Ruína e patrimônio arquitetônico no Brasil

Angela Rodrigues

Angela Rosch Rodrigues é Arquiteta, Doutora em História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo e pesquisadora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Estuda a preservação do patrimônio paulista, especialmente ruínas e monumentos.


Como citar esse texto: RODRIGUES, A. R. Ruína e patrimônio arquitetônico no Brasil: memória e esquecimento. V!RUS, São Carlos, n. 16, 2018. [online] Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus16/?sec=4&item=3&lang=pt>. Acesso em: 26 Abr. 2024.


Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar como os remanescentes arquitetônicos em estado de ruína são identificados enquanto bens culturais nas políticas de preservação no Brasil se concentrando no patrimônio tombado, ou reconhecido pelo Instituto do Patrimônio do Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Para tal análise, parte-se da questão: o que é ruína? A ruína é considerada, aqui, como uma condição de descaracterização de bens arquitetônicos de qualquer idade, acometidos por degradações ocasionadas por diferentes causas. A complexidade do seu entendimento deve-se a variáveis - causa, grau e tempo decorrido do arruinamento, data da edificação e condições de uso da mesma - que, combinadas, direcionam interpretações diversas, sugerindo a organização desta análise em três grupos: ruínas do tempo, ruínas da incúria e ruínas do incidente. Através desta estrutura, verifica-se que na identificação e atribuição de valores às ruínas pelas políticas de preservação brasileiras há um principal impasse: o quanto se quer historicizar de uma situação de arruinamento? Na chave da memória e esquecimento que constituem os conflituosos percursos da história, as ruínas têm um papel fundamental devido à sua dúplice capacidade informativa de reminiscência e perda, sendo, portanto, registros dinâmicos que estabelecem uma nova fruição nos processos cognitivos da construção da memória.

Palavras chave: Ruínas, Patrimônio arquitetônico, Memória, Preservação


1 Introdução

Em princípio, o estado de ruína é a antítese dos propósitos finais da preservação, cujo objetivo é impedir (ou conter) a degradação de um bem arquitetônico ao qual se atribui valores culturais. No âmbito da construção da memória, a acepção do documento-monumento do historiador Jacques Le Goff (2010) induz à interpretação de que as ruínas são elementos que testemunham a sobrevivência do que existiu - das quais se extraem informações sobre a composição anterior do objeto - mas também testemunham as causas da destruição e do que pode ser esquecido. Os intrínsecos atributos de incompletude e desarticulação do estado de ruína potencializam um pujante campo evocativo conforme destacado por Walter Benjamin: “As alegorias são, no campo do pensamento, o que as ruínas são no campo das coisas” (BENJAMIN apud BARBANERA; CAPODIFERRO, 2015, p. 11 - tradução nossa).

Este artigo tem como objetivo apresentar como os remanescentes arquitetônicos em estado de ruína são identificados enquanto bens culturais na composição do ideário de história e construção da memória nas políticas de preservação dos órgãos de preservação no Brasil.

Para tal análise, parte-se do seguinte questionamento: o que pode ser considerado como ruína? Na historiografia da preservação patrimonial Cesare Brandi em sua “Teoria da Restauração” (1963) apresenta que: “[...] Ruína será, pois, tudo aquilo que é testemunho da história humana, mas com um aspecto bastante diverso e quase irreconhecível em relação àquele de que se revestia antes. [...].” (BRANDI, 2004, p. 65). Para Brandi, a complexidade da identificação da ruína de um bem arquitetônico envolve o desafio da avaliação sobre o quanto de sua “unidade potencial” (Op. cit. p. 67) foi comprometida e não pode ser reintegrada. Na língua portuguesa, a definição de ruína também engloba o tema da degradação derivado de várias causas: “restos ou partes mais ou menos informe de um ou mais prédios desmoronados ou destruídos pelo tempo, explosão, incêndio etc.; [...] estado de destruição, de degradação; modificação para pior; [...] que não é mais como era” (HOUAISS, VILLAR, 2001, p. 2482).

Assim, a identificação de uma ruína é complexa por envolver fatores como: o grau de antiguidade da edificação, causa e grau de degeneração, antiguidade do processo de arruinamento e condição de uso (RODRIGUES, 2017). Ao utilizarmos a designação “ruína”, considera-se aqui conjuntos edificados de diversas datações em diferentes graus de destruição promovidos por uma junção de fatores como: a mera passagem e ação incondicional do tempo; a perda da função original e a falta de um uso constante; a incúria; ou, ainda, como consequência de catástrofes.

Na interpolação dessas reflexões distinguiu-se uma possível metodologia identificando três grupos em que pode ser aplicada a noção de ruína, tendo como critério a correlação de dois aspectos prevalentes: a causa da degradação e o tempo decorrido do arruinamento: 1 Ruínas do tempo: bens que chegam ao momento de reconhecimento de seu valor cultural em estado arruinado. O fator tempo foi o principal agente da degradação e há certo distanciamento cronológico em relação ao arruinamento. 2 Ruínas da incúria: edificações íntegras até o reconhecimento de seu valor cultural e que posteriormente foram acometidas por processos de arruinamento. A deterioração ocorreu lentamente nos últimos anos pela negligência com sua manutenção. 3 Ruínas do incidente: edificações de reconhecido valor cultural acometidas por catástrofes de ordem natural ou antrópica (RODRIGUES, 2017).

2 Ruínas do tempo: passado e permanência

Os bens arruinados por anos de espoliações, intempéries e alterações num período que precede o reconhecimento de seu valor cultural constituem a fonte física (em alguns casos a única) de informações sobre técnicas construtivas, materiais, partidos arquitetônicos, etc., e materializam a contraposição - e a coexistência - entre o que remanesce e o que perece. A noção da linearidade temporal reporta à vanidade das obras humanas, uma característica daquilo que é vão, fútil, infrutífero e impermanente diante do tempo - o elemento que tudo consome. A partir do século XIX, essa alegoria à perenidade se transmuta para uma emoção de ordem estética (AUGÉ, 2003). Sob essa ótica, o aspecto pitoresco das ruínas foi um dado chave para John Ruskin fundamentar a importância da conservação da pátina como elemento que materializa o porvir do tempo: “XVI. [...] em arquitetura, [...] o pitoresco é assim procurado na ruína [...] o pitoresco ou a sublimidade extrínseca terá exatamente essa função, mais nobre nela do que em qualquer outro objeto: a de evidenciar a idade do edifício” (RUSKIN, 2008, p. 77).

No Brasil, as sensíveis colocações do escritor Euclides da Cunha para os dois fortes de Bertioga (SP) - Forte de São Tiago e Forte de São Felipe - derivadas de visita realizada em 1904 - demonstram certo alinhamento ao posicionamento de Ruskin, vislumbrando o valor pictórico desses conjuntos: “[...] o principal encanto dos dois notáveis monumentos [...] está, na sua mesma vetustez, no aspecto característico que lhe imprimiu o curso das idades” (CUNHA, 1904 In IPHAN, 1964, s.p.).

Contudo, essas considerações evocativas de vanidade e percepção do valor pictórico são exíguas na apreciação das ruínas no Brasil. Na instituição da preservação patrimonial brasileira, a maioria dos discursos apresenta um teor diverso associando a condição de ruína a uma situação emergencial, catalisando a necessidade da proteção.

Em 1937, foi elaborado o Decreto Lei n. 25 que instituiu o Serviço do Patrimônio Artístico Nacional (SPHAN). Nesse decreto a definição do que constitui o nosso patrimônio não alude às ruínas e tampouco ao estado de conservação dos bens. Há, porém, designações sobre os efeitos do tombamento estabelecendo que:

Art. 17 As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [...] (DECRETO LEI n. 25, 1937 In MEC, 1980, p. 115).

