Jaime Del Val é artista multidisciplinar e digital, filósofo e ativista. Coordenador do Projeto Metabody e Diretor do Instituto Reverso. Estuda a convergência singular entre artes (dança, performance, artes visuais, música e arquitetura), tecnologias digitais, pensamento crítico e ativismo.
Como citar esse texto: Del Val, J. Hipermemória e micromemórias no algoriceno: memória, fronteiras e cura. Traduzido do inglês por Maria Júlia Stella Martins. V!RUS, São Carlos, n. 15, 2017. [online] Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus15/?sec=4&item=4&lang=pt>. Acesso em: 07 Out. 2024.
O Algoriceno é o nome que dou para o que em outros lugares é chamado Antropoceno ou Capitaloceno1, na tentativa de compreender os processos subjacentes às transformações antropocêntricas e capitalistas das dimensões planetárias que afetam a memória geológica do planeta. Subjacente às ações do anthropos e do capital, identifico modos de organização coletiva que, ao longo do milênio, tomaram uma forma que poderíamos chamar de algorítmica, que prioriza o padrão/forma e a calculabilidade das ecologias relacionais (metabodies sociais, mas, não só), reduzindo a complexidade dos movimentos à medida que se tornam alinhados com geometrias cada vez maiores.
A memória é sempre um processo distribuído, é um recurso coletivo de como as relações do movimento conformam campos e as ecologias podem assumir infinitas formas de articulação. A memória é o modo de consistência que compõe uma ecologia relacional. Ela descreve as maneiras pelas quais o movimento sempre está em conformidade com campos de indeterminância complexa (relativa).
O Algoriceno coloca em primeiro plano um modo algorítmico de memória e ecologia no qual através da combinação e da estabilização geométrica concentrando mais e mais aspectos da ecologia2que permite, também, movimentos segmentados e concentrados, os quais são eles mesmos abstraídos de sua vivacidade como memória móvel e dentro de uma memória formal que culmina, no momento atual, na ontologia de dados;
Os quadros, a fotografia, a memória representacional e seus subprodutos e meios (o eu, o estado...) têm priorizado a definição de memória relacionando-a aos objetos, às coisas, aos seres, às substâncias, situadas na extensão abstrata cartesiana, sujeita à quantificação; uma memória orientada por formas e objetos reconhecidos, nas trajetórias casuais de movimento, conformando uma identidade única, uma linha temporal casual de memória e consciência (seres de memória que é a condição de consciência), promulgada pela orquestração perceptual da percepção visual. A noção de dado e informação constituídos como entidades ontologicamente definidos que resultam, até agora, o processo e o abre para um modo bastante diferente de ontologia.
Como a informação, a computação e a cibernética abrem o campo para um novo tipo de realidade de processos contínuos e dinâmicas radicais, nos quais não há dados e algoritmos fixos. A cultura Big Data abre o novo campo de hiperalgoritmos e hiperdados como realidades sem ontologia estável ou contorno definido, apontando para processos cada vez mais incognoscíveis e dinâmicos.
A macromemória como memória casual linear, formando linhas temporais, fundamentadas em recursos espaço-temporais euclidianos e cartesianos, era uma memória de recursos repetitivos fixados com bordas e contornos definidos, externalizados nos algoritmos da visão em perspectiva e nas arquiteturas espalhadas em todo o corpo social e nas coreografias de interação.
A memória é sempre externalizada em geometrias e algoritmos estáticos que geraram a separação entre o observador e um mundo e com isso a noção de identidade ou de “eu” e as linhas temporais casuais que passam os “eus” são geometrias reduzidas conformando uma memória linear. Um dos meios predominantes, ainda, é a imagem fotográfica e o enquadramento à distância. A macromemória trata de definição, estabelecimento de fronteiras, delimitação/vinculação fixação e preservação, relacionadas à construção de fronteiras estáticas.
Fig. 1: Gravação de Albrecht Dürer mostrando uma máquina de visão em perspectiva. 1525. (OASC, Domínio Público - Museu Metropolitano de Arte) - Esta gravura mostra os aspectos fundamentais dos algoritmos perspectivais que definem as macromémias e seus assuntos cartesianos relacionados.
A Hipermemória é a externalização mais radical3da memória dos sistemas computacionais em escala planetária, hiperalgorítmos autônomos gerindo nossas percepções, lembranças, conhecimento e futuros, seguindo um impulso de controle total o qual chamo de “niilismo exponencial”.
O selfie é um dos paradigmas predominantes, que alimenta hiperperfis nas redes sociais que atuam como mecanismos de hipercontrole onde o enquadramento em perspectiva na fotografia é herdado de regimes prévios e lançado para sistemas computacionais planetários. Onde algoritmos emergentes geram correlações emergentes a partir de base de dados infinitas, onde qualquer coisa que possa ser percebido e quantificado por um sensor é potencialmente armazenado e será potencialmente processado, eventualmente, gerando correlações e novos dados. Contudo, em formas incompreensíveis para humanos, como um tipo de potencial infinito de memória cujo armazenamento é inacessível para humanos e, significativo apenas para autônomos, emergentes, incompreensíveis, algoritmos Big Data: uma memória infinita de esquecimento e constante apagamento, uma memória não humana na qual humanos perdem memória, assim como, hiperalgaritmos ganham-na. A hipermemória trata da modulação dos produtos da macromemória que segue uma expansão lógica exponencial de absoluto controle, do potencial, bem como, do real. As dinâmicas incompreensíveis da memória da cultura do Big Data são hipermemórias de uma nova forma de vida algorítmica a partir da qual nos tornamos agregados. Hipermemória trata da criação de fronteiras dinâmicas.
Macromemórias são construídas sobre o crescente predomínio de abstrações algorítmicas com grelhas do plano hipnodinâmico, ou de visão em perspectiva, coregrafando relações e fixando elementos e percepções, proporcionando uma definição ficcional de representação, reprodução e preservação.
As hipermemórias ainda estão sustentadas por grids e frames, mas sinalizam o deslocamento para um dinamismo radical na reorganização dos segmentos fornecidos pelas macromemórias para uma restauração contínua de ecologias planetárias seguindo a lógica desconhecida de hiperalgoritmos autônomos, uma lógica, no entanto, de preempção e controle (por exemplo, quando a interface do Facebook muda continuamente após o nosso clique, na tentativa de antecipar nossos comportamentos e desejos futuros).
1.1 Micro/metamemórias
Em vez de macro e hipermemória, proponho pensar em micro ou metamemórias como ecologias relacionais abertas que não seguem uma lógica algorítmica de redução, quantificação e controle de movimento.
As memórias são metabodies, campos complexos de relações de movimento. Seguindo e expandindo a definição de Varela sobre cognição enativa4, o que constitui a cognição e, literalmente, a sinaptogênese é como nos movemos no mundo, mas, como nos movemos cria também os próprios ecossistemas de relações de que somos parte, ou seja, o mundo, como processo intra-ativo 5. A cognição corporificada define a memória como sempre já incorporada, distribuída, externalizada e expandida, sempre acontecendo nas relações de movimento que constituem as ecologias / metabodies dos quais somos parte. Então, o que está em jogo é compreender os tipos de movimentos e, portanto, as ecologias (e as memórias) que criam diferentes tipos de movimento. Memórias / ecologias algorítmicas são redutoras, estreitam o campo de movimento e percepção, têm vontade de fazer a captura total. A memória linear, causal e unificada é a descendência mais redutora. Proponho pensar em outros tipos de movimento e memória.
Os recursos da memória falam sobre a natureza mais ou menos aberta dos campos das relações de movimento que conformam uma ecologia. O movimento sempre acontece em campos infinitamente complexos de maior ou menor indeterminação ou abertura. Isto é, onde as relações de movimento podem se abrir constantemente para conexões imprevistas. Nas ecologias causais algorítmicas, essa abertura é minimizada à medida que o movimento se alinha com geometrias de captura que reduzem a indeterminação complexa do movimento.
