A casa concreta, casa do imaginário

Angela Pereira Campos de Pinho

Angela Pereira Campos de Pinho é Arquiteta e Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Professora substituta do Departamento de Projetos da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) entre 2007 e 2008, e atuando em escritório próprio de projetos em Belo Horizonte, MG. (Brasil)


Como citar esse texto: PINHO, A. P. C. A casa concreta, casa do imaginário. V!RUS, São Carlos, n. 6, dezembro 2011. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus06/?sec=4&item=9&lang=pt>. Acesso em: 25 Abr. 2024.


Resumo

Este artigo propõe discutir alguns aspectos do processo de criação em arquitetura, particularmente da casa, a partir principalmente da visão de dois autores sobre o habitar doméstico e a interação entre o espaço da habitação e o imaginário humano: Gaston Bachelard e Witold Rybczynski. Conhecendo alguns dos pontos principais desses dois pensamentos, que de certa forma se completam, busca entender as relações possíveis entre espaço construído e usuário e estabelecer paralelos entre alguns dos conceitos colocados por esses autores e a casa que vem sendo produzida no Brasil nas últimas décadas do século XX e no atual. Conclui mais com uma questão do que com uma resposta, no sentido de afirmar a necessidade de um olhar mais atento aos processos de criação de projetos de arquitetura, de forma a produzir uma arquitetura mais significativa para o usuário.

Palavras-chave: Arquitetura, Processo de criação, Habitação unifamiliar.


Introdução

O foco desta discussão é a casa, entendida como a edificação destinada à habitação unifamiliar, integrante ou não de condomínio horizontal. Entendendo que a casa permite habitares diferentes daqueles proporcionados pelos apartamentos, flats, moradias de curta temporada e outras variações de abrigo, propõe-se aqui um debate sobre o processo de criação desse tipo de moradia, a partir da visão de dois autores sobre o habitar doméstico e a interação entre o espaço da habitação e o imaginário humano: o filósofo Gaston Bachelard e o arquiteto Witold Rybczynski. O recorte geográfico que se propõe é a cidade de Belo Horizonte, e a referência temporal do artigo é o período que se estende a partir da segunda metade do século XX até o atual.

Na opinião de Bachelard o espaço habitado transcende o espaço geométrico. Ele afirma a casa como nosso canto no mundo, e discorre de forma rica e elaborada sobre toda a carga imaginativa e metafórica que envolve a relação do homem com sua casa, a casa concreta, geométrica, e a casa das lembranças, dos devaneios.

[... ] a casa é, a primeira vista, um objeto rigidamente geométrico. Somos tentados a analisá-la racionalmente. Sua realidade inicial é visível e tangível. É feita de sólidos bem talhados, de vigas bem encaixadas. A linha reta predomina. O fio de prumo deixou-lhe a marca de sua sabedoria, de seu equilíbrio. Tal objeto geométrico deveria resistir a metáforas que acolhem o corpo humano, a alma humana. Mas a transposição para o humano ocorre de imediato, assim que encaramos a casa como um espaço de conforto e intimidade, como um espaço que deve condensar e defender a intimidade (BACHELARD, 1993, p. 63).

Conforto e intimidade são atributos da casa também estudados por Rybczynski, assim como a domesticidade, a privacidade, a comodidade, o encanto, o estilo, a essência, e outros aspectos perceptíveis pela alma humana[1]. Tais atributos não estão obrigatoriamente excluídos de outras formas de habitação, mas possivelmente se mostram mais intensamente na casa, talvez pelo fato de ser essa a forma de habitação mais primitiva a que podemos nos referir.

A casa, como conhecemos hoje, é um modo de habitação relativamente recente na história da humanidade. Na Idade Média nem sequer estava estabelecida para o homem a consciência de um mundo interior, que levasse ao conceito de privacidade ou de intimidade. Intimidade seria, segundo Rybczynski, um conceito menos ligado à funcionalidade e mais ao modo como o aposento comunica a personalidade de seu dono. A vida era uma questão pública, e assim como as pessoas não tinham uma forte consciência de si, elas também não tinham um quarto próprio (RYBCZYNSKI, 2002, p. 48).

Num processo de transformação gradativa das relações familiares, em substituição à família extensa[2] que habitava a moradia da Idade Média, surge a família nuclear, composta de pai, mãe e filhos, que ainda hoje pode ser considerada como modelo predominante na sociedade contemporânea.

A palavra home (lar) reuniu os significados de casa e família, de moradia e abrigo, de propriedade e afeição. “Home” significava a casa, mas também tudo que estivesse dentro ou em torno dela, assim como as pessoas e a sensação de satisfação e contentamento que emanava de tudo isso. (RYBCZYNSKI, 2002, p. 73).

A casa deixara de ser meramente um abrigo perante os elementos da natureza, uma proteção contra o invasor - apesar destas terem continuado sendo funções importantes - e tornara-se o ambiente para uma unidade social nova e compacta: a família. (RYBCZYNSKI, 2002, p. 87).

Essa família nuclear, e mais especificamente esse indivíduo que a compõe, consciente da existência de um mundo interior e suas demandas, vai compor o eixo dessa discussão sobre a casa.

