Yvonne Foerster é filósofa e Doutora em Filosofia. Professora da Universidade Leuphana, Lueneburg (Alemanha), e pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados para Ciências Culturais, da Universidade de Konstanz. Estuda filosofia de tecnologia, teorias de corporeidade e do tempo, estética, arte digital e teoria da moda.
Como citar esse texto: FOERSTER, Y. A carne: conceituando tempo e memória no mundo digital. Traduzido do inglês por Anja Pratschke. V!RUS, São Carlos, n. 15, 2017. [online] Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus15/?sec=4&item=1&lang=pt>. Acesso em: 11 Set. 2024.
Resumo
O artigo tem como objetivo desenvolver um relato de consciência do tempo que possa integrar a experiência incorporada e a materialidade em que está inserida. Seguindo Maurice Merleau-Ponty e seu conceito de carne do tempo, apresentarei uma alternativa às teorias idealista e materialista do tempo. Um conceito do tempo, que pode integrar as estruturas complexas das relações corporais e tecnológicas, pode explicar as mudanças de memória provocadas pela tecnologia. Passando passo a passo através de conceitos clássicos do tempo da tradição continental e analítica, vou mostrar como os conceitos mudam gradualmente de relatos puramente subjetivos ou idealistas (KANT, HUSSERL, MCTAGGART) para mais e mais contas materialistas (MELLOR, HANSEN, STIEGLER). Ainda os aspectos experienciais da cognição incorporada e da formação da memória desempenham nenhum papel central. Portanto, o conceito de Merleau-Ponty da carne do tempo será introduzido como um meio para entender a sensibilidade generalizada que vem com a tecnologia digital. Este conceito não substituirá uma conta diferenciada da consciência do tempo e da formação da memória. Pretende, em vez disso, superar o fosso entre a experiência humana e a base material (tecnológica). Assim, pode explicar as mudanças fundamentais na construção da memória à medida que a experimentamos na era digital.
Palavras-chave: Consciência do tempo, Formação da memória, Tecnologia, Corporificação, Ontologia do tempo
1 Introdução
A construção da memória depende da mídia que usamos, bem como das estruturas físicas e sociais do nosso mundo-vida. A memória evolui com o uso da tecnologia em um sentido amplo. O que lembramos e como lembramos disso, depende do entrelaçamento de experiência, materialidades e tecnologia. A narração de histórias influenciou como conceitualizamos o tempo e a memória: nos ensinou a imaginar possíveis mundos, lugares históricos e utopias do futuro. Escritura, imprensa e, mais recentemente, tecnologia digital formam como e o que lembramos. As conexões em nossos cérebros são literalmente diferentes dos de nossos avós quando se trata da forma como memorizamos as coisas, como sentimos o desejo de lembrar e como recuperamos as memórias da profundidade da nossa consciência.
Este artigo leva a questão um passo adiante e examina as teorias constitucionais da percepção do tempo e memória. O objetivo é identificar fatores constitucionais e encontrar maneiras de acomodá-los dentro de um quadro teórico. Vou dar um relato crítico de teorias que omitem a base material da formação da memória ou o papel da experiência. Ambos, como eu argumentarei, podem ser integrados e vou mostrar isso ao referir-se ao conceito da carne de Maurice Merleau-Ponty (1968).
Conceitos tradicionais do tempo e memória na tradição kantiana e analítica omitem o papel da experiência incorporada e da materialidade para a constituição de consciência do tempo. As abordagens atuais na filosofia da mídia tentam teorizar como a tecnologia configura percepção do tempo. Mark B.N. Hansen (2006) e Bernard Stiegler (1998) apresentam teorias exemplares que enfatizam a tecnologia de influência não consciente (tecnológica a priori) exerce sobre a percepção humana do tempo e da memória. Este artigo objetiva uma crítica de ambos, os conceitos tradicionais, bem como as abordagens que utilizam o a priori tecnológico, porque ambos falham a integrar a dimensão perceptual e experiencial da consciência do tempo e memória. Seguindo Merleau-Ponty, argumentarei que é necessário ter em conta a dimensão perceptual da consciência-tempo para explicar as mudanças nas formas em que a memória é constituída nos tempos da tecnologia digital.
2 Conceitos idealistas versus materialistas
A diferenciação conceitual amplamente utilizada das séries A e B do tempo remonta a J.M.E. McTaggart (1908). Ele distingue tempo como estruturado pelo passado, presente e futuro (série A), que compreende memória, percepção e antecipação como modos cognitivos, por um lado, e tempo estruturado pelas relações antes / depois (série B) do outro. McTaggart levou essas duas descrições estruturais do tempo como ontologicamente não a par e perguntou, qual deles deve ser considerado fundamental para a existência do tempo e, doravante, é ontologicamente primário. Ele defendeu uma primazia da série A (que enfatiza a percepção e a mudança do tempo) e argumentou que a Série B não pode ser responsável para mudança. As relações de antes / depois permanecem iguais, não importa de qual posição temporal se olha para elas. Se um evento está no futuro, está presente ou já se tornou passado, é um processo de mudança: as propriedades temporais de ser mudança passada, presente ou futura em relação à posição temporal do observador. McTaggart define mudança como o mudar de predicados de um evento: no início, o evento é futuro, então torna-se presente e eventualmente se tornará passado. Na série B, um evento ocupa uma posição em uma sucessão de todos os eventos que se aproximam antes ou depois. Esta posição nunca muda e, portanto, a mudança não pode ser contabilizada (os B-teóricos contemporâneos dizem o contrário). McTaggart conclui que a série A é fundamental para o tempo, porque apenas esta série pode explicar mudanças, o que é essencial para o tempo. Mas a mudança dos predicados temporais leva a uma contradição (MCTAGGART, 1908) e é por isso que tempo em última análise é irreal, o que significa que não existe fora da experiência humana.
Na tradição continental da teoria do tempo, a questão da experiência ou intuição do tempo é prevalente. A teoria kantiana trata, a priori, o tempo como uma forma de intuição necessária (KANT, 2009, p. 178-182), portanto, Kant concentra-se no sujeito como o fundamento ontológico decisivo. Com Kant, o tempo passou a ser tratado como uma questão de cognição. Antes, a maioria das teorias tratava o tempo junto a metafísica como uma questão de substância, ver Leibniz e Newton. Dentro da abordagem kantiana, o tempo é desmaterializado. Na definição do tempo por Kant como ideal transcendental, o tempo não está mais relacionado à matéria. Em vez disso, o tempo é tratado como uma intuição imediata sem correlação externa qualquer.
O fundador da teoria fenomenológica Edmund Husserl permaneceu nesta tradição, mas descreveu a experiência e a constituição do tempo dentro do assunto com muito mais detalhes. Diferente de Kant, ele analisa o processo constitucional do tempo dentro da consciência ao lado do conceito de intencionalidade. Ambos, Kant e a tradição fenomenológica husserliana tratam o tempo como subjetivo, como ideal transcendental. O tempo não pertence ao mundo material, não é uma propriedade das coisas nem uma substância por direito próprio. O tempo é uma forma de intuição, uma forma de conceber o mundo. Nesse sentido, o tempo é uma condição necessária da cognição - sem tempo ou duração, não haveria objetos a serem concebidos.
