O design espontâneo periférico de Brasil e Cuba na América Latina

Pamela Marques Corrêa, Marisa Cobbe Maas

Pamela Cordeiro Marques Corrêa é graduada em Design de Interiores, Mestre em Design e pesquisadora do grupo de pesquisa e extensão Cultura Urbanismo Resistência Arquitetura - CURA, da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Desenvolve pesquisa sobre design espontâneo periférico e suas questões sociais e políticas. marques.pan@gmail.com http://lattes.cnpq.br/5411991839951854

Marisa Cobbe Maas é arquiteta e urbanista, Doutora em Teoria, História e Crítica, e é professora do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Design da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Design e Arquitetura, com ênfase em Teoria e crítica, Estética, Teoria e História do Design e Design Educação. Coordena o grupo Design Educação da Universidade de Brasília. marisa.maass@gmail.com http://lattes.cnpq.br/1114384517661428


Como citar esse texto: CORRÊA, P.C.M.; MAASS, M. C. O design espontâneo periférico de Brasil e Cuba na América Latina. V!RUS n. 23, 2021. [online]. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus23/?sec=4&item=11&lang=pt>. Acesso em: 30 Abr. 2025.

ARTIGO SUBMETIDO EM 15 DE AGOSTO DE 2021


Resumo

Este artigo compara, através de revisão bibliográfica, a relação que Cuba e Brasil mantêm com seu design espontâneo periférico, ou seja, com as produções materiais intuitivamente criadas por suas populações em resposta à falta de recursos. De forma descritiva e explicativa, analisa, na sociedade cubana, a massificação do que Ernesto Oroza chamou de “desobediência tecnológica”: o desrespeito à “aura de indivisibilidade” dos produtos industriais a partir da crise dos anos 1990. Em seguida, por método comparativo, contrasta essa abordagem com o olhar brasileiro sobre a chamada “gambiarra”, que, apesar de percebida no país como verdadeira instituição da cultura nacional, é sujeita à estigmatização por parte da cultura hegemônica. O estudo mostra por meio da observação das convergências e divergências entre esses fenômenos que é possível entender como eles se relacionam com as características socioculturais dos cenários latino-americanos dos quais emergem. Como resultado, infere que as distintas conjunturas de Cuba e Brasil explicam a discrepância no acolhimento dessas manifestações em suas respectivas sociedades. Por fim, percebe tais manifestações como referências de práticas de design do Sul Global com potencial para catalisar mudanças sociais, uma vez que possuem em sua essência a busca por emancipação.

Palavras-chave: Design espontâneo, Gambiarra, Desobediência tecnológica



1 Introdução1

Muita atenção tem sido dispensada pela vanguarda do pensamento do design nacional e internacional às questões contemporâneas do consumismo, da sustentabilidade e da responsabilidade do designer como parte do processo produtivo. O antropólogo Arturo Escobar (2018), que se dedica a pesquisar a área, vem anunciando que o design está passando por uma reorientação e que sua natureza política está cada vez mais consolidada. Essa crescente preocupação com o sistema vigente e suas consequências sociais e ambientais, acrescida de uma perspectiva decolonial protagonizada sobretudo pelo Sul Global, são indicadores dessa situação. Por consequência, um campo de estudos de design crítico transnacional se torna evidente, abrindo espaço para que outras ontologias e epistemologias subalternizadas pela experiência colonial sejam reconhecidas.

Conforme evidenciado por Luciana Ballestrin (2020), a denominação Sul Global descende do conceito de Terceiro Mundo, e ambos compreendem uma complexidade de significados para além da classificação hierárquica, econômica e geográfica. Os dois conceitos procuram compreender o lugar daqueles que foram subalternizados pela história moderna, colonial e imperialista. A categoria Sul Global pode ser compreendida, portanto, como uma afirmação de “uma identidade geopolítica subalterna” e sua inserção em uma estrutura global de dominação.

O processo questionador que procura entender o lugar da América Latina na modernidade, e sua implicação no campo do design, começa a tomar corpo a partir da segunda metade do século XX, quando debates similares já aconteciam em outras áreas, como as Ciências Sociais. Nessa movimentação, o designer Gui Bonsiepe se destaca como referência no estudo das condições sociais e econômicas do Centro e da Periferia do sistema capitalista. Bonsiepe (2011) aponta que, na globalização de mercado em que vivemos, o design pode se tornar mais um instrumento de dominação das potências hegemônicas sobre os países periféricos, dependendo dos interesses político-econômicos envolvidos.

Bonsiepe (2011) também sugere que a demanda por novas formas de organização social se legitima após o recente ciclo de desregulamentação financeira capitaneado pelos países desenvolvidos, e as desastrosas consequências ambientais e socioeconômicas geradas no mundo inteiro. Logo, torna-se importante olhar para as abordagens sociais que surgem nos países periféricos, onde a concentração de renda, a pobreza e a escassez de recursos e de ferramentas produtivas são questões cotidianas concretas, com as quais essas populações vêm historicamente lidando — ao contrário do contexto dos países centrais, onde, só agora, com a exacerbação das contradições do capitalismo, começa-se a vivenciar essa realidade de forma mais ampla — a carestia e a desigualdade começam a deixar de ser problemas apenas especulativos a orientar abstratamente o processo de design.

Portanto, uma possível saída para amenizar a desigualdade de forças, na qual o design pode atuar como protagonista ou ensejar rupturas, é redirecionar a pesquisa e o debate da área para questões que acometem a maioria da população mundial, concentrada principalmente nas regiões marginalizadas e carentes dos países com menos recursos. Nos contextos periféricos, a velha proposta de reprodução das práticas dos países de Centro (os beneficiários dessa relação assimétrica cujas carências já foram supridas), sem uma análise profunda do quadro histórico, é limitante e é mais um exercício do domínio que se identifica como parte do problema.

Em sua obra seminal, Design for the real world, Victor Papanek considera que o design é uma poderosa capacidade humana. Através dela, é possível conformar o mundo e a si mesmo. Para tanto, é preciso analisar o passado e sua pertinência no presente, assim como estar atento às consequências dos atos numa perspectiva futura. Ele afirma também que o “design é o esforço consciente e intuitivo para impor ordem significativa.” (PAPANEK, 1985, p. 4, tradução nossa). Tal consciência implica em intelectualização, pesquisa e análise; a intuição se refere às impressões, ideias e pensamentos de nível consciente, subconsciente ou pré-consciente. Esse conceito amplificado sobre design ressoa a ideia do design espontâneo periférico2 que acontece em práticas conhecidas como gambiarra e desobediência tecnológica (figura 1).

Fig. 1: Exemplos de desobediência tecnológica em Cuba. Fonte: OROZA, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3pwUuZk. Acesso em: 23 Out. 2021

De acordo com o designer Rodrigo Boufleur (2006), há diversos significados relacionados ao termo “gambiarra”, mas ele é basicamente utilizado de maneira informal para identificar as mais variadas formas de improvisação, como adaptações, ajustes, reparos, engenhocas, entre outros. O termo, amplamente usado na cultura brasileira, costuma estar vinculado ao popular “jeitinho”, o que lhe confere um caráter pejorativo. Neste trabalho, gambiarra (figura 2) se alinha à expressão criativa, ao design intuitivo e à capacidade de adaptar e subverter o uso predeterminado de objetos de diversas naturezas. Aproxima-se, então, da ideia de desobediência tecnológica, cunhada pelo designer cubano Ernesto Oroza.

Fig. 2: Exemplo de gambiarra: carrinho de bebidas no Rio de Janeiro. Fonte: Vitor Vogel para Pamela Marques, 2019. Acervo próprio

Nos anos 1990, o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tirou de Cuba seu maior aliado e o suporte financeiro e tecnológico que ele trazia. Somando-se ao embargo imposto pelos Estados Unidos da América, esse contexto jogou o país numa situação de escassez material paralisante, conhecida como “Período Especial em Tempos de Paz”. Para lidar com a situação, Cuba adotou uma estratégia que soa inusitada na parte capitalista do Ocidente. A falta de acesso ao mercado de consumo e a carestia generalizada levaram a população a desenvolver práticas de manutenção, hackeamento, reciclagem e repropositagem dos bens de consumo e de seus componentes, de modo a prolongar sua vida útil, utilizar produtos em funções para as quais não foram inicialmente projetados, e canibalizar partes e peças para reaproveitamento em outros itens ou mesmo na criação dos próprios objetos.

O governo socialista passou a compilar as soluções criadas para enfrentar as dificuldades cotidianas e as divulgou em publicações como El Libro de la Familia e Con Nuestros Propios Esfuerzos, de 1991 e 1992, respectivamente. O costume, que com o tempo se espalhou pelo povo cubano, de subverter e adaptar objetos e componentes, transcendendo os usos prescritos pelos fabricantes e transgredindo a “aura de indivisibilidade” — ou seja, a percepção de produtos como unidades individuais “fechadas” —, é o que Ernesto Oroza (2012) chamou de desobediência tecnológica.

À luz dessas informações, é possível traçar paralelos entre o improviso projetual brasileiro e o cubano. Por outro lado, a exaltação da agência demonstrada nesses costumes evidencia contrastes entre os dois cenários. Em Cuba, o design espontâneo da comunidade foi em certa medida estimulado pelo governo e pelo contexto particular da ilha, potencializando o impacto na cultura local. Já no Brasil, apesar de indícios recentes de mudança na maneira como é socialmente significada, a gambiarra é tradicionalmente vista de forma depreciativa e se desenvolve substancialmente à margem das vias oficiais.

