Caminhar e cartografar na fronteira Chuí-Chuy

Eduardo Rocha, Lorena Resende, Luana Detoni, Taís dos Santos, Vanessa Forneck

Eduardo Rocha é Arquiteto e Urbanista e Doutor em Arquitetura. É professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade, onde coordena o grupo de pesquisa "Cidade+Contemporaneidade". Pesquisa modos de vida na contemporaneidade, cartografias urbanas e sociais, caminhar e ativação de espaços públicos.

Lorena Resende é Arquiteta e Urbanista e Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase nas Cidades de Fronteira, e Planejamento e Projeto. É Professora substituta na Universidade Federal do Rio Grande, na área de expressão gráfica. Colabora no desenvolvimento de projetos de pesquisa, ensino e extensão junto ao LabUrb e ao Labcom, da Universidade Federal de Pelotas.

Luana Detoni é Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, e professora na Faculdade Anhanguera de Pelotas. É membro dos grupos de pesquisa Cidade+Contemporaneidade e Estudos de Urbanismo Contemporâneo. Desenvolve projetos de pesquisa, ensino e extensão junto ao LabUrbe, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas.

Taís dos Santos é Arquiteta e Urbanista e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas. É membro do grupo de pesquisa Cidade+Contemporaneidade, no qual estuda teoria da Arquitetura e Urbanismo contemporâneos.

Vanessa Forneck é Arquiteta e Urbanista e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas. Participa do Projeto de Ensino vinculado ao Núcleo de Estudo de Arquitetura Brasileira na mesma universidade. Desenvolve projetos de pesquisa, ensino e extensão junto ao Laboratório de Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas.


Como citar esse texto: ROCHA, E.; RESENDE, L. M.; DETONI, L. P.; SANTOS, T. B.; FORNECK, V. Caminhar e cartografar na fronteira Chuí-Chuy. V!RUS, São Carlos, n. 19, 2019. [online] Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus19/?sec=4&item=8&lang=pt>. Acesso em: 27 Abr. 2024.

ARTIGO SUBMETIDO EM 18 DE AGOSTO DE 2019


Resumo

Percorremos as cidades-gêmeas Chuí e Chuy, localizadas na fronteira entre o Brasil e o Uruguai, com o objetivo de construir e compartilhar informações sobre os lugares públicos encontrados nesse espaço-entre da contemporaneidade. No caso do Chuí-Chuy, uma linha reta demarca a divisão-ligação que atravessa o mapa e a vida urbana de ambas as cidades. A metodologia utilizada foi a cartografia urbana, a partir de caminhadas exploratórias ao longo da linha de fronteira, durante as quais realizamos coleta de dados através de mapas, fotografias, vídeos e entrevistas, a fim de vivenciar a fronteira na fronteira. A cartografia urbana busca acompanhar processos e modos de vida, trazendo à tona o indizível nas cidades como forma de composição de outras críticas urbanas. A caminhada utilizada como prática estética e ética visa à imersão corpórea do pesquisador no cenário caótico e complexo da cidade fronteiriça. Nesses lugares urbanos, foi possível encontrar a “hostipitalidade” derridiana, uma hospitalidade-hostil, do acolhimento submetido a condicionamentos. Caminhar e cartografar são encontros na direção contrária; um escrever a cidade que permite uma revolução, uma possibilidade de criação como insurreição do devir nesse entre-lugar-linha de fronteira. A informação obtida nos faz questionar sobre a responsabilidade política, social e ética do arquiteto e urbanista no desvendamento dos acontecimentos menores e à margem.

Palavras-chave: Cartografia, Caminhada, Fronteira



1 Tecer o caminho

Enquanto linha pressupõe limite, fronteira revela expansão. Etimologicamente, fronteira deriva do antigo latim frons, frontis e indica o que está à frente, dando também ideia de movimento. Como nos revelam Gilles Deleuze e Félix Guattari (1997, p. 27), “no limite, só conta a fronteira constantemente móvel”, local de mutação e subversão. A fronteira não preexiste, pois sempre é criada e recriada. A composição da informação sobre o território de fronteira não consiste somente no mapa-espacial, mas abraça também relações, criações e pensamentos, configurando-se na arte, na ciência e nos lugares de possibilidades de todas as áreas do conhecimento, em distintas composições temporais e espaciais.

No rastro da linha fronteiriça que delimita e, ao mesmo tempo, une os países Brasil e Uruguai, este artigo investiga o lugar público no ponto de maior conexão e complexidade entre territorialidades: as cidades-gêmeas, cidades de fronteira que compartilham a linha demarcatória política internacional. Elas promovem integração econômica e cultural, podendo ser conurbadas ou não (PUCCI, 2010). No Brasil, há um total de trinta e uma cidades-gêmeas, compartilhadas com nove países latino-americanos diferentes. Escolhemos nos aproximar de uma delas, no extremo sul do país: Chuí, reconhecida como a última cidade do Brasil, em direção ao Sul, que se conforma junto à cidade Chuy, localizada no norte do Uruguai. Objetivamos compreender como acontecem alguns aspectos da vida urbana, como uso, ocupação e apropriação desse lugar público do entre, na faixa internacional de indiscernibilidade.

Fig. 1: Mapa da América Latina localizando a linha de fronteira Brasil-Uruguai, com destaque para as cidades-gêmeas Chuí/Chuy. Edição de Taís Beltrame dos Santos. Fonte: Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

As pequenas cidades Chuí (Brasil) e Chuy (Uruguai), de fronteira seca e formação conurbada, somam juntas aproximadamente 16.000 habitantes, e estão conectadas pela extensa Avenida Internacional, composta por um canteiro central (Figura 2). A Avenida, agitada e movimentada pelo comércio de free shops, ambulantes e camelôs, atrai turistas de ambos os países. A evolução urbana da cidade de Chuy e, posteriormente, de Chuí, esteve ligada ao comércio e a interesses privados, caracterizando um processo de ocupação imediatista de formação tardia, já intensificada pelo pensamento neoliberal. Uma das características diferenciais dessas cidades é a forte presença de imigrantes árabes-palestinos, que contribuem com a expansão urbana e econômica, assim como com a expressão da arquitetura, marcada pela imponência de uma mesquita, ainda em construção.

Fig. 2: Fotografia da Avenida Internacional das cidades-gêmeas Chuí/Chuy. Fonte: Vanessa Forneck, Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

A espessura da fronteira possibilita o compartilhamento multicultural e acolhe as diferenças, como na “hostipitalidade”, ou seja, a coexistência de uma hospitalidade hostil (DERRIDA; DUFOURMANTELLE, 2003; FUÃO, 2014). O conceito, proposto por Derrida (DERRIDA; DUFOURMANTELLE, 2003) nomeia a sensação da coexistência do acolhimento e da repulsa. A fronteira acolhe o estrangeiro (hospitalidade) e também impõe condicionantes como: conferência de documentação, revista de objetos pessoais e indagações sobre os motivos da travessia nas aduanas (hostilidade). A “hostipitalidade” se constitui de antagonismos, afinal é necessário um hospedeiro para que exista um hóspede. Da mesma forma, sempre se dá entre duas partes: pode ser parte de uma hospitalidade incondicional, independente de limites, acordos ou condições, ou de uma hospitalidade condicional. Esta última, caso da fronteira, está sujeita a direitos e deveres entre hóspede e hospedeiro. Nesse limite, ao mesmo tempo em que os brasileiros são hóspedes, os uruguaios são hospedeiros e vice-versa. A fronteira é um local de espera ou de “esperrância” (FUÃO, 2014). Ela espera o errante-hóspede, o hóspede espera o hospedeiro. A fronteira é chegada e partida, é porta, ponte, movimento e também espera.

Essas cidades-gêmeas estão distantes dos centros político-administrativos dos seus respectivos países e de decisões do poder. Respondem, porém, a rígidas e limitantes jurisdições federais, uma vez que se localizam em um território de segurança nacional. As burocracias das legislações e dos planejamentos impostos não condizem com a realidade fronteiriça, intensificando o atraso da aplicação de políticas públicas e diretrizes de integração mais efetivas. Devido à pouca autonomia, as cidades-gêmeas enfrentam, cotidianamente, desafios de administração e gestão no convívio com as inúmeras questões fronteiriças. No entanto, são os acordos temporários e emergenciais entre as cidades – furos, escapes na lei e informalidades – que possibilitam pequenas melhorias na qualidade de vida urbana e social.

