Rodrigo das Neves Costa é arquiteto e Doutor em Arquitetura. É Coordenador de Projetos do quadro permanente da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz, e pesquisa sobre Projeto e Teoria do Projeto, Teoria da Arquitetura, Arquitetura e Ciência, e Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia. arqrcosta@yahoo.com.br
Giselle Nielsen Azevedo é graduada em Arquitetura e Doutora em Engenharia de Produção. É Professora Associada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, docente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da mesma instituição e líder do grupo de pesquisas Ambiente-Educação - GAE. Orienta e desenvolve pesquisas sobre Arquitetura escolar, Territórios educativos, Avaliação pós-ocupação, Qualidade do lugar, e Percepção ambiental. gisellearteiro15@gmail.com
Rosa Maria Leite Pedro é graduada em Psicologia e Doutora em Comunicação. É Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da mesma instituição. É líder do grupo de pesquisas Cultura Contemporânea: subjetividade, conhecimento e tecnologia, orientando pesquisas sobre Processos psicossociais, históricos e coletivos, com ênfase nos temas subjetividade, tecnologias e vigilância. rosapedro@globo.com
Como citar esse texto: COSTA, R. N.; AZEVEDO, G. A. N.; PEDRO, R. M. L. R. >Making of: a cartografia de controvérsias e as pesquisas em projeto. V!RUS, São Carlos, n. 20, 2020. [online]. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus20/?sec=4&item=11&lang=pt>. Acesso em: 07 Out. 2024.
ARTIGO SUBMETIDO EM 10 DE MARÇO DE 2020
Resumo
É evidente a capacidade de alguns edifícios em provocar debates, polêmicas e disputas. Muitas vezes, tais divergências são inconciliáveis e alcançam a magnitude de debates públicos. É nesse sentido que o termo controvérsia é adequado para descrever, frequentemente, a prática projetual. Essa capacidade de articular e concentrar debates permite explorar o potencial do projeto como uma espécie de observatório de pesquisa. Como uma subversão do sentido tradicional do método, a cartografia de controvérsias permite observar como a prática projetual maneja as diferenças no making of dos objetos arquitetônicos, contribuindo para ampliar sua complexidade como objetos de pesquisa. O objetivo aqui é demonstrar como esse método pode ser útil às pesquisas em projeto. Para tal, tomamos o projeto como modo de articular debates e disputas, evidenciando sua compatibilidade e potencial em relação ao método. Em seguida, apresentamos a cartografia de controvérsias, mostrando como permite obter objetos de pesquisa mais complexos. E tratamos da construção de dispositivos e da representação na cartografia, apresentando modos para alcançar equilibrar a simplicidade necessária às representações e a riqueza desejada ao objeto. Finalmente, apresentamos um breve experimento cartográfico para exemplificar como o método pode ser empregado na análise de um projeto.
Palavras-chave: Projeto, Prática projetual, Método, Cartografia de controvérsias
1 Introdução
Alguns projetos de arquitetura e urbanismo trazem consigo a capacidade de provocar debates, polêmicas e disputas entre argumentos e visões divergentes. Há inúmeros exemplos disso, como a Cidade das Artes, a reforma do Estádio Mário Filho – Maracanã – para a Copa do Mundo de 2018 e o Museu do Amanhã. Projetos são capazes de catalisar e concentrar debates, pois conferem visibilidade e materialidade às questões em disputa. Grande parte do trabalho projetual requer a coordenação de diferenças, que podem alcançar a magnitude de debates públicos. É nesse sentido que a prática projetual envolve, frequentemente, manejar controvérsias.
Segundo Venturini (2010, p. 261, tradução nossa), controvérsias são “situações onde os atores discordam, ou melhor, concordam na sua discordância”. Nesse sentido, estão situadas entre a impossibilidade de ignorar posições divergentes e o acordo de convivência mútua. Um dos fundamentos de pesquisar com controvérsias está na busca de eventos nos quais a vida coletiva se apresenta em sua forma mais complexa, em termos de multiplicidade e heterogeneidade. Mapear controvérsias permite visualizar questões importantes e, sobretudo, visões divergentes sobre um assunto comum. E é exatamente na capacidade do projeto de articular tais debates que reside grande utilidade em termos de pesquisa.
Porém, se, por um lado, investigar controvérsias pode ser um modo de alcançar a complexidade nos objetos de pesquisa, por outro, traz consigo a dificuldade em lidar com a própria prática investigativa. Isto porque as controvérsias são geralmente confusas, o que as torna difíceis de lidar. Nas palavras usadas por Venturini (2010), os estudantes que entram em cartografias de controvérsias são como animais, criados em zoológicos, quando colocados no habitat natural: há euforia e, logo depois, perplexidade. Nas controvérsias, os argumentos se misturam e não há clareza ou ordenamento ao iniciar o processo. A ênfase nas controvérsias gera uma tensão entre a simplificação necessária para permitir a compreensão e a complexidade inerente ao objeto. Ao mesmo tempo em que favorecem maior complexidade do objeto, as controvérsias ampliam o desafio da representação1 na pesquisa.
É nesse sentido que a cartografia de controvérsias representa uma deriva em relação ao significado tradicional do método, o que traz consigo uma ampliação na complexidade dos objetos. Ela não se enquadra como um conjunto ordenado de etapas para se desenvolver um percurso e se chegar a um destino previamente estabelecido. Há uma inversão metodológica, pois, ao enfatizar as controvérsias, a cartografia privilegia a abertura ao inesperado, tornando o percurso simultâneo à formação do objeto (PEDRO, 2010). As controvérsias exploram a vida coletiva em sua forma mais complexa, repleta de disputas, discordâncias e contradições. Ampliar a complexidade do projeto como objeto de pesquisa é uma questão de método, para a qual a cartografia de controvérsias pode contribuir.
Nessa perspectiva, o objetivo deste artigo é mostrar como a cartografia de controvérsias pode ser útil às pesquisas em projeto. Para tal, primeiro, propomos compreender a prática projetual como modo de articular controvérsias, evidenciando seu potencial em relação ao método de pesquisa. Em seguida, apresentamos a cartografia de controvérsias, destacando a utilidade de investigar o projeto em seus próprios meios, através da observação dos objetos arquitetônicos em desenvolvimento. Na terceira seção, alertamos para a importância da construção de dispositivos e para o problema da representação na cartografia, apresentando modos de superá-lo. Finalmente, apresentamos um pequeno experimento cartográfico para exemplificar como o método cartográfico pode ser empregado na análise de um projeto.
2 Projetar como articulação de controvérsias
A natureza múltipla e integrada do projeto é bastante conhecida. Os mapeamentos de processos de projetos mostram diversas interações e influências, denominadas restrições internas e externas (LAWSON, 2011). Cada vez que algo é levado em conta – um zoneamento, uma revisão orçamentária, um protesto, a resistência de algum material, um novo cliente – é necessário renegociar o projeto, concebendo um novo desenho integrado (LATOUR, YANEVA, 2008). Há diversas negociações, desvios e interferências durante o processo até sua estabilização, ainda que temporária. Ou seja, muito trabalho é necessário para que se alcance um arranjo capaz de incorporar diferentes requisitos na solução, não sendo raro que muitas versões sejam descartadas.
A interação entre os diferentes requisitos muitas vezes torna-se inconciliável durante o processo projetual. Não se trata somente de multiplicidade, mas também de divergência, que pode alcançar a magnitude de debates públicos, em alguns projetos. Mas é a própria coexistência de diferentes atores com diferentes visões – e as discordâncias geradas com isso – e a necessidade de habitarem um espaço comum que constituem a prática projetual (YANEVA, 2012). Está imbricado no projeto um trabalho ativo de articulação das diferenças. E é esse trabalho que aproxima a prática projetual da noção de controvérsia.
