Corpo cine-gráfico: Proposta de Método Transdisciplinar para Cidades Corporificadas

Mariana Valicente, Ethel Pinheiro, Cintia Ramari e Niels Albertsen

Mariana Valicente é arquiteta e urbanista, Mestre em arquitetura e é pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Colabora com o laboratório de pesquisa LASC e trabalha como pesquisadora e educadora do patrimônio no SESC Pompeia, em São Paulo. Ela estuda gênero, apropriações urbanas, territórios educacionais, sistema de espaço livre, modos de produção do espaço contemporâneo e o direito à cidade. mvalicente@gmail.com

Cintia Ramari é bacharel em Educação Física e Mestre em Biodinâmica de Movimento e Esportes. Ela é pesquisadora da Universidade Nacional de Brasília, Brasil, onde realiza pesquisas sobre biomecânica do distúrbio de marcha em doenças neurológicas. cintiaramarif@gmail.com

Ethel Pinheiro é arquiteta e urbanista e Doutora em Arquitetura e Urbanismo. É professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, onde coordena o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e é editora-chefe da revista científica CADERNOS PROARQ. Realiza pesquisas sobre representação arquitetônica, com ênfase no planejamento e design do espaço urbano, desenho técnico e de observação e antropologia urbana. ethel@fau.ufrj.br

Niels Albertsen é Mestre em Ciências Políticas e Professor Emérito na Aarhus School of Architecture, Dinamarca. Ele dedica-se ao ensino e à pesquisa desde 1975, transitando em uma interseção entre a teoria urbana e social, as teorias da arquitetura e design, a sociologia da profissão de arquiteto e a sociologia e filosofia da arte. na@aarch.dk


Como citar esse texto: VALICENTE, M.; RAMARI, C.; PINHEIRO, E.; ALBERTSEN, N. Corpo cine-gráfico: Proposta de Método Transdisciplinar para Cidades Corporificadas. V!RUS, São Carlos, n. 20, 2020. [online]. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus20/?sec=4&item=9&lang=pt>. Acesso em: 19 Abr. 2024.

ARTIGO SUBMETIDO EM 10 DE MARÇO DE 2020


Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar estratégias metodológicas a uma análise qualitativa apoiada na interpretação de dados quantitativos em espaços públicos urbanos, como a 'Corpografia' o fez. Incluir novas narrativas para o planejamento urbano e políticas públicas, que levem em conta perspectivas que considerem não apenas os espaços físicos, mas também os ambientes subjetivos e performances promovidas pela relação do corpo com os ambientes públicos, é um desafio para as Ciências Sociais Aplicadas, e especialmente para a pesquisa etnográfica urbana. Em um esforço para evitar as limitações decorrentes de uma abordagem tecnocrática, universalista, ou de análises reducionistas de gênero nos espaços urbanos, e direcionando-se para uma abordagem que considere o corpo político-social como uma unidade de análise, a intenção aqui proposta é levantar questões, problemáticas, e possibilidades inerentes às pesquisas dessa natureza. Portanto, este artigo tem como objetivo lançar luz sobre desafios teóricos e práticos nesse tipo de pesquisa, e destaca possíveis caminhos metodológicos a serem seguidos para preencher lacunas e construir uma análise confiável, séria, profunda e complexa de gênero nos espaços públicos sob a perspectiva das corpografias das mulheres: a coreografia dos corpos políticos atuantes nos espaços urbanos como alternativa de resistência em uma cidade excludente sob a ótica de gênero.

Palavras-chave: Gênero, Ambiências, Espaço Urbano, Corpo, Metodologia



1 Introdução: experiência e contexto

O exercício da cidadania está historicamente vinculado ao uso e apropriação coletiva de espaços públicos. A Ágora grega é um marco importante no pensamento ocidental, no qual o discurso e a prática urbana se fundem e são transformados simultaneamente em um ato político e social. Essa prática claramente exigia um corpo político específico que, no entanto, excluía parte da população, como apontam vários registros históricos (ARISTOTELES, 1998; LORAUX, 1989; FERRAZ JÚNIOR, 1993).

