Dessincronizando o Ocidente: novos vetores de desenvolvimento do Sul

Marcelo Maia, Natacha Rena

Marcelo Reis Maia é arquiteto e urbanista, Mestre e Doutor em Arquitetura e Urbanismo. É professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde desenvolve pesquisas sobre Arquitetura, Urbanismo e Design, com ênfase em tecnopolitica, geopolítica e território, paisagem e ambiente, urbanismo chinês e urbanismo instantâneo. É membro do grupo de pesquisa Indisciplinar e do programa de extensão IND.LAB - Laboratório Nômade do Comum, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). marcelo.maia@gmail.com http://lattes.cnpq.br/2122259751390693

Natacha Silva Araújo Rena é arquiteta e urbanista e Doutora em Comunicação e Semiótica. É professora da Escola de Arquitetura e Design e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Coordena o grupo de pesquisa Indisciplinar e o programa de extensão IND.LAB - Laboratório Nômade do Comum, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atua nos temas geopolítica e território, cartografias das lutas urbanas, arquitetura contemporânea e coletivos ibero-americanos. natacharena@gmail.com http://lattes.cnpq.br/5202973767095132


Como citar esse texto: MAIA, M. R.; RENA, N. S. A. Dessincronizado o Ocidente: novos vetores de desenvolvimento do Sul. V!RUS n. 23, 2021. [online]. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus23/?sec=4&item=2&lang=pt>. Acesso em: 15 Out. 2024.

ARTIGO SUBMETIDO EM 15 DE AGOSTO DE 2021


Resumo

Este artigo objetiva apresentar uma visão cosmopolítica de futuro compartilhado nas relações internacionais Sul-Sul, considerando diferentes velocidades e vetores de desenvolvimento territorial. Como aposta política, adotamos uma metodologia que parte de uma multiplicidade de visões, principalmente utilizando fontes advindas do Sul Global. Na primeira parte do texto, buscamos apresentar brevemente o Estado-civilização China, desde as perspectivas: de seu líder atual, Xi Jinping (2020, 2021), do diplomata brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães (2020) e do diplomata americano Henry Kissinger (2012). Também utilizamos como referência pensadores contemporâneos como o chinês Hu Angang (2017, 2020), autores brasileiros como Elias Jabbour (2020) e o pensador argentino Javier Vadell (2021). Seguimos esta análise das relações internacionais, com características chinesas e a cooperação Sul-Sul, utilizando contribuições do Ministro Conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui (2021). Na segunda parte deste texto, realizamos uma reflexão apoiada no conceito de cosmotécnica, desenvolvido pelo filósofo chinês Yuk Hui (2020), que observa a tecnologia com o objetivo de recuperar a nossa capacidade de moldar o futuro. Finalizamos apontando desafios para o Sul Global envolvendo cooperação Sul-Sul, onde o 5G tem sido um nó fundamental para alavancar o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, reforçar a soberania dos países envolvidos.

Palavras-chave: Geopolítica, Desenvolvimento, Cosmotécnica, Características chinesas, Tecnodiversidade



1 Introdução

Desde 2020, quando criamos o grupo de estudos “Geopolítica e Território” para realizarmos estudos sobre desenvolvimento territorial com características voltadas para a infraestrutura, mobilidade e logística, assim como infraestrutura digital, o novo modo de urbanização chinesa tornou-se a principal referência para nossa investigação. Ao iniciarmos uma revisão bibliográfica que conectasse temas nacionais aos temas de desenvolvimento aos moldes chineses, percebemos que pouco material vinha sendo produzido neste sentido, já que a vertiginosa ascensão econômica, política e urbanística da China é muito recente.

Portanto, parte da metodologia adotada para a escrita deste primeiro artigo que realizamos sobre a temática é composta pela revisão de uma bibliografia básica, envolvendo os principais autores brasileiros que abordam o desenvolvimento com características chinesas, o que inclui, com destaque, pensadores e interlocutores cotidianos para nosso grupo de estudos, como é o caso da dupla Elias Jabbour (2020) e Javier Vadell (2021). Para complementar esta revisão bibliográfica, que vem sendo produzida em tempo real já que o jogo geopolítico global está acontecendo em ritmo ultra acelerado, decidimos incluir a produção de atividades acadêmicas como webinários1 e disciplinas que vem nos auxiliando a levantar fonte primária de informação sobre geopolítica envolvendo China e Eurásia como um todo. Temos construído um grande banco de dados a partir das pesquisas realizadas pelos alunos de graduação que vem nos embasando com cases reais e cotidianos envolvendo o desenvolvimento territorial na China e ao longo da Rota da Seda por toda Ásia, África, Oriente Médio e Europa.

Outro fator que compõe nossa metodologia de investigação tem sido acompanhar em tempo real diversas fontes brasileiras e chinesas de informação, desde podcasts mais populares como o “Pagode Chinês”, passando por seminários acadêmicos e institucionais organizados pelo “Ceasia”2 ou pelo “Observa China”. Daí vamos estabelecendo diálogos e construindo a partir da troca de informação uma série de eixos de pesquisa que se desdobram entre os trabalhos de nossos orientandos de graduação, de mestrado e de doutorado. Finalmente, criamos um Grupo de Pesquisa denominado Geopolítica e Planejamento Territorial para consolidar este campo de investigação e organizar nossas pesquisas por eixos e grupos de pesquisadores com temáticas afins. Desde então já temos duas pesquisas de doutorado que se iniciaram este ano, abordando os temas (i) do desenvolvimento urbano chinês, (ii) da Rota da Seda e sua (iii) relação com a América Latina, que acabam por compor o centro das categorias analíticas e políticas a serem contempladas em nossos estudos.

Há algum tempo, nos interessamos por peculiaridades chinesas, que iam desde a produção de uma arquitetura contemporânea instigante à uma velocidade nunca vista antes na construção de edifícios e cidades inteiras. Estando atentos à alta tecnologia aplicada ao ambiente urbano, aos sistemas de transporte e aos controles inteligentes de serviços públicos. Seduzidos pela Rota da Seda, tecemos caminhos que conectam o Ocidente ao Oriente e chegamos no Império do Meio. Nos sentimos fascinados, assim como Marco Polo, ao descobrir uma outra civilização. Desde então, buscamos entender sua história, mas principalmente seus aspectos fundadores: culturais, filosóficos e tecnológicos. Chegamos à China do século XXI e nos perguntamos: "Por que, ao olhar a China, a humanidade não poderá viver tempos de grandes esperanças?” (JABBOUR, 2020, p. 33). "Nos deparamos com um novo modelo denominado 'socialismo com características chinesas', que levou a China por uma trajetória sui generis que sobrepõem características territoriais, demográficas e sociais, nunca renunciando a soberania no seu processo de ascensão." (VADELL, 2021, p. 11).

Neste artigo, buscamos entender as características chinesas como alternativa concreta para o desenvolvimento do Sul Global em "um mundo de futuro compartilhado" (XI, 2021). Portanto, trata-se de um texto introdutório realizado a quatro mãos, que revela uma etapa inicial de um novo caminho de investigação que estamos tentando construir, aprendendo e criando bifurcações no eixo de tempo global. A partir das ideias do pensador Yuk Hui (2020), buscamos desenhar uma linha de fuga de um tempo síncrono imperial, pois nos interessa, enquanto parte do Sul Global, assumir nosso lugar, como pertencentes a uma formação de grupos que envolvem países em desenvolvimento3.

2 Sobre o Estado–civilização China

A nação chinesa é uma grande nação. Com uma história de mais de 5.000 anos, a China fez contribuições indeléveis para o progresso da civilização humana. Após a Guerra do Ópio de 1840, no entanto, a China foi gradualmente reduzida a uma sociedade semicolonial e semifeudal e sofreu maiores devastações do que nunca. O país sofreu uma humilhação intensa4, o povo foi submetido a grandes dores e a civilização chinesa mergulhou nas trevas. Desde aquela época, o rejuvenescimento nacional tem sido o maior sonho do povo chinês e da nação chinesa. (XI, 2021).

O grande sonho chinês é a revitalização da sua cultura, Estado e civilização por meio da unidade territorial. Desde 1978, a China passou por um processo de modernização acelerado graças "à reorientação radical, porém gradual e experimental, comandada por Deng Xiaoping, da política econômica da República Popular da China com base na abertura externa, na atração do capital multinacional e na economia de mercado." (GUIMARÃES5, 2020, online). Esse processo acelerado vem colocando este Estado-civilização no centro da geopolítica e o tornou referência mundial em tecnologia, inovação na indústria e desenvolvimento sustentável. Sob a liderança do Partido Comunista Chinês (PCCh), a China alcançou sua primeira meta centenária ao tornar-se uma sociedade moderadamente próspera, trazendo uma resolução histórica para o problema da pobreza absoluta na conclusão do seu 13o plano quinquenal (2016-2020). Nestes cinco anos, a China tirou mais de cinquenta e cinco milhões de pessoas da pobreza e seu Produto Interno Bruto (PIB) superou a marca de cem trilhões de yuan (CGTN, 2020, online)6 e a China tornou-se o primeiro país em desenvolvimento a realizar o objetivo de redução da pobreza, conforme as Metas de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas. Diante desta conquista, o secretário-geral da ONU, António Guterres, elogiou a China como o país que mais contribuiu para a redução da pobreza global (CAMBUHY, 2020, online).

Segundo o Banco Mundial, a China resgatou mais de 850 milhões de pessoas da pobreza desde o início das reformas econômicas em 1978 (PRAZERES, 2020, online).

O crescimento chinês começou nos anos 1980, mas passou a impactar o mundo ao longo dos anos 1990, se consolidando no final da primeira década do século XXI, quando se torna a segunda economia do mundo. […] Após a morte de Mao Tsé-Tung, Deng Xiaoping assumiu o poder em 1978. O pragmatismo que se seguiu é condensado no espírito do slogan do período: “não importa se o gato é branco ou preto, contanto que ele pegue o rato”. As reformas que se seguiram foram centradas em estabelecer uma política de desenvolvimento econômico, mudando os rumos do socialismo da China e traçando um projeto novo para desenvolver o país por meio da liberalização econômica, mas que preservasse a orientação socialista e a liderança do Partido Comunista. O objetivo era transformar a China de um país pobre (na época com mais de 60% da população vivendo com menos de US$1 por dia) em uma nação rica e poderosa no século XXI. (MORENO, 2015, p.13-14).

Hu Angang (2011), acadêmico chinês, fundador e diretor do think tank CAS (Center for China Studies), da Universidade de Tsijnghua, em Pequim, é um dos intelectuais responsáveis pela formação de políticas domésticas e de relações internacionais do PCCh. Hu Angang, em seus textos, desenvolve dois temas para apresentar a China como um novo tipo de superpotência: seu otimismo e seu excepcionalismo. Segundo Kissinger (2021, p. 25), o excepcionalismo chinês é cultural, pois a China não faz proselitismo e não alega que suas instituições contemporâneas sejam relevantes fora dela. Em contraposição, o excepcionalismo americano é missionário. Segundo sua doutrina, os Estados Unidos têm obrigação de disseminar seus valores ao mundo. Na versão chinesa do excepcionalismo, a China não exporta suas ideias, mas deixa que os outros as busquem.

