Marcelo Tramontano é Arquiteto, Mestre, Doutor e Livre-docente em Arquitetura e Urbanismo, com Pós-doutorado em Arquitetura e Mídias Digitais. É Professor Associado do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma instituição. Coordena o Nomads.usp e é Editor-chefe da revista V!RUS. tramont@sc.usp.br
Pedro Teixeira é Arquiteto e pesquisador do Nomads.usp, no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Estuda o uso do filme documentário para a realização de leituras urbanas, baseado em processos participativos e colaborativos de produção audiovisual. pedrot@usp.br
Mario Vallejo é Desenhista Arquitetônico e de Engenharia e Mestre em Arquitetura e Urbanismo. É pesquisador do Nomads.usp, no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Estuda processos digitais de projeto, colaboração, BIM, e métodos e meios de representação. mariovallejo@usp.br
Como citar esse texto: TRAMONTANO, M.; TEIXEIRA, P. P.; VALLEJO, M. B. Questão de método. Editorial. V!RUS, São Carlos, n. 20, 2020. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus20/?sec=1&item=1&lang=pt>. Acesso em: 07 Out. 2024.
O processo de preparação da presente edição da revista V!RUS desenrolou-se durante os primeiros meses da pandemia do novo coronavírus. As medidas tomadas por autoridades de todo o mundo para a contenção da crise engendraram a busca por modos de reorganização de processos e dinâmicas, em inúmeras áreas e âmbitos da sociedade. As questões de método e a responsabilidade das universidades de pesquisa em explorá-las colocaram-se, assim, no centro de debates e ações importantes para a compreensão e o enfrentamento da pandemia, e para auxiliar o envolvimento da população.
No entanto, apesar da imensa tragédia que constitui essa pandemia, este é, para nós, também um momento de celebração. Lançamos esta vigésima edição da V!RUS no ano em que comemoramos o vigésimo ano de existência do Nomads.usp, Núcleo de Estudos de Habitares Interativos, o grupo que edita a revista. Criado em julho de 2000, o Núcleo está ligado ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, e reúne pesquisadores de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. A revisão contínua de métodos e metodologias de pesquisa, bem como as relações entre cultura digital, arquitetura e cidade sempre estiveram no centro das questões enfrentadas pelo Nomads.usp, e não por acaso são tema das duas edições da revista, neste ano de 2020.
Somos muito gratos a todas as autoras e autores que interessaram-se em debater os temas que propusemos ao longo destas vinte edições, assim como a todas as revisoras e revisores que generosamente dedicaram seu tempo e competência a avaliar os trabalhos submetidos e sugerir correções, ajustes e aprofundamentos. Agradecemos também o apoio fundamental que recebemos dos membros do nosso Comitê Científico, e a todas e todos os pesquisadores do Nomads.usp que, desde 2006, vêm participando da construção da revista como um projeto de interlocução acadêmica, capacitação e pesquisa. A presente edição é, assim, uma comemoração da V!RUS e do Nomads.usp com nossos colegas, colaboradores, amigos e parceiros, e, muito especialmente, com os nossos leitores.
É, portanto, com alegria que oferecemos à leitura vinte e oito trabalhos selecionados em intensa cooperação com revisores externos, produzidos por cinquenta e cinco pesquisadores de diversas instituições do Brasil e do Exterior. São artigos plenos de reflexões instigantes sobre a questão do método e ampliações possíveis de seus limites na contemporaneidade. Acreditamos que debruçar-se sobre a atualidade dos métodos de pesquisa, ensino e atividades de cultura e extensão universitária é fundamental para consolidarmos o papel social da academia no esforço maior de produção de conhecimento em colaboração com a sociedade.
Uma visão ampla do tema da edição é oferecida pela arquiteta e Professora Emérita da Universidade Federal de Minas Gerais Maria Lúcia Malard, nossa convidada, na entrevista "Buscando o que ainda não existe", do ponto de vista do mundo acadêmico e, em particular, da Arquitetura e Urbanismo. Métodos inovadores de ensino e aprendizagem são focalizados e examinados nos trabalhos Pensar o método e a produção de conhecimento, de Lúcia Leão, Corpo, crítica e criatividade no estudo da cidade, de Roseline Oliveira, e De perto e de dentro: aproximando desenho e história(s), de Ethel Pinheiro, Gustavo Badolati Racca, Niuxa Dias Drago e Sergio Rego Fagerlande.