Pensemos agora em movimento e memória em uma colônia bacteriana, em um enxame ou em nossa própria propriocepção, o que eu chamo de enxames proprioceptivos / aloceptivos, multiplicidades de relações irredutíveis às noções de trajetória ou linha causal, como sensações em todo o espectro de modalidades de detecção (o contínuo sensorial transmodal) geram conexões difusas nos corpos. Nas sensações difusas de movimento interno de propriocepção, são geradas microsensões embaçadas conectando de maneiras variáveis qualquer modalidade de percepção, digamos uma sensação de toque particular conectada à temperatura, equilíbrio, orientação espacial, visão e som, enquanto seguro um copo. A memória em evolução das propriedades do vidro é uma configuração particular, mas, aberta, dos enxames proprioceptivos, que, sendo sempre expansíveis e em devir, prefiro chamá-los, enxames aloceptivos. Esta lógica pode ser aplicada às colônias bacterianas, ao clima, aos enxames de insetos e assim por diante. Propriedades e memórias são sempre condensações nos enxames de microsensação nos corpos, através dos corpos. A questão crucial é como promover a abertura dessas relações e condensações. A macromemória em perspectiva consiste em reduzir radicalmente esse campo, com uma rígida hierarquia sensorial e coreográfica, com base em um ponto de visão fixo e em um quadro em grelha. Mas, principalmente, nossas percepções ocorrem e se movem excedendo tais manchas anômalas e estreitas.
No exemplo dos enxames, o movimento é irredutível às trajetórias e causalidades e existe um alto grau de indeterminação e abertura na ecologia relacional.
A memória em enxames proprioceptivos bacterianos ou animais não se baseia em recursos fixos, mas, sim em graus e qualidades de consistência e abertura, elasticidade, viscosidade nos campos das relações de movimento, é uma memória viva de recursos difusos, ecos, reverberações, não redutível a uma linha de tempo causal constituindo uma entidade ou identidade. Sem formas, amorfas e amorfogênicas, não estão sujeitas ao princípio da forma e da produção de fronteiras, as memórias aloceptivas proliferam em sua gloriosa indeterminação.
As línguas, por exemplo, (como uma forma fundamental de recurso da memória) surgiram como enxames e sua vitalidade ainda dependem deles, mas suas abstrações algorítmicas tentaram impor definições de significado universal fixo como um quadro irrefutável para a memória coletiva. Seria necessário reinserir na linguagem em si o aumento da sensação de vitalidade dos gestos que se espalham por enxames aloceptivos de sensações em sua indeterminação positiva.
Uma política da memória como eu proponho não é tanto sobre preservar, mas sobre sustentar e maximizar as aberturas em uma ecologia, resistindo e escapando de alinhamentos dominantes que impõem tendências à repetição ou à preempção (macro e hipermememória).
Como facilitar ou fomentar tais campos de relações de movimento onde a indeterminação complexa (relativa)6 seja prioridade? Como mobilizar e maximizar aberturas em nossas ecologias de movimento-percepção-memória?
1.2 Metatopias como lembranças embaçadas
Metatopia é como nomeio uma definição indeterminada do espaço como memória aberta, como espaço não-cartesiano emergindo dos corpos e priorizando a indeterminação na ecologia.
As metatopias são playgrounds intra-ativos ou ambientes de metagaming desenvolvidos no projeto Metabody. Constituindo-se, até agora, de 4 aspectos, técnicas ou camadas que podem operar independentemente ou em conjunto: as Flexinamics, são metasestruturas (estruturas físicas flexíveis e dinâmicas que constituem uma técnica dinâmica e indeterminada para a arquitetura ); Disalignments são as técnicas de movimento de desalinhamentos centradas na propriocepção; os Amorphogenesis são ambientes digitais que concentram-se em espaços não representacionais e interações não lineares e os Microsexes que são ambientes baseados em câmeras que atuam como máquinas antiperspectivas onde a visão se torna tátil e móvel.
As metatopias são espaços nômades de intra-ação para infundir indeterminação e aberturas em espaços que congelaram sob a pressão da metamídia perspectival. O Metaformance, por sua vez, é o processo de abertura contínua de metabodies e memórias ao mobilizar continuamente relações perceptivas além de qualquer hierarquia abstracta (como a perspectiva) que tenta congelar o campo relacional.
Metatopias e Metaformance são meios de promulgar o que eu chamo de ecologias menores, ou seja, campos relacionais que aumentam os graus de abertura ou indeterminação, mundos perceptuais que não impõem uma lógica perceptiva fechada; ao contrário de grandes ecologias que impõem hierarquias sensoriais rígidas, totalizadoras e dominantes, como a visão perspectival no Algoriceno. As ecologias menores são memórias abertas, ritmos e reverberações conformando os metabodies: campos abertos para as ecologias vindouras.
Fig. 2. Metatopia: metástases flexínicas e arquiteturas digitais de Amorphogenesis - Toulouse 2016, ensaio de performance com 4 dançarinos.
2 2ª Parte: Metatopias em Pikpa / Contesting Borderscapes em Lesbos - Micromemórias e ecologias menores no Algoriceno (e no Chthuluceno)
2.1 Metatopias em Pikpa como espaços frágeis para “tornar-se com” (refugiados) - Não para, não sobre, mas com refugiados.
Por mais de uma semana em setembro de 2017, estive no Pikpa "Lesved Solidarity Camp", em Lesbos, na Grécia, interagindo com as pessoas que vivem lá, construindo novas Flexinamic - metaestruturas móveis com materiais do campo (varas de bambu, tecido branco, etc. ), gerando situações lúdicas com os ambientes Metatopia, principalmente, com as crianças. Foram realizadas duas apresentações noturnas com projeções, uma ao ar livre e uma na Solidarity Dome. A performance final na Solidarity Dome também contou com a participação de cerca de 30 participantes da Contested Borderscapes Conference (que estava acontecendo em paralelo na Universidade do Egeu), em uma atmosfera de incrível concentração, onde as crianças e a platéia participavam com incríveis improvisações com as estruturas e projeções.
Pikpa é o mais antigo campo de refugiados em Lesbos que passa a funcionar a partir de 2012, antes que as chegadas massivas de refugiados em 2015 levassem ao surgimento de outros campos e à vinda de ONGs. Desde 2015, mais de meio milhão de pessoas chegaram a Lesbos fugindo da guerra na Síria e outras situações de conflito nos países do Oriente Médio e na África, principalmente. Em uma situação em constante mutação, devido ao terrível tratado entre a União Européia e a Turquia, no qual a Turquia manteria migrantes em seu território em troca de benefícios e dinheiro da UE, o fluxo havia diminuído, mas agora aumentou novamente no último mês desde que a Turquia passou a cumprir suas ameaças à UE, abrindo novamente a fronteira.
A oficina de Metatopia de movimento com estruturas foi proposta para gerar um playground para criação coletiva no PIKPA Camp, propondo maneiras de se conectar uns aos outros usando a comunicação não verbal, criando um espaço coletivo, reciclando objetos e materiais, transformando espaço e objetos em playgrounds dinâmicos, construindo e movendo-se com estruturas translúcidas e projeções que poderiam ser uma crisálida para um renascimento coletivo (ou um vestido de noiva alienígena e uma celebração coletiva da alegria de viver), abrindo possibilidades para transformar nossos espaços através de ação coletiva, se apropriando de nossos corpos, movimentos e percepções.
A oficina não foi apenas uma ação de apoio para os refugiados, mas também um processo de “tornar-se com”, um jogo e construção com (não para ou sobre eles), uma tentativa de gerar meios para uma vida mais habitável para aqueles em situação difícil e transitória e, ao mesmo tempo, uma maior conscientização sobre a importância de gerar novas ferramentas para a liberdade-como-abertura em um momento em que fronteiras antigas e novas fronteiras algorítmicas tentam categorizar cada um de nossos comportamentos... Talvez também uma tentativa de curar o trauma gerado pelas memórias de guerra e tortura, incertezas nômades e situações precarias e futuros?... Lembranças de cura como abertura de fronteiras perceptivas? ...
O workshop aconteceu entre 27 e 30 de setembro, com os preparativos entre os dias 21 e 26 de setembro, com atividades realizadas nos espaços internos e externos, e ocorreram sessões diurnas na Solidarity Dome, no local de encontro em frente ao prédio de escritórios e loja, no campo de futebol e na praia e as sessões noturnas com projeções e som, na Solidarity Dome e no local de encontro.
As metatopias são espaços frágeis de encontro para intra-ação coletiva em vários tipos de fronteiras (de estados, corpos, paradigmas cognitivos, ontologias e políticas) em que, ao invés de seguir uma determinada metodologia, opta-se por uma série de elementos para a criação coletiva através do movimento e construção ou reapropriação de objetos, que são fornecidos como pontos de partida para um processo emergente imprevisível de “tornar-se com”, em que as paisagens de fronteira, como zonas de conflito e violência, expõem também o seu potencial para aberturas, para ecologias menores no Algoriceno.
