria-prima e do contexto socioeconômico da comunidade despertou o interesse do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (SEBRAE|PE) que, compreendendo que a localidade dispõe de pouca oferta de empregos e serviços e, que a pesca artesanal é a principal fonte de renda, além de ter uma população de jovens e mulheres que sofrem com a falta de oportunidades, articulou com a Universidade, por meio do Imaginário, uma ação focada para a organização de um grupo produtivo.

Essa realidade motivou a criação de um grupo, formado predominantemente por mulheres, algumas com experiência junto aos dois mestres artesãos, outras voltadas exclusivamente a atividades domésticas, e constituiu o grupo de Cestaria Cana-Brava.

No início, a atuação do laboratório O Imaginário em Ponta de Pedras foi baseada em três focos: primeiro, a formação de um grupo para produção artesanal; segundo, a capacitação desse grupo na técnica de cestaria com trançado em fibra de cana-brava; e terceiro, o desenvolvimento de novos produtos a partir desse trançado.

O momento inicial de organização do grupo teve como elemento agregador à capacitação na técnica do trançado em cana-brava e a oportunidade de geração de trabalho e renda com a possibilidade de gerir o próprio negócio. Essa perspectiva de futuro foi fundamental para a continuidade do grupo, já o movimento de interlocução entre os seus membros, foi gradativamente estabelecendo as nuances de um projeto coletivo.

A formação do grupo fomentou também o surgimento de lideranças que foram legitimadas pelas competências de negociar acordos e produzir o artesanato. O papel desempenhado pela líder foi, sob todos os aspectos, decisivo para a configuração do laboratório O Imaginário especialmente, durante o processo de organização interna do grupo que sofreu oscilações em decorrência de fatores como a instabilidade de permanência de seus membros e a dificuldade de apoio financeiro. Hoje o laboratório O Imaginário é referência para novos grupos nas proximidades de Ponta de Pedras, como por exemplo, o grupo Quilombolas de São Lourenço.

Processo de Criação Compartilhado: artefatos

7 Colônia de Pescadores fundada em 1931, a Z-3 abriga cerca de 800 associados, unidade de beneficiamento e comercialização de pesca em Goiana - PE.

8 A pesca dos covos é uma das artes de pesca tradicionais. Os covos são um tipo de armadilha utilizado na pesca de lagostas e polvos da região.

O processo de criação compartilhado é nesse caso, caracterizado, sobretudo, pela troca de saberes entre designers e artesãos. Relação que se fundamenta na confiança entre os envolvidos e no respeito às diferenças entre o saber projetar e o saber fazer.

Na natureza da atividade artesanal está evidente a criação de objetos, assim é que o colocar a mão na massa é de imediato demandado pelos artesãos. No entanto, o cuidado no reconhecimento dos valores locais, da potencialidade individual e dos limites tecnológicos demanda um momento maior de interação.

A partir de encontros semanais entre designers e artesãos, as informações são compartilhadas, alimentando um ambiente de experimentos e aprendizado. Erros e acertos são discutidos e re-elaborados de forma transparente e a cada reunião, quando novas necessidades apontam, o processo toma novos direcionamentos.

Conversas informais trazem grandes descobertas. Sem perder suas referências locais, mas comprometidos em construir um diálogo entre tradição e inovação, os artesãos são estimulados a conhecer novos universos. O processo de criação compartilhado envolve, nesse caso, o convite a comunidade artesã para olhar a si mesma e o seu entorno. E ir além, ampliar o repertório, estimular o olhar e a criatividade. Para tal, são realizadas oficinas para o desenvolvimento de artefatos cujo conteúdo inclui o reconhecimento imagético da produção de artistas, designers e outros artesãos de todo o mundo que trabalham as mesmas tipologias ou matérias-primas similares.

Para isso, são realizadas visitas à exposições nacionais e internacionais, à feiras de artesanato e shopping centers. O contato com essas realidades instiga a criatividade do grupo e traz inquietações que contribuem para o processo de criação compartilhando referências locais e potencialidades individuais. Na prática, os refinamentos de forma, proporção e acabamentos são resultados obtidos por meio de discussões ampliadas, quando artesãos e designers juntos, avaliam e propõem alterações, que aumentam a percepção de valor agregado do produto no mercado.

No desenvolvimento de produtos também são consideradas novas possibilidades de uso com o objetivo de agregar mais valor e atingir novos mercados com maior poder de compra. Dessa maneira, aproxima-se a relação entre a capacidade de produzir e as demandas de mercado de forma a promover uma lógica de consumo responsável, associada ao perfil do consumidor que se identifica com os princípios do Comércio Justo9. Este “consumidor busca produtos de maior valor social agregado, (...) e que por identificar-se com o produtor, deseja contribuir para uma causa em que acredita” conforme SEBRAE (2007, p.18).

Assim, as novas peças consomem um tempo de produção e quantidade de matéria-prima inferior ou compatível com outras executadas anteriormente e proporcionam uma remuneração melhor. Consolidar o respeito ao ritmo de produção do grupo observando condições humanas de trabalho, compatibilizando as habilidades e experiências de cada uma das artesãs, é um quesito que provocou três consequências positivas na inserção de produtos novos.

Primeiro, o compromisso das artesãs para atingir melhores resultados a cada novo experimento; segundo, a relação de reciprocidade entre artesãos e designers na solução de problemas projetuais; e terceiro, a disponibilidade de aceitar desafios buscando aprimoramento técnico para viabilizar a concretização de novas ideias.

Um exemplo da busca de soluções projetuais foi o desenvolvimento de produtos alternativos à cestaria, provenientes de regiões do continente asiático, de alta qualidade técnica e baixo preço de mercado. A aplicação da trama utilizada na Cestaria Cana-Brava em luminárias, revisteiros, entre outros produtos, permitiu o distanciamento da estratégia de concorrência agressiva no fator preço e propôs novos usos, abrindo mercado para o artesanato do local.