Diante desse panorama, questiona-se: Como acontece a vida urbana na linha de fronteira das cidades-gêmeas Chuí/Chuy? Quem são os atores humanos e não-humanos que resistem nessa faixa de indeterminação? Como são traçadas as linhas de fuga, os escapes do planejamento institucional, possibilitando a criação de novos tipos de apropriação? Como aprender com esses fatos urbanos do devir, revolucionários, da micropolítica ativa, contribuindo para uma reflexão crítica sobre as práticas do urbanismo contemporâneo? Como lidar com a produção e divulgação dessas informações – que, muitas vezes, ferem a legalidade – sem propiciar denúncias e más interpretações, mas, sim, potencializar esses fatos urbanos como outros modos de praticar/viver a cidade em sua extrema complexidade?

Dessa forma, com o objetivo de mapear, analisar e compartilhar informações sobre os lugares públicos encontrados nesse espaço-entre da contemporaneidade, realizamos uma viagem por toda a linha fronteiriça Brasil-Uruguai, a fim de vivenciar, de perto e de dentro, a fronteira na fronteira. Para isso, utilizamos a cartografia urbana a partir de caminhadas exploratórias pela linha da fronteira, coletando dados em mapas, fotografias, entrevistas e vídeos. A cartografia urbana sensível (DELEUZE; GUATTARI, 1995) busca acompanhar processos e modos de vida na contemporaneidade, trazendo à tona o indizível nas cidades, como forma de composição de novos projetos urbanos. Utilizado como prática estética (CARERI, 2013; JACQUES, 2012) e ética, o caminhar buscou uma imersão corpórea do pesquisador-cidade-pesquisado em um cenário caótico e complexo.

O estudo em questão faz parte do projeto de pesquisa "Travessias na linha de fronteira Brasil-Uruguai: controvérsias e mediações no espaço público de cidades-gêmeas", que atravessa os planos urbanísticos homogeneizantes e totalizadores provocando uma prática revolucionária. Acreditamos que a diversidade, a multiculturalidade, as questões do devir presentes nas cidades, as caminhadas e a inscrição no próprio corpo das experiências urbanas nos ensinam meios mais democráticos e condizentes para a apreensão e crítica das cidades. As informações completas dessas cartografias podem ser acessadas no website https://wp.ufpel.edu.br/travessias/.

2 Cartografar o percurso

Através da cartografia, Deleuze e Guattari (1995) propõem a análise dos acontecimentos durante o processo de pesquisa, em uma ótica que rompe com os métodos tradicionais da antecipação de hipóteses e resultados. Nessa metodologia, os pesquisadores são interventores do seu objeto de estudo e o vivenciam por meio da experiência corporal. Própria da contemporaneidade, a cartografia permite o registro de múltiplos atravessamentos – acontecimentos – e não se restringe à representação de um objeto. Procura compreender as subjetividades e coexistências em um plano de imanência e, por isso mesmo, permite vazar o devir de cada território, ou seja, dar importância a questões por vezes minimizadas. “O devir constitui uma captura, uma possessão, uma mais-valia, jamais uma reprodução ou uma imitação.” (DELEUZE; GUATTARI, 2014, p. 29). A cartografia urbana busca revelar o que os mapas do urbanismo tradicional não atingem.

Durante o processo cartográfico, atravessamos as cidades-gêmeas através da caminhada, como um ato estético, ético e político. O arquiteto italiano Francesco Careri (2013), em sua obra Walkscapes: o caminhar como prática estética, propõe uma inovação no processo metodológico: a experiência da caminhada nos “territórios atuais”, no espaço urbano contemporâneo. Nessa perspectiva, a cartografia envolve caminhar pelas frestas, nos entre-lugares da cidade, dispondo-se sempre a atravessar os muros e as fronteiras, conhecer a borda, atentar para o que é visível e invisível – para os locais que não constam de guias turísticos. Dessa forma, não se pré-estabelecem metas, com o intuito de se deixar capturar por afectos e perceptos.

A caminhada é a criação de sentidos, a descoberta do novo, e pode ser dividida em: 1. travessia, o percurso caminhante; 2. linha, o rastro marcado pela trajetória; e 3. relato, o discurso, a narrativa do trajeto caminhado. Logo, é no trajeto, tanto físico como do pensamento, que se percebe o nomadismo, a suspensão dos objetos (materiais) para a inserção da experiência (sensível). Careri (2013), em suas “transurbâncias”, ressalta que os praticantes urbanos são os responsáveis por essa cidade “lisa”, ou seja, a cidade nômade, que não está marcada no guia turístico, que muitas vezes é invisibilizada, mas que existe em suas bordas ou nos vazios inconscientes da cidade espetacularizada. No encontro com o outro, atravessando os caminhos dos medos, do inesperado, reconhecemos a cidade nômade, ativa, viva, desprendida, caótica, mas que nos ensina novas maneiras de pensar e de se apropriar dos espaços urbanos.

Essa cartografia urbana (caminhar + cartografar) foi auxiliada por quatro procedimentos metodológicos: a entrevista de manejo cartográfico, a auto-fotografia, a produção de mapas e a produção de vídeos. A entrevista consistiu em conversar e apreender as vozes de moradores, autoridades, técnicos e estrangeiros, além de compreender o conjunto de percepções do ambiente e das forças envolvidas nas narrativas sobre e na fronteira. A auto-fotografia, através do olhar dos viajantes-pesquisadores, envolveu a captura de fotos das cenas urbanas vivenciadas, o registro de afectos provocados pelas linhas de fuga no ato da travessia. Por sua vez, a produção de mapas compreendeu a inscrição, por meio de desenhos e escritas, dos usos e das apropriações percebidos durante a caminhada pela linha de fronteira, registrando os fatos urbanos que deixaram marcas no próprio corpo. Por fim, a produção de vídeos visou documentar as travessias caminhadas, os cenários da vida urbana desnudos de idealizações, cartografando a essência dos acontecimentos dentro daquele espaço-tempo singular, possibilitando uma espécie de criação do que já estava posto.

A metodologia escolhida engloba diferentes instrumentos (caminhada, entrevista, mapas, fotografia e audiovisual) com a intenção de alcançar as distintas e numerosas camadas de informação que compõem a cidade contemporânea. Conscientes da impossibilidade de abarcar essas camadas em sua totalidade e, ao mesmo tempo, comprometidos com a integridade e com as peculiaridades de cada coleta, adotamos essa metodologia com o desafio de comunicar o indizível, evidenciar, através da experiência e da imersão na escala sensível 1:1, os fragmentos urbanos encobertos.

A análise cartográfica não acontece somente no pós-experiência, mas acompanha todo o processo de investigação: “a análise de processos coloca-se ao lado da experiência, o que é bem diferente de afirmar que ela se apoia em evidência” (BARROS; BARROS, 2014, p. 198). Através de uma sobreposição dos dados cultivados, coexistentes, foi possível extrair outras problemáticas que possibilitaram a criação de novas pistas sobre esse território plural, complexo e heterogêneo. Essa estratégia promoveu questionamentos sobre o papel dos arquitetos e urbanistas sobre a aplicabilidade dos planos urbanos institucionais, e também sobre como lidar com meios de divulgação e compartilhamento de informações tão genuínas.

3 Atravessar a experiência

De acordo com cada procedimento metodológico, foram elaborados os mapas que compõem os resultados alcançados durante a travessia pela linha de fronteira Chuí-Chuy.

3.1 O mapa-entrevista

A entrevista de manejo cartográfico possibilita a compreensão de diferentes subjetivações que atravessam a fala. Essa, “que acompanha o movimento e, mais especificamente, os instantes de ruptura, os momentos de mudança presentes nas falas” (TEDESCO; SADE; CALIMAN, 2013, p. 300), se propõe como uma ferramenta importante no desvendamento da experiência, pois leva em consideração as pausas, acelerações, respiros e velocidade da narrativa, mais do que o próprio objeto que está sendo narrado. Possibilita, assim, a pluralização de relatos e afecções sobre e a partir de um território, de um estímulo ou, até mesmo, de uma linha de fuga.