Acredita-se, portanto, que a gambiarra e a desobediência tecnológica podem ser consideradas referências de práticas de design do Sul Global, e que o estudo desses fenômenos pode proporcionar uma reflexão sobre as culturas em que surgiram e sua relação com a produção de artefatos ante a escassez de recursos — considerando os modelos econômicos vigentes, as dinâmicas socioespaciais e o quadro histórico pertinentes a cada cenário —, bem como apontar uma perspectiva da real potencialidade do campo do design na América Latina para a transformação social com perspectiva emancipadora.

2Metodologia

O estudo qualitativo segue o caminho da pesquisa descritiva, uma vez que é imprescindível o detalhamento dos aspectos que compõem cada fenômeno, compreendendo suas variadas dimensões. Feito por meio de revisão bibliográfica para contextualização histórica e levantamento do conhecimento científico em torno dos temas, em seguida, toma o direcionamento explicativo. A partir do método comparativo, foi possível perceber os elementos constantes que caracterizam as semelhanças e as diferenças das práticas sociais estudadas. De acordo com Antônio Carlos Gil (2002, p. 42-43), é comum a associação da pesquisa descritiva à explicativa dentro de um estudo estabelecido, porque, além da identificação e detalhamento dos fatores que caracterizam um fenômeno, pode-se perceber a necessidade de determinar a natureza e a relação desses elementos. O autor aponta também que a pesquisa explicativa é a que “mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas”.

Por fim, este trabalho é classificado como um estudo de caso de dois objetos: a gambiarra brasileira e a desobediência tecnológica cubana. Essa modalidade de pesquisa é considerada “como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos.” (YIN, 2001 apud GIL, 2002, p. 54).

3Uma perspectiva histórica de Brasil e Cuba

De acordo com a pesquisadora Ynaê Lopes dos Santos (2012), a partir da última década do século XVIII, o processo de escravidão urbana (conformações urbanísticas e políticas, apropriações de espaços públicos e influência na dinâmica citadina por escravos de proximidade étnica) no Rio de Janeiro e Havana, os dois grandes centros portuários das Américas considerados chaves do Atlântico Ibérico, possibilitou o compartilhamento do título de Irmãs do Atlântico3 — maiores cidades escravistas4 da América no século XIX. Ou seja, ambas as cidades tinham seu funcionamento econômico, político e social dependente da escravidão. Assunção e Zeuske (1998, p. 375, tradução nossa) apontam que essa condição “moldou o desenvolvimento das culturas afro-americanas, a construção de categorias ‘raciais’ e hierarquias sociais [...]” de forma semelhante em ambos os espaços urbanos.

Em entrevista ao projeto Afreaka, a antropóloga Ana Stela Cunha confirma que a proximidade de Brasil e Cuba se intensifica, também, pelo fato de terem recebido um número expressivo de escravos de mesma origem — os bantos, populações que viviam na porção sul-equatoriana da África —, e que “foi justamente a capacidade de adaptação desses africanos que potencializou sua influência na construção das sociedades brasileira e cubana.” (CINTRA, 2015?, online). No texto de apresentação do livro Caboclos Nkisis, Cunha (CABOCLOS, 2014) acrescenta que mesmo com todo o esforço despendido por parte das elites nacionais cubana e brasileira em “relegar os afro-cubanos/brasileiros a um passado engessado e pouco dinâmico, por distintos caminhos, esta parcela importante da população aponta o quanto estão conectados com um presente que se traduz em saberes criativos e flexíveis.” Por fim, a pesquisadora afirma que analisando o processo histórico da escravidão no Brasil e em Cuba, a única distinção notável entre as colônias foi o tempo de tráfico transatlântico legalizado e posteriormente proibido, e a quantidade de escravos que chegaram em seus portos. Logo, o peso da escravidão urbana justifica a conformidade cultural das capitais escravistas.

As diferenças políticas e sociais se intensificaram entre as duas colônias a partir de 1808, com a abertura dos portos do Brasil ao comércio mundial, acentuaram-se com a Independência do Brasil, em 1822, definitivamente acirraram-se, a partir de 1959, com a Revolução Cubana, e, em 1991, com o início do “Período Especial em Tempos de Paz” em Cuba. Neste último período, ocorreu intensa escassez de recursos por conta do embargo econômico norte-americano e do desmantelamento da URSS, que ajudava a suprir as necessidades materiais da ilha. Apesar disso, é nitidamente possível identificar hábitos e manifestações culturais comuns no cotidiano contemporâneo de ambos os países, além da forte presença de práticas religiosas de matriz africana semelhantes. Dentro desse contexto histórico, é possível constatar afinidade entre as duas nações latino-americanas a partir de suas experiências com a escravidão, o que fornece pontos de contato para a análise comparativa das práticas de improvisação nos espaços urbanos.

4Gambiarra e desobediência tecnológica: convergências e divergências

Em 2015, o designer cubano Ernesto Oroza esteve em Recife (PE) para divulgar a exposição “Desobediência Tecnológica” (figura 3), que exibia parte de sua pesquisa sobre soluções desenvolvidas pelo povo cubano para lidar com a falta de recursos.

Fig. 3: Exposição Desobediência Tecnológica, na Caixa Cultural, em Recife (PE). Fonte: OROZA, 2015. Disponível em: http://www.ernestooroza.com/desobediencia-tecnologica-caixa-cultural-recife/. Acesso em: 23 Out. 2021.

O designer registrou e colecionou, durante anos, casos de soluções projetuais desenvolvidas por seus conterrâneos. São exemplos pitorescos de reciclagem, reaproveitamento, customização e repropositagem que evidenciam a criatividade no trato com produtos industriais. Segundo Oroza (2012), o hábito mantido pela população de abrir, consertar, canibalizar e misturar objetos levou o cubano a uma mudança de paradigma na relação com esses artefatos, desenvolvendo o que chamou de desobediência tecnológica: a desconstrução da percepção dos produtos industriais como unidades “fechadas” e a transcendência dos usos concebidos por seus fabricantes. Durante sua estada em Recife, Oroza visitou comunidades locais e, em entrevistas, relatou ter se deparado com soluções projetuais improvisadas bastante parecidas com o que existe em Cuba:

Encontrei em Brasília Teimosa a mesma relação das pessoas com os objetos e a moradia, recriando-os, reinventando-os a seu modo, como acontece em Cuba. A desobediência tecnológica pertence à cultura de toda a América Latina. Por isso está tão presente em Recife. São práticas sociais contemporâneas vinculadas à desigualdade. (OROZA apud PORTELA, 2015, n. p.).

O tipo de solução que Oroza compila, e que identificou no Recife, é o que aqui chamamos de “gambiarra” (figura 4). Como define Rodrigo Boufleur,

Dentre diversos significados relacionados, o termo gambiarra vem sendo frequentemente usado de maneira informal para identificar formas de improvisação: adaptações, adequações, ajustes, consertos, reparos, encaixes, emendas, remendos, inventos inteiros, engenhocas, geringonças. (BOUFLEUR, 2006, n.p.).

Fig. 4: Exemplo de gambiarra em Recife (PE), registrada por Oroza. Fonte: OROZA, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3CnZTWd. Acesso: 23 Out. 2021.

De um ponto de vista econômico, Boufleur (2013, p. 13) relaciona o sistema capitalista-industrial com o surgimento da “tática” da gambiarra: “as gambiarras representam uma produção paralela, necessária e complementar à materialidade produzida pela indústria.”. Ele constata que a utilidade das coisas não é resultado somente do modo de produção capitalista, e que as gambiarras (figura 5) são ferramentas que nos proporcionam perceber a deficiência, o precário e o provisório dos produtos que nos cercam.

Fig. 5: Carrinho feito de geladeira sem motor. Gambiarra registrada em Brasília Teimosa, Recife. Fonte: Henrique Placido para Pamela Marques, 2019. Acervo próprio.

Por isso, é necessário compreender o contexto socioeconômico que propiciou o surgimento da improvisação inventiva espontânea e sua consequente estigmatização, e o significado amplo da gambiarra na sociedade atual, antes da análise de uma possível mudança de percepção sociocultural do fenômeno. O Brasil tem se mostrado um dos países mais desiguais do mundo, apesar de se posicionar constantemente entre as maiores economias.5 Darcy Ribeiro (2006) descreve o quadro social brasileiro como historicamente estratificado e hierarquizado, com profunda distância social e antagonismo classista, que opõem “uma estreitíssima camada privilegiada ao grosso da população”. Ele aponta as origens de tal configuração nas condições do processo de formação nacional como colônia de Portugal:

O povo-nação [...] [surge] da concentração de uma força de trabalho escrava, recrutada para servir a propósitos mercantis alheios a ela, através de processos tão violentos de produção e repressão que constituíram, de fato, um continuado genocídio e um etnocídio implacável. [...]

A estratificação social gerada historicamente tem também como característica a racionalidade resultante de sua montagem como negócio que a uns privilegia e enobrece, fazendo-os donos da vida, e aos demais subjuga e degrada, como objeto de enriquecimento alheio. Esse caráter intencional do empreendimento faz do Brasil, ainda hoje, menos uma sociedade do que uma feitoria, porque não estrutura a população para o preenchimento de suas condições de sobrevivência e de progresso, mas para enriquecer uma camada senhorial voltada para atender às solicitações exógenas. (RIBEIRO, 2006, p. 20-21).