No que diz respeito à ontologia do tempo, McTaggart bem como Kant e Husserl concordam: o tempo como experimentamos não existe fora do sujeito conceitual. Não é nem uma propriedade de algo nem de uma substância. Isso significa que não há fatos passados, presentes ou futuros fora de nossas mentes e, portanto, a memória não tem base material. Essas dimensões do tempo são projetadas para o mundo pelas nossas mentes. A existência do tempo e da memória, portanto, está ligada à subjetividade. Na teoria de McTaggart, a memória não é um tópico, pois ele considera o tempo a partir de uma perspectiva puramente analítica. Kant e Husserl tomam a memória como um ato produtivo do sujeito cognitivo. Assim, a memória é conceitualmente próxima da fantasia: ambos os modos de consciência produzem seu objeto por um ato de imaginação. As diferenças de alta granularidade de imaginação produtiva são desenvolvidas no texto O Imaginário de Jean-Paul Sartre de 1940 (2010). Embora Sartre siga a tradição kantiana na idéia, que o tempo é um ideal transcendental, portanto, não existe além da consciência, ele famosamente defende a materialidade da memória e todas as outras formas de imaginação produtiva. Ele descreve como atos imaginativos dependem de uma base material (analogon) que desencadeia atos de reprodução de memória ou imagens mentais. Aqui, as percepções temporais estão ligadas a uma forma de materialidade e causação.
Causação é o conceito-chave dentro da Nova B-Teoria do Tempo. D. H. Mellor (1998), por exemplo, visa a base ontológica do tempo via causalidade. Mellor como proponente da Nova B-Teoria do Tempo concordou com o McTaggart apenas na medida em que ele também acha que o tempo como A-Series é irreal. Ele não conclui que, portanto, o tempo é irreal. Ele sugere que, mesmo que não haja fatos tensos no mundo, há tempo na forma de uma Série B. O fundamento ontológico do tempo é alcançado por causalidade. A relação antes / pós-relação de causa e efeito determina uma estrutura temporal de um mundo interior que explica a mudança como uma condição necessária de possibilidade de o tempo existir. A série B que é fundamental para o tempo no sentido de Mellor não é a ordem temporal dos eventos. Esta ordem temporal deve a sua temporalidade a uma relação anterior / posterior, ou seja, a de causa e efeito. Causalidade faz com que as coisas mudem com o tempo, ou então permaneçam as mesmas, porque mesmo a estase é causada: algo evita que algo mude. Mellor até traduz a teoria do tempo de Kant em uma teoria causal. Ele afirma que a ordem temporal de nossas percepções é causada: "Assim, a ordem do tempo que essas percepções me fazem perceber é corrigida por sua ordem causal [...]" (MELLOR, 2005, p. 631, tradução nossa). O movimento de Mellor desafia a ordem dos eventos temporais para uma estrutura física que governa não apenas o mundo material, mas também o mundo interior da percepção e do pensamento. Em suma: Mellor argumenta pela realidade do tempo e leva o tempo como baseado na causalidade. Causalidade é um conceito que, pelo menos em termos de Mellor, não é subjetivo. É a estrutura fundamental do mundo físico e as mentes fazem parte deste mundo físico, é por isso que Mellor leva as percepções dentro da mente também como causalmente relacionadas.
3 Tempo como processo material
Mark B.N. Hansen desenvolve um conceito do tempo que enfatiza a ideia de que o tempo não é apenas definido pela mudança, mas pode mudar-se (HANSEN, 2006, p. 209, 295) através de processos subliminares de materialidade temporal. Ele desenvolve sua conta do tempo diante da nova mídia arte e seu caráter performativo. Seguindo Merleau-Ponty Hansen enfoca o caráter incorporada da percepção e, portanto, da consciência do tempo. Ele se baseia na ideia de Merleau-Ponty do corpo vivo e do conceito de afeto.
A consciência do tempo e a experiência do tempo são questões centrais na fenomenologia. Para Husserl, é a forma fundamental da consciência porque todo objeto possível de consciência precisa ser dado no tempo. Mas o tempo em si nunca é dado como um objeto imediato. Para analisar a consciência do tempo, precisa, de acordo com Hansen e Bernard Stiegler (1998) um objeto temporal, que revela o funcionamento da consciência do tempo. O objeto temporal paradigmático de Husserl é uma melodia. A melodia é uma forma especial de objeto porque só aparece dentro do fluxo do tempo. O tempo pertence à sua forma de aparecimento. Na teoria de Husserl, é uma forma imediata de memória (retenção) que constitui objetos temporais.
O objeto temporal paradigmático para Stiegler é cinema / filme. Hansen desenvolve o seu conceito ao longo da linha da nova mídia arte, principalmente filme / video. Como a consciência na fenomenologia é entendida como necessariamente intencional, ela é sempre direcionada para um objeto. Assim, a consciência do tempo só pode ser analisada em relação ao seu objeto, mas todo objeto é dado no tempo e, portanto, é um objeto temporal. Stiegler e Hansen enfatizam a temporalidade e classificam apenas uma certa variedade de objetos como objetos temporais, ou seja, esses objetos, que se prolongam no tempo sem nunca estar completamente presentes em um momento no tempo.
A questão central é: por que diferentes objetos temporais podem contar diferentes histórias sobre a consciência do tempo? Ou: como a mudança do tempo pode mudar com seus objetos temporais? Se isso fosse verdade, então a consciência do tempo é uma forma de cognição que muda historicamente. Hansen sustenta que não existe uma estrutura básica do tempo, o tempo só existe na forma de "miríades de temporalizações" (HANSEN, 2009, p. 297). O tempo nesta visão se manifesta ou se realiza em diferentes formas medianas. Uma forma paradigmática para a situação histórica atual é a inscrição digital (HANSEN, 2009, p. 297). A mídia digital constitui uma estrutura temporal que ultrapassa as habilidades perceptivas humanas de acordo com Hansen e altera maneiras humanas de perceber e lembrar o tempo.
Semelhante à abordagem de Mellor para definir a causalidade como a estrutura básica do tempo, Hansen leva a mídia como constitutiva da percepção temporal. A principal diferença entre as duas abordagens é que Mellor identifica uma estrutura abstrata que engloba tudo dentro do mundo físico. O conceito de mídia de Hansen é pluralista no sentido de que compreende toda a variedade de formas medianas, o que é consistente com sua convicção de que não há tempo em si. A razão pela qual Hansen enfatiza a pluralidade de mídia é que seus argumentos são direcionados contra a subjetividade do tempo. Não é a priori a estrutura de subjetividade kantiana em que o tempo se baseia, mas a estrutura temporal da mídia. A mídia é entendida como um meio material para induzir intervalos temporais que não são constituídos pelo sujeito. Essa idéia também pode ser encontrada na teoria de Stiegler: Ele sustenta que objetos temporais, como o filme, induzem memórias não vividas por meio da reprodução tecnológica que influencia e altera a percepção do tempo inconscientemente incorporada.