Em uma sala de reunião na Biblioteca Municipal do Chuy (UY), fomos recebidos pelo Sr. CC-1 (codinome fictício), uruguaio que, no auge dos seus 81 anos, descrevia relatos em um espanhol pausado e sereno. O Sr. CC-1, que atualmente ocupa um cargo político que lida com questões internacionais, demonstrou empenho nas tratativas e nos acordos que realiza com o país vizinho.

[...] fazemos acordos que permitam viver o que somos: uma cidade (Chuy/Chuí). Somos uma cidade pela composição e pelo lugar geográfico, o que nos obriga a trabalhar juntos todo tempo. Trabalhamos no tema de saúde, fazemos reuniões de acordos. (CC-1, 2018)

Durante nossa conversa, era perceptível o seu desejo de integração entre as cidades-gêmeas, a vontade de propor acordos fronteiriços que atendessem aos interesses de distintas legislações e culturas. Isso requer, muitas vezes, questionar e discutir com a alta centralidade do poder político, como complementou CC-1: “de Brasília, não sabem o que é viver em uma fronteira e definem como temos que viver. Então é uma briga e uma discussão permanente”. Ele considera que os acordos locais entre as cidades-gêmeas são mais eficazes que tratados e leis decididos em congressos com pouca representatividade. Para CC-1, “na fronteira, a lei [fazendo gesto com a manga da jaqueta] sempre pode escapar”.

Em outro momento, na sede da Prefeitura do Chuí (BR), entrevistamos CC-2 e CC-3 (codinomes), que ocupam cargos políticos no município, e nos contaram os desafios de se gerenciar uma cidade de fronteira seca. Diferentemente do encontro com o Sr. CC1, essa conversa se realizou em um tom mais frio, com falas rápidas e diretas. Aparentemente com receio de deixar escapar algo que não deveria, CC-2 era muito bem articulado ao se expressar verbalmente e se apoiava, o tempo todo, na Constituição Federal, no que estava escrito na lei e no que era resolvido em “acordo entre cavalheiros”. CC-3 completou que “as pessoas atravessam o canteiro e não tem noção de que estão sob jurisdição de outro país”, revelando os problemas de habitar um território com legislações distintas em cada lado.

Essas são narrativas interessantes e diversas que reforçam o caráter complexo e múltiplo desse território. Falas que nos aproximam do cotidiano fronteiriço e revelam as dificuldades sem o idealismo midiático de uma fronteira aberta, pacífica e homogênea. Expressam vozes, por vezes contraditórias, que tecem histórias diferentes em um mesmo território. Os idiomas português e espanhol se chocam cotidianamente, mesclando-se em um terceiro "idioma", o portunhol. Essa é uma das adaptações de convivência e de sobrevivência em uma fronteira sem muros concretos, porém regida por normas e legislações inflexíveis.

As informações obtidas através das entrevistas – desde o conteúdo das falas até os gestos, expressões e modos de falar – compõem uma camada ou, segundo Deleuze e Guattari (1992), platôs de significação. No entanto, com o intuito de atingir o objetivo de compartilhar essas camadas no website, deparamo-nos com um impasse ético, uma vez que algumas declarações revelavam opiniões e fatos comprometedores, possivelmente propulsores de divergências. Mesmo omitindo a identidade do entrevistado ou obtendo seu consentimento para publicação, optamos por suprimir, no website, as informações coletadas através desse procedimento. Utilizamos fragmentos dessas falas em artigos e livros, mas a íntegra da entrevista está resguardada pelos autores.

3.2 O mapa-auto-fotografia

O procedimento da auto-fotografia tem origem nos estudos da psicologia, tendo sido descrito inicialmente por Robert Ziller (1997). A partir de um questionamento, alguns estudantes e pesquisadores são convidados a retratar, através da fotografia, suas percepções quanto ao tema. Após o registro das imagens, é solicitada uma conversa com o autor sobre os motivos que resultaram na captura de tais cenas. As duas fotografias (Figuras 3 e 4) foram selecionadas pela viajante-pesquisadora-arquiteta Laís Becker, que nos explicou suas aspirações mediante o questionamento: O que acontece, existe e resiste na linha de fronteira das cidades-gêmeas Chuí-Chuy?

Na primeira foto, que é bem no centro mesmo, bem na parte mais comercial, me chamou atenção a quantidade de informação que tinha. Todo esse aparato publicitário enorme, gigante, a quantidade de carros estacionados, tapando todo o visual do espaço onde os pedestres deveriam estar aproveitando. Então tu vê o canteiro espremidinho aqui sem nenhum uso. Já na segunda foto, é o contrário. Peguei essa como se fosse o último resquício do canteiro, o último resquício daquele espaço público ali na linha de fronteira. E, a partir disso, começa um novo espaço, mais livre, mais difícil de determinar o lado. O que eu achei interessante foi o contraste entre essas duas paisagens. Uma, com muita informação, e outra, mais calma, com menos coisas. Nenhuma delas tem um tratamento muito adequado do espaço público para as pessoas utilizarem. (BECKER, 2018).

Fig. 3: Auto-fotografias da travessia no canteiro internacional Chuí-Chuy. Fonte: Laís Becker, Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

Fig. 4: Auto-fotografias da travessia no canteiro internacional Chuí-Chuy. Fonte: Laís Becker, Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

A auto-fotografia possibilita essa composição entre imagem e escrita. O olhar e o pensamento do investigador abrem novas frestas e percepções durante a experiência, auxiliando, assim, a problematização da pesquisa. A fotografia falada revela, além da exibição imagética, a construção de um pensamento crítico. O ato de fotografar, capturar instantaneamente um cenário, envolve uma escolha, um desejo e uma inquietação que têm prosseguimento na escrita, na declaração do pensamento motivado por uma ruptura.

A caminhada, em simultaneidade com o processo cartográfico pela linha de fronteira, possibilitou a construção de novas informações em diferentes tempos: o caminho deixado, os passos atuais e a visão borrada do caminho futuro. A prática do espaço em um tempo dentro da caminhada/cartografia impõe aos corpos outro ritmo. Afasta-se, temporariamente, da lógica da “compressão espaço-tempo”, observada pelo geógrafo David Harvey (1992), no qual o espaço é encurtado em detrimento do tempo, para se permitir a lógica do “perder tempo e ganhar espaço”, proposta por Careri (2013), que possibilita lentidão, pausas para fotografias, pensamentos, escritas e escapes.

3.3 O mapa-mapa

Os mapas elaborados pelos pesquisadores expressam afectos e perceptos capturados e produzidos nas cidades-gêmeas Chuí-Chuy, e trazem algumas pistas do que é essa linha de fronteira.

Conforme as Figuras 5 e 6, a divisa entre os países apresenta uma linearidade bem definida. A linha/reta estimula a errância, a espera de algo ou alguém e, ao mesmo tempo, o desprendimento do que foi deixado para trás, abandonado. Um elemento marcante nos mapas é a presença dos free shops na cidade uruguaia, o que gera um fluxo intenso de turistas e compradores na área central das cidades. O comércio possui um potencial atrativo que estimula a espera, como percebido nas palavras “carros e estacionamento” nos mapas. Porém, esse fluxo comercial pode ser compreendido como uma hospitalidade condicional, seletiva, para quem possui poder de compra. Também há registros de comércios informais de ambulantes e camelôs que ocupam as calçadas e ruas. Apesar de ser uma avenida com intensa movimentação no centro da cidade, há um canteiro central, exatamente na linha de fronteira entre os países, onde não acontecem muitas interações. É a linha do abandono, uma transição, um entre-lugares, um muro imaginário que delimita um território. Apresenta marcas de uso, mas não é habitada. Está cheia de bancos vazios. Suas calçadas estão quebradas. Trata-se de um local sem atividades, sem pessoas e sem vida.