Ou seja, Ribeiro descreve um país iníquo, em que uma elite detém o poder com mão de ferro. Num país com esse quadro social, não chega a ser surpreendente que a necessidade identificada por Oroza na raiz da criatividade projetual seja generalizada.

À diferença de Cuba, entretanto, no Brasil a necessidade não é compartilhada. Talvez aí se comece a entender a distinta percepção das duas sociedades quanto ao seu design popular. A formação do quadro social nacional e a desigualdade de poder que ela gerou criaram uma superestrutura ideológica bastante expressiva dessa configuração. Segundo Ribeiro, esses fatores históricos

condicionaram a camada senhorial para encarar o povo como mera força de trabalho destinada a desgastar-se no esforço produtivo e sem outros direitos que o de comer enquanto trabalha, para refazer suas energias produtivas, e o de reproduzir-se para repor a mão-de-obra gasta. Nem podia ser de outro modo no caso de um patronato que se formou lidando com escravos, tidos como coisas e manipulados com objetivos puramente pecuniários, procurando tirar de cada peça o maior proveito possível. (RIBEIRO, 2006, p. 195)

Ribeiro descreve também o antagonismo que disso resultou:

A estratificação social separa e opõe, assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do que corresponde habitualmente a esses antagonismos. Nesse plano, as relações de classes chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se essa fosse uma conduta natural. [...] Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alteridade. (RIBEIRO, 2006, p. 21).

Ou seja, Ribeiro descreve um país iníquo, em que uma elite detém o poder com mão de ferro. Num país com esse quadro social, não chega a ser surpreendente que a necessidade identificada por Oroza na raiz da criatividade projetual seja generalizada.

À diferença de Cuba, entretanto, no Brasil a necessidade não é compartilhada. Talvez aí se comece a entender a distinta percepção das duas sociedades quanto ao seu design popular. A formação do quadro social nacional e a desigualdade de poder que ela gerou criaram uma superestrutura ideológica bastante expressiva dessa configuração. Segundo Ribeiro, esses fatores históricos

condicionaram a camada senhorial para encarar o povo como mera força de trabalho destinada a desgastar-se no esforço produtivo e sem outros direitos que o de comer enquanto trabalha, para refazer suas energias produtivas, e o de reproduzir-se para repor a mão-de-obra gasta. Nem podia ser de outro modo no caso de um patronato que se formou lidando com escravos, tidos como coisas e manipulados com objetivos puramente pecuniários, procurando tirar de cada peça o maior proveito possível. (RIBEIRO, 2006, p. 195).

Ribeiro descreve também o antagonismo que disso resultou:

A estratificação social separa e opõe, assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do que corresponde habitualmente a esses antagonismos. Nesse plano, as relações de classes chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se essa fosse uma conduta natural. [...] Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alteridade. (RIBEIRO, 2006, p. 21).

Essa descrição da mentalidade das classes dominantes brasileiras deve ser considerada à luz de outro dado importante: no país, a diferença na distribuição de riqueza se reflete também na hegemonia cultural absoluta da elite, que controla o acesso aos meios de pautar o debate público e influenciar a produção de sentido da sociedade. É sob essa hegemonia ideológica da elite e sua alterização dos menos favorecidos que se dá a significação da gambiarra (figura 6) na cultura brasileira: a expressão da necessidade vinculada ao “Outro” subalterno e estigmatizado cuja agência fora dos padrões determinados pela classe dominante deve ser suprimida ou contida.

A gambiarra é, sem dúvida, uma prática política. Tal política pode se dar não apenas enquanto ativismo (ou ferramenta de suporte para ele), mas porque a própria prática da gambiarra implica uma afirmação política. E, consciente ou não, em muitos momentos, a gambiarra pode negar a lógica produtiva capitalista, sanar uma falta, uma deficiência, uma precariedade, reinventar a produção, utopicamente vislumbrar um novo mundo, uma revolução, ou simplesmente tentar curar certas feridas abertas do sistema, trazer conforto ou voz a quem são negados. A gambiarra é ela mesma uma voz, um grito de liberdade, de protesto ou, simplesmente, de existência, de afirmação de uma criatividade inata. (ROSAS, 2006, p. 47).

Fig. 6: Galinheiro construído com carrinho de supermercado, em Brasília Teimosa, Recife. Fonte: Henrique Placido para Pamela Marques, 2019. Acervo próprio.

A percepção da criatividade projetual brasileira só começou a mudar com as próprias condições materiais do país, num processo que alterou sensivelmente a dinâmica de poder da sociedade. A integração recente das classes baixas ao mercado de consumo, durante os governos progressistas da primeira década e meia dos anos 2000, levou a um aumento de sua percepção como atores econômicos. É possível que o desmonte dos governos nos anos seguintes e a onda conservadora que se seguiu tenham interrompido ou começado a reverter esse processo de conscientização; mas ele tem requalificado o papel das classes baixas perante a cultura hegemônica e, assim, alterado o status dos sentidos produzidos por essas classes. A tendência dessa integração, no entanto, tem se dado na assimilação verticalizada dos novos atores, guiada pelo capital, sem problematização das formas tradicionais de produção ou democratização da relação da sociedade com os produtos.

Um dos reflexos da mudança de patamar dos pobres no mercado interno brasileiro durante os governos de centro-esquerda, ao ponto do protagonismo, foi seu reposicionamento diante da classe empresarial e da cultura hegemônica que essa rege. Subitamente, a elite percebeu o poder e a agência criativa da classe C, e foi possível notar um tímido início de redenção do povo no imaginário nacional.

Os setores voltados à vanguarda do pensamento do design contemporâneo estão entre os que perceberam todo esse dinamismo e criatividade. Iniciativas e culturas como Maker e Do It Yourself (DIY), focadas em fomento universalista da criatividade e da autonomia produtiva, começaram a reparar no design popular brasileiro e fizeram sua parte na ressignificação da gambiarra. Um exemplo é o caso da Gambiarra Favela Tech, um projeto que procura por “gambiologistas” que moram em comunidades cariocas. “Gambiólogo”, segundo o artista digital Ricardo Palmieri, “nada mais é do que um fazedor, que se utiliza de técnicas de gambiologia para produzir suas ideias.” (SOLOS CULTURAIS, 2015, n. p.). A proposta do projeto é estimular o potencial criativo e artístico associado à tecnologia. A iniciativa é uma tentativa de resgate da cultura popular e, também, uma forma de valorização da origem das soluções criativas e espontâneas. Outros exemplos são encontrados nas classes artísticas, como na exposição A poesia da Gambiarra, do artista Emmanuel Nassar; e no design, apresentado na exposição Design da Periferia, de Adélia Borges, e Design da Favela, de Ricardo Saint Clair.

Assim, é possível inferir que as diferentes condições materiais de Cuba e Brasil e as culturas e ideologias que delas resultaram explicam a maneira discrepante como suas sociedades acolhem o design espontâneo. Em Cuba (figura 7), a necessidade e a escassez compartilhadas por toda a sociedade levou ao fomento oficial da criatividade e improviso projetuais, levando à mudança do relacionamento do povo com os processos produtivos e os próprios produtos, facilitando a superação de dificuldades práticas. No Brasil, o processo de formação de nosso quadro social estratificado levou a um cenário de concentração de poder, que gerou uma cultura hegemônica elitista, segregacionista e alterizadora da necessidade. Disso resultou a estigmatização da resolução de problemas feita de forma “subversiva” às relações produtivas e de consumo tradicionais, tolhendo a capacidade projetual da população.

Fig. 7: Rikimbili, bicicleta motorizada cubana. Fonte: OROZA, 2005. Disponível em: http://www.ernestooroza.com/rikimbili/. Acesso em: 23 Out. 2021

5Design, tecnologia e sociedade no contexto latino-americano atual

Na América Latina, o estudo sobre as tecnologias sociais vem avançando, e sua conceituação tem se aproximado das discussões sobre inovação social no âmbito do design. Segundo Dagnino (2009, p. 8), para a Rede de Tecnologias Sociais (RTS), por exemplo, a tecnologia social “compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social”. Contudo, é importante evidenciar que a proposta da tecnologia social latino-americana representa uma forma de resistência à tecnologia capitalista imposta e hegemônica, além de um meio de fomentar a inclusão social.

De acordo com Novaes e Dias (2009, p. 21), desde o advento da Tecnologia Apropriada (TA)6 na Índia dos anos 1970, pode-se observar um volume maior de dedicação teórica por parte de alguns pesquisadores dos países centrais em apurar as relações entre tecnologia e sociedade, bem como seus respectivos efeitos. Uma conclusão difundida foi que a tecnologia convencional usada e elaborada pelos meios privados de produção dos países avançados, quando replicada nos países em desenvolvimento, não se adequa nem atende à realidade periférica. Dias e Novaes (2009, p. 60) aprofundam-se nessa discussão sobre o contexto atual, no qual a economia criativa e/ou a economia da inovação estão em pauta e recebendo incentivos governamentais para o seu crescimento. Afirmam que a dinâmica de imposição e adoção das práticas de desenvolvimento tecnológico dos países centrais ainda é normativa.

As técnicas — procedimentos elementares da tecnologia social —, de acordo com Milton Santos (2006, p. 16), são “um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz, e ao mesmo tempo, cria o espaço”. São a principal forma de relação do homem com a natureza. Sem dúvida, a técnica é também um elemento importante de explicação das sociedades e dos lugares, mas isolada não explica nada. A interpretação da realidade exclusivamente a partir dos meios técnicos, sem levar em consideração os quadros sociais onde as técnicas e os instrumentos se desenvolvem, é, inclusive, nociva.