O termo controvérsia refere-se “a cada uma das ciências e tecnologia que ainda não está estabilizada, fechada ou ‘caixa preta’ [...] um termo geral para descrever a incerteza compartilhada” (VENTURINI, 2010, p. 260, tradução nossa). As controvérsias são marcadas pela instabilidade, pelo debate e pela discordância. Embora muito diferentes entre si em termos de conteúdo, características comuns as definem: diversidade de atores, movimentos de alianças e oposições que se transformam, engano da simplicidade aparente, disputas entre os atores, aspereza dos conflitos (VENTURINI, 2010). Devemos tomar as discordâncias em sentido amplo, pensando que as controvérsias começam quando atores descobrem que não podem ignorar uns aos outros, e terminam quando conseguem um acordo de convivência mútua. Quando há algo que se situa entre esses dois extremos, trata-se de uma controvérsia.
Portanto, projeto e controvérsia têm muito em comum. Ambos envolvem multiplicidade e heterogeneidade de atores, sendo argumentos divergentes confrontados ao mesmo tempo e no mesmo espaço. Isso permite que sejam descritos como “fóruns híbridos”, ou seja, espaços de conflito e negociação entre os atores (CALLON, LASCOUMES, BARTHE, 2001). São híbridos no que diz respeito tanto aos atores – vão de pessoas a materiais de construção – quanto às questões abordadas – podem ir de cronogramas a políticas de Estado. O termo fórum refere-se a espaços onde grupos podem se encontrar e debater questões diferentes. O projeto é, de certa forma, um fórum para debater controvérsias, onde a prática projetual é um modo particular de conduzi-las2 . Pensar o projeto enquanto controvérsias permite explorá-lo em sua configuração mais complexa.
Há, ainda, outra relação útil entre projeto e controvérsia. Além de operar como fórum de discussão e operação, sob o ponto de vista da investigação, o projeto concentra e organiza debates, tornando-se uma forma de acompanhar e registrar as controvérsias. Pode-se pensar o desenvolvimento de um projeto como uma navegação através de um terreno de controvérsias: uma sequência de versões, sucessos e fracassos; uma trajetória de definições e conhecimentos instáveis; um conjunto de materiais e tecnologias de construção; uma reunião de avaliações de preocupações de usuários (LATOUR, YANEVA, 2008). Os edifícios são capazes de promover e concentrar debates, pois conferem materialidade às disputas, o que permite visualizar as controvérsias. Reconhecer que o projeto funciona como observatório de controvérsias permite explorar seu potencial por meio do método de pesquisa.
3 A cartografia de controvérsias
Imaginemos que precisamos ir a um lugar que não conhecemos, como quando chegamos a um bairro diferente e precisamos caminhar para chegar a determinado endereço. Como não conhecemos a vizinhança, avançamos devagar, prestando atenção aos edifícios, aos nomes das ruas, ao comércio, aos carros, aos pontos de referência e às pessoas que passam. É nesse sentido que a cartografia sugere uma mudança no que se espera da pesquisa e no próprio pesquisar, subvertendo o sentido tradicional do método, impresso na própria etimologia da palavra: metá – objetivo – e hódos – caminho (PASSOS, BARROS, 2015). Na abordagem clássica, a investigação é compreendida como um caminho predefinido para se chegar a uma meta também dada de antemão (LATOUR, 2004). A definição de uma hipótese sobre o objeto de estudo é a materialização de conceitos prévios sobre o objeto investigado, o que condiciona os passos a serem seguidos na sua investigação. Por outro lado, a cartografia propõe uma inversão metodológica3, transformando o metá-hódos em hódos-metá. Trata-se de caminhar para conhecer, em vez de conhecer para caminhar, sendo mais uma trilha do que um trilho.
Considerando que existem diferentes métodos cartográficos, interessa particularmente, neste artigo, a cartografia de controvérsias. Inicialmente desenvolvida por Bruno Latour na Escola de Minas de Paris, na década de 1990 – e atualmente ensinada e utilizada em várias universidades pelo mundo – pode ser definida como um “exercício de construir dispositivos para observar e descrever o debate social, especialmente, mas não exclusivamente, em torno de questões tecnológicas” (VENTURINI, 2010, p. 258, tradução nossa). Em certa medida, é um procedimento derivado da Teoria Ator-Rede4, guardando princípios em comum, mas sem tantas complicações teóricas. Contudo, a Cartografia de Controvérsias e a Teoria Ator-Rede não são abordagens distintas. Pelo contrário, são dois modos de expressar as mesmas ideias, apoiados nas mesmas bases, sendo esta mais conceitual, enquanto aquela é mais operacional.
Nessa visão, cartografar envolve, basicamente, observar e descrever. Observar significa estar tão aberto quanto possível, o que ocorre pela multiplicação de pontos de vista. Já descrever refere-se à arte de mapear objetos, processos e práticas, traçando a complexidade dos fenômenos sem substituir o específico pelo geral (YANEVA, 2012). Na cartografia de controvérsias, tal descrição é feita com base na série de situações representadas, de acordo com a dinâmica dos atores e dos espaços e tempos que geram. Embora observar e descrever sejam atividades comuns aos métodos tradicionais de pesquisa, a cartografia de controvérsias propõe uma ressignificação delas.
Semelhante à distinção entre o trilho e a trilha, Latour compara a cartografia a um guia de viagem. Para ele, a vantagem disso sobre um “discurso do método” é que o guia não se confunde com o território ao qual está sobreposto, podendo “ser lido ou esquecido, relegado a uma mochila, besuntado de manteiga e café, rabiscado, privado de algumas páginas que vão acender o fogo da churrasqueira” (LATOUR, 2012, p. 38). Isso permite a deriva, o encontro com o inesperado, a mudança de rota. Há aí novamente uma clara distinção em relação ao método científico tradicional, notadamente o hipotético-dedutivo. A cartografia serve mais como uma estratégia para pesquisar do que como um conjunto de etapas a serem seguidas.
Desse modo, a cartografia de controvérsias se apoia em alguns fundamentos. Venturini (2010) defende que na cartografia de controvérsias não há definições para aprender, premissas para honrar, nenhuma hipótese para demonstrar, nenhum procedimento a seguir, nenhuma correlação para estabelecer. Trata-se de um procedimento ad hoc, construído caso a caso, em que o método vai se fazendo, em parte, no acompanhamento dos movimentos que ocorrem. Outro aspecto relevante é que a objetividade não é alcançada pelo suposto distanciamento do objeto de estudo, mas pela multiplicação dos pontos de observação. Quanto mais numerosas e parciais são as perspectivas a partir das quais um fenômeno é considerado, mais objetiva e imparcial será a sua observação (VENTURINI, 2010). Isso se relaciona ao reconhecimento de que os participantes podem ser tão informados quanto os pesquisadores, o que implica uma redistribuição do conhecimento. Ao observar as práticas, não basta restringir os atores ao papel de informantes, é preciso dar-lhes a capacidade de elaborar suas próprias teorias, tomando-os como especialistas (LATOUR, 2012). A cartografia permite que os objetos sejam investigados por seus próprios meios, construídos pelos próprios atores, numa emergência simultânea de método e objeto na prática de pesquisa.
E no que particularmente a cartografia de controvérsias pode nos ajudar nas pesquisas em projeto? Primeiramente, ela nos permite abandonar algumas pré-concepções. Ao mapear as controvérsias, podemos produzir descrições de objetos, práticas e processos arquitetônicos, evitando metafísicas de análise (YANEVA, 2012). Cartografar controvérsias permite tomar a arquitetura como domínio técnico e social simultaneamente, evitando separações prévias. Trata-se de privilegiar as experiências arquitetônicas, a rugosidade das controvérsias e a linguagem dos atores, em vez de quadros teóricos de interpretação, tipos ou categorias fechadas. O mapeamento das controvérsias é uma investigação que permite visualizar os meandros da ação coletiva da arquitetura.