Quatro artigos discutem bases conceituais do tema a partir de uma perspectiva interdisciplinar: O vazio significativo do cânon, de Ruth Verde Zein, Sobre o arquiteto-pesquisador-militante e lições da Geografia, de Marina Paolinelli, Making of: a cartografia de controvérsias e as pesquisas em projeto, de Rodrigo das Neves Costa, Giselle Nielsen Azevedo e Rosa Maria Leite Pedro, e O desvio como método: a dimensão relacional no design radical, de Angelica Oliveira Adverse, Adriana Dornas e Maira Gouveia
A discussão e revisão de métodos para o estudo da cidade e do urbano é priorizada em cinco trabalhos. Em A paisagem enquanto experiência: uma estratégia metodológica, Maria Cecília Bom de Lima e Luciana Martins Schenk propõem uma metodologia para a formulação de projetos da paisagem. Em Escuta como possibilidade de encontro: ação e reflexão em estudo de campo coletivo, Luciana Roça e Marcelo Tramontano discutem metodologias de participação comunitária na reflexão sobre o urbano. Os três outros artigos abordam pensamentos metodológicos ligados ao direito à cidade, princípios inclusivos e a construção do comum. São eles: Direito à cidade e hegemonia: caminhos para uma práxis urbana, de Liana de Viveiros e Oliveira, Narrativas à margem: deslocar epistemes para uma metodologia do comum, de Daniele Caron, Rodrigo Isoppo, Katia Oliveira e Gianluca Perseu, e A precariedade como regra: aportes para um reposicionamento epistemológico, de Paulo Nascimento Neto.
Seis proposições de métodos relacionados ao projeto e gestão do ambiente construído são apresentadas e discutidas nos artigos Método para a classificação da permeabilidade de copa de árvores, de Virginia Nogueira de Vasconcellos, Metodologias ergonômicas na avaliação de ambiente construído, de Vilma Villarouco e Ana Paula Lima Costa, Corpo cine-gráfico: proposta de método transdisciplinar para idades corporificadas, de Mariana Valicente, Cintia Ramari, Ethel Pinheiro e Niels Albertsen, O historiador e um método: a memória social de um desastre via hashtag, de Taciana Sene Lúcio, Ferramenta para avaliação da gestão de resíduos sólidos urbanos, de Ana Beatriz Suquisaqui e Katia Ventura, e Algoritmos participativos: metodologia para a customização arquitetônica, de Luiz Alberto Backheuser e Paulo Fonseca de Campos.
A seção Tapete, transversal a todas as edições da revista, e que costuma reunir artigos de um mesmo subtema, apresenta seis trabalhos que se debruçam sobre grupos em situação de desvantagem social, discutindo modos de pesquisa, ensino e atividades de extensão universitária. Dois deles abordam questões de gênero: Costura como método de investigação da cidade, de Giovanna Magalhães, Larissa Siqueira Chaves, Soraya Nór e Rodrigo Gonçalves dos Santos, e A análise bibliométrica aplicada a estudos de temática LGBT, de Artur de Souza Duarte, Israel Gomes de Oliveira, Maria de Lurdes Costa Domingos e Renato Cymbalista. Três outros artigos discutem metodologias que mesclam atividades de pesquisa e extensão universitária: Mapeando a cidade do Rio de Janeiro com jovens e crianças, de Flora Olmos Fernandez, Projeto arquitetônico autoritário vs. dialógico: um ensaio, de Bruno Euphrasio de Mello, e Cinema no Ho Chi Minh: a prática fílmica como engajamento territorial, de Iara Pezzuti dos Santos e Felipe De Brot. E Igor Guatelli, em Morar na abertura de interioridades, aprofunda o debate sobre modos de compreender o habitar em ocupações urbanas.
Na seção Projeto, o artigo Várzea do Tietê: restauro ambiental, urbanização e inovação tecnológica, de Nelson Brissac Peixoto, apresenta os desafios de se desenvolver projetos de pesquisa transdisciplinares que exigem a cooperação da comunidade, como o projeto ZL Vórtice.