Figura 6. Luminária – exemplo de artefato desenvolvido por processo de criação compartilhado e alternativa de artefato a cestaria. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2007.

A associação do produto ao seu contexto histórico e social, por meio de marca, folders e embalagens, também possibilitou a aproximação com o cliente, contribuindo para o aumento da percepção do caráter simbólico do produto. Esse aspecto potencializou o aumento na percepção de valor do produto e permitiu uma remuneração baseada num preço justo, mantendo o ritmo de produção do grupo e indo de encontro à postura de superprodução para aumento de oferta e diminuição de preço.

Figura 7. Marca do grupo produtivo Cestaria Cana-Brava. Fonte: arquivo do Laboratório O imaginário, 2007.

Outro exemplo de estímulo ao processo criativo compartilhado pode ser observado pela necessidade de integração com outros grupos locais. Ao grupo de cestaria, ao longo do tempo, agregaram-se o grupo da Terceira Idade e os jovens que trabalham com arte-educação e produção do papel artesanal.

A constituição dessa rede de parceria local contribuiu para o crescimento econômico e sociocultural do grupo sendo possível a criação de um centro cultural, a partir da reforma de um velho casarão a beira mar de Ponta de Pedras, onde vários grupos produtivos agora estão sediados. A construção do Centro de Artesanato José Romualdo Maranhão materializa em pedra e cal a capacidade do grupo de dialogar junto a outros parceiros, como a Prefeitura de Goiana, conquistando espaços físicos e políticos.

Figura 8. Área externa do Centro José Romualdo Maranhão no dia da inauguração. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2008.

Recentemente, a rede de parceiros e atores envolvidos foi ampliada com a participação de membros da comunidade vizinha de São Lourenço e de organizações sociais, como a Sociedade de Amigos de Ponta de Pedras; e foi conquistado mais um espaço para comercialização no Mercado Municipal de Ponta de Pedras.

Figura 9. Espaço de comercialização no Mercado Municipal de Ponta de Pedras. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

Fazer Manual em Transformação: materiais e processos

Com o passar do tempo, além da cana-brava, outras matérias-primas foram incorporadas à produção. Inicialmente, aos artefatos em fibra foram adicionados componentes em madeira, no entanto, o alto custo e a dificuldade de viabilizar a qualidade de acabamento provocaram o grupo a buscar alternativas. A substituição da madeira pela utilização do metacarpo do corpo10, não só solucionou esse problema, como abriu uma nova frente para o desenvolvimento de artefatos.

A partir de 2007, com a necessidade de manter no portfólio da comunidade produtos competitivos e com maior valor agregado, foi formado um novo grupo e treinado para beneficiar o matacarpo do coco – ou ,como são comumente conhecidas, as “quengas” de coco encontradas em abundância na praia. Com o coco também foram desenvolvidos colares, apresentados na IX Feira Nacional do Artesanato - Fenearte, em julho de 2008, com grande aceitação no mercado local e nacional.

Para estimular a participação de outros membros da comunidade ao grupo e diversificar matérias-primas e produtos, foi incorporada à produção a utilização de tecidos. Inicialmente, os tecidos utilizados nas cestas eram coloridos, porém lisos, ou eram comprados já estampados. Em 2007, o Imaginário tomou a iniciativa de mobilizar um novo grupo e capacitá-los para a impressão artesanal em serigrafia, possibilitando assim a impressão de estampas exclusivas para os produtos da cestaria.

O desenvolvimento das estampas foi novamente mais um argumento para a criação compartilhada. A adaptação da pesquisa desenvolvida por Lucrécia Ferrara e descrita no livro Olhar Periférico11 foi utilizada como um método para aguçar o “olhar atento” sobre a própria realidade. As imagens registradas por meio de fotografias feitas pelos artesãos foram o material de base para a criação das novas estampas. Os resultados apontaram a validade do processo: os artesãos se reconheceram no design das novas estampas e o mercado consumidor percebeu a inovação e originalidade agregados aos novos produtos.

Figura 10. Produtos: cesta com tecido, cesta com componentes em coco e colar. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

As transformações no modo de fazer e interagir com as matérias-primas ainda continuam em atividade. A confecção do papel, a partir do resíduo da cana-brava gerado durante a etapa de beneficiamento da fibra, demandou estudos para estabelecer o processo mais adequado para composição da massa. Dessa forma, foi criado o “Mata-Vida”, projeto que reforçou a atenção com o meio ambiente, uma vez que, além do resíduo da cana-brava, utiliza restos de papel e papelão e, com a ajuda de arte educadores e jovens da comunidade, produzem objetos de decoração e adereços. O Centro Cultural José Romualdo Maranhão abriga os dois projetos que atuam colaborativamente, compartilhando trabalho e oportunidades.

As experiências vivenciadas pela equipe Imaginário junto às comunidades produtoras de artesanato, tomando como exemplo o grupo Cestaria Cana-Brava, indicam que as interações em processos de mudança, seja em relação à configuração do objeto, ao processo produtivo ou ao uso de matéria-prima, acontecem quando há respeito às diferenças, valorização das experiências individuais e coletivas e a percepção de benefício. Essa constatação nos leva a lançar mão, cada vez mais, de situações concretas e dados objetivos como argumentos à valorização dos produtos e consequentemente a agregação de valor ao artesanato, necessário para aumento da geração de renda, o surgimento de jovens artesãos e a inclusão social dessas comunidades.