As investigações de Bachelard visam determinar o valor humano dos espaços de posse, dos espaços definidos contra forças adversas, dos espaços amados (BACHELARD, 2000, p.19). Ele vê a casa sob um olhar poético e, com base no pensamento de Jung, faz um paralelo entre a estrutura da casa e a estrutura da nossa alma. De acordo com Bachelard (2000, p.36), a casa é um corpo de imagens que dão ao homem razões ou ilusões de estabilidade. Ele considera a casa como um ser vertical e como um ser concentrado, e propõe a oposição entre a racionalidade do teto e a irracionalidade do porão.

A abordagem de Bachelard na obra citada é tão rica, e seu conhecimento nos parece tão essencial para o embasamento de qualquer produção arquitetônica, que não caberiam neste artigo citações suficientes para esclarecer todo o pensamento do autor acerca da casa. Vamos então procurar nos deter à essência desse pensamento, e desenvolver a discussão sobre o fazer arquitetura tendo em mente a visão do objeto de projeto a partir do olhar do usuário, buscando compreender essa demanda.

De acordo com Rybczynski (2002), a noção de conforto não esteve sempre presente na história da habitação. Foi um conceito que se desenvolveu durante um longo período, e que, na Inglaterra, trazido da França, assumiu conotações de domesticidade.

A casa era um lugar social, mas com uma curiosa privacidade. Ela não era a “casa grande” medieval, onde as pessoas entravam e saiam com naturalidade. Bem ao contrário, a casa burguesa inglesa era um mundo isolado onde só se permitia a entrada de visitas bem seletas; o mundo era mantido à distância, incomodava-se o menos possível a privacidade da família e dos indivíduos. (RYBCZYNSKI, 2002, p.117)

Pode-se dizer que a família nuclear foi, naquele momento, o modelo de grupo doméstico que contribuiu para a consolidação de vários conceitos relacionados a habitar a casa. Nos dias atuais, embora esse modelo ainda possa ser considerado estatisticamente predominante, não podemos deixar de estar atentos às variações nas estruturas familiares e nos modos de vida da sociedade ocidental. Entretanto, é possível afirmar que a consciência do indivíduo, que ali se estabelecia, ainda é fator determinante das demandas e das expectativas relacionadas ao espaço privado da habitação.

Criar a casa

Entendendo a arquitetura como uma ciência social aplicada, que transita obrigatoriamente entre técnica e arte, nos parece instigante estudar a casa, por ser um objeto da arquitetura que pressupõe especial interação entre os agentes do projeto, incluindo-se o usuário final de forma muito mais intensa e participativa do que em qualquer outro objeto da arquitetura. Essa circunstância de maior interação entre arquiteto e habitante no processo de criação da casa pode estar vinculada justamente à grande carga simbólica que a casa representa, associada que está ao modo mais primordial de habitar. A construção de uma casa costuma ser, para o usuário ou habitante, uma empreitada repleta dos mais variados objetivos, quais sejam a obtenção dos benefícios primários da casa como abrigo, ou a realização de sonhos relacionados a lembranças e devaneios situados em diversos momentos de sua existência. Então, criar a casa não pode ser somente resolver geometricamente um espaço de moradia, mas é sobretudo desenvolver uma capacidade de percepção e compreensão do imaginário do outro, da simbologia que vai possibilitar no espaço construído a concretização da porção poética do habitar.

Rybczynski, ao falar sobre nostalgia, buscando desvendar um certo apego do ser humano a referências do passado, ressalta que o gosto popular não se detém tanto na autenticidade de certas imagens, quanto nas sensações evocadas por elas. Observando cenários que em moda, decoração ou publicidade, têm forte apelo por trazer referências de um passado idealizado, ele fala da tradição:

Esta forte consciência da tradição é um fenômeno moderno que reflete um desejo por hábitos e rotinas em um mundo caracterizado por mudanças e inovações constantes. A reverência ao passado se tornou tão forte que quando as tradições não existem elas frequentemente são inventadas. (RYBCZYNSKI, 2002, p. 23)

Ainda Rybczynski (2002, p.15) citando Hobsbawn (1983): No entanto, se é que existe tal referência a um passado histórico, a particularidade das tradições “inventadas” é que elas se ligam a ele de modo extremamente artificial. Essa afirmação vai nos interessar de modo especial para a busca da compreensão da nossa produção arquitetônica residencial, como veremos adiante.

De acordo com MAHFUZ (1995, p. 21):

A arquitetura ordena o ambiente humano, controla e regula as relações entre o homem e seu habitat. Ao fazer isso, a arquitetura serve várias funções além das funções práticas. Antes de se começar um projeto, há uma fase preliminar em que se busca uma definição do problema, a qual decorre da análise da informação relativa a quatro imperativos de projeto, necessários e suficientes para essa definição. Esses quatro imperativos são: as necessidades pragmáticas, a herança cultural, as características climáticas e do sítio e, por último, os recursos naturais disponíveis.

[1] O termo “alma humana” emprestado de Bachelard, aqui se reporta às maneiras de percepção que o ser humano pode experimentar além do estritamente pragmático e racional, foco da abordagem daquele autor.

