Método Cartográfico Indisciplinar: da topologia à topografia do rizoma

Marcela Lopes, Natacha Rena, Ana Isabel de Sá

Marcela Lopes é Arquiteta, Engenheira Civil e Doutora em Arquitetura e Urbanismo. É Professora Adjunta da Escola de Arquitetura e Design da Universidade Federal de Minas Gerais e colaboradora do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade. É pesquisadora do grupo de pesquisa Indisciplinar, e coordenadora do programa de extensão Natureza Política. Estuda processos de produção do espaço, moradia, assessoria técnica às ocupações urbanas autoconstruídas, cartografias colaborativas e processos de projeto compartilhados.

Natacha Rena é Arquiteta e Urbanista e Doutora em Arquitetura e Urbanismo. É Professora Associada da Escola de Arquitetura e Design da Universidade Federal de Minas Gerais e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade. Coordena o grupo de pesquisa Indisciplinar e o programa de extensão IndLab. Atua nos temas geopolítica e território, cartografias das lutas urbanas, arquitetura contemporânea e coletivos ibero-americanos.

Ana Isabel de Sá é Arquiteta e Urbanista e Mestre em Arquitetura e Urbanismo. É professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Técnico em Edificações. É pesquisadora do grupo de pesquisa Indisciplinar, e atua nos seguintes temas: tecnopolíticas urbanas, cartografias colaborativas, políticas públicas de participação e co-design do território urbano.


Como citar esse texto: LOPES, M. S. B.; RENA, N. S. A.; SÁ, A. I. Método Cartográfico Indisciplinar: da topologia à topografia do rizoma. V!RUS, São Carlos, n. 19, 2019. [online] Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus19/?sec=4&item=6&lang=pt>. Acesso em: 28 Abr. 2024.

ARTIGO SUBMETIDO EM 18 DE AGOSTO DE 2019


Resumo

Neste artigo, vamos dialogar com o tema A Construção da Informação a partir de três tópicos, tendo como enfoque principal a produção recente do Grupo de Pesquisa Indisciplinar, da Universidade Federal de Minas Gerais, acerca das disputas em curso em diversos territórios de Belo Horizonte. Para isso, desenvolvemos a proposta de um método de trabalho próprio que possibilitasse construir informação articulando as necessidades e as temporalidades das lutas, com as exigências da produção científica/ acadêmica, sempre de maneira coletiva e em rede. No primeiro tópico, "1. Disputa epistemológica em campo", com a discussão sobre os conceitos relativos à informação, ao saber, ao conhecimento e à episteme, tentando ressaltar a maneira como eles são construídos e como as relações de poder atravessam essa construção. Para tal, recorremos ao pensamento de alguns filósofos pós-estruturalistas franceses como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari e Bruno Latour. Em "2. Produção Indisciplinar: cartografias e tecnopolíticas", apresentaremos algumas das reflexões realizadas, desde o ano de 2012, pelo grupo, sobre a produção da cidade contemporânea. Reflexões essas que nos permitiram sistematizar diretrizes para as cartografias realizadas, elencar as principais dimensões a serem abordadas e organizar nosso repertório de processos e plataformas de trabalho. No tópico "3. Método cartográfico, genealógico e em platôs", discutiremos como a construção coletiva de informação vem sendo desenvolvida pelo Indisciplinar, no intuito de aproximar de maneira coerente os pressupostos teóricos adotados e suas diretrizes metodológicas de pesquisa, constituindo um método operativo para as suas investigações.

Palavras-chave: Informação, Cartografia, Genealogia, Ator-rede, Controvérsias



1 Introdução

Pretendemos neste artigo dialogar com o tema A Construção da Informação, em três tópicos, tendo como principal enfoque a produção recente do Grupo de Pesquisa Indisciplinar, da Universidade Federal de Minas Gerais, acerca das disputas urbanas em diversos territórios de Belo Horizonte.

No tópico 1 do texto, "Disputa epistemológica em campo", partimos da discussão sobre os conceitos relativos à informação, ao saber, ao conhecimento e à episteme, tentando ressaltar a maneira como eles são construídos e como as relações de poder atravessam essa construção. Para tal, recorremos ao pensamento de alguns filósofos pós-estruturalistas franceses como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari e Bruno Latour.

No tópico 2, "Produção Indisciplinar: cartografias e tecnopolíticas", apresentamos algumas das reflexões realizadas, desde o ano de 2012, pelo grupo de pesquisa, que nos permitiram sistematizar diretrizes para as cartografias realizadas, elencar as principais dimensões a serem abordadas, e organizar nosso repertório de processos e plataformas de trabalho.

No tópico 3, "Método cartográfico, genealógico e em platôs", discutiremos as diretrizes para a construção coletiva de informação desenvolvidas pelo grupo. Desde 2012, temos produzido o que identificamos como “contra narrativas”. Estas se opõem de maneira incisiva às ações que tentam promover a exclusão da população mais vulnerável de determinados territórios em Belo Horizonte, com o intuito de dar visibilidade e potencializar as lutas engendradas pelos movimentos sociais militantes e ativistas. Entretanto, a partir do golpe político ocorrido no Brasil, em 2016, as contradições entre os vários movimentos sociais ficaram mais evidentes, o que nos levou a mapear novas controvérsias, considerando, inclusive, que o próprio conceito de resistência está em disputa.

Acreditamos que procedimentos adotados nos processos de disputa e de oposição às políticas neoliberais produziram efeitos negativos em diferentes escalas que não a local, considerando, em nível nacional, os vários retrocessos que se seguiram ao golpe. Além disso, percebemos que, apesar de continuar sendo necessário evidenciar a aproximação perversa entre o Estado e o Capital, não seria pertinente fazer tábula rasa com várias das ações promovidas pelo Estado, cujo papel de regulador e provedor de políticas públicas ainda é, no nosso entender, de suma importância para a promoção de equidade e justiça social em nosso país.

Desse modo, no intuito de alimentar incertezas e mapear controvérsias emergentes (LATOUR, 2012) na produção do espaço urbano, o Indisciplinar se debruçou, após 2016, sobre a difícil tarefa de aproximar, de maneira coerente, os pressupostos teóricos adotados, bem como suas diretrizes metodológicas de investigação. O desafio, durante esse período, foi o de se construir um método cartográfico, genealógico e em platôs que, ao mesmo tempo, fosse operativo. Foi necessário explodir alguns dos nossos conceitos norteadores, eliminar binarismos, e inventar novas aproximações com o campo da ação extensionista, da investigação e do ensino, para alcançar novas formas de dar visibilidade à informação que produzimos coletivamente.

2 Disputa epistemológica em campo

Para fazer uma reflexão sobre a construção da informação, precisamos colocar em discussão como funcionam os regimes de verdade ao longo da história. No caso da produção do espaço, discernir quais são mecanismos de visibilização e de legitimação de um fato ou acontecimento em detrimento de outros. Se concordarmos com Michel Foucault, quando afirma que “a verdade não existe fora do poder ou sem poder” (FOUCAULT, 1979, p. 12), concordamos também que não existe informação neutra, e que não há dado que não seja importante. Para o filósofo, talvez “o estruturalismo tenha sido o esforço mais sistemático para eliminar, não apenas da etnologia, mas de uma série de outras ciências e até da história, o conceito de acontecimento” (ibidem). Desse modo, o “problema é, ao mesmo tempo, distinguir os acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a que pertencem, e reconstituir os fios que os ligam e que fazem com que se engendrem, uns a partir dos outros” (idem, p. 5). Para Foucault, interessa fazer uma história da episteme, entendida como:

O dispositivo estratégico que permitiria escolher, entre todos os enunciados possíveis, aqueles que poderão ser aceitáveis no interior, não digo de uma teoria científica, mas de um campo de cientificidade, e a respeito de que se poderá dizer: é falso, é verdadeiro. É o dispositivo que permite separar não o verdadeiro do falso, mas o inqualificável cientificamente do qualificável. (idem, p. 247).

Com o tempo, Foucault ampliará e incorporará outros dispositivos aos seus estudos, considerando-os “algo mais geral que compreende a episteme”, entendendo episteme como um dispositivo discursivo, diferentemente do dispositivo “que é discursivo e não-discursivo, seus elementos sendo muito mais heterogêneos” (ibidem). Entendemos que, por meio do termo “dispositivo”, ele tenta demarcar um conjunto heterogêneo, que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos e proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Para ele, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo, sendo o dispositivo a rede que se pode estabelecer entre ambos. Demarca também a natureza da relação que pode existir entre estes elementos heterogêneos, assumindo um tipo de jogo, ou seja, mudança de posição e modificações de funções, igualmente diferentes. O dispositivo pode ser entendido, ainda, como uma formação que, em determinado momento histórico, teve como função principal responder a uma urgência: “o dispositivo tem, portanto, uma função estratégica dominante” (idem, p. 244).

Dialogando com o pensamento de Foucault, a partir do conceito de dispositivo, Deleuze vai localizar, no estudo do filósofo sobre o Panoptismo, uma dimensão concreta – “um agenciamento ótico luminoso” –, e uma dimensão abstrata – “máquina que não apenas se aplica a uma matéria visível em geral [...], mas atravessa geralmente as funções enunciáveis” (DELEUZE, 2006, p. 43). Foucault nomeou tal dimensão abstrata como “diagrama”, conceito que nos interessa para pensar um método dentro desses pressupostos teóricos:

O diagrama ou a máquina abstrata é o mapa das relações de forças, mapa de densidades, de intensidade, que procede por ligações primárias não localizáveis, e que passa a cada instante por todos os pontos. O que quer dizer causa imanente? [...] é aquela cujo efeito a atualiza, integra e diferencia. (idem, p. 46).