A ocupação de uma paisagem de fronteira implica a possibilidade de, não apenas mudar a fronteira, mas também, borrá-la. Fazer performance e cozinhar com os refugiados, em vez de fazer pesquisas sobre eles ou ativismo profissional para eles, aparece como um modo de solidariedade e de permitir vidas mais habitáveis, ao mesmo tempo em que expõe a fragilidade de tais paisagens de fronteira, como zonas para potenciais aberturas, diante de múltiplas facetas, a criação de fronteiras e a necessidade de escutar e cuidar uns dos outros no processo de sustentar esses lugares de encontro.
Um sujeito que fala na fronteira do dizível corre o risco de redesenhar a distinção entre o que é e não é falável, o risco de ser expulso para o indizível. (Judith Butler, Discurso Excitável, tradução nossa)
As paisagens fronteiriças não são apenas as zonas conflituosas em torno das fronteiras existentes entre estados-nação onde as migrações são controladas, são também zonas onde os limites existentes podem ser renegociados, não apenas em termos de deslocamento ou reconfiguração que define um limite, mas, de borra-las e abri-las.
Como se pode gerar as condições para um encontro delicado que não opere com a suposição de que certas fronteiras e memórias precisam ser redesenhadas ou simplesmente deslocadas? Como a ocupação transitória de uma paisagem fronteiriça se torna uma zona para gerar aberturas?
Pikpa é como é comumente chamado o Lesvos Solidarity Camp, o mais antigo dos campos de refugiados em Lesbos, operando desde 2012, ocupa o antigo campo de crianças chamado Pikpa. Em 2015, com o fluxo maciço de refugiados - e também um fluxo muito grande de ONGs internacionais - surgiram outros campos, como Moria, onde milhares de refugiados vivem em más condições. A partir de setembro de 2017, Pikpa hospeda cerca de 100 refugiados, casos considerados vulneráveis (comunidade LGBT, pessoas abandonadas pelas famílias, mulheres grávidas) que são trazidos de Moria, o terrível acampamento onde são levados na chegada à costa da Turquia. Em Pikpa, as condições de vida dos refugiados são muito melhores do que em outros campos, eles têm assistência médica todos os dias e casas individuais, boa comida e roupas são fornecidas e há, em geral, uma atmosfera amorosa cultivada ao longo de cinco anos pelos voluntários que instalaram e sustentam o acampamento. A própria Pikpa é um metabody de memórias de cura construídas ao longo de cinco anos de cuidados. Existe até uma Disco-Laundry exclusiva, onde Simo, o voluntário que cuida da lavanderia desde o início, toca música com luzes coloridas e transmissão de vídeo ao vivo. (Simo emprestou seu sistema de som para minha oficina.) E há uma bela Cúpula com piso de madeira entre as árvores, ideal para a dança, onde as atividades puderam ser realizadas.
Com a ajuda de Nikos, o tradutor, fui de casa em casa convidando pessoas e famílias inteiras a participar da primeira sessão, depois de passar muitos dias no campo para conhecer as pessoas, os espaços e começar a construir estruturas para brincar, usando materiais locais: bastões de bambu coletados na vizinhança e tecido branco que não estava sendo usado para outros fins e que Katerina me ajudava a usar a excelente máquina de costura. No geral, foi uma situação muito particular, com o amoroso metabody de memórias de Pikpa (acumulado ao longo de cinco anos de milhares de pessoas passando, e alguns voluntários permanecendo no processo), como um plano de fundo que oferece interações potenciais.
Assim, surgiu uma paisagem de intra-ação imprevista em que novos tipos de estruturas com propriedades imprevistas interessantes surgiram em uma co-criação junto com os participantes e os espaços, que também estavam corporalmente envolvidos na experimentação e jogando com as estruturas: um processo não orientado, um processo com fim aberto em que os gestos poderiam se unir gerando um campo provisório de ressonância.
Eu estava por perto, construindo, experimentando a mim mesmo, em um gesto receptivo e convidativo para dar lugar à situações que acontecessem, eventualmente, garantindo um espaço potencial de ação intra-ação.
Enquanto isso, eu continuava a questionar a minha posição como um artista europeu, branco, aparentemente masculino, habilidoso, aparentemente sem deficits cognitivos ou psicológicos, que vem compartilhar seu trabalho, na difícil tentativa de evitar reinscrições coloniais de autoridade ou movimentos paternalistas, o que implicava colocar-me em uma posição incerta e frágil, enquanto abria- me no processo. Isso se conecta com minhas múltiplas histórias em conexão com Lesbos, o significado desta viagem, o primeiro reencontro com a Grécia após a viagem que fiz com o meu ex-parceiro, as profundas ressonâncias rituais e pessoais que teve, e como a viagem inteira foi um ritual profundo de luto, cura, partida, celebração e renascimento... Uma história de reestruturação ligada a outra história.
Eu gradualmente me abri para me tornar um participante intra-ativo, mantendo a posição de um observador externo.
Em paralelo, na vizinha Universidade do Egeu, estava acontecendo a conferência chamada, Contested Borderscapes. Minha fala foi sobre a noção de fronteira como um conceito ontologicamente anomalo em um mundo feito de movimento. O seu surgimento eu traço no longo processo do milênio de articulação de ecologias algorítmicas, que eu chamo de Algoriceno. As fronteiras estáticas (Macroborders), seja no nível de estados-nação ou de corpos, gêneros, sexos, comportamentos normativos, habilidade cognitiva ou afecções epidêmicas, animais e multiespecies, paisagens disciplinares e políticas, são descendentes de geometrias e algoritmos estáticos de organização social, que culminam na biopolítica, na sociedade disciplinar e no perfil de comportamentos do racismo estatal.
Atualmente (e desde o nascimento da cibernética após a Segunda Guerra Mundial), assistimos o surgimento de algoritmos mais dinâmicos gerando perfis emergentes e incompreencíveis de populações que representam um novo tipo de hiperfronteiras incognoscíveis e dinâmicas para o gerenciamento de risco e preempção do futuro, em feedback conflitante com as macrofronteiras estáticas de regimes anteriores.
As macro e as hiperfronteiras, como fronteiras algorítmicas, são efeitos de organizações de movimento algorítmicos, são fronteiras ontológicas baseadas no fundamento essencial da separação entre sujeito-objeto e de relações geométricas que proporcionam calculabilidade, cuja forma madura e expressão mais radical, ainda hoje, foi instanciado pela perspectiva do Renascimento.
As fronteiras ontológicas são fronteiras de memória: definem as condições mais ou menos abertas para ecologias coletivas / relacionais, cognitivas / afetivas.
Metatopia é minha proposta (estética, artística e pragmática) para tais espaços de renegociação de ecologias perceptivas além do enquadramento perspectival, trazendo à frente o dinamismo irredutível das sensações corporais, enxames proprioceptivos multisensoriais de sensações que se deslocam pelo que chamo de “transmodal sensory continuum”.
Agora posso ver retrospectivamente o trabalho desenvolvido na Pikpa como a elaboração de zonas frágeis e transitórias de abertura que ocorrem em paisagens de fronteiras transitórias, que são efeitos violentos das fronteiras existentes, ao mesmo tempo em que, zonas incertas para aberturas.
O Algoriceno como quadro dominante (com seus antigos algoritmos estáticos e seus algoritmos dinâmicos mais recentes) gera os fundamentos ontológicos para os diferentes tipos de violência que os refugiados (assim como neurodiversos, indígenas, LGBT, sem-teto, cães, etc.) podem sofrer, enquanto, por outro lado, cada um desses grupos ou pessoas que se movem ao longo de diferentes tipos de zonas fronteirissas ontológicas e ontopolíticas, e essas zonas, por sua vez, têm potencial para aberturas... Esta foi a potencialidade da minha experiência no PIKPA, como em uma situação tão frágil de espaços para “tornar-se com” podem abrir... Ocasiões para elaborar o que eu chamo ecologias menores no Algoriceno... (e o Chthuluceno).
Os limites abstratos são muito reais. As fronteiras algorítmicas são abstrações que se impõem nos corpos - os territórios tornam-se realidades violentas. Mas são anomalias ontológicas em um mundo de movimentos muito mais difusos. Como as zonas fronteiriças podem se tornar zonas de abertura serão diferentes em cada situação de fronteira.