[1] A família extensa seria o grupo que, na Idade Média, habitava, e muitas vezes trabalhava, no mesmo ambiente, composto de familiares, empregados e aprendizes.

Essa fase preliminar que alguns autores denominam problematização[3] é, a nosso ver, a fase em que se inicia a investigação do modo de percepção do usuário em relação ao ambiente construído, onde ele vive e suas aspirações poéticas relacionadas ao novo lugar de habitação.

Parece-nos particularmente instigante analisar o “fazer arquitetura” ao mesmo tempo sob o enfoque do pensamento sistematizado de Mahfuz, e sob o olhar fenomenológico de Bachelard. Considerando o projeto de arquitetura como um processo de síntese, onde conceitos, dados técnicos, elementos de variadas disciplinas, serão combinados sob uma estrutura projetual capaz de resultar num espaço concreto funcional e significativo para o usuário, a aparente contradição entre esses dois enfoques pode explicitar e ajudar a compreender uma realidade de fato complexa.

Numa época que pode ser considerada uma das mais marcantes na história da arquitetura, o modernismo surgiu como um movimento que buscava resolver problemas urgentes e pragmáticos relacionados à habitação, e no bojo dessa busca se pode verificar uma verdadeira revolução nos conceitos de concepção arquitetônica, com uma produção que até hoje influencia a busca de tantos arquitetos e clientes mundo afora. Existia uma preocupação em buscar a simplificação e a padronização de elementos industrializados, como forma de conseguir eficácia na produção em massa que era necessária naquele momento[4]. Mas por mais que os produtos daquela arquitetura tivessem elementos comuns[5], e por mais que as necessidades pragmáticas fossem a tônica daquele processo, não se pode afirmar que a arquitetura ali concebida resultasse em paisagens urbanas monótonas ou carentes de significação.

Os realizadores da revolução arquitetônica dos anos vinte e trinta compartilharam com outros as pesquisas sobre o emprego de materiais e técnica novas surgidas com a Revolução Industrial; junto com outros tentaram encontrar formas arquitetônicas que não estivessem em contradição com esses materiais e técnicas, como acontecia com as formas do passado, mas, ao contrário, que se harmonizassem com elas; junto com outros fizeram explodir o espaço geométrico fechado e abriram-no para o exterior, para a luz, para o verde; mas o que eles foram os únicos a tentar foi a superação do funcionalismo elementar e puramente utilitário que efetivamente marcou certas realizações dos anos vinte e trinta. Para eles, a função da arquitetura não se limitava à satisfação das necessidades biológicas primárias; eles consideravam sua função exatamente como a de parteiros de uma sociedade nova na qual o que Le Corbusier chavama das “Alegrias Essenciais” não seria mais um privilégio, mas sim um direito (KOPP, 1990, p. 23).

A cidade de Belo Horizonte foi berço de algumas das primeiras obras significativas de Niemeyer, formando o conjunto arquitetônico da Pampulha. Nos momentos seguintes a cidade viu surgirem importantes exemplares de arquitetura residencial modernista, principalmente no bairro Cidade Jardim. Nas décadas de 1970 e 1980, entretanto, num caminho divergente, a cidade sofreu um processo de ocupação de novos bairros com casas de uma arquitetura que buscava se referenciar na arquitetura colonial de Ouro Preto, e cujos orgulhosos habitantes costumavam chamar de “casas coloniais”. Alguns arquitetos denominavam aquelas casas como “coloniosas”, numa referência ao fato de serem uma repetição vazia de uma arquitetura historicamente consistente. Esse fenômeno arquitetônico adquiriu tal abrangência na preferência popular, naquele período, que até edificações originalmente modernistas e de arquitetura digna chegaram a ser reformadas adquirindo ares dessa nova tendência. Mas o que estariam buscando os habitantes dessas casas ditas “coloniais”? Vale rever a questão colocada por Rybczynski (2002, p. 27):

Será que esse desejo por uma tradição é um simples anacronismo ou é um reflexo de uma insatisfação mais profunda com o ambiente que o mundo moderno criou? O que é isso que está faltando que tanto buscamos no passado?

Essa arquitetura, que podemos considerar como modelo predominante daquela época, possivelmente supria em seus habitantes, de alguma forma, os anseios poéticos relacionados ao espaço privado da habitação, ou, pelo menos, poderiam criar alguma ilusão de significado. Mas, em geral, o repetir um modelo somente pela aparência, sem conexão com suas razões essenciais, trazia prejuízos para a qualidade efetiva do espaço. Eram em geral casas pouco iluminadas, pois as janelas que ali se aplicavam talvez fossem mais adequadas para o modelo original de arquitetura colonial, e não para aquelas.

Além disso, um valor que certamente se perdeu naquele contexto foi a identidade[6]. A casa como identidade dentro do contexto da cidade, do bairro, do condomínio, parece ter um valor grande para seu habitante, independentemente de valor econômico ou classe social a que possa pertencer. É interessante verificar como, historicamente, a inauguração de conjuntos habitacionais que sejam configurados de forma homogênea é sempre seguida por intervenções individuais imediatas no sentido de diferenciar as casas entre si. Isso certamente reflete o anseio do habitante por imprimir sua identidade à casa, que é, como disse Bachelard, nosso canto no mundo, nosso ponto de referência inicial. Ao inserir elementos diferentes na sua casa, ainda que seja somente pela modificação da cor, o habitante parece buscar marcar seu lugar num mar de homogeneidade.

