Memórias, feminismos, outras condutas

Marcela Silviano Brandão Lopes, Natália Alves da Silva

Marcela Silviano Brandão Lopes é Engenheira Civil e Arquiteta. Doutora em Arquitetura e Urbanismo, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, estuda e orienta pesquisas nas áreas de processos de produção do espaço e suas implicações socioambientais, processos de projeto compartilhados, assessoria técnica a ocupações urbanas autoconstruídas, cartografias emergentes, artesanais, construtivas e urbanas.

Natália Alves da Silva é graduada em Comunicação Social, pesquisadora do grupo Indisciplinar da Universidade Federal de Minas Gerais, onde estuda e coordena ações de  feminismos e projetos de cartografias emergentes.

Como citar esse texto: LOPES, M. S. B.; SILVA, N. A. Memórias, feminismos e outras condutas. V!RUS, São Carlos, n. 16, 2018. [online] Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus16/?sec=4&item=7&lang=pt>. Acesso em: 31 Out. 2024.


Resumo

Propõe-se neste artigo a discussão sobre os processos de subjetivação acionados pela racionalidade neoliberal, e a construção de ações alternativas capazes de se contrapor à lógica da competição e da eficiência, apostando na identificação de “outras condutas” nas práticas cotidianas das mulheres moradoras das ocupações urbanas autoconstruídas, movidas pelo cuidado, compartilhamento e trocas não-mercantis. Tal aposta exige um novo papel do pesquisador, implicado e aberto aos conhecimentos não acadêmicos. Foi a partir desse outro lugar do pesquisador, tendo a cartografia como método de investigação, que duas disciplinas foram oferecidas e desenvolvidas em parceria com as mulheres da Ocupação Rosa Leão, em Belo Horizonte. Partindo da percepção de que as ocupações urbanas autoconstruídas são vistas exclusivamente pelo viés da falta e da precariedade, difundido tanto por uma mídia dominante, como pela visão técnica hegemônica, a proposta das disciplinas foi a de ampliar e complexificar tal visão, por meio da exposição de outras narrativas, constituídas pelas referências e pelas lembranças das mulheres que habitam e vivem o dia a dia daquele território. Diante do desafio de se construir instrumentos que pudessem desencadear um processo de fato dinâmico e compartilhado entre os envolvidos, e evidenciar possíveis tangências entre as teorias feministas e as práticas cotidianas engendradas pelas mulheres da ocupação, optou-se pela construção de dispositivos que ativassem a memória afetiva dessas mulheres. Assim, lembranças foram narradas, registradas, e, por fim, transformadas em suportes (cartazes, estandartes, livro) de uma instalação comemorativa do aniversário da ocupação. Tessitura de lembranças e saberes que evidenciaram subjetivações subversivas e potentes, indicando pistas para a construção de outras condutas.

Palavras-chave: Racionalidade neoliberal, Outras condutas, Outras narrativas, Memória, Feminismo, Ocupações urbanas


1 O patriarcado e a racionalidade neoliberal: processos de subjetivação

Dentre as diversas relações de poder existentes na sociedade, as feministas têm chamado atenção para a existência do poder que os homens exercem em conjunto sobre as mulheres. As revoltas feministas da década de 1960 trouxeram à tona o termo “patriarcado” para designar essa relação.

(...) o patriarcado designa uma formação social em que os homens detêm o poder, ou ainda, mais simplesmente, o poder é dos homens. Ele é, assim, quase sinônimo de “dominação masculina” ou de opressão das mulheres. Essas expressões, contemporâneas dos anos 70, referem-se ao mesmo objeto, designado na época precedente pelas expressões “subordinação” ou “sujeição” das mulheres, ou ainda “condição feminina” (DELPHY, 2009, p. 174).

Tendo origem na noção de autoridade do pai (pater), que designava as relações sociais nas sociedades antigas, o termo é retomado para visibilizar o poder dos homens, em que pese levantar objeções quanto à sua possível generalidade e trans-historicidade. Nessa direção, algumas feministas preferem combinar seu sentido com o conceito de “gênero”, para refletir especificamente sobre os papéis de homens e mulheres em contextos específicos.

No intuito de ampliar essa discussão, encontramos em Foucault (1977) a ideia de poder, não como coisa ou montante, localizado em alguém ou alguma instituição, mas como um sistema das relações que articula a verdade e o direito. Para que o sistema de poder se efetive são necessários “dispositivos” discursivos e não-discursivos que façam uma ordem epistêmica obter estatuto de verdade em detrimento de outros saberes e outros conhecimentos. Em outras palavras, saber e poder são instâncias indissociáveis, o que nos convoca a analisar a formação do patriarcado a partir da investigação dos dispositivos acionados para legitimar os saberes masculinos sobre os demais e sua relação com o modo de produção capitalista.

A memória é uma importante dimensão do pensamento feminista. Nessa perspectiva, trata-se de uma categoria que compõe a ação política e de luta das mulheres, no sentido da transformação de suas condições materiais de subordinação e exploração. É um dos aspectos imprescindíveis da vida, pois é nela que se dá o enlace com as antepassadas, com a experiência e com as formas de vida, que não são passíveis de repetição (PAREDES, 2013). A memória corre desde sempre atrás das utopias, testemunhando frustrações e sucessos vividos, permitindo assim deslocamentos que transtornam a História com letra maiúscula. Essa perspectiva é produzida a partir das bordas, do subterrâneo e, ao mesmo tempo, quer dar visibilidade às mulheres e outros sujeitos subalternos, constituindo-se como saber legítimo na produção do conhecimento. (NOCIONI, 2017). Nesse sentido, as memórias se constituem como uma forma de resistência política específica e modifica as possibilidades do relato. Resistir é também poder falar sobre si.

Uma das questões para o debate feminista que se aproxime de uma discussão sobre os efeitos do capitalismo é o de perceber que as opressões relacionadas ao gênero emergem associadas a várias outras dimensões, como o racismo e a opressão de classe. É preciso, então, que a reflexão dê conta de uma apreensão multidimensional própria da experiência dos sujeitos na sociedade.

De fato, o patriarcado tem efeitos diferentes sobre o conjunto das mulheres e, para não cair em argumentos essencializadores, é preciso ter em conta múltiplos atravessamentos. Essa é uma questão especialmente importante para um trabalho que tem como um dos objetivos entender as relações de gênero em territórios compostos majoritariamente por mulheres pobres e negras.

O entrecruzamento de opressões esteve no centro das preocupações do movimento feminista negro desde sua origem. No entanto, coube a Crenshaw (2002) a formulação do conceito de interseccionalidade, focando o lugar das mulheres negras.

A interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. (CRENSHAW, 2002, p. 177).

Para a autora, o problema principal da política de identidades não está em demarcar as diferenças, mas em não permitir percebê-las no interior dos grupos (CRENSHAW, 1991). Crenshaw, seguindo a trilha da intelectual feminista Mari Matsuda, define que se trata de uma metodologia que parte de “uma política de fazer outras perguntas” sobre os fenômenos. Nesse sentido, busca entender como uma situação que aparentemente parece ser um problema de classe pode ter dimensões de raça e gênero operando para que aquela situação permaneça.