As fronteiras epistemológicas e afetivas são muitas vezes mais difíceis de lidar, especialmente no contexto do colonialismo eurocêntrico, que afirmou o poder do enquadramento perspectivista – poderia dizer mais do que nunca - em campos de investigação crítica. As ecologias menores, como as potencialmente estabelecidas no Pikpa, precisam acontecer também nos níveis dos campos acadêmicos, ativistas e outros.
2.4 Lesbos como paisagens fronteiriças de memórias?As primeiras notícias que tive de Lesbos, há cerca de 20 anos, foram com meus encontros com a Teoria Queer e o ativismo no sul da França em 1999, onde vi Marie Helène Bourcier apresentar seu livro, Lesvos, Oui, uma narrativa com uma visão crítica mas afirmativa sobre a comunidade lésbica de lá, e quando eu ouvi falar dos rituais de casamento que estavam sendo feitos por lésbicas na praia da aldeia de Sappho, Skala Eressos, onde em 2014 eu também faria um ritual desse com meu ex-parceiro, em uma espécie de desvio cthonic-queer. As memórias imaginadas alimentariam minha própria experiência multisensorial e afetiva em Eressos, como algo irredutivel para uma narrativa ou uma coerência identitária.
Um geoparque de biodiversidade e beleza únicas. É também um local para as expressões mais terríveis da prisão, como os campos policiais de refugiados, acolhendo pessoas que fogem da guerra e outras situações, ao mesmo tempo em que, expressam a política horrenda da UE e seus tratados com a Turquia. Lugar de horror e beleza, das histórias pequenas e das maiores narrativas, da biodiversidade e das infra-estruturas militares secretas, de paisagens e florestas vulcânicas. Local para a Universidade do Egeu que fica perto dos locais onde a ciência e a filosofia ocidentais talvez tenham nascido, uma universidade povoada por cães, onde quase adotei Loukanikos, um dos cães mais populares, no período de profundo sofrimento devido à distância forçada do meu maior amor, o cão Zara, nos processos mais recentes após a separação do meu atual ex-parceiro.
Fig. 5: O cão Loukanikos, popular e amado na University of the Aegean, Lesbos. Foto de Jaime del Val 2017.
A bela parte vulcânica deserta e desolada da parte ocidental da ilha abriga não apenas florestas petrificadas, conventos bizantinos e uma comunidade lésbica internacional, mas também ressonâncias potenciais com a Trilogia Earthsea , de LeGuin e outras novelas dela... E uma praia solitária desolada que poderia ser Selidor... Uma costa mais distante onde se pode lutar por restaurar o equilíbrio do mundo quando foi quebrado por aqueles que desejam imortalidade e poder. Memórias imaginárias, não menos reais e poderosas, para tecer metabodies afetivos.
Como no Chthuluceno de Haraway, Lesbos parece ser um lugar para vivenciar o conflito e estabelecer parentesco entre espécies e pessoas, um lugar para os pequenos e os grandes, para o terrível e o belo, para os poderes cthonic (cthnonies dynamis) e humanas tragédias capitalistas de estado, para a continuidade, o esquivamento e práticas tentaculares, para micromemórias e comunidades, para relações de amizade e metahumanistas. Lesbos cujo contorno no mapa parece um polvo primordial ou uma criatura cthonic...
Eu gostaria de estabelecer uma série de relações entre o Algoriceno e o Chthuluceno na minha promiscuidade intelectual contínua de fabulação especulativa. Quero contar-lhe uma história, de mudanças e continuidade, de vivenciar o conflito e estabelecer parentesco no Chthuluceno. De como dois sinais nasceram e como eles se resignificaram e se refizeram por um luto. Um conto de paisagens e memórias, de espaços frágeis de “tornar-se com” metabodies multifacetados, de horror e de cura. Sinais que nasceram como sinais de um novo metabody, vínculo, relacionamento, conexão de Leão-Aquário e Sun-Triskele, um encontro aberto de duas diferenças radicais, um vínculo de poliamor, com um amor comum multispécie por um cachorro e que agora se resignificam como sinais para devires infinitos, reconfigurações, multiplicidades tentaculares, octopos difractivos, movimentos múltiplos de tornar-se. Esses sinais afirmaram seu significado inicial na praia de Eressos e ali eles afirmam sua transformação.
As memórias são enxames aloceptivos (ou metabodies). As fronteiras são anomalias ontológicas.
Micromemorias são lembranças corporais que pairam nas margens de memórias mais difíceis e fronteiras mais definidas, corpos de memória irredutivelmente complexos e abertos, irredutivíveis às linhas narrativas.
Os enxames perceptuais aloceptivos são incorporados e são memórias vivas... A experiência é feita com as condensações de enxames proprioceptivos: condensações na forma como os corpos registram qualidades e intensidades multisensoriais e afetivas: digamos, por exemplo, as sensações corporais particulares de movimento em todos os níveis do espectro dos sentidos, em combinações únicas dos sentidos, que emergem junto com afeições particulares, anseios, momentos ao longo da viagem anterior à Grécia com o meu ex-parceiro... E como reencontra-los em um novo corpo três anos depois, esses enxames, à medida que se tornam vivos novamente, mudar as novas conexões de um corpo cuja abertura e potências também mudaram. Este reembarque dos enxames aloceptivos dentro de um novo corpo mais multifacetado é parte de um processo de cura, do crescimento além do relacionamento sem esquecer-se do luto que também é celebratório.
Este reajuste das memórias corporais, e a forma como ele atende a um processo de luto, celebração, morte e renascimento, é um processo de reformular, de recompor mundos de relações feitas de multiplicidades de memórias cinestésicas, proprioceptivas e aloceptivas continuamente reconfigurando, vivas, nos corpos, nos metabodies das relações que somos, movendo-se e abrindo sempre em campos relacionais infinitamente complexos.
Os afetos dos animais, as paisagens estranhas, a "crise" de refugiados e outras ecologias importantes e menores tornam-se enredadas em enxames aloceptivos, em meio a outras memórias muito mais algoritmicas induzidas por ecologias perspectivais e de mídia. As micromémias se abrem em todo o lado através das fronteiras da macro e da hipermemoria. As ecologias menores do Algoriceno, meu projeto atual dentro do Metabody e o tópico dos Fóruns atuais do Metabody, é precisamente uma tentativa de construir alianças provisórias e abrir entre espaços, ou espaços para aberturas, espaços intra-ativos em várias áreas fronteiriças como aqueles ocupados por refugiados, pessoas neurodiversas, comunidades indígena, prisioneiros, comunidade LGBT, sem-teto, profissionais do sexo, cães e multi-espécies afetam, pessoas que vivem em áreas periféricas e áreas rurais, além dos centros de interesse de capital global, etc.
Trata-se de implementar Metatopias como espaços para memórias não baseadas na criação de fronteiras, mas em devires mais ilimitados, vivazes e frágeis... Como tornar essa fragilidade sustentável diante do início violento da macro e das hipermemórias no Algoriceno?
3 Memórias chthulucenicas... e além: O Amorphoceno...
O Chthuluceno é o trabalho recente de Donna Haraway (2016) sobre o antropoceno e o capitaloceno, propondo uma narrativa que presta homenagem aos velhos poderes chthonic de criação e destruição, que presta atenção às coisas menores e maiores, do que as aferidas pelas narrativas capitalistas e antropocêntricas, que explicam a continuidade, o caráter tentacular e a furtividade de permanecer com o conflito e fazer parentesco sem fazer filhos, de ação intracomunitária e simpoiesis, de “tornar-se com”. A etimologia de Chthuluceno reúne o nome adorável Chtulhu (observe a falta de h após a t) com Cthonic (do grego Cthonies Dynamis ou potências terrestres).
O Algoriceno, por sua vez, fala sobre alguns fundamentos ontológicos de alguns dos aspectos terríveis do Chthuluceno, enquanto o Chthuluceno fala também sobre tudo o que é menor e maior do que os alinhamentos dominantes de Algoriceno. O Algoriceno fala sobre infra-estruturas perceptuais sustentando a narrativa e o que excede a narrativa, enquanto o Chthuluceno se concentra mais nas narrativas e nos relatos.
O Algoriceno fala sobre a memória ao nível de como a percepção engloba as ecologias relacionais, enquanto o Chthuluceno se concentra na memória como relato que alcança o menor e o maior, o mais antigo e o mais chstônico e o muito pequeno... Eu poderia chamá-lo de Amorphoceno para o maior espectro de mundos que não seguem o imperativo do Algoriceno e a tradição morfocêntrica...