Mas por que buscar justamente as controvérsias? Não é aí que as coisas estão mais confusas e difíceis de compreender? Sim, e é por isso que as controvérsias são tão promissoras. Se a cartografia é complexa, é porque a própria vida coletiva é complexa (VENTURINI, 2010). Os momentos em que ocorrem discordâncias e debates permitem enxergar a vida coletiva tal qual ela se desenvolve na prática. As controvérsias envolvem todos os tipos de atores e mostram o social em sua forma mais dinâmica. As controvérsias emergem quando coisas estáveis são debatidas, gerando conflitos. A construção de um universo compartilhado muitas vezes se dá pelo choque de mundos conflitantes (VENTURINI, 2010). Seguir o processo de desenvolvimento do projeto fornece uma espécie de making of que permite visualizar os movimentos realizados e as controvérsias associadas, alcançando maior complexidade. É nesse sentido que a cartografia de controvérsias convida a observar os bastidores da construção dos objetos: a “caixa-cinza”5 ao invés de “caixa-preta”. Trata-se de investigar a arquitetura em ação, em processo de elaboração, em estado bruto. Porém, alcançar tal complexidade traz consigo o desafio da representação.
4 A representação na cartografia
Certamente, a postura diante do objeto de estudo trazida pela cartografia pode trazer confusão e desorientação. O fato de não submeter o objeto a um quadro teórico pré-estabelecido faz com que se tenham menos certezas no processo de pesquisar. Seguir os atores em suas ações pode levar a infindáveis conexões e dificuldade de materialização da pesquisa (LATOUR, 2012). Controvérsias são inevitavelmente tumultuadas e confusas, o que as torna difíceis de manejar, seja pela quantidade de informações, seja pela utilização de diferentes ferramentas. A cartografia de controvérsias traz consigo dificuldades de materialização da pesquisa.
Porém, ter uma atitude mais aberta em relação ao objeto pesquisado não significa falta de rigor. A proposta cartográfica demanda atenção aos instrumentos de pesquisa. A cartografia, enquanto método, sempre requer, para funcionar, procedimentos concretos encarnados em dispositivos (KASTRUP, BARROS, 2015). A construção de dispositivos é tarefa fundamental na cartografia, no sentido de realizar o próprio objeto investigado, já que eles o fazem existir de maneiras particulares. Como vimos, isso se relaciona à política ontológica, no sentido de que determinados dispositivos produzem determinadas versões do objeto (MOL, 1999). Atentar para a formação desses dispositivos é também reconhecer que método e objeto são criações simultâneas.
Cabe, então, propor o que seria um dispositivo na perspectiva da pesquisa cartográfica. Para tal, vejamos algumas definições. Sem se referir especificamente à pesquisa, Michel Foucault (1979, p. 244) define dispositivo como:
um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. [...] O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre esses elementos.
Assim, para Foucault, a ideia de dispositivo está mais ligada a um modo de fazer, particularmente relacionado às conexões geradas por um conjunto de elementos. A partir desse conceito, Deleuze (1990, p. 155) afirma que os dispositivos são “máquinas de fazer ver e fazer falar”, compostos por “linhas de natureza diferente”. Destaca, assim, quatro tipos dessas linhas com funções diferentes: a de visibilidade, a de enunciação, a de força e a de subjetivação. Para ele, os dispositivos fazem existir os objetos. Em ideia similar, Latour e Woolgar (1979) trazem a noção de dispositivos de inscrição. Tratando do método científico, eles usam a expressão para caracterizar todos os dispositivos usados para materializar os fenômenos estudados pelos cientistas, sejam máquinas ou artigos científicos. Nesse caso, são tais dispositivos que tornam o fato científico real, mas estão longe de ser neutros. As noções são próximas entre si, mas possuem diferenças. A visão de Foucault está mais ligada à composição do dispositivo, enquanto Deleuze nos mostra como o dispositivo pode ser útil para dar materialidade às práticas. Já Latour enfatiza a política que está associada aos dispositivos, reconhecendo sua capacidade de agência.
Na pesquisa cartográfica, buscamos dispositivos que tragam à tona a complexidade. Vimos, antes, como é possível compreender o projeto em termos mais complexos a partir da noção de controvérsia. Assim, propomos compreender os dispositivos de pesquisa como modos de dar visibilidade a essa complexidade, mas sempre de forma localizada, parcial e provisória, reconhecendo sua capacidade de agência. É a composição de dispositivos de diferentes naturezas – modos de dar visibilidade – que permite performar um objeto mais complexo. Os dispositivos devem ser combinados em uma espécie de caleidoscópio, permitindo representar o objeto em imagens variadas que, de acordo com o movimento realizado, podem produzir distintas combinações. Porém, essa questão introduz uma dificuldade crucial das pesquisas envolvendo a cartografia de controvérsias: a representação.
Obter objetos mais complexos requer práticas capazes de fazê-lo, também com relação às visualizações. O desafio da representação na cartografia está em equilibrar a simplicidade necessária para compreender os mapas e a complexidade desejada para compreender o objeto (VENTURINI et al., 2015). Ou seja, é possível oferecer mapas ricos em detalhes, mas difíceis de ler, ou mapas mais fáceis de ler, porém pobres em conteúdo. Nesse sentido, cabem algumas considerações. Primeiro, é importante compreender que não há pesquisa sem representação: observar e representar ocorrem simultaneamente, na prática. Porém, há uma sutileza em relação ao papel da representação na cartografia. A fim de evitar simplificações, é importante notar que as representações não são totalizantes. Em outras palavras, o mapa não se confunde com o território, mas cada representação é um modo de fazê-lo existir (VENTURINI, 2012). Isso significa que a soma das partes não é um todo: distintas representações são mapas ajustados sucessivamente. Trata-se de considerar as representações como visões parciais e provisórias que fazem existir o objeto de modo particular sem, contudo, esgotá-lo.
É importante também admitir que as representações são dinâmicas. Por tratar justamente daquilo que não está estabilizado, na cartografia de controvérsias, o mapa “é um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformação” (ROLNIK, 2007, p. 23). O que há é sempre um desenho provisório, funcional até que novas cartografias – paisagens e relevos – se imponham. O que a cartografia nos oferece é uma série de quadros, vinculados à dinâmica das controvérsias, acentuando seu caráter contingencial, provisório e incerto6 (PEDRO, 2010, p. 89), na medida em que propõe investigar os objetos em ação (LATOUR, 2011). O movimento proposto é ir dos produtos finais à produção, dos objetos estáveis e “frios” a objetos instáveis e mais “quentes”. Ao cartografar, estamos diante de um objeto-processo. É essencial perceber as modificações que são feitas ao passar pelas mãos dos atores durante a construção dos artefatos (LATOUR, 2011). O objeto de pesquisa na cartografia é algo sujeito a constantes modificações e, ao seguir e descrever as práticas, é possível ampliar sua complexidade. Assim, cartografia se faz com base em relatos de risco, na medida em que as representações se sucedem7.
Outro aspecto fundamental diz respeito ao modo de compor as representações. Para Venturini (2015), não se trata de tornar o mapa tão complexo como o território investigado, nem tão simples a ponto de comprometer essa relação. O autor traz a ideia do atlas para superar essa dificuldade. Em vez de um mapa muito complexo, o ideal é reunir diferentes mapas, em uma espécie de atlas capaz de reverberar a complexidade do território. Nesse sentido, a cartografia é mais como um movimento ou um modo de percorrer as representações, como uma decomposição que se situa no meio do caminho entre um objeto único e muito complexo e outro muito simples.
Por fim, se a cartografia pode ser compreendida como um modo de se movimentar no território, é importante pensar em como transitar nos ambientes confusos das controvérsias. Existem alguns movimentos que nos permitem acessar camadas distintas da controvérsia – alinhados à noção do atlas – como aponta Venturini (2010, p. 270):
1. Das afirmações à literatura. A primeira tarefa é mapear as afirmações dispersas, buscando como os discursos são tecidos em literaturas articuladas. [...]