Conforme Matsuda sugere, muitas vezes uma condição pode ser identificada, por exemplo, como produto óbvio do racismo, porém, mais poderia ser revelado se, como rotina, fossem colocadas as seguintes perguntas: Onde está o sexismo nisso? Qual a sua dimensão de classe? Onde está o heterossexismo? E a fim de ampliar ainda mais tais questionamentos, poder-se-ia perguntar: De que forma esse problema é matizado pelo regionalismo? Pelas consequências históricas do colonialismo? (CRENSHAW, 2002, p. 183).

Concordando, pois, que o capitalismo não pode ser dissociado do patriarcado, surge outra questão: Como se dá essa relação em tempos de capitalismo neoliberal? Quais são os “novos” dispositivos de poder visíveis e invisíveis que agora atuam para a reprodução de ambos? Segundo Dardot e Laval (2016), o sistema neoliberal não é apenas um sistema econômico, mas, em termos foucaultianos, uma racionalidade, que atua na mudança de concepção dos bens públicos associados até então à cidadania e à democracia política para uma lógica consumista. Essa mudança afeta de tal maneira o jogo democrático, que, segundo esses intelectuais, estamos vivendo atualmente em uma “era pós-democrática”, cuja figura central dessa nova racionalidade seria a do “sujeito empresarial”, empreendedor de si mesmo, inserido no jogo da competição e da acumulação individual, cujo desejo não apenas é afetado por esse apelo, mas é também produtor desse estar no mundo: “O ser desejante não é apenas o ponto de aplicação desse poder; ele é o substituto dos dispositivos de direção de condutas”(DARDOT e LAVAL, 2016, p. 327).

Aparentemente, o novo jogo neoliberal é aberto a todos, bastando aprender as suas regras para entrar nele. Entretanto, se lembrarmos que tais regras são construídas e legitimadas por meio de dispositivos de poder, e que tais dispositivos estão cada vez mais subordinados à lógica do capital e da eficiência, não há aí nenhuma liberdade de fato. Todos nós estamos submetidos a uma “ilusão imaginária de gozo total”. “Tudo se equivale”, afirmam Dardot e Laval (2016), tudo “tem preço e se negocia”. Mas, se tudo parece possível, por outro lado tudo é duvidoso, tudo é suspeito, “porque nada é lei para ninguém”.

Assim, se o jogo capitalista já era desigual entre homens e mulheres, a lógica perversa de dominação só o incrementa, e a inserção das mulheres nesse sistema só será possível se elas entrarem no jogo masculino da competição.

2 Os processos de produção de “novas condutas” e as ocupações urbanas autoconstruídas por mulheres

Como possibilidade de se contrapor à racionalidade neoliberal, Dardot e Laval afirmam ser precisa a construção de uma outra razão do mundo - uma “contraconduta”, capaz de se apresentar como oposição aos procedimentos de condução postos e como modo de se conduzir em relação aos outros: “A contraconduta como forma de resistência a essa governamentalidade [neoliberal] deve corresponder a uma conduta que seja indissociavelmente uma conduta para consigo mesmo e uma conduta para com os outros” (DARDOT e LAVAL, 2016, p. 400).

Arriscamos afirmar que essa contraconduta já existe, é feminina e feminista, é engendrada na produção de espaços coletivos e de redes de vizinhança solidárias e é regida por preceitos baseados no cuidado, no compartilhamento e em trocas não mercantis. Podemos aproximá-la com o que De Certeau (1994) identificou nas maneiras de fazer cotidianas, que impedem que tudo e todos sejam capturados pela rede do poder. Tais maneiras de fazer são subversivas justamente por serem procedimentos cotidianos populares e silenciosos (ou mesmo minúsculos) − pelo menos na frequência da escuta das práticas institucionalizadas.

O próprio Foucault (1979), antes da importância dada aos dispositivos do poder, em A vontade de saber, já anunciava a mão-dupla que se estabelece em uma relação de poder: “lá onde há poder há resistência, e, no entanto (ou melhor, por isso mesmo), esta nunca se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder” (FOUCAULT, 1979, p. 90). Dialogando nesse entendimento, Deleuze (2006) percebe que as resistências podem ser engendrados não apenas no interior do jogo entre o poder-saber, mas que são também produzidas em um outro eixo, distinto do saber e do poder, que funciona simultaneamente ao das relações hegemônicas, sem necessariamente anulá-las, mas impedindo que haja um impasse. Pelbart resume bem essa dinâmica e encontra um termo que explicita a positividade dessa força: “Biopotência”, ou seja, potência da vida (PELBART, 2011).

É possível identificar tais contracondutas nas ocupações urbanas autoconstruídas, organizadas a partir das necessidades e possibilidades daqueles que ocupam e que, de maneira coletiva, o transformam em um território repleto de significados e condições econômicas de reprodução. Por meio desse processo se constroem casas, ruas, estrutura urbana e equipamentos coletivos que facilitam processos de organização comunitária, extremamente importantes para os moradores. Muitas dessas ações são protagonizadas por mulheres, moradoras de ocupações urbanas autoconstruídas, que possuem uma forte presença na organização comunitária, e que geram redes de apoio e fortalecimento entre elas.

O foco neste artigo será a abordagem da produção do espaço na ocupação Rosa Leão, localizada entre Belo Horizonte e Santa Luzia, uma das ocupações da Izidora, localizada no vetor de expansão imobiliária da cidade onde estava planejada a construção de uma nova regional na cidade. Na região existe desde 2013 três grandes ocupações urbanas, Rosa Leão, Esperança e Vitória, que ao todo reúnem 8.000 famílias, segundo informação dos movimentos sociais. A região chamava-se Isidoro, mas após a ocupação das terras foi rebatizada de Izidora, em homenagem a uma mulher negra que lutava pela liberdade e contra a escravidão na região. Isidoro correspondia à última grande área verde de Belo Horizonte, localizado no vetor norte da cidade, onde se dava uma grande expansão imobiliária impulsionada pelos altos investimentos em obras, como a da Catedral Cristo Rei e da Cidade Administrativa do Estado de Minas Gerais. O caso da Izidora já foi considerado pelo Tribunal Internacional de Despejos, que faz recomendações à ONU, como um dos maiores conflitos sociofundiários do mundo.

O planejamento das cidades foi historicamente pensado levando em conta as necessidades da produção capitalista e de um sujeito universal masculino, autônomo e livre de amarras. Com isso, a participação política das mulheres nas decisões sobre as políticas urbanas sempre foi limitada e dificultada por diferentes fatores. Entretanto, nas ocupações urbanas autoconstruídas acontece justamente o contrário, pois o planejamento é produzido por mulheres negras e periféricas, que constituem quase a totalidade da coordenação política do território, e que, para garantirem seus direitos, precisem enfrentar diferentes dimensões de opressão: O embate com o urbanismo neoliberal, a exclusão política, a desigualdade como trabalhadoras, a violência machista, o racismo e o patriarcado nas comunidades.