Para Hu Angang (2011), graças às realizações em educação, inovação e energia limpa, a China emerge como uma superpotência madura, responsável e atrativa. Este novo tipo de superpotência não tem a intenção de competir com os impérios hegemônicos do Ocidente para se tornar um líder unilateral do mundo. Segundo Hu Angang (2011), a China busca o multilateralismo e quer cooperar com as demais superpotências nos desafios globais econômicos, políticos, energéticos e ambientais. Desde o 12o plano quinquenal, a China tem buscado um desenvolvimento limpo e energeticamente eficiente, pois ela já sabia que para manter o seu ritmo de crescimento e o bem da população, essas políticas seriam fundamentais. Hoje, ao observar o desenvolvimento produtivo, urbano e ambiental da China, identificamos os resultados positivos desta meta política elaborada há dez anos atrás (HU, 2011). Os resultados colhidos ao final do 13o plano quinquenal são consequências de decisões políticas tomadas em planos anteriores, ou seja, têm relação com uma acumulação de objetivos. O 14o plano quinquenal avança com várias metas, entre elas (CGTN, 2020, online, tradução nossa):

+ defender o papel central da inovação no seu impulso de modernização e implementar uma estratégia voltada para a inovação web;

+ construir um moderno sistema industrial melhorando sua capacidade de fabricação web;

+ modernizar a cadeia industrial e de fornecimento, objetivando alta qualidade e competitividade dos produtos chineses web;

+ priorizar o desenvolvimento da agricultura e de áreas rurais web;

+ avançar o desenvolvimento regional coordenado por meio de um novo tipo de urbanização web;

+ promover o setor e o Soft Power7 cultural web;

+ acelerar o desenvolvimento verde de baixo carbono, melhorando continuamente o meio ambiente, a qualidade e a estabilidade dos ecossistemas e a eficiência na utilização de recursos web;

+ buscar abertura do mercado promovendo a cooperação internacional de alto nível explorando as novas perspectivas de cooperação win–win (ganha–ganha) web;

A China é uma civilização que surgiu há mais de cinco mil anos dentro de um processo de sedentarização de tribos nômades. Há mais de três mil anos existem trocas comerciais em seu território. A perspectiva histórica nos revela que, até fins do século 18, a China e a Índia eram as maiores economias do mundo, antes das transformações da Revolução Industrial na Europa (UNZER, 2019, p. 1). A tecnologia produtiva na agricultura surgiu há cerca de dois mil anos com a invenção do arado de boi, a construção de canais para navegação, o controle do fluxo das águas pluviais e a irrigação das lavouras. Sua grande muralha protegia e unificava seu território rural–produtivo, e um sistema de canais navegáveis unia o norte com o sul, permitindo trocas comerciais seguras dentro do seu território unificado. (JABBOUR, 2021).

Segundo Elias Jabbour (2021), a China, em sua origem, é desenvolvimentista. Ela é uma civilização que nasce entre dois grandes rios, alimentados por degelos do Himalaia, frequentemente atingida por enchentes, entre outras tragédias naturais, e tentativas de invasões. Sua liderança no contexto global, desde então, foi capaz de intervir na realidade, elaborando e executando empreendimentos que pacificaram e unificaram seu território, afirmando seu processo civilizatório milenar. Jabbour (2021) ainda destaca a unificação da língua e a invenção do papel moeda num sistema monetário único. Apesar da unificação política e territorial, a China sempre foi tolerante quanto à diversidade religiosa presente em seu território. A religião nunca se confundiu com o processo civilizatório como ocorreu no Ocidente. O confucionismo, enquanto filosofia e não religião, teve um papel fundador deste processo civilizatório pacificador e tolerante. (JABBOUR, 2021).

A China também é conhecida como Império do Meio, ou o País Central, ou seja, os chineses "[...] acostumados a serem referências civilizacionais com as nações no leste asiático, passaram a considerar os estados estrangeiros ou como tributários, ou como distantes e bárbaros." (UNZER, 2019, p. 5). Segundo seus princípios fundadores, estão acostumados, historicamente, a uma condição de estar "entre" (no Império do Meio) – mediando as relações territoriais. A China surge em torno de seu mito fundador, o Imperador Amarelo, sendo responsável por restaurar o território chinês. Portanto, restaurar e não criar, reconhecendo que a civilização chinesa não tem um início. "Perante a história, ela assoma mais como um fenômeno natural permanente do que como um Estado-nação convencional." (KISSINGER, 2012, p.13).

Ao fim de cada colapso, o Estado chinês se recompunha como que por uma lei imutável da natureza. Em cada estágio, uma nova figura unificadora emergia, seguindo em essência o exemplo do Imperador Amarelo, para subjugar seus rivais e reunificar a China (e às vezes ampliar suas fronteiras). [...] Cada período de desunião era visto como uma aberração. Cada nova dinastia recorria aos princípios de governo da dinastia precedente a fim de restabelecer a continuidade. Os preceitos fundamentais da cultura chinesa perduravam, testados pelo esforço da calamidade periódica. [...] Após 221 a.C., a China manteve o ideal de império e unidade, mas seguiu a prática de se fragmentar depois se unir, em ciclos que às vezes duravam várias centenas de anos. (KISSINGER, 2012, p. 14).

A China, em seu processo histórico, sempre buscou os princípios de unidade e pacificação do seu território. Uma dinastia era inaugurada quando a unidade territorial e a paz eram restabelecidas. Consequentemente, a ausência destes dois princípios (de unidade e pacificação) levava uma dinastia ao fim e o caos se instalava. Quase todos os impérios foram criados pela força, mas o confucionismo, que constitui o aspecto excepcional da cultura chinesa, trouxe a prerrogativa de que seus soberanos deveriam ter a capacidade de moldar o futuro, o que seria a suprema arte de governar. Ou seja, o império persiste se a repressão dá lugar ao consenso (KISSINGER, 2012. p. 19). Outra excepcionalidade, principalmente se compararmos com a lógica cristã ocidental, é que o confucionismo tem sua filosofia baseada na busca pela redenção do Estado mediante o comportamento individual correto, um pensamento que afirma um código de conduta social, não um caminho para a vida após a morte.

Hoje, a China condiciona o futuro de sua civilização ao futuro do planeta e da humanidade. Se sua origem se confunde com a origem da humanidade e da natureza, o fim da humanidade e do planeta seria também o seu fim. O atual governante chinês Xi Jinping (2021) trata, em seu discurso recente para o centenário do PCCh, sobre um mundo onde o futuro é compartilhado, assumindo a tarefa de reconstruir este futuro e reconhecendo que os problemas globais afetam o desenvolvimento da China. Deste modo, podemos entender o que motiva a defesa das vacinas contra a Covid-19 como bem público mundial, assim como os investimentos de alto risco feitos nos acordos do Belt and Road Initiative (BRI) em países economicamente e politicamente instáveis.

Segundo o diplomata brasileiro Samuel Guimarães (2020), "enquanto o império hegemônico do ocidente aposta na política de desconexão: mina multilateralismo e busca reafirmar poderio militar, a China busca o apaziguamento: estabilidade interna e parcerias comerciais do tipo ganha–ganha onde o comércio exterior e o 5G são nós imediatos." (GUIMARÃES, 2020, online). É importante destacar que Samuel Guimarães, desde o início da sua carreira, buscou resistir às interferências do que chamamos de Império (HARDT, NEGRI, 2001). Esta posição ganha destaque quando, estando ministro–chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Lula, assume contribuições de extrema relevância com relação à articulação política de consolidação do Mercosul.

A China tem se apresentado como uma alternativa ao processo civilizatório que conhecemos no ocidente, e isso tem gerado um mau estar no Império configurado por uma rede de elites ocidentais. Sua influência se expande no Sul Global ao apresentar-se como uma alternativa econômica, cultural e produtiva. A geopolítica do ganha–ganha chinês não trata de um processo de internacionalização rumo à uma nova forma de globalização, mas sim, de um processo intercivilizatório buscando um mundo onde o futuro é compartilhado nas relações Sul-Sul.

3 Relações internacionais com características chinesas e cooperação Sul-Sul

Você tem medo que a China nos supere, e eu concordo com você. Mas você sabe por que a China nos superará? Eu normalizei relações diplomáticas com Pequim em 1979, desde essa data… você sabe quantas vezes a China entrou em guerra com alguém? Nem uma vez, enquanto nós estamos constantemente em guerra. (CARTER, 2020, online)8

Segundo Guimarães (2020), os Estados Unidos e a China parecem estar se movendo em direção a uma separação política e psicológica pois, "tudo indica que a coexistência não será nem decoupling (desconexão) nem appeasement (apaziguamento), já que as economias destes dois países estão hoje, e estarão no futuro previsível, ligadas." (GUIMARÃES, 2020).

Durante a Guerra Fria, os países do planeta terra foram classificados de acordo com seus aliados em três mundos9: O Primeiro Mundo era formado pelos Estados Unidos e aliados, o Segundo Mundo pela União Soviética e aliados e o Terceiro Mundo, formado por países não-alinhados (países do Movimento dos Países Não Alinhados - MNA) ou por países neutros10.

É precisamente deste período a teorização em torno das “zonas intermediárias”, que depois se desdobra na teoria dos “três mundos”, base dos princípios da “multipolaridade” nas relações internacionais que agora ocupa o centro da política externa chinesa, fundada no peaceful development. Aliás, já este conceito remete ao início da década de 1950 quando, a propósito das “relações bilaterais acerca da região do Tibet”, o primeiro ministro Zhou Enlai propôs à delegação indiana Os Cinco Princípios da Coexistência Pacífica [...] (SILVA, 2020, p. 150).

Em sua conferência11 inaugural (1955), o MNA apresentou os "Dez Princípios de Bandung"12 que nortearam as políticas de não alinhamento e os critérios centrais para pertencer ao Movimento. Destes princípios, destaca-se o respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações, a abstenção de intervir nos assuntos internos de outro país, a abstenção de uso de pactos de defesa coletiva a serviço de interesses particulares de quaisquer grandes potências, exercer pressões sobre outros países, realizar atos ou ameaças de agressão, entre outros princípios que revelam uma resposta à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), formada 10 anos antes, em 1945.

O Movimento dos Países Não Alinhados (MNA) se opôs ao colonialismo, ao imperialismo e ao neocolonialismo e a sua política de não–alinhamento aos países do bloco Otancentrica ou Atlanticista – foi uma postura diplomática e geopolítica de equidistância das Grandes Potências, surgindo assim o movimento que chamamos atualmente de cooperação Sul-Sul. O termo tem sua origem identificar que a maioria dos países membros do MNA (e dos países neutros) estão no Sul Global, que não deve ser confundido com o hemisfério Sul. Ao se aproximarem e identificarem pautas de interesse comum, estes países estabeleceram bons acordos de cooperação entre si – cooperação Sul-Sul. De lá pra cá, esta cooperação Sul-Sul vem se consolidando via cooperação entre países emergentes (ou em desenvolvimento) como o BRICS, o IBAS e o Mercosul. Observa-se, historicamente, que a as principais características chinesas em suas relações internacionais envolve a lógica ganha-ganha, o destaque para a importância do multilateralismo, o que converge para a defesa de um não-alinhamento.