Há um implícito ideário que associa a ruína à urgência de salvaguarda norteando a estruturação da política de salvaguarda nacional, o que se constata através da seguinte colocação de Rodrigo Melo Franco de Andrade, diretor do SPHAN de 1937 a 1967:

[...] A iniciativa do chefe da Nação tem uma finalidade prática relevante, que é a de dotar o Brasil de uma legislação adequada a impedir que se arruínem ou se dispersem os bens de notável valor artístico e histórico existente no país. [...] (ANDRADE, 1936 In ANDRADE, 1987, p. 48).

Um meio de aferir a quantidade de conjuntos identificados como ruínas e classificados como patrimônio cultural é através das inscrições nos Livros do Tombo em que há denominações no título ou em sua descrição das designações: ruína, ruínas (ou termos derivados como: remanescentes, restos e vestígios). A Tabela 1 foi elaborada tendo como referência cronológica a fase inicial do SPHAN, que compreende os primeiros trinta anos de atuação do órgão (1937-1967). Nela constata-se que há uma concentração de inscrições pautadas pelo valor histórico (Livro do Tombo Histórico).

Poucos bens foram apreciados exclusivamente pelo seu valor artístico (Livro de Belas Artes) como o Castelo Garcia D`Ávila (Mata de São João. BA) - o primeiro bem tombado em ruínas pelo SPHAN (1938) no Brasil (Fig.1). Há também o conjunto de São Miguel das Missões (RS), a primeira atribuição de Lúcio Costa no recém-fundado órgão. Em seu relato Costa enfatizou o tácito valor da arquitetura original que se deteriorou abordando o caráter estético da fachada da Igreja, não havendo menções à condição de ruína (COSTA apud PESSOA, 1999). A atribuição de um valor exclusivamente artístico, não se refere à estética da ruína per se, com seus atributos derivados de uma configuração própria que restabelece novas relações espaciais redimensionando o espaço interno e externo.

Fig. 1: Casa da Torre de Garcia D`Ávila, Mata de São João (BA). Fonte: Autora, 2013.

Tabela 1. Bens tombados pelo IPHAN, décadas de 1930-1960 - ruínas e termos derivados. Legenda: L.A.ET.P. - Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; L.A.A. - Livro de Artes Aplicadas; L.B.A. - Livro de Belas Artes; L.H - Livro Histórico. Fonte: Arquivo Noronha Santos, disponível em acesso em: 01.jun.2015. Elaborada pela autora. Colaboração: Wagner Nascimento.

Nesse período, as inscrições de ruínas no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico são escassas, indicando que as referências pré-coloniais brasileiras não são constituídas por remanescentes arquitetônicos associados a civilizações longínquas tais como aquelas encontradas em alguns outros continentes e outras regiões da América. Nosso legado paleoameríndio se caracteriza por outros tipos de evidências materiais como: artefatos, geóglifos, pinturas rupestres, sambaquis, sítios megalíticos, dentre outros (BASTOS, 2008). Sendo assim, a apreciação dos conjuntos arquitetônicos em ruínas do Brasil não entra na discussão patrimonial através do viés arqueológico, conforme atesta Rodrigo M. F. Andrade:

O pensamento de proteger o acervo arqueológico do Brasil se teria manifestado talvez bem cedo entre nós, se os colonizadores portugueses encontrassem nesse país, como sucedeu aos castelhanos em outras regiões da América, restos monumentais de uma civilização materialmente mais evoluída. (ANDRADE, 1952, p.11)

A partir da década de 1960 se configurou outro quadro no que concerne à visão patrimonial. No cenário internacional pós Segunda Guerra houve a integração das ciências humanas às discussões, a ampliação do conceito de bem cultural e a promulgação da Carta de Veneza (1964). No Brasil, após a aposentadoria de Rodrigo em 1967, Renato Soeiro assumiu a diretoria do IPHAN; no âmbito legislativo nacional, a definição de patrimônio cultural apresentada no Decreto lei de 1937 foi reiterada pela Constituição Federal de 1988 incorporando a pluralidade social da conformação cultural nacional.

Nessa nova conjuntura delineada a partir de 1967, constata-se pela Tabela 2 que, assim como no período anterior, a maioria das inscrições se concentra no Livro do Tombo Histórico. Há, porém, uma maior incidência de inscrições no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico o que reflete um desenvolvimento da preocupação com as pesquisas arqueológicas no Brasil. Preocupação instituída com a promulgação da Lei Federal No 3.924/1961 que prescreve sobre a proteção legal dos sítios arqueológicos (DEBLASIS, 2006)

Tabela 2. Bens tombados pelo IPHAN décadas de 1970-2015 - ruínas e termos derivados. Legenda: L.A.ET.P. - Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; L.A.A. - Livro de Artes Aplicadas; L.B.A. - Livro de Belas Artes; L.H - Livro Histórico. Fonte: Arquivo Noronha Santos, disponível em acesso em: 01.jun. 2015. Elaborada pela autora. Colaboração: Wagner Nascimento.

Em 1972, a Assembleia Geral da UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) estabeleceu a “Convenção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural” que contribui para a mundialização dos valores e das referências ocidentais nas práticas patrimoniais (CHOAY, 2001). Paulatinamente o Brasil teve inscrições no seleto rol do “Patrimônio da Humanidade”. No que tange às ruínas, a Missão de São Miguel (RS) entrou para essa listagem em 1983. Em julho de 2017 o sítio arqueológico do Cais do Valongo na cidade do Rio de Janeiro, principal local de desembarque do tráfico negreiro no Brasil, foi inscrito na lista da UNESCO. Esse conjunto remonta a uma infraestrutura instalada em 1811. Após o aterramento definitivo em 1911 as ruínas vieram à luz em 2011, devido às obras para a operação urbana denominada “Porto Maravilha”. Os remanescentes materializam a memória de dor e sofrimento da escravidão no Brasil sendo a principal referência das raízes africanas na América.

As inscrições de tombamento de bens identificados como ruínas devem ser interpretadas tendo como pano de fundo os critérios e juízos de valor adotados pelo IPHAN. Com a instituição do SPHAN em 1937 se desenvolveu um modelo de abordagem que buscava a origem da nação brasileira através de remanescentes arquitetônicos que pudessem constituir o ideário de patrimônio nacional articulando uma identidade cultural (MICELI, 1987). Após a década de 1960, os tombamentos das ruínas ainda reproduzem predominantemente esse modelo, o que pode ser atestado pela tipologia arquitetônica dos monumentos descritos; há uma concentração de edificações que remetem à memória do período colonial brasileiro (séculos XVI ao XVIII), sendo basicamente: fortificações, estruturas religiosas e edificações rurais ligadas à manufatura de produtos (casas de fazenda e engenhos). São poucos os conjuntos identificados como ruína de uma datação de construção mais recente (séculos XIX e XX).

Na instrução de tombamento elaborada por Luís Saia para o Engenho São Jorge dos Erasmos (Santos, SP), por exemplo, a atribuição do valor histórico foi pautada pela antiguidade, raridade e unicidade dos remanescentes (Fig. 2), características embasadas na tese desenvolvida pela historiadora Maria Regina da Cunha Rodrigues que considerava o engenho como: “[...] marco inicial da produção industrial do açúcar no Brasil, [...]” (RODRIGUES, 1962 In IPHAN, 1962, s.p.).

Fig. 2: Vista panorâmica das ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos. Fonte: Autora,2013.

Nesse primeiro grupo analisado (ruínas do tempo) constata-se que a identificação da ruína nas instruções de tombamento se relaciona aos bens mais antigos, uma caracterização que configura o remanescente enquanto um testemunho histórico que fundamenta o ideário de origem e a constituição de uma identidade cultural nacional.