Atualmente, essa exclusão ainda ocorre. O filósofo e sociólogo urbano Henri Lefebvre ([1968] 2001) questionou e conceituou vigorosamente a questão em "O direito à cidade": quem tem o direito? Como podemos criar espaços democráticos e não-exclusivos através da arquitetura e do urbanismo? Os espaços públicos só podem ser contemplados como tal ao incluir a diversidade. Diferentes corpos, diferentes necessidades, diferentes contextos. A política, pode-se argumentar, é basicamente sobre a luta dos excluídos pela inclusão nas considerações, deliberações e confrontos dos espaços públicos. Trata-se de reorganizar nossas percepções, coincidindo ao que interessa à arte.

Nesse sentido, a arte é como política e vice-versa, se entendermos a arte como aquela que vai além de criações feitas exclusivamente por artistas formalmente reconhecidos (RANCIÈRE, 2015). Acreditamos que isso pode ser aplicado às resistências das performances de poesia das mulheres no espaço público urbano: Slam das Minas é política e arte urbanas ao mesmo tempo.

Ao propor analisar a cidade e o direito à cidade pela perspectiva de gênero e do corpo, este artigo simultaneamente entende a cidade como um conjunto de diversas ambiências (ou atmosferas). Essas ambiências são experimentadas no espaço através da combinação de fatores subjetivos e objetivos que se afetam e mudam concomitantemente. Portanto, as ambiências que afetam e são afetadas reciprocamente têm poderes de transformação do espaço.

Desse ponto de vista, para melhor compreender o escopo da cidade, podemos dizer que não é apenas composto pelo ambiente material em que se vive, mas também pelo “efeito moral que esse meio físico induz no comportamento dos indivíduos" (BESTETTI, 2014, p. 602). Da mesma forma, o impacto contextual e afetivo do ambiente no corpo deve ser enfatizado:

O ambiente onde estamos inseridos, seja ele construído ou não, emite estímulos que podem nos agradar ou desagradar, gerando sensação de desconforto se houver grande disparidade com os limites do nosso corpo. Além disso, a bagagem cultural do indivíduo determinará o que lhe é agradável ou não, pois as escolhas dependem da história de cada um. (BESTETTI, 2014, p. 602)

Assim, as ambiências são produzidas por meio de experiências, afetividades e sensações em cada ambiente (SANTANA, 2010). Podemos ter ambiências que afetam um indivíduo (ou um grupo de pessoas) positiva ou negativamente, enquanto ambiências também podem ser afetadas por um indivíduo (ou um grupo) em um cenário mútuo. No panorama desse campo de conhecimento, esta pesquisa expande e atualiza os conceitos de ambiência sensível e empatia espacial, de acordo com os conceitos criados pelo Laboratório de Pesquisa em Arquitetura, Subjetividade e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASC), que destaca a contribuição de pesquisas e metodologias para o desenvolvimento de ações práticas que atendem às complexas demandas urbanas contemporâneas. Busca, portanto, contribuir com ideias e soluções mais humanas, criativas e justas para os problemas e dificuldades inerentes à coexistência de diferenças e, além disso, para redução de desigualdades.

Diante desse cenário, contamos com teorias de afeto ao considerar relações de afetividade mútua e simultânea (positiva ou negativa): afetando e sendo afetada, impondo condições e sendo condicionada (ANDERSON, ASH, 2015). Elementos ativos e passivos estão em constante troca:

Eu compreendo o mundo porque estou situado nele e ele me envolve. Compreendo o meu corpo no instante em que experimento o corpo do Outro. A expressão do próprio corpo é, em última análise, o encontro e a comunicação de um correlato significativo dado no corpo do Outro. (FALABRETTI, 2010, p. 528)

O processo do corpo que transforma o espaço (posição ativa) e o corpo simultaneamente transformado por ele (posição passiva) é o objeto da presente análise. O corpo e as ambiências nos espaços públicos podem impor condições e ser condicionados ao mesmo tempo. Embora a maioria das pesquisas sobre ambiências e atmosferas se preocupe com a forma como elas nos afetam, por exemplo, em centros comerciais, que focam na percepção e onde as pessoas são passivamente afetadas pela atmosfera, esta pesquisa está interessada em como a expressão ativa da atmosfera das pessoas afeta e transforma essas atmosferas/ambiências (BILLE, SIMONSEN, 2019).

