O vazio significativo do cânon

Ruth Verde Zein

Ruth Verde Zein é arquiteta, doutora em Arquitetura e professora de Teoria e Projeto na Universidade Mackenzie, São Paulo, Brasil. Ela tem mais de uma centena de artigos e diversos livros publicados sobre arquitetura moderna e contemporânea brasileira e latino-americana. rvzein@gmail.com


Como citar esse texto: ZEIN, R. V. O vazio significativo do cânon V!RUS, São Carlos, n. 20, 2020. [online]. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus20/?sec=4&item=1&lang=pt>. Acesso em: 07 Out. 2024.

ARTIGO SUBMETIDO EM 10 DE MARÇO DE 2020


Resumo

A abordagem metodológica proposta neste artigo sugere algumas maneiras apropriadas para estabelecer a existência do cânon historiográfico da Arquitetura Moderna, considerando as obras mencionadas nas principais narrativas históricas consagradas de maneira quantitativa e qualitativa, assim como sua inserção na linha do tempo e na periodização proposta em cada uma dessas fontes. Um cânon estabelecido tende a ser um dado a priori imóvel, que desafia qualquer tentativa metodológica para sua efetiva alteração. Não basta inchar o cânon com a inserção de “novas” informações selecionadas: é necessário também questionar o núcleo da estrutura metodológica implícita do atual cânon, entendendo como, por quem e de acordo com quais narrativas, explícitas ou ocultas, de prestígio e poder geopolítico se outorga um status “canônico” a edifícios, espaços urbanos, fatos, autores, etc. As narrativas escritas consolidadas acerca da história da arquitetura moderna brasileira foram selecionadas como um primeiro estudo de caso para compreender a criação de um cânon particularmente durável e fixo. A confirmação sistemática da existência do cânon é proposta como ponto de partida para sua confirmação e para promover a possibilidade de sua mudança, contemplando os vazios significativos que ele obliquamente define.

Palavras-chave: Arquitetura Moderna, Historiografia, Levantamento Bibliográfico, Teoria da Arquitetura.



1 Introdução: o vazio significativo do cânon

Na teoria e na prática da história da arquitetura, estabelecer a existência de um cânon não é uma tarefa fácil. Embora um cânon funcione como uma espécie de discurso “naturalizado” que reivindica o direito de ser evidente sem ter que se explicar, é também, e contraditoriamente, uma característica oculta, nunca expondo por quem ou de acordo com quais poderes explícitos ou ocultos o “status canônico” foi concedido. Além disso, como já debatido por muitos autores (BOZDOGAN, 1999; GÜREL, ANTHONY, 2006; JENCKS, 2001; LEATHERBARROW, 2001; LIPSTADT, 2001), não é tão fácil apontar e definir claramente o que torna uma obra “canônica”; e é ainda mais complicado explicar, de maneira rigorosa, o que pode ser chamado de “narrativa canônica”, apesar de todos sabermos do que estamos falando. Por definição, os cânones são extremamente resistentes a críticas e mudanças. Este artigo sugere uma possível abordagem metodológica para definir adequadamente o que é um cânon – ou, pelo menos, o que ele abrange – motivada por algumas sugestões de abordagem metodológica propostas por Bonta (1977), Torrent (2017) e Lara (2018). Por meio do devido reconhecimento e desconstrução das estruturas canônicas predominantes, seria possível conceber algumas possibilidades de mudança, questionando o próprio núcleo conceitual das narrativas historiográficas canônica, ampliando os limites atuais do cânon, revisando-o ou (re) estruturando-o. O artigo também apresenta a aplicação dessa metodologia em um estudo em andamento, focado no caso do cânon historiográfico da Arquitetura Moderna Brasileira.

2 Arquitetura Moderna e o estabelecimento de seu cânon

A Arquitetura Moderna Brasileira foi reconhecida desde seu início como um conjunto significativo e coeso de obras e autores. Uma narrativa amadurecida, relatando sua existência e importância, já estava em construção na década de 1930, e persiste quase incólume até hoje. Nascendo do esforço e do mérito de seus protagonistas, foi imediata e providencialmente reforçada por prestigiosos apoios internacionais, a partir da década de 1940 em diante. Essa narrativa consagrada da arquitetura moderna brasileira é permeada por uma condição paradoxal: por um lado, almeja seu reconhecimento como “moderna”, aspirando assim pertencer a uma condição universal mais ampla; por outro lado, deseja ser qualificada como “nacional”, sugerindo a afirmação de características específicas e de uma postura relativamente autônoma. Essa dupla condição confronta e tensiona as narrativas canônicas europeias/do hemisfério norte, da arquitetura moderna – não por conflitar, mas por divergir, embora apenas parcialmente. Quase um século após a sua criação, apesar de discretas variações de tom, essa necessidade de reconhecimento como “moderna e nacional” permanece e prevalece em quase todas as tentativas, nacionais ou internacionais, de estabelecer narrativas panorâmicas sobre a arquitetura brasileira, seja moderna, seja contemporânea. Essa persistência a torna um caso muito interessante e particular de uma narrativa canônica duradoura que, na maior parte dos casos, segue definindo e delimitando, mesmo no século XXI, o que é permitido considerar e entender como Arquitetura Brasileira Moderna; e, por extensão, como Arquitetura Brasileira Contemporânea.

A narrativa historiográfica canônica da arquitetura moderna brasileira estava em construção ao mesmo tempo em que era estabelecida a narrativa historiográfica canônica mais amplamente aceita e “naturalizada” sobre a “arquitetura moderna”. Apesar de ostentar a palavra “Moderna” sem outras qualificações, essa construção narrativa foi fomentada, principalmente, com a ajuda de um seleto grupo de historiadores de origem e/ou influência europeia, que assumiram o papel de vozes orgânicas das vanguardas de alguns dos países europeus do início do século XX. Essa missão se realizou de forma poderosa e eficiente, e sua legitimação foi garantida duplamente. Primeiro, pela extensão temporal dessa chamada arquitetura moderna “universal” para trás, escolhendo cuidadosamente algumas manifestações anteriores como confirmação de suas raízes; segundo, regulando estritamente as condições de admissão em seu seleto domínio, colocando assim quaisquer outras manifestações não conformes, anteriores, subsequentes e/ou paralelas à sombra. Enquanto essa narrativa canônica sobre “Arquitetura Moderna” ainda estava em construção, seus protagonistas já estavam trabalhando ativamente para conceder-lhe uma posição “oficial”, promovendo sua disseminação e reverberação por meio de publicações e enfático proselitismo. A estratégia adotada para garantir o destaque e o comando dessa particular definição de “arquitetura moderna” foi qualificá-la como algo que, por direito, pertenceria exclusivamente ao âmbito europeu. Para garantir essa interpretação, escolheu-se fundamentar seu fulcro de autenticidade, exclusividade, primazia e reserva de mercado na adoção de uma certa condição econômica, política e social circunscrita, definida como a única base legítima para a consideração e interpretação do que deveria ser chamado de “Arquitetura Moderna”. Essa definição estabelecia limites muito rígidos para conceder a um edifício ou a qualquer empreendimento o rótulo de “Arquitetura Moderna”, ao fazê-la corresponder apenas às características de um contexto restrito, aplicável apenas ao seu próprio caso (europeu e industrializado). E assim, deixando de fora de seus domínios, quaisquer manifestações “outras” que – se fosse dada uma definição menos restrita ou mais ampla de “arquitetura moderna” – poderiam ser incluídas.

O fascínio dessa narrativa histórica canônica da “Arquitetura Moderna”, a qual desde sempre ouvimos falar e com a qual lidamos diariamente, sem lhe dar muita atenção crítica, é que nos acostumamos com ela e a naturalizamos de tal maneira que mal percebemos como ela nada tem de natural. Além disso, não percebemos como ela está fundada em um mecanismo estrutural que favorece alguns e exclui quase todos os outros. Essa narrativa historiográfica canônica sobre “Arquitetura Moderna” deu centralidade a apenas um domínio supostamente correto e verdadeiro, exilando precipitadamente todas as outras situações não conformes à categoria de fenômenos aberrantes, a serem considerados, na melhor das hipóteses, como casos curiosos e, frequentemente, como secundários (e não merecedores).