3 Ruínas da incúria: salvaguarda e negligência

Vislumbrar o valor cultural de um bem e impedir sua degradação é uma ação válida, pautada pela “urgência de salvaguarda” (LAMY apud RODRIGUES, 2001, p.32). Como apresentado, a necessidade de salvar da ruína foi primordial para estruturar a política de salvaguarda no Brasil; a constatação de uma iminente perda de edificações potencialmente representativas do passado que se pretende valorizar induzem a abertura de processos de tombamento com o propósito de salvaguardá-los.

Ainda há flagrantes de casos de arruinamentos aguardando identificação, valorização cultural e uma iniciativa de salvaguarda. É o caso do Centro de Proteção Ambiental de Balbina (Presidente Figueiredo, AM), projeto de Severiano Mário Porto, construído em 1984. Essa referência da arquitetura brasileira do século XX marcada pelo regionalismo de sua linguagem e uso de materiais entrou em franco processo de arruinamento levando a denúncias e mobilizações para sua preservação. Em 2016 o bem foi tombado na esfera estadual num conjunto de 27 obras do arquiteto no Amazonas.

Contudo, tombar antes que o bem se descaracterize ainda mais ou totalmente, não é suficiente já que diversos monumentos listados passam por paulatinos arruinamentos. Como destaca Sônia Rabelo de Castro (1991), no Brasil, amiúde confunde-se preservação com tombamento. A preservação é um conceito em que “[...] podemos compreender toda e qualquer ação do Estado que vise conservar a memória de fatos ou valores culturais de uma Nação” (CASTRO, 1991, p.5). Já o tombamento é uma chancela atribuída por um determinado grupo vinculado aos órgãos oficiais. “[...] A lei o delimita, estabelecendo os lindes do exercício desse poder de polícia da administração, dispondo sobre seu conteúdo, seu procedimento [...]” (Op. cit., p.8).

A noção de “incúria” mencionada neste grupo se refere à ineficiência das ações de preservação. Esse tipo de ruína assola inúmeros bens culturais e é produto de um processo silencioso derivado da falta de ações concretas de gestão patrimonial; vai se acumulando através de dilapidação, falta de manutenção e usos inadequados. Eventualmente há denúncias e clamores por parte de setores da sociedade civil, ou até mesmo dos órgãos de preservação, mas o processo continua até que num dado momento se constata a dolorosa realidade: um patrimônio relativamente íntegro se arruinou.

Embora a quantificação de bens culturais edificados em situação de arruinamento seja inviável, há situações pujantes. No centro histórico de Salvador - tombado pelo IPHAN em 1959 (Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico) e declarado pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade em 1985 - o grave estado de degeneração foi uma das motivações para o empreendimento de “revitalização” da área do Pelourinho a partir de 1993 (MARINS, 2012): uma intervenção que desapropriou e restaurou vários imóveis visivelmente degradados. Entretanto, depois de mais de duas décadas, ainda é possível verificar casarios arruinados nas adjacências da área de intervenção (Fig. 3).

Fig. 3: Situação de alguns casarões no centro histórico de Salvador (BA), cidade baixa. Fonte: Autora, 2013.

Na escala do edifício, há casos flagrantes como a antiga Sede do Sítio Mirim (São Paulo, SP), uma edificação rural cuja informação mais antiga remonta a 1750. Essa casa foi estudada para tombamento na década de 1960 através de instrução de Luís Saia pela excepcionalidade e unicidade de suas características arquitetônicas. Na ocasião houve trabalhos de restauração na edificação; sem um uso específico, esse bem tem passado por uma progressiva degradação que se estendeu à contemporaneidade. Em matéria publicada em 1973, Saia fez explícitas críticas à municipalidade devido à negligência: “Houve desídia da Prefeitura. [...] É por isso que o Sítio Mirim se transformou no que é hoje, ruínas e só ruínas” (SAIA apud LIMA, 1973, p.14 In IPHAN, 1965, s.p.).

No processo de construção da memória, verifica-se uma dificuldade em identificar a ruína desses bens como uma consequência da negligência de todas as partes envolvidas (órgãos de preservação e sociedade civil). Do ponto de vista simbólico, à ideia de transitoriedade das obras humanas associadas às ruínas pode ser acrescida a ideia da incúria, da perda irreparável daquilo que poderia ter sido resguardado. A evocação do abandono é diversa daquela do porvir do tempo, pois incorre na nulidade das ações, no arrependimento, ou na constatação da inoperância, conforme atesta o filósofo Henri-Pierre Jeudy: “A ruína antiga já tem um status patrimonial. Quando é atual, em vias de se transformar sob nossos olhos, dá ideia de abandono, de degradação, é um testemunho da incapacidade de preservar” (JEUDY, 2005, p.70). Sob a ótica documental, a análise dessas ruínas é diversa do grupo anterior; por ser mais recente, geralmente há referências e estudos da edificação em sua situação anterior e também há uma profusão de informações relatando o processo de arruinamento em tom de denúncia, que podem ser encontradas nos autos oficiais ou outros meios de comunicação.

Na intrincada relação de significados que contrapõe a memória ao esquecimento, a principal questão que se coloca diante da identificação desses arruinamentos é sua aceitação como parte da história do bem, entendendo as marcas da degradação como um produto que testemunha a negligência.

4 Ruínas do incidente: trauma e memória

Neste grupo, o desafio de identificar esses arruinamentos se renova constantemente já que diversos bens arquitetônicos são continuamente acometidos por toda ordem de incidentes catastróficos derivados de fatores antrópicos (incêndios, colisões, demolições criminosas, guerras, etc.) ou naturais (inundações, terremotos, etc.).

No Brasil diversas situações têm atingido o patrimônio nacional, são destruições parciais ou totais deflagradas principalmente por incêndios e enchentes: Igreja do Rosário e São Benedito, Rio de Janeiro (RJ) - incêndio em 1967; Paço do Saldanha (atual Liceu de Artes e Ofícios da Bahia), Salvador (BA) - incêndio em 1968; Mercado Modelo (Casa da Alfândega), Salvador (BA) - incêndios em 1969 e 1984; Museu do Caraça, Catas Altas (MG) - incêndio em 1984; Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Mariana (MG) - incêndio em 1999; Igreja Matriz, São Vicente (SP) - incêndio em 2000; cidade de Goiás (centro histórico) - enchente em 2001; Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, Pirenópolis (GO) - incêndio em 2002; Hotel Pilão, Ouro Preto (MG) - incêndio em 2003; Teatro Cultura Artística, São Paulo (SP) - incêndio em 2008; Igreja Matriz de São Luiz do Paraitinga (SP), enchente em 2010; Capela São Pedro de Alcântara, Rio de Janeiro (RJ) - incêndio em 2011; Solar Boa Vista, Salvador (BA) - incêndio em 2013; Mercado Público, Porto Alegre (RS) - incêndio em 2013; Casa do Chico Mendes, Xapuri (AC) - enchente em 2015; Museu da Língua Portuguesa (Estação da Luz), São Paulo (SP) - incêndio em 2015; Museu das Missões, São Miguel (RS) - tornado em 2016.

Vários desses bens passaram por intervenções visando a recuperação do estado ruinoso. A metodologia e os critérios para a realização de tais trabalhos evidenciam indagações sobre o quanto da preexistência pode ser preservado como suporte à imagem da arquitetura perdida e qual é o limite para a interposição com o novo.

Do ponto de vista documental, esse tipo de arruinamento pode revelar valiosos detalhes arquitetônicos até então ocultos, como materiais de construção sob as superfícies de revestimento, composição das fundações, etc., informações fundamentais para aprofundar o conhecimento do bem e subsidiar futuras ações para sua preservação. Assim como nos grupos anteriores, essas ruínas documentam o episódio trágico que as acometeu, sendo o resultado concreto da destruição. O caráter evocativo desse grupo de ruínas remete à perplexidade diante da tragédia e da destruição, um sentimento que pode ser sintetizado pelas seguintes asserções de Jean Starobinski: “[...] Para que uma ruína pareça bela é preciso que a destruição seja bastante longínqua [...] Ninguém sonha tranquilamente diante de ruínas recentes que fazem sentir o massacre: estas são logo desentulhadas para reconstruir” (STAROBINSKI, 1994, p. 202).