Aqui meu olhar para o Chthulucen seja talvez por causa das formas em que a memória ainda se relaciona com a narrativa... Enquanto, ao mesmo tempo, proponho que precisamos de algo mais: precisamos de metanarrativas e metabodies para movimentos maiores e menores do que podem ser colocados em termos narrativos. O Chthuluceno fala sobre coisas que excedem o problema (o Algoriceno). Proponho, por sua vez, pensar tanto além do Algoriceno quanto do Chthulucene: o Amorfoceno.
O amorfo se conecta com o tentacular. E, no entanto, precisamos do Algoriceno para distinguir criticamente entre as práticas tentaculares de culturas de hipercontrole e outras bem diferentes.
Micromemorias apontam para uma micro-pesquisa na qual mais do que uma definição proustiana de memória possa ser expandida para as memórias corporais microscópicas e macroscópicas mais desfocadas, eventualmente inefáveis ou pairando na ponta do dizível. As Metamemórias são crescentes e entre os corpos murmurantes de afeto-sensações geram nebulosas complexas, mundos abertos ou MetaKosmia
O Amorfoceno alcança as memórias corporais que são indescritíveis... Para além de qualquer narração, murmúrios nos enxames aloceptivos das percepções dos corpos, irredutivíveis a qualquer enquadramento ou cronograma, a qualquer registro ou documento que tente fixá-lo, sempre avançando em seus dinamismos precisamente porque essa memória consiste nas frágeis alianças dinâmicas entre relações sensíveis, enxames adaptados que se movem através de um contínuo sensorial transmodal.
Curas de duras memórias de infinitas fronteiras ontológicas no Algoriceno implica mobilizar outras memórias nos corpos, irredutivíveis à captura, às narrativas, às trajetòrias mensuráveis ou cronogramas. Precisamos gerar condições e tékhnes para modos tão frágeis de aproximação.
O Amorphoceno fala sobre a necessidade de se mover-perceber de mais maneiras do que como sujeitos centrados na narrativa... Mobilizando o indescritível em sua natureza irredutível como uma memória coletiva de afetos e sensações que excedem as estruturas universalistas de significado para as ecologias vindouras.
Referências
BARAD, K. Meeting the Universe Halfway: Quantum Physics and the Entanglement of Matter and Meaning. Durham: Duke University Press, 2007.
BERGSON, H. Matière et Mémoire. Paris: Editions Flammarion, 2012.
HARAWAY, D. Staying with the Trouble. Making Kin in the Chthulucene. Durham: Duke University Press, 2016.
MOORE, J. W. (Ed.) Anthropocene or Capitalocene?Nature, History and the Crisis of Capitalism. Oackland: PM Press, 2016.
VARELA, F., THOMSON, E., ROSCH, E. The Embodied Mind. Cognitive Science and Human Experience. Massachussets: MIT Press, 1993.
1 Ver MOORE, 2016.
2 Por ecologia, me refiro a um ecossistema aberto ou um campo relacional, bem como uma abordagem ontológica da ecologia como ciência e prática.
3 Falar de externalização é de fato enganador porque presume uma interioridade do sujeito como origem da memória, mas a memória sempre é já um corpo relacional ou campo de relações.
4 Ver VARELA, 1993.
5 Intra-ação é um termo proposto por Karen Barad (2007). Considerando que a interação refere-se a entidades preexistentes relacionadas a um espaço predefinido (em relação às percepções espaciais perspectivais-euclidiana-cartesiana baseadas na construção artificial de observadores externos), intra-ação refere-se à co-emergência das agências que entram em uma relação (relacionados com relatos da mecânica quântica e da difração, com base na impossibilidade de observadores externos, mas fundamentados em atos de observação interna que geram cortes e separabilidade ontológica, como geração dinâmica da forma a partir do interior, sinalizando a inseparabilidade da ontologia, epistemologia e ética), questionando assim o status predefinido de coisas, entidades, espaços ou observadores externos, e apontando para uma ontologia relacional de tornar-se.
6 A indeterminação, como eu entendo, nunca é pura ou absoluta, pois o movimento sempre tem diferentes graus e modos de indeterminação muito complexa. A indeterminação pura, assim como a desordem pura é tanto uma ficção e abstração matemática como pura ordem, e nunca existe como tal.
Jaime Del Val is a Spanish multidisciplinary media artist, philosopher and activist. Coordinator of Metabody Project and Director of Reverso Institute, proposing redefinitions of embodiment, movement and perception that challenge the ontological foundations of disciplinary and control societies.
How to quote this text: Del Val, J., 2017. Hypermemory and micromemories in the algoricene: on memory, borders and healing. V!RUS, 15. [e-journal] [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus15/?sec=4&item=4&lang=en>. [Accessed: 07 October 2024].
The Algoricene is my name for the era elsewhere called Anthropocene or Capitalocene1, in the attempt to understand the processes underlying anthropocentric and capitalistic transformations of planetary dimensions which impact in the planet's geological memory. Underlying the doings of the anthropos and capital I identify modes of collective organisation that over millenia have taken a form that we could call algorithmic, foregrounding pattern/form and the calculability of relational ecologies (social metabodies but not only) by reducing the complexity of movements as they become aligned with increasingly allencompassing geometries.
Memory, as an always distributed process, as collective affordance of how movement relations conform fields and ecologies may take endless modes of articulation. Memory is the mode of consistency that composes a relational ecology. It describes the ways in which movement always conforms fields of complex (relative) indeterminacy.
The Algoricene has foregrounded an algorithmic mode of memory and ecology which by geometrically gridding and fixing more and more aspects of the ecology2 allows to also fix and segment movements, which abstract themselves from their aliveness as moving memory and into a formal memory that culminates so far in data ontology.
Frames, photography, representational memory, and their byproducts and mediums (the self, the state...) have foregrounded the account of memory as related to objects, things, beings, substances, situated in an abstract cartesian extension, subject to quantification, a memory oriented by form and object affordances, in causal trajectories of movement, conforming an identity with a single, causal timeline of memory and consciousness (memory being (the condition of) consciousness), enacted by the perceptual orchestration of perspectival vision. The notion of data and information as constituted by such ontologically defined entities culminates so far the process and opens it up to a very different kind of ontology.
Because information, computation and cybernetics open up the field to a new kind of reality of continual processes and radical dynamism, in which there are no fixed data and algorithms. Big Data culture opens up the new realm of hyperalgorithms and hyperdata as realities with no stable ontology or defined contour, rather pointing to increasingly unknowable and dynamic processes.
Macromemory as the linear causal memory, forming timelines, grounded on euclidean and cartesian affordances of space-time was a memory of fixed repetitive affordances with defined contours and borders, externalised in the algorithms of perspectival vision and its architectures spreading across the whole social body and choreographing interactions. Memory was always already externalised, in static algorithms and geometries that generated the split between an observer and a world and therewith the notion of identity or self and the causal timelines that the self travels along, as reductive geometries conforming a linear memory. One of its still predominant mediums is the photographic image and its framing at a distance. Macromemory is about defining, setting boundaries and bounding/binding, fixing and preserving, about static bordermaking.
Fig. 1: Engraving by Albrecht Dürer showing a perspective machine, ca. 1525. (OASC, Public Domain - Metropolitan Museum of Art). This engraving shows the fundamental aspects of perspectival algorithms defining macromemories and their related cartesian subjects.
Hypermemory is the even more radical externalisation3 of memory in planetary scale computation systems, autonomous hyperalgorithms managing our perceptions, remembrances, knowledges and futures following a thrust to total control which I call exponential nihilism. The selfie is one of its predominant paradigms, as its feeds hyperprofiles in social networks that act as hypercontrol mechanisms where the photographic-perspectival frame inherited from previous regimes extrudes to planetary computation systems, where emergent algorithms generate emergent correlations from infinite data bases, where anything that can be sensed and quantified by an sensor is potentially stored and will potentially be processed, eventually generating correlations and new data, however in forms unknowable to humans, as a kind of infinite potential memory of allencompassing storage inaccessible to humans and meaningful only to autonomous, emergent, unknowable, Big Data algorithms: an infinite memory of infinite forgetfulness and constant erasure, a nonhuman memory in which humans loose memory as hyperalgorithms gain it. Hypermemory is about modulating the products of macromemory following an exponentially expansive logic of absolute control, of the potential as well as actual. The unknowable dynamic memories of Big Data culture are hypermemories of a new algorithmic life form of which we become aggregates. Hypermemory is about dynamic bordermaking.