Naquele mesmo momento, percorrendo caminho próprio, a Arquitetura Moderna Brasileira também construía sua narrativa e cânon de autorreconhecimento, permitindo-se ser valorizada e elogiada como um fenômeno significativo. Um processo que começa muito cedo, já na década de 1930 (COSTA, [1936] 1962), portanto, paralelamente à construção do cânon historiográfico moderno norte-europeu. Ainda assim, o cânon da Arquitetura Moderna Brasileira não se constrói isoladamente, nem conceitualmente, nem pelas vozes que arregimenta, pois contou com o precoce apoio de entusiastas alheios ao seu âmbito nacional e que escolheram providencialmente, por diversas razões, enfatizar e destacar sua importância como uma singularidade internacionalmente notável (GOODWIN, 1943; LARA, 2000). De qualquer forma, e muito frequentemente, sua beleza e especialidade eram comumente exibidas como uma espécie de fenômeno estranho, ambíguo e curioso. Mesmo quando essa arquitetura brasileira moderna e clássica é descrita por estrangeiros de maneira cordial, nunca é exatamente aceita de maneira fraterna: embora o olhar estrangeiro a parabenize, dela mantém cautelosa distância.

Entrecruzada por uma situação de relativa autonomia e de relativa vontade de pertencimento, a construção da narrativa canônica da Arquitetura Brasileira Moderna adotou um certo ânimo diplomático. Embora procurasse afirmar sua particularidade, não se afastava nem se isolava totalmente da (também recentemente construída) outra e mais forte narrativa autoproclamada “universal” da Arquitetura Moderna, de origem norte-europeia, e que em breve se tornaria hegemônica; até mesmo extrai dela algo desse ímpeto, de maneira a melhor posicionar-se. Em lugar de confrontar-se com sua situação histórica contraditória e complexa, escolhe adotar uma solução de compromisso, talvez de equilíbrio instável. Para se estabelecer como um ente, a narrativa historiográfica da Arquitetura Moderna Brasileira implicitamente aceita sua posição excepcional (ou seja, como uma “exceção”), não questionando estruturalmente a narrativa geral da chamada “Arquitetura Moderna”. Embora, na verdade, esta jamais tenha pretendido incluí-la, explícita ou implicitamente.

De qualquer forma, ao não querer entrar em conflito com esse outro cânon, e ao aceitar sua própria condição epifítica, seus protagonistas talvez estivessem menos motivados por suas convicções do que agindo por estratégia. Quando Lúcio Costa invoca o estatuto de “gênio” (COSTA, [1951] 1962) para reafirmar e explicitar a existência e a validade dessa Arquitetura Brasileira Moderna, ele garante sua presença entre aqueles que mundanamente considera como seus pares, evitando confrontos diretos com a barreira, já então quase intransponível, da disparidade de quadros sociais e econômicos, que haviam sido instituídos como o único critério de garantia da primazia e exclusividade da modernidade europeia1. É até possível que Costa estivesse convencido, já que muitos estudiosos e professores ainda estão, um século depois (quanto a mim, nem tanto!), de que esse estado de centralidade econômica fosse de fato igual e congruente com o status de modernidade, sua condição inescapável e primordial. Tal é o fascínio e a destreza mágica desse cânon que nos mantemos anestesiados, incapazes de percebermos os fatos que contradizem essa interpretação.

O primeiro fato a ser considerado é que não há centralidade econômica sem a existência de seu outro inseparável, a periferia atrasada. Para que essa centralidade exista, deve haver desigualdade e desequilíbrio em outros lugares, permitindo que as forças econômicas ativas se acumulem de um lado, privando os outros lados de sua riqueza. Se é assim, “moderno” não deveria ser uma palavra usada apenas para qualificar um desses lados, mas todo o sistema em que estão inseridos. Por mais que doa aceitar isso, a modernidade é uma condição desequilibrada, desigual, uma relação de forças cujo desequilíbrio não é uma distorção, mas sua própria condição de existência. Usar a palavra “moderno” para destacar somente o lado brilhante, feliz e rico é apenas um truque, e de mau gosto. Com isso em mente, fica mais fácil questionar até que ponto a “Arquitetura Moderna” é um resultado apenas possível numa chamada condição “avançada” de centralidade econômica; ou se, de fato e inevitavelmente, poderá legitimamente ocorrer em qualquer parte do sistema econômico global “moderno”. O segundo fato a ser considerado são os próprios edifícios. Qualquer pesquisa mais abrangente sobre a Arquitetura Moderna do século XX, que não discrimine a posição geográfica da obra e, sim foque nas datas de projeto e construção, descobrirá uma enorme quantidade de interessantes casos em todo o mundo. No Brasil e na América Latina, os lugares que eu conheço melhor, certamente existem muitos dos melhores e mais antigos exemplos. A extensão dessa pesquisa de reconhecimento da modernidade arquitetônica – ou pelo menos de suas manifestações – põe claramente em dúvida a suposição de que a “arquitetura moderna” não poderia existir fora do contexto da centralidade econômica – apenas porque, de fato, existe. Portanto, coloca-se sub judice essa pré-condição ou barreira supostamente insuperável, a partir da qual todas as histórias canônicas “globais” ou “universais” da arquitetura moderna foram desenhadas, incluindo várias revisões recentes e supostamente críticas.

Ao adotar essa linha de raciocínio, algumas questões centrais se abrem, e precisam ser recolocadas sobre a mesa para serem reexaminadas com mais cuidado; e algum tipo de método deve ser proposto para garantir sua validade. Certamente, e novamente, o questionamento de um cânon predominante não é uma tarefa simples. Apenas descobrir que algo não é satisfatório não é suficiente para entender completamente o problema ou, melhor ainda, para transformá-lo. Mesmo o caminho trabalhoso e direto de organizar uma pesquisa mundial, documentando milhares de edifícios anteriormente não reconhecidos, não seria suficiente para desafiar verdadeiramente o panorama. Os cânones são ativos muito poderosos e inerciais, e esse cânon em particular, erguido com base em privilégios e exclusões, ainda prevalece em pleno vigor – pelo menos, até que seja devidamente questionado, como apontado por Waisman (2013); Zein (2019) e Heller (2016).

3Reconhecimento do Cânon: um método possível

A construção de ambas as narrativas canônicas – a geral, dita “universal” (na verdade, de enfoque norte-europeu), e a particular, dita “brasileira” (na verdade, uma generalização partindo de uma base específica e limitada) – é um evento histórico datado. Mas como sua prevalência é ainda onipresente hoje em dia, também se trata de uma questão atual. Essa condição dupla de historicidade/atualidade as tornam um assunto complexo para se abordar de maneira abrangente e sistemática. Além disso, a natureza difusa do cânon nos deixa pouco conscientes de sua presença e, por sua virtual invisibilidade, tendemos a confiar, frequentemente, em seus mandatos e limites, ainda que apenas por falta de opção. Como um cânon raramente é evidente como “cânon”, a primeira tarefa a realizar seria reconhecer adequadamente sua existência como tal. Embora seja a primeira, não é necessariamente mais importante que outras questões implícitas ao caso; apenas que se requer que seja prévia, em uma abordagem metodológica sistemática, de maneira a estabelecer uma base estável ​​e adequada antes de se poder avançar de maneira apropriada.

Um recurso capaz de estabelecer o que é o cânon, ou pelo menos, o que ele contém, é a documentação sistemática de todos os “exemplos” canônicos que tenham sido repetidamente incluídos em todas as fontes escritas disponíveis. Isso pode ser feito simplesmente registrando todos os edifícios mencionados, suas datas de projeto/construção, seus locais e programas, seus autores, com que frequência eles aparecem, em que parte da cronologia e periodização adotada por cada texto os edifícios e seus autores são considerados, etc. Como uma pesquisa absolutamente completa sobre todos os textos existentes não é viável, é necessário escolher uma amostragem experimental suficientemente abrangente, dando preferência aos casos suficientemente complexos. Para garantir sua representatividade, a amostragem deve incluir livros e publicações mais facilmente acessíveis e disponíveis em bibliotecas técnicas, livrarias e recursos online; para garantir sua abrangência, deve-se dar preferência aos textos mais panorâmicos. Todos os dados extraídos dessas fontes devem ser organizados em tabelas e gráficos, um recurso muito útil ao se lidar com grandes quantidades de dados, trazendo a possibilidade de visualizar e analisar simultaneamente vários fatos e números que, caso contrário, não seriam tão facilmente percebidos.