Hansen combina a priori a ideia de uma medial com uma compreensão fenomenológica da consciência do tempo em suas leituras de Merleau-Ponty e Husserl. No tempo objetivo de Husserl ou na origem do mundo interior da consciência do tempo não é explicitamente um sujeito da análise fenomenológica (HUSSERL, 1991, p. 10). Merleau-Ponty amplia o conceito em seu trabalho tardio O Visível e o Invisível e integra a corporeidade e semelhança do sujeito com o mundo dos objetos e das coisas na configuração fenomenológica. Hansen baseia-se nessa abordagem: suas considerações sobre o fundamento ontológico do tempo parecem não ter nenhuma relação substantiva com o seu conceito de experiência do tempo. Ele leva a consciência do tempo a ser uma consciência incorporada. Este é um ponto que ele enfatiza em sua interpretação de 2004 das obras de mídia de Douglas Gordon e Bill Viola. Aqui surge a questão: em quão longe a ideia de Hansen de consciência do tempo incorporada é compatível a priori com sua medial em seu ensaio de 2009 sobre o tempo técnico?
Vou descrever brevemente as duas premissas de Hansen e depois confrontá-las com a noção de Merleau-Ponty sobre a carne do tempo. Primeiro algumas palavras sobre a questão da corporificação: Hansen lê Gilles Deleuze em suas elaborações sobre a imagem do tempo no cinema como um teórico da descorporificação porque, na imagem do tempo, a lógica inerente à imagem não é a do corpo em movimento como na imagem em movimento. Ao separar a imagem da perspectiva envolvente do corpo em movimento, o tempo se torna o objeto da representação. O que o filme representa quando usa a técnica da imagem do tempo em vez da imagem do movimento é o tempo puro. Quando a câmera não é mais um substituto do corpo em movimento, suas imagens revelam algo que não corresponde ao mundo como um sujeito incorporado vê-lo. O que aparece é uma lógica do tempo que não é objeto, mas pode ser ainda representada por meio de mídia.
Stiegler segue esta direção deleuziana de descorporificação quando caracteriza a técnica como "busca da vida por outros meios que não a vida" (STIGLER, 1998, p. 17). Em suas obras posteriores, ele elabora sobre objetos temporais tecnicamente constituídos, a saber, filme, como meio de divulgar a estrutura temporal da consciência. Ele faz isso ao seguir as análises de Husserl sobre a consciência do tempo interior, que são guiadas pelo objeto temporal da melodia. Stiegler substitui a melodia por filme. O cinema é de acordo com Stiegler, o objeto temporal paradigmático que informa a nossa consciência do tempo. Assim como Husserl, ele enfatiza a retenção (como forma primordial de memória) como a base da consciência do tempo. Aqui, Hansen observa uma tendência à descorporificação: Stiegler combina a ênfase de Husserl na retenção com uma ideia a priori de uma medial. Ele apresenta um terceiro tipo de lembrança do passado além da retenção (que é o passado imediato que é mantido em mente no presente momento) e a memória (a reprodução ativa de eventos passados). Ambos são atos distintivos ou modos de consciência. O conceito de memória terciária não descreve um modo de consciência, mas o passado externamente armazenado. Este passado armazenado medial envolve imagens que não foram vividas pelo sujeito. Stiegler propõe um "acoplamento estrutural entre tecnologia de mídia e consciência" (HANSEN, 2004, p. 597). A consciência do tempo, para colocá-la em termos extremamente simplificados, é estruturada por intervalos externos, é invadida por padrões e memórias temporais tecnicamente constituídos. Na teoria de Stiegler, esses padrões são essencialmente cinematográficos e baseados em estoques externos de memória.
Hansen critica essa abordagem ao esclarecer que Stiegler toma a consciência cinematograficamente informada como um "modelo universal de percepção" (HANSEN, 2004, p. 600), enquanto que para Husserl o objeto temporal da melodia figurava como um meio heurístico para descrever a consciência do tempo. Na ênfase de Stiegler na retenção - memória terciária induzida pelo filme -, Hansen detecta um movimento em direção à descorporificação, assim como em Deleuze. Hansen conclui que o impacto da memória terciária no processo seletivo de percepção negligencia a "história incorporada" dos sujeitos (HANSEN, 2004, p. 600), por causa do foco de Stiegler nas memórias não vividas (memórias externas ao assunto ou não pertencem a suas experiências) que são inseridas na mente do assunto pelo cinema. De acordo com Hansen, ele negligencia o papel crucial da percepção incorporada, que pré-seleciona as percepções incorporadas de acordo com seus próprios padrões e experiências.
A questão é como Hansen integra o corpo dentro de sua abordagem no tempo. Na leitura de Husserl e Merleau-Ponty, ele enfatiza a dimensão do futuro, a protensão e não a retenção. Em Husserl, o conceito de protensão não é detalhado. Protensão significa antecipação das percepções que ainda estão por vir. Essas antecipações são formadas com base na retenção, do que acaba de passar. Francisco Varela, que lê Husserl da perspectiva neurocientífica, propõe toda uma visão sobre a protensão: ele toma a protensão de ser fundamentalmente diferente da retenção. A protensão não é uma simples idéia do que vai acontecer logo por meio do que aconteceu agora. Em vez disso, a protensão figura como a dimensão do afeto. Hansen define o afeto ao se referir a Francisco Varela: "a correlação fenomenológica da dinâmica neural a partir da qual o presente surge e, portanto, é inseparável da dimensão protencional da consciência do tempo. [...] a protensão pretende o novo antes de qualquer impressão ou presente perceptivo" (HANSEN, 2004, p. 608).
Hansen usa o conceito de afeto para defender a consciência do tempo como incorporada. Ele toma isso como base para sua descrição da consciência do tempo. A dimensão protencional do afeto é central porque explica a abertura da percepção para o novo. A novidade neste conceito não é uma alteridade radical, mas uma alteridade que é disponibilizada pela cognição incorporada, sendo o sujeito um objeto visível no mundo de outros objetos. Em Merleau-Ponty assunto e objeto não são a priori categorias. Numa perspectiva genética, um processo experiencial. A união íntima (primordial) do sujeito e do mundo é a condição da possibilidade de novidade e relação afetiva. Hansen leva esse ser primordial ao mundo como base de uma contaminação da consciência do tempo por um "não vivido" que não é uma "recorrência de um passado terciário" (HANSEN, 2004, p. 610). Em vez disso, os hastes novos ou não vividos derivam da infraestrutura material da "espessura do presente pré-objetiva" (HANSEN, 2004, p. 611). Até este ponto, concordo com Hansen. Em sua interpretação da teoria de Merleau-Ponty, ele não considera o que o acoplamento do sujeito e do mundo faz à infraestrutura material. A abertura de uma perspectiva no mundo também afeta o mundo ou a infraestrutura material. Não só os objetos e, neste caso, os objetos temporais técnicos da mídia contaminam a consciência do tempo. A categoria do objeto em Merleau-Ponty emerge com o assunto. Esta dimensão teórica desapareceu na teoria de Hansen. Ele abre a estrutura do tempo-consciência para intervalos técnicos induzidos, mas não reflete o impacto de serem percebidos por um sujeito.