Fig. 5: Mapa cartográfico das cidades-gêmeas Chuí-Chuy. Fonte: Laís Becker, Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

Fig. 6: Mapa cartográfico das cidades-gêmeas Chuí-Chuy. Fonte: Vanessa Forneck, Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

A criação do mapa, instrumento tão caro aos urbanistas, revela outra camada de informações, além dos dados de geolocalização. Esta camada está composta por vozes, cheiros, texturas, espessuras e outros detalhes. Os resultados da caminhada/cartografia permitem o deslocamento estático do mapa “cartesiano” (ainda arraigado no urbanismo normativo) para a aventura de uma leitura das sensações e da vida urbana desnuda. Uma construção que faz fugir, mesmo que momentaneamente, da rígida estrutura do capital, do mercado e do consumo, dando passagem para os atos cotidianos, as formas inventivas de (re)apropriação dos lugares e a prática da cidade como ato político, ético e estético.

No entanto, o grande desafio está no compartilhamento e no repasse das informações coletadas. Além da impossibilidade de dimensionar seu alcance e seus desdobramentos, um mesmo dado pode gerar diferentes interesses. Por um lado, a informação sobre as atividades dos vendedores ambulantes pode ser utilizada pelo poder público para punir a informalidade comercial, e o relato sobre o completo abandono de áreas centrais de Chuí/Chuy pode ser tomada pelo mercado imobiliário como oportunidade para novos empreendimentos. Por outro lado, pesquisadores de diferentes nacionalidades podem ver essas informações como potencializadoras para estudos em outras fronteiras.

Percebe-se que, a partir da divulgação de um mapa, o conteúdo ultrapassa uma simples declaração do pensamento subjetivo do autor para oferecer uma ferramenta de poder, na qual os impactos positivos ou negativos não conseguem ser dimensionados. Novamente nos deparamos com o impasse ético: o que compartilhar? O que suprimir? Se desejamos revelar o indizível das cidades, descortinar a face da exclusão urbana, a difusão dessas existências é necessária, mas com consciência das possíveis reverberações desse ato.

3.4 O mapa-vídeo

As imagens apresentadas a seguir são recortes (frames) de vídeos capturados durante a viagem às cidades-gêmeas Chuí-Chuy. São partes de filmagens que apresentam a “hostipitalidade” vivenciada na fronteira: os corpos atravessam a linha, percorrendo o canteiro central, e são atravessados por sensações de abandono e liberdade (Figura 7). Na proximidade das bordas, mais distantes da linha de fronteira, na periferia, esses corpos acompanham os acontecimentos do cotidiano (Figura 8). A “hostipitalidade” se configura através de um percurso de enfrentamentos e intercorrências entre carros, vegetação, mobiliários, turistas e ambulantes. Esse percurso, realizado pela linha de fronteira, compõe um grande vazio indeterminado, que segmenta e afasta ao mesmo tempo, tornando-se o lugar do possível. A captura do vídeo, mesmo com a escolha do que será exposto ou não, permite revelar idealizações através de imagens que falam por si mesmas. No ato de parar e posicionar a câmera, a cidade se propõe como cenário. O vídeo registra um acontecimento, uma duração em um espaço memorizado em frames.

Fig. 7: Frames do vídeo produzido durante a travessia pela linha de fronteira, no centro urbano das cidades-gêmeas Chuí/Chuy. Fonte: Humberto de Souza, Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

Fig. 8: Frames do vídeo produzido durante a travessia pela linha de fronteira, na periferia urbana das cidades-gêmeas Chuí/Chuy. Fonte: Humberto de Souza, Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

Diferente da escrita e da fotografia, o conteúdo audiovisual é mais democrático, uma vez que possibilita a expansão de interpretações. O vídeo é movimento, percepção da intensidade do tempo. Os sons do vento, do carro de som, do latido do cachorro, das conversas, do barulho dos automóveis, entre outros, possibilitam uma narrativa mais completa e complexa dos acontecimentos, que corroboram o entendimento contemporâneo dessas cidades.

4 Revolucionar a prática

A produção desses mapas cartográficos deseja criar uma revolução ou possibilidade de criação como insurreição do devir nas cidades. Caminhar e cartografar são encontros na direção contrária, um escrever a cidade como “carto-grafia” que permite o surgimento do novo nesse entre-lugar-linha de fronteira. Diferente de um planejamento urbano rígido e elaborado fora deste contexto fronteiriço, que muitas vezes impõe regras totalizantes e genéricas para as cidades e, até mesmo, uma replicação de projetos de outros lugares, esta investigação de perto, proporcionada pelas travessias, caminhadas, entrevistas e fotografias, pode contribuir para concepções urbanas integradas mais participativas e colaborativas.

Na medida em que resgata a história, memória e cotidiano dos moradores, o mapa-entrevista registra desejos e impasses da convivência multicultural e alerta sobre a complexidade de acordos e ajustes legais para novas intervenções. Acolher as vozes fronteiriças é incluí-las nas decisões de criação urbana. O mapa-fotografia (a imagem falada) auxilia o pesquisador na absorção e crítica dos eventos que vivenciou durante a caminhada; é uma forma de registrar a inquietude do pensamento mediante as informações que chegam inesperadamente e nos tocam. O grupo de pesquisa não vai em busca de algo ou alguém. Na verdade, o grupo é que é encontrado por humanos e não humanos que ocupam, na pesquisa, condição de atores, sujeitos. De forma similar, o mapa-mapa também colabora com esse processo de descobrimentos. Ele acrescenta a referência dos lugares; dá nome, coordenada e direção; exibe as cenas escondidas, esquecidas, abandonadas que passaram por nós. Por fim, o mapa-vídeo consegue congelar um tempo, reviver o compasso dos acontecimentos em seus mínimos detalhes, difundindo a realidade da vida urbana desnuda, sem cortes.

Com as informações extraídas através de toda a metodologia, percebemos que o abandono resiste na linha de fronteira Chuí-Chuy. Mesmo na parte mais próxima do centro comercial, onde havia intenso fluxo de pessoas e veículos, o canteiro central servia somente como estacionamento. Já em sua região periférica, havia uma completa diluição dos limites fronteiriços. Esse abandono deixa rastros do que o canteiro foi e do que poderia ser, motivando a criação de linhas de fuga (DELEUZE, 1999) que permitem escapar das restrições da identidade para se abrir à diferença. Por outro lado, também impõe condicionantes, uma vez que é uma linha que está sob constante vigilância do poder estatal. Por isso, o outro – estrangeiro, turista ou foragido – é acolhido na espessura da “hostipitalidade”.

De acordo com Ermínia Maricato (2000, p. 168), “[...] a disseminação da informação e do conhecimento sobre a cidade real ou sobre a realidade urbana tem a importante função de afastar a bruma que encobre a realidade e desvendar a dimensão da exclusão [...]”, pensamento que a presente pesquisa corrobora. As informações coletadas nessa experiência comunicaram o que está além dos holofotes do consumo dos free shops, possibilitando uma abertura ao que está excluído, abandonado, descartado dentro do abismo fronteiriço. No entanto, a compreensão dessas informações pode ser manipulada, dependendo dos interesses e articulações econômicas, políticas e sociais envolvidos. Por isso, as questões éticas são mediadoras quanto ao avanço ou à pausa no repasse do estudo.

Desse modo, o grupo acredita que silenciar, deixar de compartilhar as informações levantadas, tornaria todo o esforço de investigação inutilizável e não possibilitaria alcançar o objetivo de (re)conhecer o lugar público da linha de fronteira e suas potencialidades. Mediar é necessário, como ocorreu na omissão de autoria de alguns relatos, mas silenciar, jamais. Optou-se por expor o estudo, apesar do risco de desvio de informações. A exposição demonstra que a informalidade, a ilegalidade, os abandonos e os diversos tipos de contrabando nessas cidades de fronteira são estratégias urbanas, (re)apropriações contemporâneas criadoras. Nossa intenção não é denunciá-las ou puni-las, mas sim compreender a lógica que movimenta e promove a interculturalidade nessas cidades-gêmeas.