Finalmente, o trabalho Mudanças climáticas e Ciências Sociais: uma análise bibliométrica, de Flávio Dias de Moraes, Ana Lia Monteiro Leonel, Pedro Henrique Torres, Pedro Roberto Jacobi e Sandra Momm Schult, explora limites de métodos clássicos de pesquisa em estudos interdisciplinares.
Esperamos que esses trabalhos contribuam para inspirar a renovação de métodos em nossas pesquisas, instituições e redes. Que eles tornem mais instigante o caminho reto e sem surpresas da pesquisa tradicional com os tufões do indeterminismo, da complexidade e da emergência.
Marcelo Tramontano is an Architect, Master, Doctor, and Livre-docente in Architecture and Urbanism, with a Post-doctorate in Architecture and Digital Media. He is an Associate Professor at the Institute of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo, Brazil, and the Graduate Program in Architecture and Urbanism of the same institution. He directs Nomads.usp and is the Editor-in-Chief of V!RUS journal. tramont@sc.usp.br
Pedro Teixeira is an Architect and researcher at Nomads.usp, at the Graduate Program in Architecture and Urbanism of the Institute of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo, Brazil. He studies the documentary film use for urban readings, based on participatory and collaborative processes of audiovisual production. pedrot@usp.br
Mario Vallejo is an Architectural and Engineering Draftman, and a Master in Architecture. He is a researcher at Nomads.usp, in the Graduate Program in Architecture and Urbanism at the Institute of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo, Brazil. He studies digital design processes, collaboration, BIM, and methods and means of representation. mariovallejo@usp.br
How to quote this text: Tramontano, M., Teixeira, P. P., Vallejo, M. B., 2020. Question of method. V!rus, Sao Carlos, 20. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus20/?sec=1&item=1&lang=en>. [Accessed: 07 October 2024].
The preparation process for this issue of the V!RUS journal took place during the first months of the new coronavirus pandemic. Measures taken by authorities around the world to fight the crisis have sparked the search for ways of reorganizing practices and dynamics in many areas and sectors of society. The questions of method and the responsibility of research universities to explore them have thus been placed at the center of debates and actions that are important for understanding and facing the pandemic, and to support the population's involvement.
However, despite the great tragedy this pandemic brings, this is also a time for us to celebrate. We are launching this twentieth issue of V!RUS in the twentieth year of the existence of Nomads.usp, Center for Interactive Living Studies, the group that publishes the journal. Created in July 2000, the Center is connected to the Graduate Program in Architecture and Urbanism at the Institute of Architecture and Urbanism at the University of Sao Paulo, Brazil, and brings together undergraduate, master's, doctoral and post-doctoral researchers. The continuous review of research methods and methodologies, as well as the relationship between digital culture, architecture, and the city, have always been at the heart of the issues addressed by Nomads.usp. It is not by chance that they are the subject of the two issues of the journal in the year 2020.
We are very grateful to all authors who have been interested in discussing the topics we proposed throughout these twenty editions, as well as to all reviewers who generously devoted their time and competence to evaluate the submitted works and suggest corrections, adjustments, and further developments. We also thank the members of our Scientific Committee for their crucial support, and all Nomads.usp researchers who, since 2006, have participated in the construction of the journal as a project for academic dialogue, training, and research. This edition is thus a celebration of V!RUS and Nomads.usp with our colleagues, collaborators, friends and partners, and, especially, with our readers.
We are, therefore, delighted to present these twenty-eight works selected in intense cooperation with external reviewers, produced by fifty-five researchers from several institutions in Brazil and abroad. These articles are full of thought-provoking reflections on the question of method and possible extensions of its limits in contemporary times. We believe that addressing methods for research, teaching, and cultural activities and university extension is essential to consolidate the social role of academia in the larger effort to knowledge production in collaboration with the society.
A broad view of the issue's theme is offered by the architect and Professor Emeritus from the Federal University of Minas Gerais, Brazil, Maria Lúcia Malard, in the interview "Seeking what does not yet exist". She proposes an overview of the question of method, from a perspective of the academic world and, in particular, of Architecture and Urbanism. Innovative teaching and learning methods are focused and examined in the works Thinking about method and the knowledge production, by Lúcia Leão, Body, criticism and creativity in the study of the city, by Roseline Oliveira, and Up close and from inside: connecting drawings to history(ies), by Ethel Pinheiro, Gustavo Badolati Racca, Niuxa Dias Drago and Sergio Rego Fagerlande.