Claramente dando continuidade aos princípios do MNA, o atual Ministro Conselheiro da Embaixada da República Popular da China Qu Yuhui, em sua palestra para I Congresso Internacional "Direito e Economia Política Internacional"13 (2021), apresentou a visão atual das Políticas de Relações Internacionais da China, abordando seus principais desafios e políticas. Destaca-se nessa visão, uma diplomacia que é milenar, ainda que tradicional. Contudo, observa-se que a diplomacia chinesa é dinâmica o suficiente para se inserir em um contexto geopolítico complexo e mutante. Segundo Qu Yuhui (2021), desde 2013, o governo Xi Jinping defende a construção de um modelo de relações internacionais baseado em três pilares: respeito, justiça e cooperação. Atualizando as ideias de Xi publicadas em 2019 nos livros A Governança da China I e A Governança da China II (XI, 2019), trazemos aqui neste artigo as atuais posições da China relativas às suas propostas para relações internacionais.

Para Xi, o primeiro pilar é o respeito em um mundo diverso com uma Comunidade Internacional composta por mais de 200 países. Não é possível (e também não é desejável) que todos os países adotem o mesmo modelo de desenvolvimento e a mesma política. Não se pode estabelecer uma resposta unificada para todos os países do mundo. Não há superioridade ou inferioridade nos caminhos de desenvolvimento. Existem metas comuns, valores comuns. O desenvolvimento pacífico, a justiça, a liberdade e a democracia são valores comuns a toda a comunidade internacional, entretanto, é preciso reconhecer que cada país tem sua particularidade para elaborar seu próprio modelo de desenvolvimento.

O segundo pilar é a justiça. Qu Yuhui (2021) afirma que é preciso buscar um multilateralismo verdadeiro. Ou seja, há muitas discussões sobre a questão do multilateralismo, porém destaca-se que: (i) existe apenas um sistema no mundo; (ii) a ordem internacional é baseada nas leis internacionais, no direito internacional tendo a ONU como seu núcleo; (iii) uma ordem internacional baseada em leis é a diferença entre a diplomacia chinesa e a diplomacia de alguns países ocidentais.

Ressalta-se, portanto, que a maioria dos países ocidentais defende uma ordem internacional baseada em regras e que a China, por outro lado, defende que todos os países devem elaborar leis internacionais justas e objetivas. Ou seja, as regras, defendidas por alguns países, provocam questionamentos sobre quem vai defini-las. Já o multilateralismo defendido pela China apoia-se no direito internacional e não em regras definidas por um número muito reduzido de países.

O terceiro e último pilar é a cooperação. Se existem diferenças de interesses entre os países, assim como diferenças de interpretação do mundo, precisamos cooperar e dialogar para darmos uma resposta precisa aos novos desafios globais. É neste espírito que a China está defendendo a construção de uma comunidade de futuro compartilhado. Iniciativas como One Belt One Road (Um Cinturão Uma Rota) são exemplos de políticas internacionais concretas adotadas pela China neste momento desafiador. É neste sentido que propomos atentarmos para a questão das diversas velocidades e vetores de desenvolvimento para o Sul Global.

4 Outros vetores temporais: o Sul Global assíncrono

Yuk Hui14, formado em engenharia da computação pela Universidade de Hong Kong e em filosofia e pela Goldsmiths College de Londres, é um importante pensador contemporâneo envolvendo o debate sobre filosofia da tecnologia. Em seu livro Tecnodiversidade, publicado em 2020 no Brasil pela editora Ubu, o autor nos apresenta uma perspectiva diversa para o futuro da humanidade, e propõe a cosmotécnica como uma cosmopolítica contrapondo a visão tecnocêntrica e universal do ocidente. Segundo a definição do autor, a "[...] cosmotécnica é a unificação do cosmos e da moral por meio das atividades técnicas, sejam elas da criação de produtos ou de obras de arte. Não há apenas uma ou duas técnicas, mas muitas cosmotécnicas." (YUK, 2020, p. 39).

A principal dificuldade de toda cosmopolítica está na reconciliação entre o universal e o particular. O universal tende a contemplar os particulares do alto, da mesma forma como Kant observava a Revolução Francesa – como um espectador que assiste do camarote do teatro a uma peça violenta. A universalidade é a visão de um espectador, nunca a de um ator. (YUK, 2020, p. 26).

Yuk nos chama a atenção para o processo de universalização que é unilateral e "[...] reduz o pensamento não ocidental a mero passatempo". Entretanto, atualmente, as tecnologias militar–industriais do Sul Global estão alcançando o Ocidente" (YUK, 2020, p. 63) revertendo o processo de universalização.

A globalização unilateral que chegou ao fim está dando lugar a uma competição de acelerações tecnológicas e às tentações da guerra, da singularidade tecnológica e dos sonhos (ou delírios) transumanistas. O Antropoceno é um eixo de tempo global e de sincronização que tem como base essa visão do progresso tecnológico rumo à singularidade. Recolocar a questão da tecnologia é recusar esse futuro tecnológico homogêneo que nos é apresentado como a única opção. (YUK, 2020, p. 46).

E, neste sentido, para o autor:

Precisamos voltar à palavra “aceleração” em si mesma, já que é muito fácil se deixar enganar por uma identificação impensada entre aceleração e velocidade. Se nos lembrarmos das aulas de física no ensino médio, em que a = v-v0/t, então a aceleração é igual à variação da velocidade (de v para v0) dividida pelo tempo. V representa a velocidade vetorial, e não escalar. Enquanto a grandeza escalar apresenta apenas módulo, a grandeza vetorial também contém direção e sentido. (YUK, 2020, p. 87-88).

O Ocidente se move aceleradamente rumo à uma unificação, com a predominância em toda parte de um único sistema técnico ou, segundo Yuk Hui, rumo à uma sincronização no seu processo de modernização. Uma sincronização da técnica e da natureza impulsionado pela colonização em uma única história — um "eixo de tempo global" — como ilustrado pela figura 1.

Fig. 1: Sincronização de história e eixo de tempo global. Fonte: YUK, 2020, p. 76.

"A Terra e o cosmos foram transformados em um imenso sistema tecnológico – o ápice da ruptura epistemológica e metodológica a que chamamos de modernidade" (YUK, 2020, p. 24). A crise do Antropoceno leva a humanidade à singularidade tecnológica15, mais uma vez, um ponto de convergência no eixo do tempo global. A singularidade tecnológica, hipótese pontual na história da humanidade, é quando a máquina consciente e inteligente supera a capacidade de pensamento de todas as mentes humanas combinadas - intelligence explosion ou o Homo Deus16 apocalíptico. Este cenário apocalíptico tecnocêntrico ocidental, aponta para um futuro obscuro, para uma sociedade controlada e para um estado–super–computador onde o desemprego em massa é causado pela substituição do homem por máquinas inteligentes.

Em face dos desdobramentos distópicos recentes da tecnologia, é preciso descartar com urgência essa ideia universal da tecnologia. Para compreender a tecnologia para além desse universal, Yuk Hui invoca a busca por uma nova cosmologia, que permitiria a construção de uma olhar "de fora", que colocasse a técnica em seu devido lugar, qual seja, de apenas mais um entre os elementos da existência. Essa ideia de "cosmotécnica" é libertadora. (LEMOS, 2020, p.10).

Quando o Ocidente se (re)encontra com a China, este olhar "de fora" permite perceber que as nossas visões distópicas de futuro não são universais. A visão de que a tecnologia assume uma posição de dominação da humanidade é uma visão singular ocidental não universal. Para Yuk, "[...] não precisamos mostrar quem é mais avançado do que o outro, mas explorar os diferentes sistemas de pensamento tecnológico'' (YUK, 2020, p. 126). Há uma multiplicidade de visões sobre a tecnologia — tecnodiversidade. A China, civilização milenar, emerge no século XXI noutra velocidade, noutro sentido, noutra direção assíncrona ao Ocidente.

Por que não considerar outra forma de aceleração que não leve a velocidade a seus extremos, mas que mude a direção do movimento, que dê à tecnologia um novo referencial e uma nova orientação no que diz respeito ao tempo e ao desenvolvimento tecnológico? Caso o façamos, poderemos também imaginar uma bifurcação do futuro, que, em vez de se mover em direção ao apocalipse, se multiplica e dele se afasta? (YUK, 2020, p. 88).

Ao longo do século XX, a China construiu uma outra orientação para a velocidade do seu aceleracionismo, um processo com erros e acertos, observando de longe o Ocidente e experimentando a partir de sua filosofia e tecnologia milenar. A ascensão da China nos últimos anos é nítida, mas é ainda mais importante observar seu movimento peculiar de fechar-se e abrir-se para o Ocidente, se fortalecendo neste constante movimento. Este processo de se fechar em alguns momentos, se protegendo do processo de universalização, permitiu-lhe inserir características chinesas com estratégias políticas, sociais, econômicas, tecnológicas e culturais, distintas do Ocidente, criando o seu próprio processo de modernização.

A estratégia adotada durante o período das reformas na década de 1980 até os anos 2000 fundamentou-se no ditado de Deng Xiaoping: “observe cautelosamente, mantenha o baixo perfil, espere seu momento, enquanto obtenha algo que foi realizado”. Como lembra Li Xing, a expressão idiomática é “Tao Guang Yang Hui”, que significa “oculte o brilho e cresça na escuridão”, que em outros termos seria manter um perfil baixo no decorrer do processo de reformas e crescimento, uma escolha estratégica de esperar o momento quando a China estiver pronta para se afirmar na esfera global e estar preparada para realizar o desafio. (VADELL, 2021, p.10).

Sendo assim, após o século de humilhações, a China tirou proveito de momentos geopolíticos favoráveis para, cautelosamente, se abrir. A Grande Muralha, o Grande Canal e os sistemas de irrigação milenares do Rio Amarelo são exemplos de estratégias tecnológico–infraestruturais que protegeram, pacificaram e unificaram seu território, criando condições da civilização chinesa se fortalecer e se desenvolver. Metaforicamente se fala hoje do Great Firewall of China, para além da metáfora, é uma estratégia civilizatória milenar que se repete, conectando-se ao Ocidente com características chinesas. Com a sua Internet isolada do mundo, a China pode criar suas próprias versões de aplicativos. Sendo assim, no momento de sua abertura, já havia alcançado condições de igualdade para se posicionar globalmente. Percebe-se que há outras velocidades e direções possíveis para o seu desenvolvimento.