Ainda com uma formação modernista, arquitetos e urbanistas buscam novas propostas de planejamento urbano como “A” solução para problemas e impasses da complexidade da cidade. No entanto, neste momento, questionamos que eficácia alcançaria um planejamento urbano – ou seja, um plano de organização estratégico – para essas cidades-gêmeas internacionais, que, cotidianamente, criam e recriam novos modos de vida e apropriação das cidades? Será que uma das investidas não seria ir em sentido contrário, aprendendo com as cidades, ao invés de lhes ditar outras normas de organização?

Finalmente, em uma atitude revolucionária, também instauramos uma provocação. A intervenção foi ampliada no campo artístico com lambe art (Figura 9) e pequenos adesivos (endereço do website via QR-code), colados durante o percurso. A prática permitiu, além da divulgação do projeto de pesquisa, um diálogo sobre e com a cidade, reforçando a importância do compartilhamento e discussão das informações. A revolução se expande como uma cicatriz no meio urbano, como uma marca material e concreta, deixando pistas sobre o lugar habitado por hóspedes e hospedeiros, em constante transformação.

Fig. 9: Frames capturados do vídeo produzido no ato da colagem do lambe. Fonte: Taís Beltrame dos Santos, Acervo Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

Agradecimentos

Aos alunos de graduação vinculados ao Grupo de Pesquisa Cidade+Contemporaneidade (https://wp.ufpel.edu.br/cmaisc/), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): Humberto Levy de Souza, bolsista do Programa de Iniciação à Pesquisa Ações Afirmativas, da Universidade Federal de Pelotas, e Natália Lohmann D’Ávila, bolsista de Iniciação Científica CNPq. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS), pelo financiamento do projeto.

Referências

BARROS, L. M. R., BARROS, M. E. B.. In: PASSOS, E.; KASTRUP, V.; TEDESCO, S. (Org.). Pistas do Método da Cartografia: A experiência da pesquisa e o plano comum. v. 2. Porto Alegre: Sulina, 2014. p. 175-202.

CARERI, F. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Gustavo Gilli, 2013.

DELEUZE, G. O ato de criação. São Paulo: Folha de São Paulo, 1999.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e esquizofrenia. v. 1. Rio de Janeiro: Ed.34, 1995.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e esquizofrenia. v. 5. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1997.

DERRIDA, J.; DUFOURMANTELLE, A. Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar da Hospitalidade. São Paulo: Escuta, 2003.

FUÃO, F. F. As formas de acolhimento na arquitetura. In: SOLIS, D. E.; FUÃO, F. F. (Org.). Derrida e arquitetura. Rio de janeiro: EdUERJ, 2014. p. 41-114.

HARVEY, D. A condição pós-moderna. Ed. São Paulo: Loyola, 1992.

JACQUES, P. B. Elogio aos errantes. Salvador: EDUFBA, 2012.

MARICATO, E. As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias: planejamento urbano no Brasil. In: ARANTES, O.; VAINER, C.; MARICATO, E. (Org.). A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

PUCCI, A. S. O Estatuto da Fronteira Brasil-Uruguai. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2010.

TEDESCO, S. H.; SADE, C.; CALIMAN, L. V. A entrevista na pesquisa cartográfica: a experiência do dizer. Fractal, Rev. Psicologia, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 299-322, 2013. Disponível em: . Acesso em: 11 Out. 2019.

ZILLER, R. C.; SMITH, D. E. A phenomenological utilization of photographs. Journal of Phenomenological Psychology, v. 7, p. 172-182, 1997.

Walking and cartographing on the Chuí-Chuy border

Eduardo Rocha, Lorena Resende, Luana Detoni, Taís dos Santos, Vanessa Forneck

Eduardo Rocha is an Architect and Urbanist and Doctor of Architecture. He is an Associate Professor at the Faculty of Architecture and Urbanism at the Federal University of Pelotas, and a researcher at the Graduate Program in Architecture and Urbanism at the same university, where he coordinates the research group "City + Contemporaneity". He studies contemporary ways of life, urban and social cartography, walking and activation of public spaces.

Lorena Resende is an Architect and Urbanist and holds a Master degree in Architecture and Urbanism. Her studies focus on Border Cities, and Planning and Design. She is a temporary lecturer on graphic expression at the Federal University of Rio Grande. She collaborates in the development of research, teaching and extension projects with the LabUrb and Labcom research groups, from the Federal University of Pelotas, Brazil.

Luana Detoni is an Architect and Urbanist and holds a Master's degree in Architecture and Urbanism. She teaches at Anhanguera Faculty and is a member of the research groups City+Contemporaneity and Studies of Contemporary Urbanism, both of the Federal University of Pelotas, Brazil. She develops research, teaching and extension projects at the LabUrbe research group of the Federal University of Pelotas, Brazil.

Taís dos Santos is an Architect and Urbanist, and a researcher of the Graduate Program in Architecture and Urbanism at the Federal University of Pelotas. She is a member of the research group Cidade + Contemporaneidade, where she studies the theory of contemporary architecture and urbanism.

Vanessa Forneck is an Architect and Urbanist, and a researcher at the Graduate Program in Architecture and Urbanism at the Federal University of Pelotas, Brazil. She collaborates with the Teaching Project of the Study Center of Brazilian Architecture at the same university. She develops research, teaching and extension projects at the LabUrbe of the Federal University of Pelotas.


How to quote this text: Rocha, E., Resende, L. M., Detoni, L. P., Santos, T. B. and Forneck, V., 2019. Walking and cartographing on the Chuí-Chuy border . Translated from Portuguese by Ana Maia. V!rus, Sao Carlos, 19. [e-journal] [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus19/?sec=4&item=8&lang=en>. [Accessed: 27 April 2024].

ARTICLE SUBMITTED ON AUGUST 18, 2019


Abstract

We have travelled around the twin-cities located in the Brazil-Uruguay border line, aiming to build and share information about public places found in this contemporary in-between-space. In the case of Chuí-Chuy, a line marks the division-connection that crosses the maps and the urban life of both cities. The methodology used was the urban cartography through exploratory walks along the border line, during in which we collected data in maps, photographs, videos and interviews in order to experience the border in the border. Urban cartography aims to follow processes and lifestyles in contemporaneity, bringing up what the unspeakable in the cities, as a way of composing new urban critiques. Walking, used as an aesthetical and ethical praxis, aims at a body immersion of researchers in the chaotic and complex scenery of a border city. In these urban places, it was possible to find Derrida’s “hostipitality”, a hostile hospitality of a reception that is subject to conditioning. To walk and to cartograph are encounters in opposite directions, a writing of the city that brings up a revolution, a possibility of creation as insurrection of devir in this space-between-border-line. The information obtained makes us question about the political, social and ethical responsibility of architects and urban planners in the unveiling of small and marginal happenings.

Keywords: Cartography, Walking, Border


1 To weave the path

Whereas a line presupposes a limit, border reveals an expansion. Etymologically, fronteira (in Portuguese, border, frontier) derives from ancient Latin frons, frontis, indicating what is ahead, also imparting an idea of movement. As Gilles Deleuze and Félix Guattari (1997, p. 27) reveal, “in the limit, only the constantly mobile border counts” [our translation], a place of mutation and subversion. The border does not pre-exist, for it is always created and recreated. The composition of information about the border territory does not consist of a spatial-map, but also embraces relationships, creations and thoughts, configuring itself in arts, science and the possibility places of all areas, in different temporal and spatial compositions. 

In the trace of the border line that limits and at the same time unites the countries of Brazil and Uruguay, this article investigates public space in the most connected and complex place between territories, the twin-cities, border cities that share a political international line, to promote economic and cultural integration and that can be conurbated or not. (Pucci 2010). In Brazil, there are 31 twin-cities, shared with nine different Latin American countries. We decided to approach one in the Southernmost of the country: Chuí, known as the last city of Brazil, which conforms with Chuy, in the North of Uruguay. We aimed to understand how some aspects of urban life develop, such as use, occupation and appropriation of this in-between public space, in an international strip of indiscernibility.