3 A academia sai da academia: processos de desterritorialização

Ao admitir o valor e a potência das contracondutas engendradas nas práticas cotidianas subversivas, inclusive no que se refere àquelas relativas à produção do espaço, o desafio para os pesquisadores e intelectuais passa a ser o de construir meios e instrumentos que não reproduzam a lógica de saber-poder, na qual o saber está localizado e restrito ao ambiente acadêmico.

Ora, o que os intelectuais descobriram recentemente é que as massas não necessitam deles para saber; elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor que eles; e elas o dizem muito bem. Mas existe um sistema de poder que (...) invalida esse discurso e esse saber. Poder que (...) penetra muito profundamente, muito sutilmente em toda a trama da sociedade. Os próprios intelectuais fazem parte deste sistema de poder, a ideia de que eles são agentes da ‘consciência” e do discurso também faz parte desse sistema. O papel do intelectual (...) é antes o de lutar contra as formas de poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o objeto e o instrumento: Na ordem do saber, da ‘verdade”, da ‘consciência”, do discurso (FOUCAULT, 1979, p. 71).

No caso das pesquisas e das intervenções urbanas, a própria noção de planejamento e projeto, seja na escala do urbano, do edifício ou do objeto, ainda está vinculada aos conceitos de organização, funcionalidade e setorização, todos associados a critérios e referências pré-definidos. As várias maneiras que se encontra para decidir acerca da produção e apropriação do espaço costumam ser demolidas e substituídas por aquelas definidas pelas normas científicas da academia. Mas Lazzarato lembra que para Foucault e Deleuze uma das fortes questões da política está na elaboração dos problemas, e aí pode estar outro caminho para a participação da academia, uma vez que apresentar os problemas é o mesmo que “introduzir novos objetos e novos sujeitos dentro do espaço da política e (...) torná-los as balizas de uma polêmica e de uma luta” (LAZZARATO, 2014, p. 127).

Encontramos, desse modo, nos pressupostos metodológicos da pesquisa-intervenção e da pesquisa cartográfica uma possibilidade de construção desse outro papel para o pesquisador. A cartografia, tomada na acepção de Gilles Deleuze e Félix Guattari a partir do conceito de rizoma (DELEUZE e GUATTARI, 1995), pode ser entendida também como um método que visa a apreensão do existente a partir da identificação de elementos territoriais, organizativos mas também das potências, das linhas de fuga e das erupções criativas. Para isso é preciso uma implicação generosa do pesquisador, permeando e deixando-se permear pela realidade pesquisada.

A cartografia como metodologia assume a pesquisa como dispositivo de intervenção, produtora de acontecimentos abertos à imprevisibilidade da ação. Sendo assim, o encontro entre pesquisador e pesquisado necessariamente vai provocar desestabilizações, desencadeando a produção de novos conhecimentos e novas subjetivações. Nessa abordagem, o movimento alternado do observador-pesquisador, ora em direção ao processo que pretende analisar, ora se afastando dele, desestabiliza a separação entre sujeito e objeto, tornando sujeitos políticos tudo e todos os envolvidos nos processos, com vozes e saberes a serem compartilhados, e, por isso, passíveis de transformação. Trata-se, pois, de uma disponibilidade para o desconhecido, não apenas no que se refere às questões teóricas, à escrita e às tentativas de sistematização − considerando que a própria construção do pensamento nos leva a territórios que não haviam sido previstos no início da pesquisa −, mas também, e talvez principalmente, às pesquisas de campo, que necessariamente nos conduzem a um processo de desterritorialização constante.

4 Memória e o desvio do método: processos de multi-territorialização

A disciplina Cartografias Emergente1 tinha como um dos objetivos a realização de uma cartografia do feminismo na ocupação Rosa Leão, em Izidora2. A primeira questão que se coloca diz respeito ao que seria uma manifestação feminista engendrada nesse território. E na sequência, trata-se de pensar em como cartografá-la, sem a falaciosa neutralidade do pesquisador em campo.

Assim, as primeiras discussões giraram em torno desses temas. Em que pese as idas ao território terem sido antecedidas por aulas e discussões, no plano teórico era preciso buscar uma relação entre teoria e experiência, na qual a última não servisse como mera exemplificação da primeira. Em outras palavras, era preciso que a teoria servisse como a possibilidade de abertura para observar as relações de gênero e não a busca de sujeitas feministas ideais. Praticar uma abertura generosa para a escuta e a observação, desconstruir imagens essencializadas do feminino, e considerar as mulheres dentro dos múltiplos atravessamentos que compõem suas vidas foram gestos valiosos que subvertem o papel tradicionalmente praticado por estudos ortodoxos da academia.

La relación entre «Mujer», un compuesto cultural e ideológico del Otro construido a través de diversos discursos de representación (científicos, literarios, jurídicos, lingüísticos, cinemáticos, etc.) y «mujeres», sujetos reales, materiales, de sus propias historias colectivas, es una de las cuestiones centrales que la práctica de la academia feminista busca abordar. La conexión entre las mujeres como sujetos históricos y la representación de Mujer producida por los discursos hegemónicos no es una relación de identidad directa, ni una relación de correspondencia o simple implicación (Mohanty, 2008, p. 121).

A primeira questão que se impôs foi: Onde estão as mulheres da ocupação, que função exercem na organização comunitária e quais são suas preocupações? E logo nas primeiras visitas foi possível evidenciar que as mulheres estão à frente de todos os projetos com os quais o grupo teve contato: na luta pelo atendimento de saúde, na construção do espaço comunitário, na implantação de hortas comunitárias, na preservação de áreas de proteção ambiental, na mobilização para a implantação do espaço ecumênico, nas reuniões de negociação com o poder público para a regularização fundiária. As mulheres estavam em maioria, e muitas vezes compunham a totalidade das atividades comunitárias, tendo forte poder de decisão.

Esse fato desafia um tema caro à teorização feminista: A divisão da sociedade entre público e privado como um elemento fundamental da construção dos papéis de gênero. Inaugurada na modernidade, a divisão entre esfera pública e esfera privada, separadas e dicotômicas, define que a esfera pública é a esfera da razão, da política e, portanto, masculina. Às mulheres pertenceriam a esfera privada, esfera do cuidado, do afeto e da domesticidade. No entanto esses papéis configurados dessa maneira nos informam sobre a experiência de algumas mulheres em certo tempo históricos e não pode ser generalizada para todas as mulheres. Isso não significa, evidentemente, que não haja outras manifestações do poder masculino no interior da comunidade, mas que suas configurações são complexas.

Ao evidenciar a importância das mulheres para a organização comunitária coube uma segunda questão: Como cartografar? A organização já havia empreendido dois grandes esforços em dar visibilidade a atuação das mulheres. A primeira foi a própria escolha do nome da ocupação. Rosa Leão foi uma importante liderança comunitária na região, já falecida. Nos processos de escuta nos demos conta que, em que pese a homenagem, as moradoras sabiam muito pouco sobre ela. Em segundo lugar, o espaço comunitário em construção receberá o nome de Zoca, uma homenagem em vida para outra importante figura das resistências populares, moradora de uma ocupação vizinha à Izidora.

