Giselle Beiguelman é Doutora em História pela USP, pesquisadora e Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, artista multimídia e curadora. É editora da revista Select. É organizadora de Nomadismos Tecnológicos (Senac, 2011), entre outros. Site: www.desvirtual.com.
Como citar esse texto: BEIGUELMAN, G. Mapas diagramáticos como dispositivos críticos da hiperlocatividade. V!RUS, São Carlos, n. 8, dezembro 2012. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus08/?sec=3&item=1&lang=pt>. Acesso em: 07 Out. 2024.
Resumo
O artigo discute a emergência de um sentido de hiperlocatividade relacionado à “febre do mapeamento” desencadeada pela acessibilidade a bases cartográficas e a popularização dos recursos de geolocalização. Sem contestar a relevância desses recursos, chama a atenção para o que podem implicar em termos de atrofia do imaginário, ao sugerirem usos essencialmente descritivos do espaço e aplicações que apenas visam a eficiência do percurso. Em contraposição, apresenta o projeto Você não está aqui (Beiguelman e Velazquez, 2012), uma máquina de criar cidades e produzir novos sentidos espaciais, por meio de estratégias de deslocalização.
Palavras-chave: mapas, mídias locaticas, mobilidade
Instead of causing us to remember the past like the old monuments, the new monuments seem to cause us to forget the future. Instead of being made of natural materials, such as marble, granite, plastic, chrome, and electric light. They are not built for the ages, but rather against the ages. (...) Both past and future are placed into an objective present. (...). Time becomes a place minus motion. If time is a place, then innumerable places are possible. Rather than saying, "What time is it?" we should say, "Where is the time?"
Robert Smithson. Entropy and the New Monuments (1966)
Mapas são formas de registro visual do espaço desde a antiguidade. Levam ao limite as ambiguidades do termo representação para as quais Carlo Ginzburg chamou a atenção. Por um lado, diz, “a ‘representação’ faz as vezes da realidade representada e, portanto, evoca a ausência”. Contudo, ela “também torna visível a realidade representada e, portanto, sugere a presença”. (Guinzburg 2001, 85)
Essa tensão entre presença e ausência é constitutiva da história da cartografia e a preponderância de uma sobre outra revela os modos pelos quais entendemos nossa posição simbólica no mundo e ilumina sensivelmente a compreensão da cartografia como analogia (intepretação) ou como decalque (descrição) do espaço.
No contexto atual, vivemos, parafraseando Derrida, uma verdadeira “febre do mapeamento”, facilitada pela acessibilidade a bases cartográficas, como as disponibilizadas via Google Maps, e a popularização dos recursos de geolocalização, distribuídas entre celulares e redes sociais.
Longe de querer contestar a utilidade desses recursos, interessa aqui discutir de forma crítica as implicações simbólicas dessa súbita epidemia de mapear e geolocalizar tudo e todos, em qualquer momento e a partir de qualquer ponto. À época do lançamento do recurso “My Location”, o Google (Google Official Blog 2011) sistematizava em seu blog o “estado da arte” da situação:
Em poucas frases, arquivava-se todo o legado Situacionista e sua importante reflexão sobre a Deriva (Jacques 2003) e, junto com isso, os inúmeros, poetas e filósofos que nos últimos séculos vem repensando e repropondo a poética do flaneur de Baudelaire. É importante, por isso, interrogar se essas práticas não estariam nos levando a uma abordagem essencialmente descritiva do espaço, sob uma concepção de representação como presença. Um tipo de construção visual que tende a nos aproximar do cenário retratado em “Sobre o rigor na ciência”, de Jorge Luis Borges (1996, 225):
…Naquele império, a Arte da Cartografia alcançou tal Perfeição que o mapa de uma única Província ocupava uma cidade inteira, e o mapa do Império uma Província inteira. Com o tempo, estes Mapas Desmedidos não bastaram e os Colégios de Cartógrafos levantaram um Mapa do Império que tinha o tamanho do Império e coincidia com ele ponto por ponto. Menos Dedicadas ao Estudo da Cartografia, as gerações seguintes decidiram que esse dilatado mapa era inútil e não sem impiedade entregaram-no às Inclemências do sol e dos Invernos. Nos Desertos do Oeste perduram despedaçadas Ruínas do Mapa habitadas por Animais e por Mendigos; em todo o País não há outra relíquia das Disciplinas Geográficas.