Por esse motivo, quando se discute a difusão de ideias ou soluções de determinados problemas sociais para além dos contextos em que surgiram, é necessária a compreensão de que cada espaço possui especificidades próprias que não podem ser desconsideradas. Ademais, esses lugares estão inseridos na lógica capitalista e submetidos a forças geopolíticas e econômicas externas. Conforme apontam Dias e Novaes (2009, p. 63), a transferência ou “replicação” de tecnologias pré-concebidas, ou de empreendimentos sociais bem-sucedidos, dificilmente ocorre sem perda ou ruído. É provável que a proposta mais apropriada seja a “reaplicação” de conhecimentos e métodos, considerando as particularidades do local e sua inserção na dinâmica global.

Outra característica da técnica é ser “universal como tendência”, como disse Leroi-Gourhan (1945 apud SANTOS, M., 2006, p. 35). O capitalismo já catalisava tal processo antes mesmo da globalização, concretizando a internacionalização das técnicas como fato. Quando o pesquisador italiano Ezio Manzini (2008) sugere a países periféricos que comecem a observar algumas experiências ocidentais de modo de vida sustentável para estimular a adoção e adaptação de ideias análogas ao seu contexto urbano, ele demonstra, mais uma vez, a reprodução do pensamento colonizador e de dominação tecnológica. As reflexões e políticas dos países centrais apresentam contribuições importantes, contudo, é necessário que, enquanto países latino-americanos e periféricos, tenhamos mais independência, pesquisas e desenvolvimento de teorias sobre nossa situação. Só assim conseguiremos alcançar uma percepção mais próxima da realidade e das necessidades para formular soluções que reflitam a nossa condição.

Bonsiepe (2011, p. 21) propõe a adoção da postura humanista para a prática do design: “o exercício das capacidades projetuais para interpretar as necessidades dos grupos sociais e elaborar propostas viáveis, emancipatórias em forma de artefatos instrumentais e artefatos semióticos”. A aplicação no campo projetual pode catalisar o processo de rompimento da dominação dos centros de poder sobre os marginalizados — a maioria mundial dentro do sistema vigente. Ele afirma, também, ser imprescindível o emprego de uma postura crítica, pois somente com ela sairemos da aceitação conformista para a ação de fato. A principal iniciativa capaz de modificar nossa condição está na construção de uma consciência social coletiva atenta à realidade material. E o designer possui o ferramental necessário para conduzir e incrementar esse processo de mudança.

Ainda de acordo com Bonsiepe (2011), apesar do olhar desconfiado e depreciativo de parte da classe dominante, mantenedora do status quo, não é mais possível ignorar as organizações sociais que surgem nos espaços marcados pela desigualdade e dilaceração social e a sua potencialidade explícita em lidar com a carestia de recursos e acesso a bens de consumo, essenciais para a sobrevivência em um sistema excludente como o capitalismo. Nessas abordagens solidárias, ele acredita que o conceito atual de design será relativizado, modificando ainda mais a competência do campo em catalisar o processo de emancipação social através do design.

6Considerações finais

Especificamente no território urbano (mas não somente nele), em especial o da periferia capitalista — afetado pela globalização e suas novas tecnologias intencionalmente impostas pelos países de centro —, surgem, segundo Milton Santos (2006), os “lugares globais simples”, onde chegam somente parte dos “vetores da modernidade”, e os “lugares globais complexos”, onde há abundância de diversos tipos de vetores e consequentemente uma forte diversidade socioespacial e material. É nestes últimos que os excluídos criam e resistem. A diferença é gerada pela escassez e ela se torna “a base de uma adaptação criadora à realidade existente” (SANTOS, 2006, p. 218 e 210). As práticas de subversão e improvisação em situação de escassez material e ferramental — design espontâneo periférico — nas cidades da América Latina são exemplos de produção da vida daqueles que, por conta de seus antepassados terem sidos jogados à própria sorte, estão na condição de pobres urbanos. Eles são exemplos de resistência e reexistência.

No início do século XXI, de acordo com Ballestrin (2020), o Sul Global se tornou uma categoria potente de caminho para outro futuro, em oposição à globalização extrativista instituída, além de protagonizar lutas pela descolonização. Refletir sobre os fenômenos da gambiarra e da desobediência tecnológica e entendê-los como práticas de design do Sul Global se torna uma tentativa de desprendimento da colonialidade em suas diversas dimensões e uma busca por autonomia na produção da vida. O quadro descrito neste texto mostra que, apesar da exploração histórica da América Latina e do constante estado de crise que se impôs à região, resiste em seu povo um potencial criativo e transformador. O que ainda falta é conhecimento, organização, consciência crítica e a difusão eficaz e local desse potencial.

Por fim, recentemente Escobar (2020) comentou que a teoria decolonial na América Latina (com seu desenvolvimento no Brasil na área de arquitetura e urbanismo) vem ganhando um imaginário espacial. É possível assumir que uma contribuição significativa do campo do design para esse momento — considerando as condições materiais, as relações de poder e opressões — é investigar, nos espaços urbanos latino-americanos, a materialidade produzida pelos marginalizados, herdeiros diretos das consequências trágicas do projeto colonial.

Referencias

ALVARENGA, D. Brasil sai de lista das 10 maiores economias do mundo e cai para a 12ª posição, aponta ranking. G1, São Paulo, 3 Mar. 2021. Economia. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/03/03/brasil-sai-de-lista-das-10-maiores-economias-do-mundo-e-cai-para-a-12a-posicao-aponta-ranking.ghtml. Acesso em: 08 Ago. 2021.

ASSUNÇÃO, M. R.; ZEUSKE, M. “Race”, Ethnicity and Social Structure in 19th Century Brazil and Cuba. Ibero-Amerikanisches Archiv, Berlim, v. 24, n. 3/4, p. 375-443, 1998.

BALLESTRIN, L. O Sul Global como projeto político. Horizontes ao Sul, jul. 2020. Disponível em: https://www.horizontesaosul.com/single-post/2020/06/30/O-SUL-GLOBAL-COMO-PROJETO-POLITICO. Acesso em: 18 Out. 2021.

BOUFLEUR, R. A questão da gambiarra: formas alternativas de produzir artefatos e suas relações com o design de produtos. 2006. Dissertação (Mestrado em Design) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16134/tde-24042007-150223/publico/AQuestaodaGambiarracorreto.pdf. Acesso em: 28 Out. 2016.

BOUFLEUR, R. Fundamentos da gambiarra: a improvisação utilitária contemporânea e seu contexto socioeconômico. 2013. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

BONSIEPE, G. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blücher, 2011.

CABOCLOS Nkisis: a territorialidade Banto no Brasil e em Cuba. Dir.: Ana Stela Cunha. 31min. Curitiba: Sync Cultural, 2014.

CINTRA, J. Conexão Brasil-Cuba e a territorialidade banto são focos de exposição no Maranhão. Afreaka, 2015. Disponível em: http://www.afreaka.com.br/notas/conexao-brasil-cuba-e-territorialidade-banto-sao-focos-de-exposicao-maranhao/. Acesso em: 01 Dez. 2017.

COSTAS, R. O legado dos 13 anos do PT no poder em seis indicadores internacionais. BBC Brasil, São Paulo, 13 maio 2016. Notícias. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/05/160505_legado_pt_ru. Acesso em: 08 Ago. 2021.

DAGNINO, R. P. (org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: IG-UNICAMP, 2009.

DIAS, R.; NOVAES, H. T. Contribuições da economia da inovação para a reflexão acerca da tecnologia social. In: DAGNINO, R. P. (org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: IG-UNICAMP, 2009. p. 55-71.

DUPITA, A. Para além do (necessário) equilíbrio fiscal: por que reformar a previdência pode reduzir a desigualdade? Banco Santander (Brasil) S.A., online, set. 2017. Reforma da Previdência. Disponível em: https://cms.santander.com.br/sites/WPS/documentos/arq-estudos-macro-setembro-2017_v2/19-01-23_115407_arq-estudos-macro-setembro-2017.pdf. Acesso em: 08 Ago. 2021.

ESCOBAR, A. Autonomous design and the emergent transnational critical design studies field. Strategic Design Research Journal, v.11, n. 2, São Leopoldo, 2018, p. 139-146.

ESCOBAR, A. Projeto/ar como a cura da vida. [Entrevista concedida a] Céline Veríssimo. Redobra, Salvador, ano 6, n. 15, p. 51-58, 2020.

FILIZZOLA, L. A quantas anda a desigualdade de rendimentos no Brasil? Observatório das desigualdades, Belo Horizonte, nov. 2020. Disponível em: http://observatoriodesigualdades.fjp.mg.gov.br/?p=1413. Acesso em: 08 Ago. 2021.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

MANZINI, E. Design para a inovação social e sustentabilidade: Comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: Ed. E-papers, 2008.

NOVAES, H. T.; DIAS, R. Contribuições ao marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: DAGNINO, R. P. (org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: IG-UNICAMP, 2009. p. 17-53.

OROZA, E. Desobediencia tecnológica: de la revolución al revolico. Ernesto Oroza (blog), jun. 2012. Disponível em: http://www.ernestooroza.com/desobediencia-tecnologica-de-la-revolucion-al-revolico. Acesso em: 01 Out. 2016.