2. Da literatura aos atores. As afirmações são partes de redes maiores compostas por atores: seres humanos, objetos, organismos naturais, instituições e assim por diante. [...]
3. Dos atores às redes. Os atores são sempre simultaneamente atores e redes. [...]
4. Das redes às visões de mundo. A maioria dos atores e seus grupos aspiram a algum tipo de estabilidade. Todos têm ideologias – declaradas ou não – sobre como o mundo deveria ser. Confrontando diferentes visões de mundo, é possível perceber a extensão das controvérsias. [...]
5. Das visões de mundo às cosmopolíticas. As controvérsias mostram a concorrência entre diferentes visões de mundo, onde alguma por vezes prevalece, calando as outras. A coexistência coletiva entre elas não vem sem acordo, trabalho, discussão, enfim, uma negociação política.
5 Um rápido experimento cartográfico
Passando pela Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, há grande chance de se avistar a Cidade das Artes (ver figura 1). Situado no encontro dos dois eixos viários projetados por Lúcio Costa – as avenidas Ayrton Senna e das Américas –, o complexo cultural abriga espaços destinados a diversas modalidades artísticas e culturais. No entanto, nem a monumentalidade do edifício, nem a assinatura do renomado arquiteto francês Christian De Portzamparc foram capazes de desvinculá-lo da imagem polêmica. Uma busca rápida no Google nos lembra que: a obra, que seria entregue em 2004, foi concluída apenas em 2013, após diversas paralisações; o custo, previsto inicialmente em R$ 80 milhões, chegou a R$ 600 milhões; o complexo teve seu nome trocado por duas vezes. Tais elementos revelam indícios das controvérsias que se articularam em torno do projeto.
Avançando na rápida investigação pela Internet, é possível traçar uma análise retrospectiva e gradual dos debates8. Por meio dos rastros deixados – reportagens, críticas arquitetônicas e outras não especializadas, artigos científicos e fotos – visualizamos as discussões que acompanharam a vida do projeto e as controvérsias associadas. Inicialmente batizada de Cidade da Música, o projeto foi encomendado a Christian De Portzamparc pelo então prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, com o principal objetivo de abrigar a sede da Orquestra Sinfônica Brasileira. O extenso programa baseou-se nas necessidades apontadas pelo maestro e outros músicos da orquestra, além de solicitações do prefeito (MAGALHÃES, 2012). Projetado em 2002, o resultado foi um edifício de escala monumental (ARCHDAILY, 2013):
o edifício é uma pequena urbe contida em uma grande estrutura elevada e construída sobre uma enorme esplanada elevada a dez metros de altura – de onde se pode ver a montanha e o mar – que flutua sobre um parque público, um jardim tropical e aquático [...].
Porém, a evolução do projeto acompanhou uma série de controvérsias organizadas em torno de temas específicos, potencializadas pela desaceleração do processo de construção. De início, a própria existência do projeto foi questionada. Moradores da Barra da Tijuca argumentavam que o projeto era inconcebível, uma vez que a prioridade do bairro seria a construção das Linhas 4 e 6 do Metrô, cuja estação de integração se situaria no local (RODRIGUES, 2008). Adiante, o projeto disputou recursos com outros empreendimentos existentes na cidade, como as obras para sediar os Jogos Pan-americanos de 2007, que se tornaram prioritárias (MAGALHÃES, 2012). A escala do projeto foi duramente combatida, pois associou-se ao elevado investimento necessário e, consequentemente, à dificuldade de conclusão das obras.
Outra controvérsia debatida foi a capacidade técnica para realizar o projeto. Por um lado, houve quem defendesse que a solução ideal seria ter contratado um arquiteto brasileiro, preferencialmente por meio de um concurso, como colocou o relatório de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, criada para averiguar o projeto (MAGALHÃES, 2012). Por outro lado, a escolha do renomado arquiteto apoiou-se na reconhecida competência de Christian De Portzamparc, adquirida na elaboração de projetos de salas de música anteriores, notadamente a Cité de La Musique, em Paris.
Não menos importante, o design do edifício foi mais um assunto controverso. Christian De Portzamparc concebeu o edifício, nas suas próprias palavras, como uma grande referência à arquitetura moderna brasileira. A Cidade das Artes é uma espécie de grande casa, uma varanda sobre a cidade, homenagem a um arquétipo da arquitetura brasileira (ARCHDAILY, 2013). Para Otávio Leonídio (2009, p. 185), trata-se de “um modo de reprocessar uma certa tradição moderna”, que causou certa dificuldade dos arquitetos brasileiros em lidar com o projeto. Sobre isso, comenta que a forma de abordagem do modernismo brasileiro adotada por De Portzamparc – um distanciamento crítico – é diametralmente oposta à reverência defendida por alguns arquitetos brasileiros, o que resultou em fortes reações ao projeto. Mais uma vez, fica evidente a controvérsia em lidar com um tema específico – neste caso, a arquitetura moderna brasileira –, originada por argumentos divergentes.
Esse experimento cartográfico exemplifica o potencial que alguns projetos têm de trazer à tona debates que opõem visões distintas, dando origem a controvérsias. A partir de uma rápida pesquisa, pudemos montar um mapa – bastante provisório e incompleto – de algumas questões em disputa, abrindo as “caixas-pretas”. Foi possível identificar os seguintes atores: Christian De Portzamparc, César Maia, a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Cidade da Música de Paris, o Plano Diretor da Barra da Tijuca, a paisagem, os moradores locais, a tecnologia construtiva, o Projeto de Expansão do Metrô, os Jogos Pan-americanos de 2007, a comunidade de arquitetos, a Câmara de Vereadores, o conjunto edificado da arquitetura moderna brasileira. É possível afirmar que cada um desses atores teve agência no projeto – em maior ou menor grau – e contribuiu para debater os temas que se destacaram: a utilidade do projeto, sua prioridade em relação às necessidades da cidade, a capacidade técnica do projetista e a forma de contratação, o custo adequado para a obra, a forma arquitetônica, a inserção na paisagem.
O mapeamento da controvérsia revelou, também, posições distintas a respeito dos temas citados. Sobre a capacidade técnica para elaboração do projeto, fica evidente a disputa entre, de um lado, argumentos em favor de uma expertise específica ligada ao programa, e, de outro, a valorização do conhecimento da situação específica de projeto. Ou, ainda, sobre a forma arquitetônica, foi possível visualizar a oposição entre a adoção de uma referência mais explícita à arquitetura moderna ou não. A controvérsia agrega e expõe argumentos distintos sobre diversos temas. Enfim, podemos ver como aspectos relacionados ao projeto – como contratação, localização, escala, tecnologia construtiva ou forma – promoveram discussões sobre utilidade, capacidade técnica e até arquitetura moderna brasileira. Isso envolveu a participação de diferentes atores, numa mistura indissociável às dimensões sociais e tecnológicas.
6 Conclusão
Se quisermos alcançar maior complexidade nos nossos objetos de pesquisa, precisamos de métodos capazes de abordar o projeto como ele ocorre na prática. Assim, propusemos compreender o projeto enquanto modo de articular controvérsias. Ao enfatizar, não só a multiplicidade, mas também as discordâncias inerentes ao processo projetual, é possível mostrá-lo numa configuração mais complexa, em termos de atores, temas, visões e argumentos. Como vimos, ampliar a complexidade do projeto como objeto de pesquisa é, na verdade, uma questão de método, para a qual a cartografia de controvérsias pode contribuir. Essa perspectiva permite também explorar o potencial de visualização que o projeto traz consigo – numa espécie de observatório para as controvérsias –, pela capacidade de promover e concentrar debates. Nesse ponto, a cartografia de controvérsias é um método capaz de favorecer objetos de pesquisa mais alinhados tanto à especificidade do projeto – por privilegiar o acompanhamento das práticas –, quanto à complexidade da vida social – por buscar as controvérsias dos objetos em construção.