Seguindo essa orientação, é necessário que se faça uma “genealogia das práticas” para o estudo dos diagramas, entendendo genealogia como uma insurreição dos saberes, não tanto contra os conteúdos, os métodos e os conceitos de uma ciência, mas de uma “insurreição dos saberes, antes de tudo, contra os efeitos de poder centralizadores que estão ligados à instituição de uma sociedade nossa" (FOUCAULT, op. cit., p. 171). A genealogia seria, portanto, com relação ao projeto de uma inscrição dos saberes na hierarquia dos poderes próprios à ciência, um empreendimento para libertar da sujeição os saberes históricos, isto é, “torná-los capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico, unitário, formal, científico” (idem, p. 172).

“Um diagrama é um mapa, ou melhor, uma superposição de mapas”, conceitua Deleuze (DELEUZE, op. cit., p. 53). Essa aproximação entre diagrama e mapa favorece a compreensão de que não existe diagrama que não comporte, ao lado dos pontos que conecta, “pontos relativamente livres e desligados, pontos de criatividade, de mutação, de resistência” (ibidem). Se o arquivo está para a forma, o diagrama está para a força, um devir das forças que duplica a história das formas. As forças aparecem em toda relação de um ponto a outro. E, de um diagrama a outro, novos mapas são traçados.

Em suma, na construção da informação, há sempre interesses e atravessamentos, nem sempre muito visíveis. O desafio de uma investigação é tanto o de mapear as relações de força em jogo, quanto o de dar visibilidade para as informações e saberes não evidentes e não enunciados.

3 Produção Indisciplinar: cartografias e tecnopolíticas

O conceito de cartografia sempre desempenhou um papel fundamental na produção do Grupo Indisciplinar, seja do ponto de vista teórico-filosófico proposto por Deleuze e Guattari (1995), por meio do conceito de Rizoma, seja por sua noção tradicional de representação territorial (produção de mapas). O conceito de rizoma entende a cartografia “não somente como método da geografia clássica territorial, mas como tática micropolítica cotidiana composta pela ação política; um fazer insurgente, dinâmico, sempre processual e criativo” (RENA etal, 2015, p. 15). Já os mapas territoriais, por sua vez, são um dos principais recursos gráficos de produção e comunicação da informação explorados nos projetos e nas ações do grupo. Ambas as acepções se confundem e se atravessam constantemente em nossa produção cartográfica, pautando nosso modo de agir e de nos relacionarmos com os temas investigados: nos entendendo não como observadores externos, mas como mais um ator em rede, afetando os fenômenos cartografados, assim como somos afetados por eles.

Atualmente, a aplicação de muitas das ferramentas cartográficas busca expandir o alcance e democratizar o acesso à informação, subvertendo seu papel tradicional e implementando-a em processos contra-hegemônicos, com grupos minoritários da sociedade, ou em territórios periféricos. Renato Emerson dos Santos define essas práticas como novas cartografias sociais,cartografias participativas, cartografias da ação, contra mapeamentos, dentre outros (SANTOS, 2011, p. 1). Caracterizam-nas a valorização de aspectos invisibilizados pela representação espacial hegemônica, o recurso à produção coletiva e às dinâmicas participativas, e a ruptura com convenções cartográficas, resultando na invenção de novas formas de representar o território:

O tensionamento das relações de poder que elas trazem nos aparecem em três esferas centrais: no processo de produção cartográfica, em que atores (movimentos sociais, gestores públicos, cartógrafos, etc.) disputam a participação na elaboração dos instrumentos de representação cartográfica; no objeto cartográfico, em que se disputa o que se cartografa e como se cartografa; no uso da cartografia, que cada vez mais aparece como um instrumento de grupos desfavorecidos. (idem, p.2).

O avanço das tecnologias digitais de comunicação, aliado às novas ferramentas de visualização e simulação da informação espacial – GIS: Geographic Information Systems –, vem contribuindo crescentemente para disseminar tais práticas. Reduz-se, portanto, a distância entre o cidadão comum e a produção/visualização de informação territorial, a partir do uso cotidiano de plataformas e aplicativos como Google Maps, Open Street Maps, Waze, Uber, entre outros. A popularização dos dispositivos móveis conectados à Internet, como smartphones e tablets, constituem outro fator importante para este processo. Em primeiro lugar, por apresentarem um custo mais baixo em comparação a computadores desktop, mas, principalmente, pela mobilidade, possibilitando que tais tecnologias sejam acessadas e utilizadas de maneira associada ou como mediadores da experiência urbana (SÁ, 2018, p. 406).

Nesse sentido, as novas dinâmicas cartográficas mencionadas podem ser vistas como práticas ou ferramentas tecnopolíticas (TORET, @DATANALYSIS 15M, 2013, 20.), entendidas como a associação entre redes e territórios, visando transformação política e social:

[...] O uso tático e estratégico das ferramentas digitais para a organização e a comunicação, tendo a ação coletiva como conceito chave. Desde a perspectiva do sistema-rede, a tecnopolítica pode se redescrever como a capacidade das multidões conectadas, dos cérebros e dos corpos conectados em rede, para criar e automodular a ação conjunta. A tecnopolítica pode abarcar o ciberativismo à medida que se limita à esfera digital. Sem dúvida, em seu sentido pleno, tecnopolítica é a capacidade coletiva de utilização da rede para inventar formas de agir que podem partir do universo digital, sem, contudo, esgotar-se nele. (TORET; @DATANALYSIS 15M, 2013, p. 20-21. tradução nossa).

Tais avanços tecnológicos atravessam o território, contudo, de forma controversa, abrindo espaço para novas abordagens da representação espacial, para uma ampliação de quem cartografa o que e como. Por um lado, há de fato uma maior infiltração das ferramentas de representação geográfica na vida cotidiana, que expande a capacidade de interpretação e leitura de visualizações espaciais, e dá suporte a exercícios coletivos e colaborativos de produção de conhecimento territorial. Por outro lado, a maioria das plataformas mais intensamente utilizadas é de natureza proprietária, crescentemente centralizada nas mãos de gigantes tecnológicos (Google, Facebook, Amazon etc.). Avalanches de dados espaciais produzidos diariamente por sua utilização concentram-se nessas poucas empresas, gerando bases de dados territoriais robustas e estratégicas sobre o funcionamento e a utilização dos espaços urbanos, às quais o poder público e os habitantes das cidades não têm acesso. Dessa forma, é resgatado o papel geopolítico da produção cartográfica como instrumento de dominação e de exercício do poder – geralmente viabilizada, paradoxalmente, pela mesmas ferramentas que propõem ampliar e democratizar o acesso à produção de informação geográfica e à representação do território.

A produção cartográfica do grupo insere-se justamente nesse intrincado campo de disputas. Cientes das contradições existentes, mas também da potência da cartografia para dar visibilidade aos fenômenos e grupos sociais investigados – tanto como ferramenta de representação, como de imaginação coletiva e proposição territorial –, buscamos estruturar um conjunto de diretrizes para o método cartográfico do grupo. Nesse momento, o entendimento de cartografia como conceito filosófico é resgatado para articular a reflexão sobre o modo de agir e trabalhar, orientando também a cartografia territorial.

3.1 Principais dimensões envolvidas no processo investigativo e diretrizes para as cartografias indisciplinares

Apesar de virmos trabalhando com pesquisa-intervenção territorial em diversas frentes desde 2012, apenas em 2016 realizamos um primeiro esboço mais sistematizado dos processos e métodos adotados pelo Grupo Indisciplinar. Durante esses quatro anos iniciais, inúmeras ações do grupo junto aos movimentos sociais e outros coletivos articulados em rede contra os avanços do urbanismo neoliberal, promovidos por uma série de obras envolvidas em Grandes Projetos Urbanos (com destaque para a OUC Nova BH), monopolizaram quase que a totalidade das atividades do grupo.

Em 2016, no entanto, sentimos a necessidade de fazer uma auto-análise da produção do grupo até aquele momento, bem como de compreender os principais aspectos teóricos e práticos que pautavam nossos modos de construir e de transmitir a informação. Esse esforço de sistematização do trabalho, que ainda não havia sido possível devido às especificidades temporais das lutas com que o Indisciplinar vinha se envolvendo – cuja urgência muitas vezes se choca com o tempo mais estendido que a investigação acadêmica exige –, resultou na apresentação do artigo “Grupo de Pesquisa Indisciplinar: método, ativismo e tecnopolítica na defesa dos bens comuns urbanos” no congresso Contested Cities 2016, em Madrid. O texto apresenta uma cartografia das principais ações do grupo entre 2012 e 2016, discutindo como os programas e projetos de ensino, pesquisa e extensão vinham se imbricando a partir de quatro dimensões principais:

I) Espacial/territorial: a) por meio da criação de mapas digitais colaborativos que reúnem ferramentas de georreferenciamento com a possibilidade de atuação em rede e em tempo real, utilizando softwares como Crowdmap, Googlemaps e Mapas de Vista; b) produzindo cartografias coletivas a partir de encontros presenciais, como oficinas e workshops; II) Temporal: por meio da produção de linhas do tempo que analisam a cronologia dos fenômenos investigados e sua relação com eventos/acontecimentos paralelos da dinâmica urbana, nacional e global; III) Conceitual e informacional: utilizando páginas Wiki (ou seja, que possibilitam a produção colaborativa, processual e em rede do conhecimento), como forma de organização dos preceitos teóricos que norteiam nossas pesquisas, assim como meio de produção/armazenamento de bases de dados; IV) Comunicacional ou de formação de redes: a partir do uso tático das redes sociais e canais de comunicação de ampla utilização na internet, como fanpages e eventos em redes sociais, blogs, etc. (RENA, et al., 2016, p. 3)

A partir desse momento, a investigação do método de trabalho tornou-se uma das principais frentes de investigação do Indisciplinar, caminhando paralelamente, porém de maneira articulada, à atuação em rede com as lutas urbanas em curso no território. Dessa forma, o grupo passa a se debruçar mais sobre os processos e os dispositivos utilizados pelos pesquisadores-interventores para gerar e transmitir informação, começando a investir, inclusive, na produção de ferramentas próprias como a plataforma digital IndAtlas – que será mencionada no próximo tópico. Outro resultado desse esforço foi uma lista de diretrizes para as Cartografias Indisciplinares, que busca elencar orientações para o trabalho do grupo em consonância com seus pressupostos teóricos:

- Fazer-conhecer-transformar, cartografando a realidade;
- Ativar micropolíticas de modo transescalar;
- Constituir um processo de investigação política, acadêmica, militante e/ou ativista que não separa teoria e prática;
- Utilizar dispositivos tecnopolíticos destituintes e constituintes, táticos e estratégicos;
- Construir processos de pesquisa-intervenção a partir da experiência nas lutas. Diferente do método – Meta-Hodos – científico, tradicional, cartesiano e positivista, que é uma maneira de proceder para cumprir objetivos, a cartografia é um Hodos-Meta, que possui seu próprio caminho como objetivo;
- Investigar imbricando sujeito e objeto nos processos;
- Atuar nos pontos cegos das lutas, estudando e traduzindo, de maneira sintética, as legislações e documentos oficiais, por exemplo;
- Potencializar a ubiquidade, utilizando-se das tecnopolíticas (redes e ruas);
- Atuar no tempo real das lutas com cronograma aberto, flexível e variável;
- Construir apostas para além das hipóteses científicas;
- Criar um ambiente de investigação apropriado para a atuação acadêmica de militantes/ativistas;
- Trabalhar em rede com múltiplos atores (e não como assessores técnicos).