Entretanto, ainda que a presença feminina e a bipotência das práticas nas comunidades sejam inequivocamente fortes, as narrativas sobre as ocupações da Izidora apontavam para um não-reconhecimento do seu valor no interior de seu espaço doméstico, no conjunto da comunidade e externamente. As falas dessas mulheres dão conta das ações judiciais, manifestações, ações policiais, mas nunca das ações cotidianas das mulheres que, a partir do cuidado e do compartilhamento, tornam possível a reprodução da vida no território. A estigmatização e criminalização promovida pelo poder policial, por agentes do poder público e pelos meios de comunicação aos moradores de ocupação aparecia como um incômodo recorrente nas conversas.

Uma terceira questão que rondava o trabalho na disciplina dizia respeito aos agenciamentos, em como as mulheres da ocupação e o grupo de estudantes poderiam se conectar e compartilhar experiências e emoções, habitando um território comum. Como lidar com as diferenças no interior do grupo aguçadas pelo lugar que a universidade ocupa como saber válido, supostamente formadora dos técnicos que se colocam como os solucionadores dos problemas?

Diante desse desafio, encontramos na obra “Primeiro amor” da artista Rivane Neuenschwander3 uma referência importante, considerando o deslocamento proposto pela artista no papel policial do “retrato falado” para uma versão poética, a partir do convite lançado aos visitantes de retratar o seu primeiro amor. A busca, assim, não é o retrato fiel de um criminoso qualquer, mas daquele que um dia “roubou” o coração daquele visitante. Memória fiel e infiel, atravessada por intensidades e afetividades, tão ficcional, quanto verdadeira.

Uma outra inspiração foi o projeto “100 Vezes Cláudia” lançado pela ONG feminista Think Olga4 por ocasião da morte de Cláudia Silva Ferreira, baleada em uma troca de tiros no Morro do Congonha, em Madureira, arrastada por uma viatura da Polícia Militar do Rio de Janeiro. O projeto fazia uma chamada aberta a artistas para produzirem obras que reconstruíssem de maneira sensível a imagem de Claudia.

Seguindo essas propostas a ideia era criar um retrato-falado de Rosa Leão, a lider comunitária que deu nome à ocupação, mas que poucos conheciam, sua história, já que não se tinha notícia de registros fotográficos. Assim, as estudantes passaram a seguir as pistas que levassem a reconstituição de sua história e sua imagem. As buscas levaram a Dona Marlene Alves de Matos e Seu Joaquim Alves, dois dos moradores mais antigos da ocupação. Ressabiados com a presença da “universidade”, a relação logo mudou quando as estudantes revelaram o motivo da visita. Passaram-se horas de conversa sobre a vida de Rosa, que foram devidamente desenhados em forma de um retrato-falado. Ao final, alguns registros fotográficos foram descobertos (Fig. 1). “Nós sempre quisemos registrar essa história”, afirmou Dona Marlene Alves de Matos.

Fig. 1:Retrato de Rosa Leão. Fonte: Dona Marlene Alves de Matos, 2017.

Com esse material em mãos, já em sala de aula, o grupo decidiu fazer um estandarte com a imagem de Rosa Leão para o novo centro comunitário da ocupação (Fig. 2), para ser a peça central de uma grande exposição com retratos de mulheres da Ocupação. Contrapondo-se ao “procura-se” do jargão policial, a exposição se chamaria “Encontra-se”. (Fig. 3). O registro fotográfico passaria a ser o dispositivo do diálogo com as mulheres. A imagem viria acompanhada de uma palavra escolhida pela moradora como a que melhor a definisse (Fig. 4).

Fig. 2: Estandarte produzido pelas estudantes a partir do retrato falado da Rosa Leão. Fonte: Autoras, 2017.

Fig. 3: Fotomontagem da exposição “Encontra-se” na Ocupação Rosa Leão. Fonte: Autoras, 2017.

Fig. 4: Fotomontagem do retrato da Dona Chica para a exposição “Encontra-se”. Fonte: Autoras, 2017.

Em paralelo a esse trabalho, o grupo de alunos matriculados na disciplina “Arquitetura Desobediente” (Projetos Flexibilizados-Pflex) se somou ao grupo dos alunos da “Cartografias Emergentes”, para desenvolver um projeto a partir da reflexão sobre memória e feminismo, com o foco em reconstruir a história da Ocupação Rosa Leão sob o olhar das mulheres. Para tal, foram construídos: A base de uma linha do tempo, variadas formas de corpos femininos (baixos, altos, gordos, magros), uma coleção de palavras pinçadas em conversas informais com as moradoras da ocupação e nos debates em sala de aula (alegre, triste, luta, feminino, moradia, rua, cuidado, compartilhamento, disputa, etc), e uma coleção de imagens da ocupação, baixadas da internet.

A proposta era que as moradoras se representassem na linha do tempo no momento em que chegaram na ocupação e no momento mais marcante de sua vida na comunidade, e que identificassem no tempo eventos importantes da luta, a partir das fotos e das palavras impressas pelas estudantes. Para que o jogo não fosse algo fechado e pré-definido, papéis em branco também foram levados, além de tesouras e lápis de cor, para que novas palavras fossem escritas ao longo do processo, e para que cada moradora pudesse inserir suas marcas e suas histórias nos corpos desenhados.

A construção da linha do tempo (e da memória), por meio de cores, adereços, palavras soltas e imagens esquecidas, recuperou lembranças sobre momentos de luta, das violências vividas, das amizades feitas, do orgulho de ser negra e das dores de ser ameaçada de despejo, que desencadearam narrativas potentes sobre as práticas femininas e feministas sobre a produção de um território não apenas físico, mas sobretudo afetivo da Ocupação Rosa Leão (Fig. 5, 6, e7).

Fig. 5: Oficina de linha do tempo. Fonte: Autoras, 2017.

Fig. 6: Detalhe da linha do tempo produzida na oficina. Fonte: Autoras, 2017.

Fig. 7: Apresentação dos produtos desenvolvidos pelas estudantes a partir da construção coletiva da linha do tempo. Fonte: Autoras, 2017.

E assim, a partir dos dispositivos criados, lembranças foram narradas, e depois registradas, para, por fim, serem transformadas em suportes (cartazes, estandartes, livro) de uma instalação para a comemoração do aniversário da ocupação. Tessitura de lembranças e saberes que evidenciaram outras subjetivações, subversivas e potentes, indicando pistas para a construção de outras condutas.

5 Considerações finais

Motivadas pela inquietação de se investigar contraposições aos processos de subjetivação presentes na nova razão neoliberal, encontramos nossas pistas nas práticas cotidianas das mulheres moradoras das ocupações urbanas autoconstruídas, que têm o cuidado, o compartilhamento e a reprodução da vida como centrais. Reconhecer essas práticas como outras condutas potentes e feministas, implicou em um deslocamento no próprio papel do pesquisador.

Possibilitar um espaço de liberdade frente aos saberes impostos para produzir memória é desafio, um exercício a contrapelo, uma prática reveladora de todos aqueles saberes e experiências que têm sido colocadas à margem. Por outro lado, as memórias não são lembranças inamovíveis, mas construção de relatos, processos que estabelecem sentidos, e interpretações que se socializam. Por serem construídas, são contraditórias, podendo mudar. A potência da memória parece se demonstrar quando são colocadas as lembranças individuais em discussão coletiva.