Em seguida, colocamos o problema da representação para a cartografia, que está relacionado ao oferecimento de leituras possíveis que não sejam nem tão simples, a ponto de não informar, nem tão complexas, a ponto de serem incompreensíveis. Por meio das ideias do atlas e do caleidoscópio, é possível realizar e apresentar a cartografia por meio de distintas camadas ou mapas, o que permite diferentes leituras. Após, apresentamos algumas pistas para orientar a movimentação no território cartográfico. Por meio de um pequeno experimento cartográfico, exemplificamos como um conjunto de controvérsias foram discutidas em torno de um projeto. A partir de uma rápida pesquisa, foi possível montar um mapa, identificando como algumas questões em disputa confrontaram argumentos e visões distintas, misturando aspectos sociais, tecnológicos e funcionais.
Em sentido amplo, a cartografia de controvérsias pode ser útil às pesquisas em projeto tanto no sentido de elucidar seu papel enquanto modo de coordenação espacial de disputas, quanto no sentido de possibilitar a observação de tais disputas. E ainda, seguir as controvérsias em sua evolução permite desdobrar dimensões políticas normalmente escondidas da arquitetura e tomadas como estáveis e garantidas, dito de outra forma, mostrando as “caixas-pretas” abertas. Nesse sentido, a própria localização da arquitetura como ciência social aplicada é uma questão de método, na medida em que requer a utilização de instrumentos capazes de abarcar a mistura entre aspectos usualmente posicionados em extremos opostos: material, objetivo e tecnológico, de um lado; e imaterial, social e subjetivo, de outro.
Referencias
ARCHDAILY. Cidade das Artes / Christian De Portzamparc. Archdaily, 9 dez. 2013. Disponível em: www.archdaily.com.br/br/01-158494/cidade-das-artes-slash-christian-de-portzamparc;. Acesso em: 25 abr. 2020.
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1 Compreendemos que representar é parte da prática de pesquisar e, portanto, ocorre simultaneamente ao fazer. E, ainda, as representações são recursos cognitivos necessários para que possamos lidar com grande número de informações, ressalvado que se trata sempre de visualizações parciais e provisórias. O que propomos são dispositivos de investigação capazes de realizar – certamente de modo imperfeito – tal complexidade.
2 É importante ressaltar que os projetos precisam fechar controvérsias para avançar, ainda que temporariamente. Embora não possamos afirmar que todos os casos envolvem controvérsias, podemos considerar que projetos geralmente lidam com elas, em maior ou menor grau.
3 A cartografia não se apoia em versões prévias acerca da realidade, mas trata objeto e conhecimento como efeitos emergentes do processo de pesquisar, privilegiando o modo de fazer a investigação em vez de um conhecimento prévio (PASSOS, BARROS, 2015). Essa perspectiva da realidade se aproxima da noção de política ontológica, por meio da qual Mol (1999) defende que a realidade é formada a partir das práticas.
4 A Teoria Ator-Rede (TAR) é um conjunto teórico e empírico que descreve as relações sociais como efeitos de rede, como uma alternativa à Sociologia tradicional, baseando-se principalmente na noção de tradução (LATOUR, 2012). É um produto de um grupo de sociólogos, originado na década de 1980, majoritariamente vinculados ao Centro de Sociologia da Inovação da Escola Superior de Minas de Paris, liderados por Bruno Latour. Embora Michel Callon e John Law sejam colocados por vezes como co-autores da TAR, seus estudos estão mais ligados ao campo Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).
5 Na sociologia das ciências e da tecnologia, o termo caixa-preta é usado para designar um fato ou um artefato técnico bem estabelecido. Isso significa que ele não é mais objeto de controvérsia, de questionamentos, mas que é tido como um dado. Quando uma técnica ainda não está completamente estabelecida como caixa-preta, falamos de caixa cinza ou translúcida (VINCK, 1995). As controvérsias são debates que tratam de conhecimentos científicos ou técnicos que ainda não estão totalmente estabilizados – caixas-cinza –, que ainda portam em si controvérsias, interrogações e debates que ainda não se constituíram em uma caixa-preta.
6 Esse é um ponto crucial no esforço de se buscar formas de apresentação e visualização que dêem conta do caráter provisório e mutável das controvérsias, neste caso, os projetos de arquitetura.
7 É interessante destacar a relação entre o decalque e a cartografia, no sentido de um permitir operacionalizar a outra. Embora aparentemente contraditórios, a cartografia só é possível com a realização de sucessivos decalques provisórios (FERREIRA, 2008; PEDRO, 2010). É como se o decalque fosse uma das diversas fotos que compõem um vídeo, que seria a cartografia.
8 Não foi o objetivo aqui desenvolver uma análise mais abrangente, mas apenas um pequeno experimento capaz de exemplificar o método. Um estudo mais aprofundado poderia trazer à tona outras questões.
Rodrigo das Neves Costa is an architect and Ph.D. in Architecture. He is a Project Coordinator of the permanent staff of the Oswaldo Cruz Foundation - Fiocruz, and researches on Project and Project Theory, Theory of Architecture, Architecture and Science, and Social Studies in Science and Technology. arqrcosta@yahoo.com.br
Giselle Nielsen Azevedo has a degree in Architecture and a Ph.D. in Production Engineering. She is an Associate Professor at the Faculty of Architecture and Urbanism at the Federal University of Rio de Janeiro, Brazil, and the Graduate Program in Architecture at the same institution. She is the leader of the Environment-Education research group - GAE, where she guides and develops research on School Architecture, Educational Territories, Post-Occupancy Assessment, Place Quality, and Environmental Perception. gisellearteiro15@gmail.com
Rosa Maria Leite Pedro has a degree in Psychology and a Ph.D. in Communication. She is a Full Professor at the Institute of Psychology at the Federal University of Rio de Janeiro and at the Graduate Program in Psychology at the same institution. He is the leader of the Contemporary Culture research group: subjectivity, knowledge, and technology, guiding research on psychosocial, historical, and collective processes, with an emphasis on subjectivity, technologies, and surveillance. rosapedro@globo.com
How to quote this text: Costa, R. N., Azevedo, G. A. N., Pedro, R. M. L. R., 2020. Making of: the cartography of controversies and project research. V!rus, Sao Carlos, 20. [e-journal] [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus20/?sec=4&item=11&lang=en>. [Accessed: 07 October 2024].
ARTICLE SUBMITTED ON MARCH 10, 2020
Abstract
Some buildings evidently can provoke debates, polemics, and disputes. Such divergences are often irreconcilable and lead to public debates. Thus, controversy is a term that adequately describes the design practice, and its capacity to articulate and concentrate debates allows us to explore the potential of design as a research observatory. By subverting the traditional concept of method, the cartography of controversies enables the observation of how the design practice handles the differences in the creation of architectural objects, increasing their complexity as research objects. This paper intends to demonstrate the usefulness of this method for design research. As such, we consider the design practice as a way to articulate debates and disputes and highlight its compatibility and potential to the method. Subsequently, we present the cartography of controversies, demonstrating how it enables more complex research objectives. We also discuss the construction of cartography devices and representations, presenting ways to achieve a balance between the simplicity required for representations and the richness desired for the object. Finally, we present a brief cartographic experiment to illustrate the use of the method during the design analysis.
Keyword: Design, Design practice, Method, Cartography of controversies
1 Introduction
Some architecture and urban planning designs can provoke debates, polemics, and disputes between divergent arguments and perspectives. There are countless examples, such as Cidade das Artes, Museum of Tomorrow, and the renovation of the Mário Filho Stadium - Maracanã - for the 2018 World Cup. Projects are capable of catalyzing and concentrating debates as they provide visibility and materiality to the issues under dispute. Much of the architectural design practice requires coordinating differences, which can lead to public debates. In this context, the design practice often involves the management of controversies.