PAPANEK, V. Design for the real world: human ecology and social change. Chicago: Academy Chicago, 1985.

PORTELA, L. Brasília Teimosa, periferia de Havana. Marco Zero, [S. l.], 19 jun. 2015. Disponível em: http://marcozero.org/brasilia-teimosa-periferia-de-havana/. Acesso em: 28 Out. 2016.

RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

RIUL, M.; MEDEIROS, C. H. M. F.; BARBOSA, A.V.; SANTOS, M. C. L. Design espontâneo e hibridismos: artefatos da cidade e artefatos do interior. Estudos em Design, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 59-74, 2015. Disponível em: https://www.eed.emnuvens.com.br/design/article/view/233/0. Acesso em: 06 Jun. 2018.

ROSAS, R. Gambiarra: alguns pontos para se pensar uma tecnologia recombinante. Caderno Videobrasil 02. São Paulo, n. 2, p. 37-53, 2006.

SANTOS, Y. L. dos. Irmãs do Atlântico: Escravidão e espaço urbano no Rio de Janeiro e Havana (1763-1844). Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2012.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EDUSP, 2006.

SOLOS CULTURAIS. Gambiarra Favela Tech. Solos Culturais, 2015. Disponível em: https://web.archive.org/web/20180904133619/http://www.solosculturais.org.br/gambiarra-favela-tech/. Acesso em: 01 Out. 2016.

1 Este artigo é derivado da dissertação intitulada “Desobediência Tecnológica e Gambiarra: o design espontâneo periférico como caminho para outros futuros”, defendida em julho de 2019 no Programa de Pós-graduação em Design, da Universidade Nacional de Brasília.

2 Adota-se a definição de design espontâneo da pesquisadora Maria Cecília Loschiavo dos Santos, acrescida do termo “periférico”, para destacar as dimensões macroestruturais e microestruturais da lógica capitalista: “Santos (2003) desdobrou o tema com foco em grupos sociais urbanos e entendeu ‘design espontâneo’ como a ‘prática de resistência criativa de procurar soluções engenhosas aplicáveis à resolução de problemas concretos, num contexto de severa falta de recursos.’” (2003, p. 75 apud RIUL et al., 2015, p. 64).

3 Expressão que a autora toma emprestada de Michael Zeuske, presente em Comparing or interlinking? Economic comparisons of early nineteenth-century slave systems in the Americas in historical perspective.

4 Cidade escravista difere de “cidade com escravos” pelo fato de seu funcionamento depender essencialmente da escravidão. Explicação da Dra. Ynaê Lopes dos Santos no programa Fala, Doutor, da UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo.

5 Quando a pesquisa foi realizada, os dados disponibilizados pelo Banco Mundial apontavam o Brasil como o 9o maior PIB do mundo (COSTAS, 2016). O índice de Gini situava-se em aproximadamente 0,500, colocando o país entre os quinze mais desiguais do mundo (DUPITA, 2017). Em 2020, durante a pandemia de COVID-19, o país caiu para a 12a posição no ranking mundial do PIB (ALVARENGA, 2021). Já o índice de Gini, em 2019, ficou em 0,543 (FILIZZOLA, 2020).

6 Ainda nas palavras de Novaes e Dias (2009, p. 21), dentre os poucos intelectuais latino-americanos que se dedicaram à pesquisa sobre Tecnologia Apropriada está Amílcar Herrera.

The peripheral spontaneous design of Brazil and Cuba in Latin America

Pamela Marques Corrêa, Marisa Cobbe Maas

Pamela Cordeiro Marques Corrêa is an Interior Designer with a Master's degree in Design. She is a researcher in the research group Culture Urbanism Resistance Architecture - CURA, at the School of Industrial Design of the State University of Rio de Janeiro, Brazil. She carries out research about peripheral spontaneous design and its social and political issues. marques.pan@gmail.com http://lattes.cnpq.br/5411991839951854

Marisa Cobbe Maas is an Architect and Urbanist, and a Doctor in Theory, History and Criticism. She teaches at the Graduate Program of the Department of Design at University of Brasilia, Brazil. She works on Design and Architecture with an emphasis on Theory and criticism, Aesthetics, Theory and History of Design, and Design Education. She coordinates the Group Design Education, at the University of Brasilia. marisa.maass@gmail.com http://lattes.cnpq.br/1114384517661428


How to quote this text: Corrêa, P.C.M; Mass, M. C., 2021.The peripheral spontaneous design of Brazil and Cuba in Latin America. Translated from Portuguese by Isabela Castro Machado da Costa. V!RUS, 23, December. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus23/?sec=4&item=11&lang=en>. [Accessed: 30 April 2025].

ARTICLE SUBMITTED ON AUGUST, 15, 2021


Abstract

This article compares, through literature review, the relationship that Cuba and Brazil maintain with their spontaneous peripheral design, that is, with the material production intuitively created by their populations in response to the lack of resources. In a descriptive and explanatory way, we analyze the popularization in Cuban society of what Ernesto Oroza called "technological disobedience": the disrespect for the “aura of indivisibility” of industrial products since the crisis of the 1990s. Next, by comparative method, we contrast this approach with the Brazilian view of the so-called gambiarra, which is a subject to stigmatization by the hegemonic culture, despite being perceived in Brazil as an establishment of national culture. By observing the convergences and divergences between these phenomena, the study shows that it is possible to understand how they relate to the socio-cultural characteristics of the Latin American scenarios from which they emerge. As a result, we infer that the distinct Cuban and Brazilian environments explain the discrepancy in the reception of these manifestations in their respective societies. Finally, we perceive such manifestations as references of design practices from the Global South with the potential to catalyze social changes since they seek emancipation, essentially.

Keywords: Spontaneous design, Gambiarra, Technological disobedience



1 Introduction1

Much attention has been given by the forefront of national and international design research to contemporary issues such as consumerism, sustainability, and the designer's responsibility as a part of the production process. The anthropologist Arturo Escobar (2018), who dedicates himself to researching the field, has repeatedly announced that design is undergoing a reorientation and that its political nature is increasingly consolidated. This growing concern with the current system and its social and environmental consequences, coupled with a decolonial perspective led mainly by the Global South, are indicators of this situation. Consequently, a field of transnational critical design studies becomes evident, creating space for other ontologies and epistemologies that have been subjugated by the colonial experience to be recognized.

As evidenced by Luciana Ballestrin (2020), the denomination Global South stems from the concept of the Third World, and both comprise a complexity of meanings beyond hierarchical, economic, and geographical classification. Both expressions seek to understand the place of those who have been made subaltern by modern, colonial, and imperialist history. Therefore, the Global South category can be understood as an affirmation of "a subaltern geopolitical identity" and its insertion in a global structure of domination

The process of questioning that seeks to understand the place of Latin America in modernity and its implication in the field of design began to take shape in the second half of the 20th century, when similar debates were already taking place in other areas, such as the Social Sciences. In this context, the designer Gui Bonsiepe stands out as a reference for studies of the social and economic conditions of the Center and the Periphery of the capitalist system. Bonsiepe (2011) points out that in the current globalization of markets, design can become another instrument of domination of hegemonic powers over peripheral countries, depending on the political and economic interests involved.

Furthermore, Bonsiepe (2011) suggests that the demand for new forms of social organization is legitimized after the recent cycle of financial deregulation led by developed countries, and the disastrous environmental and socioeconomic consequences it has generated worldwide. Therefore, it is important to notice the social approaches that emerge in peripheral countries, where income concentration, poverty, and scarcity of resources and productive tools are concrete everyday issues that these populations have historically dealt with. In contrast, in core countries, only now, with the exacerbation of capitalism's contradictions, are these realities beginning to be experienced more broadly. Issues such as scarcity and inequality are no longer just speculative problems that abstractly guide the design process.

Redirecting research and debate in the field to issues that affect the majority of the world's population, concentrated mainly in marginalized and destitute regions of countries with fewer resources, is a possible way out to mitigate the inequality of forces, in which design can act as a protagonist or create ruptures. Within this asymmetric relationship, the core countries, whose shortcomings have already been met, are the clear beneficiaries. In the peripheral contexts, the tired proposition of reproducing their practices without a deep analysis of the historical framework is not only limiting but also yet another exercise of dominance identifiable as part of the problem.

In his seminal work, Design for the real world, Victor Papanek argues that design is a powerful human ability; through it, it is possible to shape the world and oneself. To do so, one must analyze the past and its pertinence to the present, as well as be aware of the consequences of one's actions in a future perspective. He also states that "design is the conscious and intuitive effort to impose meaningful order." (Papanek, 1985, p. 4). Such consciousness entails intellectualization, research, and analysis, whereas intuition refers to impressions, ideas, and thoughts on a conscious, subconscious, or preconscious level. This amplified concept about design resonates with the idea of spontaneous peripheral design,2 which happens in practices known as gambiarra and technological disobedience (figure 1).

Fig. 1: Examples of technological disobedience in Cuba. Source: Oroza, 2015. Available at https://bit.ly/3pwUuZk. Accessed 23 Oct. 2021.

According to designer Rodrigo Boufleur (2006), the term "gambiarra" can assume several meanings, yet informally it is mainly used to identify the most varied forms of improvisation, such as adaptations, adjustments, repairs, and gadgets, among others. This term, widely used within Brazilian culture, is usually linked to the popular "jeitinho"3, lending it a pejorative character. In this work, gambiarra (figure 2) is in line with creative expression, intuitive design, and the ability to adapt and subvert the predetermined use of objects of a variety of natures. Gambiarra is, thus, closely related to the idea of technological disobedience, coined by the Cuban designer Ernesto Oroza.