Nesse breve relato, que Borges atribui a Suarez de Miranda em texto escrito em 1658, insinuam-se os perigos de atrofia do imaginário que acompanha a explosão das mídias locativas. Seu potencial crítico foi fartamente discutido por André Lemos em inúmeros artigos (Lemos 2010). Suas possibilidades de rastreamento e funcionalidade para o fomento ao consumo, contudo, não são desprezíveis. Afinal, estamos falando de equipamentos que se definem pela integração entre redes de acesso à internet em alta velocidade (tecnologias 3G e 4G), transmissão e recepção de vídeo, uso de VOIP e participação em redes sociais. Tudo isso combinado com serviços relacionados a mídias locativas.
É justamente essa combinatória o que torna tão diferentes a navegação na internet de linhas fixas e aquela no celular, e o que explica a animação dos publicitários com a cultura da mobilidade. A partir de programas instalados no aparelho, feitos para facilitar e aperfeiçoar a vida de seus usuários, não apenas é possível saber onde o portador do dispositivo está, mas ter essa informação compartilhada e combinada a bancos de dados, e apontando para o que está em sua vizinhança.
Em termos publicitários objetivos, isso permite, por exemplo, que um consumidor, portador de um celular inteligente (ou seja, com acesso a internet, GPS, etc.), cadastrado em redes sociais como Facebook e afins, onde estão arquivados vários de seus gostos e hábitos, ao passar na frente de uma loja, receba no seu celular um cupom digital de desconto. Nesse contexto, as microtelas urbanas passam a comportar-se como extensões do nosso corpo conectadas no espaço físico, e inserem novas variáveis nos sistemas de invasão da privacidade e rastreamento. (Beiguelman 2011, 251).
Ao ter seu uso massivamente atrelado à abordagem unidimensional que relaciona um lugar, a uma pessoa/grupo e uma imagem – como ocorre, em grande escala, em redes sociais como o Facebook, Instagram, ou a uma informação pontual específica – como é o caso do Foursquare – desvinculam-se os mapas de seu caráter diagramático no sentido que Deleuze (1988, 44) dá ao conceito:
O diagrama não é mais o arquivo, auditivo ou visual, é o mapa, a cartografia, co-extensiva a todo campo social. É uma máquina abstrata. Definindo-se por meio de funções e matérias informes, ele ignora toda distinção de forma entre um conteúdo e uma expressão, entre uma formação discursiva e uma forma, entre uma conteúdo e uma expressão, entre uma formação discursiva e uma formação não-discursiva. É uma máquina quase muda e cega, embora seja ela que faça ver e falar.
Em contraponto ao uso essencialmente descritivo dos mapas e da cartografia, foi elaborado o projeto Você não está aqui (Beiguelman e Velazquez 2012), uma máquina de criar cidades que confronta os discursos excessivamente localizadores dos dispositivos de socialização e consumo. Trata-se de uma instalação artística interativa que propõe o desafio de inventar uma nova geografia, afetiva e movediça, em mapas nômades de territórios passageiros.
Vista externa da instalação Você não está aqui, no Itaú Cultural, em São Paulo
A obradiscute a paisagem no tempo da produção de imagens mediadas por dispositivos portáteis, aplicativos de celular, recursos de geolocalização e tagueamentos de toda sorte. Para tanto, oferece uma experiência cinemática para a era do “homem sem a câmera”, na qual o público é convidado a construir cidades (ou reeditar os caminhos percorridos pelos artistas em diferentes lugares) a partir de um banco de dados.