Four articles discuss conceptual bases of the theme from an interdisciplinary perspective: The meaningful emptiness of the canon, by Ruth Verde Zein, About the architect-researcher-militant and lessons from Geography, by Marina Paolinelli, Making of: the cartography of controversies and project research, by Rodrigo das Neves Costa, Giselle Nielsen Azevedo and Rosa Maria Leite Pedro, and Deviation as a method: the relational dimension in radical design, by Angelica Oliveira Adverse, Adriana Dornas and Maira Gouveia.
The discussion and review of methods for the study of the city and the urban environment is central to five studies. In The landscape as an experience: a methodological strategy, Maria Cecília Bom de Lima and Luciana Martins Schenk propose a methodology for formulating landscape design. In Listening as an encounter: action and reflection in a collective field study, Luciana Roça and Marcelo Tramontano discuss methodologies for community participation in processes of thinking about the city. The further three articles address methodological thoughts related to the right to the city, inclusive principles, and the construction of the common. They are: The right to the city and hegemony: pathways to an urban praxis, by Liana de Viveiros e Oliveira, Narratives on the margins: shifting epistemes for a methodology of the common, by Daniele Caron, Rodrigo Isoppo, Katia Oliveira and Gianluca Perseu, and Precariousness as a rule: contributions to an epistemological repositioning, by Paulo Nascimento Neto.
Six method propositions related to the design and management of the built environment are presented and discussed in the articles A method to classify the permeability of tree canopies, by Virginia Nogueira de Vasconcellos, Ergonomic methodologies for the evaluation of built environment, by Vilma Villarouco and Ana Paula Lima Costa, Kinematic-graphic body: a transdisciplinary method proposal for embodied cities, by Mariana Valicente, Cintia Ramari, Ethel Pinheiro and Niels Albertsen, The historian and a method: the social memory of a disaster via hashtag, by Taciana Sene Lúcio, A tool for the evaluation of Municipal Solid Waste Management, by Ana Beatriz Suquisaqui and Katia Ventura, and Participatory algorithms: a methodology for architectural customization, by Luiz Alberto Backheuser and Paulo Fonseca de Campos.
Cross-cutting to all editions of the journal, section Carpet usually brings together articles from the same sub-theme. In this issue, it assembles six works that focus on socially disadvantaged groups, discussing modes of research, teaching, and university extension activities. Two of them address gender issues: Sewing as a method for investigating the city, by Giovanna Magalhães, Larissa Siqueira Chaves, Soraya Nór and Rodrigo Gonçalves dos Santos, and Bibliometric analysis applied to studies on LGBT issues , by Artur de Souza Duarte, Israel Gomes de Oliveira, Maria de Lurdes Costa Domingos and Renato Cymbalista. Three other articles discuss methodologies that mix research and university extension activities: Mapping the city of Rio de Janeiro along with youngsters and children, by Flora Olmos Fernandez, Authoritarian vs. dialogic architectural design: an essay, by Bruno Euphrasio de Mello, and Cinema in Ho Chi Minh: a filming practice as a territorial engagement, by Iara Pezzuti dos Santos e Felipe De Brot. Igor Guatelli, in Living in the opening of interiorities, deepens the debate on ways to understand living in urban occupations.
In section Project, the article The Tietê Floodplain: environmental restoration, urbanization and technological innovation, by Nelson Brissac Peixoto, presents the challenges of developing transdisciplinary research projects that require community cooperation, such as the ZL Vórtice project, in Sao Paulo outskirts.
Finally, the work Climate Change and Social Sciences: a bibliometric analysis, by Flávio Dias de Moraes, Ana Lia Monteiro Leonel, Pedro Henrique Torres, Pedro Roberto Jacobi and Sandra Momm Schult, explores the limits of some classic research methods applied to interdisciplinary studies.
We hope that these works will contribute to inspiring the renewal of methods in our research groups, institutions, and networks. May they make more thought-provoking the straight and unsurprising path of traditional research with the typhoons of indeterminism, complexity, and emergence.