As asserções de Alois Riegl apresentadas em “O culto moderno dos monumentos - sua essência e sua gênese” (1903) são uma chave para compreender a complexidade de enfrentamento do impacto desses arruinamentos. Ao evidenciar o valor de “uso” de uma edificação, Riegl se refere à sensação de perda ao ver uma edificação que possuía uma função (como uma casa, uma Igreja ou qualquer outra obra) e passa a não tê-la mais, o que pode proporcionar uma súbita e intolerável impressão de “destruição violenta” (RIEGL, 1990, p. 59 - tradução nossa). No caso dos edifícios que já conhecemos sem uso, a falta de uma atividade humana não é tão perturbadora (como as ruínas de um castelo medieval ou de um templo romano – identificados nesta análise no grupo das ruínas do tempo).

As ruínas do incidente podem se tornar símbolos que asseguram o “sentido memorável atribuído a qualquer catástrofe” (JEUDY, 2005, p. 59). No Brasil, as ruínas provenientes do rompimento da barragem do Fundão da Samarco Mineração SA em Bento Rodrigues (subdistrito de Mariana, MG) em 2015 amplificam de modo inconteste o papel patrimonial delatando o trágico evento com uma mensagem de penosa sobrevivência.

Porém, num contraponto à ideia de se tornar um memorial, às ruínas de uma destruição fulminante podem ensejar outra abordagem: a força da reconstrução, condensando a capacidade de resiliência de um grupo social. A negação da ruína se torna o meio para subverter o evento destrutivo em um momento de convergência e união aglutinando a força moral da sociedade civil.

A Igreja Matriz São Luiz de Tolosa (São Luiz do Paraitinga, SP) destruída por uma enchente em 2010 é um caso que ilustra essa situação. A alternativa de um projeto novo e formalmente distinto do original foi aventada; a opção escolhida foi pela reconstrução para retomar o aspecto da Igreja antes do arruinamento pela enchente sob a justificativa em que se considerava: “[...] a realidade da comunidade local, a qual deseja ter sua referência social exatamente da forma como era antes do desastre” (IPHAN, 2010, p. 148). Houve intensa participação popular nas audiências públicas e no canteiro de obras evidenciando a importância que essa reconstrução tinha para a comunidade. Como resultado, externamente a Igreja mantém as características anteriores ao arruinamento (Fig. 4), não sendo possível distinguir sua idade recente; internamente, a reconstrução é evidenciada em alguns ambientes pelo contraste dos antigos maciços de taipa com as novas técnicas construtivas - galerias laterais (Fig. 5) e sala do Batismo.

Fig. 4: Igreja Matriz São Luiz de Tolosa- aspecto externo da após sua reconstituição. Fonte: Autora, 2014.

Fig. 5: Igreja Matriz São Luiz de Tolosa - Galeria lateral com a exposição das ruínas das paredes originais. Fonte: Autora, 2014.

Dentre os fatores para a abordagem e interpretação desse grupo, evidencia-se a contemporaneidade ao arruinamento, a dimensão da perda física e simbólica, a anuência (ou não) e a resiliência (ou não) em relação às perdas. No âmbito do processo de construção de memória, a principal questão que se interpõe é: o quanto se pretende historicizar o incidente que provocou a ruína?

5 Considerações finais

A ruína, como abordada aqui, faz parte do cotidiano de nossas cidades e da intrincada rede de significações que compõe os processos de construção da história, memória e identidade cultural. O processo de arruinamento envolve uma complexa conjunção de fatores - causa, grau e tempo decorrido - acrescidos da idade das edificações. Através da estruturação desta análise em grupos, foi possível constatar no Brasil algumas características sobre a identificação e atribuição de valores da condição de ruína do patrimônio arquitetônico pelas políticas de preservação.

No grupo das ruínas do tempo a identificação é mais legível; porém, o número de bens tombados ainda é exíguo e é pautado pelo valor histórico atribuído a estruturas relacionadas a tipologias arquitetônicas provenientes principalmente dos séculos XVI ao XVIII. A abordagem sob o viés arqueológico é tênue, mas tem avançado culminando com a indicação por parte das políticas brasileiras dos remanescentes do Cais do Valongo (RJ) para concorrer à lista de Patrimônio da Humanidade. Esse renovado interesse pelo Cais do Valongo evidencia a importância das ruínas na contínua necessidade de revisão historiográfica embasada na emersão de vestígios que por décadas foram sumariamente olvidados na constituição da memória nacional.

Nos grupos das ruínas da incúria e do incidente em que foram analisados bens culturais (tombados ou em processo de tombamento) posteriormente degradados, a complexidade para a identificação e atribuição de valores à condição de ruína se deve: à existência de referências da arquitetura prévia; à falta de distanciamento cronológico ao arruinamento e, principalmente à sua conotação negativa (negligência e tragédia), já que se tratam de edificações geralmente íntegras, com um uso na vida da comunidade. Há, portanto, uma associação negativa associada à perda abrupta de um patrimônio.

O principal impasse que permeia os grupos aqui apresentados (ruínas do tempo, da incúria e do incidente) se estrutura a partir do seguinte questionamento: o quanto se quer historicizar a situação de arruinamento? Na chave da memória e esquecimento que constitui os conflituosos percursos de construção da história, a dúplice capacidade informativa das ruínas sobre a reminiscência e a perda possui um latente caráter evocativo. Uma rede de significados pode ser atribuída a esses remanescentes devido à ambiguidade de sua materialidade que remete simultaneamente: à presença e à ausência; à continuidade e à descontinuidade; à permanência e à efemeridade.

As ruínas não são, portanto, elementos estagnados que somente remetem a um passado, mas são registros dinâmicos que condensam o presente e futuro, se rearticulando espacialmente e estabelecendo continuamente uma nova fruição nos processos cognitivos de construção da memória.

Referências

ANDRADE, R. M. F. Rodrigo e o SPHAN: Coletânea de textos sobre o patrimônio cultural. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, Fundação Nacional Pró-Memória, 1987.

____________. Brasil: Monumentos históricos e arqueológicos. México D. F.: Instituto Panamericano de Geografia e História, 1952.

AUGÉ. M. Le temps en ruines. Paris: Galilé, 2003.

BARBANERA, M.; CAPODIFERRO, A. (a cura di). La forza delle rovine. Milano: Mondadori Electa S. P. A., 2015.

BASTOS, R. L. Normas e gerenciamento arqueológico. In SOUZA, M. C (org). 2ª ed., São Paulo: IPHAN, 2008.

BRANDI, C. Teoria da restauração. Tradução Beatriz Mugayar Kühl. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.

CASTRO, S. R. O Estado na preservação de bens culturais. Rio de Janeiro: Renovar, 1991.

CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001.

DEBLASIS, P. Twenty years of heritage resource management in Brazil, a brief evaluation (1986-2006). In Cultural Heritage Management: A global perspective. Paul A. Shackel, University of Maryland, p. 38-47, 2006.

HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

JEUDY, H-P. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.

LE GOFF, J. História e memória. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2010.

MARINS, P. C. G. Do Luz Cultural ao Monumenta: sobre a opção pela escala monumental na preservação de uma área de São Paulo. In GAGLIARDI, C. R. (org.). Intervenções urbanas em centros históricos: casos da Itália e São Paulo em discussão. São Paulo: Educ, 2012, p.145-169. . Acesso em 28 out. 2016.