Venturini (2010, p. 261) believes that controversies are “situations where actors disagree or, rather, agree to disagree”. In this sense, they situate between the impossibility of ignoring divergent positions and the agreement for mutual coexistence. A fundamental aspect of the design research practice involving controversies is the search for events in which the collective coexistence is present in its most complex form while considering multiple and heterogeneous factors. Mapping out controversies allows us to observe important issues and, above all, divergent perspectives regarding a common issue. The ability that the design practice has to articulate such debates is precisely the element that enables great research possibilities.
However, if on one hand, investigating controversies can be a way to achieve a level of complexity in research objectives, on the other hand, it also hampers the process of dealing with the investigative practice itself. Controversies are often confusing and, consequently, difficult to manage. Venturini (2010), considers that students who partake in the cartography of controversies are like animals raised in zoos and then placed in their natural habitat: there is an immediate feeling of euphoria and, soon after, a sense of perplexity. At the beginning of controversies, there are mixed arguments and a lack of clarity or order. The emphasis on controversies creates a tension between the simplification required to enable an understanding and the inherent complexity of the research objects. While controversies enable the complexity of the objective, they also increase the challenge of research representation1 .
In this sense, the cartography of controversies represents a variation regarding the traditional meaning of the method, increasing the complexity of the research object. It does not follow an organized set of steps to develop a route towards a previously established destination. There is a methodological inversion because, by emphasizing controversies, cartography provides visibility to an unexpected reality that makes the journey and objective walk hand in hand (Pedro, 2010). Controversies explore coexistence in its most complex form, which is full of disputes, disagreements, and contradictions. Expanding the complexity of the architectural design practice to the research object is a question of method in which the cartography of controversies can contribute.
Through this perspective, this paper intends to demonstrate how the cartography of controversies can be useful in design research. To achieve this, we propose understanding the design practice as a means for articulating controversies, highlighting their potential regarding the research method. Subsequently, we present the cartography of controversies, emphasizing the usefulness of investigating the design practice through its own means for the observation of architectural objects under development. In the third section, we argue about the importance of building devices and the challenges of cartographic representation, presenting ways to overcome them. Finally, we present a brief cartographic experiment to illustrate how the method can be used during a design analysis.
2 Designing to articulate controversies
The multiple and integrated nature of the design practice is quite well-known. Mapping out design processes demonstrates several interactions and influences that can also be called internal and external restrictions (Lawson, 2011). Whenever we consider one of these elements – legal zoning, a budget review, a protest, a resistance towards some material, or a new client – the design must be renegotiated, generating a new integrated design (Latour, Yaneva, 2008). There are several negotiations, variations, and interferences during the process until it becomes stable, albeit temporary. That is, a lot of work is necessary to reach an arrangement capable of incorporating different solution requirements. Many versions may be discarded during this process.
The interaction among different requirements is often irreconcilable during the design process. It is not just a matter of multiplicity but also divergence, which can lead to public debates in some cases. However, these situations represent the actual coexistence of different actors with different views – and their disagreements – as well as the need of inhabiting a common space that represents the design practice (Yaneva, 2012). The design practice must articulate differences and, consequently, it involves controversies.
Controversy, as a term, refers to "the sciences and technologies that have still not been stabilized, closed or 'black boxed' [...] a general term to describe shared uncertainty" (Venturini, 2010, p. 260). Controversies are marked by instability, debates, and disagreements. Although they are very different when it comes to content, they have common characteristics that define them: diversity of actors, alliances and opposition movements that change, deceptions about the apparent simplicity, disputes between actors, and conflict harshness (Venturini, 2010). We must consider disagreements through a broad perspective. Controversies begin when actors discover they cannot ignore each other and end when they reach a mutual coexistence agreement. When there is something between these two extremes, it is a controversy.
Therefore, design and controversy have a lot in common. Both involve multiple factors and heterogeneous actors with the confrontation of divergent arguments at the same time and space. This allows their definition as “hybrid forums”, that is, spaces of conflict and negotiation between actors (Callon, Lascoumes, Barthe, 2001). The actors involved are hybrid – ranging from people to construction materials – and the issues addressed can range from timelines to state policies. Hybrid forums are spaces where groups can meet and discuss different issues. The design can also be considered a forum for debating controversies, a place where the design practice is a specific means of conducting2 them. The controversy perspective in the design practice allows us to explore a more complex setting.
Another useful connection between design and controversies is that, besides operating as a forum for discussions and operation focused on research objectives, the design practice concentrates and organizes debates and represents a possibility to track and record controversies. Design can be conceived as navigating through a field of controversies: a sequence of versions, successes, and failures; a journey of unstable definitions and knowledge; a set of building materials and technologies; a meeting to assess user concerns (Latour, Yaneva, 2008). Buildings can promote and concentrate debates as they provide materiality to disputes, which, consequently, facilitate the identification of controversies. The recognition of the design practice as an observatory for controversies allows us to explore its potential as a research method.
3 The cartography of controversies
Let's imagine we need to visit a new area, such as when we arrive in a different neighborhood and walk around to find a certain address. As the neighborhood is a new place for us, we walk slowly, paying attention to buildings, street names, shops, cars, landmarks, and people passing by. This is how cartography suggests a change in the research conduction, subverting the traditional sense of the method, which is defined by the etymology of the word: meta - objective and hodos - path (Passos, Barros, 2015). In the classical approach, research is a predefined path to reach a goal presented beforehand (Latour, 2004). The definition of a hypothesis about the object of study is the materialization of previous concepts regarding the objectives, which condition the steps to follow during the research process. On the other hand, cartography proposes a methodological inversion3, transforming meta-hodos into hodos-meta. It is about walking to get to know a place instead of getting to know a place to be able to walk through it; more of a trail than a rail.
Since there are different cartographic methods, we selected the cartography of controversies for this paper. Initially developed by Bruno Latour in Paris in the 1990’s – and currently taught and used at various universities around the world –, the method can be defined as an “exercise of crafting devices to observe and describe social debate especially, but not exclusively, around technoscientific issues” (Venturini, 2010, p. 258). To a certain extent, it is a procedure derived from the Actor-Network Theory4, sharing common principles but without as many theoretical complications. However, the Cartography of Controversies and the Actor-Network Theory are not different approaches. Instead, they are two means of expressing the same ideas, supported by the same bases, whereas the first one is more conceptual and the latter is more operational.
Through this perspective, working with cartography involves observing and describing. Observing means being as open as possible, which takes place through multiple points of view. Describing refers to the art of mapping out objectives, processes, and practices, tracing the complexity of the phenomena without replacing specific aspects with generalist views (Yaneva, 2012). In the cartography of controversies, the description is based on the situations represented according to the dynamics of the actors and the spaces and times they generate. Although observing and describing are common activities in traditional research methods, the cartography of controversies provides them with new meanings.
Along with the distinction between the trail and track, Latour compares cartography to a travel guide. He considers that the main advantage in comparison to a “method discourse” is that the guide does not get confused with the territory it represents. It can “be read or forgotten, relegated to a backpack, smeared with butter and coffee, scribbled, deprived of some pages that will light the barbecue fire” (Latour, 2012, p. 38, our translation). This allows for variations, unexpected factors, and changing routes. There is, once again, a clear distinction compared with the traditional scientific method, considered the hypothetical-deductive aspect. Cartography is closer to a research strategy than a set of steps to follow.
The cartography of controversies has some fundamental ideas. Venturini (2010) argues that in the cartography of controversies there are no definitions to learn, premises to honor, hypothesis to demonstrate, procedures to follow, or a correlation to establish. It is an ad hoc procedure, built on a case-by-case basis, in which the method monitors the movements that occur. Another relevant aspect is that objectivity is not achieved by the supposed idea of becoming distant from the object of study but by multiplying points of observation. Numerous and partial perspectives towards phenomena will lead to more objective and impartial observations (Venturini, 2010). This is related to the acknowledgment that participants can be as informed as researchers, representing a redistribution of knowledge. It is not enough to restrict actors to the role of informants during the observation of practices. They must have the ability to develop their theories as specialists (Latour, 2012). Cartography allows the investigation of objects by their own means, its construction by the actors themselves with the simultaneous emergence of the method and object during the research practice.