Obviamente, também a aplicação de tais diretrizes se esbarra em uma série de contradições, limitações e desafios, exigindo que adaptações sejam feitas em cada frente de investigação. Dentre tais desafios, cabe citar a heterogeneidade e as disputas presentes entre os parceiros e, muitas vezes, entre os próprios pesquisadores. A pluralidade das redes em que o grupo atua (envolvendo movimentos organizados, associações de bairro, coletivos, partidos políticos, etc.) revela divergências e conflitos internos de interesses que têm que ser constantemente negociados entre os envolvidos. Como já mencionado, as temporalidades das lutas e do trabalho de pesquisa também são muito distintas. O tempo exigido para a reflexão acadêmica rigorosa vai, muitas vezes, de encontro à urgência das demandas das lutas, que exigem a produção de informação quase imediata. Todos esses aspectos são intrínsecos aos processos investigados e refletem a diversidade dos atores enredados nas lutas urbanas. Contudo, conformam-se também obstáculos, riscos e ruídos que atravessam constantemente o método proposto e provocam tensões na produção de informação pelo grupo.

3.2 Repertório de processos e plataformas de trabalho das Cartografias Indisciplinares

Analisando as cartografias produzidas a partir dos quatro eixos descritos acima, no intuito de apontar as principais contribuições e limitações da produção do grupo até 2016, observamos que adotávamos um repertório variado de ações tecnopolíticas, envolvendo desde bancos de dados para uso interno do grupo (Wiki, planilhas Google Docs, mapas no Arcgis), passando por material de comunicação e mobilização, por meio do uso cotidiano da Internet e das redes sociais (fanpages no Facebook, blogs, Youtube, streaming), até o uso de plataformas como Crowdmap, para produzir mapas colaborativos online.

Uma forma de visualização dos processos de investigação que se tornou importante para informar sobre as lutas urbanas foi denominado por nós como Narrativa Cartográfica, com links para matérias em meios de comunicação, legislação, documentos acadêmicos e de divulgação. Esse modo cotidiano de narrar utilizava uma página de blog por frente de ação do grupo, como repositório dinâmico de todos os conteúdos produzidos a respeito dos temas acessados e conectados (por meio de hiperlinks), dando acesso também às linhas do tempo e aos mapas georreferenciados produzidos em outras plataformas e embarcados1 ao blog de cada narrativa.

Com relação à noção do pesquisador como ator inserido e ativo nas redes investigadas, os processos de construção de informação envolvem também a participação em reuniões de conselhos, audiências públicas e rodas de conversa junto aos movimentos sociais. Muitas vezes, essa atuação levou o grupo a auxiliar na produção de peças jurídicas para representações e denúncias em órgãos como o Ministério Público ou Conselhos Municipais ou, de forma alternativa, se refletiu na produção de eventos artísticos ou culturais.

É essencial, contudo, que essa informação construída em rede repercuta também na produção acadêmica do grupo. Dessa forma, temos organizado seminários nacionais e internacionais que são momentos de troca entre pesquisadores parceiros de outras instituições, bem como de consolidação da reflexão científica, política e cultural. Também, nesse sentido, foi criada a revista indexada Indisciplinar (https://bit.ly/2CqM1Nk), cuja linguagem híbrida articula textos mais acadêmicos a ensaios e conteúdos artísticos (ensaios fotográficos, projetos de arquitetura e urbanismo, entre outros), com uma atenção especial ao seu projeto gráfico.

Sob o ponto de vista do tripé ensino-pesquisa-extensão, há uma oferta sistemática de disciplinas de graduação no curso de Arquitetura da UFMG, articuladas aos temas das investigações em andamento. Sempre que possível, optamos por disciplinas abertas aos alunos de todos os cursos da universidade. São outra maneira explorada para articular investigação acadêmica que envolva ensino, pesquisa e extensão.

A primeira dessas disciplinas abertas – ofertada em 2013 – aprofundava o processo de cartografar movimentos e grupos sociais importantes para a ocupação insurgente do território da área central de Belo Horizonte. Aos poucos, iniciava-se um processo de não somente atuar na microesfera, junto às redes de luta urbana, mas de também produzir informação e conhecimento capazes de relacionarem a atuação local com lógicas transescalares. Dessa forma, tem sido possível auxiliar as resistências com informações que dêem visibilidade aos pontos cegos das lutas: dados complexos sobre grandes projetos urbanos e decisões numa esfera ampliada, muitas vezes desconsiderados pelos grupos atuantes na microescala. Tal esforço trouxe a necessidade de avançar na cartografia de forma colaborativa e uma grande aposta foi, e tem sido, a construção coletiva de informação sistematizada e sintética, via infográficos, diagramas e produção de plataformas digitais. Em todos esses processos, a produção é feita de maneira coletiva, envolvendo desde professores doutores até alunos de graduação, incluindo os mestrandos e doutorandos do grupo, cujos temas dos projetos de pesquisa passam a constituir novos temas de investigações do Indisciplinar, ou se associam a frentes de ação existentes.

4 Método cartográfico, genealógico e em platôs

Em todas as atividades e ações relatadas no tópico anterior, o intuito foi dar visibilidade e potencializar as lutas dos movimentos sociais atuantes em Belo Horizonte, por meio da produção de contra-narrativas divulgadas pelos canais acadêmicos (eventos, revistas especializadas, livros), pelas redes socais, e também em representações e relatórios usados em momento de denúncia e/ou negociação com o poder público. O material produzido pelo grupo tinha, e ainda tem, como objetivo principal a contraposição à informação dada e veiculada pelos discursos hegemônicos.

Com o golpe político ocorrido no Brasil em 2016, foi se tornando urgente cartografar não só os movimentos de luta, mas também as lutas em movimento, ou seja: os desdobramentos das disputas em jogo, seus avanços e seus impasses, suas fragilidades e contradições. Percebemos que era preciso, inclusive, complexificar o próprio conceito de resistência, que, para cada grupo militante e/ou ativista, tinha conotações diversas, e, em várias ocasiões, não convergiam para um objetivo comum. Além disso, observamos que a crítica à aproximação perversa entre o Estado e o Capital não deveria ser confundida com um discurso de desvalorização do Estado, recorrente até então no meio acadêmico, inclusive em nossa própria produção. Tal crítica muitas vezes menosprezava a importância do papel do Estado para a promoção de políticas públicas voltadas à equidade e à justiça social no nosso país. Foi necessário repensar conceitos, discursos e modos de atuar que vínhamos utilizando. Incluir o estudo do método como uma das principais frentes de investigação do grupo, portanto, constitui um passo fundamental dessa revisão conceitual.

4.1 Construindo um método cartográfico

É importante ressaltar que, desde o início do Indisciplinar, a filosofia da diferença proposta por Deleuze e Guattari é uma referência importante. Como já mencionado no tópico anterior, o conceito de rizoma, por exemplo, é o principio-base para o entendimento da cartografia como via de experimentação e construção de mapas móveis e abertos, suscetível a constantes conexões, a partir da qual a realidade é apresentada e modificada (DELEUZE; GUATTARI, op. cit., p. 22). A realidade aqui é entendida como campo de forças, no qual as dinâmicas entre grupos são configuradas e reconfiguradas sistematicamente.

O grupo também encontrou na Teoria Ator-Rede (LATOUR, 2012) uma referência conceitual importante, a partir, inclusive, de uma semelhança conceitual entre rede e rizoma. No livro Reagregando o Social, Latour retoma essa teoria e, mesmo afirmando não se tratar de um método, é possível observar diretrizes metodológicas para a construção de uma cartografia. Para tal, o autor propõe, primeiramente, se alimentar de incertezas para as quais apresenta cinco fontes: 1) Não há grupos, apenas formação de grupos; 2) A ação é assumida; 3) Os objetos também agem; 4) Questão de fato vs questão de interesse; e 5) Escrever Relatos de Risco.

Com relação à primeira incerteza, Latour (2012) afirma não haver grupos por si mesmos, apenas formação de grupos, o que indica a necessidade de se mapear as controvérsias em torno dessas formações. O autor sugere que sejam identificados os porta-vozes da formação de grupo que se pretende investigar, seus anti-grupos, vínculos compartilhados e fronteiras estabelecidas (idem, p. 49-71).