Exemplo do tipo de imagens que alimentam o banco de dados de Você não está aqui
A paisagem é visualizada num dispositivo de 360º que acompanha a movimentação dos visitantes e descontruindo a incessante marcação de posicionamento que a cultura dos GPSs tem imposto.
Vista interna da instalação Você não está aqui
O público é convidado a visualizar e/ou criar cidades, a partir da escolha de imagens capturadas pelos artistas em mais de 40 cidades do mundo, em interfaces multitoque (iPads). Os visitantes criam e modificam as paisagens aplicando efeitos gráficos, sonoros e de movimento.
Interface iPad para criação de cidades e edição das paisagens pelos visitantes
As cidades criadas pelos visitantes na sala de exposição também são publicadas em tempo real na internet, onde podem ser visualizadas remotamente. Essa visualização contudo não entrega ao visitante um vídeo com começo, meio e fim.
Mapas diagramáticos gerados em tempo real pelo público na manipulação do banco de dados da instalação Você não está aqui
Apenas recupera as tags (palavras-chave) escolhidas no ambiente expositivos e as cidades a ela associadas. Reconstrói, a partir de rearranjos constantes as paisagens da cidade imaginária produzida no ambiente expositivo.
Interface para seleção das palavras-chave que dão acesso ao banco de imagens da instalação Você não está aqui
Cada cidade criada, porém, tem um nome exclusivo e é “propriedade” intransferível de seu criador. Basta digitar o e-mail cadastrado no momento de invenção da cidade para localizá-la. Ela aparecerá em formato de mosaico e será reordenado a cada carregamento das páginas. Todas as cidades arquivadas, reais e imaginárias, são listadas, em ordem alfabética, no índice de cidades do site.
Acima, tela do site mostra menu de cidades imaginárias criadas pelo público. Abaixo, vista interna da instalação.
No âmbito da instalação, um grande olho eletrônico (um Kinect customizado) põe em movimento o “fluxoscópio”, nossa bússola de deslocalização, que faz com que os projetores, no recinto expositivo, se movimentem em círculos e desfaçam qualquer possibilidade de observação a partir de um ponto fixo.
Visitante interage com a projeção nos terminais com iPad. No centro, o “Fluxoscópio” dispositivo de deslocalização que põe a projeção em movimento.
Rompe-se aí a lógica de cumplicidade com o triste personagem borgeano que procurava desenhar mapas tão perfeitos, que chegariam à escala de um para um, abolindo qualquer possibilidade de representação e, no limite, de imaginação. Ao romper com essa lógica, indicam possibilidades criativas que estabelecem outros regimes de sentido. Eles são pautados por mapas transitórios de territórios dinâmicos que pressupõem, certamente, outras representações da experiência mobilidade, indo além da banalidade descritiva do “você está aqui”.
Beiguelman, G. Territorialização e agenciamento nas redes: em busca da Ana Karenina da cultura da mobilidade. In: Beiguelman, G.; LA FERLA, J. Nomadismos tecnológicos.São Paulo: Editora Senac, 2011, p. 247-270.
Beiguelman, G.; Velazquez, F. Você não está aqui. Itaú Cultural. Disponível em <http://www.urnothere.net. São Paulo, 2012>.
Borges, J. L. Del rigor en la ciencia. In: BORGES, J. L. Obras completas. Buenos Aires: EMECÉ, 1996, Vol. II, p. 225.
Deleuze, G. Um novo cartógrafo. In: Deleuze, G.Foucault. Trad. Claudia Sant'Anna Martins. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 33-53.
Google Official Blog. A new frontier for Google Maps: mapping the indoors. Google Official Blog. 29/11/2011. Disponível em: <http://googleblog.blogspot.com.br/2011/11/new-frontier-for-google-maps-mapping.html>. Acesso em: 09 dez. 2012.