Mas se verificarmos as principais aglomerações de casas na cidade de Belo Horizonte, podemos observar, em diferentes momentos, uma aparente busca de padronização que parece correr no sentido oposto ao fato citado: parece haver, na grande maioria das casas, uma marca facilmente identificável, que torna o conjunto, de certa forma, mais homogêneo do que a lógica pareceria indicar. Mesmo considerando que a espécie humana tem necessidades fundamentais definidas - aliás, muito simples, se lançarmos olhos aos modos de vida de nossos antepassados remotos - e que os arquitetos em geral têm um padrão de formação semelhante, é no mínimo questionável que se possa construir de forma tão repetitiva para seres que buscam tão intensamente se diferenciar no contexto.

Espera-se que a criação de uma nova casa seja, para o arquiteto, uma oportunidade de inventar, inovar, pesquisar, atualizar conhecimentos, contribuir para a qualidade de vida do cliente e para a qualidade arquitetônica e ambiental do sítio onde se vai inserir a nova edificação. Para o cliente, provavelmente outras tantas aspirações vão compor esse momento da escolha de criar uma nova casa. Toda a carga poética que acompanha a casa desde sua primeira moradia certamente vai influenciar nas suas solicitações ao arquiteto, na sua busca de explicitar o que espera da nova casa. Mas cabe ao arquiteto o papel de criar a casa que possa inspirar tais sensações. A arquitetura, principalmente da casa, tem esse papel primordial de criar o cenário para a vida, privada ou não.

Recorrendo mais uma vez ao movimento modernista, pode-se dizer que ele teve importância fundamental na revisão do tradicional entendimento dos padrões arquitetônicos, como repetição de precedentes formais conhecidos. Para Mahfuz (1995, p. 18), na composição acadêmica,

partes dadas eram organizadas segundo regras fixas de combinação, e o todo era “vestido” com algum estilo escolhido. No modernismo, partes dadas, ou seja, criadas individualmente, são organizadas livremente, de acordo com a intenção do arquiteto.

O autor afirma ainda:

a diferença entre a arte e a não-arte reside na estrutura da primeira, pois seus elementos também estão presentes no trabalho dos que não são artistas, mas sem uma estrutura que os una (VENTURI, 1964, p. 21 apud MAHFUZ, 1995, p. 35).

Seria válido então afirmar que essa arquitetura repetitiva de que se fala aqui carece de uma estrutura que a torne verdadeira obra de arte? Ou, buscando entender a questão pelo lado do habitante: enquanto cliente a solicitar ao arquiteto determinadas características para a nova casa, ele estaria procurando um modelo já conhecido que lhe trouxesse alguma ilusão de segurança, no sentido de se afirmar como conhecedor de algum modelo previamente aceito como ideal?

Ao constatar a repetição maciça de determinados elementos que imprimem uma marca de homogeneidade às casas, no contexto aqui analisado, seria válido questionar se a arquitetura estaria respondendo de forma adequada aos anseios daqueles clientes. Propomos dois pontos para essa discussão: estariam os arquitetos atentos aos anseios de seus clientes, relacionados às questões de herança cultural e todas as suas implicações? No caso das “casas coloniais”, teria a história local marcado tão profundamente o gosto popular por aqueles elementos arquitetônicos, para que tantas gerações depois eles de fato pudessem representar uma significação, ainda que como meras cópias?

As respostas a essas questões não são tão simples, principalmente se observarmos a ocupação recente da cidade por uma nova arquitetura que se espalha agora não mais na região central, mas nos condomínios periféricos e de municípios vizinhos, que representam os novos vetores de urbanização. A ocupação de muitos bairros novos, alguns dos quais condomínios fechados de alto padrão, tem sido dominada por uma massa de cubos e paralelepípedos que se aglutinam formando unidades residenciais, numa paisagem mais homogênea do que qualquer outra que se tenha verificado em outros momentos da produção arquitetônica local. Se buscamos compreender a cópia de uma arquitetura colonial por algum anseio do homem pela tradição, ou por uma carga poética atribuída a um passado idealizado, o que dizer desse novo fenômeno?

Essa nova versão de arquitetura padronizada não parece ter referência em nenhum momento da história local, e também não parece responder a nenhuma herança cultural. Ao contrário, aparenta uma inconsistência conceitual que pode ser um alerta sobre como está sendo produzida a arquitetura de casas. Se na produção de edifícios de apartamentos a repetição infindável de tipologias e elementos arquitetônicos pode ser de alguma forma justificada, por agentes dessa produção, pelo fato de se destinar a usuários indeterminados, o mesmo pensamento não se aplicaria à arquitetura de casas. Ao afirmar que o espaço habitado vai além do geométrico, e falar da carga metafórica envolvida na relação do homem com seu espaço de habitação, Bachelard nos chama atenção para a importância desse aspecto do criar a casa: não basta apenas que se cumpra as necessidades utilitárias e pragmáticas. É preciso criar um certo encantamento, criar a possibilidade do devaneio a partir do espaço.