A quantificação dos “exemplos canônicos” é proposta como um dispositivo para ajudar a abrir algumas possibilidades de reexame do assunto do “cânon” pelo reverso da trama, em vez de ler esses textos de maneira cartesiana (isto é, de acordo com a ordem de suas razões). Ao lidar com os livros mais prestigiados e conhecidos, convém olhar para eles garantindo algum tipo de estranhamento na abordagem, de maneira a permitir o surgimento de novas percepções e questionamentos a partir de um ponto de vista atualizado. A estrutura narrativa de um livro é mais facilmente compreendida e exposta examinando-se seu avesso. Ou seja, buscando entender sistematicamente como essa narrativa foi construída, quais restrições e vantagens cada autor pode ter encontrado em sua respectiva trama, vis-à-vis sua aderência e/ou contraposição ao 'cânon'. Além disso, deve-se considerar de que maneira cada autor/a optou por privilegiar e apresentar, na estrutura de sua narrativa, as obras “canônicas”, como são mencionadas, distribuídas e equilibradas em sua linha do tempo e periodização narrativa – entre outras possibilidades analíticas, que podem ser facilitadas pela pesquisa quantificada.

A comparação de estruturas e citações, de um autor para outro, ajuda a entender se e quanto o “cânon” (ou a lista de exemplos canônicos) foi estabelecido, como é sua recorrência, se e como mudou com o tempo, e assim por diante. E, para realmente reconhecer o que um cânon diz, é também importante estar ciente do que ele não diz: as ausências são tão significativas para entender o quadro estrutural (e os preconceitos) de um livro canônico, como as presenças. Por fim, é importante ressaltar que a quantificação é apenas um passo metodológico: não é um fim em si mesma, mas um meio para atingir um fim, que seria o reconhecimento e, posteriormente, o questionamento da construção de estruturas e discursos canônicos. Como mencionado acima, o objetivo da pesquisa é abrir a possibilidade de ativar mudanças consistentes e reais em prol de uma “história da arquitetura global” verdadeiramente ampla e abrangente. Para isso, é necessária uma mudança mais profunda: não basta propor a adição de algumas “inclusões” táticas. A inclusão oportunista de alguns autores ou obras, pinçados aqui e ali pelas ondas das modas lançadas por escolas e museus de arquitetura espertos, do panorama mundial, frequentemente atua como um reforço do cânon existente, ao imitar seus procedimentos de prestígio/privilégio. O que deve ser feito, para se promover uma mudança profunda, é encontrar maneiras de reconsiderar o que é ou o que pode ser considerado “significativo”. E isso só será possível revelando, primeiro, os enredos e valores ocultos que enraízam e apoiam os discursos canônicos atuais.

4Reconhecimento do Cânon: o caso brasileiro

A narrativa canônica da Arquitetura Brasileira Moderna tem notável consistência e duração no tempo, e é provavelmente um dos únicos casos “regionais” que fornecem, pelo menos, uma dúzia de textos críticos panorâmicos bem conhecidos, escritos por diferentes autores ao longo de quase um século. Sua precocidade e longevidade a torna um caso interessante para um estudo sistemático experimental, como um primeiro passo para se obter algumas ideias significativas sobre o tema de como são estabelecidos e mantidos os cânones. Por seus discursos iniciais terem sido propostos quase simultaneamente aos das principais narrativas de arquitetura moderna “internacionais”, baseadas na Europa, é também um ponto de partida apropriado propor a possibilidade de comparações internacionais e de, finalmente, ajudar a pôr em questão a elaboração de narrativas canônicas “gerais” sobre arquitetura moderna2.

Tabela 1: Livros/Catálogos selecionados da Arquitetura Moderna Brasileira. Fonte: Ruth Verde Zein, 2019.

O ponto de partida deste estudo crítico sobre narrativas canônicas da arquitetura brasileira moderna foi a escolha de uma seleção relativamente restrita, mas ainda assim ampla, de livros sobre arquitetura brasileira moderna de abrangência panorâmica, a fim de melhor concentrar e organizar os esforços de pesquisa. A seleção proposta (Tabela 1) inclui oito livros e/ou catálogos de exposições publicados em décadas diferentes. No entanto, todos eles ainda são atualmente bastante acessíveis, estando disponíveis em livrarias, na maioria das bibliotecas universitárias, às vezes com versões on-line digitalizadas, fáceis e legalmente acessíveis; e por esses motivos, são frequentemente adotados como livros básicos nos programas de educação em arquitetura. Além desses critérios, a seleção também buscou abranger um número mínimo significativo de livros, para efetivamente dar à pesquisa uma suficiente representatividade. Outros livros que têm uma relação muito próxima com os autores/discursos escolhidos não foram incluídos, para evitar redundância. Como a pesquisa incluirá todos os trabalhos mencionados em cada livro, a seleção dos livros não incluiu textos conceituais ou teóricos, dando preferência aos livros panorâmicos (temporal e geograficamente), centrados na exposição de obras. A pesquisa também está considerando, de maneira mais qualitativa, uma variedade muito mais ampla de livros, artigos, depoimentos etc., que são chamados ocasionalmente ao debate para considerar, confirmar ou reafirmar a presença do próprio cânon e/ou seus vazios significativos.

Neste momento3, a pesquisa já organizou uma pesquisa preliminar de todos os edifícios e autores mencionados em todos e cada um desses livros. Atualmente, a planilha resultante está sendo revisada para confirmar sua consistência e resolver pequenas discrepâncias4. Alguns dos resultados parciais podem ser observados nas Figuras 1 a 5.

Fig. 1: Número de citações de cada arquiteto x linha do tempo, Livro 7 (BERGDOLL et al., 2015). Fonte: Ruth Verde Zein, André Balsini e Ernesto Bueno Wills, 2019.

Fig. 2: Número de citações de cada arquiteto x linha do tempo, Livro 8 (SERAPIÃO, WISNIK, 2019).Fonte: Ruth Verde Zein, André Balsini e Ernesto Bueno Wills, 2019.

Fig. 3: Número de citações de cada arquiteto x linha do tempo, superposição, Livros 7 e 8. Fonte: Ruth Verde Zein, André Balsini e Ernesto Bueno Wills, 2019.

Fig. 4: Diagrama isométrico, superposição (Livros 7 e 8); cada barra mostra as citações de cada arquiteto ao longo da linha do tempo. Fonte: Ruth Verde Zein, André Balsini e Ernesto Bueno Wills, 2019.

Fig. 5: Diagrama isométrico, superposição (Livros 7 e 8), curvas de nível resultantes. Fonte: Ruth Verde Zein, André Balsini e Ernesto Bueno Wills, 20195.

Embora a pesquisa ainda esteja em andamento e os resultados não estejam completamente sistematizados, seu exame já permitiu a elaboração de várias hipóteses de trabalho interpretativas, ou inferências preliminares. A pesquisa segue realizando o minucioso exame de cada livro, verificando seu conteúdo, como é distribuído pelas décadas que cada publicação abrange, quais regiões e cidades do Brasil são citadas, quais edifícios e autores se destacam, como esses destaques são tratados – entre muitos outros aspectos.

Uma das primeiras descobertas em destaque é o quanto essas “narrativas canônicas” da Arquitetura Brasileira Moderna apresentam aparência semelhante – ou seja, se apresentam com um alto grau de repetitividade, elogiando os mesmos edifícios e repetindo as mesmas histórias, uma e outra vez. Por outro lado, esse aparente uníssono é menos rígido do que parece à primeira vista – e os gráficos sistemáticos contendo todas as informações básicas coletadas são um dispositivo muito útil para entender melhor essa contradição. A par das semelhanças, há também diferenças significativas de um livro para outro. Como sempre, as diferenças são importantes, e precisam ser cuidadosamente consideradas (em vez de serem varridas para debaixo do tapete para favorecer um enredo “mais puro”). O exame do conteúdo dos gráficos preparados com os dados ajuda a perceber que o conjunto de discursos que validam narrativas canônicas sobre a “Arquitetura Brasileira Moderna” e as obras selecionadas para reiterá-la não permanecem completamente estáticos ao longo do tempo, e nesses oito livros selecionados. Mesmo quando as mesmas obras são mencionadas há variações – às vezes sutis, às vezes significativas – de um livro para outro, de um catálogo para outro. Pode-se dizer que a construção do que aqui é rotulado como constituindo o cânon da “arquitetura brasileira moderna”, embora apresente alto grau de consistência, deixa espaço para variações e até conflitos. No entanto, a presença constante e a citação da mesma quantidade significativa de obras exemplares (e, a propósito, magníficas6), cuja apresentação é sempre profundamente enfática, ajuda a eludir a percepção dessas alterações, reforçando a sensação de uma aparente homogeneidade. Uma característica que tende a apoiar a ideia idealista de que existe uma concordância feliz entre todas as vozes. E que promove a percepção, dentro e fora do Brasil, de que uma arquitetura brasileira unificada, “moderna e nacional”, unívoca e contínua, que se desdobra quase ao longo de uma “linha reta” de desenvolvimento, está em vigor desde sempre e para sempre. Essa é, obviamente, uma construção historiográfica problemática. Como nada permanece o mesmo depois de um século, a prevalência de um único paradigma é uma anomalia curiosa, que só é possível sustentar por meio da eliminação, desconsideração e esquecimento sistemático de qualquer outra coisa que não seja o que a corrobora.