Guinzburg, C. Representação: a palavra, a ideia, a coisa. In: Guinzburg, C. Olhos de madeira: nove reflexões dobre a distância. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 85-103
Jacques, P. B. Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
Lemos, A. Post—Mass Media Functions, Locative Media, and Informational Territories: New Ways of Thinking About Territory, Place, and Mobility in Contemporary Society. Space and Culture, vol. 10, nº 4, Nov. 2010, p. 403-420.
"Onde estou?" E "O que está ao meu redor?" São duas perguntas que cartógrafos, e o Google Maps, esforçam-se em responder. Com o recurso My Location do Google Maps, que mostra a sua localização como um ponto azul, você pode ver no mapa onde você está, para evitar andar na direção errada nas ruas da cidade, ou para se orientar, se você estiver caminhando em uma trilha desconhecida. O Google Maps também exibe detalhes adicionais, tais como locais, monumentos e as características geográficas, para dar-lhe contexto sobre o que está por perto. E agora, o Google Maps para Android permite que você descobrir onde você está e ver onde você pode querer ir, quando você está dentro de casa.1
Giselle Beiguelman is PhD in History, researcher and Professor at the Faculty of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo, multimedia artist and curator. She is the Select magazine's Editor and her recent publication includes Nomadismos Tecnológicos (Buenos Aires, Ariel, 2011). Web site: www.desvirtual.com
How to quote this text: Beiguelman, G.. 2012. Diagrammatic maps as critical devices for hyperlocalizability. Translated from Portuguese by Luis Ribeiro. V!RUS, [online] n. 8. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus08/?sec=3&item=1&lang=en>. [Accessed: 07 October 2024].
Abstract
This article discusses the emergence of a sense of hyperlocalizability related to the “mapping fever” triggered by the accessibility of cartographic databases and the popularization of geolocation features. Without denying the importance of these resources, it is important to heed to what they imply in terms of atrophy of imagination, by suggesting an essentially descriptive use of space and applications that address only the efficiency of routes. In contrast, this article presents the project Você não está aqui - UR Not Here - (Beiguelman and Velazquez, 2012), a device that creates cities and produces new spatial senses by means of delocation strategies.
Keywords: maps, locative media, mobility.
Instead of causing us to remember the past like the old monuments, the new monuments seem to cause us to forget the future. Instead of being made of natural materials, such as marble, granite, plastic, chrome, and electric light. They are not built for the ages, but rather against the ages. (…) Both past and future are placed into an objective present. (…) Time becomes a place minus motion. If time is a place, then innumerable places are possible. Rather than saying, "What time is it?" we should say, "Where is the time?"
(Smithson, 1966)
Maps have been ways to register visual space since antiquity. They take to the limit the ambiguities of the term ‘representation’ emphasized by Carlo Ginzburg. On the one hand, he writes: “‘representation’ takes the place of represented reality and, therefore, evokes absence.” On the other hand, it “also makes visible represented reality and, therefore, suggests presence” (Ginzburg, 2001, pp.85).
This tension between presence and absence is part of the history of cartography and the preponderance of one over the other reveals the ways in which we understand our symbolic position in the world and illuminates considerably the understanding of cartography as analogy (interpretation) or decal (description) of space.
In today’s world, we live, to paraphrase Derrida, a real “mapping fever,” facilitated by the accessibility of cartographic databases, such as those available via Google Maps, and the popularity of geolocation features, distributed among cell phones and social networks.
Far from wanting to challenge the usefulness of these resources, here we wish to discuss critically the symbolic implications of this sudden epidemic of mapping and geolocating everything and everyone, anytime and from anywhere. At the time of launch of the “My Location” feature, Google (Google Official Blog, 2011) systematized the “state of the art” of the situation in its blog:
“Where am I?” and “What’s around me?” are two questions that cartographers, and Google Maps, strive to answer. With Google Maps’ “My Location” feature, which shows your location as a blue dot, you can see where you are on the map to avoid walking the wrong direction on city streets, or to get your bearings if you’re hiking an unfamiliar trail. Google Maps also displays additional details, such as places, landmarks and geographical features, to give you context about what’s nearby. And now, Google Maps for Android enables you to figure out where you are and see where you might want to go when you’re indoors.