Talvez devêssemos atribuir ao pensamento a tarefa oposta àquela que lhe é oferecida pela filosofia iluminista: fragmentar o mundo de acordo com o diferente, em vez de universalizá-lo através do mesmo; induzir o mesmo através do diferente, em vez de deduzir o diferente a partir do mesmo. Um novo pensamento histórico-mundial precisa emergir diante do derretimento do mundo. (YUK, 2020, p. 72)

5 A tecnologia do 5G como estratégia acelerada para o desenvolvimento integrado do Sul Global

A tecnologia 5G, nova geração de comunicação móvel, permite o desenvolvimento de Sistemas Ciber–físicos17, Internet das Coisas e Computação em Nuvem. Com baixa latência, sua comunicação é confiável e, portanto, capaz de operar com segurança a comunicação máquina-a-máquina. (JARAMILLO et al., 2017). O 5G tem sido essencial para operações sofisticadas e complexas da Quarta Revolução Industrial. Esta revolução é, necessariamente, também, uma revolução no campo da Inteligência Artificial e de novos sistemas industriais–produtivos. (SASTRE et al., 2018, p. 40). O conjunto destas tecnologias disruptivas possibilitará avanços significativos nos projetos de arquitetura, urbanismo, infraestrutura e paisagismo. Smart Cities, Eco Cities, sistemas de transporte eficientes, otimização na produção e uso de energia e de água, segurança e governança digital, estão entre os avanços já identificados. É fundamental destacar que este avanço tecnológico é alimentado pelos dados produzidos pelos seres humanos, algo que Yuk (2020) denomina urbanismo digital.

O urbanismo digital que está em processo de desenvolvimento e será o tema principal da economia digital é movido pelo uso recursivo dos dados. Data, em latim, significa algo já dado, já recebido, como os dados sensoriais que determinam a queda do carrapato ou a cor vermelha da maçã diante de mim; desde meados do século XX, os dados adquiriram um novo sentido – ou seja, informação computacional – que não é mais “dado” a partir de fora, mas produzido e modulado por seres humanos. (YUK, 2020, p. 116)

O urbanismo digital é estratégico para o desenvolvimento e o futuro de qualquer Estado–nação, portanto, se insere, também, em uma disputa geopolítica e estratégica para a cooperação Sul-Sul. Esta disputa, segundo a presidenta Dilma Rousseff (2020), em fala durante um webinário - Geopolítica e Disputas Territoriais - organizado pelos autores deste artigo, é percebida nitidamente no embargo à 5G da chinesa Huawei pelo grupo Five Eyes (Aliança Cinco Olhos18). Para isso, as empresas ocidentais argumentaram que os produtos chineses possibilitam uma devassa nos dados dos demais países. Ainda, segundo Rousseff, esta narrativa torna-se sem efeito se considerarmos que a curto prazo teremos uma criptografia quântica19 que vai impedir qualquer apropriação de dados ilegalmente.

Rousseff, que foi alvo de espionagem da NSA20, incentivou a construção do cabo submarino21 dos BRICS conectando o Sul Global, sem a necessidade de utilizar hubs de comunicação na Europa ou nos Estados Unidos. A importância da regulação tecnológica pelo Estado é algo que Rousseff (2020) defende: "Vamos ter de regular e vamos ter de fazer esse movimento 'para fora' e 'para dentro' em relação ao Estado e acho que nós temos de entender que é um crime banir do Brasil a 5G! A 5G chinesa! Porque a outra não existe ainda."

Yuk (2020), assim como Rousseff (2020), nos convida a olhar "de fora", colocando a técnica em seu devido lugar. Acredita-se que é necessário buscar uma visão cosmotécnica para se compreender quais são os caminhos possíveis para o desenvolvimento, assim como olhar "para dentro" tendo o Estado como regulador.

Nesse sentido, podemos ver que a noção de 'sociedade de controle' descrita por Gilles Deleuze está muito distante do discurso de uma sociedade de vigilância - que, por sua vez, se revela de fato como uma sociedade cuja governamentalidade se baseia na autoafirmação e na autoregulamentação de sistemas automáticos. (YUK, 2020, p. 116-117)

Se a técnica e a moral estão juntas, é possível haver controle sem necessariamente a adoção de um Estado de vigilância. Apostamos na substituição de tecnologias por cosmotécnicas. Neste sentido, as tecnologias de vigilância comandada pelos grandes conglomerados capitalistas das Big Techs no ocidente, que promovem uma sociedade de controle para benefício de poucos, poderia ser substituída por uma sociedade onde a governança cosmotécnica promova o bem comum, coletivo, garantido pelo Estado.

6 Considerações finais

Neste sentido, a China é uma referência do Sul para o Sul, pois possui uma alternativa de desenvolvimento econômico que coloca a técnica no seu devido lugar, adotando uma visão cosmotécnica que identifica futuros possíveis, tendo o Estado como ator fundamental deste movimento. Pela cosmotécnica é possível ter esperança no futuro e entender que a partir do Sul Global, a sociedade de controle pode ser uma sociedade cuja governança se baseia na autoafirmação e na autoregulamentação em prol de justiça econômica e social, assumindo a diversidade em direção da cooperação entre os países.

Conclui-se que a China é uma excelente referência com relação a uma forma de colaboração global que aponta as falhas e ineficiências das instituições multilaterais internacionais, sem tentar destruí-las ou substituí-las, pois busca reformá-las e está disposta a cooperar. Em defesa de verdadeiras relações internacionais multilaterais, ela incentiva o respeito e a justiça, assumindo um papel importante na cooperação Sul-Sul. Acreditamos que assumir uma política de ganha-ganha, via cooperação entre países do Sul Global, será inevitavelmente melhor para o Brasil e para os países do Sul Global, já que as políticas de submissão ao Norte adotada por muitos países nos últimos anos, levaram à situação insustentável de desigualdade social propiciada por uma acumulação capitalista eticamente perversa. Ressalta-se que esta acumulação sem precedentes, inclui a atuação de atores principais pertencentes ao capitalismo rentista aliados às Big Techs.

É urgente dessincronizar o modo de desenvolvimento do Ocidente imperial! Eis a nossa aposta.

7 Agradecimentos

Agradecemos à PROEX da Universidade Federal de Minas Gerais pelo financiamento de nossos bolsistas de extensão e dos projetos Plataformas Tecnopolíticas e Geopolítica e Cidades, vinculados ao Programa de extensão IndLab. Também agradecemos a todos os pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação que vêm trabalhando conosco no desenvolvimento de estudos geopolíticos e territoriais dentro do grupo de pesquisa Geopolítica e Planejamento Territorial (GeoPT).

Referências

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1 Destaca-se a organização em 2020 do webinário ofertado para as duas pós-graduações da Escola de Arquitetura da UFMG denominado "Geopolítica e Disputas Territoriais" que debateu os seguintes temas que nos interessam em nossas pesquisas: “Novo Mundo Multipolar e Multilateral” e “Queda do poderio dos EUA” com os debatedores José Luis Fiori (UFRJ) e Elias Jabour (UERJ); “Ascensão do poderio da China e expansão da influência territorial da China no sudeste asiático e no mundo”, a “Dimensão territorial do desenvolvimento chinês” e a “A consolidação da Eurásia - BRICS e As Novas Rotas da Seda” com os debatedores Fábio Tozi (UFMG), Pepe Escobar (Asian Times); “O devir urbano chinês” com os debatedores Tiago Schultz (UFBA), Pasqualino Magnavita (UFBA); “Expansão da Rota da Seda no mundo e a Rota do Algodão na América Latina”, “Mercosul, Unasul e Celac e integração latinoamericana”, “Expansão da influência territorial da China, Soft Power, ZEE” com os debatedores Mônica Bruckmann (UFF) e Gilberto Libânio (UFMG); “Sociedade Civil e Filantropia no contexto da disputa entre: Império Progressista, Imperialismo Neocon e o Novo Meridionalismo incluindo a Eurásia” com o debatedor Dejan Mihailovic (México/ Sérvia); “Revolução Tecnológica 4.0 e Capitalismo de Vigilância em um novo mundo multipolar” com a debatedora e da presidenta Dilma Rousseff. Disponível em: http://geopoliticaedisputasterritoriais.geobiotecnopolitica.net/ Acesso em: 14 de Agosto de 2021.

2 Disponível em: https://ceasiaufpe.com.br/. Acesso em 13 de Novembro de 2021.

3 Pretendemos dar continuidade aos debates que disputam conceitos de desenvolvimento nacional, soberania e cooperação Sul-Sul, escapando do movimento anti-desenvolvimentista do marxismo cultural e ambiental, que vem sendo justificado pelo Antropoceno e pela singularidade tecnológica, que cria discursos que, segundo nosso ver, nos impedem de pensar o desenvolvimento como algo positivo para a economia e para a sociedade como um todo.

4 O século de humilhação, também referido como os cem anos de humilhação nacional e termos semelhantes, refere-se ao período de subjugação que a China sofreu sob o imperialismo, tanto ocidental como japonês. Desde a ascensão do nacionalismo moderno na década de 1920, o Kuomintang e o Partido Comunista Chinês usam esses conceitos para caracterizar a experiência chinesa em perdas de soberania entre 1839 a 1949. Fonte: Alison Adcock Kaufman, "The 'Century of Humiliation',Then and Now: Chinese Perceptions of 18the International Order", Pacific Focus 25.1 (2010): 1-33.

5 Samuel Pinheiro Guimarães foi secretário-geral das Relações Exteriores do Ministério das Relações Exteriores de 9 de janeiro de 2003 até 20 de outubro de 2009. Foi empossado como ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). Deixou o cargo em 31 de dezembro de 2010, no final do Governo Lula. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_Pinheiro_Guimar%C3%A3es_Neto. Acesso em: 15 de agosto de 2021..

6 China and the World in the New Era. Whitepaper, publicado em 27 de setembro de 2019 pelo The State Council Information Office of the People's Republic of China. Disponível em: http://english.www.gov.cn/archive/whitepaper/201909/27/content_WS5d8d80f9c6d0bcf8c4c142ef.html Acesso em: 5 de agosto de 2021. Estes dados também constam na CGTN, que é uma estatal chinesa controlada pelo PCCh. Os dados apresentados pela CGTN são dados de um relatório oficial do Governo Chinês. Os fatos apresentados pela CGTN foram confirmados em artigo da pesquisadora brasileira Melissa Cambuhy (CAMBUHY, 2020, online), assim como da colunista da Folha Tatiana Prazeres (PRAZERES, 2020, online), que foi conselheira sênior na direção-geral da OMC, que por sua vez, cita o secretário geral da ONU, António Guterres. Ressaltamos que os dados utilizados neste artigo tentam escapar às fontes ocidentais e trazer falas e informações advindas de atores pertencentes ao Sul Global.

7 Soft Power, no original em inglês. Termo cunhado pelo cientista político Joseph S. Nye Jr. no início dos anos 1990 para denominar os recursos ideológicos, morais ou culturais que permitem que influência seja exercida sem recurso à coerção ou a incentivos econômicos característicos do exercício do poder bruto, ou Hard Power (NYE, 2004).

8 Mensagem a Donald Trump explicando as razões do declínio americano e da ascensão da China. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2019/04/15/trump-conversa-com-ex-presidente-carter-sobre-negociacoes-com-a-china.htm/ Acesso em: 14 de Agosto de 2021.

9 Esta divisão surge da ideia de autoria de Alfred Sauvy, inspirado na proposição do Terceiro Estado da Revolução Francesa. Alfred Sauvy propunha que os países membros do chamado Terceiro Mundo deveriam se unir e revolucionar a Terra, criando um multilateralismo do ponto de vista das relações internacionais que naquele momento estavam polarizados pela Guerra Fria. Alfred Sauvy. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Sauvy Acesso em: 20 de outubro de 2021.