Quanto à segunda incerteza, se, por um lado, a ação deve ser percebida para além do ato em si, ao mesmo tempo, não é pertinente a fusão e redução de todas as forças a um único vetor de caráter exclusivamente social. A origem da ação é incerta, e assim ela deve permanecer. É preciso manter a surpresa e o acontecimento. O conceito latouriano de ator-rede carrega esta simultaneidade: o ator está submetido a forças de poder presentes na rede, mas também interfere e age nessa rede. Trata-se, pois, de um conceito relacional do que seja ator, identificável através da sua ação na rede, mas, ao mesmo tempo, que considera essa ação também incerta e deslocada.

Sobre a natureza dos fatos, na construção de uma cartografia a partir das incertezas, não se deve buscar a unificação prematura da realidade em questões de fato, mas manter o desdobramento das questões cartografadas em permanente movimento. Isso implica na mobilização de entidades diversas para a explicação de uma “sólida realidade objetiva” (idem, p. 135), na qual a “artificialidade e a realidade caminham juntas, sem antagonismos” (idem, p. 129) e “fabricação e artificialidade não são o oposto de verdade e objetividade” (idem, p. 183). Nesse processo, é necessário que as questões de interesse sejam evidenciadas e que a realidade seja desdobrada para não ser unificada prematuramente. Para isso, é importante prestar atenção às diversas realidades heterogêneas, como também “alimentar-se de incertezas” (idem, p. 169), em vez de definir prematuramente a aparência de uma só realidade.

A incerteza relativa à natureza dos objetos é provocada por Latour a partir da seguinte afirmação: “qualquer coisa que modifique uma situação fazendo diferença é um ator” (idem, p. 108, grifo do autor), mesmo que essa coisa seja não-humana, não só determinando, mas autorizando, permitindo, estimulando, interrompendo, etc..

A última incerteza apontada por Latour refere-se à escrita dos relatos, que, segundo ele, é sempre uma atividade de risco. Considerando que a Cartografia das Controvérsias tem como objetivo a construção dos fatos, ou seja, “prestar atenção renovada ao número de realidades heterogêneas que entraram na fabricação de certo estado de coisas” (idem, p. 136), o construtivismo proposto se opõe frontalmente ao absolutismo e, de certa maneira, a um possível relativismo. Nesse ponto, o autor afirma que “a solução para o relativismo é mais relatividade” (idem, p. 180), entendida, aqui, como a atividade de relatar.

Ainda segundo Latour, na segunda parte do mesmo livro é feita uma outra convocação: aprender a “topografia do social” (idem, p. 247), a partir de uma “projeção bidimensional” (idem, p. 248). Para tal, é preciso ressituar o global, redistribuir o local, ligar os pontos revelados (Figura 1).

Fig. 1: Topografias do rizoma. Fonte: Marc Ngui, 1987. Disponível em: <http://www.bumblenut.com/drawing/art/plateaus/index.shtml>. Acesso: 28 out. 2019.

É sabido que Latour não pretendeu a construção de um método, e muito menos de uma metodologia, mas apenas de um “guia de viagem” (idem, p. 38). Entretanto, o grupo se baseou em seus pressupostos para propor a construção de um “método cartográfico, genealógico e em platôs”, assumindo, com isso, tanto os avanços que esse desenho pode proporcionar, como também todos os riscos que essa empreitada possa oferecer. Para se chegar a um mapa complexo e rizomático, optou-se por iniciar esse processo por meio de perguntas simples, evitando agrupamentos preestabelecidos (econômicos, políticos, sociais, culturais, entre outros), que podem escamotear associações de dimensões variadas e híbridas.

Dessa maneira, foi definido um elenco de 4 perguntas: o que? (evento), por que? (narrativas ou figurações), quem? (atores-humanos) e o que? (atores não humanos). As respostas a essas perguntas configuram os nós da rede em construção, a partir dos quais será possível identificar as formações dos grupos (como?) e as conexões entre os nós (quais as relações de força?). Ao organizar essa rede em uma linha do tempo (quando?), torna-se possível mapear seus desdobramentos e algumas das controvérsias mais evidentes.

Os eventos podem ser mapeados a partir de fontes acadêmicas (livros, teses, dissertações, artigos, etc.), das mídias hegemônicas ou não (jornais, televisão, redes sociais, etc.), em entrevistas formais ou conversas informais, disparadas por meio de jogos, vídeos e outros modos de interação. Com isso, pretende-se a construção de uma genealogia dos fatos. Para um mesmo evento (um fato marcado no tempo), há mais de uma narrativa. Trata-se, no dizer de Latour (idem, p. 87), de uma figuração, ou seja, formas diferentes que são atribuídas a uma mesma ação, sem que se faça uma separação precoce do que possa ser falso ou verdadeiro,exato ou figurativo. A partir da diversidade de narrativas, será mapeada a primeira controvérsia gerada por um mesmo evento (Figura 2).

Fig. 2: Diagrama de eventos e narrativas. Fonte: Grupo Indisciplinar, 2019. Disponível em <http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/>. Acesso em: 28 out. 2019

Para cada narrativa, é possível identificar os atores humanos e os atores não-humanos associados. Com isso, as formações de grupos poderão ser mapeadas, como também suas fronteiras, a partir das quais, poder-se-á evidenciar os grupos que se colocam em lados opostos em um determinado contexto e/ou circunstância (anti-grupos), e, principalmente, as eventuais interseções entre as formações identificadas, configurando a segunda controvérsia (Figuras 3 e 4).

Fig. 3 e 4: Diagrama das formações dos grupos. Fonte: Grupo Indisciplinar, 2019. Disponível em: <http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/>. Acesso em: 28 out. 2019

Nas fronteiras entre os grupos e os anti-grupos será possível mapear os atores (humanos e não-humanos) que estejam associados a formações diferentes, o que permitirá a identificação da segunda controvérsia (Figura 5).

Fig. 5: Diagrama de identificação da controvérsia 2. Fonte: Grupo Indisciplinar, 2019. Disponível em: <http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/>. Acesso em: 28 out. 2019

Esses diagramas podem ser ancorados em uma linha do tempo, incorporados a outra pergunta simples feita no início do processo: quando? É importante ressaltar que essa linha do tempo não tem um sentido único, em direção a um futuro ou ao progresso. Será possível, a partir dessa ferramenta temporal, que se faça o mapeamento dos desdobramentos e das rupturas das formações de grupo de forma não causal. Além disso, a identificação dos atores porta-vozes será feita a partir da identificação daquele que possui o maior número de conexões. O surgimento ou o desaparecimento de um determinado ator (humano ou não-humano) também pode sinalizar algo importante (Figura 6).

Fig. 6: Diagrama das formações de grupo e seus desdobramentos. Fonte: Grupo Indisciplinar, 2019. Disponível em: <http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/>. Acesso em: 28 out. 2019.

A linha do tempo será uma referência para várias camadas superpostas, entendidas como platôs. Esse platôs podem ter dimensões escalares (local, nacional, global, por exemplo), conceituais (um mesmo conceito abordado por diferentes maneiras) ou formais (linha do tempo, mapas, narrativas, vídeos). Afinal, “tudo são dados” (idem, p. 195). Para a construção de um rizoma complexo, mas não total e absoluto, será preciso fazer conexões transversais entre essas camadas, para a identificação de outras controvérsias (Figura 7).

Fig. 7: Diagrama de uma pesquisa em platôs. Fonte: Grupo Indisciplinar, 2019. Disponível em <http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/>. Acesso em: 28 out. 2019

Assim, diante de um volume grande de informações levantadas, conexões mapeadas e controvérsias cartografadas, o Grupo Indisciplinar está desenvolvendo uma plataforma online denominada INDAtlas (Figuras 8 e 9). O propósito é criar um banco de dados aberto e interativo, que seja composto por uma dimensão temporal (linha do tempo) e uma dimensão espacial (mapas), assim como grafos de conexão entre eventos, narrativas, atores humanos e não-humanos, conectados ao mapa e à linha do tempo. Entretanto, não há uma pretensão de totalidade nas cartografias produzidas, apenas de multiplicidade de informações e relatos.

Fig. 8 e 9: Plataforma INDAtlas. Fonte: Grupo Indisciplinar, 2019. Disponível em <http://indatlas.indisciplinar.com/themes/deff3cf8-aa53-4e84-83fd-9da639b03932/>. Acesso em: 28 out. 2019.

Além dessa plataforma, o Indisciplinar tem uma preocupação grande com a acessibilidade e a estética do material gráfico gerado, e, cada vez mais, o grupo se interessa por construir interfaces com a linguagem e os suportes das artes visuais, tais como documentários de fotografias e de vídeos, nos quais as vozes dos entrevistados sejam amplificadas e seus rostos sejam vistos.

5 Considerações finais

Iniciamos esse artigo com a discussão sobre a construção da informação, a partir do entendimento de que tal construção é atravessada por relações de poder. Na sequência, apresentamos as diretrizes elencadas pelo Indisciplinar para o desenvolvimento dos processos cartográficos disparados pelo grupo, bem como suas principais dimensões e o repertório de processos e plataformas de trabalho desenvolvidos. Por fim, apresentamos o "método cartográfico, genealógico e em platôs", idealizado por pesquisadores do grupo, no intuito de se complexificar o entendimento sobre o avanço do Capital sobre a vida cotidiana dos moradores de territórios socialmente vulneráveis, evitando com isso dicotomias simplistas e análises frágeis, baseadas em conceitos essencialistas pré-determinados.

Acredita-se que a sistematização dos métodos de produção do conhecimento dentro dos grupos de pesquisa seja importante para contribuir e fomentar reflexões sobre as disputas de poder que envolvem a legitimação de determinadas informações em detrimento de outras. Interessa lembrar que a produção do espaço é cada vez mais atravessada por forças que contribuem para o avanço do Capital, inclusive na tecitura da vida cotidiana e na produção de subjetividades nos centros urbanos. Mapear como se dão as formações dos grupos, a partir da sua conexão com determinadas narrativas, permite identificar os pontos de interseção entre os grupos, como também as possíveis armadilhas recorrentes nos processos de disputas. Aposta-se, com isso, que seja também possível fortalecer as conexões entre os processos coletivos e colaborativos já em ação nas disputas territoriais.