Conclusão

Observando essas novas paisagens arquitetônicas e ouvindo de fontes muito diversas uma certa indignação com essa repetição aparentemente vazia, podemos supor que falta à nossa arquitetura de casas, em geral, alguma essência. Obras arquitetônicas realmente significativas emocionam seus observadores mundo afora, independentemente de lugar, época, porte, função inicial. E essa admiração pelo espaço harmônico, de proporções adequadas ao seu propósito, esteticamente bem resolvido, não é restrita a arquitetos ou historiadores; a percepção da boa arquitetura é acessível a qualquer um de nós.

Não se trata de julgar a qualidade de projetos e obras por uma única característica formal marcante, até porque a arquitetura é bem mais complexa do que o que se mostra ao primeiro olhar; o que importa aqui é colocar em questão a repetição pura e simples, tantas vezes despreocupada com a essência que gerou o modelo copiado.

Obviamente princípios da boa arquitetura podem ser observados em casas de formas e concepções diversas, mas a produção maciça de uma mesma configuração leva a crer que aqueles princípios foram colocados em segundo plano, em detrimento da valorização superficial de uma estética mais evidente.

O que nos parece relevante nessa discussão é, enfim, colocar a importância da discussão sobre fazer arquitetura de uma forma que possa perpetuar valores culturais, e não simplesmente relegar a arquitetura a realizações baseadas em modismos, o que tornaria seu produto efêmero e desprovido de valores reais. E a realização de uma arquitetura que possa traduzir aspectos poéticos e simbólicos para o ser humano, certamente inclui a análise atenta da percepção do espaço pelo usuário.

Referências

BACHELARD, G. A poética do espaço. Trad. Antonio de Pádua Danesi; Rev. trad. Rosemary Costhek Abilio. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

[3] Para MALARD (2005), o talento do arquiteto está em sua habilidade de problematizar, de formular hipóteses de solução e analisar e articular críticas para as necessárias correções, eliminando as soluções inadequadas.

[4] Em seu “Quando o moderno não era um estilo, e sim uma causa”, Kopp (1990) analisa em profundidade o contexto histórico onde surge o movimento moderno, facilitando a compreensão dos fundamentos daquele movimento.

[5] Os cinco pontos da nova arquitetura, criados por Le Corbusier, acabaram por se tornar cânones da arquitetura moderna: planta livre, fachada livre, pilotis, terraço jardim, janelas em banda.

[6] conforme Houaiss, conjunto de características e circunstâncias que distinguem uma pessoa ou uma coisa e graças às quais é possível individualizá-la.

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://www.uol.com.br/houaiss>. Acesso em: 20 de jul. de 2011.

KOPP, A. Quando o moderno não era um estilo, e sim uma causa. Trad. Edi G. de Oliveira. São Paulo: Nobel / Editora da Universidade de São Paulo,1990.

MAHFUZ, E. C. Ensaio sobre a razão compositiva: uma investigação sobre a natureza das relações entre as partes e o todo na composição arquitetônica. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1995.

RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma idéia. Trad. Betina von Staa. 3a ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

The concrete house, the house of the imaginary

Angela Pereira Campos de Pinho

Angela Pereira Campos de Pinho is a Master of Architecture and Urban Planning, Substitute Professor in the design department of Federal University of Minas Gerais’s School of Architecture between 2007 and 2008 and running her own architecture practice in Belo Horizonte since 1984. (Brazil)


How to quote this text: Pinho, A. P. C., 2011. The concrete house, the house of the imaginary, V!RUS, [online] n. 6. Translated by Paulo Ortega. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus06/?sec=4&item=9&lang=en>. [Accessed: 25 April 2024].


Abstract

This article proposes the discussion of some aspects of the creative process in architecture design, particularly the house, mainly according to two authors’ views on dwelling and the interaction between the dwelling space and the human imaginary: Gaston Bachelard and Witold Rybczynski. The author examines the relationship between user and built environment and searches for links between the fore mentioned authors‘ complementary concepts and the shape of brazilian homes built in the last three decades. The conclusion is rather a question than an answer, suggesting that the creative process should be more carefully explored in order to result in better architecture for the end user.

Key words: Architecture; creative Processes; single-family house.


Introduction

The focus of this discussion is the house, or a built space that serves as a single family’s home, be it part of a larger horizontal housing complex or not. Understanding that the house allows different dwellings than the ones propitiated by apartments, flats, short-term dwellings and other variations of shelter, a debate is proposed here about this kind of dwelling creation process, from the vision of two authors about the domestic dwelling and the human imaginary: the philosopher Gaston Bachelard and the architect Witold Rybczynski. The site proposed is the city of Belo Horizonte in the period from the second half of the XX century until these days.

In Bachelard’s opinion the inhabited space transcends the geometric space. He defines the house as our place in the world and elaborates on the relationship between men and their house, the concrete geometric house and the one of memories and reverie.