Macromemories are built upon the increasing predominance of algorithmic abstractions such as the grid of the hippodamian plan, or of perspectival vision, choreographing relations and fixing elements and perceptions, affording a fictional account of representation, reproduction and preservation.
Hypermemories are still sustained by grids and frames but signal the shift to a radical dynamism in the reshuffling of the segments provided by macromemories towards a continual reattunement of planetary ecologies following the unknowable logic of autonomous hyperalgorithms, a logic however of preemption and control (as when Facebook's interface continually changes following our clicking, in the attempt to preempt our future behaviours and desires).
1.1 Micro/metamemories
Instead of macro- and hypermemory I propose to think of micro- or metamemories as open relational ecologies that don't follow an algorithmic logic of reduction, quantification and control of movement.
Memories are metabodies, complex fields of movement relations. Following and expanding on Varela's account of enactive cognition4 what constitutes cognition and literally synaptogenesis is how we move in the world, but how we move creates also the very ecosystems of relations of which we are part, i.e. the world, as intra-active process5. Embodied cognition accounts for memory as always already embodied, distributed, externalised and expanded, always happening in the movement relations constituting the ecologies/metabodies of which we are part. Then what's crucially at stake is to understand the kinds of movements and therefore ecologies (and memories) that different kinds of movement create. Algorithmic memories/ecologies are reductive, narrow the field of movement and perception, have a will to total capture. Linear, causal, unified memory is its most reductive offspring. I will propose to think of other kinds of movement and memory.
The affordances of memory speak about the more or less open nature of the fields of movement relations conforming an ecology. Movement always happens in infinitely complex fields of greater or lesser indeterminacy or openness. i.e. where relations of movement may constantly open up to unforeseen connections. In algorithmic causal ecologies this openness is minimised as movement becomes aligned with geometries of capture that reduce movement's complex indeterminacy.
Let's think now of movement and memory in a bacterial colony, in a swarm, or in our own proprioception, what I call proprioceptive/alloceptive swarms, multiplicities of relations irreducible to notions of trajectory or causal line, as sensations across the full spectrum of sensing modalities (the transmodal sensory continuum) generate diffuse connections in the bodies. In proprioception diffuse internal movement sensations generate blurry microsensations connecting in varying ways any potential sensting modality, say a particular sensation of touch connected to temparature, equilibrium, spatial orientation, sight and sound as I hold a glass. The evolving memory of the affordance of the glass is a particular but open configuration of the proprioceptive swarms, which, being always expanded and in becoming I prefer to call alloceptive swarms. This logic can be applied to bacterial colonies, climate, insect swarms and so forth. Affordances and memories are always condensations in the swarms of microsensations in the bodies, across bodies. The crucial question is how open these relations and condensations are. Perspectival macromemory is about radically narrowing down that field, with a rigid sensory hierarchy and choreography, based on a fixed point of vision and a gridded frame. But mostly our perceptions happen and move in excess of such anomalous and narrow framings.
In the swarm examples movement is irreducible to trajectories and causalities and there is a high degree of indeterminacy and openness in the relational ecology.
Think of an urban metabody: what kinds of memories does it express? Many gridded, bounded, hard memories of the Anthropocene and Capitalocene, trying to impose themselves in conflict with myriads of blurry swarm-memories of the proprioceptive, bacterial, climatic and animal swarms/flocks.
Memory in bacterial, animal or proprioceptive swarms is not based on fixed affordances, rather it is about degrees and qualities of consistency and openness, elasticity, viscosity in the fields of movement relations, it's a living memory of diffuse affordances, echos, reverberations, not reducible to a causal timeline constituting an entity or identity. Formless, amorphous and amorphogenetic, not subjected to the principle of form and boundary making, alloceptive memories proliferate in their glorious indeterminacy.
Languages for instance (as one fundamental form of memory affordance) emerged as such swarms and their aliveness still relies on them, but their algorithmic abstractions have tried to impose accounts of universal fixed meaning as a kind of unavoidable frame for collective memory. One would need to reinfuse in language itself the heightened sense of aliveness of gestures disseminating across alloceptive swarms of sensations in their positive indeterminacy.
A politics of memory such as I propose is not so much about preserving but about sustaining and maximising openings in an ecology, resisting and escaping dominant alignments that impose tendencies to repetition or to preemption (macro and hypermememory)
How to facilitate or foster such fields of movement relations where complex (relative) indeterminacy6 is foregrounded? How to mobilise and maximise openings in our movement-perception-memory ecologies?
1.2 Metatopias as blurry memories
Metatopia is my name for an indeterminate account of space as open memory, as non cartesian space emerging from the bodies and foregrounding indeterminacy in the ecology.
Metatopias are intra-active playgrounds or metagaming environments developed in the Metabody project, consisting so far of 4 aspects, techniques or layers that may operate independently or together: the Flexinamics metastructures (flexible and dynamic physical structures which constitute a dynamic and indeterminate technique for architecture), the Disalignments movement techniques focusing on proprioception, the Amorphogenesis digital environments focusing on non representational spaces and non linear interactions and the Microsexes camera based environments acting as antiperspetival machines where vision becomes tactile and mobile.
Metatopias are nomadic spaces of intra-action for infusing indeterminacy and openings in spaces that have frozen under the pressure of perspectival metamedia.
Metaformance in turn is the process of ongoing opening up of metabodies and memories by continually mobilising perceptual relations beyond any abstract hierarchy (like perspective) that tries to freeze the relational field.
Metatopias and Metaformance are means of enacting what I call minor ecologies, i.e. relational fields heightening a degree of opening or indeterminacy, perceptual worlds that don't impose a closed perceptual logic, as opposed to major ecologies imposing rigid, totalising and dominant sensory hierarchies, like perspectival vision in the Algoricene. Minor ecologies are openended memories, rhythms and reverberations conforming metabodies: openended fields for ecologies to come.
Fig. 2. Metatopia: Flexinamics metastructures and Amorphogenesis digital architectures - Toulouse 2016, rehearsal of performance with 4 dancers.
2 Part 2: Metatopias in pikpa / Contesting borderscapes in Lesvos: micromemories and minor ecologies in the Algoricene (and the Chthulucene)
2.1 Metatopias in Pikpa as fragile spaces for becoming with (refugees) - Not for, not about, but with refugees.
For over one week in September 2017 I was at the Pikpa "Lesvos Solidarity" refugee Camp, in Lesvos, Greece, interacting with the people living there, building new mobile flexinamic metastructures with materials from the camp (bamboo canes, white fabric, etc.) and generating playful situations with the Metatopia environments, mostly with the children, doing two night performances with projections, one outdoors and one in the Solidarity Dome. The final performance in the Dome was also attended by some 30 participants from the Contested Borderscapes conference (that was happening in parallel at the nearby University of the Aegean), in an athmosphere of amazing concentration where both the participating children and audience did astonishing improvisations with the structures and projections.
Pikpa is the oldest Refugee Camp in Lesvos, from 2012, before the massive arrivals in 2015 led to the emergence of other camps and the arrival of NGO's. Since 2015 more than half a million people have arrived in Lesvos fleeing the war in Syria and other situations in Middle eastern countries and Africa mostly. In a constantly changing situation, due to the dreadful treatise between the EU and Turkey, by which Turkey would hold migrants in its territory in exchange for benefits and money from the EU, the flow had gone down but now again increased in the last month since Turkey was fulfilling its threats to the EU by opening up the border again.
The Metatopia workshop of movement with structures proposed to generate a playground for collective creation in the PIKPA Camp, proposing ways of connecting to one another using non verbal communication, creating a collective space, recycling objects and materials, transforming space and objects into dynamic playgrounds, building and moving with translucent structures and projections which could be a chrysalis for a collective rebirth (or an alien collective bride dress for and a celebration of the joy of living), opening up possibilities for transforming our spaces through collective action, appropriating our bodies, movements and perceptions.
The workshop was not only a support action for the refugees but also a becoming with them, a playing and building with (not for or about them), an attempt to generate means for more livable lives for those in difficult and transitory situation, and at the same time a raising of awareness of the importance to generate new tools for freedom-as-openings in a moment where old nation borders and new algorithmic borders try to categorise each of our behaviours.... Maybe also an attempt to heal the traumatic memories of war and torture, uncertain nomadic and precarious situations and futures?... Healing memories as opening up of perceptual borders?...