Entretanto, os desafios são grandes, visto que se trata de uma abordagem teórico-metodológica que pede calma às explicações, que, mesmo não supondo neutralidade científica, convoca o pesquisador a “alimentar-se de incertezas”, a dedicar-se às maquinações e ao funcionamento, para só então desdobrar e analisar os arranjos e os movimentos das redes.

Finalmente, entendemos que o método de investigação aqui discutido se insere em uma visão de universidade cujo papel extrapola a mera transferência de conhecimentos e a formação de profissionais para o mercado de trabalho. A universidade é assumida, portanto, como um ator social de muita relevância na produção e no debate das cidades contemporâneas e das políticas públicas urbanas. Contudo, assumir-se como um dos atores da rede não significa que a academia deva ocupar um lugar de saber único e autoritário. Ao contrário, os pesquisadores precisam participar das lutas com os movimentos sociais. O que deve ser assegurado é a autonomia do pensamento crítico, inclusive para que os pontos cegos das lutas sejam visibilizados, e que as diferenças e os avanços das lutas sejam afirmados, mas que as armadilhas postas sejam estrategicamente denunciadas ou contornadas, como no caso do esvaziamento do papel do Estado. Dentro dessa abordagem, a extensão conquista um grande protagonismo, uma vez que é a principal responsável pela articulação entre universidade e sociedade, possibilitando uma produção acadêmica mais coerente com a realidade social e política do Brasil atual. As controvérsias e as contradições vão sempre surgir, cabe a nós estarmos sempre atentos a elas.

Ao longo de todo o trabalho do grupo, nossas inquietações e ações são discutidas, e a escrita se faz como forma de reflexão e crítica, possibilitando que novas percepções e novas proposições aflorem, sem a pretensão de se chegar a conclusões definitivas. Assim, sem ignorar a espessura dos relatos, nem esgotar as controvérsias ou aplainar os dissensos, assumimos um saber em processo e o risco inevitável que há em qualquer sistematização do pensamento e do conhecimento. Tramas são desfiadas e retraçadas, mas, com certeza, alguns fios permanecem soltos, permitindo que novas tecituras sejam construídas.

Agradecimentos

Agradecemos ao apoio dos nossos programas e projetos; à FAPEMIG, ao CNPq, à CAPES, à PRPq da UFMG, à PROEX da UFMG, e ao IFMG Campus Santa Luzia. Agradecemos também ao LabCidade, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, pelo convite para participarmos da pesquisa Territórios Populares desenvolvida em rede com vários grupos e laboratórios de todo o Brasil. Aos pesquisadores e laboratórios parceiros de outros grupos de pesquisa e instituições de ensino. Aos movimentos sociais com os quais trabalhamos em rede, em diversas lutas urbanas. Finalmente, deixamos nossos mais sinceros agradecimentos a todos os colegas pesquisadores do Indisciplinar que tornam todos os nossos trabalhos coletivos, e estão presentes em nossas cartografias de múltiplos modos.

Referencias

DELEUZE, G. Foucault. São Paulo: Editora Brasiliense, 2006.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34, v. 1, 1995. . 

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador/Bauru, São Paulo: Edufba/Edusc, 2012.

SÁ, A. I. J. A. Dados espaciais online e a emergência de novas cartografias: investigando a produção espacial a partir de fontes da web. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL URBANISMO BIOPOLÍTICO, 1., 2018, Belo Horizonte. Anais...

RENA, N. S. A.; SÁ, A. I. J. A.; LOPES, M. S. B.; FRANZONI, J. Á. Grupo de Pesquisa Indisciplinar: Método, Ativismo e Tecnopolítica na Defesa dos Bens Comuns Urbanos. In: CONGRESO INTERNACIONAL CONTESTED_CITIES, 5., 2016, Madrid. Anais...

SANTOS, R. E. N. Ativismos cartográficos: notas sobre formas e usos da representação espacial e jogos de poder. Revista Geográfica de América Central, v. 2, p. 1-17, 2011. Disponível em: <http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/view/2299>. Acesso em: 14 mar. 2019.

TORET, Javier; @DATAANALISYS15M. Tecnopolítica: la potencia de las multitudes conectadas. El sistema red 15M, un nuevo paradigma de la política distribuída. IN3 Working Paper Series. Barcelona: UOC, 2013. Disponível em: <http://tecnopolitica.net/sites/default/files/1878-5799-3-PB%20%282%29.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2019.

1 Conteúdos multimídia de aplicações externas que são integrados a outros sites por meio de tags HTML.

Indisciplinar Cartographic Method: from rhizome’s topology to topography

Marcela Lopes, Natacha Rena, Ana Isabel de Sá

Marcela Lopes is an Architect, Civil Engineer and Doctor in Architecture and Urbanism. She is an Adjunct Professor at the School of Architecture and Design of the Federal University of Minas Gerais, Brazil, and a collaborator of the Graduate Program in Architecture and Urbanism at the same university. She is a researcher at the Indisciplinar research group and the coordinator of the Nature Politics extension program. She studies space production processes, housing, technical advice for self-built urban occupations, collaborative cartography and shared design processes.

Natacha Rena is an Architect and Urbanist and Doctor in Architecture and Urbanism. She is an Associate Professor at the School of Architecture and Design of the Federal University of Minas Gerais, Brazil, and the Graduate Program in Architecture and Urbanism at the same university. She coordinates the Indisciplinar research group and the IndLab extension program. She works on geopolitics and territory, the cartography of urban struggles, contemporary architecture and Ibero-American collectives.

Ana Isabel de Sá is an Architect and Urbanist and Master in Architecture and Urbanism. She teaches at the Federal Institute of Education, Science, and Technology of Minas Gerais, Brazil, both in the Architecture and Urbanism and Building Technics courses. She is a researcher of the Indisciplinar research group and works on the topics such as urban technopolitics, collaborative cartography, public participation policies, and urban territory co-design.


How to quote this text: Lopes, M. S. B., Rena, N. S. A. and Sá, A. I., 2019. Indisciplinar Cartographic Method: from rhizome’s topology to topography. Translated from Portuguese by Ana Isabel de Sá and Danilo Caporalli. V!rus, Sao Carlos, 19. [e-journal] [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus19/?sec=4&item=6&lang=en>. [Accessed: 28 April 2024].

ARTICLE SUBMITTED ON AUGUST 28, 2019


Abstract:

In this article, we will relate to the theme Construction of Information from three topics, focusing on the recent production of Indisciplinar’s Research Group, from the Federal University of Minas Gerais, about ongoing disputes in various territories of Belo Horizonte – the capital of Minas Gerais state in southeast Brazil. For this, we developed the proposal of an own work method that would make it possible to construct information by articulating the needs and the temporalities of the struggles, with the demands of scientific/academic production, always in a collective and networked way. In the first topic, "1. Field Epistemological Dispute", we discuss the concepts related to information, knowledge, as well as knowledge and episteme, trying to highlight the way these concepts are constructed and how power relations permeate this construction. To this end, we resort to the thinking of some French poststructuralist philosophers such as Michel Foucault, Gilles Deleuze, Felix Guattari, and Bruno Latour. In "2. Indisciplinar's Production: cartography and technopolitics", we will present some of the reflections made by the group since 2012, about the production of the contemporary city. These reflections allowed us to systematize guidelines for the cartographies performed, enumerate the main dimensions to be addressed and organize our repertoire of processes and work platforms. In the topic "3. Cartographic, genealogical and plateau method", we will discuss how the collective construction of information has been developed by Indisciplinar, in order to coherently approach the adopted theoretical assumptions and their methodological research guidelines, constituting an operative method for your investigations.

Keywords: Information, Cartography, Genealogy, Actor-network, Associations, Controversies


1 Introduction

In this article, we start from three topics to talk about the Construction of Information, focusing mainly on the recent production of UFMG’s1 Research Group Indisciplinar concerning urban disputes in various territories of Belo Horizonte – the capital of Minas Gerais state in southeast Brazil.

In the text’s first topic, "Epistemological Dispute in the Field", we part from the discussion about the concepts related to information, knowledge, knowledge, and episteme, trying to highlight the way they are constructed and how power relations cross this construction. For this, we resort to the thought of some French poststructuralist philosophers such as Michel Foucault, Gilles Deleuze, Felix Guattari, and Bruno Latour.

In topic 2, "Indisciplinar’s Production: cartographies and technopolitics", we present some of the reflections made by the research group, since 2012, which allowed us to systematize guidelines for the cartographies, list the main dimensions to be addressed, and organize our repertoire of processes and work platforms.

In topic 3, "Cartographic, genealogical and plateau method", we will discuss the guidelines for the collective construction of information pursued by the group. Since 2012, we have been producing what we identify as “counter narrative”. These are incisively opposed to actions that seek to promote the exclusion of vulnerable population from certain territories in Belo Horizonte, aiming to give visibility and enhance the struggles of militant and activist social movements. However, after the political coup that occurred in Brazil in 2016, contradictions between the various social movements became more evident, which led us to map new controversies, considering that even the very concept of resistance is in dispute.

We believe that some procedures adopted in the processes of dispute and opposition to neoliberal policies have also produced negative effects on various scales, considering, at the national level, the various setbacks that followed the coup. Moreover, we realize that, although it is still necessary to highlight the perverse approximation between the State and the Capital, it would not be pertinent to conduce a tabula rasa with several of the actions promoted by the state, whose role as regulator and provider of public policies is still, in our opinion, of utmost importance for the promotion of equity and social justice in Brazil.

Thus, in order to feed uncertainties and map emerging controversies (Latour, 2005) in the production of urban space, Indisciplinar has engaged, after 2016, in the difficult task of coherently approaching the theoretical assumptions adopted, as well as their methodological research guidelines. The challenge during this period was to build a cartographic, genealogical, and plateau method that was also operative. It was necessary to burst some of our guiding concepts, eliminate binarisms, and invent new approaches to the field of extension, research and teaching practices, in order to achieve new ways of giving visibility to the information we collectively produce.