MICELI, S. SPHAN: Refrigério da cultura oficial. Rio de Janeiro: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 22, p. 44-47, 1987.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA (MEC). Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Fundação Nacional Pró-Memória. Proteção e revitalização do patrimônio cultural no Brasil: Uma trajetória. Brasília: MEC/SPHAN, 1980.

PESSOA, J (org). Lucio Costa: documentos de trabalho. Rio de Janeiro: IPHAN, 1999.

RIEGL, A. Il culto moderno dei monumento: il suo carattere e i suoi inizi. SCARROCCHIA Sandro (a cura di). Bologna: Nuova Alfa Editoriale, 1990.

RODRIGUES, A. R. Ruína e patrimônio cultural no Brasil. Tese (Doutorado). São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2017.

RODRIGUES, C. N. Territórios do patrimônio: tombamentos e participação social na cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado). São Paulo:Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2001.

RUSKIN, J. A lâmpada da memória. Tradução Maria Lucia Bressan Pinheiro. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2008.

STAROBINSKI, J. A invenção da liberdade 1700-1789. São Paulo: Unesp, 1994.

Sites consultados

IPHAN. Arquivo Noronha Santos. Disponível em: http://www.IPHAN.gov.br/ans/inicial.htm. Acesso em 28 out. 2017.

UNESCO: Disponível em: http://whc.unesco.org/. Acesso em 28 out. 2017.

Processos consultados

IPHAN. 2010. Processo 01506.000823/2010 - Igreja Matriz São Luiz de Tolosa.

____________. 1965. Processo 755-T-65 - Sítio Mirim (São Paulo, SP).

____________.1964. Processo 0752-T-64 - Forte São Felipe (Guarujá, SP).

____________.1962. Processo 0678-T-62 - Engenho São Jorge dos Erasmos (Santos, SP).

 

.

Ruin and architectural heritage in Brazil: memory and oblivion

Angela Rodrigues

Angela Rosch Rodrigues is an Architect, Doctor in History of Architecture and Urbanism, and researcher at the Faculty of Architecture and Urbanism of the University of São Paulo. She studies the preservation of São Paulo's patrimony, especially ruins and monuments.


How to quote this text: Rodrigues, A. R. Ruin and architectural heritage in Brazil: memory and oblivion. V!RUS, Sao Carlos, n. 16, 2018. [e-journal] [online] [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus16/?sec=4&item=3&lang=en>. [Accessed: 26 April 2024].


Abstract

This article aims to present how Brazilian preservation policies identify architectural remnants in a state of ruin as cultural assets, focusing on the monuments listed by the National Historical and Artistic Heritage Institute (IPHAN, as the acronym in Portuguese). Such study starts from the question: what can be considered a ruin? We consider a ruin as a condition of de-characterization of architectural assets from any age, affected by degradations for different reasons. Different variables make complex their understanding: cause, degree and time elapsed from the beginning of the process of ruining, age and conditions of the building’s usage. Once combined, such variables direct interpretations, suggesting the organization of this analysis into three groups: ruins of time, ruins of negligence and ruins of the incident. In this structure, we find that there is a major impasse in identifying and assigning values to the ruins within the Brazilian preservation policies: how much is it desired to historicize the ruin status? In the key of memory and oblivion that are the conflicting paths of history, ruins play an essential role because of its dual informative capacity of reminiscence and loss. They are therefore dynamic records to establish a new fruition in the cognitive processes of the construction of memory.

Keywords: Ruins, Architectural heritage, Memory, Preservation


1 Introduction

In principle, we can consider that the state of ruin is the antithesis of the final purpose of preservation, whose aim is to prevent (or to contain) the degradation process of an architectonic asset. In the field of memory construction, the concept of monument-document proposed by the historian Jacques Le Goff (2010) induces to an interpretation that ruins are elements which testify about the survival of past states. From those remains, it is possible to get information about the previous object composition, the causes of destruction and all that can be forgotten. As Walter Benjamin highlighted, the intrinsic attributes of incompleteness and disarticulation of a ruin potentiate a puissant evocation field: "Allegories are, in the field of idea, what ruins are in the field of things" (Benjamin apud Barbanera and Capodiferro, 2015, p. 11).

This article aims to present how architectural remnants in a state of ruin are identified as cultural assets in the history ideology composition and memory construction led by Brazilian’s preservation organs and policies. Such analysis starts from the question: what can be considered a ruin? In the history of preservation, Cesare Brandi writes in his "Theory of Restoration" (1963) that: "Ruin will be everything that testifies the human history, but with a very different aspect and almost unrecognizable in relation to how it was before. [...]." (BrandI, 2004, p. 65). Brandi considers that the complexity of identifying a ruin from an architectural asset involves the challenge of assessing how much its "potential unity" (Op. cit., p. 67) was lost and cannot be reintegrated. In the Portuguese language, the definition of a ruin embodies the theme of degradation due to several causes: "remains or parts more or less deformed from one or more collapsed buildings or destroyed by time, explosion, fire, etc.; [...] fig. state of destruction, of degradation; modification for worse; [...] which is no longer the way it was" (Houaiss and Villar, 2001, p. 2482).

Thus, the identification of a ruin is complex because it involves elements such as: the building age, cause and degree of degeneration, time elapsed from the process of ruining and conditions of use (Rodrigues, 2017). By using the designation "ruin", this analysis considers buildings of any age in different degrees of destruction caused by a combination of some of the following factors: passage of time and its unconditional impacts, loss of the original function or a lack of usage, negligence, or yet catastrophes (natural or anthropic).

Considering those reflections, we established a possible methodology to identify three groups in which the concept of “ruin” can be applied. Therefore, we used the correlation between two main aspects: the cause of degradation and the time elapsed from the process of ruining: 1. Ruins of time: assets that were ruined before the moment that cultural values were assignment to them. The time was the main agent of degradation and there is a chronological distance from the process of ruining; 2. Ruins of negligence: buildings that became ruined after its cultural value recognition. This kind of deterioration has occurred slowly in the later years by negligence in the conservation of the buildings; 3. Ruins of the incident: cultural assets that were affected by natural or anthropic catastrophes (Rodrigues, 2017).

2 Ruins of time: past and permanence

In this group, we consider buildings that were ruined by years of spoliation, weathering and alterations in a period of time that precedes the recognition of its cultural value. Those ruins constitute a physical source (sometimes the only one) of information about construction techniques, materials, architectural parties, etc. Besides, those ensembles can materialize the contraposition - and the coexistence - between what remains and what perishes. The notion of temporal linearity refers to the vanity of human works, a characteristic of what is vain, futile, fruitless and impermanent facing the time - the element that consumes everything. Since the nineteenth century, this allegory of perennity associated to a ruin was transformed into an aesthetical emotion (Augé, 2003). Therefore, the picturesque aspect was crucial for John Ruskin to establish the importance of patina conservation as an element that materializes the passage of time: "XVI. [...] in architecture, [...] the picturesque is thus sought in ruin [...] the picturesque or the extrinsic sublimity will have exactly this function, nobler in it than in any other object: to evidence the building age." (Ruskin, 2008, p. 77, our translation).

In Brazil, the writer Euclides da Cunha expressed a sensible view about the ruined forts São Tiago and São Felipe (both situated in the city of Bertioga, State of São Paulo). He visited those monuments in 1904 and his impressions reflected an alignment to Ruskin’s ideas about ruins, having seen the pictorial value of those heritage assets: "[...] the main charm of the two remarkable monuments [...] is its oldness, a characteristic that was imprinted by the course of the ages" (Cunha, 1904 In IPHAN, 1964, s.p., our translation).

However, that approach which evoques vanity and a ruin’s pictorial aspect is not common in Brazil. In the Brazilian heritage agencies, most of the speeches associate the condition of ruin to an emergency situation, catalysing the need to protect a cultural asset.