Apesar de sabermos que o indivíduo porta as suas memórias, as produz e as compartilha, não podemos pôr em dúvida que a memória está arraigada e situada ali onde compartilhamos espaços, laços de pertencimento, solidariedades e sociabilidades”(DA SILVA CASTELA, 2010, p. 44).

Entretanto, os instrumentos clássicos das pesquisas qualitativas recorrentes no campo das ciências sociais aplicadas não dariam conta dessa empreitada. Foi então no campo da arte que encontramos as nossas referências. Tal fato nos remete à relação entre arte e política proposta por Chantal Mouffe (2013), como dois campos que deveriam ser pensamos sempre em articulação. Para Mouffe, a arte é sempre política, o problema está na capacidade crítica das práticas artísticas, ou seja, nas diferentes maneiras dessas práticas promoverem a visibilidade daquilo que o consenso dominante pretende apagar, contribuindo assim para a formação de espaços agonísticos variados e plurais, e, em última instância, para a construção de uma democracia radical. Nessa perspectiva, entendemos que os dispositivos mnemônicos propostos trouxeram à tona lembranças e narrativas esquecidas, que juntas atualizaram e reconfiguraram tanto os espaços físicos da ocupação, quanto os espaços simbólicos das mulheres que atuam ali nas lutas do cotidiano.

Ao mesmo tempo é preciso enfrentar o desafio do confronto com a produção de conhecimento dominante que promove uma definição colonialista daquilo que pode ou não ser narrado (SPIVAK, 2010). Uma das formas de dominar é expropriar os sujeitos subalternos da capacidade de definirem-se por eles próprios (COLLINS,2016). Essa produção dominante apresenta a história como um todo homogêneo em que as marcas de sua produção e os corpos que a produziram desaparece. O espaço-tempo aparecem como um esquema linear. Ignorar as complexidades e narrar a partir de um sujeito abstrato, universal, sem marcas de classe, sem processos de racialização, nem diferença sexual, naturaliza um universal branco, masculino, de classe média/alta e heterossexual. O caráter universalizante do pensamento do ocidente subalterniza saberes, culturas e memórias (FEDERICI, 2017).

Construir memórias gera uma ruptura nessa ordem totalizadora e recupera a desordem das lembranças intersubjetivas, pois a vida social é constituída de contradições, sentidos incompletos e formas difusas. Ao mesmo tempo, parece fundamental se queremos construir contracondutas e alternativas ao atual modo de vida, pois nos permite ouvir as vozes daquelas que percorrem caminhos similares a esse.


Agradecimentos

As autoras agradecem às estudantes de graduação da Escola de Arquitetura da UFMG que participaram desse projeto, à professora Natacha Rena pela parceria na disciplina, às moradoras e à coordenação da Ocupação Rosa Leão e às Brigadas Populares.

Referências

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1 Disciplina ofertada pela Escola de Arquitetura da UFMG pelas professoras Marcela Brandão e Natacha Rena

2 Esse trabalho se vincula a pesquisa da mestranda do NPGAU-UFMG Natália Alves

4 Ver em <http://thinkolga.com/2014/03/19/100-vezes-claudia/> Acesso em 20 jun. 2018.

Memórias, feminismos, outras condutas

Marcela Silviano Brandão Lopes, Natália Alves da Silva

Marcela Silviano Brandão Lopes is a Civil Engineer and Architect, Doctor in Architecture and Urbanism and teaches at the Federal University of Minas Gerais. She guides research on space production processes and their environmental implications, shared design processes, technical assistance to self-built urban occupations, emerging cartographies in urban areas.

Natália Alves da Silva graduated in Social Communication. She is a researcher at the Indisciplinar research group at the Federal University of Minas Gerais, where she studies and coordinates actions of feminisms and emerging cartography projects.

How to quote this text: How to quote this text: LOPES, M. B.; SILVA, N. A. Memories, feminisms and other conducts. V!RUS, San Carlos, n. 16, 2018. [e-journal] [online] [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus16/?sec=4&item=7&lang=en>. [Accessed: 31 October 2024].


Abstract

In this paper, we propose a discussion about the subjectivation process triggered by neoliberal rationality and formulate alternative actions able to counterbalance the competition and efficiency logic, arguing that ‘other conducts’ can be find in everyday practices of women that live in the self-constructed urban occupations motivated by the caring, sharing and non-mercantile exchanges pratices. Such proposition demands the researcher to assume a new posture that implies to be engaged and opened to non-academic forms of knowledge. With this another perspective, employing cartography as a research method, two courses was offered and developed in cooperation with Rosa Leão Occupation women, in Belo Horizonte. Building upon the understanding that self-built urban occupations are always seen from a perspective of precarity and lacking, portrayed as such by the media and the technical status-quo, the objective of such courses was to enhance and provide such vision with a further degree of complexity, giving visibility to other narratives that were created from references and memories of women that inhabit and experience the routine of such territory. Facing the challenge of constructing instruments that could trigger a process both dynamic and shared by the actors engaged in the project, and in addition, bring into evidence possible dialogues between feminist theories and everyday practices of the women from the occupation, we opted for the construction of devices that activated the affective memory of these women. Memories and experiences were narrated, registered and, finally, were turned into supports (posters, banners, book) of an installation for the celebration of the occupation’s anniversary. A fabric of memories and knowledge that manifested powerful and subversive subjectivities, announcing paths for the construction of other conducts.

Keywords: Neoliberal rationality, Other conducts, Other narratives, Memory, Feminism, Urban occupations


1 Patriarchy and the neoliberal reason: subjectivation processes

Among the many power relations existent throughout society, feminists have been drawing our attention to a certain type of power that men exert over women as a whole. The feminist uprising from the 1960´s brought up the concept of patriarchy to define such relationship.

(...) patriarchy indicates a social order in which men detain power, or yet, in a simpler phrasing, power belongs to men. It is, then, almost a synonym for masculine domination or women's oppression. All of these expressions, contemporary of the 70´s, refer to the same object, which formerly had been called women's “subordination” or “subjugation”, or still, “the feminine condition”. (Delphy, 2009, p. 174, our translation)

With its origin rooted in the notion of father´s authority (pater), which designated social relations in ancient societies, the concept was retrieved in order to shed light upon the power of men, although its generality and its trans-historical range are an object of debate. In that sense, some feminists prefer to complement it with the concept of “gender”, in order to specify the roles assumed by men and women in specific contexts.

Aiming to expand this debate, we found in Foucault (1977) the concept of power, defined not as a thing or summary of things situated in someone or in some institution, but as a system of relations that articulates truth and law. In order for this system of power to become effective, it is necessary for some devices, both discursive and non-discursive, to grant statute of truth to a certain epistemic order, whilst denying such statute to other forms of knowledge. In another way, knowledge and power are inseparable arenas, a perspective that summon us to analyze the emergence of patriarchy by investigating the devices deployed to grant such statute to masculine knowledge, as well as their relationship with the capitalist mode of production.