‘[…] the house is, at a first sight, a rigidly geometric object. We are tempted to analyze it rationally; its initial reality is visible and tangible, made of well carved solid, well placed beams. The straight line predominates; the plumb line has left it its balanced wisdom mark. Such geometric object should resist to metaphors that hold the human body, the human soul. But the transposition to the human occurs instantaneously, as soon as we face the house as a space of comfort and intimacy, as a space that should condense and defend intimacy’ (Bachelard, 1993, p.63, our translation).

Comfort and intimacy are some of the attributes of the house studied by Rybczynski, as well as the domesticity, privacy, convenience, the charm, style, essence, among other aspects perceivable by the human soul[1]. Such attributes are not necessarily absent in other forms of dwelling, but possibly appear more intensely in the house; perhaps because this is the most primitive type of dwelling we can refer to.

The house, as we know today, is a relatively recent way of dwelling in the history of humanity. Up until the Middle Ages it was not even established for man the consciousness of a inner world, that would take him to the concepts of privacy or intimacy. According to Rybczynski, intimacy was less linked to functionality than to the way the room conveys its owner’s personality. Life was a public matter, people were not as self conscious as today and private rooms were unheard of (Rybczynski, 2002, p.48).

In a gradual transformation of the family relations, substituting the extended family[2] which dwelt the Middle Age housing arises the nuclear family, composed by father, mother and children, which even nowadays can be considered as the prevailing model in the contemporary society.

‘The word home reunited the meanings of house and family, of dwelling and shelter, of property and affection. “Home” meant the house, but also everything which was around or in it, as the people and the satisfaction and contentment feeling that aroused from all that’ (Rybczynski, 2002, p.73, our translation).

‘The house was not merely shelter against nature elements anymore, a protection against the invader – these ones still being important functions – and had become the environment for the new social and compact unit: the family’ (Rybczynski, 2002, p.87, our translation).

This nuclear family, more specifically this individual who composes it, conscious of the existence of an interior world and its demands, will be the center of the this discussion on the house.

Bachelard’s investigations aim to determine the human value in properties, in spaces designed for sheltering purposes, in the beloved spaces. (Bachelard, 2000, p.19). He does a poetic reading of the house and based on Jung’s line of thought relates the house to the structure of one’s soul. According to Bachelard (2000, p.36), the house is a body of images that give men reasons or illusions of stability. He judges the house as a vertical and concentrated being and proposes the opposition between the rationality of the roof and the irrationality of the basement.

Bachelard’s approach in the fore mentioned work is so rich, and its knowledge appear us so essential for laying the foundation of any architectural production, that there aren’t enough citations to clarify all the author’s thoughts on the house. We will then keep to the essence of those thoughts and develop the discussion on how to make architecture, bearing in mind the vision of the design project’s object from the user’s point of view, trying to understand this demand.

According to Rybczynski (2002), the notion of comfort has not always been present in the history of dwelling. It was a concept developed over a long period and when brought to England from France developed into the concept of domesticity.

‘House was a social place, but with a curious privacy. It was not the medieval “big house”, where people come and go naturally. Quite the contrary, the English bourgeois house was an isolated world where very few chosen ones were accepted, the world was kept at bay, and the family’s privacy was the least possible disturbed as well as the individuals’ (Rybczynski, 2002, p.117).

The nuclear family can be considered at that time, the domestic group model which contributed for the consolidation of several concepts related to dwelling. Nowadays, although this model can be considered statistically predominant, we cannot miss the variations in the familiar structure and lifestyle of the western cultures. However, it is possible to state that the individual consciousness that there estabilished itself is still a determinant of the demands and expectations related to the private space.

Creating the House

Understanding architecture as an applied social science which necessarily transits between technique and art, studying the house is exciting for its being an architectural object that requires special interaction between the design agents and the end user, involving the latter in a much more intense participation than in any other type or architectural objet. This circumstance of greater interaction between architect and dweller during the process of creation of the house may be justly related to the great symbolic meaning that the house represents, associated that it is with which is the most primordial way of dwelling. The building of a house tends to be a complex task of various goals for its dweller or user, from having it as a shelter to realizing a dream fulfilling desires and reveries collected throughout their existence. Thus, designing a house goes beyond solving geometric issues and making it inhabitable. It’s a task that requires the ability to perceive and understand one’s imaginary, symbols and desire for their poetic concretization into a livable space.

Rybczynski, elaborating on nostalgia, trying to unveil the attachment one has to past references, juts out that the common taste is not necessarily related to authenticity of certain images, but rather to the emotions caused by them. Observing sets that appeal for bringing references from the past in fashion, decoration or advertising, he mentions tradition:

‘This strong tradition consciousness is a modern phenomenon which reflects a desire for habits and routines in a world characterized by changes and constant innovations. The reverence of the past has become so strong that, when traditions do not exist, they are invented’ (Rybczynski, 2002, p. 23, our translation).

Still Rybczynski (2002, p.15) citing Hobsbawn (1983): Nonetheless, if there is such reference to a historic past, the particularity of the “invented” traditions is that they connect to it in an extremely artificial way. This statement will interest us especially in the quest of the understanding of our residential architectonic production, as we will see ahead.