In 1937, it was elaborated the Decree Law n. 25, a document which established the National Historical and Artistic Heritage Service (SPHAN, as the acronym in Portuguese; after some years, it became the National Historical and Artistic Heritage Institute - IPHAN, as the acronym in Portuguese). In this document, the definition of what constitutes the Brazilian heritage does not make reference to the ruins nor to the state of conservation of the monuments. There are, tho, designations about the effects of listing the assets stating that:

Art. 17 The things that are listed in any case can be destroyed, demolished or mutilated without prior special authorization from the National Historic and Artistic Heritage Service (Decreto lei N. 25, 1937 In MEC, 1980, p. 115, our translation).

The structure of the Brazilian conservationist policy is based on the idea that associates the state of ruin with the urgency of preservation, which can be proved by the statement from Rodrigo Melo Franco de Andrade, director of SPHAN from 1937 to 1967:

The initiative of the head of the Nation has a relevant practical purpose to endow Brazil with an appropriated legislation to prevent the ruin or dispersion of assets with notable artistic and historical values […] (Andrade, 1936 In Andrade, 1987, p. 48, our translation).

In Brazil, the number of heritage assets identified as ruins can be measured by the inscriptions in the List of National Heritage. There are a number of listed monuments in which have designations such as: ruin, ruins, remnants or remains. The Table 01 considers the initial phase from SPHAN, including the first thirty years of this agency (1937-1967). It is possible to verify that there is a concentration of inscriptions based on the assignment of a historical value - List of Historical Monuments.

There were few ruins that were appreciated exclusively by an artistic value - List of Fine Arts Monuments - for instance, the ancient House of Garcia D`Ávila (located in the city of Mata de São João, state of Bahia). This monument was the first ruined asset enrolled as a national heritage by SPHAN in 1938 (Fig.1). There is also the set of São Miguel das Missões (RS), the first attribution of the architect Lucio Costa as Technical Director in the newly founded SPHAN. In his report about São Miguel, Costa emphasized the value of the original architecture that was deteriorated; he made an approach based on the aesthetic character of the Church's façade without mentioning the condition of the ruin (Costa apud Pessoa, 1999). So, it is possible to identify that the assignment of an artistic value does not refer to the ruin’s aesthetics itself nor to its attributes derived from a new spatial reconfiguration that re-establishes a relationship between the indoor and outdoor space.

Fig. 1: Casa da Torre de Garcia D`Ávila, Mata de São João (BA). Fonte: Autora, 2013.

Tab. 1: Assets listed by IPHAN, 1930-1960 - Ruins and derived terms. Source: Caption: L.A.ET.P. - List of Archaeological, Ethnographic and Landscape Monuments; L.A.A. - List of Applied Arts Monuments; L.B.A. - List of Fine Arts Goods; L.H - List of Historical Monuments. Source: Noronha Santos Archive, available at http://www.iphan.gov.br/inicial.htm [Accessed in: 01. jun 2015]. Prepared by the author. Collaboration: Wagner Nascimento

From 1930 until 1960, the inscriptions of ruins in the List of Archaeological, Ethnographic and Landscape Monuments are scarce. This aspect indicates that the Brazilian precolonial references are not constituted by architectonic remnants associated to ancient civilizations such as the ones that can be found in other Continents or regions of America. Our paleoindian legacy is characterized by other types of material evidences as: artefacts, geoglyphs, rock paintings, sambaquis, megalithic sites, among others (Bastos, 2008). So, in Brazil, the recognition of ruined heritage assets does not considered the archaeological aspect, according to Rodrigo M. F. Andrade:

The idea of protecting the archaeological collection of Brazil would perhaps have been manifested early among us if the Portuguese colonizers found in this country, as happened to the Castilians in other regions of America, the monumental remains of a materially more evolved civilization. (Andrade, 1952, p.11, our translation)

As from the 1960s, there has been another scenario regarding the perspective on cultural heritage. After the Second World War II, the social sciences were incorporated in the discussions leading to an expansion of the concept of monument which was expressed in the Venice Charter (1964). In Brazil, after Rodrigo M. F de Andrade retired in 1967, Renato Soeiro took over the management of IPHAN. As for the legal extent, the definition of cultural heritage presented in the Decree Law of 1937 was then reaffirmed by the definition expressed in the Constitution of Federative Republic of Brazil, enacted in 1988, and this document incorporated the social plurality of the Brazilian national culture.

Considering this new scenario established from 1967, it is possible to verify in the Table 02 that, just as in the earlier period, most of the ruins enrolled as National Heritage are concentrated in the List of Historical Monuments. However, there is a greater incidence in the List of Archaeological, Ethnographic and Landscape Monuments which reflects the development of a concern about the archaeological research in Brazil. This aspect can be understood considering that it was established a Federal Law in 1961 (n. 3924/1961) that prescribes the legal protection of archaeological sites (Deblasis, 2006).

Tab. 2: Assets enrolled by the IPHAN in the decades of 1970-2015 - ruins and derived terms. Source: Caption: L.A.ET.P. - List of Archaeological, Ethnographic and Landscape Monuments; L.A.A. - List of Applied Arts Monuments; L.B.A. - List of Fine Arts Goods; L.H - List of Historical Monuments. Source: Noronha Santos Archive, available at http://www.iphan.gov.br/inicial.htm accessed on: 01. jun 2015. Prepared by the author. Collaboration: Wagner Nascimento.

In 1972, the General Assembly of UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) established the "Convention Concerning the Protection of the World Cultural and Natural Heritage", a fact that contributed to the globalization of ocidental values and references in the preservation practices (Choay, 2001). Gradually, Brazil has had inscriptions in the select roll of the "World heritage". The ruins of the Mission of São Miguel (in the State of Rio Grande do Sul) joined this list in 1983. In July 2017, the archaeological site of Valongo Wharf (in the city of Rio de Janeiro) was enrolled in UNESCO list as the main landing site of the slave trade in Brazil. That set dates back to an infrastructure installed in 1811. In 1911 this structure was grounded and in 2011 its ruins came to light due to works for the urban operation called Porto Maravilha. The remnants materialize the memory of pain and suffering of slavery in Brazil being the main reference of the African roots in America.

The inscriptions from ruined assets as Brazilian national monuments should be interpreted considering the criteria and values adopted by IPHAN as a background. The creation of this institute in 1937 proposed a model of approach towards the heritage based on a search of the Brazilian nation origins through the architectural remnants in order to articulate the idea of the national heritage with a cultural identity (Miceli, 1987). After the 1960s, the inscriptions of ruins as national heritage still reproduce this model and the architectural typology of the monuments are the same. There is a concentration of buildings that refer to the memory of the Brazilian colonial period (16th until 18th centuries), being basically: fortifications, religious structures and rural buildings linked to the manufacture of products (farmhouses and sugar mills). There are few ruined sets from the 19th and 20th centuries identified as national heritage.

For example, the architect Luis Saia elaborated a technical report to enrol the sugar mill of São Jorge dos Erasmos (located in Santos, in the State of São Paulo) as a national monument. Saia has assigned a historical value to those remnants based on its antiquity, rarity and uniqueness (Fig. 2). These features were also based on the thesis of the historian Maria Regina da Cunha Rodrigues who considered this ancient asset as: "the initial mark of the industrial production of sugar in Brazil, [...]" (Rodrigues, 1962 In IPHAN, 1962, s.p., our translation).

In this first group analysed (ruins of time) it was verified that the identification of a ruin as a Brazilian national heritage is mainly related to the oldest assets. This characterization assigns the ancient remnants as a historical testimony that bases the idea of origin and the national cultural identity constitution.

Fig. 2: Panoramic view of the ruins of the sugar mill São Jorge dos Erasmos.Source: Author, 2013.