Por um lado, existe o problema de que Hansen usa a chamada B-Séries (antes / depois) para o fundamento ontológico da consciência do tempo estruturado (passado, presente, futuro) da Séries A: em suas elaborações na base medial, ele se refere a uma pré-estrutura mínima pré-induzida por temporalizações medianas. Aqui, ele usa as séries B a-subjetivas para explicar a experiência alterada do tempo, que está em si mesma estruturada por tempos e o presente subjetivo. Como essa estrutura mínima se transforma em uma espessura do presente do sujeito, continua a ser uma questão aberta. Este problema também ocorre na teoria de Mellor e ele também falta de dar uma explicação de como a percepção humana constitui os tempos do mínimo antes / depois da relação de sua entrada. Aqui, uma abordagem fenomenológica precisa ser integrada dentro das considerações ontológicas. Para a questão da constituição Hansen refere-se ao conceito de afeto de Francisco Varela (VARELA, 2005). O afeto, para ele é uma propriedade da percepção, que é a condição para a abertura para novas impressões (HANSEN, 2004, p. 609), sem ser ele preenchida por nenhuma impressão. O afeto não deve ser confundido com antecipação, o que em si é uma postura intencional informada por experiências do passado. O afeto na versão de Varela e Hansen tem como correlação neural a estrutura que é diferente da consciência do presente (HANSEN, 2004, p. 608) e, portanto, está envolvida na constituição da passagem do tempo. Isso torna a protensão a principal fonte de consciência do tempo, embora ainda não explique sua estrutura tensa.
Hansen não elabora como o surgimento da estrutura subjetiva, por sua vez, influência a estrutura material / medial do mundo perceptivo. Esta é uma questão muito complexa, uma vez que traz o problema da mídia. Em Hansen, vejo dois possíveis cenários em jogo: 1. A mídia se desenvolveu junto com a cognição humana e, portanto, a cognição humana, incluindo a experiência do tempo, sempre foi informada pela mídia. 2. A era da mídia digital impõe novas estruturas temporais que não são modeladas de acordo com as possibilidades da percepção humana, mas ainda informam e alteram nossa percepção e memória. Ambos os cenários estão presentes em suas considerações (Hansen, 2009, pp. 297). O ponto crucial em Hansen é que a tecnologia constitui uma estrutura temporal mínima que é independente da síntese intelectual, ele a chama de "síntese temporal puramente técnica" (HANSEN, 2009, p. 298). O tempo então é artifactualizado em vez de sintetizado por um agente cognitivo. A experiência do tempo se baseia nas estruturas pré-estabelecidas de acordo com Hansen.
Com a nova arte digital, o tempo se desprende da subjetividade no sentido de que essas formas de arte não artifactualizam o tempo de acordo com o paradigma humano. Hansen exemplifica sua idéia descrevendo a vídeo-instalação de Wolfgang Staehle Empire 24/7 (para uma descrição, veja HANSEN, 2009). Ele conclui que:
Por meio de sua híbrida constitutiva (Império 24/7, YF) - sua capacidade de apresentar o que é (normalmente) não representável, para estetizar e mediar o que permanece além da estética e da mídia - Império 24/7 consegue capturar e expressar nossa passagem cultural para um novo tipo de realidade temporal, em que a consciência do tempo humano foi marginalizada, ou talvez mais precisamente, em que o funcionamento da consciência do tempo e o funcionamento da inscrição técnica do tempo se separaram. Ao apresentar à consciência do espectador o que normalmente permanece abaixo do seu limiar perceptivo - a artefactualização técnica da estrutura mínima do tempo pré-pós - o trabalho de Staehle demonstra assim amplamente os processos de temporalização, incluindo os da temporalização humana, dependem das técnicas pós-midiáticas (HANSEN, 2009, p. 298).
O termo técnicas pós-midiáticas significa que os objetos temporais técnicos se tornam substitutos da consciência do tempo humano, a temporalidade se torna tecnicamente distribuída (HANSEN, 2009, p. 298). Essencialmente, o que acontece aqui é o movimento de oposição à posição tradicional kantiana. Se Kant teria mudado o tempo dentro do sujeito e sua arquitetura cognitiva, Hansen faz o contrário: ele exclui o sujeito e projeta o tempo de volta para a estrutura material da tecnologia. Ele está falando do tempo técnico e não medial porque a mídia implica o sujeito como usuário, perceptor, agente. A razão pela qual Hansen enfatiza a arte digital é que ele vê um potencial de ampliar o acesso humano à estrutura material do mundo (Hansen, 2006, pág. 266). Nesta visão, o mundo técnico é concedido uma forma própria destacada da cognição humana. Certamente é verdade que a maioria das máquinas hoje tem uma forma de cognição inconsciente. Em muitos processos técnicos, a informação leva a uma reação diferenciada em dispositivos técnicos, se isto justifica o conceito de síntese técnica deve ser discutido em outros lugares.
A noção de Merleau-Ponty sobre a carne do tempo (la chair du temps, em francês, ver MERLEAU-PONTY, 1968, p. 148) visa superar exatamente essa tensão entre ontologia e fenomenologia do tempo. Como mostrei, o conceito de Hansen aborda a questão da ontologia do tempo (definindo-a como não substancial e dependente do material), bem como a experiência subjetiva do tempo e sua estrutura. Ambos os aspectos não estão realmente integrados dentro de uma abordagem teórica. A força da abordagem de Hansen reside na análise minuciosa da temporalidade na arte digital. Consequentemente, ele enfatiza a dimensão do futuro na experiência humana do tempo (elaborando o conceito de afeto). No lado do material, não parece nada além de uma estrutura temporal mínima de antes e depois realizada por dispositivos técnicos. Do lado do sujeito cognitivo existe a complexa estrutura do passado, presente e futuro. Como essas duas dimensões vão juntas, permanecem vagas. A noção de carne de Merleau-Ponty pode ajudar a conceituar essa lacuna.
A carne é um conceito derivado da experiência corporificada (Merleau-Ponty, 1968, p. 189). A carne orgânica medeia o toque e pode ser tocada - é o lugar onde o entrelaçamento de perceber e ser percebido encontram-se. Merleau-Ponty dá ao conceito da carne um significado mais amplo: falando sobre "o tecido da experiência" (MERLEAU-PONTY, 1968, p. 189) ele usa o termo para descrever a experiência e o mundo experiente como uma coerência. Na sua ontologia, a perspectiva do sujeito altera o mundo material. Com o perceptor, a dimensionalidade do mundo é diferente da de um mundo sem subjetividade. Ele caracteriza a dimensão de um mundo que contém a subjetividade como profundidade (MERLEAU-PONTY, 1968, p. 268) - o conceito de profundidade contém o invisível, o nada: isso só pode ser uma característica de um mundo que contém a subjetividade. A profundidade é a dimensão que implica invisibilidade, bem como abertura - o que Hansen (citando Varela e Merleau-Ponty) chama de afeto do lado do sujeito. O efeito também é uma estrutura vazia: se compreendemos a consciência como intencionalidade, o afeto é intencionalidade vazia. Ele visa abstratamente o novo sem tê-lo ainda pré-definido. Com o conceito da carne, Merleau-Ponty descreve a estrutura do perceptivo / percepção como pertencente a uma estrutura de perceptibilidade / visibilidade registrada dentro da materialidade do mundo.