Fig. 2: Example of gambiarra: a beverage cart in Rio de Janeiro, Brazil. Source: Vitor Vogel for Pamela Marques, 2019. Personal collection.

The end of the Union of Soviet Socialist Republics (USSR) in the 1990s deprived Cuba of its greatest ally and the financial and technological support that came with it. The embargo imposed by the United States of America added to this context, pushing the country into a crippling scarcity, known as the "Special Period in Times of Peace". To deal with the situation, Cuba adopted a strategy that may sound unusual in the capitalist part of the West. The lack of access to the consumer market and generalized scarcity have led the population to develop maintenance, hacking, recycling, and re-purposing practices of consumer goods and their components in order to extend their useful life. Other consequences were the use of products in functions for which they were not initially designed and the cannibalization of parts and pieces for reuse in other items or even in the creation of the actual items.

The socialist government started compiling the solutions that had been created to face the daily difficulties and released them in publications such as El Libro de la Familia and Con Nuestros Propios Esfuerzos, in 1991 and 1992, respectively. The custom, which over time has spread among the Cuban people, of subverting and adapting objects and components, transcending the use that the manufacturers had prescribed and transgressing this "aura of indivisibility" – that is, the perception of products as individual "closed" units – is what Ernesto Oroza (2012) has coined "technological disobedience".

In light of this information, it is possible to draw parallels between Brazilian and Cuban improvised design. On the other hand, the exaltation of agency shown in these customs highlights contrasts between the two scenarios. In Cuba, the community's spontaneous design was to some extent stimulated by the government and the particular context of the island, enhancing its impact on local culture. In Brazil, however, despite recent indications of change in the way it is socially meant, gambiarra is traditionally seen in a derogatory way and develops substantially on the fringes of mainstream avenues.

It stands to reason, then, that gambiarra and technological disobedience can both be considered design practice references from the Global South. Considering the prevailing economic models, the socio-spatial dynamics, and the historical framework pertinent to each scenario, the study of these phenomena can offer a reflection on the cultures in which they arose and on their relationship with the production of artifacts in the face of resource scarcity. Furthermore, it can be possible to provide a perspective on the real potential of the design field in Latin America for social transformation from an emancipatory perspective.

2 Methodology

This qualitative study is based on descriptive research, since it is imperative to detail the aspects that make up each phenomenon, understanding its various dimensions. A bibliographic review was first carried out, both for historical contextualization and for surveying the scientific knowledge around the themes. Next, an explanatory approach was taken. Using the comparative method, it was possible to perceive the constant elements that characterize the similarities and differences between the two social practices studied. According to Antônio Carlos Gil (2002), it is common to associate descriptive research with explanatory research within an established study because, in addition to identifying and detailing the factors that characterize a phenomenon, one can perceive the need to determine the nature and relationship of these elements. The author also points out that explanatory research is the one that “deepens the knowledge of reality the most because it explains the reason, the why of things.” (Gil, 2002, p. 42-43, our translation).

Finally, this paper is classified as a case study of two objects: the Brazilian gambiarra and the Cuban technological disobedience. This research modality is regarded "as the most appropriate framework for investigating a contemporary phenomenon within its actual context, where the boundaries between the phenomenon and the context are not clearly perceived." (Yin, 2001 cited by Gil, 2002, p. 54, our translation).

3 A historical perspective of Brazil and Cuba

According to researcher Ynaê Lopes dos Santos (2012), starting in the last decade of the 18th century, the process of urban slavery (urban and political configurations, appropriations of public spaces, and influence on city dynamics by slaves of ethnic closeness) in Rio de Janeiro and Havana, the two major port centers of the Americas that are key to the Iberian Atlantic, enabled the sharing of the title of Atlantic Sisters4 – largest slave cities5 in America in the 19th century. In other words, both cities had their economic, political and social functioning dependent on slavery. Assunção and Zeuske (1998, p. 375) point out that this condition “[It] shaped the development of the national Afro-American cultures, the construction of "race"– categories and social hierarchies [...]” in a similar way in both urban spaces.

In an interview for the Afreaka project, anthropologist Ana Stela Cunha confirms that the similarity of Brazil and Cuba is also intensified by the fact that they received a significant number of slaves of the same origin — the Bantu, populations that lived in the southern Ecuadorian portion of Africa — and that “it was precisely the ability of adaptation of these Africans that intensified their influence on the construction of Brazilian and Cuban societies.” (Cintra, ca. 2015, our translation). In the introduction text of her book Caboclos Nkisis, Cunha (Caboclos, 2014) adds that even with all the effort made by Cuban and Brazilian national elites to "relegate Afro-Cubans/Brazilians to a plastered and not very dynamic past, through different ways, this significant portion of the population indicates how connected they are to a present that translates into creative and flexible forms of knowledge." Finally, the researcher states that, in analyzing the historical process of slavery in Brazil and Cuba, the only notable distinction between both of the colonies was the time frame of legalized and later prohibited transatlantic trafficking, and the number of slaves that arrived in their ports. Therefore, the weight of urban slavery justifies the cultural conformity of these slave capital cities.

Political and social differences intensified between the two colonies starting from 1808, with the opening of Brazil's ports to world trade. Then, they were accentuated with the Independence of Brazil in 1822 and definitely sharpened both from 1959, with the Cuban Revolution, and in 1991, with the beginning of the "Special Period in Times of Peace" in Cuba – a time of intense shortage of resources due to the US economic embargo and the dismantling of the USSR, which helped supply the island's material needs. Even so, it is clearly possible to identify common habits and cultural manifestations in the contemporary daily life of both countries, as well as the strong presence of similar African-based religious practices. Within this historical context, it is possible to find an affinity between the two Latin American nations based on their experiences with slavery, which provides common ground for the comparative analysis of improvisation practices in urban spaces.

4Gambiarra and technological disobedience: convergences and divergences

In 2015, Cuban designer Ernesto Oroza visited Recife, the capital city of the state of Pernambuco, Brazil, to promote the exhibition "Technological Disobedience" (figure 3), which displayed part of his research on the solutions developed by the Cuban people to deal with the lack of resources.

Fig. 3: Technological Disobedience Exhibition, at Caixa Cultural Recife, Brazil. Source: Oroza, 2015. Available at http://www.ernestooroza.com/desobediencia-tecnologica-caixa-cultural-recife/. Accessed 23 Oct. 2021.

Over the years, the designer has recorded and collected cases of design solutions developed by his fellow countrymen. These are picturesque examples of recycling, reuse, customization, and repurposing that highlight creativity in dealing with industrial products. According to Oroza (2012), the habit that the population maintained of opening, repairing, cannibalizing and mixing objects, over time, led Cubans to a paradigm shift in their relationship with these artifacts, developing what he called technological disobedience: the deconstruction of the perception of industrial products as "closed" units and the transcendence of the uses conceived by their manufacturers. During his stay in Recife, Oroza visited local communities (such as Brasília Teimosa) and, in interviews, reported having come across improvised design solutions very similar to what is found in Cuba:

I found in Brasília Teimosa the same relationship of people with their objects and housing, recreating them, reinventing them in their own way, just as it happens in Cuba. Technological disobedience belongs to the culture of all Latin America. That is why it is so present in Recife. These are contemporary social practices linked to inequality. (Oroza cited by Portela, 2015, our translation).

The type of solution that Oroza compiles, and that he identified in Recife, is what, In Brazil, is called "gambiarra" (figure 4). As defined by Rodrigo Boufleur,

Among several related meanings, the term gambiarra has often been used informally to identify forms of improvisation: adaptations, adjustments, fixes, repairs, fittings, splices, patches, whole inventions, gadgets, gizmos. (Boufleur, 2006, no pagination, our translation).

Fig. 4: Example of gambiarra in Recife, Brazil, recorded by Oroza. Source: Oroza, 2015. Available at https://bit.ly/3CnZTWd. Accessed 23 Oct. 2021.

From an economic point of view, Boufleur (2013, p. 13, our translation) relates the capitalist industrial system to the emergence of the "tactic" of gambiarra: “gambiarras represent a parallel production, necessary and complementary to the materiality produced by industry.” He notes that the usefulness of things is not only a result of the capitalist mode of production and that gambiarras (figure 5) are tools that allow us to perceive the deficiency, the precariousness, and the provisional nature of the products that surround us.

Fig. 5: A cart made out of a refrigerator with no engine. Gambiarra. Recorded in Brasília Teimosa, Recife, Brazil. Source: Henrique Placido for Pamela Marques, 2019. Personal collection.

Therefore, it is necessary to understand the socioeconomic context that made propitious the emergence of spontaneous inventive improvisation and its consequent stigmatization, as well as the broad meaning of gambiarra in today's society, before analyzing a possible change in the sociocultural perception of the phenomenon. Brazil has proven to be one of the most unequal countries in the world, despite constantly ranking among the largest economies6. Darcy Ribeiro (2006) describes the Brazilian social framework as historically stratified and hierarchized, with deep social distances and class antagonism that oppose “an exceedingly exclusive privileged group to the bulk of the population.” He traces the origins of such a configuration to the circumstances of the process of national formation as a colony of Portugal:

The nation-people [...] [arises] from the concentration of a slave labor force, recruited to serve mercantile purposes alien to itself, through such violent processes of production and repression that constituted, in fact, a continued genocide and a ruthless ethnocide. [...] The historically produced social stratification has another characteristic, the rationality that stems from its assembly as a business that privileges and ennobles some, making them masters of life, and subjugates and degrades the remainder, as an object of enrichment for others. This intentional character of the enterprise makes Brazil, even today, less a society than a colonial fiefdom because it does not give the population structure to fulfill its conditions of survival and progress, but to enrich a lordly stratum focused on meeting exogenous demands. (Ribeiro, 2006, p. 20-21, our translation)

In other words, Ribeiro describes an iniquitous country, in which an elite holds the power with an iron fist. In a country with this social framework, it is not surprising that the need Oroza identified as the root of design creativity is widespread.