10 Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e México eram alguns dos países neutros que apesar de não serem membros do MNA, são considerados observadores do movimento.

11 A Conferência de Bandung, "propôs a criação de um "tribunal da descolonização" para julgar os responsáveis pela prática de políticas imperialistas, entendidas como crimes contra a humanidade, mas a ideia foi vetada pelos países centrais. Bandung deu origem a uma política de não-alinhamento - uma postura diplomática e geopolítica de equidistância das Grandes Potências -, através da qual dezenas de nações tentariam não ser transformadas em joguetes dos titãs da Guerra Fria." Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Conferência_de_Bandungue. Acesso em: 03 Ago. 2021.

12 Os dez princípios do não-alinhamento são: (1) Respeito aos direitos fundamentais; (2) Respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações; (3) Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas; (4) Não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outro país - (Autodeterminação dos povos); (5) Respeito pelo direito de cada nação defender-se, individual e coletivamente; (6) Recusa na participação dos preparativos da defesa coletiva destinada para servir aos interesses particulares das superpotências; (7) Abstenção de todo ato ou ameaça de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade territorial ou a independência política de outro país; (8) Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos (negociações e conciliações, arbitradas por tribunais internacionais); (9) Estímulo aos interesses mútuos de cooperação; (10) Respeito pela justiça e obrigações internacionais.

13 Qu Yuhui é Ministro Conselheiro da Embaixada da República Popular da China no Brasil. Mesa de Encerramento do I Congresso Internacional "Direito e Economia Política Internacional". Relações Internacionais com características chinesas e cooperação Sul-Sul. 18 de Junho de 2021. Transcrição dos autores. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mCoMWHbGXmI Acesso em: 5 Ago. 2021.

14 Research Network for Philosophy and Technology. Yuk Hui, Biography. In: Philosophy and Technology. Disponível em: http://philosophyandtechnology.network/yuk-hui/ Acesso em: 21 de outubro de 2021.

15 "Singularidade tecnológica é a hipótese que relaciona o crescimento tecnológico desenfreado da super inteligência artificial a mudanças irreversíveis na civilização humana. Segundo essa hipótese, a "reação desenfreada" de um agente inteligente atualizável com capacidade de auto-aperfeiçoamento (como um computador que executa inteligência artificial baseada em software) geraria cada vez mais rapidamente, indivíduos dotados de uma super inteligência poderosa que, qualitativamente, ultrapassa toda a inteligência humana." Extraído de: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Singularidade_tecnol%C3%B3gica Acesso em: 5 de Agosto de 2021.

16 Homo Deus é título do livro de Yuval Noah Harari que trata da dominação da humanidade pela Inteligência Artificial.

17 Um sistema ciberfísico (cyber-physical system - CPS) é um sistema composto por elementos computacionais colaborativos com o intuito de controlar entidades físicas. A geração anterior à dos sistemas ciberfísicos é geralmente conhecida como sistemas embarcados, e encontraram aplicações em áreas diversas, tais como aeroespacial, automotiva, processos químicos, infraestrutura civil, energia, saúde, manufatura, transporte, entretenimento, e aplicações voltadas ao consumidor. Sistemas embarcados, no entanto, tendem a focar mais nos elementos computacionais, enquanto que sistemas ciberfísicos enfatizam o papel das ligações entre os elementos computacionais e elementos físicos. Fonte: Sistema ciberfísico. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_ciberf%C3%ADsico Acesso em: 20 Out. 2021.

18 Aliança entre Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos para cooperação de inteligência e espionagem. Aliança Cinco Olhos. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Aliança_Cinco_Olhos Acesso em: 20 de outubro de 2021.

19 Criptografia quântica. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Criptografia_quântica Acesso em: 20 de outubro de 2021.

20 National Security Agency. https://www.nsa.gov

21 Brazil-Europe Internet cable to cost $185 million. The BRICS Post. 13 de fevereiro de 2014. Disponível em: http://www.thebricspost.com/brazil-europe-Internet-cable-to-cost-185-million/#.YRlUNC35QU4 Acesso em: 14 de Agosto de 2021.

Desynchronizing the West: new vectors of development from the South

Marcelo Maia, Natacha Rena

Marcelo Reis Maia is an Architect and Urbanist, holds a Master's and Doctor's degree in Architecture and Urbanism. He teaches at the Architecture School of the Federal University of Minas Gerais, Brazil, where he conducts research about Architecture, Urbanism, and Design, focusing on technopolitics, geopolitics, and territory, landscape and environment, chinese urbanism and instant urbanism. He is a member of the Indisciplinar research group and the extrension program IND.LAB - Nomadic Common Laboratory of the Federal University of Minas Gerais, Brazil. marcelo.maia@gmail.com http://lattes.cnpq.br/2122259751390693

Natacha Silva Araújo Rena is an Architect and Urbanist, and a Doctor in Communication and Semiotics. She teaches at the Architecture and Design School and Graduate Program in Architecture and Urbanism of the Federal University of Minas Gerais, Brazil. She coordinates the Indisciplinar research group and the extrension program IND.LAB - Nomadic Common Laboratory of the Federal University of Minas Gerais, Brazil. She studies the topics of geopolitics and territory, cartographies of urban struggles, contemporary architecture, and ibero-american collectives. natacharena@gmail.com http://lattes.cnpq.br/5202973767095132


How to quote this text: Maia, M. R.; Rena, N. S. A., 2021. Desynchronizing the West: new vectors of development from the South. V!RUS, 23, December. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus23/?sec=4&item=2&lang=en>. [Accessed: 15 October 2024].

ARTICLE SUBMITTED ON AUGUST, 15, 2021


Abstract

This article presents a cosmopolitical vision of a shared future in South-South international relations, considering different speeds and vectors of territorial development. As a political bet, we adopted a methodology that starts from a multiplicity of views, mainly using references from the Global South. In the first part of the text, we seek to briefly present the civilization-state China from the perspectives of its current leader, Xi Jinping (2020, 2021), the Brazilian diplomat Samuel Pinheiro Guimarães (2020), and American diplomat Henry Kissinger (2012). We also use as a reference contemporary thinkers such as the Chinese Hu Angang (2017, 2020), Brazilian authors such as Elias Jabbour (2020), and the Argentine thinker Javier Vadell (2021). We follow this analysis of international relations, with Chinese characteristics and South-South cooperation, using contributions from the Minister-Counselor of the Chinese Embassy in Brazil, Qu Yuhui (2021). In the second part of the text, we carry out a reflection based on the concept of cosmotechnics, developed by the Chinese philosopher Yuk Hui (2020), who observes technology to recover our ability to shape the future. We conclude by pointing out challenges for the Global South involving South-South cooperation, where 5G has been a fundamental node to leverage development and, at the same time, reinforce the sovereignty of the countries involved.

Keywords: Geopolitics, Development, Cosmotechnics, Chinese characteristics, Technodiversity



1 Introduction

Since 2020, when we created the study group “Geopolítica e Território” (Geopolitics and Territory) to carry out studies on territorial development with characteristics focused on infrastructure, mobility and logistics, as well as digital infrastructure, the new Chinese mode of urbanization has become the main reference for our investigation. When we started a bibliographical review that connected national themes to development themes along the Chinese lines, we realized that little material had been produced in this sense, since the dizzying economic, political and urban development of China is very recent.

Therefore, part of the methodology adopted for the writing of this first article that we carried out on the subject is composed of a review of a basic bibliography, involving the main Brazilian authors who approach development with Chinese characteristics, which include, with emphasis, everyday thinkers and interlocutors for our study group, as is the case of the duo Elias Jabbour (2020) and Javier Vadell (2021). To complement this bibliographical review, which has been produced in real time since the global geopolitical game is happening at an ultra fast pace, we decided to include the production of academic activities such as webinars1 and disciplines that have been helping us to raise primary sources of information on geopolitics involving China and Eurasia as a whole. We have built a large database based on research carried out by undergraduate students who have been supporting us with real and everyday cases involving territorial development in China and along the Silk Road throughout Asia, Africa, the Middle East and Europe.

Another factor that makes up our research methodology has been to monitor in real time several Brazilian and Chinese sources of information, from the most popular podcasts such as “Pagode Chinês2, to academic and institutional seminars organized by “Ceasia”3 or by “Observa China4. From there, we establish dialogues and build, based on the exchange of information, a series of research axes that unfold between the works of our undergraduate, master's and doctoral students. Finally, we created a Research Group called “Geopolítica e Planejamento Territorial” (Geopolitics and Territorial Planning) to consolidate this field of investigation and organize our research by axes and groups of researchers with related themes. Since then, we already have two doctoral researches that started this year, addressing the themes (i) of Chinese urban development, (ii) the Silk Road and its (iii) relationship with Latin America, which end up being the center of analytical and political categories to be considered in our studies.

For some time now, we have been interested in Chinese peculiarities, ranging from the production of thought-provoking contemporary architecture to a speed never seen before in the construction of buildings and entire cities. Paying attention to high technology applied to the urban environment, transport systems and intelligent controls for public services. Seduced by the Silk Road, we weave paths that connect the West to the East and arrive at the Middle Kingdom. We are fascinated, like Marco Polo, to discover another civilization. Since then, we have sought to understand its history, but mainly its founding aspects: cultural, philosophical and technological. We arrived in 21st century China and asked ourselves: "Why, looking at China, cannot humanity live in times of great hope?" (Jabbour, 2020, p. 33, our translation). "We are faced with a new model called 'socialism with Chinese characteristics', which took China along a sui generis trajectory that overlaps territorial, demographic and social characteristics, never relinquishing sovereignty in its process of ascension." (Vadell, 2021, p. 11, our translation).

In this paper, we seek to understand Chinese characteristics as a concrete alternative for the development of the Global South in "a world with a shared future" (Xi, 2021, our translation). Therefore, it is an introductory text carried out by four hands, which reveals an initial stage of a new path of investigation that we are trying to build, learning and creating bifurcations in the global time axis. Based on the ideas of the thinker Yuk Hui (2020), we sought to draw a line of scape from a synchronous imperial time, as it interests us, as part of the Global South, to assume our place as belonging to a group of developing countries5.

2 About the Civilization–State China

The Chinese nation is a great nation. With a history spanning over 5,000 years, China has made indelible contributions to the progress of human civilization. After the Opium War of 1840, however, China was gradually reduced to a semi-colonial and semi-feudal society and suffered greater ravages than ever before. The country suffered intense humiliation6,, the people were subjected to great pain, and Chinese civilization was plunged into darkness. Since that time, national rejuvenation has been the greatest dream of the Chinese people and the Chinese nation. (Xi, 2021, our translation).