O que Hansen descreve como técnicas ou mídia comporta necessariamente traços da cognição humana, a partir do qual ela se origina. Embora as estruturas técnicas tenham se desenvolvido em uma estrutura hiper-complexa que transcende a relação simples de usuário-dispositivo, existe uma correlação com a subjetividade em um sentido amplo. A tecnologia participa da mesma estrutura que compreende também a cognição humana. Não existe um intervalo ontológico entre o tempo das máquinas e nossa experiência temporal corporal (talvez deficiência). Se pensarmos no mundo material como uma estrutura permeada pela subjetividade, então a técnica traz vestígios dessa permeação. Derrubar uma perspectiva sobre o mundo abre a estrutura subjetiva. Nesse processo de abertura, a objetividade surge com a subjetividade. Ambas as categorias ontológicas estão entrelaçadas e sua constituição é um processo temporal que nunca cessa (para uma descrição desse processo, veja MERLEAU-PONTY, 1945).
Além de se opor ao tempo técnico e vivido, é necessário um conceito que compreenda ambos. Hansen fez um bom começo ao fazê-lo, ainda assim o fosso entre humanos e a máquina parece ser largo. Na minha opinião, um conceito filosófico do tempo precisa ser compatível com as teorias da cognição incorporada e integrada (como Andy Clark, Alva Noë e outros estão propondo). Especialmente, a noção de cognição incorporada em um meio ambiente e meio constituído por agentes cognitivos representa a versão contemporânea da noção de Merleau-Ponty da carne. Um conceito do tempo precisa integrar o entrelaçamento ou a influência mútua de estruturas subjetivas e objetivas e não reforçar sua oposição. Uma proposta seria ampliar o uso de Hansen do conceito de afeto e combiná-lo com o conceito Merleau-Pontiano da carne. Este conceito tem a vantagem de integrar os aspectos perceptivos e ontológicos do tempo. Além disso, o conceito de carne em relação à profundidade em Merleau-Ponty também pode acomodar a noção do passado terciário ou memória não vivida, como Stiegler o apresenta, porque o interlúdio material / perceptual da carne permite a memória como alojada no material.
4 Conclusão
O principal problema a abordar aqui foi como desenvolver um relato de consciência do tempo que possa integrar a experiência incorporada e a materialidade em que está inserida. Deste ponto de vista, a percepção do tempo e a formação da memória coincidem. Ambos são mediados por uma estrutura complexa de relações corporais e tecnológicas. Passando passo a passo através dos conceitos clássicos do tempo da tradição continental e analítica, mostrei como os conceitos mudaram gradualmente de puramente subjetivas (KANT, HUSSERL, MCTAGGART) para mais e mais materialistas (MELLOR, HANSEN, STIEGLER). Ainda assim, os aspectos experienciais da cognição incorporada e da formação da memória não desempenham nenhum papel central. Por isso, apresentei o conceito de Merleau-Ponty da carne do tempo como um meio para entender a sensibilidade generalizada que é introduzida pela tecnologia digital. Esse conceito não substitui um relato diferenciado da consciência do tempo e da formação da memória quando Hansen o apresenta. Pretende, em vez disso, superar o fosso entre a experiência humana e a base material (tecnológica). Assim, pode explicar as mudanças fundamentais na construção da memória à medida que a experimentamos na era digital.
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Yvonne Foerster is philosopher and Doctor in philosophy. Professor at Leuphana University, Lueneburg (Germany), and researcher at Institute of Advanced Studies for Cultural Sciences, at University of Konstanz. She studies philosophy of technology, theories of embodiment and time, aesthetics, digital art and fashion theory.
How to quote this text: Foerster, Y., 2017. The flesh: conceptualizing time and memory in the digital world. V!RUS, 15. [e-journal] [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus15/?sec=4&item=1&lang=en>. [Accessed: 11 September 2024].
Abstract
The paper aims at developing an account of time-consciousness that can integrate embodied experience and the materiality it is embedded in. Following Maurice Merleau-Ponty and his concept of the flesh of time, I will present an alternative to idealist and materialist theories of time. A concept of time, that can integrate the complex structures of bodily and technological relations, can account for the changes in memory formation brought about by technology. By going step by step through classic concepts of time of both the continental and the analytical tradition, I will show how the concepts gradually change from purely subjective or idealist accounts (Kant, Husserl, McTaggart) to more and more materialist accounts (Mellor, Hansen, Stiegler). Still the experiential aspects of embodied cognition and memory formation play no central role. Therefore, Merleau-Ponty's concept of the flesh of time will be introduced as a means to understand the generalized sensibility that comes with digital technology. This concept will not replace a differentiated account of time-consciousness and memory formation. It rather aims at bridging the gap between human experience and the material (technological) base. Thus, it can account for the fundamental changes in the construction of memory as we experience it in the digital age.
Keywords: Time consciousness, Memory formation, Technology, Embodiment, Ontology of time
1 Introduction
The construction of memory depends on the media we use as well as on the physical and social structures of our life-world. Memory evolves with the usage of technology in a broad sense. What we remember and how we remember it, depends on the interweaving of experience, materialities and technology. Storytelling has influenced how we conceptualize time and memory: It taught us how to imagine possible worlds, historical places and utopias of the future. Scripture, print and more recently digital technology shape how and what we remember. The wirings in our brains literally are different from those of our grandparents when it comes to the way we memorize things, how we feel the urge to remember and how we retrieve memories from the depth of our consciousness.
This paper takes the issue one step further and looks at constitutional theories of perception of time and memory. The aim is to identify constitutional factors and find ways to accommodate them within a theoretical framework. I will give a critical account of theories that either omit the material basis of memory formation or the role of experience. Both, as I will argue can be integrated and I will show this by referring to Maurice Merleau-Ponty's concept of the flesh (1964).
Traditional concepts of time and memory in the Kantian and analytical tradition omit the role of embodied experience and materiality for the constitution of time consciousness. Current approaches in media philosophy attempt to theorize how technology shapes perception of time. Mark B. N. Hansen (2006) and Bernard Stiegler (1998) present exemplary theories which emphasize the non-conscious influence technology (technological a priori) exerts on human perception of time and memory. This paper aims at a critique of both, the traditional concepts as well as approaches using the technological a priori, because both fail to integrate the perceptual and experiential dimension of time consciousness and memory. Following Merleau-Ponty I will argue that account of the perceptual dimension of time-consciousness is needed in order to account for the changing ways in which memory is constituted in times of digital technology.