According to Mahfuz (1995, p. 21, our translation):

‘Architecture ordinates the human environment, control and regulates the relations between the man and his habitat. Doing this, architecture serves to various functions besides the practical ones. Before starting a project, there is a preliminary phase which seeks to define the problem, which comes from the information analysis of four project imperatives, necessary and sufficient for this definition. These four imperatives are: the pragmatic needs, the cultural heritage, the climate characteristics and the naturally available resources’.

[1] The term “human soul” borrowed from Bachelard, here relates to the human perception that can experiment beyond the strictly pragmatic and rational, that the author’s approach focus.

[2] The extended family would be the group, that in the Middle Ages, dwelt, and oftentimes worked in the same environment, composed by family, employees and apprentices.

This initial phase, which some authors call problematization[3], is, for us, the phase in which the investigation of the user’s perception mode regarding the built environment, where he lives his poetic aspirations related to the new housing site.

It seems particularly intriguing to analyze “doing architecture” at the same time under the focus of Mahfuz’s systematic thought, and in Bachelard’s phenomenological approach. Considering the architectural project as a synthesis process where concepts, technical data and elements of various disciplines must combine under a projectual structure capable of result in a functional and concrete space that at the same time bears a meaning for the user, the apparent contradiction between these two approaches might aid the understanding of a complex reality.

In a time that may be considered one of the most remarkable in the history of architecture, modernism started as a movement which sought to solve urgent and pragmatic problems related to dwelling, and as a side effect of this search, a true revolution in the architectural design concepts, with a production that even today influences the pursuit of many clients and architects worldwide. There was a concern of simplifying and standardizing industrialized elements, as a means of making mass production more effective as was needed at the time[4]. However much he production of that period showed common elements5], and if practical needs would set the tone of the process, one may not affirm the resulting cityscape was dull or meaningless.

The masterminds behind the architecture revolution in the 20‘s and 30‘s shared the research in the field of the use of material and new techniques derived from the Industrial Revolution. They had a common pursuit for an architectural language that’s in harmony with these new conditions, unlike what was then the status quo. They expanded the enclosed geometric spaces and opened up the interiors for light and nature to come in. (...) They didn’t see function as a means to satisfy primary biological needs, they saw themselves as the presenters of a new society where Le Corbusier’s “Basic Happiness” was not meant to be a luxury item, but a right for all.(Kopp, 1990, p.23).

The city of Belo Horizonte was the cradle of Niemeyer’s first significant works, forming the Pampulha architectural complex. In the following years the city saw important examples of the modernist residential architecture arise, mainly in the Cidade Jardim neighborhood. In the 70’s and 80’s however, the city saw the establishment of a new style that would resemble the colonial architecture of baroque Ouro Preto, which would be denominated “colonial” by their proud owners and “colonish” by architects criticizing the inconsistent pastiche. This new trend reached phenomenal popularity, so much so that some modernist buildings were being re-styled with colonial ornaments. What were the inhabitants of such architecture seeking? It might be worth reviewing Rybczynski (2002, p.27)

‘Is this desire for tradition simply an anachronism or a reflex of a deeper dissatisfaction with what the modern world created? What is this which is missing and we look so eagerly for in the past?’

This style that might be considered predominant in that time probably fulfilled their inhabitants’ poetic desires in what comes to private space, or at least create and illusion of it. But copying a model just for its appearance with no relation to its essential reasons may stake the effective quality of the space. The houses would be badly lit, since the windows that might have been suitable for original colonial houses don’t necessarily fit the new shape interior spaces had taken.

Furthermore, identity[6] is a value that was definitely lost in that context. The identity of the house in the city, the neighborhood, the condominium, seems to be very valuable to its inhabitant, regardless of its economic value or social class. It’s interesting to note how, historically, houses in homogeneously configured housing projects are individually stylized as soon as they’re occupied. This reflects men’s need to print their identity onto the home, as said Backelard, our place in the world, our first reference point. Even a simple choice of a new façade color shows the inhabitant’s need for marking his territory in a sea of homogeneity.

However, if we check the biggest agglomerations of houses in the city of Belo Horizonte, we can observe in different moments, an apparent search for standardization, which seems to run against the cited fact; It seems to be, in most houses, an easily identifiable mark, which makes the setting, in a way, more homogeneous than logic would seem to indicate. Even considering the human species has fundamental defined needs – that is, very simple ones, if we glance at our remote ancestors life styles – and that the architects generally have a similar formation pattern, it is at least questionable that one is able to build so repetitively for beings who search to differentiate themselves from the context so intensely.

It is expected that the creation of a new house should be for the architect an opportunity to innovate, invent, research, update knowledge and contribute to the client’s quality of life as well as to the quality of the site where this new edification will be built. For the client, probably there will be many other aspirations that will compose this moment of a new house creation choice. Such poetic charge that follows the house since its first dwelling will certainly influence on his/her requests for the architect, in their search to make explicit of what to expect in the new house. However, creating a house which will inspire such sensations is up to the architect. Architecture, especially residential, has this primordial role of creating life, private or not.