Os cânones são definidos por sua (às vezes mítica) construção e mantidos pela inércia que esta lhes provê; este é provavelmente um interessante exemplo disso. Por isso, a consideração e compreensão das diferenças é muito importante e necessária para se superar a imobilidade inercial do cânon. Cada diferença, ou “anomalia”, deve ser apreciada em detalhe, juntamente com as informações mais gerais e recorrentes, prestando uma atenção especial, em cada narrativa, à forma como os fios da trama são dispostos, como suas posições e importância relativas são traçadas, como os fios da urdidura são tecidos e como todas essas estruturas conceituais são construídas, atribuindo diferentes papéis a cada parte do quebra-cabeças da trama de cada livro.

Obviamente, o estabelecimento de um conhecimento histórico envolve a construção de séries documentais. Menos óbvia é a atitude que o historiador deve assumir em relação às anomalias que surgem na documentação [...]. Qualquer documento, mesmo o mais anômalo, pode ser inserido em uma série. Além disso, se analisado adequadamente, pode lançar luz sobre séries documentais ainda mais amplas. (GINZBURG et al., 1993, p. 21).

No caso da “Arquitetura Brasileira Moderna”, o cânon parece ter sido modelado sobre uma suposição implícita: a convergência e homogeneidade de pensamento e ação entre todas as personagens, como garantia e prova da existência de uma peculiar “maneira brasileira de Arquitetura Moderna”. Essa unidade, proximidade e homogeneidade parece existir e ser comprovada nos livros canônicos. Mas isso só é possível porque uma realidade muito mais ampla é reduzida e cortada fora. Ainda que exista, tal unidade só pode se manter por um certo tempo. Mas, embora breve e limitada no tempo e no espaço, sua existência suporta o cânon, fornecendo uma sensação de segurança e credibilidade. Essa aparente unidade é também o resultado de uma política de exclusão e essa homogeneidade é obtida selecionando o que é permitido que seja visível.

A definição canônica ou a delimitação do que pode ser aceito como pertencente ao cânon da Arquitetura Brasileira Moderna foi estruturada a partir de um recorte estilístico. Essa não é uma característica incomum, pois sua prevalência na historiografia já foi apontada por Sarah Williams Goldhagen (2005), quando considera os discursos sobre “Arquitetura Moderna” (em especial, os discursos europeus e suas derivações). Embora seja legítimo postular recortes estilísticos ao criar narrativas históricas sobre arte e arquitetura – um recurso com uma tradição ampla e bem estabelecida –, uma abordagem estilístico formal mantém sua legitimidade apenas quando se considera um período de tempo relativamente curto. Ademais, qualquer definição estilística sugerindo a existência de uma unidade, homogeneidade ou, pelo menos, proximidade (ou “escola”) sempre será uma construção conceitual precária e tensionada. Mesmo que possa ser aplicada a um coletivo de exemplos, não se mantém necessariamente adequada para sempre, com o passar do tempo e/ou ao se considerar outros lugares. Postular uma unidade estilística que abranja todas as manifestações da “Arquitetura Brasileira Moderna” ao longo de um século é provavelmente uma hipérbole. À medida em que as décadas passam, o mundo, historiadores e arquitetos mudam, novas demandas são arregimentadas a cada ocasião, divergindo em novas manifestações, a arquitetura também muda. O que é único, neste caso, não é que tudo no mundo esteja mudando, mas que, apesar de todos estarmos cientes da instabilidade do mundo, a narrativa canônica da arquitetura moderna brasileira segue constante, apresentando-se com uma quase imutável continuidade. Ou, no mínimo, um retorno – considerando que ainda é prevalente no último livro publicado examinado na seleção inicial desta pesquisa (Livro 8, (SERAPIÃO, WISNIK, 2019), cf. Tabela 1).

Por outro lado, o estabelecimento de um cânon é um ato constituído como monumento de si mesmo, remando contra a corrente do fluxo temporal. Paradoxalmente, é precisamente a presença de um cânon estabelecido que pressiona e colabora para sua perpetuação – não apenas nos discursos, mas também na prática profissional, ao estimular, nos atos e pensamentos de cada nova geração, a vontade de “pertencer” a uma “tradição”, fabricada, mas fascinante. No entanto, como a mudança é inevitável, o que pode estar ocorrendo, sob o manto do cânon, na arquitetura brasileira contemporânea, são laços com o passado tanto de continuidade como de alteridade. Desde a década de 1930 até hoje, há diferenças evidentes; se estas não são de fato reconhecidas ou admitidas não é porque não estão lá, mas porque estão sendo tornadas invisíveis pela adesão acrítica a um discurso canônico passado. Talvez esse grau de cegueira seletiva de autores, leitores, professores e críticos sobre as diferenças constantemente crescentes entre as características da arquitetura brasileira moderna e contemporânea ocorra porque todos estamos escolhendo enfatizar as semelhanças, não as diferenças. E isso é, novamente, talvez uma maneira metodologicamente correta de demonstrar claramente a existência implícita e/ou a presença de um cânon.

As diferenças sutis, mas poderosas, que ocorrem ao longo do tempo e do espaço, e de uma fonte bibliográfica a outra, levantam uma questão adicional. Existe um cânon – mas, quando examinado profundamente, percebe-se que sua reiteração não é perfeita, não mantém sua consistência de maneira estrita, está sendo ingurgitado pela admissão de novas obras e também apresenta algumas diferenças, caso a caso. Existe um cânon – mas não é tão uníssono quanto parece, pois há mudanças, ainda que pequenas. Como essas mudanças ocorrem? E se elas existem, existe ainda um cânon? Ou este foi anulado, mas segue sobrevivendo pela força da vontade, como o Cavaleiro Inexistente de Calvino? Em todo caso, ao se considerar o que é um “cânon”, ou como ele se apresenta, a pergunta não é por que as mudanças ocorrem, mas o que acontece para que acreditemos que elas não estejam ocorrendo.

O interesse, a singularidade e a surpresa de se estudar profundamente o caso historiográfico da arquitetura moderna brasileira é que ele nos ajuda a perceber de que maneira a ideia de uma suposta unidade da “arquitetura moderna brasileira” se mantém inabalável. Segue sendo chamada à arena, de novo e outra vez, em todas as ocasiões, pelo menos há oito décadas; e ainda permanece ativa no século XXI – provavelmente, fomentada pelo forte desejo de percebê-la como uma unidade. Assim, mesmo se parcial, a reiteração e repetição de enredos e diretrizes, com poucas variações, passíveis de serem observados na amostragem de oito livros, selecionados pela pesquisa, ajudam a demonstrar a existência de uma narrativa canônica. É um fenômeno extraordinário – embora, provavelmente e finalmente, insustentável.

5Como conclusão (ainda em construção)

O processo sistemático de reconhecimento de um cânon prevalente deve ser seguido de uma crítica adequada à sua própria estrutura. Para isso, é crucial construir instrumentos conceituais e metodológicos que fomentem caminhos mais inclusivos, contemporaneamente orientados, de maneira a estimular a possibilidade de desenvolvimento de outras estruturas narrativas historiográficas. Assim, a pesquisa em desenvolvimento não é apenas um estudo de caso particular, mas uma tentativa de estabelecer uma estrutura teórica e metodológica que possa ser útil para outras pesquisas de tipo semelhante. Por outro lado, o estudo sistemático dessa bibliografia também pretende se organizar como ferramenta metodológica para ajudar a verificar se a possibilidade de construção de “novas” estruturas narrativas já existentes, e pode ser encontrada, embora em estado inicial e/ou potencial, nas tentativas mais contemporâneas (século XXI) de se estabelecer uma “história global mais inclusiva”7; ou ainda, se comparece em alguns dos livros canônicos existentes, ainda que apenas nas suas fendas e fraturas.