2 Idealist vs. materialist concepts
The widely used conceptual differentiation of A- and B-Series of time goes back to J.M.E. McTaggart (1908). He distinguishes time as structured by past, present and future (A-series), which comprises memory, perception and anticipation as cognitive modes on the one hand side and time structured by before/after relations (B-series) on the other. McTaggart took those two structural descriptions of time as ontologically not on par and asked which one of those is to be regarded as fundamental for the existence of time and henceforth is ontologically primary. He argued for a primacy of the A-Series (which emphasize perception and change of time) and argued that the B-Series cannot account for change. Relations of before/after stay the same no matter from which temporal position one looks at them. If an event lies in the future, is present or has already become past, is a process of change: the temporal properties of being past, present or future change in relation to the temporal position of the beholder. McTaggart defines change as the changing of the predicates of one event: At first the event is future, then becomes present and eventually will become past. In the B-Series an event takes a position in a succession of all the events coming before or after. This position never changes and hence change cannot be accounted for (the contemporary B-Theorists say the contrary). McTaggart concludes that the A-Series is fundamental to time, because only this series can account for change, which is essential to time. But the changing of the temporal predicates leads to a contradiction (McTaggart, 1908) and that is why time ultimately is unreal, which means it does not exist outside of human experience.
In the continental tradition of time theory, however, the question of experience or intuition of time is prevalent. The Kantian theory treats time as a necessary a priori form of intuition (Kant, 2009, p.178-182), hence Kant focuses on the subject as the ontological decisive fundament. With Kant time has come to be treated as a matter of cognition, most theories before treated time within metaphysics as a question of substance, e.g. Leibniz and Newton. Within the Kantian approach time is dematerialized. In Kant’s definition of time as transcendental ideal, time is in not related to matter anymore. Instead time is treated as an immediate intuition with no outer correlate whatsoever.
The founder of phenomenological theory Edmund Husserl remained in this tradition but described the experience and constitution of time within the subject in much more detail. Other than Kant he analyzes the constitutional process of time within consciousness alongside the concept of intentionality. Both Kant and the phenomenological tradition in the wake of Husserl treat time as subjective, as transcendental ideal. Time does not belong to the material world, it is neither a property of things nor a substance in its own right. Time is a form of intuition, a way of conceiving of the world. In this sense time is a necessary condition of cognition – without time or duration there would be no objects to conceive.
With regard to the ontology of time McTaggart as well as Kant and Husserl agree: Time as we experience it does not exist outside the conceiving subject. It is neither a property of something nor a substance. That means that there are no past, present or future facts outside our minds and hence memory has no material basis. These dimensions of time are projected onto the world by our minds. The existence of time and hence of memory is tied to subjectivity. In McTaggart's theory memory is not a topic, since he regards time from a purely analytical perspective. Kant and Husserl take memory as a productive act of the cognizing subject. Thus, memory is conceptually close to phantasy: both modes of consciousness produce their object by an act of imagination. The fine-grained differences of productive imagination are developed in Jean-Paul Sartre's The Imaginary from 1940 (2010). Though Sartre follows the Kantian tradition in the idea, that time is transcendental ideal, hence does not exist beyond consciousness, he famously argues for the materiality of memory and all other forms of productive imagination. He describes how imaginative acts rely on a material basis (analogon) which triggers acts of reproduction of memory or mental imagery. Here temporal perceptions are tied to a form of materiality and causation.
Causation is the key concept within the New B-Theory of Time. D. H. Mellor (1998) for example aims at an ontological foundation of time via causality. Mellor as proponent of the New B-Theory of Time agreed with McTaggart only insofar as he also thinks that time as A-Series is unreal. He does not conclude that therefore time is unreal. He suggests that even if there are no tensed facts in the world, there is time in form of a B-Series. The ontological foundation of time is achieved by causality. The before/after-relation of cause and effect determines an innerworldy temporal structure that accounts for change as a necessary condition of possibility for time to exist. The B-Series that is fundamental to time in Mellor’s sense is not the temporal order of events. This temporal order owes its temporality a deeper before-/after-relation, namely that of cause and effect. Causation makes things change with time, or else remain the same because even stasis is caused: something keeps a thing from changing. Mellor even translates Kant’s theory of time into a causal theory. He holds that the temporal order of our perceptions is caused: “So the time order that these perceptions make me perceive is fixed by their causal order […]” (Mellor, 2005, p. 631). Mellor’s move defers the order of temporal events to a physical structure which governs not only the material world but also the inner world of perception and thought. In short: Mellor argues for the reality of time and takes time as based in causality. Causality is a concept that is, at least in Mellor’s terms, not subjective. It is the fundamental structure of the physical world and minds are part of this physical world, that is why Mellor takes perceptions within the mind also as causally related.
3 Time as material process
Mark B.N. Hansen develops a concept of time that stresses the idea that time is not only defined by change but it can change itself (Hansen, 2006, p.209, 295) via subliminal processes of temporal materiality. He develops his account of time in the face of the new media art and its performative character. Following Merleau-Ponty Hansen focuses on the embodied character of perception and hence of time-consciousness. He draws on Merleau-Ponty's idea of the lived body and the concept of affect.
Time-consciousness and the experience of time are central questions in phenomenology. For Husserl it is the fundamental form of consciousness because every possible object of consciousness needs to be given in time. But time itself is never given as an immediate object. To analyze time-consciousness one needs according to Hansen and Bernard Stiegler (1998) a temporal object, which reveals the functioning of time-consciousness. Husserl’s paradigmatic temporal object is a melody. A melody is a special form of object because it only appears within the flux of time. Time belongs to its form of appearance. In Husserl's theory, it is an immediate form of memory (retention) that constitutes temporal objects.
The paradigmatic temporal object for Stiegler is cinema/movie. Hansen develops his concept along the lines of new media art, mainly film/video. Since consciousness in phenomenology is understood to be necessarily intentional, it is always directed toward an object. Time-consciousness can thus be analyzed only in relation with its object, but every object is given in time and hence is a temporal object. Stiegler and Hansen stress the temporality and classify only a certain range of objects as temporal objects, namely those objects, which are extended in time without ever being wholly present at one moment in time.
The central question is: Why can different temporal objects tell different stories about time-consciousness? Or: How can time-consciousness change with its temporal objects? If this were true, then time-consciousness is a historically changing form of cognition. Hansen holds that there is no basic structure of time, time only exists in form of “myriad of temporalizations” (Hansen, 2009, p.297). Time in this view manifests or realizes itself in different medial forms. One paradigmatic form for the current historic situation is digital inscription (Hansen, 2009, p.297). Digital media constitute a temporal structure that reaches beyond human perceptual abilities according to Hansen and alters human ways of perceiving and remembering time.
Similar to Mellor’s approach to define causality as the basic structure of time, Hansen takes media as constitutive of temporal perception. The main difference between the two approaches is that Mellor identifies one abstract structure that encompasses everything within the physical world. Hansen’s concept of media is pluralistic in the sense that it comprises the whole variety of medial forms, which is consistent with his conviction that there is no time in itself. The reason why Hansen stresses plurality of media is that his arguments are directed against subjectivity of time. It is not the Kantian a priori structure of subjectivity in which time is based but the temporal structure of media. Media is understood as a material means to induce temporal intervals that are not constituted by the subject. This idea can also be found in Stiegler's theory: He holds that temporal objects like film induce not-lived memories by means of technological reproduction that influences and alters non-consciously embodied perception of time.