9 “Comércio Justo é uma parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior equidade no comércio internacional. É uma modalidade de comércio que contribui para o desenvolvimento sustentável por meio de melhores condições de troca e da garantia dos direitos para os produtores e trabalhadores marginalizados – principalmente do Sul.” Definição durante a Conferência anual da IFAT (International Federation of Alternative Trade, 2001).

10 O metacarpo do coco é a sua casca interna rígida.

11 Ver FERRARA, Lucrécia D´Aléssio. Olhar periférico: informação, linguagem, percepção ambiental. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1993.

Principais Conclusões: compartilhando experiências

Os modos de atuar junto às comunidades produtoras de artesanato, em geral, priorizam o design e/ou mercado, mas a experiência tem demonstrado que embora sejam importantes, não são suficientes para garantir mudanças mais consistentes na condição de vida daquelas comunidades. Criar projetos coletivos, compreender os modos de fazer, os aspectos sociais que permeiam as relações em grupo, investir em tecnologias que permitam um uso mais sustentável dos recursos naturais são fundamentais para apoiar a relação design/artesão.

O aprendizado resultante dessas experiências aponta que é possível incorporar as contribuições do design e dos processos de criação, desde que sejam observados os tempos e os movimentos da vida da comunidade artesã. O que só é possível quando existe a compreensão de que a sustentabilidade desse tipo de ação está na democratização do conhecimento e na interação entre os saberes acadêmico e popular. Os artesãos são agentes munidos de informação e o design é f0erramenta e metodologia para nortear a ação.

Em relação ao grupo Artesanato Cana-Brava, a construção da parceria com poderes locais exigiu muita insistência e persistência, e só foi possível, graças ao empoderamento do grupo sobre o seu próprio fazer e organizar. O sentimento coletivo e o valor do grupo se manifestam de várias maneiras. Na produção, por exemplo, é visível a preocupação em partilhar as tarefas de tal modo que todos possam ser remunerados. Aqueles menos habilidosos recebem a ajuda para garantir a entrega dos produtos com qualidade e nos prazos acordados. A incorporação de novos artesãos provenientes de outros grupos para compartilhar espaços de comercialização é outro indicativo do princípio de cooperação. A parceria do Artesanto Cana-Brava com artesãs de Nazaré da Mata permitiu que estas compartilhassem o espaço do Centro Cultural José Romualdo Maranhão no verão quando a praia recebe veranistas pernambucanos e de Estados vizinhos. Mais recentemente o stand do grupo Artesanato Cana Brava na última Feneart abrigou produtos feitos com cascas de mariscos dos Quilombolas de São Lourenço e produtos feitos com papel reciclado dos jovens do projeto Mata-Vida. A cooperação não se dá apenas no compartilhamento do processo criativo, mas de trabalho e espaços e, principalmente, nas experiências de relacionamento com clientes e com o mercado de maneira em geral.

É também importante compreender que os resultados levam tempo, pois implicam em transformações culturais e sociais. Hoje, o grupo Cestaria Cana-Brava é reconhecido no local, no Estado e nacionalmente. Recebeu o prêmio SEBRAE TOP 100 em 2009 que o classificou entre as 10 melhores experiências no Brasil.

Figura 11. Prêmio Top 100 Sebrae – 2009 e Estande na XI FENEARTE - 2011. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

Uma linha do tempo apontando as principais transformações vivenciadas pelo grupo artesão Cestaria Cana-Brava permite visualizar por meio de materialidades e fatos, os efeitos obtidos pelo processo de criação compartilhado e modelo de atuação transdisciplinar que nortearam essa relação entre design e artesanato.

Figura 12. Linha do tempo Cestaria Cana-Brava. Fonte: arquivo do Laboratório O Imaginário, 2011.

Referências

ANDRADE, A. M. Q. et al. (Coord.). Imaginário Pernambucano: design, cultura, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Recife: Zoludesign, 2006.

GULLAR, F. Artesanato no Brasil. São Paulo: Reflexo, 2000.

ICSID - International Council of Societies of Industrial Design. 2007. Disponível em: <http://www.icsid.org/about/about/articles31.htm>. Acesso em: 23 jun. 2007.

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.

MENEZES, E. T.; SANTOS, T. H. "Multidisciplinaridade" (verbete). In: Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002.

ROCHA FILHO, J. B. Transdisciplinaridade: a natureza íntima da educação científica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.

SEBRAE. Termo de referência para o comércio justo. Coordenação técnica Jorge Rincón, Juarez De Paula, Louise Alves Machado, Alzira Vieira. Brasília: SEBRAE, 2005, p. 18.

TABOSA, T. et al. Redes sociais, dádiva e cooperação na intervenção social transformadora: o caso do Projeto Imaginário Pernambucano - Brasil. In: X Fórum de Administração – FIA, IV Congresso Mundial de Administração. Coimbra: Anais... Coimbra: [s.n.], 2007.

Ways of doing: an experience in shared creation processes and transdiciplinary acting model on the design and craftsmanship relation

Virginia Pereira Cavalcanti, Ana Maria Queiroz de Andrade and Germannya D´Garcia A. Silva

Virginia Pereira Cavalcanti is designer and doctor in Environmental and Urban Structures. Assistant Professor of Design at the Post Graduat Program of Design at Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Coordinator of the Research Group Design, Technology and Culture of CNPq and Coordinator of the research and extension Laboratory, The Imaginary (UFPE).

Ana Maria Queiroz de Andrade is Architect and Master in Education. Assistant Professor of Design at Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) and Coordinator of the research and extension Laboratory, The Imaginary (UFPE), Member of the Research Group Design, Technology and Culture of CNPq. She studies management of artisanal design environments.

Germannya D´Garcia A. Silva is Designer and Master in Production Engieneering. Professor at Design Center - Campus Acadêmico do Agreste and production coordinator of the Lab The Imaginary, at Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). She studies the relation of materials and planning and configuration of the artifacts, and the relation of design and ergonomics.