How can the cartography of controversies particularly help us with the design research? First, it allows us to disregard some preconceived ideas. By mapping out controversies, we can produce descriptions of architectural objects, practices, and processes, avoiding a metaphysical analysis (Yaneva, 2012). Mapping out controversies stimulates us to understand architecture simultaneously as technical and social realms, avoiding previous separations. It focuses on architectural experiences, the roughness of controversies, and the language of the actors instead of theoretical frameworks of interpretation and closed types or categories. The cartography of controversies is an investigation that fosters the visualization of the intricacies of collective actions in architecture.
But why searching for controversies? This is not where things are the most confusing and difficult to understand? Yes, and that is why controversies are so promising. If cartography is complex, it is because collective life itself is complex (Venturini, 2010). The moments of disagreements and debates make us understand collective life as it develops in practical terms. Controversies involve all types of actors and demonstrate a dynamic social perspective. They emerge from the debate about stable issues, which consequently generates conflicts. The construction of a shared world often occurs due to a clash of conflicting worlds (Venturini, 2010). Following the design development process provides a kind of making of that allows us to visualize movements and their related controversies, reaching greater complexity. The cartography of controversies invites us to look behind the scenes of the object construction: the “grey box”5 instead of the “black box”. It is about investigating architecture in action, during the creation process, and at its raw state. However, achieving such complexity also leads to representational challenges.
4 Cartographic representation
The approach towards the object of the study provided by cartography can cause confusion and disorientation. The act of not subjecting the object to a pre-established theoretical framework provides fewer certainties in the research process. Following the actions of the actors can lead to endless connections and difficulties regarding the materialization of research (Latour, 2012). Controversies are inevitably turbulent and confusing, and their management can be a challenge due to the great amount of information or application of different tools. The cartography of controversies generates difficulties for the materialization and organization of research.
However, having a more open attitude towards the object of study does not mean a lack of accuracy. The cartographic proposal requires research instruments. The success of cartography, as a method, always requires essential procedures embodied by devices (Kastrup, Barros, 2015). The development of devices is a fundamental task in cartography to fulfill the object of study, providing unique forms of existence. This is normally related to ontological politics, whereas certain devices produce certain versions of the object (Mol, 1999). The attention to the creation of these devices is also the recognition of the method and object as simultaneous creations.
There are some definitions for the term device from the cartographic research perspective. Without referring specifically to research, Michel Foucault (1979, p. 244, our translation) defines a device as
a decidedly heterogeneous set that includes discourses, institutions, architectural organizations, regulatory decisions, laws, administrative measures, scientific statements as well as philosophical, moral, philanthropic concepts. [...] A device is the network that can be established between these elements.
Foucault considers the concept of the term device is connected to a way of doing, particularly related to the connections generated by a set of elements. Based on this concept, Deleuze (1990, p. 155, our translation) states that devices are “machines to make see and make speak”, made of “different types of segments”. He highlights four types of segments with different functions: visibility, enunciation, strength, and subjectivity. Based on his perspective, devices give existence to objects. A similar notion by Latour and Woolgar (1979) considers the concept of inscription devices. Dealing with the scientific method, they use the expression to characterize the devices used to materialize the phenomena studied by scientists through machines or scientific articles. In this case, these are the devices that make the scientific fact real but certainly not neutral. The notions have similarities and differences as well. Foucault's perspective considers the composition of the device, while Deleuze shows us how the device can be useful to provide materiality to practices. Latour, on the other hand, emphasizes the policy of devices by acknowledging its agency capacity.
During cartographic research, we searched for devices that highlight complexities. We previously discussed ways of understanding the design practice in a more complex way based on notions of controversy. Thus, we propose to understand research devices as ways to provide a specific, partial, and temporary visibility to this complexity, recognizing its agency capacity. The composition of different kind of devices – ways of providing visibility – enables to fulfill a more complex objective. Devices must be combined through a type of kaleidoscope, allowing the representation of the object in different images that, according to the movement performed, can produce different combinations. However, this issue introduces a crucial research challenge involving the cartography of controversies: representation.
The achievement of complex objectives requires practices that can do so, which also considers visibility. The challenge of cartographic representation resides in balancing out the simplicity required to understand maps and the complexity desired to understand the object (Venturini et al., 2015). That is, it provides maps that are rich in detail but difficult to read or maps that are easier to read but does not have substantial content. There are some important points to consider regarding this. First, it is necessary to understand there is not research without representation: the observation and representation occur simultaneously during research practice. However, there is a subtlety regarding the role of representation in cartography. To avoid simplifications, we must consider that representations are not absolute. In other words, the map does not get confused with the territory but each representation is a means of making it exist (Venturini, 2012). This means that the whole is greater than the sum of its parts: different representations are maps adjusted successively. It is about considering the representations as partial and temporary views that make the object exist in a particular way without, however, exhausting it.
It is necessary to admit that representations are dynamic phenomena. Dealing with non-stable elements in the cartography of controversies, the map “is a drawing that follows and arises at the same time of transformational movements” (Rolnik, 2007, p. 23, our translation). There is always a provisional, functional design until the imposition by new cartographies – landscapes and reliefs. Cartography provides a series of photographs linked to the dynamics of controversies, accentuating their contingent, temporary and uncertain6 aspects (Pedro, 2010, p. 89), as it proposes to investigate objects in action (Latour, 2011). The movement involves going from final products to the production, from stable and "cold" objects to unstable and "hotter" objects. When we work with cartography, we face an object-process. It is essential to understand the changes implemented by the actors during the construction of the artifacts (Latour, 2011). The object of study in cartography is subjected to constant changes and, by following and describing the practices, it is possible to increase complexity. Thus, cartography is based on risk reports, as the representations follow each other7 .
Another fundamental aspect is the way representations are presented. Venturini (2015) considers that it is not a matter of making the map as complex as the investigated territory or as simple as compromising this relationship. The author shares the concept of the atlas to overcome this challenge. Instead of a very complex map, the ideal strategy would be to unite different maps as a type of atlas that can reverberate the complexity of the territory. In this sense, cartography is more as a movement or way of connecting representations, like a decomposition located halfway between a single and very complex object and a very simple one.
Finally, if cartography can be considered a means for moving around the territory, it is important to think about how to move through the confusing environments of controversies. Some movements that allow us to access different layers of controversy – in line with the atlas concept – as Venturini (2010, p. 270) points out:
1. From statements to literature. [...] The first task of social cartography is to map this web of references, revealing how dispersed discourses are woven into articulated literatures [...]
2. From literature to actors. Statements are always part of larger networks comprising human beings, technical objects, natural organisms, metaphysical entities and so on. [...] ]
3. From actors to networks. Actors are always composed by and components of networks. [...]
4. From networks to cosmoses. [...] most actors and groups aspire to some kind of stability. [...] Only by roaming from cosmos to cosmos, can social cartographers perceive the full extent of their controversies. [...]
5. From cosmoses to cosmopolitics. Take any philosophical, religious, artistic, scientific or technical truth and you will find a controversy. Sometimes disputes are temporarily silenced by the fact that some cosmos has prevailed over the others or by the fact that actors have found a resisting compromise, but no agreement, no convention, no collective reality has ever come without discussion. This does not mean that we could never inhabit a peaceful world, that we could never align our visions, that we could never agree on truth.
5 A quick cartographic experiment
When passing through Barra da Tijuca, in Rio de Janeiro, you may see Cidade das Artes (see figure 1). Located at the meeting point between two road axes designed by Lúcio Costa – the Ayrton Senna and Americas avenues –, the cultural complex houses various artistic and cultural modalities. However, neither the monumentality of the building or the signature by the renowned French architect Christian De Portzamparc were able to eliminate its controversial image. A quick search on Google reminds us that: the building, which would be delivered in 2004, was only completed in 2013 after several interruptions; the cost, initially estimated at BRL 80 million, reached BRL 600 million; and its name changed twice. Such elements evidently disclose the controversies articulated around the project.