Hansen combines the idea of a medial a priori with a phenomenological understanding of time-consciousness in his readings of Merleau-Ponty and Husserl. In Husserl objective time or the innerworldly origin of time-consciousness is explicitly not a subject of phenomenological analysis (Husserl, 1991, p. 10). Merleau-Ponty broadens the concept in his late work on The Visible and the Invisible and integrates the subject’s embeddedness and alikeness with the world of the objects and things in the phenomenological setup. Hansen draws on that approach: His considerations of the ontological foundation of time seems to stand in no substantive relation to his concept of experience of time. He takes time-consciousness to be an embodied consciousness. This is a point he stresses in his 2004 interpretation of the media artworks of Douglas Gordon and Bill Viola. Here the question arises: In how far is Hansen’s idea of embodied time-consciousness compatible with his medial a priori in his 2009 essay on technical time?
I will outline shortly Hansen's two premises and then confront them with Merleau-Ponty’s notion of the flesh of time. First some words on the question of embodiment: Hansen reads Gilles Deleuze in his elaborations on the time-image in cinema as a theorist of disembodiment because in the time-image the image-inherent logic is not the one of the moving body like in the movement-image. In separating the image from the engaging perspective of the moving body, time becomes the object of the representation. What film represents when it uses the technique of the time-image rather than that of the movement-image is pure time. When the camera is no longer a substitute of the moving body, its images reveal something that does not correspond the world as an embodied subject sees it. What appears is a logic of time which is no object but still can be represented by means of media.
Stiegler follows this Deleuzian direction of disembodiment when he characterizes technics as the “pursuit of life by means other than life” (Stiegler, 1998, p. 17). In his later works he elaborates on technically constituted temporal objects, namely film, as a means to disclose the temporal structure of consciousness. He does so in following Husserl's analyses of the inner time-consciousness, which are guided by the temporal object of the melody. Stiegler substitutes the melody by film. Cinema is according to Stiegler the paradigmatic temporal object that informs our time-consciousness. Just like Husserl he lays emphasis on retention (as primal form of memory) as the basis of time-consciousness. Here Hansen notes a tendency toward disembodiment: Stiegler combines Husserl’s emphasis on retention with an idea of a medial a priori. He introduces a third kind of recollection of the past besides the retention (which is the immediate past that is kept in mind in the present moment) and memory (the active reproduction of past events). Both are distinctive acts or modes of consciousness. The concept of tertiary memory does not describe a mode of consciousness but the externally stored past. This medial stored past involves images that have not been lived by the subject. Stiegler proposes a “structural coupling between media technology and consciousness” (Hansen, 2004, p.597). Time-consciousness, to put it in extremely simplified terms, is structured by external intervals, it is invaded by technologically constituted temporal patterns and memories. In Stiegler’s theory those patterns are essentially cinematografic and build upon external storages of memory.
Hansen criticizes this approach by outlining that Stiegler takes the cinematographically informed consciousness as a “universal model of perception” (Hansen, 2004, p.600) whereas for Husserl the temporal object of the melody figured as a heuristic means to describe time-consciousness. In Stiegler’s emphasis on retention – tertiary memory induced by film – Hansen detects a move toward disembodiment just as in Deleuze. Hansen concludes that the impact of tertiary memory on the selectional process of perception neglects the subjects “embodied history” (Hansen, 2004, p.600), because of Stiegler’s focus on the non-lived memories (memories that are external to the subject or do not belong to its experiences) that are inserted into the subject’s mind by cinema. According to Hansen he neglects the crucial role of embodied perception, which preselects the percepts according to its own standards and experiences.
The question is how Hansen integrates the body within his approach on time. In his reading of Husserl and Merleau-Ponty he emphasizes the dimension of the future, of protention rather than retention. In Husserl, the concept of protention is not developed in great detail. Protention means anticipation of the perceptions yet to come. Those anticipations are formed on the basis of retention, of what has just passed. Francisco Varela, who reads Husserl from neuroscientific perspective, proposes a whole other view on protention: He takes protention to be fundamentally different from retention. Protention is not a mere educated guess what will happen soon by means of what happened just now. Rather protention figures as the dimension of affect. Hansen defines affect by referring to Francisco Varela: “the phenomenological correlate of the neural dynamics from which the present emerges and is therefore inseperable from the protentional dimension of time consciousness. […] protention intends the new prior to any impression or perceptual present” (Hansen, 2004, p.608).
Hansen uses the concept of affect to argue for time consciousness as embodied. He takes it as basis of his description of time-consciousness. The protentional dimension of affect is central because it explains the openness of perception for the new. Newness in this concept is not a radical alterity but alterity that is made available by embodied cognition, by the subject being a visible object within the world of other objects. In Merleau-Ponty subject and object are no a priori categories. In a genetic perspective, an experiential process. The intimate (primordial) togetherness of subject and world is the condition of possibility for newness and affective relation. Hansen takes this primordial being with the world as basis of a contamination of time-consciousness by a “non-lived” which is not a “recurrence of a tertiary past” (Hansen, 2004, p.610). Rather the new or non-lived stems from the material infrastructure of the “thickness of the preobjective present” (Hansen, 2004, p.611). Up to this point I agree with Hansen. In his interpretation of Merleau-Ponty's theory he does not consider what the coupling of subject and world does to the material infrastructure. The opening of a perspective within the world also affects the world or the material infrastructure. Not only the objects and in this case the technical temporal objects of media contaminate time-consciousness. The category of the object in Merleau-Ponty emerges with the one of the subject. This theoretical dimension has gone missing in Hansen's theory. He opens the structure of time-consciousness to technical induced intervals but does not reflect the impact of their being perceived by a subject.
On the one hand side, there is the problem that Hansen uses the so-called B-Series (before/after) for the ontological foundation of the A-Series-structured (past, present, future) time-consciousness: In his elaborations on the medial basis he refers to a minimal before/after-structure that is induced by medial temporalizations. Here he uses the a-subjective B-Series to explain altered experience of time, which is in itself structured by tenses and the subjective present. How this minimal structure turns into a thickness of the subject’s present remains an open question. This problem also occurs in Mellor’s theory and he also falls short of an explanation how human perception constitutes tenses from the minimal before/after-relation of its input. Here a phenomenological approach needs to be integrated within the ontological considerations. For the question of constitution Hansen refers to Francisco Varela’s concept of affect (Varela, 2005). By affect he means a property of perception, which is the condition for openness to new impressions (Hansen, 2004, p.609) but is itself not filled by any impression. Affect is not to be confounded with anticipation, which itself is an intentional stance informed by experiences of the past. Affect in Varela’s and Hansen’s version has as neural correlate a structure that is different that of present-time consciousness (Hansen, 2004, p.608) and hence is involved in the constitution of the passage of time. That makes protention the primary source of time consciousness though it still does not explain its tensed structure.