How to quote this text: Cavalcanti, V. Andrade, A. M. Q. and Silva, G. D. A., 2011. Ways of doing: an experience in shared creation processes and transdiciplinary acting model on the design and craftsmanship relation. Translated from Portuguese by Paulo Ortega. V!RUS, [online] n. 6. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus06/?sec=4&item=7&lang=en>. [Accessed: 19 April 2024].

Abstract

In the end of the XX century, a growing group of designers 1 turned their attention to the serious social problems which were multiplied: poverty, social exclusion, violence. The challenges of this complex society have imposed a critical reflection on the creation processes. And a specially challenging scenario impacted the established relation between designer X craftsman2 X artifact. Between the dilemma of dialoguing with tradition and innovation, authorship and collective creation, design was impelled to search new performing ways to act in the communities and productive groups. The Laboratory, O Imaginário (The Imaginary) experienced these challenges and, since 2001, experiments with a transdisciplinary acting3 model limited by the axis: design, management, communication, production, market and focusing on quality and sustainability4. Built from a dialectical approach, the premises of the model cover the recognition of the actors and local doings the understanding of the cultural values and the socio-economic potentialities and local environments. The purpose of this article is to describe the shared creation process by the Laboratory O Imaginário and the craftsmanship group – Cestaria Cana-Brava (Cana-Brava Basketry), dotting the main transformations lived in its journey, since its creation in 2003, from the dimensions linked to organization, artifacts, materials and processes. The report of this experience points to the shared development of the artifacts, the collective construction of projects, the local memory valuing, the autonomy of the groups and the strengthening of the partnership network.

Keywords: creation processes; design; craftsmanship; culture.

Introduction

The inclusive social politics in Brazil adopt practices that, even if necessary, are insufficient to guarantee changes in the social condition of craftsmanship producing communities. The attempts to integrate these groups in the work market failed mainly in the least favored regions, where the government acts as the main source of employment generation.

Opposed to this reality and regarding the cultural and tourist tradition of the Northeast, it is possible to state that inside the productive chains, craftsmanship has demonstrated high potential for revenue generation. Researches indicate that about 3.3 million 5 of Northeasterners are involved in this activity, and, in this sense, it is possible to appoint craftsmanship as an important alternative to encourage employment generation policies and thus, configure sustainable inclusion possibilities.

The relation between designers and craftsmen, in this setting, seems like a valuable opportunity to establish the exchange of knowledge on several aspects, which involves from the building of a collective project construction to the business generation, For the designers, it allows the experimentations on design concepts and processes, especially the creative ones focused on the craftsmanship production, detached from the industrial production and high aggregated value and, for the craftsmen, it permits the opportunity of social production translated in the increase of the quality standard of the lives of these communities; since it is ruled by a respectful relation between tradition and innovation.

The Laboratory O Imaginário experience, from the Universidade Federal de Pernambuco in craftsmanship producing communities has allowed the organization of productive groups, the development of artifacts, the improvement in the productive process and the articulation of partnerships that create the opportunities of insertion in the consuming market for craftsmen and youths in a sustainable way.

This article describes the shared creation process by the Laboratory O Imaginário and the craftsmanship group - Cestaria Cana-Brava, since its creation in 2003, from the organization, artifacts, materials and processes dimensions. The report of this experience points to the shared development of the artifacts, the collective construction of projects, the local memory valuing, the autonomy of the groups and the strengthening of the partnership network.

The report structure initially presents The Laboratory O Imaginário, its mission and arrival ritual in the communities and the craftsmanship group - Cestaria Cana-Brava from Pontas de Pedra, Goiana-PE municipality, its history and cultural context. Then, a reflection on the shared creation processes through the analysis of the journey dotted by the most meaningful aspects in each one of the dimensions: organization, artifact, materials and processes.

The Laboratory O Imaginário in the craftsmanship communities

The Laboratory O Imaginário is a research and development laboratory in design of multidisciplinary character, formed by professors, students and technicians from several areas of knowledge, who work with design as an instrument at the service of the environmental, economic and social sustainability. It is the result of the evolution of research projects and extension, which sum efforts for the design insertion in the industrial scope as well as in the craftsmanship one.

Figure 1. Graphic schedule of The Laboratory O Imaginário acting structure.
Source: Laboratory O Imaginário, archive 2011.

When directed to the craftsmanship production, the laboratory actions aim to contribute to the craftsmanship activity while a sustainable way of life, through interventions that respect the cultural values of the craftsmanship producing communities. In the industrial scope, the laboratory actions aim to strengthen the articulation between the University and the productive sector, aiming the information exchange between the academy and the companies, broadening the designers’ actuation possibilities in the state and contributing to broad the possibility of insertion of new designers in the local market. During its actuation, since 2000, O Imaginário Pernambucano has lived the use of several materials and productive techniques in different craftsmanship groups. This experience allowed the development of strategies proven to be effective either for the work and revenue generation as the promotion of the sustainable development, with plenty of replication capacity in several population groups.

Figure 2. Pernambuco map and indication of O Imaginário actuation places.
Source: Laboratory O Imaginário, archive 2011.

Generally, the transdiciplinary model developed by the Laboratory O Imaginário has been used in communities with different profiles and with diverse organizational and social mobilization. Based on ethical principles which value and respect the local culture, The Imaginary action seeks to promote an autonomy of the groups it works with, and to do so, stimulates the inter dialogue among the several areas of knowledge from a discussion based on reality, and the application in the collective construction of projects.