Assigning a cultural value to an asset and prevent its degradation is a good action leaded by the concept of "urgency of safeguarding" (Lamy apud Rodrigues, 2001, p. 32). As it was presented, the necessity of saving from a process of ruin was fundamental to structure the heritage policy in Brazil. In general, the process of listing a building as a national heritage is related to the purpose to save it from an imminent loss, preserving its architecture features that are representative of a relevant past.

Yet, there are still flagrant cases of buildings that are going into a ruin while they are waiting for identification, a cultural appreciation and a safeguard initiative. One example is the case of the Environmental Protection Centre of Balbina (in the city of Presidente Figueiredo, in the state of Amazonas). This Centre was projected by the architect Severiano Mário Porto and it was built in 1984. This reference of the twentieth-century Brazilian architecture is marked by regionalism in its architectural language and materials usage. This set has entered in a process of ruin that led to complaints and social mobilizations for its preservation. Finally, in 2016, the asset was listed as a monument in addition to 27 works of the same architect in that region.

However, the act of imputing a cultural value to a building and to enrol it as a heritage is not enough to preserve it from a gradual decharacterization. As Sônia Rabelo de Castro (1991) points out, in Brazil, the concept of “preservation” is often confused with the act of listing an object as a heritage. While preservation is a concept in which: "[...] we can understand any and all actions of the State aiming to preserve the memory of cultural facts or values of a Nation" (Castro, 1991, p. 5, our translation), listing an asset as a heritage, on the other hand, is a stamp attributed by a certain group linked to the official institutes: "[...] the law delimits it, establishing the limits of the exercise of this police power of the administration, disposing over its content, its procedure [...]" (Op. Cit., p. 8).

The concept of "negligence" that we are considering to designate this group of ruin refers to the inefficiency of the preservation actions. This kind of ruin devastates many cultural monuments and is the product of a silent process derived from the lack of concrete actions to conserve them. It is a process of ruin caused by dilapidations, careless and inappropriate uses. Eventually, there are complaints and a clamour by different sectors of the civil society, or even by the heritage preservation agencies, but the degradation continues until it reaches a painful reality: an original and relatively intact monument has been turned into a ruin.

Considering the Brazilian scenario, it is impracticable to measure the number of heritage assets that have been affected by this kind of degradation, but there are some relevant situations that can be mentioned. For instance, the historical centre of the city of Salvador (State of Bahia) that was recognized in 1959 as a national monument and it was declared by UNESCO as a World Heritage in 1985. In 1993, the serious state of degeneration of this historical centre was a factor that motivated an urban revitalization in this area (Marins, 2012). This urban intervention has expropriated and restored several properties visibly degraded. Although, after more than two decades it is still possible to verify ruined houses in the neighbourhood of the intervention area (Fig. 3).

Fig. 3: The degradation of some old houses in the historical centre of Salvador (BA).Source: Author, 2013.

Looking at the scale of the building, there are also some flagrant cases of degradation such as the ancient house of Sítio Mirim (situated in the city of São Paulo, State of São Paulo). This rural house has its earliest information dates back to 1750 and was studied by the architect Luis Saia to be enrolled as a national monument in the 1960s. He pointed the exceptionality and uniqueness of the architectural features of that house. At that time there were also some restoration works in progress for this heritage asset. However, without a specific use, the house has entered in a progressive process of ruin until now. In an article published in 1973, Luis Saia made an explicit criticism to the municipal government due to its negligence: "There was a lack of care from the city hall. [...] That is why Sítio Mirim has become what it is today, ruin and only ruin." (Saia apud Lima, 1973, p.14 In IPHAN, 1965, s.p.)

In the course of memory construction, there is a struggle in identifying these kind of assets ruin as a consequence of the negligence on all parties involved (agencies of preservation and civil society). From a symbolic point of view, besides the idea of transience of the human works associated with ruins, it is possible to add in this group the idea of negligence, an irreparable loss of what could have been saved. The evocation of abandonment provoked by those ruins is quite different from that one related to the passing of time. The careless incurs in the nullity of actions, repentance, or inoperability as attested by the philosopher Henri-Pierre Jeudy: "The ancient ruin already has a heritage status. When it is current, in the process of transforming under our eyes, it gives an idea of abandonment, of degradation, a testimony of the inability to preserve" (Jeudy, 2005, p. 70). From a documental point of view, the analysis of this group of ruins is quite different from the previous one, because the process of ruin is more recent. In this case, there are more references and studies about the buildings in its prior situation. There is also a lot of information reporting the degradation process, a material that has a tone of complaint and that can be found in official records or other means of communication.

In the intricate relation of meanings that contrasts memory to oblivion, the main question posed here by the identification of this group of ruins is how to accept these decharacterization features as a part of the monument history, and how to assign a cultural value to these marks of degradation as a witness of negligence.

In this group, the challenge of identifying these ruins is constantly renewed considering that many architectural assets are continually affected by catastrophic incidents derived from anthropic (fires, collisions, criminal demolitions, wars, etc.) or natural factors (floods, earthquakes, etc.).

In Brazil several situations have reached the national heritage constituting partial or total destructions, caused mainly by fires and floods: Church of Rosario e Santo Benedito, Rio de Janeiro (RJ) - fire in 1967; Paço do Saldanha (current Lyceum of Arts and Crafts of Bahia), Salvador (BA) - fire in 1968; Central Market (Mercado Modelo - Casa da Alfândega), Salvador (BA) - fires in 1969 and 1984; Museum of Caraça, Catas Altas (MG) - fire in 1984; Church of Nossa Senhora do Carmo, Mariana (MG) - fire in 1999; the Minster of São Vicente city (SP) - fire in 2000; historical center of Goiás city (GO) - flood in 2001; the Minster Nossa Senhora do Rosário, Pirenópolis (GO) - fire in 2002; Pilão Hotel, Ouro Preto (MG) - fire in 2003; Cultura Artística Theater, São Paulo (SP) - fire in 2008; the Minster of São Luiz do Paraitinga city (SP), flood in 2010; São Pedro de Alcântara Chapel, Rio de Janeiro (RJ) - fire in 2011; Solar Boa Vista (mansion), Salvador (BA) - fire in 2013; Public Market, Porto Alegre (RS) - fire in 2013; Chico Mendes` House, Xapuri (AC) - flooding in 2015; Portuguese Language Museum, São Paulo (SP) - fire in 2015; Mission Museum, São Miguel (RS) - hurricane in 2016.

Several of these goods have passed through interventions aimed to recovering them from the ruinous state. The methodology and criteria for the accomplishment of such works evidences questions about how much of the pre-existence can be preserved as support to the image of the lost architecture and what is the limit for the interposition with the new one.

From a documentary point of view, this type of ruin can reveal valuable architectural details hitherto hidden, such as building materials beneath coating surfaces, foundations composition, etc., fundamental information to deepen the knowledge of the monument and subsidize future actions for its preservation. As in the previous groups, these ruins document a tragic episode, being it the concrete result of the destruction. The evocative character of this group of ruins points to perplexity facing the tragedy and destruction; a sentiment that can be summed up by the following assertions of Jean Starobinski: "[...] For a ruin to look beautiful, destruction must be quite distant [...] No one dreams peacefully in the face of recent ruins that make the massacre felt: they are soon uncovered to rebuild." (Starobinski, 1994, p. 202).

Alois Riegl`s assertions in "The Modern Cult of Monuments - Its Essence and Its Origin" (1903) are a key to understand the complexity of facing the impact of these ruins. By highlighting an architectural value of "usage", Riegl refers to the feeling of loss when one sees a building that had a function (such as a house, a church or another one) and does not have it anymore, which can provide a sudden and intolerable impression of "violent destruction" (Riegl, 1990, p.59). In the case of buildings we have already known without any usage, the lack of a human activity is not as disturbing (such as the ruins of a medieval castle or a Roman temple - identified in this analysis in the group of ruins “of time”).