A few sentences were enough to pigeonhole the entire Situationist legacy and its important deliberation on Drift (Jacques, 2003) and, along with it, countless poets and philosophers, who in recent centuries have rethought and recommended the poetry of Baudelaire’s flaneur. It is important, therefore, to examine whether these practices are leading us to an essentially descriptive approach to space under the concept of representation as presence; a kind of visual construction that comes close to the scenario depicted by Jorge Luis Borges in “About rigor in science” (1996, pp.225):
In that Empire, the Art of Cartography attained such Perfection that the map of a single Province occupied an entire city, and the map of the Empire a whole province. Over time, these Unwarranted Maps were not enough and the Colleges of Cartographers came up with a Map of the Empire that had the size of the Empire and coincided with it point by point. Less Dedicated to the Study of Cartography, succeeding generations have decided that this dilated map was useless and, not without impiety, handed it over to the Inclement Sun and Winters. In the Deserts of the West there remain shattered Ruins of the Map inhabited by Animals and Beggars; throughout the Country there is no other relic of the Geographic Disciplines.
This brief account, which Borges attributes to Suarez de Miranda in a text written in 1658, insinuates the dangers of atrophy of the imaginary that accompanies the explosion of locative media. Its critical potential has been widely discussed in numerous articles by André Lemos (2010). Its tracking and functionality capacity and potential to promote consumption, however, are not negligible. After all, we are talking about equipment defined by the combination of networks with high-speed Internet access (3G and 4G technologies), video transmission and reception, use of VOIP, and participation in social networks. All this together with services related to locative media.
This combination is precisely what makes browsing the Internet via ground phone lines so different from that via cell phone lines, and explains why advertisers are so excited about the culture of mobility. From apps installed on the device, designed to facilitate and improve their users’ lives, not only is it possible to know where the holder of the device is, but also to have this information shared and integrated to databases, and pointing to what is in the vicinity.
In objective advertising terms, this allows, for instance, consumers carrying a smartphone (i.e., with access to the Internet, GPS, etc.), logged on social networks such as Facebook and the like, where several of their tastes and habits are stored, walking past a store, to get a digital discount coupon on their cell phones. In this context, urban microscreens come to behave as extensions of our bodies connected in physical space, and introduce new variables in systems of tracking and invasion of privacy (Beiguelman, 2011, pp.251).
By having their use massively coupled to a one-dimensional approach that associates a place to a person/group and an image – as it happens, in large scale, in social networks such as Facebook and Instagram – or to a specific piece of information – as is the case of Foursquare –, maps are stripped of their diagrammatic character in the sense that Deleuze (1988, pp.44) gives to the concept:
The diagram is no longer the register, auditory or visual; it is the map, cartography, co-extensive to the whole social field. It is an abstract device. By being defined through functions and shapeless matters, it ignores any form distinction between content and expression, between a discursive formation and form, between content and expression, between a discursive formation and a non-discursive formation. It is a virtually dumb and blind device, by means of which, however, we can see and talk.
In contrast to an essentially descriptive use of maps and cartography, the project UR Not Here - (Beiguelman and Velazquez, 2012), was elaborated a device to create cities that confronts the excessively locating discourses of socialization and consumption devices. It constitutes an interactive art installation that sets the challenge of inventing a new geography, affective and shifting, in nomadic maps of transient territories.
External view of UR Not Here, at Itaú Cultural, São Paulo
The project discusses the landscape at the time of image production mediated by mobile devices, cell phone apps, and all sorts of geolocation and tagging features. To this end, it endows the “man sans camera” age with a cinematic experience in which the public is invited to build cities (or reorganize the paths taken by artists in different places) from a database.