Fig. 1: South America map, locating the Brazil-Uruguay border line and highlighting the twin-cities Chuí-Chuy. Source: the authors, 2019. Edited by Taís Beltrame dos Santos. Source: Laburb/FAUrb/UFPel Collection, 2018.

The small towns of Chuí (Brazil) and Chuy (Uruguay), with a land border, conurbated, have, altogether, about 16 thousand inhabitants and are connected by a long International Avenue with a common central yard. (Figure 2) The avenue is agitated and busy due to commerce, with freeshops (international tax-free stores) and also informal trade by street vendors, which attracts tourists from both countries. Urban development of Chuy, and later on, of Chuí, has been connected to commerce and private interests. It was an immediatist occupation, with late formation, intensified by liberal thoughts. One of the differential characteristics of these cities is the strong presence of Arabian-Palestinian immigrants, who have contributed for urban and economic expansion, as well as for the cities’ architectural expression, marked by a grand Mosque that is still under construction.

Fig. 2: International Avenue in the twin-cities Chuí-Chuy. Source: photo by Vanessa Forneck, 2018. Source: Laburb/FAUrb/UFPel Collection, 2018.

The border’s density allows multicultural sharing and welcomes difference, as in Derrida’s “hostipitality”, that is, the coexistence of a hostile hospitality. (Derrida; Dufourmantelle, 2003; Fuão, 2014) This concept, proposed by Derrida (Derrida; Dufourmantelle, 2003), names the feeling of coexistence of welcoming and repulse. The border welcomes the foreigner (hospitality) and also imposes conditions, such as checking documents, inspecting personal objects, requiring information about reasons for crossing both customs (hostility). “Hostipitality” is composed of antagonisms: there must be a host for a guest to exist. Also, it always has two parts: it can be part of an unconditional hospitality, that is independent of limits, agreements or conditions, or a conditioned hospitality. The second one, which is the case of the border, is subject to rights and duties between hosts and guests. In this limit, at the same time as Brazilians are guests, Uruguayans are hosts, and vice-versa. The border is a place of waiting, or of what Fuão (2014) defines, in Portuguese, as esperrância: espera (waiting) and errância (wandering). The border waits for the wanderer-guest, the guest waits for the host. The border is the arrival and the departure, a door, a bridge, a movement, and also a wait.

These twin-cities are far from the political and administrative centers of both countries, and from the governmental powers decisions, but respond to rigid and limiting federal jurisdictions, as they are located in a national security zone. The bureaucracy of imposed laws and plans are not in accord with the reality in the border and thus intensify the delay of more effective public policies and integration guidelines. Due to their little autonomy, twin-cities face daily administration and management challenges regarding several border issues. However, temporary emergency agreements between cities – loopholes, law circumventing and informalities - are what bring little improvements in the quality of urban and social life.

In this scenario, one can question: How does urban life happen in the border line of the twin-cities of Chuí-Chuy? Who are the human and non-human actors that resist, in this strip of indeterminacy? How are the escape routes from the traced institutional planning, enabling the creation of new types of appropriation? How to learn from such urban revolutionary devir facts from active micro politics, contributing to a critical reflection about contemporary urban planning practices? How to deal with the production and sharing of these information – which are commonly against the laws – without creating complaints and misunderstandings, and yet potentializing these urban facts as other ways of practicing/living the city in its extreme complexity?

So, with the aim to map, analyze and share information about public spaces found in this in-between space of contemporaneity, we went on a trip along the whole border line Brazil-Uruguay, in order to experience, from up close and inside, the border in the border. For that we used the urban cartography, making exploratory walks along the border line and collecting data in interviews, photographs, maps and videos. Sensitive urban cartography (Deleuze; Guattari, 1995) aims to follow processes and lifestyles in the contemporaneity, bringing up what is unspeakable in cities, as a way to compose new urban projects. Walking, used as an aesthetical (Careri, 2013; Jacques, 2012) and ethical praxis, aimed to a bodily immersion of the researcher/city/researched, in a chaotic and complex scenery.

The study herein is a part of the research project Travessias na Linha de Fronteira Brasil-Uruguay: controvérsias e mediações no espaço público de cidades-gêmeas [Crossings in the Line of the Border Brazil-Uruguay: controversies and mediations in the public space of twin-cities], which crosses homogenizing and totalizing urban plans provoking a revolutionary praxis. We believe that diversity, multicultural and devir issues present in cities, walking and inscribing in the body of urban experiences, teach us means that are more democratic and befitting to an apprehension and critique of cities. Complete information about these cartographies can be found at https://wp.ufpel.edu.br/travessias/

2 To cartograph the way

Through cartography, Deleuze and Guattari (1995) propose an analysis of events during the research process, from a view that disrupts traditional methods of anticipating hypothesis and results. In this methodology, researchers are interveners in their study object, and live it through a bodily experience. 

Typical of the contemporaneity, cartography allows to register multiple crossings and does not stop at the representation of an object. It aims to understand subjectivities and coexistences in a plan of immanence and, precisely because of that, allows to pour the devir of each territory, that is, to give importance to issues that are sometimes considered minor. “The devir is a capture, a possession, an asset, never a reproduction or imitation.” (Deleuze; Guattari, 2014, p. 29) [our translation] Urban cartography aims to reveal what the maps of traditional urban planning do not reach.

During the cartographic process, we have crossed the twin-cities through walking as an aesthetical, ethical and political act. Italian architect Francesco Careri (2013), in his work Walkscapes: walking as an aesthetic practice, proposes an innovation in the methodological process: the walking experience in “current territories” of urban contemporary space. In this perspective, cartography includes walking along the cracks, the city’s in-between places, always willing to cross walls, borders, to know the edge, to pay attention to what is visible and invisible, to the places that are not in tourist guides. This way, there are no pre-established goals, aiming to allow oneself to be captured by affections and percepts.(Deleuze; Guattari, 1992)

Walking is the creation of senses, the discovery of the new, and it can be divided into: (1) crossing, the walking path; (2) line, the trace marked by the path and (3) narrative, the speech, the report about the walked path. Thus, it is along the way, both the physical one and the one of the thoughts, that one perceives nomadism, the suspension of (material) objects, for the insertion of (sensitive) experience. Careri (2013), in his “transurbancy”, states that urban practitioners are the ones responsible for a “straight” city, that means, the nomad city, that is not marked in tour guides, that is often made invisible, but exists in its edges or in the unconscious voids of a spectacularized city. In the encounter with the other, crossing the paths of the fears, the unexpected, we acknowledge the nomad, active, living, loose, chaotic city, that teaches us new ways of thinking and appropriating of urban spaces.

This urban cartography (walk+cartograph) was supported by four methodological procedures: cartographic management interview, autophotography, production of maps and of videos. The interview consisted of talking and apprehending the voices of inhabitants, authorities, technicians and foreigners, and also to understand the ensemble of perceptions on the environment and of the forces involved in the narratives about and in the border. Meanwhile, autophotography, through the eyes of travelers-researchers, has captured photographs of the urban scenes experienced, a register of the affections provoked by the escape lines in the act of crossing. The production of maps, in its turn, recorded, through drawings and writing, the uses and appropriations perceived during the walk along the border line, registering urban facts that left marks on one’s own body. Finally, the production of audio-visual material has documented the walking/crossings, the sceneries of urban life, naked of idealizations, cartographing the essence of the events in that singular space-time, allowing to somehow create what was already given. 

The methodology adopted includes different tools (walks, interviews, maps, photography and audio-visual), with an intention to reach distinct and numerous layers of information that compose the contemporary city. Aware of the impossibility to fully cover such layers and committed to the integrity and peculiarities of each collection, we adopted this methodology facing the challenge of communicating the unspeakable, to show, through experience and through immersion in a 1:1 scale of sensibility, hidden urban fragments.

Cartographic analysis happens not only after the experience, but goes along the whole investigation process: “The analysis of processes is placed alongside with experience, which is quite different of stating that it is supported by evidence.” (Barros; Barros, 2014, p. 198) [our translation] Through a superposition of the cultivated coexisting data, it was possible to extract other issues that allowed to create new clues about this complex heterogeneous territory, bringing up questions about the roles of architects and urban planners, about the applicability of institutional urban plans and also, about how to deal with means of communicating and sharing such genuine information.