In this sense, it is possible to reflect about the creativity understanding from the aspects of the analyzed model. Sharing several views and therefore, rich in solutions, the model permeates five guideline axes and mobilizes human and financial resources to promote social inclusion. It has to be clarified, however, that the representativeness of this Laboratory happens through diverse aspects, among some which are described by Andrade, et al. (2006) when he states that:

The actuation of the Imaginary is based on […] a PARTICIPATIVE model, from the understanding that the craftsmen and craftswomen are the subject of their own practices; COLLECTIVE, through the incentive of collective deal construction and to the leadership acknowledgement; INDIVIDUALIZED, through the acknowledgement of the skills and competences of the people involved.; CRITICAL, as it leads the craftsmen and craftswomen to reflect on their own artistic doing; and CONTEXTUALIZING, since the intervention is grounded on the necessities, desires and respect to the values of each one of the craftsmanship communities (Andrade, et al., 2006, p.30).

The Laboratory model in the craftsmanship environment is in constant adaptation, ”being adjusted according to the “feedback” of the implemented actions” (Andrade, et al., 2008). This means the model brings in its essence a continuous reevaluation process which is resulted of the experiences lived in the O Imaginário routine with the craftsmanship groups. It is also oriented according to “axes which generate strategies capable of mobilizing resources (human and financial) and to promote social inclusion” (id), not only of members of the group worked with, but in some aspects of the community itself.

Figure 3. Graphic representation of the Laboratory of O Imaginário acting model | craftsmanship environment. Source: Laboratory O Imaginário, archive 2011.

The graphic representation has as central focus the craftsmanship community and their product which articulates with the other axes and is based on quality, sustainability and partnerships. This focus is justified because contributing with the life conditions of the craftsmanship community is part of the mission of O Imaginário, which can only happen, among others, according to the economic sustainability of these productive groups, thus its necessary binding with the product.

In the presented model, the design axis is responsible for creating and developing, in a shared fashion, pieces from popular knowledge valorization, acknowledgement of tradition, skills and use of materials together with shapes, textures and colors which reflect upon the community cultural and social values.

In the communication axis, strategies and information are generated and are able to sensitize and mobilize the consumer’s opinion for the value of the craftsmanship. These strategies range from the media divulging in local and national contests, besides the communication of the groups with the local powers.

Concerning management, the actions promote formation, articulation and strengthening of groups based on the collective construction of deals. In this same sense the relation with the other actors and institutions surrounding the place are encouraged, from the replication of concepts such as respect and transparency in the relations. The acknowledgement and support for the leaderships aim to raise awareness in the craftsmanship group for the value of their work and autonomy.

Associating the potentialities of the groups of producers with the demands of specific segment of consumers is the market actions axis’ focus. Works of research are performed aiming to identify these specific segments of the market capable of recognizing the aggregated craftsmanship value to the product and guarantee fair payment for the continuity of the craftsmanship doing. The idea is to create a respectful dialogue between producer and client that secures the rhythm of life and the productive process of the craftsmanship groups.

Regarding the production, O Imaginário works respecting the rhythm of life of the communities at the same time that it optimizes the production processes it improves the work conditions and the sustainable use of natural resources. In this case, the new technologies and tools insertion guarantees the quality of the craftsmanship doing with more security and less human expenditure, as well as aggregates value to the product.

1 Design is a creative activity, with the goal to establish multiple qualities to objects, processes, services and systems throughout its life cycle. However, design if the central factor of humanizing innovation of technologies and a crucial factor to the cultural economic exchange. ICSID – International Council of Societies of Industrial Design (2007). If the design has its emergence connected to dissociation between the way of projecting and the way of executing [ task delegated for the industry, which specialized in the repetitive production, quick and massive, today, what it is seen is a reconnecting of the original executer: the craftsman].Victor Papaneck, Tomás Maldonado, Gui Bonsiepe are examples of designers who dedicated their attention to the social paper of design, whose works had repercussion in the Latin America and Brazil, especially in the 1980’s. The relation between design/craftsmanship was stimulated, starting from the 1990’s, in Brazil, by programs and government policies which can be exemplified by the “O Artesanato Solidário”, craftsmanship program of SEBRAE that involved designers and acted in several country regions.

2 Craftsmanship is among the first man forms of action over the environment and himself. It is with the hands that he begins to build himself and invent as a human being. This becomes surprisingly as it seems – the man is not born as a human being, he becomes human, through work, through intelligence (Gullar, 2000, p.20).

3 Transdisciplinarity is a scientific approach that aims the unity of knowledge. This way, it searches to stimulate a new comprehension of reality by articulating elements which passes between, beyond and through the subjects, in a comprehension search of the complexity (Rocha Filho, 2007).

4 Sustainability here its understood according to the premises defended by Manzini (the development of sustainable products) which points when the proposal is a sustainable scenario, the understanding must be that the economic dimension is based on the idea of ​time endurance. In this sense, the entrepreneurship must have characteristics which, in its relations with the market, ensure its permanence. The orientations for economic viability of a sustainable society are founded in the necessary conditions for its survival, and thus the relationship between cost and benefit of the consume and productive practices must be balanced to achieve sustainable patterns. The social and cultural sustainability aims to improve the quality of life, reduction of inequality and social injustices and to the social inclusion through redistributive justice policies. As background, the environmental issue should be considered in order to allow the ecosystem have the capacity to absorb or recover from attacks derived from human activities. Thus, achieving a new balance between the rates of emission or waste production and absorption rates or regeneration of the natural resource base (Manzini, 2005).

5 Actions for the development for craftsmanship in the North East. Banco do Nordeste. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2002, p.09.

Building new scenarios for the craftsmanship activity which allows the establishment of a sustainable lifestyle has been O Imaginário’s great goal. The paths trailed together with the Ponta de Pedras communities that follow from the reports which consists the journey of the craftsmanship female groups, formed in 2003.