Em todo caso, o objetivo desta pesquisa não é apagar ou eliminar o cânon predominante, mas, antes de tudo, aumentar a conscientização de sua existência, a fim de permitir seu questionamento e, possivelmente, promover o surgimento de diferentes possibilidades. As etapas metodológicas da pesquisa, como aqui propostas, não são motivadas pela arrogância de ignorar ou desconsiderar o acúmulo de conhecimentos disponibilizados pelos escritos canônicos existentes, ainda que sejam incompletos e/ou tendenciosos. Afinal, eliminar qualquer tipo de “cânon” talvez seja uma tarefa impossível, fadada ao fracasso, pois o estabelecimento e a propagação de um cânon pode ser uma ferramenta inevitável e/ou recorrente na pesquisa de campos profissionais baseados na prática – como, por exemplo, em arquitetura (FOQUÉ, 2010). Por enquanto, o objetivo imediato é, pelo menos, promover uma consciência mais geral das limitações prevalecentes do cânon; e, na melhor das hipóteses, promover sua extensão, modificação e renovação.

Agradecimentos

Este artigo traz o estado da arte de um esforço de pesquisa de longo prazo que está em desenvolvimento há algum tempo, juntamente com vários projetos de pesquisa coordenados pela autora, alguns dos quais ainda em andamento. Também teve a contribuição, na forma de debate e questionamento criativo, de colegas pesquisadores/as e professores/as e a participação de estudantes de graduação e pós-graduação e de orientandas de doutorado desta autora, em palestras, aulas, estúdios e oficinas de pesquisa sobre o tema da revisão historiográfica da arquitetura moderna e contemporânea. Desejo expressar meus agradecimentos a todos/as. Mais especialmente aos meus colegas da Pontifícia Universidade Católica de Santiago do Chile por me convidarem a participar, como líder local, da pesquisa “Debate teórico e construção histórica. A herança arquitetônica da modernidade no Chile e no Brasil” (CONICYT-Chile. Programa de Cooperación Internacional. Apoyo a la Formación de Redes Internacionales entre Centros de Investigación. REDES 170046: “Theoretical debate and historical construction. The architectural heritage of the modernity in Chile and Brazil”) e os colegas do Doutorado em História da Arquitetura da Universidade do Texas, em Austin (Missão PRINT/UPM 2020). Meus estudos também tiveram o apoio do CNPq (Produtividade em Pesquisa 1D, 2018-21) e Mackpesquisa (Arquitetura Moderna no Brasil e América Latina, análises historiográficas, 2020).

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1 Esse argumento é desenvolvido nos escritos anteriores da autora, por exemplo Zein (2019).

2 Se o tempo e a vida permitirem, o segundo passo será considerar as narrativas canônicas da arquitetura moderna da América Latina, antes de me aventurar em uma pesquisa sistemática sobre todo o mundo.

3 Fevereiro de 2020. As planilhas consolidadas, os gráficos interpretativos resultantes desses dados e vários artigos teóricos propondo diferentes interpretações e considerações, a serem escritos pelos membros da pesquisa e convidados/as serão reunidos em um livro, a ser publicado em 2021.

4 Por exemplo, o mesmo edifício ocorrendo com nomes, ou autores, ou datas de projeto e conclusão da obra diferentes, ou ainda discrepâncias em outras informações básicas sobre sua identificação.

5 Todas as figuras foram concebidas e desenhadas de acordo com os parâmetros da pesquisa pelos estudantes de doutorado André Balsini e Ernesto Bueno Wills, durante as atividades de pesquisa da disciplina de pós-graduação "Arquitetura Moderna e Contemporânea no Brasil e Ibero-América", coordenada pela autora em 2019 (PPGAU-UPM).

6 Não precisa ser dito, mas ainda assim, melhor dizer. A questão aqui posta não é a de difamar nem os chamados edifícios canônicos, nem seus autores, nem os historiadores que organizaram esses livros. Pessoalmente, sou uma ardente admiradora da maioria desses edifícios. Visitei, elogiei, escrevi e estudei a maioria deles, para meu prazer e iluminação. Esta pesquisa é um esforço teórico para tentar esclarecer quais são as narrativas canônicas do século XX sobre Arquitetura Moderna e como devemos agir para favorecer a consecução de abordagens contemporâneas, do século XXI, sobre esse assunto. A pesquisa não se posiciona contra as obras consideradas canônicas, e sim contra algumas narrativas desatualizadas, mas incrustadas no ensino e na prática da arquitetura, e que podem estar atrapalhando o caminho em prol de uma adequada mudança de perspectiva.

7 Como, por exemplo, no interessante livro "Architecture since 1400" (JAMES-CHAKRABORTY, 2014).

The Meaningful Emptiness of the Canon

Ruth Verde Zein

Ruth Verde Zein is an Architect, Doctor in Architecture, and a Professor of Theory and Design at the Mackenzie University, Sao Paulo, Brazil. She has more than a hundred of articles published and a dozen books on Brazilian and Latin American modern and contemporary architecture. rvzein@gmail.com


How to quote this text: ZEIN, R. V. The Meaningful Emptiness of the Canon. V!RUS, São Carlos, n. 20, 2020. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus20/?sec=4&item=1&lang=en>. [Accessed: 07 October 2024].

ARTICLE SUBMITTED ON MARCH 10, 2020


Abstract

The methodological approach proposed in this article is to suggest some proper ways to establish the existence of the historiographic canon on Modern Architecture. The quantitative and qualitative usage of the works mentioned in the main consecrated historical narratives is considered along with their insertion in the timeline and periodization proposed in each of these sources. An established canon is an a priori immovable feature that challenges any methodological attempt to effectively change it. The inflating of the canon with the insertion of “new” selected information is not enough: it is also necessary to question the very core of the implicit methodological framework of a current canon by understanding how, by whom, and according to which explicit or hidden narratives of prestige and geopolitical power, anything – buildings, urban spaces, facts, authors etc. – is granted a “canonical” status. The consolidated written narratives on Brazilian Modern Architecture history have been selected as a first case study to understand the making of a particularly durable and fixed canon. It is proposed as a starting point to systematically confirm the existence of the canon, and to foster the possibility of change, by contemplating the meaningful voids of emptiness the it obliquely defines.

Keywords: Modern Architecture, Historiography, Bibliographic survey, Architectural theory.



1 Introduction: the meaningful emptiness of the canon

In architectural history theory and practice, establishing the existence of a canon is not an easy task. Although a canon works as a kind of “naturalized” discourse that claims the right of being evident without having to explain itself, it is also and contradictorily enough a hidden feature, never exposing by whom, or according to which explicit or hidden powers the “canonical” status was granted. Besides, as already debated by many authors (Bozdogan, 1999; Gürel and Anthony, 2006; Jencks, 2001; Leatherbarrow, 2001; Lipstadt, 2001) it is not so easy to point out and to clearly define what makes a work “canonical”; and it is even more complicated to explain, in a rigorous way, what may be called a “canonical narrative”, despite the fact that we all know what we are talking about. By definition, canons are extremely resistant to criticism and change. This article suggests a possible methodological approach to properly tackle the subject of defining what is a canon – or at least, what it comprises –, prompted by some methodological approach cues proposed by Bonta (1977), Torrent (2017) and Lara (2018). By its proper recognition, and by the deconstruction of the prevalent canonical structures, it would be possible to devise some possibilities of change, questioning the very conceptual core of the canonical historiographic narrative, either by broadening the current canon boundaries or by revising and (re) structuring it. The article will also present the application of this methodology in a study in progress, focused on the case of Brazilian Modern Architecture historiographic canon.

2 Modern Architecture and the inception of its canon

From its very early moment, Brazilian Modern Architecture was recognized as a significant and cohesive ensemble of works and authors. A mature narrative reporting its existence and importance was already in construction in the 1930s, and it persists almost unscathed until today. Having started from the effort and merit of its protagonists, it was immediately and providentially reinforced by prestigious foreign help, from the 1940s onwards. This consecrated narrative on Brazilian Modern Architecture is stricken by a paradoxical condition: on the one hand, it longs for its reconnaissance as “modern”, thus aspiring to belong to a broader universal stance; on the other hand, it wants to be qualified as “national”, thus suggesting the attainment of specific traits and a relatively autonomous stance. This double condition confronts and tenses European / North-Hemisphere canonical narratives on modern architecture – not by conflicting but by diverging, though only partially. Almost a century after its inception, despite discreet variations in tone, this need of recognition as "modern and national" remains and prevails in almost every national or international attempt to establish any panoramic narratives on Brazilian architecture – modern, contemporary or otherwise. Its persistence makes it a very interesting and particular case of a lasting canonical narrative that, more often than not, keeps on defining and delimiting, even in the twenty-first century, what is allowed to be considered and understood as Modern Brazilian architecture; and by extension, as Contemporary Brazilian Architecture.