Once again recurring to the modernist movement, it can be said that it had fundamental importance for the reviewing of the traditional understanding of the architectural standards, as repetition of known formal proceedings. For Mahfuz (1995, p.18, our translation), in the academic composition,

given parts were organized according to fixed combination rules, and the whole was “dressed” with a chosen style. In the modernism, given parts, that is, individually created are freely organized, according to the architect’s intention.

The author also states:

‘The difference between art and non-art resides in the first one’s structure, because its elements are also present in the work of those ones who are not artists, but without a structure that unites them’ (Venturini, 1964, p.21 apud Mahfuz, 1985, p.35, our translation).

Would it be worth saying that this repetitive architecture discussed here lacks structure which would make it a piece of artwork? Or trying to understand the issue from the dwellers’ side: while as client demanding certain characteristics for the new house, wouldn’t this client be looking for a known model which would bring some illusion of safety in an attempt to present himself as the connoisseur of some model previously accepted as ideal?

Noticing the massive repetition of certain elements which print a homogeneity mark onto the houses in the context here analyzed, it would be reasonable to question whether architecture was answering the clients’ desires satisfactorily. We propose two points for this discussion: were the architects taking their clients’ desires into account, the ones related to the cultural heritage and all its implications? In the case of the “colonial houses”, would the local history have so deeply marked the popular taste through those architectural elements that even a few generations later they could yet be meaningful, even as merely copies?

The answers to these questions are not so simple, mainly if we observe the recent occupation of the city with a type of architecture that is no longer concentrated downtown, but in suburban condominiums and in neighboring towns, which represent the new axis of urbanization. The occupation of many new districts, some of them high-standard closed condominiums, has been dominated by a mass of cubes and cobblestones which aggregate forming residential unities, in a more homogeneous landscape than any other verifiable local architectural periods. If one tries to understand the copying of colonial architecture as some desire for tradition or for some poetic reason associated to a romanticized idea of the past, what can one say about this new phenomenon?

This new version of standardized architecture does not seem to reference any moment of local history nor it seems to answer to any cultural heritage. On the contrary, it transpires conceptual inconsistency that can be perceived as an alert on how residential architecture is being produced. If, in the apartment building design, the endless repetition of typologies and architectural elements can somehow be justified as they are intended for undetermined users, the same mindset doesn’t apply to residential architecture. By affirming that the dwelt space goes beyond the geometrical one, and talk about the metaphoric aspects involved in the relationship of men and their home, Bachelard calls to our attention the importance of this aspect of designing the house: it is not enough to fulfill the basic practical needs. It is necessary to create a certain charm, the possibility of daydreaming from the space.

Conclusion

Observing these new architectural landscapes and hearing from very diverse sources a kind of indignation with this apparently empty repetition, we can suppose that, in general, our residential architecture lacks some essence. Really meaningful architectural works move people worldwide, regardless of place, time, size or initial function. That admiration for harmonious space, adequately proportioned to its purposes, well solved aesthetically, is not restricted to architects or historians; the perception of good architecture is accessible to anyone of us.

It is not about judging the projects and works’ quality based on one remarkable formal quality, even because architecture is much more complex than what is disclosed at a first sight, what matters here is to question pure and simple copy, so many times disclosed from the copied model’s essence.

Obvious principles of good architecture can be seen in diversely shaped and conceptualized houses, but the massive production of a certain model leads us to believe those principles were put aside, traded-off for the superficial valuing of more evident aesthetics.

What seems relevant for us in this discussion is, therefore, put the discussion’s weight about doing architechture in such a way that it can perpetrate cultural values, and not simply relegate architecture to trend-based realizations, which would make its product brief and disproved of real values. And the realization of an architecture which can translate certain poetic and symbolic aspects for the human being certainly includes the attentive analysis of the user’s perception of space.

References

Bachelard, G., 1993. A poética do espaço. Trad. Antonio de Pádua Danesi; Trad. Rev. Rosemary Costhek Abilio. São Paulo: Martins Fontes.

[3] For Malard (2005) the talent of the architect is in his ability to problematize, and formulate hypothesis of solutions and to analyze and articulate criticism for the necessary corrections, eliminating the inappropriate solutions.

[4] At the time the modern was not a style, but a cause, Kopp (1990) analyzing in depth the historical context where the modern movement arises, facilitating the comprehension of the foundations of that movement.

[5] The five points of that architecture, created by Le Corbusier, turned out to become canons of the modern architecture. Open plant, free façade, pilotis, roof garden, ribbon windows

[6] According to Houaiss, the set of characteristics and circumstances which distinguish one person or a thing and thanks to which, it is possible to individualize his/her.

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Available at: <http://www.uol.com.br/houaiss>[Accessed: 20 July 2011].

Kopp, A.,1990. Quando o moderno não era um estilo, e sim uma causa. Trad. Edi G. de Oliveira. São Paulo: Nobel / Editora da Universidade de São Paulo.

Mahfuz, E. C., 1995. Ensaio sobre a razão compositiva: uma investigação sobre a natureza das relações entre as partes e o todo na composição arquitetônica. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa.

Rybczynski, W., 2002. Casa: pequena história de uma idéia. Trad. Betina von Staa. 3rd ed. Rio de Janeiro: Record.