Arrival ritual in the community: creating a favorable environment for creativity

The actions in community are regarded by O Imaginário in the form of a social network, where the groups are formed “according to their own vision of the world, that is, their story has conducted to their social organization way, works and relationships, as much for the internal, as for the external ones” (Tabosa, et al., 2007, p.15). Understanding the way of the community organization, the way their network works is the starting point for the building of the exchange environment between O Imaginário team and the craftsmanship community.

The acknowledgement of this reality happens through visits, meetings and formal or informal conversations with craftsmen, community representatives and partners. The craftsman participation is always voluntary and the typology of the craftsmanship, in general, it is already defined by the community itself, either due to the raw material or the mastery of a specified technique by the community.

Once the group is constituted, collect deals are settled.

The first action is normally directed for the collective project construction. The creation of this space for discussion of the wishes and possibilities are stimulus for mobilization and future compromise. It is in this first moment that group members express themselves and share visions on the future. From the collective project the strategic planning is elaborated, using techniques of work in small groups and collegiate discussion. The action definition, from the strategic planning, is going to configure the work plan.

The roles and functions are established based on this plan and, although it seems simple, it is a very delicate stage, when the group’s contradictions and conflicts are exposed, which are expressed in the difficulty of fulfilling the deadlines, absence in the meetings, or even in the power dispute. It is up to the involved actors, understand and mediate different conflict situations, aiming to facilitate the realization of the collective project, the strengthening of the leaderships and incentive for the group search for its autonomy. In The Imaginary case, the leadership protagonist was of crucial importance for the mediation of these conflicts and maintenance of a collective project.

The construction of a favorable environment is essential for the success of specific activities, such as, technical capacitation or product development. Understanding the quality concept, making auto criticism of your individual performance due to the collective agreement, negotiating innovative solutions depend on this favorable environment, whose importance can be observed by the weekly visits of The Imaginary staff to the craftsmanship community. This is a way of organizing the following process and at the same time understands attitudes, costumes and the troubleshooting ways, which are presented in the use of the raw material, in the production means and the product development.

The development of new products is always made with the craftsman, establishing a collective creation and shared practice. In this environment, identifying preferences and taking advantage of individual skills can be a strategy to strengthen the collective.

Ponta de Pedras: from fishing to basketry - history and cultural context

The Ponta de Pedras beach is located in Goiana, in Pernambuco’s Zona da Mata, 65 kilometers from Recife. At the time of colonization, Goiana was inhabited by Caetés and Tabajara Indians, and belonged to the old Itamaracá Capitania. Since the installation of the first sugar mills, still in the first half of the XVI century, the contact among the different ethnicities marked the local culture. That is, to the former territory inhabited by native indigenous, came another, transformed by the African slave work and the white colonizer (Andrade, et al., 2006, p.88).

Owing to the fact that it is a beach area, Ponta de Pedras has in fishing one of its main revenue and employment sources. It was from the foundation of the“Z-3”6, that fishermen of the region consolidated the activity with the use of fishtraps7, necessary equipment for the practice of craftsman fishing is what is passed from father to son.

Figure 4. Fish trap manufacturing in Ponta de Pedras. Source: Laboratory O Imaginário, archive 2011.

The raw material used in the fish trap manufacturing is the cana-brava, a kind of bamboo, abundantly found in the region. From the technical visits, observations and interviews with the local craftsmen, fishermen and agriculturists of the region was possible to realize some interesting characteristic of the plant.

The cana-brava extradition process is made manually through a transversal cutting, approximately 25 cm from the ground, without root removal. With this, in only 03 months the extracted area can be cut again without damage for the species sustainability. Cana-brava does not have an extraction period restriction, being possible for it to supply all year round. The species adaptation to the mangrove and its fasts growth favor the supply of the production.

The plant is composed by an external ciliated surface, denominated bark, and interior layer where fiber is found, of smooth surface, rigid and of waxed aspect, in short, and an internal compound called “core”. All the extracted material of the plant can be used to make caterpillars, fish traps, and enclosed spaces, besides basketry. For the product manufacturing, sections of the fibers are necessary, denominated pallets. The core can be used for craftsmanship paper manufacturing.

Figure 5. Extraction process and industrialization of cana-brava fiber. Source: Laboratory O Imaginário, archive 2011.

Group journey: Organization

Cana-brava has been part of the local history since the first inhabitants and even nowadays its braiding is used for manufacturing of fish traps and baskets, even though, this skill found in the community was little explored as income and work generation. In the place, only two master craftsmen used the raw material for the basket production.

The raw material potentialities identification and the social- economic context of the community awoke the interest of the Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (SEBRAE|PE) that, understanding the place has few work opportunities and service and, that the craftsmanship is the main source of income, besides having a population of young people and women who suffer from lack of employment and opportunities, articulated with the University, through The Imaginary, an action focus on a productive group formation.

This reality motivated the formation of a group, mainly formed by women, some of them with experience with the master craftsman, others exclusively dedicated to housekeeping, and this constituted the Cestaria Cana­Brava group.

In the beginning, O Imaginário performance in Ponta das Pedras was based on three focuses: first, the formation of a craftsmanship production group; secondly: this group’s capacity with the technique of braided cana-brava fiber; and thirdly, the development of new products from this braiding.

The group organization initial moment had as a value aggregating element the cana-brava braiding technique capacitance and the opportunity of working and income generation with the possibility of managing their own business. This future perspective was essential for the group continuity, since the inter dialogue among their members established the nuances of a collective project.

The group formation also fomented the leadership appearance that where legitimated by their competence in negotiating deals and producing craftsmanship. The role performed by the leader was, on all aspects, decisive for The Imaginary configuration; mainly during the internal organizational process which suffered oscillations due to factors such as instability of its members’ permanence and financial support difficulties. Today, O Imaginário is reference for new groups in the Ponta de Pedras surroundings, for instance, the São Lourenço Quilombola.