The canonical historiographic narrative of Modern Brazilian architecture was under construction quite at the same time as the establishment of the most widely accepted and “naturalized” canonical historiographic narrative on “Modern Architecture”. Despite sporting the word “Modern” with no other qualifications, its construction was put forward by the help of a selected group of historians of mostly European origin and/ or influence, who assumed the role of organic voices to some of the early twentieth century European avant-gardes. Their task was accomplished in a powerful and efficient manner. Its legitimation was secured in a two-fold way. Firstly, by the temporal extension of this so-called “universal” Modern Architecture groundings backwards, carefully choosing some manifestations to stand as its accepted roots. Secondly, by strictly regulating the conditions for admittance into its selected domain, thus putting any other previous, subsequent and/or parallel non-conform development, in the shadows. While this canonical narrative on “Modern Architecture” was still under construction, its protagonists were actively working on granting it an “official” stand, pushing its dissemination and reverberation through publications and fierce proselytism. The strategy adopted to secure the prominence and command of their particular definition of “modern architecture” was to qualify it as something that, by right, would exclusively belong to the European ambit. To ensure this interpretation, they chose to ground its fulcrum of authenticity, exclusivity, primacy, and market reserve on the adoption of a circumscribed economic, political and social condition, chosen as the one and only legitimate basis for the consideration and interpretation of what “Modern Architecture” should be. This definition established some very tight boundaries to grant a building, or any enterprise the label of “Modern Architecture”, by pairing it with the traits of a restricted given context only applicable to its own case (European and industrialized). Thus, it left outside its realms any “other” manifestation that – given a less restricted or a broader definition of “modern architecture” – would otherwise be included.

The allure of this canonical historical narrative of “Modern Architecture”, one that we have always heard of and deal with on a daily basis without giving it much critical thought, is that we grew so accustomed to it and we naturalized it in such ways that we barely perceive how it is not natural at all. And besides, we fail to perceive how it was founded on a structural mechanism favoring a few and excluding almost all the others. The canonical historiographic narrative on “Modern Architecture” gave centrality to only one supposedly correct and true domain. As so, it precipitously exiled all others nonconforming situations to the category of aberrant phenomena, to be considered at best as curious cases, often as secondary (and non-deserving) ones.

Traveling its own path at that same moment, Brazilian Modern Architecture also built its self-acknowledging narrative and canon by allowing itself to be valued and praised as a significant phenomenon. A process that begins very early in the 1930s (Costa, 1936), in parallel with the construction of the Modern North European historiographic canon. Still, the Brazilian Modern Architecture canon was not built in isolation, either conceptually, or by the voices it enlists, as it counted with the early support of enthusiasts, foreign to its national scope and who have chosen providentially, for varied reasons, to emphasize and highlight its importance as an internationally noteworthy singularity (Goodwin, 1943; Lara, 2000). Anyhow, and more often than not, its beauty and specialty were commonly displayed as a sort of strange, ambiguous, and curious phenomenon. But even when that classical modern Brazilian architecture is being described by sympathetic outsiders in a cordial way, it is never exactly accepted in a fraternal approach: while foreign appraisal does congratulate it, it still keeps a caution distance from it.

Crisscrossed by a situation of relative autonomy and relative will to belong, the construction of the canonical narrative of Modern Brazilian Architecture adopted a sort of diplomatic mood. Although seeking to affirm its particularity, it did not take distance or isolate itself from the (also recently constructed) other, stronger and soon-to-be hegemonic and self-proclaimed "universal" narrative of Modern Architecture of North European origin; it even draws from its momentum, to improve its own avouchment. Caught in the middle of a contradictory and complex historical situation, it chooses to prop a compromise solution, of perhaps unstable equilibrium. To establish itself as an entity, Modern Brazilian Architecture narratives implicitly accept its exceptional position (meaning as in an “exception”) and does not question the very framework in which the so-called general “Modern Architecture” rests. When in fact the latter was never meant to include it, explicitly and implicitly.

Anyway, for not wanting to clash with the other, which was by then the already foremost canon, and by accepting its own epiphytic condition, its protagonists were perhaps driven less by conviction than by strategy. When Lucio Costa invokes the statute of “genius” (Costa, 1951) to reaffirm and explain the existence and validity of this Modern Brazilian Architecture, he guarantees its presence among those he worldly considers as his peers, avoiding to clash, heads-on, with the almost insurmountable barrier posed by the social and economic framework instituted as the criteria to assure the primacy and exclusivity of the European modernity1 . It is even possible that Costa was convinced, as many scholars and professors still are even a century later (as for me, not so much!) that only such state of economic centrality would be equal and congruent with a condition of modernity, and its inescapable and primal condition. Such is the fascination and the magic dexterity of that canon that has been keeping us anesthetized and unable to perceive the bare facts that contradict such interpretation.

On behalf of that, the first fact to be considered is that there is no economic centrality without the existence of its inseparable other, the backward periphery. For such centrality to exist there must be inequality and unbalance elsewhere, enabling the economic active forces to accumulate on one side, by depriving the other sides of their richness. If that is so, “modern” should not be a word to be used to qualify just one of these sides, but the whole system they are inserted in. As much as it hurts to accept it, Modernity is an unbalanced condition, an unequal display of forces whose disequilibrium is not a distortion, but the very condition of its existence. Using the word “modern” to highlight only a bright, happy, and rich side is just a trick, and a bad taste one. With this insight in mind, it gets easier to question to which extent “Modern Architecture” is something that is only possible as a result of a so-called “advanced” condition of economic centrality; or else, if it inevitable and rightfully occurs in any part of the global economic “modern” system. The second fact to be considered are the buildings themselves. A concerted survey on Modern Architecture of the twentieth century, applying less restrictive filters, minding not the geographical position but the dates of design and construction will uncover an enormous amount of most interesting cases all over the world. In Brazil and Latin America, the places I know better, there are certainly a lot of the best and earliest ones. The extent of such acknowledgment survey of architectural modernity or, at least, its manifestations, clearly puts into question the supposition that “modern architecture” would not be allowed to exist outside the context of economic centrality – just because. Therefore, it puts sub judice this supposedly unsurmountable pre-condition, or barrier, from which all “global” or “universal” canonical histories of modern architecture have been construed, including several recent and supposedly critical revisions.

By adopting this line of reasoning some core questions are opened up and need to be put back over the table, to be more carefully reexamined, and some sort of method should be proposed to further assert their validity. Certainly, and again, the questioning of a prevailing canon is not a simple task. Just finding that something is not satisfactory is not enough to fully understand the issue, or even better, to transform it. Even the laborious and straightforward path of organizing a wide-world survey documenting thousands of previously unacknowledged buildings would not suffice to truly challenge the panorama. Canons are very powerful and inertial assets, and this particular canon was erected on a privilege and exclusion basis that is still prevalent and in full force – at least, until it is properly questioned, as has been pointed out by Waisman (2013); Zein (2019, pp. 111, 113) and Heller (2016, pp.44-5).

3Canon recognition: a possible method

The construction of both canonical narratives – the general, so-called “universal” (actually North-European based and focused) and the particular, so-called “Brazilian” one (actually, a broad generalization from some specific and limited basis) – are dated historical events. But as their prevalence is still ubiquitous today, they are also a present-day issue. This historicity/present-day dual condition makes them a complex subject to deal with in a comprehensive and systematic way. Besides, the pervasive nature of the canon renders us not quite aware of its presence, and due to its virtual invisibility, we tend to lean on its mandates and boundaries more often than not, even if just for the lack of something else to rest on. Since the canon is seldom evident as a “canon”, the first task at hand would be to properly recognize its existence as such. Being a first task does not mean being more important than other aspects, only that a systematic methodological approach to the subject needs to establish some stable and proper foundations before moving forward.