2 Epistemological dispute in the field

To reflect on the construction of information, we need to discuss how truth regimes work throughout history. In the case of the production of space, it’s paramount to discern what are the mechanisms of visibility and legitimation of one fact or event to the detriment of others. If we agree with Michel Foucault, when he states that “ truth isn't outside power, or lacking in power” (Foucault 1979, p. 12), we also agree that there is no neutral information, and that there is no fact that it is not important. For the philosopher, perhaps “One can agree that structuralism formed the most systematic effort to evacuate the concept of the event, not only from ethnology but from a whole series of other sciences and in the extreme case from history.” (Foucault 1979, p. 12). Thus, the “The problem is at once to distinguish among events, to differentiate the networks and levels to which they belong, and to reconstitute the lines along which they are connected and engender one another” (Foucault 1979, p. 5). For Foucault, it is interesting to construct a history of the episteme, understood as:

the strategic apparatus which permits of separating out from among all the statements which are possible those that will be acceptable within, I won't say a scientific theory, but a field of scientificity, and, which it is possible to say are true or false. The episteme is the 'apparatus' which makes possible the separation, not of tile true from the false, but of what may from what may not be characterised as scientific. (Foucault 1979, p. 246).

Over time, Foucault will broaden and incorporate other devices into his studies, considering them “is a much more general case of the episteme; ”understanding episteme as a discursive device, unlike the device “its general form is both discursive and non-discursive, its elements being much more heterogeneous” (Foucault 1979, p. 246). We understand that by the term “device” he attempts to outline a heterogeneous ensemble that encompasses discourses, institutions, architectural organizations, regulatory decisions, laws, administrative measures, scientific statements, and philosophical, moral, philanthropic propositions. For him, the things said and unsaid are the elements of the device, the device being the network that can be established between them. It also outlines the nature of the relationship that may exist between these heterogeneous elements, assuming a type of game, that is, change of positions and function modifications, equally different. The device can also be understood as a formation that, at a given historical moment, had as its main function to respond to an urgency: “The apparatus thus has a dominant strategic function” (Foucault 1979, p. 244).

By dialoguing with Foucault's thoughts, starting from the concept of device, Deleuze will find a concrete dimension in the author's study of panoptism – “an optical or luminous arrangement ” – as well as an abstract dimension – “a machine that not only affects visible matter in general (...), but also in general passes through every articulable function” (Deleuze, 2006, p. 34). Foucault has named such an abstract dimension as “diagram,” a concept that interests us as a way to think of a method within these theoretical assumptions.

The diagram or abstract machine is the map of relations between forces, a map of destiny, or intensity, which proceeds by primary non-localizable relations and at every moment passes through every point (...). What do we mean here by immanent cause? It is a cause which is realized, integrated and distinguished in its effect.(Deleuze, 2006, p. 36-37).

Following this logic, it is necessary to conduct a “genealogy of practices” for the study of diagrams, understanding genealogy as a knowledge insurrection, not so much against the contents, methods and concepts of science, but of an “insurrection of knowledges that are opposed primarily not to the contents, methods or concepts of a science, but to the effects of the centralizing powers which are linked to the institution and functioning of an organized scientific discourse within a society such as ours" (Foucaut, 1979, p. 171). The genealogy would, therefore, be related to the project of an inscription of knowledge. in the hierarchy of powers proper to science, an undertaking to free historical knowledge from subjection, that is, “capable of opposition and of struggle against the coercion of a theoretical, unitary, formal and scientific discourse.” (Foucaut, 1979, p. 172).

“A diagram is a map, or rather several superimposed maps”, Deleuze conceptualizes (Deleuze, 2006, p. 44). This approximation between the concepts of diagram and map favors the understanding that there is no diagram that does not support, beside the connecting points, “certain relatively free or unbound points, points of creativity, change and resistance” (Deleuze, 2006, p. 44). If the archive corresponds to the form, the diagram corresponds to the force, a becoming of forces that duplicates the history of forms. Forces are revealed in every relationship, from one point to another. And from one diagram to another, new maps are drawn.

In short, when constructing information, there are always interests and crossing-overs, which are seldom very visible. The challenge of an investigation is to map the force relations at stake, as well as to give visibility to information and knowledge which is not always evident or stated.

3 Indisciplinar´s production: cartography and technopolitics

The concept of cartography has always played a fundamental role in Indisciplinar´s production, both from the theoretical-philosophical point of view proposed by Deleuze and Guattari (2005) – through the author's idea of rhizome –, and by its traditional meaning as territorial representation (map production). The concept of rhizome understands cartography “not only as a method of classical territorial geography, but as a daily micropolitical tactic composed of political action; an insurgent, dynamic, always procedural and creative making” (Rena et al, 2016, p. 15). Territorial maps, in turn, are one of the main graphic resources explored for the production and communication of information in the projects and actions of the group. Both meanings are constantly entangled and crossed in our cartographic production, guiding our way of acting and relating to the investigated themes: understanding ourselves not as external observers, but as other networked actors, thus affecting the mapped phenomena, as well as being affected by them.

Nowadays, the application of many cartographic tools seeks to expand the reach and to democratize access to information, subverting cartography’s traditional role and implementing it in counter-hegemonic processes, with minority groups of society, or in peripheral territories. Renato Emerson dos Santos defines these practices as new social cartographies, participatory cartographies, action cartographies, counter-mappings, among others (Santos, 2011, p. 1). These are characterized by the valorization of aspects often made invisible by hegemonic spatial representation, by the use of collective production and participatory dynamics, and by the break with cartographic conventions, resulting in the invention of new ways of representing the territory:

The tensioning of the power relations they promote appears in three central spheres: in the cartographic production process, in which actors (social movements, public managers, cartographers, etc.) dispute the participation in elaborating cartographic representation instruments; in the cartographic object, which disputes what is mapped and how it is mapped; and in the use of cartography, which increasingly appears as an instrument of disadvantaged groups. (Santos, 2011, p.2).

The advancement of digital communication technologies, together with the new visualization and simulation tools for spatial information – GIS: Geographic Information Systems – has been contributing increasingly to spread such practices. Therefore, the distance between the average citizen and the production / visualization of territorial information is reduced by the daily use of platforms and applications such as Google Maps, Open Street Maps, Waze, Uber, among others. Popularization of Internet-connected mobile devices, such as smartphones and tablets, is another important factor in this process. Firstly, because they have lower costs in comparison to desktop computers, but mainly because of their mobility, enabling such technologies to be accessed and used in conjunction or as mediators of urban experience. (Sá, 2018, p. 406).

In this sense, the new cartographic dynamics mentioned can be seen as technopolitical practices or tools (Toret, @Dataanalysis15M, 2013, pp.1-2), understood as the association between networks and territories, aimed at political and social transformation:

the tactical and strategic use of technological devices (including social networks) for organization, communication and collective action. At the same time, we differentiate this concept—and the practices it tries to cover—from cyberactivism (Tascón and Quintana, 2012) and clicktivism. Technopolitics can connect to cyberactivism insofar as collective action is limited to the digital sphere; nevertheless, in a full sense, technopolitics points towards a series of collective practices that can take place or start on the Internet, but that do not stay there. (Toret, @Dataanalysis 15M, 2013, p. 2).

Such technological advances relate to the territory, however, in controversial ways, making room for new approaches to spatial representation, for an expansion of who maps what and how. On the one hand, there is in fact a greater infiltration of geographical representation tools in everyday life, which increases people's ability to interpret and read spatial visualizations, and gives support to collaborative exercises of territorial knowledge production. On the other hand, most of the heavily used platforms are proprietary in nature, increasingly concentrated in the hands of technology giants (Google, Facebook, Amazon, etc.). Avalanches of spatial data produced daily by their use stays centered on these few companies, generating robust and strategic territorial databases on the operation and use of urban spaces to which public authorities and city dwellers do not have access. Thus, the geopolitical role of cartographic production as an instrument of domination and exercise of power is rescued – generally made possible, paradoxically, by the same tools that propose to expand and democratize access to the production of geographic information.

The group's cartographic production finds itself precisely in this intricate dispute field. Aware of the existing contradictions, but also of cartography’s power to give visibility to the phenomena and social groups investigated – both as a representation tool, and as collective imagination and territorial proposition –, we sought to structure a set of guidelines for the group's cartographic method. At this moment, the understanding of cartography as a philosophical concept is rescued to articulate the reflection on the way of acting and working, which also guides the production of territorial cartography.

3.1 Main dimensions involved in the investigative process and guidelines for Indisciplinar’s cartographies

Although we have been working with territorial intervention-research on several fronts since 2012, only in 2016 did we pursue a more systematic outline of the processes and methods adopted by Indisciplinar. During the prior four initial years, the group's numerous actions with social movements and other networked collectives against the advances of neoliberal urbanism – promoted by a series of works involved in Major Urban Projects (notably OUC Nova BH) – nearly monopolized the group's activities.