A unidade de análise de nossa pesquisa é o corpo, pois é o elo comum entre gênero e cidade, que afeta e se deixa afetar diretamente em uma dinâmica relacional constante e perpetuada culturalmente. É esse constante desafio da 'ação de resistência' na relação corpo-espaço que, nesta pesquisa, define os corpos das mulheres na cidade contemporânea. Aqui, o termo 'Corpos de Mulher' refere-se a qualquer corpo que se identifique como mulher, que socialize ou tenha sido socializado como tal, seja cis, trans ou não-binário. Ou seja, aqueles que são tratados como tais corpos com qualquer identificação ou expressão de gênero que permeie o conceito de mulher e as opressões históricas-espaciais que o acompanham.

Ao propor que o corpo tem o poder de re-significar ambiências, saber identificar esse corpo de resistência e entender seus movimentos transcende o papel do urbanista. Portanto, foram buscadas metodologias fora desse campo. Além disso, dadas as possibilidades transdisciplinares propostas e os desafios metodológicos, é necessário suporte tecnológico para contemplar com sucesso a cidade contemporânea e sua complexidade. Portanto, para entender os padrões do corpo por meio de sua Corpografia de Resistência, foram aplicadas análises biomecânicas usando ferramentas computadorizadas de outras áreas disciplinares para fornecer dados e perceber parâmetros de desempenho técnico. Assim, esta pesquisa apresenta uma nova metodologia para ilustrar como essa análise pode ser aplicada à linguagem corporal e como pode ser um complemento às narrativas etnográficas de ambiências.

2 Resistência, linguagem corporal

Em adição à lógica apresentada acima, é necessário, no entanto, destacar uma perspectiva interseccional, indispensável ao tratar os corpos das mulheres no espaço público. No caso brasileiro, como em muitos outros casos, gênero, classe e raça são inseparáveis ​​e associados a outras articulações incorporadas nesse conceito, não apenas em termos de diversidade, mas também de complexidade. A interseccionalidade vai além da soma de diferentes formas de opressão. É entender como essas opressões afetam umas às outras e estão estruturalmente conectadas (SALEM, 2018).

As categorias de gênero, classe e raça transitam e se organizam de maneira interseccional em cada contexto, refletindo assim relações de poder, opressão e resistência. A interseccionalidade diz respeito não apenas à diversidade, mas acima de tudo ao contexto. Partindo da lógica da interseccionalidade como personificação de opressões relacionadas ao gênero, classe, raça (entre outros) e suas expressões no território, percebemos que os corpos das mulheres criam atmosferas públicas de resistência, ressignificando o espaço. As questões de gênero não cessam e não cessarão na esfera privada; a maneira como a sociedade pensa e lida com diferentes gêneros afeta a vida pública, o ambiente urbano e sua política (SCOTT, 1995).

Em muitos casos, o desempenho corporal não se limita à livre escolha, mas é uma consequência das subjetividades incorporadas nas experiências urbanas. Visto na perspectiva interseccional da opressão de gênero, existe uma atmosfera/ambiência recorrente de 'medo' ('atmos-fear'!), que é imposta ora mais imponentemente, ora menos, e é resultado de opressões diárias históricas e violência reiterada pela 'indústria do medo' (MOREIRA, 2003).