Shared creation process: artifacts

6 Colony of Fishermen, founded in 1931, the Z-3 holds around 800 associates, beneficting and trading of fish, in “Goiana PE”.

7 Fishing with traps is one of the traditional fishing arts. The fish traps are a kind of trap, use in the fishing of lobsters and octopuses.

The shared creation process is, in this case, mainly characterized, by the swapping between designers and craftsmen knowledge. Relation which is founded on the trust between the ones involved and the respect to the differences between the projecting know-how and the know-how.

In the craftsmanship activity nature it is evident the creation of objects. Nonetheless, the care in the local values acknowledgement, the individual potentiality and the technological limits demand a greater interaction moment.

From weekly meetings between designers and craftsmen, the information is shared, feeding an environment of learning and experimentation. Rights and wrongs are discussed and re-elaborated transparently at each meeting, when new necessities are pointed, the process assumes new directions.

The immersion in history and the cana-brava use and its braided was essential to begin the shared artifacts development process.

Informal conversations bring great discoveries. Without losing their local references, but compromised with building a dialogue between tradition and innovation, the craftsmen are stimulated to know new universes. The shared creation process involves, in this case, the craftsmanship community invitation to look at itself and its surroundings. And to go beyond, broaden its repertoire, stimulate the view and creativity. Therefore, workshops are used for the development of artifacts whose content includes the artist’s production imagetic acknowledgement, designers and other craftsmen worldwide who work with the same typologies or similar raw materials.

In order to achieve that, visits to the national and international expositions, to craftsmanship fairs and shopping malls are promoted. The contact with these realities instills the group creativity and brings restlessness which contributes to the creation process sharing local references and individual potentialities. In practice, the shape, proportion and finishing refining are results obtained from broadened discussions, when craftsmen and designers together, evaluate and propose alterations, which increase the added value of the product in the market.

In the product development, new possibilities of use are also considered with the goal of adding more value and reach new markets with higher purchasing power. This way the relation between the capacity of producing and market demands get closer, promoting the logic of responsible consumption, associated to the consumer profile that identifies itself with the principles of Fair Trade8. This “consumers search products with higher social added-value (...) and for this reasons wishes to contribute to a cause which one believes” according to SEBRAE (2007, p.18).

Thus, the new pieces consume production time and a number of inferior raw materials compatible with others previously executed and provide better pay. Consolidating the respect to the production rhythm of the group observing human work conditions, harmonizing the abilities and experiences of each one of the female artisans, it’s a query that provoked three positive consequences in the insertion of new products.

First, the commitment of the craftsmen to reach better results at each new experiment; second, the mutual relation between craftsmen and designers in the solution of design problems; third, the availability to accept challenges by reaching technical improvement to enable the achievement of new ideas.

An example of the search for design solutions was the development of alternative products at basketry from regions of the Asian continent, with high quality technique and low market price. The application of the weft used in the Cestaria Cana­Brava on lamps, magazine holders, among other products, allowed the distancing from aggressive competition strategy in the price factor and proposes new uses, opening the market to the local handicraft.

Figure 6. Lamp – example of artifact developed by the shared creative process and alternative basketry artifact. Source: Laboratory O Imaginário, archive 2007.

The association of the product to its social and historical context, through brand, folders and packaging, also enabled the approaching with the client, contributing to the increasing perception of the symbolic character of the product. This aspect potentiated the increasing perception of the product value and allowed pay based on a fair price, keeping the rhythm of group production and going towards the posture of super production to increasing offer and lowering price.

Figure 7. Brand of productive group Cestaria Cana­Brava. Source: Laboratory O Imaginário, archive 2007.

Another example of the creative process stimulus shared by the necessity of integration with the other local groups can be observed. The group of elderly citizens joined the basketry group, over time, and the youth who work with art-education and production of handmade paper.

This local network partnership creation contributed to the economic and socio cultural growth of the group enabling the creation of a cultural center, from an old Ponta de Pedras seaside farmhouse renovation, where several productive groups are now settled. The building of José Romualdo Maranhão craftsmanship center materializes in stone and lime the group’s ability to dialogue with other partners, as Goiana’s town hall, conquering physical and political spaces.

Figure 8. José Romualdo Maranhão external area on the opening day. Source: Laboratory O Imaginário, archive 2011.

Recently, the network of actors and partners involved has been broadened with the participation of São Lourenço neighboring community members and social organizations, such as the Ponta de Pedras fellowship society; and another trading space in the Ponta de Pedras town market was conquered.

Figure 9. Trading market in the Ponta de Pedras town market. Source: Laboratory O Imaginário, archive 2011.

Handmade in transformation: material and processes

As time went by, besides cana-brava, other raw materials were incorporated to the production. Initially, wooden components were added to the fiber artifacts; however, high cost and the difficulty of enabling the finishing quality instigated the group to search for alternatives. The replacement of wood by the body’s metacarpus9, not only solved this problem, but also opened a new front for the development of artifacts.

Since 2007, the need of keeping in the community portfolio competitive and higher value products a new group was formed and trained to exploit the coconut metacarpus, or as commonly known the “quengas de coco”, found abundantly on the beach. Necklaces were also developed from coconut, presented in the 9th National Craftsmanship Fair - “Fenearte”, in July 2008, and with great acceptance in the local and national markets.

To stimulate other community member’s participation in the group and diversify raw materials and products, the use of fabrics was incorporated to the production. Initially, the fabrics used in the baskets were colorful, but plain, or they were bought with patterns on.

In 2007, The Imaginary took the initiative of mobilizing a new group and enabled them for the professional capacitating in serigraphy, enabling the impression of the exclusive patterns to the basketry products.