In 2016, however, we felt the need to produce a self-analysis of the group's production so far, as well as to understand the main theoretical and practical aspects that guided our ways of building and transmitting information. This effort to systematize the work, which had not yet been possible due to the temporal specificities of the struggles with which the group was involved – whose urgency often clashes with the longer time required by academic research – resulted in the presentation of the article “Research Group Indisciplinar: method, activism and technopolitics in the defense of urban commons” at the Contested Cities 2016 congress in Madrid. The text presents a cartography of the main actions of the group between 2012 and 2016, discussing how our teaching, research and extension programs and projects had been merging from four main dimensions:

I) Spatial / territorial: a) through the creation of collaborative digital mappings that bring together georeferencing tools with the possibility of acting in network and in real time, using softwares such as Crowdmap, Googlemaps and Mapas de Vista, b) producing collective cartographies from face-to-face meetings, such as workshops; II) Temporal: through the production of timelines that analyze the chronology of the investigated phenomena and their relationship with parallel events / events of the urban, national and global dynamics; III) Conceptual and informational: using Wiki pages (ie, enabling the collaborative, procedural and networked production of knowledge), as a way of organizing the theoretical precepts that guide our research, as well as the means of producing / storing databases. ; IV) Communication or networking: from the tactical use of social networks and widely used communication channels on the Internet, such as fanpages and events on social networks, blogs, etc. (Rena et al, 2016, p. 3)

From that moment on, the investigation of the work method became one of the main work fronts of the group, advancing in parallel, but in an articulated manner, to the network action with the urban struggles underway in the territory. Thus, the group starts to focus more on the processes and devices used by researchers-interveners to generate and transmit information, starting to invest even in the production of its own tools such as the IndAtlas digital platform – which will be mentioned in the next topic. Another result of this effort was a list of guidelines for Indisciplinar’s Cartography, which seeks to enumerate instructions for the group's work in line with its theoretical assumptions:

- To make-know-transform, cartographing reality;
- To activate micropolitics in a transescalar mode;
- To constitute processes of political, academic, militant and / or activist investigation that do not separate theory from practice;
- To use destituent and constituent tacit and strategic techno-political devices
- To build research-intervention processes from the experience in struggles. Unlike the method - Meta-Hodos - scientific, traditional, cartesian and positivist, which is a way of proceeding to accomplish goals, cartography is a Hodos-Meta, which has its own path as its goal;
- To investigate imbricating subject and object in the information construction processes;
- To act in the blind spots of the struggles, studying and translating, in a synthetic way, the laws and official documents, for example;
- To enhance ubiquity, using technopolitics (networks and streets);
- To act in the real time of struggles with open, flexible and variable agendas;
- To build from bets that go beyond scientific hypotheses;
- To create an appropriate research environment for the academic performance of activists / activists;
- To work in networks with multiple actors (not as technical advisors).

Naturally, the application of such guidelines also encounters a series of contradictions, limitations and challenges, requiring adaptations to be made on each front of inquiry. Among these challenges, it is worth mentioning the heterogeneity and the disputes present between different partners and, often, among the researchers themselves. The plurality of networks in which the group operates (involving organized movements, neighborhood associations, collectives, political parties, etc.) reveals divergences and internal conflicts of interest that have to be constantly negotiated between those involved. As already mentioned, the temporalities of struggles and research work are also very different. The time required for rigorous academic reflection often conflicts with the urgency of the demands of struggles, which require the production of almost immediate information. All these aspects are intrinsic to the investigated processes and reflect the diversity of actors involved in urban struggles. However, there are also obstacles, risks and noises that constantly cross the proposed method and cause tensions in the production of information by the group.

3.2 Directory of processes and work platforms of Indisciplinar’s cartography

For the analysis of the cartographies produced from the four axes described above, in order to point out the main contributions and limitations of the group's production until 2016, we observed that a varied repertoire of technopolitical actions were adopted. These involved from databases for the group's internal use (Wiki , Google Docs spreadsheets, Arcgis maps), to the use of platforms like Crowdmap, to produce collaborative online mappings, passing through communication and mobilization material, as well as through the everyday use of the Internet and social networks (Facebook fanpages, blogs, Youtube, streaming).

A specific form of visualization that has become important for informing about urban struggles in our research processes is what we have been calling a Cartographic Narrative, comprising links to stories in the media, legislation, academic and outreach documents. This everyday means of narrating used blog pages as a dynamic repositories of all content produced about the themes accessed and connected (through hyperlinks), also providing access to timelines and georeferenced maps produced on other platforms and embedded in the blog of each narrative.

Regarding the notion of the researcher as an actor inserted and active in the investigated networks, the processes of constructing information also involve participation in council meetings, public hearings and talks with social movements. Many times, this way of acting led the group to assist in the production of legal pieces for representations and denunciations in bodies such as the Public Prosecution Service or Municipal Councils or, alternatively, reflected in the production of artistic or cultural events.

It is essential, however, that this network-built information also impacts the academic production of the group. Thus, we have organized national and international seminars which are moments of exchange between research partners from other institutions, as well as opportunities for the consolidation of scientific, political and cultural reflection. Also, in this sense, Indisciplinar’s indexed journal (https://bit.ly/2CqM1Nk) was created, whose hybrid language articulates academic texts with essays and artistic contents (photographic essays, architecture and urbanism projects, among others), dedicating special attention to the publication’s graphic design.

Concerning the teaching-research-extension tripod, there is a systematic offer of undergraduate subjects in the UFMG Architecture course, articulated with the themes of ongoing investigations. Whenever possible, we opt for subjects open to students from all university courses. This is another resource we explore in order to articulate academic research involving teaching, research and extension.

The first of these open subjects – offered in 2013 – focused on mapping movements and social groups important for the insurgent occupation of Belo Horizonte’s central territory. Gradually, began a process of not only acting in the microsphere, together with the urban struggle networks, but also of producing information and knowledge capable of articulating local action with a transescalar thought. Thus, it became possible to aid resistances with information that gives visibility to the blind spots of the struggles: complex data about large urban projects and decisions in a larger sphere, often disregarded by the groups acting in the microscale. Such an effort revealed the need to advance in collaborative cartography and brought the group to bet in the collective construction of systematized and synthetic information through infographics, diagrams and digital platforms. In all these processes, knowledge production is pursued in a collective way, involving from PhD professors to undergraduate students, including the group's master's and PhD candidates, whose themes of research projects become new themes of research for the group, or are associated with existing action fronts.

4 Cartographic, genealogical and plateau method

In all activities and actions reported in the previous topic, the aim was to give visibility to the struggles of social movements working in Belo Horizonte, through the production of counter-narratives published by academic channels (events, journals, books), by social networks, and also in representations and reports used at the time of denunciation and / or negotiation with the government. The material produced by the group had, and still has, as its main objective to produce alternative narratives to contrast with the information given and conveyed by hegemonic discourses.

With the political coup that occurred in Brazil in 2016, it became urgent to map not only the movements in struggles, but also the struggles in motion, that is: the unfolding of the disputes at stake, their advances and their impasses, their weaknesses and contradictions. We realized that it was even necessary to complexify the very concept of resistance, which, for each militant and / or activist group, had different connotations, and on several occasions did not converge to a common goal. Moreover, we note that the criticism of the perverse proximity between the State and capital should not be confused with a discourse of devaluation of the State, which has hitherto recurred in academia, including in our own production. Such criticism often underestimated the importance of the role of the State in promoting public policies aimed at equity and social justice in our country. It became necessary to rethink concepts, discourses and ways of acting that we were using. The study of the method as one of the group's main research fronts, therefore, constitutes a fundamental step in this conceptual review.

4.1 Building a cartographic method

It is important to note that since the beginning of the research group, the philosophy of difference proposed by Deleuze and Guattari has been an important reference. As already mentioned in the previous topic, the concept of rhizome, for example, is the basic principle for understanding cartography as a way of experimentation and construction of mobile and open maps, susceptible to constant connections, from which reality is presented. and modified (Deleuze, Guattari, 2005, p. 22). Reality here is understood as a force field in which the dynamics between groups are systematically configured and reconfigured.

The group also found in the Actor-Network-Theory (Latour, 2005) an important conceptual reference, because of the conceptual similarity between the ideas of network and rhizome. In the book Reassembling the Social, Latour explores the ANT and, even though the author claims that it is not a method, we believe it is possible to observe methodological guidelines for the construction of a cartography. To this end, the Latour first proposes to feed on uncertainties for which he has five sources: 1) No Group, Only Group Formation; 2) Action Is Overtaken; 3) Objects too Have Agency; 4) Matters of Fact vs. Matters of Concern; e 5) Writing Down Risky Accounts.

Regarding the first uncertainty, Latour (2005) states that there are no groups by themselves, only group formations, which indicates the need to map the controversies surrounding these articulations. The author suggests that one should identify the group formation spokespersons, as well as their anti-groups, shared bonds and established boundaries be (Latour, 2005, p. 27-42).

As for the second uncertainty, if, on the one hand, action must be perceived beyond the act itself, at the same time, it is not pertinent to merge and reduce all forces to a single vector of exclusively social character. The origin of the action is uncertain, and so it must remain. One has to keep the surprise and the occurrences going. The Latourian concept of actor-network carries this simultaneity: the actor is subjected to power forces present in the network, but also interferes and acts in this network. It is, therefore, a relational concept of what is an actor, which is identifiable through its action in the network, but at the same time, considers this action also uncertain and displaced.

Regarding the nature of the facts, in the construction of a cartography based on uncertainties, one should not seek the premature unification of reality in matters of fact, but instead keep the unfolding of the mapped questions in permanent motion. This implies the mobilization of diverse entities to explain a “solid objective reality” (Latour, 2005, p. 91), in which “artificiality and reality marching in step” (Latour, 2005, p. 90) and “fabrication and artificiality are not the opposite of truth and objectivity” (Latour, 2005, p. 124). In this process, it is necessary that issues of interest are highlighted and that reality is unfolded so as not to be unified prematurely. For this, it is important to pay attention to the various heterogeneous realities, as well as to “ feed off uncertainties” (Latour, 2005, p. 115), rather than prematurely defining the appearance of a single reality.

The uncertainty regarding the nature of objects is brought about by Latour from the following statement: any thing that does modify a state of affairs by making a difference is an actor” (Latour, 2005, p. 71), even if this object is non-human, not only determining but empowering, allowing, stimulating, interrupting etc.

The last uncertainty pointed out by Latour refers to the writing of the reports, which, according to him, is always a risky activity. Considering that the cartography of the controversies has as its objective the construction of the facts, that is, “meant a renewed attention to the number of heterogeneous realities entering into the fabrication of some state of affairs” (Latour, 2005, p. 92), the proposed constructivism is in direct opposition to absolutism and, to a certain extent, to possible relativism. At this point, the author states that“the solution to relativism is always more relativity” (Latour, 2005, p. 122), understood here as the activity of reporting.