No entanto, em oposição à "atmosfera de medo", também existe a potente "atmosfera de resistência", que ocorre por meio de atos diários, estratégias de circulação, políticas e ocupação. Nesse cenário, a arte desempenha um papel fundamental nas críticas e dissensões, assim como manifestações e protestos confrontam a realidade através de corpos políticos. Portanto, com o objetivo de reconhecer e entender o desempenho corporal das mulheres como uma forma de re-significar as atmosferas urbanas, desenvolvemos uma nova abordagem conceitual e metodológica para ilustrar melhor a relação corpo-espaço: Corpografia de Resistência. Aqui, o termo Corpografia refere-se às coreografias expressivas dos corpos no contexto urbano, que definimos como um corpo cinético e gráfico (cine-gráfico) que responde mudando e re-significando sua atmosfera envolvente.

Pesquisadoras da Universidade Federal da Bahia, Fabiana Dultra Brito e Paola Berenstein Jacques, desenvolveram o conceito de 'corpografia' associado às microrresistências do processo de espetacularização das cidades contemporâneas, sendo resultado deste: “Uma corpografia urbana é um tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, ou seja, a memória urbana inscrita no corpo, o registro de sua experiência da cidade, uma espécie de grafia urbana, da própria cidade vivida, que fica inscrita mas também configura o corpo de quem a experimenta” (JACQUES, 2008, on-line). Nesse caso, é como se a cidade ganhasse corpo, incorporando as relações ativas e passivas entre sujeito e meio ambiente.

Nesse contexto, este artigo enfocará o Slam das Minas como um estudo de caso potente e representativo da 'Resistência-Corpográfica', examinado de acordo com o método cinemático-gráfico desenvolvido na Escola de Arquitetura de Aarhus (Arkitektskolen Aarhus), na Dinamarca, de setembro de 2019 a fevereiro de 2020, durante a fase de doutorado.

A Poesia de Slam (Slam Poetry) é um movimento crescente, organizado e realizado por mulheres (cis, trans e não-binárias) em espaços públicos urbanos de muitas cidades do Brasil, mudando as ambiências locais pela performance desses corpos resistentes. O Slam das Minas é mais do que a resistência dos corpos todos os dias, mas também é uma maneira alternativa de usar espaços públicos, circulação e apropriação. Também deve ser entendido como uma maneira corporal de recuperar o Direito à Cidade ao desafiá-lo pela arte (como política) e pela voz dos excluídos, que podem ser compreendidos como princípios elementares para repensar o planejamento urbano com base nas reais demandas de inclusão e equidade (RANCIÈRE, 2015).

Para entender o impacto das performances corporais e sua transformação das ambiências locais, precisamos sintetizar as observações do movimento. Estudos anteriores de Rudolf Laban (1956) e suas difusões teóricas com Angel e Klauss Vianna (VIANNA, CARVALHO, 2005), no Brasil, e Patricia Stokoe (STOKOE, SCHÄCHTER, 1977), na Argentina, nas décadas de 1960 e 1950, descreveram o desempenho corporal através da dança, usando documentações e símbolos observacionais para mapear movimentos e expressões corporais. No entanto, do ponto de vista de nossa abordagem expressiva de ambiência/atmosfera para o corpo, é importante ficar ainda mais próximo do fluxo contínuo de movimentos e gestos corporais do que esses sistemas de notação parecem permitir. Aqui, a cinemática pode ser útil. Portanto, decidimos aplicar essa abordagem, pois, de acordo com o nosso conhecimento, ainda há uma aplicação dessa abordagem direta à análise de corpos ou movimentos e seu impacto na ambiência e planejamento urbano.

Para descrever o movimento de pontos, objetos e corpos, sem referência às causas do movimento, o ramo da física clássica conhecido como cinemática tem sido amplamente utilizado em todos os tipos de ciências (MACAGNO, 1991). A compreensão do movimento humano através da cinemática tem sido consistentemente envolvida em abordagens multidisciplinares que abrangem muitas disciplinas científicas: biomecânica, anatomia funcional, fisiologia, neurociência, entre outras. Além disso, o desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas à análise de movimento humano contribuiu para o avanço da indústria cinematográfica, especialmente com animações.