The great Chinese dream is the revitalization of its culture, state and civilization through territorial unity. Since 1978, China has undergone an accelerated modernization process thanks to "the radical, but gradual and experimental reorientation, commanded by Deng Xiaoping, of the economic policy of the People's Republic of China based on external opening, the attraction of multinational capital and the economy market.” (Guimarães7, 2020, online, our translation). This accelerated process has placed this civilization-State at the center of geopolitics and made it a world reference in technology, industrial innovation and sustainable development. Under the leadership of the Chinese Communist Party (CCP), China has achieved its first century goal of becoming a moderately prosperous society, bringing a historic resolution to the problem of absolute poverty at the completion of its 13th Five-Year Plan (2016-2020). In these five years, China has lifted more than fifty-five million people out of poverty and its Gross Domestic Product (GDP) has surpassed the one hundred trillion yuan mark (CGTN, 2020) online)8 and China became the first developing country to achieve the goal of poverty reduction as set out in the United Nations Millennium Development Goals. In light of this achievement, the UN Secretary General, António Guterres, praised China as the country that contributed the most to the reduction of global poverty (Cambuhy, 2020).

According to the World Bank, China has rescued more than 850 million people from poverty since economic reforms began in 1978 (Prazeres, 2020).

Chinese growth began in the 1980s, but began to impact the world throughout the 1990s, consolidating at the end of the first decade of the 21st century, when it became the second economy in the world. […] After Mao Tse-Tung's death, Deng Xiaoping assumed power in 1978. The pragmatism that followed is condensed in the spirit of the period's slogan: “It doesn't matter whether the cat is black or white, as long as he takes the mouse". The reforms that followed were centered on establishing a policy of economic development, changing the course of socialism in China and outlining a new project to develop the country through economic liberalization, while preserving the socialist orientation and leadership of the Communist Party. The goal was to transform China from a poor country (at the time with more than 60% of the population living on less than $1 a day) into a rich and powerful nation in the 21st century. (Moreno, 2015, p.13-14, our translation).

Hu Angang (2011), Chinese academic, founder and director of the think tank CAS (Center for China Studies), at Tsijnghua University in Beijing, is one of the intellectuals responsible for shaping the CCP's domestic policy and international relations. Hu Angang, in his texts, develops two themes to present China as a new type of superpower: its optimism and its exceptionalism. According to Kissinger (2012, p.17), Chinese exceptionalism is cultural, as China does not proselytize and does not claim that its contemporary institutions are relevant outside it. By contrast, American exceptionalism is missionary. According to his doctrine, the United States has an obligation to disseminate its values to the world. In the Chinese version of exceptionalism, China does not export its ideas but lets others pursue them.

For Hu Angang (2011), thanks to achievements in education, innovation and clean energy, China emerges as a mature, responsible and attractive superpower. This new type of superpower is not intended to compete with the hegemonic empires of the West to become a unilateral leader of the world. According to Hu Angang (2011), China seeks multilateralism and wants to cooperate with other superpowers in global economic, political, energy and environmental challenges. Since the 12th Five-Year Plan, China has been pursuing clean and energy-efficient development, as it already knew that in order to maintain its growth rate and the good of the population, these policies would be fundamental. Today, when observing the productive, urban and environmental development of China, we identify the positive results of this policy goal elaborated ten years ago (Hu, 2011). The results obtained at the end of the 13th five-year plan are consequences of political decisions taken in previous plans, that is, they are related to an accumulation of objectives. The 14th Five-Year Plan advances with several goals, including (CGTN, 2020):

+ Uphold the central role of innovation in its modernization drive and implement an innovation-driven strategy.

+ Build a modern industrial system and upgrade the economic structure. It will continue to support the real economy, improve manufacturing power and modernize the industrial and supply chain to improve high-quality growth and core competitiveness.

+ Prioritize the development of agriculture and rural areas and fully advancing rural vitalization.

+ Advance coordinated regional development and a new type of urbanization.

+ Promote the cultural sector and improve its cultural soft power9.

+ Accelerate green and low-carbon development, continuously improve the environment and quality and stability of ecosystems and raise the efficiency of resource utilization.

+ It will continue to widen the opening-up and leverage the advantages of its huge market to promote international cooperation and achieve win-win results.

China is a civilization that emerged over five thousand years ago within a process of sedentarization of nomadic tribes. For more than three thousand years there have been commercial exchanges in its territory. Historical perspective reveals that, until the end of the 18th century, China and India were the largest economies in the world, before the transformations of the Industrial Revolution in Europe (Unzer, 2019, p. 1). The productive technology in agriculture emerged about two thousand years ago with the invention of the ox plow and the construction of channels for navigation, control of floods and irrigation of crops. Its great wall protected and unified its rural-productive territory, and a system of navigable canals united north and south, allowing for secure commercial exchanges within its unified territory (Jabbour, 2021).

According to Elias Jabbour (2021), China, at its origin, is developmental. It is a civilization born between two great rivers, fed by Himalayan thaw, frequently hit by floods, among other natural tragedies, and attempted invasions. Its leadership in the global context, since then, has been able to intervene in reality, elaborating and executing projects that pacified and unified its territory, affirming its millenary civilization process. Jabbour (2021) further highlights the unification of language and the invention of paper money in a single monetary system. Despite political and territorial unification, China has always been tolerant of the religious diversity present in its territory. Religion has never been confused with the civilizing process as it happened in the West. Confucianism, as a philosophy and not a religion, had a founding role in this pacifying and tolerant civilizing process. (Jabbour, 2021).

China is also known as the Middle Kingdom, or the Central Country, that is, the Chinese "[...] used to being civilizational references with the nations in East Asia, began to consider foreign states either as tributaries, or as distant and barbaric." (Unzer, 2019, p.5, our translation). According to their founding principles, they are historically accustomed to a condition of being "in between" (in the Middle Kingdom) – mediating territorial relations. China arises around its founding myth, the Yellow Emperor, being responsible for restoring Chinese territory. Therefore, restoring and not creating, recognizing that Chinese civilization does not have a beginning. "It appears in history less as a conventional nation-state than a permanent natural phenomenon" (Kissinger, 2012, p. 5).

After each collapse, the Chinese state reconstituted itself as if by some immutable law of nature. At each stage, a new uniting figure emerged, following essentially the precedent of the Yellow Emperor, to subdue his rivals and reunify China (and sometimes enlarge its bounds). […] Each period of disunity was viewed as an aberration. Each new dynasty reached back to the previous dynasty’s principles of governance in order to reestablish continuity. The fundamental precepts of Chinese culture endured, tested by the strain of periodic calamity. […] After 221 B.C., China maintained the ideal of empire and unity but followed the practice of fracturing, then reuniting, in cycles sometimes lasting several hundred years. (Kissinger, 2012, p. 6).

China, in its historical process, has always sought the principles of unity and pacification of its territory. A dynasty use to be inaugurated when territorial unity and peace were re-established. Consequently, the absence of these two principles (of unity and peace) brought a dynasty to an end and chaos ensued. Almost all empires were created by force, but Confucianism, which constitutes the exceptional aspect of Chinese culture, brought the prerogative that its sovereigns should have the capacity to shape the future, which would be the supreme art of government. In other words, the empire persists if repression gives way to consensus (Kissinger, 2012, p. 13). Another exceptionality, especially if compared to Western Christian logic, is that Confucianism has its philosophy based on the search for the redemption of the State through correct individual behavior, a thought that affirms a code of social conduct, not a path to life after the death.

Today, China conditions the future of its civilization to the future of the planet and humanity. If its origin is confused with the origin of humanity and nature, the end of humanity and the planet would also be its end. The current Chinese ruler Xi Jinping (2021) deals, in his recent speech for the centenary of the CCP, about a world where the future is shared, taking on the task of rebuilding this future and recognizing that global problems affect China's development. In this way, we can understand what motivates the defense of vaccines against Covid-19 as a global public good, as well as the high-risk investments made in the Belt and Road Initiative (BRI) agreements in economically and politically unstable countries.

According to Brazilian diplomat Samuel Guimarães (2020), "while the hegemonic Western empire bets on a policy of disconnection: it undermines multilateralism and seeks to reaffirm military power, China seeks appeasement: internal stability and win-win trade partnerships where trade exterior and the 5G are immediate focus." (Guimarães, 2020, our translation). It is important to highlight that Samuel Guimarães, since the beginning of his career, sought to resist the interference of what we call "Empire" (Hardt and Negri, 2000). This position is highlighted when, as the chief minister of the Lula Government's Strategic Affairs Secretariat, he assumes extremely important contributions in relation to the political articulation for the consolidation of Mercosur.

China has presented itself as an alternative to the civilizatory process we know in the West, and this has generated a feeling of discomfort in the Empire configured by a network of Western elites. Its influence expands in the Global South as it presents itself as an economic, cultural and productive alternative. The Chinese's win-win geopolitics is not about a process of internationalization towards a new form of globalization, but about an intercivilizatory process seeking a world where the future is shared in South-South relations.

3 International relations with Chinese characteristics and South-South cooperation

Since 1979, do you know how many times China has been at war with anybody? None. And we have stayed at war. The U.S. has only enjoyed 16 years of peace in its 242-year history, making the country the most warlike nation in the history of the world. How many miles of high-speed railroad do we have in this country? While China has some 18,000 miles of high-speed rail, the U.S. has wasted, I think, $3 trillion on military spending. China has not wasted a single penny on war, and that's why they're ahead of us. In almost every way. (Carter, 2019)10

According to Guimarães (2020), the United States and China seem to be moving towards a political and psychological separation because, "everything indicates that coexistence will be neither decoupling nor appeasement, since their economies are today, and will be for the foreseeable future, linked." (Guimarães, 2020, our translation).

During the Cold War, countries on planet earth were classified according to their allies into three worlds11: The First World was formed by the United States and allies, the Second World by the Soviet Union and allies, and the Third World, formed by non-aligned (Non-Aligned Movement - NAM) or by neutral countries12.

It is precisely from this period that the theorization around the “middle zones”, which later unfolds into the theory of the “three worlds”, the basis of “multipolarity” principles in international relations, which now occupies the center of Chinese foreign policy, founded on peaceful development . By the way, this concept goes back to the beginning of the 1950s when, with regard to “bilateral relations about the Tibet region”, Prime Minister Zhou Enlai proposed to the Indian delegation The Five Principles of Peaceful Coexistence [...] (Silva, 2020, p. 150, our translation).

In its inaugural conference13 (1955), the NAM presented the "Ten Principles of Bandung"14 that guided the policies of non-alignment and the central criteria for belonging to the Movement. Of these principles, we highlight respect for the sovereignty and territorial integrity of all nations, refrain from intervening in the internal affairs of another country, refrain from using collective defense pacts in the service of the particular interests of any great powers, exerting pressure on other countries, carrying out acts or threats of aggression, among other principles that reveal a response to NATO (North Atlantic Treaty Organization), formed 10 years earlier, in 1945.

The Movement of Non-Aligned Countries (NAM) opposed colonialism, imperialism and neocolonialism and its policy of non-alignment with Northern countries – was a diplomatic and geopolitical posture of equidistance of the Great Powers, thus giving rise to the South-South cooperation movement. The term has its origin by identifying that most NAM member countries (and neutral countries) are in the Global South, which should not be confused with the Southern hemisphere. By approaching and identifying agendas of common interest, these countries established good agreements of cooperation among themselves – South-South cooperation. Since then, this South-South cooperation has been consolidated via cooperation between emerging (or developing) countries such as the BRICS, IBSA and Mercosur. It is observed, historically, that the main Chinese characteristics in its international relations involve the win-win logic, the emphasis on the importance of multilateralism, which converges to the defense of non-alignment.