Memory is an important dimension of the feminist theory. From this perspective, it is a category that composes political action and the struggle of women towards the transformation of their own material condition of subordination and exploitation. It is a crucial aspect of life, for it is through it that the binding with ancestry is set, with experience and with different forms of life, forms that are not repeatable through time (Paredes, 2013). Memory is always searching for utopias, witnessing frustrations and successes, enabling shifts that disturb History with a capital H. This perspective is produced from the borders, from the underground, and, simultaneously, aims to give visibility to women and other subaltern subjects and to constitute itself as legitimate in the process of knowledge production (Nocioni, 2017). In that sense, memories are a form of political resistance that modifies the possibility of storytelling. Resisting is also the capacity of narrating oneself.

A key question for approximating the feminist debate to that on capitalism and its effects is comprehending that gender-related oppressions are interlinked to many other dimensions, such as racism and class oppression. Thus, it is necessary to apprehend the experience of each subject as a multidimensional one.

In fact, patriarchy has different effects on the totality of women and, in order to avoid essentializing arguments, we must consider the multiple intersections. This is especially relevant for an investigation that aims to comprehend gender relations in a territory inhabited mainly by black and poor women.

The crossing between oppressions was a central concern for the black feminist movement since its origin. However, the concept of intersectionality was first conceived by Crenshaw (2002), focusing on the standpoint of black women

Intersectionality is a problem conceptualization that aims to capture the structural consequences and the interaction dynamics of two or more axis of subordination. It concerns specifically the way in which racism,patriarchalism, class oppression and other discriminatory systems create the basic inequalities that structure the relative position of women, races, ethnicities, classes and others (Crenshaw, 2002, p. 177, our translation).

The author considers that the main problem with identity politics is not that it explicit differences, but that it is unable to deal with differences within groups (Crenshaw, 1991). Crenshaw, following the track of feminist intellectual Mari Matsuda, defines her methodology as ‘a politic of making other questions’ about phenomena. In that sense, she intends to comprehend a problem that appears to be class-related as something that may also be sustained and informed by race and gender issues.

As Matsuda suggests, many times, in a situation identified, for example, as an obvious product of racism, for example, more could be revealed if as a routine we posed the following questions: Where is sexism in that? What is its class dimension? Where is heterosexism? And aiming to expand these questions even further, we could ask: In which way is this issue informed by regionalism? By the historical consequences of colonialism? (Crenshaw, 2002, p. 183, our translation)

Since we agree with the idea that capitalism cannot be separated from patriarchy, we are confronted by another question: How does this relationship work in a context of neoliberal capitalism? What are the “new” power devices, both visible and invisible, that now reproduce both systems? According to Dardot and Laval (2016), the neoliberal system is more than just an economic system but, in foucauldian terms, a rationality, which shifts our conception of public goods, historically associated with citizenship and political democracy, to a logic of consumption. This affects the democratic system in such a way that, according to these intellectuals, we have entered a post-democratic era, where the main actor is the entrepreneurial subject. Such individual, an entrepreneur of himself, is fully inserted in the logic of competition and individual accumulation, and not only his desire is affected by these parameters, as he or she is also the producers of this way of life. “The desiring being is not just the point where power is applied; it substitutes the conduct directing devices”. (Dardot and LavaL, 2016, p. 327, our translation)

Apparently, the new neoliberal game is open to everyone, as long as we learn the rules to join it. However, if we recall that these rules were built and legitimized through power devices and that such devices are each day more subordinated to the logic of capital and efficiency, we cannot find any actual freedom. We are all subjected to an “imaginary illusion of total pleasure”. “Everything is equivalent”, affirm Dardot and Laval (2016), everything “has a price and is negotiable”. However, if everything appears to be possible, on the other hand, everything is doubtable, everything is suspicious, “because nothing is law to no one”.

Hence, if the capitalist game was already unequal between men and women, the perverse logic of domination only increments it and the insertion of women in this system is only possible whilst they enter the masculine game of competition.

2 The processes of production of “new conducts” and the urban occupations self-built by women

As possibility of counterbalancing the neoliberal rationality, Dardot and Laval assert the necessity of creating a new reason – a ‘counter-conduct’ capable of presenting an opposing alternative to the conducting procedures of the status quo, both towards oneself and towards others: “The counter-conduct as a form of resistance towards that [neoliberal] governmentality must correspond to a conduct that is indissociably a conduct towards oneself and a conduct towards other people” (Dardot and Laval, 2016, p. 400, our translation).

We risk affirming that such conduct already exists; it is feminine and feminist, it is engendered in the production of collective spaces and cooperative neighborhood networks, it is helmed by principles based on caring, sharing and non-mercantile exchanges. It is compatible with what De Certeau (1994) identified as the practice of everyday life, which prevents everything and everyone to be captured by the web of power. Such practices are subversives exactly because they are popular everyday procedures, silent (or even tiny) – at least to the eye of institutionalized practices.

Foucault himself, before giving relevance to power devices, had already announced in The Will to Knowledge (1979) the bilateral nature of a power relation: “where there is power there is resistance and, however, (or rather, due to that), resistance is never in a position of exteriority in relation to power” (FoucaulT, 1979, p. 90, our translation). In dialogue with such perspective, Deleuze (2006) points that forms of resistance may rise not only inside the power-knowledge dynamic, but also in a different dimension, distinct but coexistent with the former. While this does not cancel the hegemony, it prevents the emergence of a deadlock. Pelbart accurately summarizes such dynamic, and finds a concept that indicates the positivity of such force, “biopotential”, that is, the potential of life (Pelbart, 2011).

It is possible to identify these counter-conducts in the self-built urban occupations, organized from the needs and possibilities of those who occupy and who, collectively, transform them in a territory full of meanings and economic conditions. Through this process, they build houses, streets, urban structure and collective equipment that facilitate their own processes of community organization, which has an immense importance for the residents. A large amount of these actions is led by women that inhabit the occupation, whose strong presence in the community organization is allied with the rise of networks of support and mutual strengthening.

This paper will focus on the production of space in the Rosa Leão Occupation, one of the Izidora occupations, situated between Belo Horizonte and Santa Luzia, in a region of real estate expansion where a new regional was planned to be constructed. Since 2013, there are three big urban occupations in the zone, Rosa Leão, Esperança and Vitória, which add up to 8.000 families, according to data from the social movements. The region was called Isidoro, but after the land occupation, it was renamed to Izidora, paying homage to a black woman who fought for freedom and against slavery in the region. Isidoro corresponded to the last great green area of Belo Horizonte city, located in the north quadrant of the city, an area of major real estate expansion, driven by high investments in construction such as the Cristo Rei Cathedral and the Administrative City of Minas Gerais State. The International Eviction Court, an organism that advises the United Nations, considered Izidora’s case as one of the world’s biggest socio-territorial conflicts.