The development of the patterns was again one more argument for shared creation. The adaptation of the research developed by Lucrécia Ferrara described in the book “Olhar Periférico”10 was used as a method to sharpen the “attentive look” over reality.

The images recorded by the photographs made by the craftsmen were the base material to the creation of new patterns. The results pointed the validity of the process: the craftsmen recognized themselves in the design of new patterns and the consumer market noticed the originality and innovation aggregated to the new products.

8 “Fair trade is a commercial partnership based on dialogue, transparency and respect, aiming a bigger equiting in the international trade. It is a trade modality which contributes for sustainable development through better conditions of exchange and the guarantee of the rights for the producers and outsider workers-manly in the South.” Definition during the Annual conference of IFAT (International Federation of alternative trade, 2001).

9 The coconut metacarpus is its rigid internal bark.

10 Ferrara, L. D’A., 1993. Olhar periférico: informação, linguagem, percepção ambiental. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

Figure 10. Products: Fabric Basket, Coconut components basket and necklace. Source: Laboratory O Imaginário, archive 2011.

The transformations in the way of interacting with the raw materials are still in activity. The paper manufacturing starting from the residue of cana-brava generated during the improvement of the fiber, required studies to establish the more appropriate process to the mass composition. That way, it was created the “Mata-Vida” project that reinforced the attention to the environment, once the cana-brava residue, uses rests of paper and cardboard and, with the help of community educators and the youth of the community, produces objects of decoration. The José Romualdo Maranhão center shelters the two projects that act in cooperation, sharing work and opportunities.

The living experiences by O Imaginário team along with the artifact-producing communities, having as example the Cestaria Cana­Brava group, indicate that the interactions in changing process according to the use of raw material, the productive process or the configuration of the object when there is respect to the differences, valorization of the individual and collective experiences and the perception of the benefit. This verification leads us to make use, even more, of concrete situations and objective data such as product valuing arguments and consequently the craftsmanship added value, needed for the increase in the income generation, the emergence of young artisans and the social inclusion of these communities.

Main conclusions: Sharing experiences

The performing ways with the craftsmanship-productive communities, generally prioritizes design and/or market, but experience has shown that both are important, they are not enough to guarantee more consistent changes in the conditions of life of those communities. Creating collective projects, understanding the know-how, the social aspects which permeate the relations in group, investing in technologies that allow a more sustainable use of the natural resources are essential to support the relation between design/craftsman.

The learning resulting from these experiences points that it is possible to incorporate the design contributions and the creation processes, once the times and movements of the craftsmanship community are observed, which is only possible when there is the understanding of the sustainability of this kind of action is in the democratization of knowledge and in the interaction between the academic and popular knowledge. The artisans are agents equipped with information and design as tools and methodology to guide the action.

Regarding the cana-brava craftsmanship group, the building of the partnership with local powers demanded a lot of insistence and perseverance, and was only possible due to the group empowering over its own doing and organizing. The collective feeling and the group value are manifested in several way: for example, in the production, the sharing of the tasks is visible in a way that everybody is remunerated. The less skilled ones once receive help to guarantee the delivering of the products with quality and within the deadlines. The incorporation of other craftsmen from other groups to share trading spaces is another indication of the cooperation principle. The partnership between the cana-brava group with the Nazaré da Mata craftswomen allowed them to share the José Romualdo Maranhão center in the summer when the beach receives tourists from Pernambuco and neighbor states. More recently, the cana-brava group stand in the last “Feneart” held clam shell-made products from the São Lourenço Quilombolas and products made of recycled paper from the Mata-Vida youth project. Cooperation does not only occur from the creative process sharing, but also from work and spaces and mainly in the experience with the relation with clients and with the market in general.

It is also important to understand that results take time, because they imply in social and cultural transformations. Today, the Cestaria Cana­Brava group is locally acknowledged in its state and nationwide. It was awarded with the SEBRAE TOP 100 in 2009 which classified it as the 10 best experiences in Brazil.

Figure 11. Top 100 SEBRAE award – 2009 and 11th FENEARTE stand in 2011.
Source: Laboratory O Imaginário, archive, 2011.

A timeline pointing to the main transformations lived by the Cestaria Cana­Brava group, allows to see through materiality and facts, the effects obtained through the shared creation process and transdisciplinary performance model which guided this relation between craftsmanship and design.

Figure 12. Cestaria Cana-Brava timeline. Source: Laboratory O Imaginário, archive, 2011.

References

Andrade, A. M. Q. et al. (Coord.), 2006. Imaginário Pernambucano: design, cultura, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Recife: Zoludesign.

Gullar, F., 2000. Artesanato no Brasil. São Paulo: Reflexo.

ICSID - International Council of Societies of Industrial Design, 2007. Available at: <http://www.icsid.org/about/about/articles31.htm> [Accessed 23 June 2007].

Manzini, E. and Vezzoli, C., 2005. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

Menezes, E. T. and Santos, T. H., 2002. "Multidisciplinaridade" (verbete). In: Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil, 2002. São Paulo: Midiamix Editora.

Rocha Filho, J. B., 2007. Transdisciplinaridade: a natureza íntima da educação científica. Porto Alegre: EDIPUCRS.

SEBRAE, 2005. Termo de referência para o comércio justo. Coordenação técnica Jorge Rincón, Juarez De Paula, Louise Alves Machado, Alzira Vieira. Brasília: SEBRAE, p. 18.

Tabosa, T. et al., 2007. Redes sociais, dádiva e cooperação na intervenção social transformadora: o caso do Projeto Imaginário Pernambucano - Brasil. In: X Fórum de Administração – FIA, IV Congresso Mundial de Administração, 2007. Coimbra: Anais... Coimbra: [s.n.].