The workshop happened 27th-30th September, with preparations 21st-26th September, both indoors and outdoors, and had day sessions in the Dome, the meeting place in front of the office building and shop, the football camp and the beach, and evening sessions with projections and sound, at the dome, and the meeting place
Metatopias are fragile spaces of encounter for collective intra-action across multiple kinds of borders (of states, bodies, cognitive paradigms, ontologies and politics) in which rather than following a given methodology, a number of elements for collective creation through movement and building or reappropriating objects, are provided as starting points for an unforeseable emergent process of becoming-with, in which borderscapes, as zones of conflict and violence, expose also their potential for openings, for minor ecologies in the Algoricene.
Occupying a borderscape implies the possibility to not only shift the border, but also blur it. Playing and cocreating with the refugees, rather than doing research about them or professional activism for them, appears as a mode of solidarity and of enabling more livable lives, while exposing the fragility of such borderscapes, as zones for potential openings, in face of multifaceted bordermaking, and the need to listen and take care of each other in the process of sustaining such places of encounter.
A subject who speaks at the border of the speakable takes the risk of redrawing the distinction between what is and is not speakable, the risk of being cast out into the unspeakable. (Judith Butler, Excitable Speech)
Borderscapes are not only the conflictive zones around existing borders between nation states where migrations are controlled, they are also zones where existing limits can be renegotiated, not just in terms of shifting or redrawing the line that defines a boundary but of blurring it and opening it up.
How can one generate the conditions for a fragile coming together that does not operate on the assumption that certain boundaries and memories need to be redrawn or simply shifted? How can the transitory occupation of a borderscape become a zone for generating openings?
Pikpa is the common name for the Lesvos Solidarity camp. It has been in operation since 2012, occupying the former chidren's camp called Pikpa. In 2015 with the massive flow of refugees -and an also very big flow of international NGOs- other camps came up, like Moria, where thousands of refugees live in very bad conditions. As of September 2017 Pikpa hosts about 100 refugees, cases considered vulnerable (from lgtb and injured people to families and pregnant women) which are brought from Moria, the dreadful camp where they are taken upon arrival to the coast from Turkey. In Pikpa the living conditions of the refugees are much better than in other camps, they have medical assistance every day and individual houses, good food and clothes are provided, and there is overall a loving athmosphere cultivated over five years by the volunteers that setup and have sustained the camp. Pikpa is itself a metabody of healing memories built over five years of care. There is even a unique Disco-Laundry, where Simo, the volunteer taking care of the laundry since the beginning, plays music with coloured lights and live streaming video. (Indeed Simo lended his sound system for my workshop.) And there is a beautiful Dome with wooden floor among the trees, ideal for dance, where activities can be hosted.
With the help of Nikos the translator I went house by house inviting people and whole families to participate in the first session, after spending already several days in the camp getting to know the people, the spaces and starting to build structures to play with, using local materials: bamboo canes from the nearby field and some white fabric that was not being used for other purposes, while Katerina helped me to use the excellent sewing machine. Overall it was a very selforganising situation, with Pikpa's loving metabody of memories, (accumulated over five years of thousands of people passing by, and some volunteers remaining in the process), as background affording potential interactions.
Thus eventually an unforeseen intra-action landscape emerged in which new kinds of structures with interesting unforeseen properties came up in a co-creation together with the participating people and the spaces, who were also bodily involved in the testing and playing with the structures: a non goal oriented process, an open-ended process in which gestures could come together generating a provisional field of resonance.
I was around, building, playing myself, as an invitational gesture to afford situations happening if they would, eventually affording a potential space of intra-action.
Meanwhile I kept questioning my position as white, seemingly male, apparently neurotypical and abled, european artist coming to share his work, in the difficult attempt to avoid colonial reinscriptions of authority or paternalistic moves, which implied putting myself in an uncertain fragile position, while opening up myself in the process. This connects to my multiple histories in connection with Lesvos, the significance of this trip, the first reencounter with Greece after the trip I did with my expartner, the profound ritualistic and personal resonances it therefore had, and how the whole trip was a deep ritual of mourning, healing, passing away, celebration and rebirth... a story of reworlding bound up with other stories
I gradually opened up to becoming an intra-active participant rather holding onto the position of anan external observer.
In parallel at the nearby University of the Aegean was running the conference called Contested Borderscapes. My talk there was about the notion of border as ontologic anomally in a world made of movement. Their emergence I trace in the millenia long process of articulation of algorithmic ecologies, which I call the Algoricene. Static borders (Macroborders), whether at the level of nation states or of bodies, genders, sexes, normative behaviours, cognitive ability, or onto-epistemic, animal and multispecies affect, disciplinary and political landscapes, are the offspring of static geometries and algorithms of social organisation, reaching culmination in biopolitics, disciplinary society and profiling of behaviours in state racism.
Currently (and since the birth of cybernetics after World War II) we assist the emergence of more dynamic algorithms generating emergent and unknowable profiles of populations that account for a new kind of unknowable and dynamic hyperborders for management of risk and preemption of the future, in conflictive feedback with the static macroborders of previous regimes.
Macro and hyperborders, as algorithmic borders, effect of algorithmic organisations of movement, are ontological borders that are grounded on a fundamental subject-object split, and of geometric relations that afford calculability, whose mature form and most radical expression, still pervasive today, was instantiated by Renaissance perspective.
Ontological borders are memory borders: they define the more or less open conditions for collective/relational, cognitive/affective ecologies.
I thus propose to question borders not at the level of the content, of the map that we see or trace from our ontologically split subject position, but rather open up the field to redefining the whole relational ecology so as to stop being an ontologically split subject that looks onto the world from such an external position, thereby challenging the very condition of possibility of borders at an onto-epistemological level.
Metatopias are my (onto-aesthetic, artistic and pragmatic) proposal for such spaces for renegotiation of perceptual ecologies beyond the perspectival framework, bringing to the front the irreducible dynamism of bodily sensations, multisensorial proprioceptive swarms of sensation moving across what I call the transmodal sensory continuum.
The work developed in Pikpa I can now retrospectively see as the elaboration of fragile and transitory zones of opening happening in transitory borderscapes, which are violent effects of existing borders at the same time as uncertain zones for openings.
The Algoricene as dominant frame (with its old static algorithms and its newer dynamic algorithms) generates the ontological foundations for the different kinds of violence that refugees, (as well as neurodiverse, indigenous people, queers, homeless, dogs, etc...) may suffer, while on the other hand each of these groups or people move along different kinds of ontological and ontopolitical borderzones, and such zones in turn have potential for openings. This was potentially my experience in PIKPA, how in such a situation fragile spaces for becoming-with can open up occasions for elaborating what I call minor ecologies in the Algoricene (and the Chthulucene).
Abstract borders are very real. Algorithmic borders are abstractions that impose themselves on bodies-territories becoming violent realities. But they are ontologic anomalies in a much more diffuse world of movements. How can borderzones become zones of opening will be different in every border situation.
Epistemic and affective borders are often hardest to deal with, especially in the context of eurocentric colonialism, which has affirmed the power of the perspectival frame even -one would say more than ever- in critical fields of inquiry. Minor ecologies, like the one potentially established in Pikpa, need to happen also at the level of academic, activist and other fields.
My first notices of Lesvos about 20 years ago were though my encounters with queer theory and activism in southern France around 1999, where I saw Marie Helène Bourcier present her book Lesvos, Oui, an already critical but affirmative narrative insight into the lesbian community there, and when I first heard of the wedding rituals being done by lesbians in the beach of Sappho's village, Skala Eressos, where in 2014 I would also make such a ritual mith my now exboyfriend, in a kind of cthonic-queer detour. Imagined memories would feed my own multisensory and affective experience in Eressos, as something irreducible to a narrative or identity nexus.
Geopark of unique biodiversity and beauty. Site also for the most dreadful expressions of prison like police refugee camps, hosting people fleeing from war and other situations, while expressing the horrendous politics if the EU and its treatises with Turkey. Place of dreadfulness and beauty, of the smallest stories and the grandest narratives, of biodiversity and secret military infrastructures, of volcanic landscapes and forests, site for the University of the Aegean, near to the sites where western science and philosophy were perhaps born, a dog populated university, where I almost adopted Loukanikos, one of its most popular dogs, in the ongoing period of deep grief due to forced distance from my greatest love, the dog Zara, in the more recent processes after separation from my now expartner.