3 To cross the experience

According to each methodological procedure, we prepared maps that compose the results obtained during the crossing of the Chuí-Chuy border line.

3.1 The map-interview

Cartographic management interview allows to comprehend different subjectivations that cross speech. That one that “follows the movement, and more specifically, the instants of rupture, the moments of changes in the speeches” (Tedesco; Sade; Caliman, 2013, p. 300) [our translation] proposes itself as an important tool for unveiling the experience, as it takes into consideration pauses, accelerations, breaths and speed of the narrative, more than the object that is being narrated itself. It allows, then, the pluralization of reports and affections about and from a territory, a stimulus and even an escape line.

In a meeting room at the City Library of Chuy (UY), we were received by Mr. CC-1 (fictitious name), Uruguayan, 81 years old, who told stories in a slow and peaceful Spanish. Nowadays, Mr. CC-1 has a political post that deals with international matters and showed great dedication to treaties and agreements that he does with the neighbor country.

[...] we make agreements that allow us to live as we are: we are one city (Chuy/Chuí). We are one city due to one composition and, for the geographic place where we are, it pushes us to work together all the time. So we work on the theme of health, we make meetings of agreements. (CC-1) (our translation)

During our conversation, it was easy to notice a wish for integration between the twin-cities, a will to propose border agreements according to the interests of different legislations and cultures. Many times, it is necessary to discuss and question the strong centrality of political power, as complemented by CC-1: “from Brasília, they do not know what it is to live in a border and they define how we have to live. It is a constant discussion and struggle.” He believes that local agreements between twin-cities are more efficient than treaties and laws decided in congresses with little representation. For him, “in the border, the law [making a gesture with the sleeve of his jacket], it can always escape.”

In another moment, in the City Hall of Chuí (BR), we have interviewed CC-2 and CC-3 (fictitious names), who have political posts in the city and told us about the challenges of managing a city with a dry border. Differently of the conversation with Mr. CC-1, this one was more cold, with a fast and direct speech. Apparently apprehensive about letting escape something he should not talk about, CC-2 was very articulated in his verbal expression and the whole time he based his speech on the Federal Constitution, on what was written in the laws and on what was solved through “gentlemen’s agreements”. CC-3 added that “people cross the central yard and have no idea that they are under another country’s jurisdiction”, revealing the problems of living in a territory with different legislations for each side.

Such interesting and diverse narratives reinforce the complex characteristics of these territories. Those speeches bring us closer to the border’s daily life and show their difficulties without the media’s idealism of an open, peaceful and homogeneous border. They express voices that are sometimes contradictory, that weave different stories in the same territory. The Portuguese and Spanish languages are bumping into each in a daily basis, and they mix in a third one, portunhol. This is one of the adaptations for coexisting and surviving in a border without any concrete walls, but guided by inflexible rules and legislations.

Information obtained through interviews – from the content of the speeches to gestures, expressions and ways to talk – composed a layer, or, according to Deleuze and Guattari (1992), a plateau of meaning. However, aiming to achieve the goal of sharing such layers in the site, we have faced an ethical impasse, for some statements reveal compromising opinions and facts that can possibly propel divergences. Even though we hide the interviewed identities and obtain their consent for publication, we have chosen to suppress, in our site, information collected through this procedure. We do use excerpts of these speeches in articles and books, but interviews as a whole are protected.

3.2 The map-autophotography

The procedure of autophotography has its origins in psychology studies and was firstly described by Robert Ziller (1997). Starting from some questions, some students and researchers are invited to show, through photography, their perceptions on a given theme. After images are registered, there is a conversation with the author about the reasons that resulted in capturing the scenes. The two photographs (Figures 3 and 4) were selected by the traveler-researcher-architect Laís Becker, who has explained us her aspirations facing the question: What happens, exists and resists in the border line of the twin-cities Chuí-Chuy?

The first photo (on the left), is in the city center, in the more commercial zone and what called my attention was the amount of information. There is this huge, giant advertising display, many cars parked and covering all sight of the space pedestrians should be using. Then you see here, a small yard, without any use, completely clinging. As for the second photo (on the right), it is the opposite. I took this one as it was the last trace of the yard, the last trace of this public space in the border line. And from there, begins a new space that is more loose, more difficult to determine sides. So I found this contrast of the two landscapes interesting. One has a lot of information and the other is more calm, with less things. None has a very proper treatment of the public space for people to use.(Becker, 2018, our translation).

Fig. 3: Autophotographies of the crossing in the international yard Chuí-Chuy by Laís Becker. Source: Laburb/FAUrb/UFPel. Collection, 2018.

Fig. 4: Autophotographies of the crossing in the international yard Chuí-Chuy by Laís Becker. Source: Laburb/FAUrb/UFPel. Collection, 2018.

Autophotography allows this composition of image and writing. The look and the thinking of the investigator open new cracks and perceptions during the experience, helping to problematize the research. Spoken photography reveals, other than an image demonstration, the construction of a critical thought. The act of photographing, of instantly capturing a scenario, involves a choice, a desire and a restlessness that go on to the writing, in declaring a thought motivated by a rupture.

Walking, together with the cartographic process along the border line, allowed the building of new information in different times: the past path, the current steps and a blurry view of the future path. The practice of the space in a time within the walk + cartography imposes another rhythm over bodies. We are then deviated from a logic of “time-space compression” as observed by geographer David Harvey (1992), in which space is shortened to the detriment of time, to allow the logic of “losing time and gaining space”, proposed by Careri (2013), that allows slowness, pauses for photographing, thinking, writing and escaping. 

3.3 The map-map

The maps elaborated by researchers express the affections and perceptions of the twin cities Chuí-Chuy and bring some clues about what this border line is. 

According to figures 4 and 5, the division between countries presents a well-defined linearity. The straight line stimulates wandering, waiting for something or someone, at the same time as detaching from what is left behind, abandoned. A striking element of the maps is the presence of freeshops in the Uruguayan city, that generates an intense flow of tourists and buyers in the cities’ central area. Commerce is potentially attractive and stimulates waiting, as one notices in the words carros (cars)and estacionamento (parking) in the maps. However, this commercial flow may be understood as a conditional, selective hospitality, for those who have purchasing power. There are also indications of informal trade, by street vendors who occupy sidewalks and streets. Although it is a very busy avenue, located in the city center, exactly on the line of the border between the two countries, there is a central yard in which not many interactions happen. It is a line of abandonment, the transition, the in-between places, an imaginary wall that limits a territory. There are use marks, but it is not inhabited, there are empty benches, broken sidewalks, it is a place with no activities, no people, no life.

Fig. 5: Cartographic map of the twin-cities Chuí-Chuy, by Laís Becker. Source: Laburb/FAUrb/UFPel Collection 2018.

Fig. 6: Cartographic map of the twin-cities Chuí-Chuy by Vanessa Forneck. Source: Laburb/FAUrb/UFPel Collection, 2018.

The creation of a map, such an important tool for urban planners, reveals another layer of information, beyond geolocation data. This layer is made of voices, smells, textures, thicknesses and other details. The results of the walk + cartography allows a static displacement from the Cartesian map (still attached to normative urbanism), towards an adventure of reading sensations and the naked urban life. A construction that makes one escape, at least for a moment, from the rigid structures of capital, market and consumption, opening the path for daily actions, for inventive ways of (re)appropriating places and for a praxis of the city as a political, ethical and aesthetical act.

However, the great challenge is to share and spread the collected information. In addition to the impossibility of having a dimension of its reach and outspreads, the very same data can generate different interests. On the one hand, information about the activities of street vendors can be used by the public power to punish informal trade, and the report on the complete abandonment of central areas in Chuí/Chuy can be taken by the real estate market as an opportunity for new developments. On the other hand, researchers of different nationalities can look at this information as potential for new studies, in other borders.

It is remarkable that, from the publication of a map, its content goes beyond a simple statement of the author’s subjective thinking, offering a tool of power, whose positive or negative impacts cannot be predicted. Again, we face an ethical impasse: what to share? What to suppress? If we want to reveal what is unspeakable in cities, to unveil the face of urban exclusion, the diffusion of these existences is necessary, but with awareness of the possible reverberations of this act.