Hansen does not elaborate how the emergence of the subjective structure in turn influences the material/medial structure of the perceptual world. This is a very complex question since it brings up the problem of media. In Hansen, I see two possible scenarios at stake: 1. Media have coevolved with human cognition and hence human cognition including experience of time has always be informed by media. 2. The age of digital media imposes new temporal structures that are not modeled according to the possibilities of human perception but still inform and alter our perception and memory. Both scenarios are present in his considerations (Hansen, 2009, p.297). The crucial point in Hansen is that technology constitutes a minimal temporal structure that is independent of intellectual synthesis, he calls it a “purely technical temporal synthesis“ (Hansen, 2009, p.298). Time then is artifactualized rather than synthesized by a cognitive agent. The experience of time builds on those pre-established structures according to Hansen.
With the new digital art time becomes detached from subjectivity in the sense that those forms of art artifactualize time not according to the human paradigm. Hansen exemplifies his idea describing Wolfgang Staehle’s video-installation Empire 24/7 (for a description see Hansen, 2009). He concludes that:
‘By way of it's (Empire 24/7, Y.F.) constitutive hybridity – its capacity to present what is (normally) unpresentable, to aestheticize and mediate what remains beyond aesthetics and media – Empire 24/7 manages to capture and to express our cultural passage to a new kind of temporal reality, one in which human time-consciousness has been marginalized, or perhaps more accurately, in which the functioning of time-consciousness and the functioning of technical inscription of time have parted ways. By presenting to spectatorial consciousness what normally remains below its perceptual threshold – the technical artifactualization of the minimal before-after structure of time – Staehle’s work thus demonstrates how extensively processes of temporalization, including those of human temporalization, depend on post-mediatic technics’ (Hansen, 2009, p.298).
The term postmediatic technics means that technical temporal objects become surrogates of human time-consciousness, temporality becomes technically distributed (Hansen, 2009, p.298). Essentially, what happens here is the oppositional move to the traditional Kantian position. Had Kant moved time into the subject and its cognitive architecture, Hansen does the opposite: He deletes the subject and projects time back into the material structure of technology. He is talking of technical rather than medial time because media implies the subject as user, perceiver, agent. The reason why Hansen stresses digital art is that he sees a potential of broadening the human access to the material structure of the world (Hansen, 2006, p.266). In this view the technical world is granted an own form ratio detached from human cognition. It is certainly true that most of the machines today have a form of unconscious cognition. In many technical processes information leads to differentiated reaction in technical devices, whether this justifies the concept of technical synthesis has to be discussed elsewhere.
Merleau-Ponty’s notion of the flesh of time (la chair du temps in French, see Merleau-Ponty, 1964, p.148) aims to overcome exactly this tension between ontology and phenomenology of time. As I have shown, Hansen's concept tackles the question of ontology of time (defining it as non-substantial and material-dependent) as well as the subjective experience of time and its structure. Both aspects are not really integrated within one theoretical approach. The strength of Hansen’s approach lies in his minute analysis of temporality in digital art. Accordingly, he stresses the dimension of future in human experience of time (by elaborating on the concept of affect). On the side of the material though there seems nothing but a minimal temporal structure of before and after realized by technical devices. On the side of the cognizing subject there is the complex structure of past, present and future. How these two dimensions go together remains vague. Merleau-Ponty's notion of the flesh can help to conceptualize this gap.
The flesh is a concept that is derived from embodied experience (Merleau-Ponty, 1964, p.189). The organic flesh mediates touch and can be touched – it is the place where the intertwining of perceiving and being perceived fall together. Merleau-Ponty gives the concept of the flesh a broader meaning: Speaking of “le tissue de l’expérience” (Merleau-Ponty, 1964, p.189) he uses the term to describe experience and the experienced world as a coherence. In his ontology, the perspective of the subject alters the material world. With the perceiver, the dimensionality of the world is different from that of a world without subjectivity. He characterizes the dimensionality of a world containing subjectivity as depth (Merleau-Ponty, 1964, p.268) – the concept of depth contains the invisible, the nothingness: This can only be a feature of a world containing subjectivity. Depth is the dimension that implies invisibility as well as openness – what Hansen (citing Varela and Merleau-Ponty) calls affect on the side of the subject. Affect is also an empty structure: if we understand consciousness as intentionality, affect is empty intentionality. It abstractly aims at the new without having it predefined yet. With the concept of the flesh Merleau-Ponty describes the structure of perceiver/percept as pertaining to one structure of perceptibility/visibility enrolled within the materiality of the world.
What Hansen describes as technics or media bears necessarily traces of human cognition from which it originates. Even though technical structures have developed into a hyper-complex structure that transcends the simple user-device-relation, there is a correlation with subjectivity in a broad sense. Technology participates in the same structure that comprises also human cognition. There is no ontological gap between the time of the machines and our bodily (maybe shortcoming) temporal experience. If we think of the material world as a structure permeated by subjectivity then technic bears traces of this permeation. Shedding a perspective on the world opens up the subjective structure. In this process of opening up, objectivity co-emerges with subjectivity. Both ontological categories are intertwined and their constitution is a temporal process that never ceases (for a description of that process see Merleau-Ponty, 1945).
Other than to oppose technical and lived time a concept that comprises both is needed. Hansen has made a good start in doing so, still the gap between human and the machine seems to wide. In my view a philosophical concept of time needs to be compatible with theories of embodied and embedded cognition (as Andy Clark, Alva Noë and others are proposing). Especially the notion of cognition as embedded in an environment and the environment being constituted by cognizing agents represent the contemporary version of Merleau-Ponty notion of the flesh. A concept of time needs to integrate the intertwining or the mutual influence of subjective and objective structures and not reinforce their opposition. One proposal would be to extend Hansen use of the concept of affect and combine it with Merleau-Pontian concept of the flesh. This concept has the advantage to integrate both perceptual and ontological aspects of time. Furthermore, the concept of the flesh in relation with depth in Merleau-Ponty can also accommodate the notion of the tertiary past or non-lived memory as Stiegler presents it, because the material/perceptual intertwining of the flesh allows for memory as housed in the material.
4 Conclusion
The main problem to tackle here was how to develop an account of time-consciousness that can integrate embodied experience and the materiality it is embedded in. From this point of view perception of time and the formation of memory coincide. Both are mediated through a complex structure of bodily and technological relations. By going step by step through classic concepts of time of both the continental and the analytical tradition, I showed how the concepts gradually changed from purely subjective accounts (Kant, Husserl, McTaggart) to more and more materialist accounts (Mellor, Hansen, Stiegler). Still the experiential aspects of embodied cognition and memory formation play no central role. Therefore, I introduced Merleau-Ponty's concept of the flesh of time as a means to understand the generalized sensibility that is introduced by digital technology. This concept does not replace a differentiated account of time-consciousness and memory formation as Hansen presents it. It rather aims at bridging the gap between human experience and the material (technological) base. Thus, it can account for the fundamental changes in the construction of memory as we experience it in the digital age.
7 References
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