An able device to establish what the canon is or, at least, what it contains, is the systematic documentation of all canonical “examples” that have been repeatedly included in every written source available. That may be done by simply registering all the mentioned buildings, their design/construction dates, their places and programs, their authors, how frequently they appear, in which part of each text’s adopted chronology and periodization the buildings and their authors have been considered etc. Since an absolutely complete survey is not quite feasible, a selected experimental but comprehensive enough sample has to be chosen, giving preference to some sufficiently complex cases. To grant its representativeness the sample has to include the more easily accessible books and publications available in technical libraries, bookstores, and online resources; to grant its comprehensiveness, preference should be given to the more broadly panoramic ones. All data extracted from these sources are to be organized in charts and graphics, a most helpful resource when dealing with large amounts of data, bringing forth the possibility of visualizing and analyzing several facts and figures that would, otherwise, not be so easily perceived.

The quantification of the “canonical examples” is proposed as a device to help open up some possibilities of re(examining) the subject of the “canon” by the reverse of the weft, instead of reading the texts in a Cartesian way (i.e., according to the order of their reasoning). When dealing with the most prestigious and well-known books, it helps to look at them again from a refreshed point of view, granting some sort of strangeness to enable the arising of new perceptions and questioning. A book narrative is more easily understood and exposed by examining its inside out. Meaning, by trying to systematically understand how its narrative was construed, which constraints and advantages each author might have encountered in their respective plots, vis-à-vis to his/her adherence and/or contraposition to the ‘canon’. Furthermore, by considering in which ways each author chose to privilege and present the structure of his/her narrative, how the “canonical” works mentioned are distributed and balanced within their narrative timelines and periodization – among other analytical possibilities facilitated by the quantified survey.

The comparison of structures and quotations, from one author to the other, helps understand whether and how much the “canon” (or, the list of canonical examples) was established, its recurrence, if and how it has changed in time, and so forth. And in order to truly know what a canon says, and why, it is also important to be aware of what it doesn’t do: the absences are as meaningful to understand the structural frame (and biases) of a canonical book, as are the presences. Finally, it is important to stress that the quantification is just a methodological step: it is not and end in itself, but a means to an end, which would be the reconnaissance, and afterwards, the questioning of the making of canonical structures and discourses. As stated above, the aim is to open up the possibility of real consistent change towards a truly inclusive and broad “global architecture history”. And for that, it needs a deeper change. It does not suffice to propose the addition of some tactical “inclusions”. The opportunistic inclusion of some authors or works, pinched here and there by the fashion waves launched by smart architecture schools and museums from the worldwide panorama, frequently acts as a reinforcement of the existing canon, by mimicking its prestige/privilege procedures. What must be done, if a deep change is to be promoted, is to find ways to reconsider what is or what may be considered as “meaningful”. This will only be possible by unveiling the hidden plots and values that root and support the current canonical discourses.

4Canon recognition: the Brazilian case

The Modern Brazilian Architecture canonical narrative has a noteworthy consistency and duration in time, and it is probably one of the only “regional” cases providing at least a dozen well-known panoramic reviews, written by different authors throughout almost a century. Its precocity and longevity make it an interesting case for an experimental systematic study, as a first step to achieve some meaningful insights on the subject of how canons are established and maintained. Due to the fact that its initial discourses were proposed almost simultaneously with the main “international”, European/based, Modern Architecture narratives, it is also as an appropriate point of departure to propose a number of international collations, and ultimately, to help put into question the making of the “general” canonical narratives on Modern Architecture.2

Table 1: Selected Brazilian Modern Architecture Books/Catalogues. Source: Ruth Verde Zein, 2019.

The starting point of this critical study on canonical narratives on Modern Brazilian architecture was to choose a relatively narrow, but still ample, selection of books on Modern Brazilian Architecture of panoramic scope, in order to better concentrate and organize the research efforts. The proposed selection (Table 1) includes eight books and/or exhibition catalogues that have been published in different decades. Yet, all of them are still quite accessible nowadays, available in bookstores, in most university libraries, sometimes with easily and legally accessible digitized online versions; and for those reasons, they are often adopted as basic textbooks in architectural education syllabi. In addition to these criteria, the selection also considered establishing a significant minimum number of books necessary to effectively give the survey enough representativeness. Other books that had a very close relationship with the chosen authors/discourses were not included to avoid redundancy. As the research is going to enlist all the works mentioned in each book, the selection of books did not include conceptual or theoretical texts, giving preference to panoramic (in time and places) and works-centered books. The research is also dealing, in a more qualitative way, with a much wider variety of books, articles, testimonies, etc. that are called to the arena on occasion to consider, confirm or reassert the presence of the canon itself, and/or its significant voids.

At this point,3 the research has already organized the preliminary survey of all the buildings and authors mentioned in each and every one of these books. The resulting spreadsheet is currently being revised to confirm its consistency and resolve minor discrepancies4. Some of the partial results may be observed in Figures 1 to 5.

Fig. 1: Number of quotations for each architect x timeline, Book 7 (Bergdoll et al, 2015). Source: Ruth Verde Zein, André Balsini.; Ernesto Bueno Wills, 2019.

Fig. 2: Number of quotations for each architect x timeline, Book 8 (Wisnik & Serapião,, 2019). Source: Ruth Verde Zein, André Balsini.; Ernesto Bueno Wills, 2019.

Fig. 3: Number of quotations for each architect x timeline, superposition, Books 7 and 8. Source: Ruth Verde Zein, André Balsini.; Ernesto Bueno Wills, 2019.

Fig. 4: Isometric Diagram, superposition (Books 7 and 8); each bar shows an architect’s quotations along the timeline. Source: Ruth Verde Zein, André Balsini.; Ernesto Bueno Wills, 2019.

Fig. 5: Isometric Diagram, superposition (Books 7 and 8), resulting contour lines. Source: Ruth Verde Zein, André Balsini.; Ernesto Bueno Wills, 2019.5 .

Although the research is still in progress and the results are not completely systematized, their examination has already allowed several working interpretative hypotheses or preliminary inferences. The research is proceeding by the lengthy examination of each book, checking its content, how it is distributed among the decades that each publication comprises, which regions and cities of Brazil are covered, which buildings and authors stand out, how these highlights are treated – among many other aspects.

One of the first findings that stands out is how these “canonical narratives” on Modern Brazilian Architecture present a somehow similar appearance – meaning, they present a high degree of repetitiveness, praising the same buildings and repeating the same stories, once and again. On the other hand, this apparent single-mindedness unison is less tight than it seems at first sight – and the systematic charts containing all the basic information collected is a very useful device to better understand that contradiction. In pair with the similarities, there is also significant differences from one book to another. As always, differences matter, and do have to be carefully considered (instead of being swept under the carpet to favor a “neater” storyline). As so, the examination of the charts content help to perceive that the set of discourses validating canonical narratives on “Modern Brazilian Architecture” and the works selected to reiterate it do not remain completely static along time and through these eight selected books. Even when the same works are mentioned, there are variations – sometimes subtle, sometimes significant – from book to book, from catalogue to catalogue. We may say that the construction of what is here labeled as constituting the “Modern Brazilian architecture” canon, although it presents a high degree of consistency, it leaves room for variation and even for conflicting. However, the constant presence and quotation of the same significant amount of exemplary (and by the way, magnificent6), works, whose presentation is always deeply emphatic, helps elude the perception of these alterities, reinforcing the sensation of an apparent homogeneity. A feature that tends to support the idealistic idea that there is a happy accordance among all voices. It fosters the perception, inside and outside Brazil that a unifying Brazilian Architecture, “modern and national”, univocal and continuous, unfolding along an almost “straight line” of development, is in force since ever and forever. That is obviously a problematic historiographic construction. As nothing remains the same after a century, the prevalence of a single paradigm is a curious anomaly, one that is only attainable by the systematic elimination, disregarding and forgetting of anything other than the stuff that corroborate it.

Canons are defined by their (sometimes mythical) construction and maintained by the inertia thus provided; this is probably an interesting exemplification of that. As so, the proper consideration and understanding of the differences is very important and necessary to overcome the inertial immobility of the canon. Each difference, or “anomaly” have to be appreciated in detail, along with the more general and recurrent information, paying particular attention, in each narrative, to how the warp threads are laid out, how their relative positions and importance are drawn, how the skein threads are woven and how all these conceptual structures are built, assigning different roles to each part of each book’s plot. “Obviously, the establishment of a historical knowledge involves the construction of documentary series. Less obvious is the attitude that the historian must assume in regard to the anomalies that crop up in the documentation […] Any document, even the most anomalous, can be inserted into a series. In addition, it can, if properly analyzed, shed light on still-broader documentary series”. (Ginzburg et al, 1993, pp.21).