Clearly continuing the principles of the NAM, the current Minister Counselor of the Embassy of the People's Republic of China Qu Yuhui, in his lecture at the I International Congress "Law and International Political Economy"15 (2021), presented the current vision of International Relations of China, addressing its main challenges and policies. In this vision, a diplomacy that is millenary, albeit traditional, stands out. However, it is observed that Chinese diplomacy is dynamic enough to be inserted in a complex and changing geopolitical context. According to Qu Yuhui (2021), since 2013, the Xi Jinping government has defended the construction of a model of international relations based on three pillars: respect, justice and cooperation. Updating Xi's ideas published in 2014 in the book The Governance of China (Xi, 2014), we bring here in this article China's current positions regarding its proposals for international relations.

For Xi, the first pillar is respect in a diverse world with an International Community made up of more than 200 countries. It is not possible (and also not desirable) for all countries to adopt the same development model and the same policy. A unified answer cannot be established for all countries in the world. There is no superiority or inferiority in developmental paths. There are common goals, common values. Peaceful development, justice, freedom and democracy are values common to the entire international community, however, it is necessary to recognize that each country has its particularity in order to elaborate its own development model.

The second pillar is justice. Qu Yuhui (2021) states that it is necessary to seek true multilateralism. In other words, there are many discussions on the issue of multilateralism, but it is highlighted that: (i) there is only one system in the world; (ii) the international order is based on international law, on international law with the UN at its core; (iii) a law-based international order is the difference between Chinese diplomacy and the diplomacy of some Western countries.

It is noteworthy, therefore, that most Western countries defend an international order based on rules and that China, on the other hand, defends that all countries must elaborate fair and objective international laws. In other words, the rules, defended by some countries, raise questions about who will define them. The multilateralism defended by China is based on international law and not on rules defined by a very small number of countries.

The third and last pillar is cooperation. If there are differences in interests between countries, as well as differences in the interpretation of the world, we need to cooperate and dialogue to give a precise response to new global challenges. It is in this spirit that China is advocating for building a community with a shared future. Initiatives such as One Belt One Road are examples of concrete international policies adopted by China at this challenging time. It is in this sense that we propose to pay attention to the issue of the different speeds and vectors of development for the Global South.

4 Other temporal vectors: the asynchronous Global South

Yuk Hui16, a computer engineering graduate from the University of Hong Kong and a philosophy graduate from Goldsmiths College London, is a leading contemporary thinker in the philosophy of technology debate. In his book Tecnodiversidade, published in 2020 in Brazil by Ubu publishing house, the author presents us with a different perspective for the future of humanity, and proposes cosmotechnics as a cosmopolitics opposing the technocentric and universal vision of the West. According to the author's definition, "[...] cosmotechnics is the unification of the cosmos and morals through technical activities, whether they are the creation of products or works of art. There are not just one or two techniques, but many cosmotechnics." (Yuk, 2020, p. 39, our translation).

The main difficulty of all cosmopolitics is in the reconciliation between the universal and the particular. The universal tends to contemplate particulars from above, just as Kant observed the French Revolution – like a spectator watching a violent play from the box of the theater. Universality is the vision of a spectator, never that of an actor. (Yuk, 2020, p. 26, our translation).

Yuk draws our attention to the universalization process that is one-sided and "[...] reduces non-Western thinking to mere pastime". However, currently, military-industrial technologies from the Global South are catching up to the West" (Yuk, 2020, p. 63, our translation) reversing the universalization process.

The unilateral globalization that has come to an end is giving way to a competition of technological accelerations and the temptations of war, technological uniqueness and transhumanist dreams (or delusions). The Anthropocene is a global time axis and synchronization based on this vision of technological progress towards singularity. Reposition the question of technology is to refuse this homogeneous technological future that is presented to us as the only alternative. (Yuk, 2020, p. 46, our translation).

And, in this sense, for the author:

We need to get back to the word “acceleration” itself, as it's all too easy to be misled into a thoughtless identification between acceleration and velocity. If we remember from high school physics classes where a = v-v0/t, then acceleration is equal to the change in velocity (from v to v0) divided by time. V represents velocity, not scalar. While the scalar quantity has only modulus, the vector quantity also contains sense and direction. (Yuk, 2020, p.87-88, our translation).

The West is rapidly moving towards unification, with the predominance everywhere of a single technical system or, according to Yuk Hui, towards a synchronization in its modernization process. A synchronization of technique and nature driven by colonization into a single story — a "global time axis" — as illustrated by Figure 1.

Fig. 1: Global time axis and history synchronization. Source: Yuk, 2020, p. 76.

"The Earth and the cosmos were transformed into an immense technological system – the apex of the epistemological and methodological rupture that we call modernity" (Yuk, 2020, p. 24, our translation). The Anthropocene crisis brings humanity to technological singularity17, once again, a point of convergence on the global time axis. Technological singularity, a punctual hypothesis in human history, is when the conscious and intelligent machine surpasses the thinking capacity of all human minds combined - intelligence explosion or the apocalyptic Homo Deus18. This technocentric western apocalyptic scenario points to a dark future, to a controlled society and to a super-computer-Estate where mass unemployment is caused by the replacement of man by intelligent machines.

In the face of recent dystopian developments in technology, this universal idea of technology must urgently be discarded. To understand technology beyond this universal, Yuk Hui invokes the search for a new cosmology, which would allow the construction of an "outside" look, that puts the technique in its proper place, that is, just one more among the elements of existence. This idea of "cosmotechnics" is liberating. (Lemos, 2020, p. 10, our translation).

When the West (re)meets China, this "outside" look allows us to realize that our dystopian visions of the future are not universal. The view that technology assumes a position of dominating humanity is a singular Western view that is not universal. For Yuk, "[...] we don't need to show who is more advanced than the other, but explore the different systems of technological thinking'' (Yuk, 2020, p. 126, our translation). There are a multiplicity of views on technology — technodiversity. China, a millenary civilization, emerges in the 21st century with a different speed, in another sense, in another direction asynchronous to the West.

Why not consider another form of acceleration that does not push speed to its extremes, but that changes the direction of movement, that gives technology a new frame of reference and a new orientation with respect to time and technological development? If we do, can we also imagine a fork in the future, which, instead of moving towards the apocalypse, multiplies and moves away from it? (Yuk, 2020, p. 88, our translation).

Throughout the 20th century, China built another orientation towards the speed of its accelerationism, a process with mistakes and successes, observing the West from afar and experimenting with its millenary philosophy and technology. The rise of China in recent years is clear, but it is even more important to note its peculiar movement of close and open to the West, gaining strength in this constant movement. This process of closing itself at times, protecting itself from the universalization process, allowed it to insert Chinese characteristics with political, social, economic, technological and cultural strategies, distinct from the West, creating its own modernization process.

The strategy adopted during the period of reforms in the 1980s until the 2000s was based on the saying of Deng Xiaoping: “watch carefully, keep your profile low, wait for your moment, while you get something that has been accomplished”. As Li Xing reminds us, the idiom is “Tao Guang Yang Hui”, which means “hide the brightness and grow in the dark”, which in other terms would be to maintain a low profile during the process of reforms and growth, a strategic choice of wait for the moment when China is ready to assert itself in the global sphere and be prepared to take on the challenge. (Vadell, 2021, p. 10, our translation).

Thus, after a century of humiliations, China took advantage of favorable geopolitical moments to cautiously open up. The Great Wall, the Grand Canal and the millenary irrigation systems of the Yellow River are examples of technological-infrastructural strategies that protected, pacified and unified its territory, creating conditions for Chinese civilization to strengthen and develop. Metaphorically, we speak today of the "Great Firewall of China", beyond the metaphor, it is an ancient civilizational strategy that is repeated, connecting itself to the West with Chinese characteristics. With its Internet isolated from the world, China can create its own versions of apps. Thus, at the time of its opening, it had already achieved equal conditions to position itself globally. It is noticed that there are other possible speeds and directions for its development.

Perhaps we should assign to thought the opposite task to that offered to it by Enlightenment philosophy: to fragment the world according to what is different, instead of universalizing it through it; inducing the same through the different, instead of deducing the different from the same. A new world-historical thought needs to emerge in the face of the melting of the world. (Yuk, 2020, p. 72, our translation)

5 5G technology as an accelerated strategy for the integrated development of the Global South

The 5G technology, new generation of mobile communication, allows the development of Cyber-physical Systems19, Internet of Things and Cloud Computing. With low latency, its communication is reliable and therefore able to safely operate machine-to-machine communication. (Jaramillo et al., 2017). 5G is essential to the sophisticated and complex operations of the Fourth Industrial Revolution. This revolution is, necessarily, also a revolution in the field of Artificial Intelligence and new industrial-productive systems. (Sastre et al., 2018, p. 40). The set of these disruptive technologies will enable significant advances in architecture, urbanism, infrastructure and landscaping projects. Smart cities, eco cities, efficient transport systems, optimization in the production and use of energy and water, public safety and digital governance are among the advances already identified. It is essential to highlight that this technological advance is fueled by data produced by human beings, something that Yuk (2020) calls digital urbanism.

Digital urbanism, which is in the process of development and will be the main theme of the digital economy, is driven by the recursive use of data. Data in Latin means something already given, already received, like the sensory data that determines the fall of the tick or the red color of the apple in front of me; since the mid-twentieth century, data has acquired a new meaning – that is, computational information – which is no longer “given” from outside, but produced and modulated by human beings. (Yuk, 2020, p. 116, our translation)

Digital urbanism is strategic for the development and future of any nation-state, therefore, it is also part of a geopolitical and strategic dispute for South-South cooperation. This dispute, according to President Dilma Rousseff (2020), speaking during a webinar – "Geopolítica e Disputas Territoriais" – organized by the authors of this article, is clearly perceived in the Chinese Huawei's embargo on 5G by the Five Eyes20alliance. For this, Western companies argued that Chinese products allow for a lewdness in the data of other countries. Still, according to Rousseff, this narrative becomes without effect if we consider that in the short term we will have a quantum cryptography21 that will prevent any illegal appropriation of data.

Rousseff, who was the target of NSA22espionage, encouraged the construction of the BRICS submarine cable23 connecting the Global South, without the need to use communication hubs in Europe or the United States. The importance of technological regulation by the State is something that Rousseff (2020) defends: "We will have to regulate and we will have to make this movement 'outwards' and 'inwards' in relation to the State and I think we have to understand that it is It's a crime to ban 5G from Brazil! The Chinese 5G! Because the other doesn't exist yet.” (Rousseff, 2020, our translation)

Yuk (2020), as well as Rousseff (2020), invites us to look "from the outside", putting the technique in its proper place. It is believed that it is necessary to seek a cosmotechnical vision to understand what are the possible paths to development, as well as looking "inside" with the State as a regulator.