Urban planning was historically thought taking into account the necessities of capitalist production and of a universal subject – male, autonomous and free from any ties. The political participation of women in the formulation of urban policies was always limited and made difficult by a series of factors. However, in the self-built urban occupations, we have a radically distinct scenery. In this context, planning is made mostly by black and poor women, which represent the vast majority of the political coordinators of such territories, and who, in order to guarantee their rights, must face different dimensions of oppression: The dispute against neoliberal urbanism, political exclusion, inequality they face as workers, sexist violence, racism and patriarchy in their communities.


3 Academy leaves academy: deterritorialization processes

Once we admit the value and the potential of counter-conducts that emerge from subversive everyday practices, including those referents to the production of space, researchers and intellectuals are faced with the challenge of building means and instruments that do not reproduce the logic of power-knowledge, in which knowledge is located and limited to the academic environment.

The intellectuals recently discovered that the masses do not depend upon them to know; they know perfectly, clearly, much better than they do; and they can express it very well. However, there is a system of power that (...) invalidates this discourse and this knowledge. Power that (...) penetrates deeply, subtly in the entire societal weft. Intellectuals themselves take part in this system of power, the idea that they are “conscious” and discursive agents is also a part of this system. The intellectual’s role (...) is rather to fight the forms of power exactly where he is, at the same time, object and instrument, in the sphere of knowledge, of ‘truth’, of ‘consciousness’, of ‘discourse’ (Foucault, 1979, p. 71, our translation).

In the specific case of urban research and intervention, the very notion of planning and project, be it in the scale of urban, buildings or objects, is still linked to concepts such as organization, functionality and sectorization, all associated with predefined criteria and references. The various ways people find and decide upon the production and the appropriation of space are usually torn apart and replaced by those defined and sanctioned by the academic scientific norms. However, Lazzarato remind us that Foucault and Deleuze consider the elaboration of a problem one of the main questions of politics and this could be a different path for academic participation, since presenting problems is the same as “introducing new objects and new subjects in the political space and (...) transforming them into guidelines of a controversy and of a struggle”(Lazzarato, 2014, p. 127, our translation).

In that sense, we found in the methodological postulates of intervention research and of cartographical research possible paths for the construction of this new role as researchers. Cartography, as understood by Gilles Deleuze and Felix Guattari and their concept of rhizome (Deleuze e GuattarI, 1995), may be comprehended as a method that aims to apprehend  the existence through the identification of territorial elements, organizational but also potential, from escape lines and creative eruptions. In order for this to happen, the researcher has to be generously implicated, affecting and letting himself to be affected by the reality he or she is investigating.

Cartography as a methodology takes research as an intervention device that produces events opened to the unpredictable dimension of action. In that sense, the encounter between researcher and those who are researched will create destabilizations, unleashing the production of new forms of knowledge and new subjectivities. In this approach, the observer-researcher alternate movement, at a time towards the process he or she aims to analyze, at others retreating from it, destabilizes the separation between subject and object, transforming everything and everyone involved in the process into political subjects. That way, every voice and every knowledge are shareable and, due to that, they all may be transformed. It is, then, an open attitude towards the unknown, not only concerning matters of theory, writing and systematization – considering that the very construction of a thought takes us to unpredictable terrains – but also, and perhaps most importantly, to field research that necessarily conduct us to a process of constant deterritorialization.

4 Memory and method deviation: processes of multi-territorialization.

The course Emergent Cartographies 1 had as one of its objectives to map feminism in the Rosa Leão Occupation, in Izidora2. The first question we faced was about what constitutes a feminist manifestation produced in this territory. This was followed by the question on how to map it, without assuming the fallacious neutrality of a field researcher.

Hence, initial discussions dealt with these topics. Although field trips were preceded by lectures and discussions, we had to seek in a theoretical level a relation between theory and experience in which the latter was not a mere example of the former. In another way, it was necessary that theory functioned as an overture to the observation of gender relations, and not as a pursuit for the feminist ideal subjects. Practicing an open and generous listening and observation, deconstructing essentialized feminist images and taking women into account within the multiple intersections that compose their life were valuable gestures that subverted the traditional role assumed by orthodox academic studies.

The relationship between «Women», a cultural and ideological Other compound constructed through diverse representational discourses (scientific, literary, juridical, linguistic, cinematic, etc) and «women», real and material subjects of their own collective histories, is one of the central questions that feminist academic practices aims to address. The connection between women as historical subjects and Women’s representation by the hegemonic discourse is not a direct relationship, nor a simple correspondence or a simple implication (Mohanty, 2008, p. 121, our translation)

The first question that arose was: Where are the women of the occupation, what are the functions they perform and what are their preoccupations? Since the first field trip, it was possible to notice that women are in the frontline of all projects that the group had contact with: In the fight for access to health treatments, on the construction of community space, on implementing community vegetable gardens, on the preservation of environmentally protected areas, on mobilizing for implementing an ecumenical space, in meetings with the public power for negotiating fundiary regularization. Women were the majority - and repeatedly represented the totality of community activities - bearing an important decision power.

This fact challenges an area of studies that is very dear to the feminist theory: The division of society in public and private arenas as one of the fundamental aspects for gender role construction. Inaugurated in modern times, the division between public and private spheres, separated and dichotomic, defines the public arena as that of reason, politics and, for that, as a masculine arena. Women belonged to the private arena, which was characterized by caring, affection and domesticity. However, these roles, configured in this specific way, refer to the experience of some women in a specific historical context, and they cannot be generalized for the totality of women. That by no means indicates that there are not any displays of masculine power within the community, but in reality that its configurations are complex.

Once we registered the important role women assume in community organization, we were faced with a second question: How to map it? The organization had already engaged in two major efforts of giving visibility to the actions of women. The first was the very choice of the name of the occupation. Rosa Leão was an important community leader in the region that passed away. During the listening processes, we realized that, despite the homage, they knew very little about her. Secondly, the community space that was under construction was going to be named Zoca, a homage in life to another important figure in popular resistance that lives in an occupation near Izidora.

However, even though feminine presence and the biopotential of practices in the community are unequivocally strong, the narratives about the Izadora's occupations pointed towards a non-recognition of their value within their domestic environment, both inside and outside the community. The speeches of these women accounted for the judicial actions, the protests, the police actions, but they never accounted for the everyday practices of women, that through sharing and caring, make it possible for the reproduction of life in this territory. Stigmatization and criminalization towards the occupation’s inhabitants promoted by the police power, agents of public power and the media, appeared as a constant nuisance during conversations.

A third issue that concerned the dynamic of the course was the agency, that is, how to make it possible that women from the occupation and a group of students could connect and share experiences and emotions, inhabiting a common territory. How to deal with differences within groups that are intensified by the place occupied by the university as a producer of legitimate knowledge, which supposedly produces technicians that pose themselves as problems-solvers?

Facing such challenge, we found an important reference in the artwork “First Love”, by Rivane Neuenschwander3 considering the displacement proposed by the artist in the role of a sketch artist towards a poetic version, by inviting the visitors to portray their first love. The search is not after a reliable portrait of a regular criminal, but after that who someday ‘stole’ the heart of that visitant. Trustworthy and untrustworthy memory, crossed by intensities and affectivities, as fictional as truthful.