Unlike in Cuba, however, in Brazil, the need is not shared. Perhaps this is where one begins to understand the difference in perception of both societies regarding their popular design. The formation of the national social framework and the inequality of power it gave rise to, created an ideological superstructure that is quite representative of this configuration. According to Ribeiro (2006), these historical factors

conditioned the lordly elite to view the people as a mere labor force destined to waste away in productive effort and with no rights other than that of eating while working, to replenish their productive energies, and that of reproducing to replace the worn-out manpower. Nor could it be otherwise, considering the particular class of employers that was formed by dealing with slaves, regarded as mere things and handled for purely pecuniary purposes, in an attempt to get as much profit as possible out of each piece. (Ribeiro, 2006, p. 195, our translation)

Ribeiro also describes the resulting antagonism:

Social stratification in Brazil thus separates and opposes the rich and the working class from the poor, and all of them from the miserable, more than it usually corresponds to these antagonisms. On this level, class relations become so insurmountable that they obliterate all properly human communication between the mass of the people and the privileged minority, who sees them and ignores them, treats them and mistreats them, exploits them, and deplores them as if this were natural behavior. [...] The privileged ones simply isolate themselves in a barrier of indifference to the plight of the poor, whose abhorrent misery they try to ignore or hide in a kind of social myopia that perpetuates otherness. (Ribeiro, 2006, p. 21, our translation)

This description of Brazilian ruling classes' mentality should be understood in the light of another important fact: in Brazil, the difference in wealth distribution is also reflected in the absolute cultural hegemony of the elite, who control access to the necessary means to guide public debate and influence society's production of meaning. It is under this ideological hegemony of the elite and their practice of inflicting otherness on the underprivileged that the meaning of gambiarra (figure 6) in Brazilian culture occurs: the expression of necessity associated with the subaltern and stigmatized "Other", whose agency outside the standards determined by the dominant class must be suppressed or contained.

Gambiarra is, undoubtedly, a political practice. Such politics can take place not only as activism (or a supporting tool for it) but because the very practice of gambiarra is itself a political statement. In addition, consciously or not, in many moments, gambiarra might negate the capitalist productive logic, fill a gap, a deficiency, a precariousness, reinvent production, glimpse a utopian new world, a revolution, or simply try to heal certain open wounds inflicted by the system, bring comfort or voice to those who have been denied it. Gambiarra is itself a voice, a cry of freedom, of protest, or simply of existence, of the affirmation of innate creativity. (Rosas, 2006, p. 47, our translation).

Fig. 6: Chicken coop built with a supermarket cart, in the Brasília Teimosa neighborhood, Recife, Brazil. Source: Henrique Placido for Pamela Marques, 2019. Personal collection.

The perception of Brazilian design creativity only began to change with the actual material conditions of the country, in a process that significantly altered the power dynamics of society. The recent inclusion of the lower classes into consumers' markets, during the progressive governments of the first decade and a half of the 2000s, has led to an increase in the perception of these groups as economic actors. It is possible that the dismantling of the governments in the following years and the conservative wave that followed have interrupted or begun to reverse this process of awareness. However, this same process has reframed the role of the lower classes when faced with the hegemonic culture and thus changed the status of the meanings produced by these classes. The tendency with this integration, however, has been the vertical assimilation of the new actors, guided by capital, with no questioning of the traditional forms of production or democratization of society's relationship with products.

One of the reflections of the change of level of the poor in the Brazilian internal market during the center-left governments, to the point of protagonism, was their repositioning in the face of the business class and the hegemonic culture that it rules. Suddenly, the elite realized the power and creative agency of the lower middle class, and a timid beginning of redemption for the people in the national imaginary could be noted.

The sectors at the forefront of contemporary design research are among those that have noticed all this dynamism and creativity. Initiatives and cultures such as Maker and Do It Yourself (DIY), focused on universalistic fostering of creativity and productive autonomy, began to take notice of Brazilian popular design and did their part in bringing new meanings to gambiarra. One example is the case of Gambiarra Favela Tech, a project that searches for "gambiologists" who live in Carioca communities. A “Gambiologist”, according to digital artist Ricardo Palmieri, "is nothing more than a maker, who uses gambiology techniques to manufacture his ideas." (Solos Culturais, 2015, our translation). The project proposes to stimulate the creative and artistic potential associated with technology. The initiative is an attempt to rescue popular culture, and also a way to value the origin of creative and spontaneous solutions. Other examples are found in the artistic scene, as in the exhibition "A Poesia da Gambiarra", by the artist Emmanuel Nassar; as well as in design, presented in the exhibition "Design da Periferia", by Adélia Borges, and "Design da Favela", by Ricardo Saint Clair.

In this way, it is possible to infer that the different material conditions in Cuba and Brazil, and the cultures and ideologies that resulted from them, explain the discrepant way in which their societies welcome spontaneous design. In Cuba (figure 7), the need and scarcity shared by the whole society led to the official fostering of design creativity and improvisation, bringing about a change in the people's relationship with the production processes and with the products themselves, making it easier to overcome practical difficulties. In Brazil, the formation process of our stratified social framework led to a scenario of concentration of power, which generated an elitist and segregationist hegemonic culture in which need is always otherness. This resulted in the stigmatization of problem solving when done in a way that is "subversive" to traditional production and consumption relations, limiting the population's design ability.

Fig. 7: Rikimbili, Cuban motorized bicycle. Source: Oroza, 2005. Available at http://www.ernestooroza.com/rikimbili/. Accessed 23 Oct. 2021.

5Design, technology and society in the current Latin American context

In Latin America, the study of social technologies is constantly advancing, and its conceptualization has come closer to the discussions on social innovation within the scope of design. According to Dagnino (2009, p. 8, our translation), in the view of "Rede de Tecnologias Sociais" [Social Technologies Network], for example, social technology "comprises products, techniques and/or methodologies that can be reapplied, developed in interaction with the community and that represent effective solutions for social transformation". However, it is imperative to highlight that the Latin American social technology proposal is a way of resistance to the imposed and hegemonic capitalist technology, as well as a means of fostering social inclusion.

As stated by Novaes and Dias (2009, p. 21, our translation), since the advent of Appropriate Technology (AT)7 in 1970s India, one can observe a greater volume of theoretical dedication by some researchers from core countries to investigate the relationships between technology and society, as well as their respective effects. A widespread conclusion was that the conventional technology that is used and elaborated by the private means of production in advanced countries doesn't adapt nor meet the needs of peripheral reality when replicated in developing countries. Dias and Novaes (2009, p. 60, our translation) go deeper into this discussion about the current context, in which the creative economy and/or innovation economy are on the table and receive governmental incentives for their growth. They state that the dynamic of imposition and adoption of technological development practices of the core countries is still normative.

Techniques — elementary procedures of social technology —, according to Milton Santos (2006, p. 16, our translation), are "a set of social and instrumental means, with which man realizes his life, produces, and at the same time, creates the space". They are the main form of man's relationship with nature. Undoubtedly, technique is also a significant element in explaining societies and places, but in isolation, it explains nothing. The interpretation of reality exclusively from technical means, without considering the social frameworks in which techniques and instruments are developed, is, in fact, even harmful.

For this reason, when discussing the diffusion of ideas or solutions to certain social problems beyond the contexts in which they arose, it is necessary to understand that each space has its specificities that cannot be disregarded. Moreover, these places are inserted in the capitalist logic and submitted to external geopolitical and economic forces. As Dias and Novaes (2009, p. 63, our translation) point out, the transfer, or "replication" of preconceived technologies, or successful social enterprises, hardly occurs without any loss or noise. The most appropriate proposal is likely the "reapplication" of knowledge and methods, taking into account the particularities of each locality and its insertion in the global dynamics.

Another characteristic of technique is to be "universal as a tendency", as stated by Leroi-Gourhan (1945 cited in Santos, 2006, p. 35, our translation). Capitalism was already catalyzing this process even before globalization, establishing the internationalization of techniques as a fact. When Italian researcher Ezio Manzini (2008) suggests to peripheral countries that they start watching some western experiences of sustainable living to stimulate the adoption and adaptation of analogous ideas to their urban context, he demonstrates, once again, the reproduction of colonizer mentality and technological domination. Core countries' reflections and policies provide us with significant contributions. However, it is necessary that we, as Latin American and peripheral countries, become more independent, and increase the amount of research and theory development regarding our situation. Only then will we be able to achieve a closer perception of our reality and needs to formulate solutions that reflect our condition.

Bonsiepe (2011, p. 21, our translation) proposes the adoption of a humanistic stance for the practice of design: "the exercise of design skills to interpret the needs of social groups and develop viable, emancipatory proposals in the form of instrumental artifacts and semiotic artifacts". Its application in the design field may catalyze the process of rupture from the domination of the centers of power over the marginalized — the world's majority within the current system. He also states that it is essential to take a critical stance, for only by doing so will we move from conformist acceptance to real action. The main initiative that can change our condition is in the construction of a collective social conscience, attentive to the material reality, in which designers have the necessary tools to conduct and improve this process of change.