Also according to Latour, in the second part of the same book another call is made: to learn the “topography of the social” (Latour, 2005, p. 170), from a “2-D projection” (Latour, 2005, p. 172). For this, it is necessary to resituate the global, to redistribute the local, and to connect the revealed points (Figure 1).

Fig. 1: Topographies of the rhizome. Source: Marc Ngui, 1987. Available at: <http://www.bumblenut.com/drawing/art/plateaus/index.shtml>. Accessed: 10/28/2019.

It is well known that Latour did not intend to construct a method, much less a methodology, but rather a "travel guide" (Latour, 2005, p. 17). However, the group relied on its assumptions to propose the construction of a “cartographic, genealogical and plateau method”, thus assuming both the advances that this design can provide, as well as all the risks that this venture may offer. In order to arrive at a complex and rhizomatic map, it was decided to start this process by asking simple questions, avoiding pre-established clusters (economic, political, social, cultural, among others), which may mask associations of varied and hybrid dimensions.

Thus, a group of 4 questions was defined: what? (event), why? (narratives or figurations) who? (human actors) and what? (nonhuman actors). The answers to these questions configure the nodes of the network under construction, from which it will be possible to identify the group formations (how?), as well as the connections between the nodes (what are the force relations?). By organizing this network on a timeline (when?), it becomes possible to map its developments and some of the most evident controversies.

Events can be mapped from academic sources (books, theses, dissertations, articles, etc.), hegemonic or non-hegemonic media (newspapers, television, social networks, etc.), in formal interviews or informal conversations, triggered through games, videos and other modes of interaction. With this, a genealogy of facts is intended. For the same event (a fact marked in time), there is more than one narrative. It is, as Latour says (Latour, 2005, p. 55), figuration, that is, different forms that are attributed to the same action, without making an early separation from what may be false or true, exact or figurative. From the diversity of narratives, the first controversy generated by the same event will be mapped (Figure 2).

Fig. 2: Diagram of events and narratives. Source: Indisciplinar Group, 2019. Available at http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/. Accessed on: 10/28/2019

For each narrative, it is possible to identify the human nonhuman actors associated. With this, the group formations can be mapped, as well as their boundaries, from which it can be highlighted the groups that are placed on opposite sides in a certain context and / or circumstance (anti-groups), and mainly the eventual intersections between the identified formations, constituting the second controversy (Figures 3 and 4).

Fig. 3 and 4: Diagram of group formations. Source: Indisciplinar Group, 2019. Available at http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/. Accessed on: 10/28/2019

At the boundaries between groups and anti-groups it will be possible to map actors (human and non-human) who are associated with different formations, which will allow the identification of the second controversy (Figure 5).

Fig. 5: Controversy identification diagram 2. Source: Indisciplinar Group, 2019. Available at: http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/. Accessed on: 10/28/2019

These diagrams can be anchored on a timeline, incorporated into another simple question asked at the beginning of the process: when? It is important to note that this timeline does not have a single direction towards a future or progress. It will be possible from this temporal tool to map out the unfolding and disruptions of group formations in a non-causal way. In addition, the identification of the spokesperson actors will be based on the identification of the one with the largest number of connections. The emergence or disappearance of a particular actor (human or non-human) can also signal something important (Figure 6).

Fig. 6: Diagram of group formations and their unfoldings. Source: Indisciplinar Group, 2019. Available at: http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/. Accessed on: 10/28/2019.

The timeline will be a reference to several overlapping layers, understood as plateaus. These plateaus can have scalar (local, national, global, for example), conceptual (same concept approached in different ways) or formal (timeline, maps, narratives, videos) dimensions. After all, “everything is data” (Latour, 2005, p. 133). For the construction of a complex but not total and absolute rhizome, it will be necessary to make transverse connections between these layers, to identify other controversies (Figure 7).

Fig. 7: Diagram of a plateau research. Source: Indisciplinar Group, 2019. Available at http://territoriospopulares.indisciplinar.com/metodo/. Accessed on: 10/28/2019

Thus, facing a large volume of information gathered, mapped connections and mapped controversies, the research group is developing an online platform called INDAtlas (Figures 8 and 9). The purpose is to create an open and interactive database that is composed of a temporal dimension (timeline) and a spatial dimension (maps), as well as connecting graphs between events, narratives, human and non-human actors, connected to the map and the timeline. However, there is no pretense of totality in the produced cartographies, only of multiplicity of information and reports.

Fig. 8 e 9: INDAtlas platform. Source: Indisciplinar Group, 2019. Available at http://indatlas.indisciplinar.com/themes/deff3cf8-aa53-4e84-83fd-9da639b03932/. Accessed on: 10/28/2019.

In addition to this platform, Indisciplinar has a great concern with the accessibility and aesthetics of the generated graphic material, and the group is increasingly interested in building interfaces with the language and the support of the visual arts, such as photo documentaries and in which the interviewees' voices are amplified and their faces are seen.

5 Final remarks

We begin this article with the discussion about the construction of information, from the understanding that such construction is crossed by power relations. Following, we presented the guidelines listed by Indisciplinar for the development of cartographic processes triggered by the group, as well as their main dimensions and the repertoire of processes and work platforms developed. Finally, we present the "cartographic, genealogical and plateau method" devised by our researchers, in order to complexify the understanding of the advance of capital on the daily life of residents of socially vulnerable territories, thus avoiding simplistic dichotomies and fragile analyzes based on predetermined essentialist concepts.

It is believed that the systematization of knowledge production methods within research groups is important to contribute and foster reflections on the power disputes involving the legitimation of certain information over others. It is worth remembering that the production of space is increasingly crossed by forces that support the advancement of capital, affecting everyday life and the production of subjectivities in urban centers. Mapping how group formations take place, based on their connection with certain narratives, allows us to identify the intersection points between groups, as well as possible recurring pitfalls in the dispute processes investigated. It is therefore hoped that it will also be possible to strengthen the connections between the collective and collaborative processes already at work in territorial disputes.

However, the challenges are considerable, since it is a theoretical-methodological approach that calls for calm explanations, which, even without assuming scientific neutrality, calls the researcher to “feed on uncertainties”, to devote to uncertainties’ machinations and operation, only then to unfold and analyze the arrangements and movements of the networks.

Finally, we understand that the research method discussed here fits into an approach of the university which role goes beyond mere knowledge transfer and the preparation of professionals to the labor market. The university is assumed, therefore, as a social actor of great relevance in the production and debate of contemporary cities and urban public policies. However, assuming oneself as one of the network's actors does not mean that academia should occupy a unique and authoritarian place of knowledge. Instead, researchers need to participate in struggles with social movements. What must be ensured is the autonomy of critical thinking, so that the blind spots of struggles are made visible, and that differences and advances in struggles are affirmed. The same way, the pitfalls should be identified and avoided, as in the case mentioned concerning the role of the state. Within this approach, extension achieves a major role, since it is the main responsible for the articulation between university and society, enabling a more coherent academic production with the social and political reality of today’s Brazil. Controversies and contradictions will always arise, it is up to us to always be aware of them.

Throughout the group's work, our concerns and actions are discussed, and this writing is done as a means for reflection and criticism, allowing new perceptions and new propositions to emerge, without pretending to reach definitive conclusions. Thus, without ignoring the thickness of the reports, nor exhausting the controversies or flattening the dissents, we assume an in process knowledge-building and the inevitable risk that exists in any systematization of thought and information. Wefts are shredded and retraced, but surely some threads remain loose, allowing new weaves to be built.

Acknowledgements

We appreciate the support of our programs and projects; FAPEMIG, CNPq, CAPES, PRPq of UFMG, PROEX of UFMG, and IFMG Campus Santa Luzia. We also thank LabCidade, from the Faculty of Architecture and Urbanism of the University of São Paulo (FAU-USP), for inviting us to participate in the Territórios Populares research project, carried out in network with various groups and laboratories throughout Brazil. Our thanks to researchers and laboratories partners from other research groups and educational institutions, and to the social movements with which we work, in various urban struggles. Finally, we would like to thank all of our fellow researchers from Indisciplinar who make all our works collective, and who are present in our cartographies in multiple ways.

References

Deleuze, G., 2006. Foucault. Minneapolis: University of Minnesota Press.

Deleuze, G. and Guattari, F., 2005. A thousand plateaus: capitalism and schizophrenia. 1 (5), Minneapolis: University of Minnesota Press.

Foucault, M., 1979, Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal.

Latour, B., 2005. Reassembling the social: an introduction to Actor-Network-Theory. New York: Oxford University Press.

Sá, A. I.,2018. Dados espaciais online e a emergência de novas cartografias: investigando a produção espacial a partir de fontes da web. In: Proceedings of I Seminário Internacional Urbanismo Biopolítico, Belo Horizonte. pp. 398-416.

Rena, N., Sá, A. I., Brandão, M. and Franzoni, J., 2016. Grupo de pesquisa Indisciplinar: método, ativismo e tecnopolítica na defesa dos bens comuns urbanos, Congresso Internacional Contested_Cities, 524(5), pp. 1-18.

Santos, R. E., 2011. Ativismos cartográficos: notas sobre formas e usos da representação espacial e jogos de poder, Revista Geográfica de América Central [online], (2), pp. 1-17. Available at: http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/view/2299 . Accessed: 14 Mar. 2019.

Toret, J. and @Dataanalisys15m., 2013. Tecnopolítica: la potencia de las multitudes conectadas. El sistema red 15M, un nuevo paradigma de la política distribuida. Barcelona: UOC, . Available at: <http://tecnopolitica.net/sites/default/files/1878-5799-3-PB%20%282%29.pdf>. Accessed: 04 August 2019.

1 UFMG: Federal University of Minas Gerais.