Usando uma abordagem transdisciplinar, derivada da biomecânica e das ciências sociais aplicadas, é possível capturar os padrões de movimento dos corpos em qualquer contexto, seja um corpo único ou uma interação complexa entre os corpos, o que pode mudar a ambiência local. Para realizar análises cinemáticas simples, observar, medir e comparar movimentos usando análise de vídeo bidimensional (2D), usamos o software Kinovea (https://www.kinovea.org/), explicado mais abaixo. Este software é simples de usar e analisa o corpo sem sensores ou marcadores físicos.

A imagem resumida do vídeo criado pelo software gera uma imagem composta na qual o movimento geral do corpo pode ser descrito. Os dados podem ser extraídos e analisados ​​de acordo com as necessidades de cada campo científico específico. Mais precisamente, considerando o escopo do presente estudo, que destaca a importância de ilustrar a relação corpo-espaço, o software de análise de movimento cinemático pode ser usado para quantificar e gerar um padrão de desempenho corporal para subsidiar uma descrição da Resistência-Corpográfica.

3Métodos

Para exemplificar essa metodologia transdisciplinar e sua aplicabilidade, vários parâmetros foram estabelecidos para lidar com as demandas e limitações do estudo. Um estudo piloto com o Slam Dinamarquês (2019), realizado pelos estudantes de doutorado desta pesquisa enquanto residiam na Dinamarca, foi crucial para definir a viabilidade metodológica do estudo de um evento público, juntamente com possíveis parâmetros e resultados cinemáticos analíticos. O Slam dinamarquês tem as mesmas regras gerais que o Slam brasileiro, que poderia ser a base para a comparação entre países, embora não fosse essa a intenção. O caso dinamarquês foi usado apenas para testar a metodologia e esboçar os parâmetros do software Kinovea.

O evento aconteceu em 21 de novembro de 2019, em um bar na Aarhus University Student House. Como o evento ocorreu em local fechado, devido ao clima, e falado em dinamarquês, o foco fora exclusivamente nos corpos em movimento e nas performances. Para manter a imparcialidade, todas as filmagens e outros registros foram feitos da perspectiva da audiência geral, com telefones celulares. Embora o ideal fosse uma vista frontal-lateral do corpo, devido à disposição do público no evento, apenas a vista frontal fora possível. Nesta lógica, o corpo tem dois eixos, o X e o Y, iniciando (marca 0, 0 do gráfico) no ponto inicial da marcação realizada (punhos, neste caso). O eixo X corresponde ao movimento horizontal (direita/esquerda) e o eixo Y corresponde ao movimento vertical (para cima/para baixo).

Fig. 1: A, localização dos marcadores dos punhos (indicados pela seta branca). B, trajetória dos punhos durante a performance. Fonte: Mariana Valicente, 2019.

Com base nisso, conseguimos definir o primeiro protocolo de aplicação, ou seja: possíveis planos espaciais; estrutura corporal a ser rastreada; informações como distância, velocidade e figura geométrica. No final da localização dos marcadores dos punhos (veja a figura 1-A) ao longo do vídeo, a Corpografia de Resistência é feita registrando a trajetória dos marcadores no espaço (veja a figura 1-B), além de fornecer tempo e dados de distância nos eixos X e Y, resultando em uma planilha a ser interpretada.

Após essa primeira abordagem, foi aplicada uma aplicação mais precisa e estruturada desse teste metodológico para o caso brasileiro. Para padronizar a qualidade da imagem, som e acessibilidade do vídeo original em plataformas virtuais, selecionamos um vídeo público do Youtube com a qualidade exigida para o mapeamento de vídeo e metodologia de software.