Also according to Bonsiepe (2011), despite the suspicious and depreciative look from part of the dominant class, maintainer of the status quo, it is no longer possible to ignore the social organizations that arise in spaces marked by inequality and social laceration, along with their explicit potentiality in dealing with the shortage of resources and access to consumer goods, essential for survival in an exclusionary system such as capitalism. In these solidary approaches, he believes that the current concept of design will be relativized, further modifying the field's competence in catalyzing the process of social emancipation through design.

6Final considerations

It is specifically in the urban territory (but not only there), particularly in the capitalist periphery — affected by globalization and its new technologies intentionally imposed by the core countries — that, according to Milton Santos (2006), the “simple global places” and the “complex global places” emerge. Whereas in the former only part of the “vectors of modernity” arrive, in the latter an abundance of several types of vectors and, consequently, a strong socio-spatial and material diversity can be found. It is also in the latter that the excluded create and resist. Difference is generated by scarcity and it becomes "the basis of a creative adaptation to existing reality" (Santos, 2006, p. 218 and 210, our translation). Subversion and improvisation practices in situations of material and tool scarcity – spontaneous peripheral design – in Latin American cities are examples of the production of life for those who, because their ancestors were thrown to their own luck, find themselves in the condition of urban poor, and are examples of resistance and re-existence.

At the beginning of the 21st century, according to Ballestrin (2020), the Global South turned into a potent category of a path towards another future, in opposition to the instituted extractive globalization, as well as a protagonist in the fight for decolonization. Reflecting on the phenomena of gambiarra and technological disobedience and understanding them as design practices from the Global South becomes an attempt to detach from coloniality in its various dimensions and a search for autonomy in the production of life. The framework herein described shows that despite the historical exploitation of Latin America and the constant state of crisis that has been imposed on this region, a creative and transforming potential resides in its people. What is still lacking is knowledge, organization, critical awareness, and the effective and local dissemination of this potential.

Finally, recently Escobar (2020) remarked that decolonial theory in Latin America (with its development in Brazil within the field of architecture and urbanism) has been gaining a spatial imaginary. It is possible to assume that a significant contribution of the design field to this moment – considering the material conditions, relations of power, and oppressions – is to investigate, in Latin American urban spaces, the materiality produced by the marginalized, direct heirs of the tragic consequences of the colonial project.

References

Alvarenga, D., 2021. Brasil sai de lista das 10 maiores economias do mundo e cai para a 12ª posição, aponta ranking. G1. [Online]. 3 March. Available at https://glo.bo/3rbsif8. Accessed 08 Aug. 2021.

Assunção, M. R. and Zeuske, M., 1998. “Race”, Ethnicity and Social Structure in 19th Century Brazil and Cuba. Ibero-amerikanisches Archiv. 24(3/4), p. 375-443.

Ballestrin, L., 2020. O Sul Global como projeto político. Horizontes ao Sul. [Online]. July. Available at https://www.horizontesaosul.com/single-post/2020/06/30/O-SUL-GLOBAL-COMO-PROJETO-POLITICO. Accessed 18 Oct. 2021.

Boufleur, R., 2006. A questão da gambiarra: formas alternativas de produzir artefatos e suas relações com o design de produtos. Master's thesis, University of Sao Paulo.

Boufleur, R., 2013. Fundamentos da gambiarra: a improvisação utilitária contemporânea e seu contexto socioeconômico. Ph.D. thesis, University of Sao Paulo.

Bonsiepe, G., 2011. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blücher.

Cintra, J., ca. 2015. Conexão Brasil-Cuba e a territorialidade banto são focos de exposição no Maranhão. Afreaka. [Online]. Available at http://www.afreaka.com.br/notas/conexao-brasil-cuba-e-territorialidade-banto-sao-focos-de-exposicao-maranhao. Accessed 01 Dec. 2017.

Costas, R., 2016. O legado dos 13 anos do PT no poder em seis indicadores internacionais. BBC Brasil. [Online]. 13 May. Available at https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/05/160505_legado_pt_ru. Accessed 08 Aug. 2021.

Caboclos, 2014. Caboclos Nkisis: a territorialidade Banto no Brasil e em Cuba. Dir.: Ana Stela Cunha. 31min. Curitiba: Sync Cultural.

Dagnino, R. P. (ed.), 2009. Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: IG/UNICAMP.

Dias, R. and Novaes, H. T., 2009. Contribuições da economia da inovação para a reflexão acerca da tecnologia social. In: Dagnino, R. P. (ed.), 2009. Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: IG/UNICAMP, p. 55-71.

Dupita, A., 2017. Para além do (necessário) equilíbrio fiscal: por que reformar a previdência pode reduzir a desigualdade? Banco Santander (Brasil) S.A. [Online]. September. Available at https://cms.santander.com.br/sites/WPS/documentos/arq-estudos-macro-setembro-2017_v2/19-01-23_115407_arq-estudos-macro-setembro-2017.pdf. Accessed 08 Aug. 2021.

Escobar, A., 2018. Autonomous design and the emergent transnational critical design studies field. Strategic Design Research Journal. 11(2), p.139-146.

Escobar, A., 2020. Projeto/ar como a cura da vida. Interview with Céline Veríssimo. Redobra. 6(15), p.51-58.

Filizzola, L., 2020. A quantas anda a desigualdade de rendimentos no Brasil?. Observatório das desigualdades. [Online]. November. Available at http://observatoriodesigualdades.fjp.mg.gov.br/?p=1413. Accessed 08 Aug. 2021.

Gil, A. C., 2002. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas.

Manzini, E. 2008. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers.

Novaes, H. T. and Dias, R., 2009. Contribuições ao marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: Dagnino, R. P. (ed.), 2009. Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: IG/UNICAMP, p. 17-53.

Oroza, E., 2012. Desobediencia tecnológica. Ernesto Oroza. [Online]. June. Available at http://www.ernestooroza.com/desobediencia-tecnologica-de-la-revolucion-al-revolico. Accessed 01 Oct. 2016.

Papanek, V., 1985. Design for the real world: human ecology and social change. Chicago: Academy Chicago.

Portela, L., 2015. Brasília Teimosa, periferia de Havana. Marco Zero. [Online]. 19 June. Available at http://marcozero.org/brasilia-teimosa-periferia-de-havana. Accessed 28 Oct. 2016.

Ribeiro, D., 2006. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.

Riul, M., Medeiros, C. H. M. F., Barbosa, A.V., Santos, M. C. L., 2015. Design espontâneo e hibridismos: artefatos da cidade e artefatos do interior. Estudos em Design. 23(2), pp.59-74. [Online]. Available at https://www.eed.emnuvens.com.br/design/article/view/233/0. Accessed 06 Jun. 2018.

Rosas, R., 2006. Gambiarra: alguns pontos para se pensar uma tecnologia recombinante. Caderno Videobrasil 02. (2), p.37-53.

Santos, Y.L., dos., 2012. Irmãs do Atlântico. Escravidão e espaço urbano no Rio de Janeiro e Havana (1763-1844). Ph.D. thesis, University of Sao Paulo.

Santos, M., 2006. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EDUSP.

Solos Culturais., 2016. Gambiarra Favela Tech. [Online]. 11 June. Available at https://web.archive.org/web/20180904133619/http://www.solosculturais.org.br/gambiarra-favela-tech/. Accessed 30 Oct. 2016.

1 This article stems from the master's thesis entitled "Technological Disobedience and Gambiarra: the peripheral spontaneous design as a path to other futures", defended in July 2019 at the Design Graduate Program of the National University of Brasilia, Brasil.

2 The definition of spontaneous design by researcher Maria Cecília Loschiavo dos Santos was chosen, along with the term "peripheral", to highlight the macrostructural and microstructural dimensions of capitalist logic: "Santos (2003) developed the theme with a focus on urban social groups and understood 'spontaneous design' as the 'practice of creative resistance, seeking ingenious solutions applicable to solving concrete problems, in a context of severe lack of resources.'" (2003, p. 75, cited by Riul, 2015, p. 64, our translation).

3 Note of Translator: This is a short for what could be translated as "the Brazilian way", referring to how Brazilian people often find a workaround, an alternative way to achieve their goals, even if not the ideal or correct one.

4 An expression that the author borrows from Michael Zeuske, present in Comparing or interlinking? Economic comparisons of early nineteenth-century slave systems in the Americas in historical perspective.

5 Slave city differs from "city with slaves" in that its functioning depends essentially on slavery. Explanation by Dr. Ynaê Lopes dos Santos in the program Fala, Doutor, from UNIVESP – Virtual University of the State of Sao Paulo.

6 When the aforementioned original research was conducted, the data made available by the World Bank pointed to Brazil as the 9th largest GDP in the world (Costas, 2016). The Gini index at approximately 0.500 placed the country among the fifteen most unequal in the world (Dupita, 2017). In 2020, during the Covid-19 pandemic, the country fell to 12th in the world GDP ranking (Alvarenga, 2021). The Gini index, meanwhile, stood at 0.543 in 2019 (Filizzola, 2020).

7 Still, according to Novaes and Dias (2009), few Latin American intellectuals, among them Amílcar Herrera, have dedicated themselves to research on Appropriate Technology.