Example of images stored at the UR Not Here database
The landscape is viewed on a 360° device that monitors the movement of visitors and deconstructs the incessant position marking that the GPS culture has enforced.
Internal view of UR Not Here installation
The public is invited to view and/or create cities, from the choice of images captured by artists in over 40 cities worldwide, on multitouch interfaces (iPads). Visitors create and modify landscapes by applying graphical, sound, and motion effects.
iPad interface for creation of cities and manipulation of landscapes by the installation visitors
The cities created in the exhibition room by visitors also appear in real time on the Internet, where they can be viewed remotely. This visualization, however, does not deliver a video with a beginning, middle, and end.
Diagrammatic maps generated in real time by the audience through the use of the project database
It only reccover tags (keywords) chosen in the exhibition setting and cities associated to it. It reconstructs, by means of constant rearrangements, imaginary city landscapes produced at the exhibition.
Interface for the selection of tags, which give access to the image databank of UR Not Here installation
Each created city, however, has a unique name and is its creator’s nontransferable “property.” One simply enters one’s e-mail address registered when one’s city was invented to locate it. It will appear in mosaic format and will be reordered at every page load. All stored cities, real and imaginary, are listed alphabetically on the site’s index of cities.
Above, the web site showing the menu of cities created by the participants of the project. Below, The “Flowscope” (in the center of the picture), a“delocation” compass, which moves the projectors in the exhibition space
As part of the installation, a large electronic eye (a custom Kinect) sets in motion the “flowscope,” our delocation compass, which makes the projectors move in circles in the exhibition space and discard any possibility of observation from a fixed point.
A visitor interacts with UR Not Here installation using the iPad interface resources for cities creation and landscape manipulation
This thus breaks down the logic of complicity with the melancholy Borgean character that sought to draw such perfect maps, reaching the scale of one to one, abolishing every possibility of representation and, ultimately, imagination. In breaking with this logic, there emerge creative possibilities that create other systems of meaning. They are guided by transitory maps of dynamic territories, which presuppose, without doubt, other representations of mobility as experience; beyond the descriptive banality of UR not Here.
References
Beiguelman, G., 2011. Territorialização e agenciamento nas redes: em busca da Ana Karenina da cultura da mobilidade. In: Nomadismos tecnológicos, by Giselle Beiguelman and La Ferla Jorge, pp. 247-270. São Paulo: Editora Senac.
Beiguelman, G. and Velazquez, F., 2012. Você não está aqui. Ur not Here, [online]. Available at: <http://www.urnothere.net>
Borges, J. L., 1996. Del rigor en la ciencia. In: Obras completas, by Jorge Luis Borges. Buenos Aires: EMECÉ, Vol. II, p. 225.
Deleuze, G., 1988. "Um novo cartógrafo." In: Deleuze, G.Foucault. Translated by C. S. Martins, pp.33-53. São Paulo: Brasiliense.
Google Official Blog, 2011. A new frontier for Google Maps: mapping the indoors. [online] Google Official Blog. Available at: <http://googleblog.blogspot.com.br/2011/11/new-frontier-for-google-maps-mapping.html> [Accessed 9 December 2012].
Guinzburg, C., 2001. Representação: a palavra, a ideia, a coisa. In: Guinzburg, C. Olhos de madeira: nove reflexões dobre a distância. Translated by E. Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, p. 85-103.
Jacques, P. B., 2003. Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Translated by E. S. Abreu. Rio de Janeiro: Casa da Palavra.
Lemos, A., 2010. Post—Mass Media Functions, Locative Media, and Informational Territories: New Ways of Thinking About Territory, Place, and Mobility in Contemporary Society. In: Space and Culture, vol. 10, nº 4, Nov. 2010, pp. 403-420.
Smithson, R., 1966. Entropy and the New Monuments. Selected Writings by Robert Smithson, [online]. Available at: < http://www.robertsmithson.com/essays/entropy_and.htm>