In this sense, we can see that the notion of 'control society' described by Gilles Deleuze is very far from the discourse of a surveillance society - which, in turn, actually reveals itself as a society whose governmentality is based on self-assertion and self-regulation of automatic systems. (Yuk, 2020, p. 116-117, our translation)

If technique and morality are together, it is possible to have control without necessarily adopting a surveillance State. We are committed to replacing technologies with cosmotechnics. In this sense, the surveillance technologies commanded by the big Big Techs conglomerates in the West, which promote a society of control for the benefit of a few, could be replaced by a society where cosmotechnic governance promotes the common, collective good, guaranteed by the State.

6 Final considerations

In this sense, China is a South reference for the South, as it has an alternative for economic development that puts technology in its proper place, adopting a cosmotechnical vision that identifies possible futures, with the State as a fundamental actor in this movement. Through cosmotechnics, it is possible to hope for the future and understand that from the Global South, the control society can be a society whose governance is based on self-assertion and self-regulation in favor of economic and social justice, assuming diversity towards cooperation between the countries.

We conclude that China is an excellent reference regarding a form of global collaboration that points out the failures and inefficiencies of international multilateral institutions without trying to destroy or replace them. It seeks to reform them and is willing to cooperate. In defense of true multilateral international relations, it encourages respect and justice, playing an important role in South-South cooperation. We believe that taking on a win-win policy, via the cooperation between countries in the Global South, will inevitably be good for Brazil and the countries of the Global South, as the policies of submission to the North adopted by many countries in recent years have led to an unsustainable situation of social inequality brought about by an ethically perverse capitalist accumulation. It is noteworthy that this unprecedented accumulation includes the performance of main actors belonging to rentier capitalism allied to the Big Techs.

It is urgent to desynchronize the imperial West's mode of development! Here's our bet.

7 Acknowledgment

We would like to thank PROEX from the Federal University of Minas Gerais, Southeast Brazil, for funding our scholarship students at "Plataformas Tecnopolíticas" and "Geopolítica e Cidades" projects, linked to the IndLab's University Extension Program. We also thank all researchers, undergraduate and graduate students who have been working with us in the development of geopolitical and territorial studies within the "Geopolítica e Planejamento Territorial" (GeoPT) research group.

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1 A highlight was the organization in 2020 of the webinar called "Geopolítica e Disputas Territoriais" (Geopolitics and Territorial Disputes), which debated the following topics that interest us in our research: "New Multipolar and Multilateral World" and " Fall of US power” with the guests José Luis Fiori (UFRJ) and Elias Jabour (UERJ); "The Rise of China's Power and Expansion of China's Territorial Influence in Southeast Asia and the World", the "Territorial Dimension of Chinese Development" and "The Consolidation of Eurasia - BRICS and The New Silk Roads" with the guests Fábio Tozi (UFMG), Pepe Escobar (Asian Times); “The urban becoming in China” with the guests Tiago Schultz (UFBA), Pasqualino Magnavita (UFBA); “Expansion of the Silk Road in the world and the Cotton Road in Latin America”, “Mercosur, Unasur and Celac and Latin American integration”, “Expansion of the territorial influence of China, Soft Power, ZEE” with the guests Mônica Bruckmann (UFF) and Gilberto Libânio (UFMG); “Civil Society and Philanthropy in the context of the dispute between: Progressive Empire, Neocon Imperialism and New Southernism including Eurasia” with the guest Dejan Mihailovic (Mexico/Serbia); “Technological Revolution 4.0 and Surveillance Capitalism in a new multipolar world” with the guest president Dilma Rousseff. This webinar was carried out by the graduate programs held at Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte, Southeast Brazil. Available at http://geopoliticaedisputasterritoriais.geobiotecnopolitica.net/ [Accessed 14 Aug. 2021]

2 Available at https://open.spotify.com/show/1ZxCoY7LXFKNHEBIrDpWfT. [Accessed 14 Aug. 2021]

3 Available at https://ceasiaufpe.com.br/. [Accessed 14 Aug. 2021]

4 Available at http://observachina.com. [Accessed 14 Aug. 2021]

5 We intend to continue the debates that dispute concepts of national development, sovereignty and South-South cooperation, escaping from the anti-development movement of cultural and environmental Marxism, which has been justified by the Anthropocene and technological singularity, which creates discourses that, in our view , prevent us from thinking of development as something positive for the economy and for society as a whole.

6 The century of humiliation, also known as the hundred years of national humiliation, is the term used in China to describe the period of intervention and subjugation of the Qing dynasty and the Republic of China by Western powers and Japan from 1839 to 1949. Available at https://en.wikipedia.org/wiki/Century_of_humiliation [Accessed 30 Nov. 2021]

7 Samuel Pinheiro Guimarães was General Secretary for Foreign Affairs at the Ministry of Foreign Affairs from January 9, 2003 to October 20, 2009. He was sworn in as Chief Minister of the Secretariat for Strategic Affairs of the Presidency of the Republic (SAE). He left office on December 31, 2010, at the end of the Lula administration. Available at https://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_Pinheiro_Guimar%C3%A3es_Neto. [Access 15 Aug. 2021].

8 China and the World in the New Era. Whitepaper, published September 27, 2019 by The State Council Information Office of the People's Republic of China. Available at http://english.www.gov.cn/archive/whitepaper/201909/27/content_WS5d8d80f9c6d0bcf8c4c142ef.html [Accessed: 5 Aug. 2021] These data are also presented by the CGTN, which is a Chinese state-owned company controlled by the CCP . The data presented by CGTN are data from an official report of the Chinese Government. The facts presented by CGTN were confirmed in an article by the Brazilian researcher Melissa Cambuhy (Cambuhy, 2020), as well as by the columnist at the newspaper Folha de São Paulo, Tatiana Prazeres (Prazeres, 2020), who was a senior advisor to the General Directorate of the WTO, who, in turn, quotes the UN secretary general, António Guterres. We emphasize that the data used in this article try to escape from Western sources and bring speeches and information from actors belonging to the Global South.

9 Soft Power is the ability to get what you want through attraction rather than coercion or payments. It arises from the attractiveness of a country’s culture, political ideals, and policies. When our policies are seen as legitimate in the eyes of others, our soft power is enhanced. (NYE, 2004).

11 French demographer, anthropologist and historian Alfred Sauvy, in an article published in the French magazine L'Observateur, August 14, 1952, coined the term third world (tiers monde), referring to countries that were playing little role on the international scene. His usage was a reference to the Third Estate (tiers état), the commoners of France who, before and during the French Revolution, opposed the clergy and nobles, who composed the First Estate and Second Estate, respectively (hence the use of the older form tiers rather than the modern troisième for "third"). Sauvy wrote, "This third world ignored, exploited, despised like the third estate also wants to be something.” In the context of the Cold War, he conveyed the concept of political non-alignment with either the capitalist or communist bloc. Simplistic interpretations quickly led to the term merely designating these unaligned countries. Available at https://en.wikipedia.org/wiki/Third_World [Accessed 30 Nov. 2021]

12 Brazil, Uruguay, Argentina, Paraguay and Mexico were some of the neutral countries that, despite not being members of the NAM, are considered observers of the movement.

13 The Bandung Conference "proposed the creation of a "decolonization court" to judge those responsible for the practice of imperialist policies, understood as crimes against humanity, but the idea was vetoed by the central countries. Bandung gave rise to a policy of non-alignment - a diplomatic and geopolitical posture of equidistance by the Great Powers - through which dozens of nations would try not to be turned into the pawns of the Cold War titans. Available at https://en.wikipedia.org/wiki/Bandung_Conference. [Accessed 30 Nov. 2021]

14 The current requirements are that the candidate country has displayed practices in accordance with the ten "Bandung principles" of 1955: (1) Respect for fundamental human rights and for the purposes and principles of the Charter of the United Nations; (2) Respect for the sovereignty and territorial integrity of all nations; (3) Recognition of the equality of all races and of the equality of all nations, large and small; (4) Abstention from intervention or interference in the internal affairs of another country; (5) Respect for the right of each nation to defend itself singly or collectively, in conformity with the Charter of the United Nations; (6) Refraining from acts or threats of aggression or the use of force against the territorial integrity or political independence of any country; (7) Recognition of the movements for national independence; (8) Settlement of all international disputes by peaceful means, in conformity with the Charter of the United Nations; (9) Promotion of mutual interests and co-operation; (10) Respect for justice and international obligations. Available at https://en.wikipedia.org/wiki/Non-Aligned_Movement [Accessed 30 Nov. 2021]

15 Qu Yuhui is Minister Counselor of the Embassy of the People's Republic of China in Brazil. Closing Table of the I International Congress "Law and International Political Economy". International Relations with Chinese characteristics and South-South cooperation. June 18, 2021. [Authors transcript] Available at https://www.youtube.com/watch?v=mCoMWHbGXmI [Accessed 5 Aug. 2021]

16 Research Network for Philosophy and Technology. Yuk Hui, Biography. In: Philosophy and Technology. Available at http://philosophyandtechnology.network/yuk-hui/ [Accessed 21 Oct. 2021]

17 Technological singularity — or simply the singularity — is a hypothetical point in time at which technological growth becomes uncontrollable and irreversible, resulting in unforeseeable changes to human civilization. According to the most popular version of the singularity hypothesis, called intelligence explosion, an upgradable intelligent agent will eventually enter a "runaway reaction" of self-improvement cycles, each new and more intelligent generation appearing more and more rapidly, causing an "explosion" in intelligence and resulting in a powerful superintelligence that qualitatively far surpasses all human intelligence. Available at https://en.wikipedia.org/wiki/Technological_singularity [Accessed 21 Oct. 2021]

18 Homo Deus is the title of Yuval Noah Harari's book that deals with the domination of humanity by Artificial Intelligence.

19 A cyber-physical system (CPS) or intelligent system is a computer system in which a mechanism is controlled or monitored by computer-based algorithms. In cyber-physical systems, physical and software components are deeply intertwined, able to operate on different spatial and temporal scales, exhibit multiple and distinct behavioral modalities, and interact with each other in ways that change with context. CPS involves transdisciplinary approaches, merging theory of cybernetics, mechatronics, design and process science. The process control is often referred to as embedded systems. In embedded systems, the emphasis tends to be more on the computational elements, and less on an intense link between the computational and physical elements. CPS is also similar to the Internet of Things (IoT), sharing the same basic architecture; nevertheless, CPS presents a higher combination and coordination between physical and computational elements. In: Wikipedia: the freea enciclopedia. Avaliable at https://en.wikipedia.org/wiki/Cyber-physical_system [Accessed 30 Nov. 2021]

20 The Five Eyes (FVEY) is an intelligence alliance comprising Australia, Canada, New Zealand, the United Kingdom, and the United States. These countries are parties to the multilateral UKUSA Agreement, a treaty for joint cooperation in signals intelligence. In: Wikipedia: the freea enciclopedia. Avaliable at https://en.wikipedia.org/wiki/Five_Eyes [Accessed 30 Nov. 2021]

21 Quantum cryptography. In: Wikipedia: the freea enciclopedia. Avaliable at https://en.wikipedia.org/wiki/Quantum_cryptography [Accessed 30 Nov. 2021]

22 National Security Agency. https://www.nsa.gov

23 Brazil-Europe Internet cable to cost $185 million. The BRICS Post. Available at http://www.thebricspost.com/brazil-europe-Internet-cable-to-cost-185-million/ [Accessed 14 Aug. 2021]