Fig. 5: The dog Loukanikos, popular and beloved in the University of the Aegean, Lesvos. Photo by Jaime del Val 2017.
The beautiful volcanic desertic and desolate western part of the island hosts not only petrified forests, bizantine convents and an international lesbian community, but also potential resonances with LeGuin's Earthsea Trilogy and other of her novels... and a lonely desolate beach that could be Selidor... a farthest shore where one can fight for restoring the equilibrium of the world when it has been broken by those wanting immortality and power. Imaginary memories, not less real and powerful, for threading affective metabodies.
Like in Haraway's Chthulucene, Lesvos appears to be a place for staying with the trouble and making kin accross species and people, a place for the smallest and the biggest, for the dreadful and the beautiful, for cthonic powers (cthnonies dynamis) and anthropo-state-capitalist tragedies, for ongoingness, sneakiness and tentacular practices, for microworlds and communities, for friendship and metahumanist becomings. Lesvos whose contour on the map looks like a primeval octopus or cthonic creature...
I want to make string figures between the Algoricene and the Chthulucene in my ongoing intellectual promiscuity of speculative fabulation. I want to tell you a story, of reworldings and ongoingness, of staying with the trouble and making kin in the Chthulucene. Of how two signs were born and how they have resignified and refigured themselves through a mourning. A tale of borderscapes and memories, of fragile spaces for becoming with and of multilayered metabodies, of dreadfulness and healing. Signs that were born as signs of a new metabody, bond, relationship, the bond of Leo-Acuarius, and Sun-Triskele, an open coming together of two radical differences, a polyamorous bond, with a multispecies common love for a dog, and which now resignify as signs for endless becomings, reworldings, tentacular multiplicities, diffractive octopusses, multiple movements of becoming. These signs affirmed their initial meaning in the beach of Eressos and there they affirm their transformation too.
Memories are alloceptive swarms (or metabodies). Borders are ontological anomalies.
Micromemories are bodily memories hovering on edge of harder memories and more defined borders, irreducibly complex and open bodies of memory, irreducible to narratives lines.
Alloceptive perceptual swarms are embodied and living memories... Experience is made of the condensations of proprioceptive swarms: condensations in the way bodies register multisensorial and affective qualities and intensities: say for instance the particular bodily sensations of movement across all levels of the spectrum of the senses, in unique combinations of the senses, that emerge together with particular affects, longings, momentums along the previous trip to Greece with my expartner... and how reencountering them in a new body three years later, these swarms, as they become alive again, shift in new connections of a body whose openness and potentials have also shifted. This reemboying of the alloceptive swarms within a new more multifacted body is part of a healing process, of the growing beyond the relationship without forgetting, of the mourning that is also celebrating.
This readjustment of bodily memories, and how it attunes to a process of mourning, celebration, death and rebirth, is a process of reworlding, of recomposing worlds of relations made of multiplicities of kinesthetic, proprioceptive and alloceptive memories continuously reconfiguring, alive, in the bodies, in the metabodies of relations that we are, always moving and opening up in endlessly complex relational fields.
Animal affect, queer landscapes, refugee "crisis", and other major and minor ecologies become entangled in alloceptive swarms, accross other much more algortihmic memories induced by perspectival and media ecologies. Micromemories open up everywhere accross the borders of macro- and hypermemory. Minor ecologies in the Algoricene, my current project within Metabody and thread of the current Metabody Forums, is precisely an attempt to build provisional alliances and open in between spaces, or spaces for openings, intra-active spaces across multiple borderzones like those occupied by refugees, neurodiverse people, indigenous communities, prisoners, queers, homeless, sex workers, dogs and multipecies affect, people living suburban areas and rural areas which are aside of the centers of interest of global capital, etc...
It's about enacting Metatopias as spaces for memories not based on bordermaking but on more boundless, lively and fragile becomings... how to make that fragility sustainable in face of the violent onset of macro- and hypermemories in the Algoricene?
3 Chthulucenic memories... and beyond: The Amorphocene...
The Chthulucene is Donna Haraway's (2016) recent take on the anthropocene and capitalocene, proposing a narrative that pays hommage to old chthonic powers of creation and destruction, that pays attention to things smaller and larger than those accounted for by capitalistic and the anthropocentric narratives, that account for the ongoingness, tentacular character and sneakiness of staying with the trouble and making kin without making children, of intra-action and sympoiesis, of becoming-with. The etymology of Chthulucene brings together the lovecraftian name Chtulhu (note the missing h after the t) with Cthonic (from the Greek Cthonies Dynamis or earthly powers).
The Algoricene in turn speaks about some ontological foundations of some of the dreadful aspects of the Chthulucene, while the Chthulucene speaks also about all that is smaller and larger than the Algoricene's dominant alignments. The Algoricene speaks about perceptual infrastructures sustaining both narrative and what exceeds narrative, while the Chthulucene focuses more on narrative and storytelling.
The Algoricene speaks about memory at the level of how perception crafts relational ecologies, while the Chthulucene focuses on memory as storytelling that reaches out into the smallest and largest, the oldest and chthonic and the very small... I could call it the Amorphocene to name the larger spectrum of worlds not following the imperative of the Algoricene and the morphocentric tradition...
My turn to the Chthulucene here is perhaps because of the ways in which memory still relates to storytelling... while at the same time I am proposing that we need something more: we need metanarratives and metabodies for movements larger and smaller than can be put in narrative terms. The Chthulucene speaks about things exceeding the problem (the Algoricene). I will propose in turn to think both beyond the Algoricene and the Chthulucene: The amorphocene.
The amorphous connects with the tentacular. And yet we need the Algoricene to critically distinguish between tentacular practices of hypercontrol cultures and other quite different ones.
Micromemories point to a micro-recherche in which a more-than-Proustian take on memory can be expanded into the most blurry microscopic and macroscopic bodily memories, unspeakable ones eventually, or hovering on the edge of the speakable. Metamemories are such emergent and inbetween murmuring bodies of affect-sensation generating complex nebulae, open worlds or metakosmia.
The Amorphocene reaches out to bodily memories that are unspeakable.... beyond any narration, murmurings in the alloceptive swarms of bodies' perceptions, irreducible to any framing or timeline, to any record or document attempting to fix it, always moving forward in their dynamism precisely because such a memory consists in the fragile dynamic alliances between sensing relations, conforming swarms moving across a transmodal sensory continuum.
Healing the hard memories of endless ontological borders in the Algoricene implies mobilising other memories in bodies, irreducible to capture, narrative, measurable trajectory or timeline. We need to generate conditions and tékhnes for such fragile modes of coming together.
The Amorphocene speaks about the need to move-perceive in more ways than as narrative-centered subjects...mobilising the unspeakable in its irreducible nature as a collective memory of affects and sensations exceeding universalist frameworks of meaning for ecologies to come.
References
Barad, K. 2007. Meeting the Universe Halfway: Quantum Physics and the Entanglement of Matter and Meaning. Durham. Duke University Press
Bergson, H. 2012. Matière et Mémoire. Paris. Editions Flammarion.
Haraway, D. 2016. Staying with the Trouble. Making Kin in the Chthulucene. Durham. Duke University Press.
Moore, J. W. Ed. 2016. Anthropocene or Capitalocene? Nature, History and the Crisis of Capitalism. Oackland. PM Press.
Varela, F., Thomson, E., Rosch, E. 1993. The Embodied Mind. Cognitive Science and Human Experience. Massachussets. MIT Press.
1 See Moore 2016.
2 By ecology I mean an open ecosystem or relational field, as well as an ontological approach to ecology as science and practice.
4 See Varela, 1993.
5 Intra-action is a term proposed by Karen Barad (2007). Whereas interaction refers to preexisting entities relating in a predefined space (relative to perspectival-euclidean-cartesian space perceptions based on the artificial construction of external observers), intra-action refers to the co-emergence of the agencies that enter a relation, (relative to accounts of quantum mechanics and diffraction, based on the impossibility of external observers, but grounded on internal observation acts that generate cuts and ontological separability, as dynamic form generation from within, signalling the inspearability of ontology, epistemology and ethics), thus questioning the predefined status of things, entities, spaces or external observers, and pointing to a relational ontology of becoming.
6 Indeterminacy as I understand it is never pure of absolute, movement always having different degrees and modes of very complex indeterminacy. Pure indeterminacy, just like pure disorder is as much of a fiction and mathematical abstraction as pure order and never exists as such.