The ruins of incident can become symbols that ensure the "memorable sense attributed to any catastrophe" (Jeudy, 2005, p.59, our translation). In Brazil, the ruins provoked by the Samarco Mineração SA dam collapse (2015) in Bento Rodrigues city (sub-district of Mariana, MG) amplified in a divergent way the heritage with a message of a painful survival.

Opposing the idea of becoming a memorial monument, ruins of a fulminating destruction may lead to another approach: the strength of reconstruction condensing the resilience of a social group. The ruin’s denial becomes a way to transform the destructive event in a moment of convergence and union agglutinating the moral force of the civil society involved.

The Minster of São Luiz de Tolosa (São Luiz do Paraitinga, SP) destroyed by a flood in 2010 is a case that illustrates this situation. The alternative of a new and a formal distinct project has been raised. However, the option chosen was the reconstruction taking as reference the Church aspect before it has been ruined by the flood, under the justification in which was considered: "[...] the reality of the local community, which wishes to have its social reference exactly as it was before disaster." (IPHAN, 2010, p. 148 our translation). There was intense popular participation in public audiences and at the construction site, highlighting the importance that this reconstruction had for the community. As a final result, externally the Church keeps its prior characteristics (Fig. 4), and it is not possible to distinguish its recent age; internally, the reconstruction is evidenced in some environments by the contrast of the old walls and the new constructive techniques - lateral galleries (Fig. 4) and Baptism room.

Fig. 4: Minster of São Luiz de Tolosa - external aspect after its reconstitution. Source: Author, 2014.

Fig. 5: Minster of São Luiz de Tolosa - lateral gallery with the exhibition of some ruins of the original walls. Source: Author, 2014

Among the factors for the approach and interpretation of this group of ruins, there are: the evident contemporaneity of the degradation process; the dimension of the physical and symbolical losses; the acceptance (or not) of these damages; and the resilience (or not) towards the tragic incident. So, in the scope of memory and history construction, the main question that stands here is: how much do we intend to historicize the incident that caused this kind of ruin?

5 Final considerations

The building assets in ruins, as discussed here, are part of the routine of the cities and constitute the intricate network of meanings that composes the construction of history, memory and cultural identity. Understanding a ruin is hard because it involves a complex conjunction of variables: cause, degree and time elapsed from the beginning of the process of ruin, age and conditions of usage of the building. In our analysis, we have structured the ruins into three groups and it was possible to verify some characteristics about the identification and the assignment of values towards the heritage assets in ruins by the Brazilian preservation policies.

In the group of “ruins of time” the identification and the acceptation of the state of degradation is more legible. However, the number of ruined monuments enrolled as Brazilian national heritage is low and it is predominantly based on the assignment of a historical value to buildings in which age is from the 16th until the 18th centuries. The approach under the archaeological bias is tenuous, but it has been advanced since the 1960s and have culminated in the indication of the Warf of Valongo (RJ) by IPHAN to integrate the UNESCO’s World Heritage list. During the constitution of our national memory those vestiges were summarily forgotten. Although, those ruins are relevant in an uninterrupted need for a historiographical revision of our cultural identity.

In the groups of ruins “of negligence” and “of the incident”, we have analysed some buildings that have turned into a ruin after being recognized as cultural heritage. The identification and assignment of values to those remnants is complex due to: the existence of references from the previous architecture; the lack of chronological distance from the process of ruining; and, especially, the negative connotation (negligence and tragedy) associated to those recently damaged buildings that used to be integer and a part of a community’s life. So, there is a negative evocation related to those abrupt losses.

We find the major impasse that permeates those three groups (ruins “of time”, ruins “of negligence” and ruins “of incident”) can be established by the following question: how much is it desired historicizing the ruin status? In the key of memory and oblivion that are the conflicting paths of history construction, ruins play an essential evocative role because of its dual informative capacity of reminiscence and loss. A network of meanings can be attributed to those remnants due to the ambiguity of their materiality which simultaneously refers to presence and absence; continuity and discontinuity; permanence and ephemerality.

Therefore, ruins are not stagnant elements that only refer to a past, but they are dynamic records that condense the present and future rearticulating the building spatiality and establishing continuously a new fruition in the cognitive processes of memory construction.

References

Andrade, R. M. F., 1987. Rodrigo e o SPHAN: coletânea de textos sobre o patrimônio cultural. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, Fundação Nacional Pró-Memória.

____________., 1952. Brasil: monumentos históricos e arqueológicos. México D. F.: Instituto Panamericano de Geografia e História.

Augé. M., 2003. Le temps en ruines. Paris: Galilé.

Barbanera, M.; Capodiferro, Al (a cura di)., 2015. La forza delle rovine. Milano: Mondadori Electa S. P. A.

Bastos, R. L., 2008. Normas e gerenciamento arqueológico. SOUZA, M. C (org). 2ª ed., São Paulo: IPHAN.

Brandi, C., 2004. Teoria da restauração. Tradução Beatriz Mugayar Kühl. Cotia: Ateliê Editorial.

Castro, S., R.1991. O Estado na preservação de bens culturais. Rio de Janeiro: Renovar.

Choay, F., 2001. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP.

Deblasis, P., 2006. Twenty years of heritage resource management in Brazil, a brief evaluation (1986-2006). In Cultural Heritage Management: a global perspective. Paul A. Shackel, University of Maryland, p. 38-47.

Houaiss, A.; Villar, M. S., 2001. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.

Jeudy, H-P., 2005. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra.

Le Goff, J., 2010. História e memória. Campinas, SP: Editora da Unicamp.

Marins, P. C. G., 2016. Do luz cultural ao monumenta: sobre a opção pela escala monumental na preservação de uma área de São Paulo. In GagliardI, C. R. (org.). Intervenções urbanas em centros históricos: casos da Itália e São Paulo em discussão. São Paulo: Educ, 2012, p. 145-169. Available at: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5944. [Accessed in 28 out. 2017]

Miceli, S., 1987. SPHAN: refrigério da cultura oficial. Rio de Janeiro: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 22, p. 44-47.

Ministério da Educação e Cultura (MEC)., 1980. Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Fundação Nacional Pró-Memória. Proteção e revitalização do patrimônio cultural no Brasil: Uma trajetória. Brasília: MEC/SPHAN.

Pessoa, J (org)., 1999. Lucio Costa: documentos de trabalho. Rio de Janeiro: IPHAN.

Riegl, A., 1990. Il culto moderno dei monumento - Il suo carattere e i suoi inizi. SCARROCCHIA Sandro (a cura di). Bologna: Nuova Alfa Editoriale.

Rodrigues, A. R., 2017. Ruína e patrimônio cultural no Brasil. Tese (Doutorado). São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo.

Rodrigues, C. N., 2001.Territórios do patrimônio: tombamentos e participação social na cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

Ruskin, J., 2008. A lâmpada da memória. Tradução. Maria Lucia Bressan Pinheiro. Cotia, SP: Ateliê Editorial.

Starobinski, J., 1994. A invenção da liberdade 1700-1789. São Paulo: Unesp.

Websites consulted

IPHAN. Arquivo Noronha Santos: Available at: http://www.IPHAN.gov.br/ans/inicial.htm [Accessed in 28 out. 2017]

UNESCO: Available at: http://whc.unesco.org/ [Accessed in 28 out. 2017]

Legal processes consulted - IPHAN (SP)

IPHAN. 2010. Processo 01506.000823/2010 - Igreja Matriz São Luiz de Tolosa.

____________. 1965. Processo 755-T-65 - Sítio Mirim (São Paulo, SP).

____________.1964. Processo 0752-T-64 - Forte São Felipe (Guarujá, SP).

____________.1962. Processo 0678-T-62 - Engenho São Jorge dos Erasmos (Santos, SP).