On the internet, we can identify a retrospective and gradual analysis of the debates. Through pieces of information provided – news, architectural articles, and other non-specialized critics, scientific papers, and photos – we can observe discussions involving the design and its controversies. The design, initially called the City of Music, was commissioned to Christian De Portzamparc by the former mayor of Rio de Janeiro, César Maia. The main objective was to build the headquarters of the Brazilian Symphony Orchestra. The extensive program focused on the needs pointed out by the conductor and other musicians of the orchestra besides some requests from the mayor himself (Magalhães, 2012). Designed in 2002, the result was a monumental building (ArchDaily, 2013, our translation):
the building is a small city on a large elevated structure and built on a huge terrace that is ten meters high – from where you can see the mountain and the sea – it floats over a public park and a tropical and water garden [...].
However, the design process involved a series of controversies related to specific themes enhanced by the construction process slowdown. At first, people questioned the very existence of the design. Residents of Barra da Tijuca argued the building was inconceivable since the neighborhood's priority was the construction of Metro Lines 4 and 6, whose planned integration station would be located on the same site (Rodrigues, 2008). Then, the design process competed for resources with other existing design processes in the city, such as the constructions for the 2007 Pan American Games, which became a priority (Magalhães, 2012). The scale of the design was intensely discussed as it was associated with high investments and constructive challenge.
Another controversy debated was the technical capacity to implement the design. On one hand, some people argued that a Brazilian architect should have been hired, preferably through a public hiring process, as mentioned by the Parliament Inquiry report created to investigate the project (Magalhães, 2012). On the other hand, the choice of the renowned architect rested on Christian De Portzamparc’s recognized competence and his work on previous music venues, such as the Cité de la Musique, in Paris.
The design of the building was a controversial subject. Christian De Portzamparc conceived the building, in his own words, as a great reference to Brazilian modern architecture. Cidade das Artes is a large house, a balcony to view the city, and a tribute to the archetype of Brazilian architecture (ArchDaily, 2013). Otávio Leonídio (2009, p. 185, our translation) considers that it represents “a way of reprocessing a certain modern tradition”, which generated challenges for Brazilian architects to deal with the project. The method for approaching Brazilian modernism adopted by De Portzamparc – a critical distance – diametrically opposes to the reverence defended by some Brazilian architects, resulting in strong reactions towards the project. Once again, the controversy in dealing with a specific theme – in this case, the Brazilian modern architecture – is evident and based on divergent arguments.
This cartographic experiment provides an example of how designs can raise debates with different views, leading to controversies. From a quick survey, we assembled a map – quite temporary and incomplete – of some issues under dispute and opened these “black boxes”. We identified the following actors: Christian De Portzamparc, César Maia, the Brazilian Symphony Orchestra, the City of Music in Paris, the Barra da Tijuca Master Plan, the landscape, the local residents, the construction technology, the Project for the Expansion of the Subway, the 2007 Pan American Games, the community of architects, the city council, the ensemble of modern Brazilian architecture. Each actor was active in the design process – to a greater or lesser extent – and contributed to debate the highlighted themes: the purpose of the project, its priority regarding the city’s needs, the technical capacity of the designer and the type of contract, the appropriate cost for the work, the architectural design, and the landscape.
The cartography of controversies also revealed different approaches to the mentioned themes. The dispute regarding the technical capacity to develop the project is evident between arguments that defend the need for specific expertise in the program and arguments that value knowledge concerning the specific project situation. It was possible to observe the opposition between the adoption of a more explicit reference to modern architectural design or not. The controversy gathers and exposes different arguments on various topics. Finally, we can see how aspects related to the design practice - such as the contract process, location, scale, construction technology, or form - promoted discussions about the purpose, technical capacity, and even Brazilian modern architecture between these different actors in an inseparable mix of social and technological dimensions.
6 Conclusion
To achieve greater complexity in objects of study, we must use methods capable of dealing with the project in practical terms. Thus, we propose to understand the design as a means for articulating controversies. By emphasizing not only multiple factors but also disagreements inherent to the design practice, there can be a complex configuration involving actors, themes, views, and arguments. As we saw, expanding the design complexity as an object of study is, in fact, a question of method in which and the cartography of controversies can contribute. This perspective also explores the potential visibility that the project provides – as an observatory for controversies – due to its capacity to promote and concentrate debates. At this point, the cartography of controversies is a method capable of fostering objects of study more aligned with the project specificities – prioritizing the practice and complexity of social life – while searching for controversies related to the objects under construction.
Subsequently, we presented the issues of cartography representation, offering possible interpretations that are neither too simplistic, with a lack of information, nor too complex, becoming incomprehensible. Through the atlas and kaleidoscope concepts, it is possible to carry out and present cartography through different layers or maps, providing different interpretations. We presented clues to guide actions in the cartographic territory. Through a small cartographic experiment, we provided an example of how a set of controversies related to the design process were discussed. Through a quick survey, we built a map, identifying how some issues confronted different arguments and views, mixing social, technological, and functional aspects.
In a broad sense, the cartography of controversies can be a useful method for research projects by providing spatial coordination for disputes and presenting observations regarding such disputes. And yet, monitoring controversies as they evolve makes it possible to unfold political dimensions normally hidden from architecture and considered stable or guaranteed, opening the “black boxes”. In this sense, the architectural role as an applied social science is a matter of method, as it requires the use of instruments capable of encompassing the mix between aspects that are usually positioned at opposite ends: material, objective and technological elements on one hand; and immaterial, social and subjective elements on the other hand.
References
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1 We understand that representation is part of the research and, therefore, it must occur during the process. In addition, representations are necessary cognitive resources to handle great amounts of information, considering that they are always temporary and partial views. We propose to investigate devices that can fulfill this complexity despite imperfections.
2 It is important to highlight that designs need to solve controversies in order to progress, even if temporarily. Although we cannot state that all cases involve controversies, we can consider that designs normally involve controversies, at lower or higher levels.
3 Cartography is not based on previous versions of the reality, but it handles the object and knowledge as emerging effects of the research process, prioritizing how the investigation takes place instead of previous knowledge (Passos; Barros, 2015). This perspective of the reality is closer to the ontological policy notion, whereas Mol (1999) defends that the reality is structured upon practice.
4 The actor-network theory (TAR) is a set of theoretical and empirical aspects that describes the social relations through a network effect, as an alternative to traditional Sociology, based on the translation concept primarily. (Latour, 2012). The concept was created by a group of sociologists, in 1980, primarily connected to the Center for Innovation Sociology at the MINES Paristech, lead by Bruno Latour. Although Michel Callon and John Law are considered co-authors of the TAR model, their studies are related to Society, Technology, and Science.
5 In science and technology sociology, the black-box term is used to describe a fact or technical well-established artifact. This means that it is not the object of controversies and questions, but is considered data. When a technique is not completely established as a black box, we call it a grey or translucent box (VINCK, 1995). Controversies are debates that consider scientific or technical knowledge that is still not entirely stabilized - grey boxes -, that still hold controversies, questions and debates that have not become black boxes yet.
6 This is a crucial point during the search for representation and visualization methods that consider the temporary and changing aspects of the controversies in architectural designs.
7 It is important to highlight the relationship between tracing and cartography, in the sense that they operationalize each other. Although apparently contradictory, cartography is only possible through successive temporary traces. (Ferreira, 2008; Pedro, 2010). It is as if the traces are part of the various photos in a video, which would be cartography itself.
8 We understand that representation is part of the research and, therefore, it must occur during the process. In addition, representations are necessary cognitive resources to handle great amounts of information, considering that they are always temporary and partial views. We propose to investigate devices that can fulfill this complexity despite imperfections.