Another inspiration was the project “100 VezesCláudia” (100 times Claúdia) launched by the feminist NGO Think Olga4, when Cláudia Silva Ferreira was killed, shot in a crossfire in Morro of Congonha, in the Madureira neighbourhood, and then dragged by a police car from the Rio de Janeiro’s military police. The project was an open call for artists to produce artworks that could rebuild in a sensitive way the image of Cláudia.

Following these ideas, we aimed to create a sketch of Rosa Leão, the community leader that named the occupation, but whom only few people knew of since there were no records of photographic registers of her. Some students started to follow leads that could take to the reconstruction of her story and her image. The searches led to Mrs. Marlene Alves de Matos and Mr. Joaquim Alves, two of the eldest inhabitants of the occupation. Skeptical with the presence of the university, their posture soon changed once the students revealed the motive of their visit. They spent hours talking about Rosa’s life, which were rightfully sketched. By the end of the conversation, they found photographic registers of her (Fig. 1). “We have always wanted to register this story”, said Mrs. Marlene Alves de Matos.

Fig. 1:Portrait of Rosa Leão handed by Mrs. Marlene Alves de Matos. Source: Authors, 2017.

Once we had this material in hands, during classes the group decided to make a banner with the image of Rosa Leão for the new community center (Fig. 2), as the main piece of a big exhibition with portraits of women from the occupation. Opposing the idea of “Wanted” from police slang, the exhibition would be called Encontra-se (which translates to Found) (Fig. 3). The photographic register began to work as our device to dialogue with these women. The images would accompanied by a word chosen by the inhabitant, which best described her (Fig. 4).

Fig. 2: Picture of the banner produced by the students from the sketch of Rosa Leão. Source: Authors, 2017.

Fig. 3: Photomontage of the “Encontra-se” (Found) exhibition in the Rosa Leão Occupation. Source: Authors, 2017.

Fig. 4: Photomontage of Mrs. Chica's portrait for the “Encontra-se” (Found) exhibition. Source: Authors, 2017.

Parallel to this work, a group of students enrolled in the course “Disobedient Architecture” (Flexibilized Projects-Pflex) added up to those from “Emergent Cartographies” to develop a project starting from the reflection on feminism and memory, aiming to reconstruct the history of the occupation from the perspective of women. To do so, they fabricated: The basis of a timeline, diversely shaped women's bodies (short, tall, fat, slim), a collection of words gathered from informal chats with the inhabitants and from the classroom debates (happy, sad, struggle, feminine, household, street, care, sharing, dispute, etc) and a collection of photographs of the occupation, downloaded from the internet. The proposition was that women represented themselves in the timeline at the moment they arrived to the community and at the moment that marked them the most in the occupation, as well as identifying in time moments that were relevant for their struggle, through photographs and words provided by students. In order for this game not to become something sealed and predefined, blank papers were also offered, as well as scissors and colored pencils, so that new words could be written during the process, and so that each woman could insert their marks and histories to the bodies they draw.

The construction of the timeline (and of memory), through colours, props, disperse words, forgotten images, retrieved memories from moments of struggle, of the violence they suffered, of the friendships they made, of their pride on being black and of the pain of facing eviction threats, that unleashed potent narratives about the feminine and feminists practices of producing a territory not only in the physical sense but, above all, in the affective sense in the Rosa Leão Occupation. (Fig. 5, 6 and 7).


Fig. 5: Timeline workshop. Source: Authors, 2017.

Fig. 6: Detail of the timeline produced in the workshop. Source: Authors, 2017.

Fig. 7: Presentation of products developed by the students from the collective construction of the timeline . Source: Authors, 2017.

And so, from the devices created, memories were narrated and then registered so that, finally, they were transformed into supports (posters, banners, book) of an installation to celebrate the anniversary of the occupation. A fabric of memories and knowledge that manifested powerful and subversive subjectivities, announcing paths for the construction of other conducts.

5 Final considerations

Motivated by the uneasiness of investigating contrapositives to processes of subjectivation present in the neoliberal rationality, we found leads in the everyday practices of women who live in the self-built urban occupations, whose practices are centered in caring, sharing and in the reproduction of everyday life. Recognizing such practices as other conducts, both potent and feminist, implied in a displacement in the very role assumed as researchers.

To enable the development of a space of freedom against the imposed knowledge, in order to produce memory, is a challenge, an oppositional exercise, a practice that reveals all those knowledge and experiences that have been placed on the margins. On the other hand, memories are not static, they are constructions of narratives, processes that establish new meanings and socialized interpretations. They are contradictory, for they are constructed, and they may be changed. The potential of memory becomes evident once individual remembrances are collectively discussed.

Although we know that an individual bears its memories, produces them and shares them, we cannot doubt that memory is rooted and situated there where we share spaces, bonding ties, solidarities and sociabilities (Da Silva Castela, 2010, p. 44, our translation).

However, classic instruments of qualitative research in the social sciences field would not be sufficient for this task. Thus, it was through art that we found our references. Such fact refers to the relationship between art and politics proposed by Chantal Mouffe (2013) as two fields that should always be thought in articulation. Mouffe argues that art is always political, and the problem lies in the critical capacity of artistic practices, that is, in the different ways they promote visibility to those things that the dominant consensus aims to erase. Hence, they contribute to the rising of various agonistic and plural spaces and, in the last instance, for the construction of a radical democracy. From this perspective, we understand that the proposed mnemonics devices brought to light forgotten narratives and memories, which together reconfigured and updated both the physical spaces of the occupation and the symbolic spaces of women who take part in the everyday struggles.

At the same time, it is necessary to confront the production of knowledge that advocates for a colonialist definition of what may or may not be narrated (Spivak, 2010). To dominate is also to expropriate subaltern subjects of their capacity of self-defining (Collins, 2016). This dominant production presents history as a homogeneous whole, erasing its production marks, as well as the bodies that produced it. Space-time appears here as a linear scheme. Ignoring complexities and narrating from the perspective of an abstract universal subject, without any class markers, nor racialization processes, or sexual differences, naturalizes a male, white, middle/high class and heterosexual subject as the universal one. The universalizing characteristics of occidental thought contribute to placing certain knowledge, cultures and memories in a subaltern spot (Federici, 2017).

Constructing memories produces a rupture in this totalitarian order and retrieves the disorder of intersubjective memories, because social life is constituted of contradictions, incomplete meanings and diffuse forms. At the same time, this appears to be fundamental if we aim to build alternative counter-conducts to the current mode of life as it enables us to listen to voices of those who travel through similar paths.

Acknowledgments

The authors of this article wish to thank the undergraduate students of the Architecture School of The Federal University of Minas Gerais that took part in this project, the professor Natacha Rena for the companionship during the course, the inhabitants and coordinators of the Rosa Leão occupation and the Brigadas Populares.

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Spivak, G. C., 2010. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte. Editora UFMG.


 

1 Course offered in The Architecture School of UFMG, by the professors Marcela Brandão and Natacha Rena

2 This work is linked to the master research of Natalia Alves (NPGAU-UFMG)

3 View in < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1806201012.html> [Accessed in 20 Jun. 2018].

4 View in <http://thinkolga.com/2014/03/19/100-vezes- claudia/> [Accessed in 20 Jun. 2018].