In the case of the “Modern Brazilian Architecture”, the canon seems to have been modeled upon an implicit assumption: a convergence and homogeneity of thought and action among all personages, as a guarantee and proof of the peculiar existence of a “Brazilian way of modern architecture”. This unity, closeness, and homogeneity even seems to exist and be proved in the canonical books. But it is only possible because a much broader reality is reduced and clipped. Even then, it can only remain in existence for a while. But although brief and limited in time and space, its existence supports the canon, providing a secure sense of its credibility. This apparent unity is the result of a policy of exclusion, and its homogeneity is obtained by selecting what it is allowed to be visible.

The canonical definition or delimitation of what is to be accepted as belonging to the canon of Modern Brazilian Architecture has been structured according to a stylistic turn. That is not an uncommon feature, as its prevalence in historiography has been already pointed out by Sarah Williams Goldhagen (2005), when she considers the discourses on “Modern Architecture” (actually, the European based discourses and their derivations). Although it is legitimate to postulate stylistic clippings when making historical narratives on art and architecture – a feature with a large and established tradition – a formal-stylistic approach maintains its legitimacy only when considering a relatively short period of time. Besides, any stylistic definition suggesting the existence of a unity, homogeneity, or at least proximity (or “school”) will always be a precarious and stressed conceptual construction. Even if it may be applied to a collective of examples, it does not necessarily keep on fitting forever, while time passes and/or while considering other places. Postulating a stylistic unity that would encompass all manifestations of “Modern Brazilian Architecture” along a century is probably a hyperbole. As the decades pass, the world, historians, and architects change, new demands are regimented on each occasion, clashing with new manifestations, architecture also changes. What is unique in this case, is not that everything in the world is meant to change, but that despite us all being aware of the instability of the world, the canonical narrative on Brazilian Modern Architecture keeps on being a constant and showing an almost unchanging continuity. Or yet, at the very least, a return – considering it is still prevalent in the last published book examined in the initial selection of this research (Book 8, Serapião, & Wisnik, 2019, cf.Table 1).

On the other hand, the establishment of a canon is an act constituted as a monument of itself, rowing against the current of temporal flow. Paradoxically enough, it is precisely the presence of an established canon that pressures and collaborates to its perpetuation – not only in discourses, but also in professional practice stimulating, in the deeds and thoughts of each new generation, the will of “belonging” to a fabricated, but fascinating “tradition”. Yet, as change is inevitable, what is perhaps being maintained up to Brazilian contemporary architecture, under the overall belonging-to-the-canon-cape, it that the ties with the past are both of continuity and alterity. Again, from the 1930s to-day, there are evident differences; if they are not actually acknowledged or admitted, it is not because they are not there, but because they are being rendered invisible by the uncritical adherence to a previous canonical discourse. Perhaps this degree of selective blindness of authors, readers, professors, and critics on the constantly growing differences between the characteristics of modern and contemporary Brazilian architecture is that we are all choosing to stress the similarities, not the differences. And that again is perhaps a methodologically correct way to clearly demonstrate the implicit existence and/or the presence of a canon.

The subtle but powerful differences unfolding along time and space, from one source to another, raises an additional question. There is a canon – but when it is deeply examined, one realizes its reiteration is not perfect. It does not maintain its consistency in a strict way, it is being engorged by the admission of new works and it displays some differences as well, from case to case. There is a canon – but it is not as unison as it seems to be, for there are changes, even if small ones. How do these changes occur? And since they do, does a canon really still exist? Or is it nullified, tough surviving by the force of the will, like Calvino’s Non-Existent Knight? Anyhow, when considering the understanding of what a “canon” is, or how it presents itself, the question would not be why changes occur, but what happens to make us believe they don’t.

The interest, uniqueness and surprise of deeply studying the Brazilian Modern Architecture historiographic case is that it has helped us to realize how the idea of a supposed unity of “Brazilian Modern Architecture” has been kept unabated. It has been called once and again to the arena, on every occasion, over at least eight decades; and still remains active in the twenty-first century – probably, fostered by the strong desire of perceiving it as a unity. So even if it is partial, the reiteration and repetition of plots and guidelines, with few variations, among the sampling of eight books selected by the research, helps demonstrate the existence of a canonical narrative. It is a most extraordinary phenomenon – although probably, and ultimately, an unsustainable one.

5By way of a (still in construction) conclusion

The systematic process of recognition of the prevailing canon has to be followed by a proper criticism of its very structure. For that, it is crucial to construct conceptual and methodological instruments to foster more inclusive and contemporary-oriented paths and to stimulate the development of other possibilities of historiographic narrative structures. As so, the research in development is not only a study of particular case, but an attempt to establish a theoretical and methodological framework that would be useful to other researches of similar kind. On the other hand, the systematic study of the current bibliography is meant as a methodological tool to help verify if the possibility of constructing “new” narrative structures do already exist and may possibly be found, albeit in an initial and/or potential state, in the more contemporary (21st century) attempts to establish a more “inclusive global history”7 , or even inside the cracks and fractures of some existing canonical books.

Anyway, this research aim is not to erase or eliminate the prevailing canon, but first of all, to increase the awareness of its existence, in order to allow its questioning and to possibly foster the emergence of different possibilities. The methodological research steps here proposed, are not driven by the hubris of ignoring or disregarding the accumulation of knowledge that is to be found in the existing canonical writings, even if they happen to be incomplete and/or biased. After all, eliminating any sort of “canon” is perhaps an impossible task, doomed to failure, since the establishment and propagation of a canon may be an inevitable and/or recurrent tool among practice-based research and professional fields – as for example, in architecture (Foqué, 2010). For now, the immediate goal is, at least, to promote a more general awareness of the prevailing canon limitations; and at best, to promote its extension, modification, and renovation.

Acknowledgements

This article brings the state of the art of a long-term research effort that has been in development for some time, along with several different research projects conducted by the author, some of them still in course. It has also had the contribution, in the form of creative debate and questioning, of fellow researchers and professors, the participation of undergraduate and graduate students attending the author’s lectures, classes, studios, research workshops, and the PhD candidates this author was/is tutoring on the subject of historiographic revision of modern and contemporary architecture. I wish to express my thanks to all of them. Most especially to my colleagues from the Catholic University of Santiago do Chile for inviting me to participate as the local leader of the research “Theoretical debate and historical construction. The architectural heritage of the modernity in Chile and Brazil” (CONICYT-Chile. Programa de Cooperación Internacional. Apoyo a la Formación de Redes Internacionales entre Centros de Investigación. REDES 170046: “Theoretical debate and historical construction. The architectural heritage of the modernity in Chile and Brazil”) and the colleagues from the Architecture History Doctorate in the University of Texas at Austin (PRINT/UPM Mission 2020). My studies have also had the support of CNPq (Produtividade em Pesquisa 1D, 2018-21) and Mackpesquisa (Arquitetura Moderna no Brasil e América Latina, revisões historiográficas, 2020).

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1 This argument is further developed in the author’s previous writings, e.g. ZEIN, 2019, pp.126-153.

2 Time and life permitting, the second step will be to consider the canonical narratives on Latin American Modern Architecture, before venturing into a systematic worldwide survey.

3 February 2020. The consolidated spreadsheets, the interpretative graphics resulting from that data, and a number of theoretical articles proposing different interpretations and considerations, written by the research partners and guests will be reunited in a book, which is meant to be published in 2021

4As for example, the same building occurring with different names, or authors, or dates of design and completion, or other basic information regarding its identification.

5TAll figures were conceived and designed in accordance to the research parameters by PhD students André Balsini and Ernesto Bueno Wills, during the research activities of the graduated course "Arquitetura Moderna e Contemporânea no Brasil e Ibero-América”, held by the author in 2019 (PPGAU-UPM).

6 It needs not to be said but anyway, let’s say it. This is not an attempt to denigrate either the so-called canonical buildings or their authors, neither the historians that organized these books. I am personally a fierce admirer of most of these buildings, I have visited, praised, written and studied the majority of them, to my pleasure and enlightenment. This research is a theoretical effort to try to illuminate what is the twentieth century canonical narratives on Modern Architecture, and how we have to act to favor the achievement of a contemporary, twenty-first century approach to the subject. The research is not against the works that are considered canonical, but against some old beliefs, incrusted in the teaching and practicing of architecture, which may have been hindering the way to a proper change of perspective on the subject.

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7 CAs for example, the most interesting book “Architecture since 1400”. (2014) James-Chakraborty, K..