3.4 The map-video

The images presented below are frames of videos recorded in Chuí-Chuy. They are parts of recordings that present the “hostipitality” experienced in the border: bodies that cross the line going along the central yard and that are crossed by feelings of abandonment and freedom (Figure 7); close to the edges, in the periphery, they follow daily events (Figure 8). “Hostipitality” is configured in a route of coping and intercurrences among cars, vegetation, furniture, tourists and street vendors. This route along the border line composes a great undetermined void, which segments and alienates at the same time, as it becomes a place of the possible. The video capture, despite being a choice of what to expose or not, allows to uncover idealizations, through images that speak for themselves. In the act of stopping and positioning the camera, the city comes up as a stage of its own. The video registers an event, a duration in a space, memorized in frames.

Fig. 7: Frames of a video produced during the crossing of the border line, in the urban center of the twin-cities Chuí/Chuy by Humberto de Souza. Source: Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

Fig. 8: Frames of a video produced during the crossing of the border line, in the urban periphery of the twin-cities Chuí/Chuy by Humberto de Souza. Source: Laburb/FAUrb/UFPel, 2018.

Differently of writing and photography, audiovisual content is more democratic, as it allows an expansion of interpretations. Video is movement, a perception of the intensity of time. The sounds of the wind, cars with sound systems, a dog barking, conversations, the noise of the vehicles, allow a more complete and complex narrative about the events, which corroborates for a contemporary understanding of these cities.

4 To revolutionize the praxis

The production of this cartographic maps wishes to create a revolution or a possibility of creation as insurrection of the devir in cities. To walk and to cartograph are encounters in opposite directions, a writing of the city as “carto-graphy”, which allows the new to appear, in this in-between-place-line of the border. Differently of a rigid urban planning designed out of this border context, that often imposes totalizing and generic rules for the cities, or even a replication of projects from other places, we believe that this investigation from up very close that crossings, walks and interviews allow may contribute for more participative and collaborative urban conceptions. 

The map-interview contributes as it rescues the inhabitants’ history, memory and daily life, registers wishes and impasses of multicultural coexistence, warns about the complexity of agreements and legal adjustments for new interventions. To welcome the voices of the border is to include them in decisions about urban creation. The map-photography (spoken image) helps researchers to absorb and criticize events they experience during the walk, it is a form of registering the restlessness of thoughts facing information that come unexpectedly and touch us. The research group does not go after something or someone. Actually, it is the group that is found, by humans and non-humans who have, in the research, a place as actors, as subjects. Similarly, the map-map also collaborates with the process of discoveries. It adds the reference of places, giving name, coordinates and direction; it shows hidden, forgotten, abandoned scenes that have gone through us. Finally, the map-video can freeze a the time, can revivify the compass of events in its smallest details, diffusing the reality of naked urban life, without any cuts. 

With the information obtained from all the methodology, we noticed that, in the border line in Chuí-Chuy, abandonment resists. Even in the commercial center, with an intense flow of people and vehicles, the central yard only served as parking, and closer to the periphery, limits are completely diluted. However, such abandonment leaves traces and motivates escape lines (Deleuze, 1999) that make identity restrictions go away, in order to open up for difference. It also imposes conditions, for this is a line that is under constant surveillance of the power of the State. Because of that, the other – whether it is the foreigner, the tourists, the fugitive – is welcomed in the thickness of “hostipitality”.

According to Ermínia Maricato (2000, p. 168), “the propagation of information and knowledge about the real city or the urban reality has the important function of withdrawing the mist that covers reality and unveil the dimension of exclusion” [our translation], a thought that corroborates the research herein. The information collected in this experience communicate what is beyond the consumption spotlights of free shops, allowing to open up for what is excluded, abandoned, discarded in the border abyss. However, the comprehension of these information can be manipulated according to interests and economic, political and social articulations involved. Because of that, ethical issues are mediators of advancement or pauses in the study outspreads. 

This way, the group believes that to silence, to not to share the information collected, would make the whole investigation effort unusable and would not allow to reach the goal of recognizing the public place of the border line and its potentials. To mediate is necessary, just like it occurred with the omission of the authors of some narratives, but to silence, never. We chose to expose our study, despite the risk of deviation of information. The exposition demonstrates that informality, illegality, the abandonments and the several kinds of contraband in these cities in the border are urban strategies, contemporary creation (re)appropriations. Our intention is not to report or punish them, but to understand the logic that moves and promotes interculturality in these twin-cities.

Still with a modernist background, architects and urban planners search for new proposals of urban planning as “THE” solution for problems and impasses of the city’s complexity. However, at this point, we question how efficient would an urban plan – that means, a plan for strategic organization – be in these international twin-cities, that day by day create and recreate new lifestyles and new ways for an appropriation of the city? Shouldn’t one of the enterprises be to take the opposite way, to learn from the cities, instead of dictating other rules of organization? 

Finally, with a revolutionary attitude, we also made our provocation. The intervention was extended in the arts field, as researchers have pasted poster-bombers (Figure 9) and small stickers (addresses of the site through a QR-code) along the way. This practice also allowed to promote the research project, in a dialogue for and with the city, reinforcing the importance of sharing and discussing about information. Revolution spreads as a scar in the urban environment, as a material and concrete mark, leaving clues about the place that is inhabited by guests and hosts in constant transformation.

Fig. 9: Frames of the video produced during the pasting of poster-bombers, by Taís Beltrame dos Santos. Source: Laburb/FAUrb/UFPel Collection, 2018.

Ackowledgements 

To the undergraduate students that are affiliated to the research group Cidade+Contemporaneidade [City+Contemporaneity] (https://wp.ufpel.edu.br/cmaisc/), of the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq): Humberto Levy de Souza, holder of a scholarship from the Program for Research Initiation – Affirmative Actions of the Federal University of Pelotas; and Natália Lohmann D’ Ávila, holder of a scholarship for Scientific Initiation from CNPq. To the Foundation for Research Support in Rio Grande do Sul (FAPERGS), for financing the project.

References

Barros, L. M. R., Barros, M. E. B. DE. In.: Passos, E.; Kastrup, V., Tedesco, Silvia (coord.). 2014. Pistas do Método da Cartografia: A experiência da pesquisa e o plano comum. Porto Alegre: Sulina, v. 2, p. 175-202.

Careri, F., 2013. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Gustavo Gilli.

Deleuze, G., 1999. O ato de criação. São Paulo: Folha de São Paulo.

Deleuze, G., Guattari, 2014. F. Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte: Autêntica Editora.

Deleuze, G., Guattari, F., 1995. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34. v. 1.

Deleuze, G., Guattari, F., 1995. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34. v. 5.

Deleuze, G., Guattari, F., 1992.O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34.

Derrida, J., Dufourmantelle, A., 2003. Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar da Hospitalidade. São Paulo: Escuta.

Fuão, F. F. 2014 As formas de acolhimento na arquitetura. In: SOLIS, Dirce E.; Fuão, F. F. (org). Derrida e arquitetura. Rio de janeiro: EdUERJ, p. 41-114.

Harvey, D., 1992. A condição pós-moderna.Ed. São Paulo: Loyola.

Jacques, P. B., 2012. Elogio aos errantes. Salvador: EDUFBA.

Maricato, E. 2000. As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias: planejamento urbano no Brasil. In.: Arantes, O.; Vainier, C.; Maricato, E. (org.). A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis, RJ: Vozes.

Pucci, A. S., 2010. O Estatuto da Fronteira Brasil-Uruguai. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão.

Tedesco, S. H., Sade, C., Caliman, L. V, 2013. A entrevista na pesquisa cartográfica: a experiência do dizer. Fractal, Rev. Psicologia, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 299-322. Avaible at: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-02922013000200006&lng=en&nrm=iso>. Acessed in: 11 oct. 2019.

Ziller, R. C., Smith, D. E. 1997. A phenomenological utilization of photographs. Journal of Phenomenological Psychology, v.7, p.172-182.