O vídeo registra a performance da slammer Mel Duarte, membro do Slam das Minas, durante o evento FLIP (Festival Literário Internacional de Paraty de 2016). O vídeo tem 5 minutos e 6 segundos de duração e foi escolhido devido à sua qualidade de imagem, contraste suficiente para localizar os marcadores no corpo durante a apresentação e a localização frontal da câmera. Após a escolha de um vídeo que corresponda aos critérios básicos de viabilidade do software e da pesquisa, o vídeo foi baixado do Youtube (FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty, 2016) e o método estabelecido foi aplicado.

4 Proposta metodológica transdisciplinar

Essa nova abordagem metodológica é uma proposta transdisciplinar que visa identificar e descrever a Resistência-Corpográfica nos espaços urbanos, como já mencionado. A relação corpo-espaço nos espaços urbanos é um objeto de estudo principalmente relacionado aos campos do urbanismo e da arquitetura, e o impacto do corpo nos espaços públicos também foi investigado por observações subjetivas. Esta metodologia proposta teve como objetivo subsidiar a descrição quantitativa da Resistência-Corpográfica através do emprego de um software de análise de movimento cinemático, mais comumente empregado nas áreas de esportes e reabilitação. Portanto, a intersecção proposta entre as observações qualitativas e quantitativas produz uma tentativa transdisciplinar de novas formas de abordar a cidade contemporânea e sua complexidade através do corpo.

Nossa proposta é, então, analisar vídeos filmados durante performances do Slam, com foco no gênero, em espaços públicos abertos e quantificar parâmetros relacionados ao movimento do corpo, como distâncias percorridas, velocidade do movimento e figura geométrica resultante do movimento do punho (ou pulso). Ao analisar corpos em movimento nas competições de poesia do Slam, especialmente no 'Slam das Minas', pode-se observar o protagonismo do movimento dos membros superiores, principalmente os braços (parte mais visível do corpo quando alguém está de pé). Apesar dos vários movimentos, incluindo inclinar, levantar e andar em direções diferentes, o braço é um elemento geralmente sincronizado com a fala e o olhar da artista, e também com a imposição do corpo no espaço. O braço, juntamente com a voz, é um elemento essencial da linguagem na performance de poesia de Slam.

Delinear o movimento corporal é especialmente importante para metodologias de arquitetura e urbanismo que visam analisar maneiras de explorar e avaliar espaços públicos, preocupadas com a forma como as pessoas e os espaços se organizam quando atraídos pelo gesto singular de alguém. Entendemos que isso é muito comum em quase todas as cidades pequenas e grandes. Acreditamos que o foco neste movimento gestual é, em primeiro lugar, de suma importância e uma contribuição crucial para essa metodologia de pesquisa científica. Em segundo lugar, outra contribuição está relacionada à possibilidade de aplicar uma ferramenta não invasiva para interpretar a multidão ou indivíduos, pois não há necessidade de se aproximar demais ou interferir no desempenho, pois o mapeamento é feito por meio de gravações de vídeo. Diante dessas considerações, acreditamos que as possibilidades aqui apresentadas são enormes para muitas outras ciências, como antropologia, sociologia, educação física, ciências biológicas e fisioterapia, mas principalmente para arquitetura e urbanismo. Ainda considerando o contexto desafiador do isolamento social, devido à pandemia do novo coronavírus, essa abordagem permite rastrear os movimentos corporais à distância, viabilizando diversos desdobramentos de pesquisa.

Embora os braços sejam geralmente marcadores para a identificação da corpografia de resistência, justificamos o uso de punhos como marcadores, dado que os punhos cerrados são comumente usados ​​como símbolo em vários movimentos de resistência, inclusive na luta feminista e anti-racista: "Punhos levantados e cerrados são símbolos comumente associados à resistência. Assim, nas marchas dos trabalhadores, os slogans são falados com um punho cerrado e movidos para cima no ritmo do que é dito. O movimento Black Power também adotou um punho cerrado e erguido como seu símbolo" (CAMARGO, 2011, p. 165).

Para realizar a análise do movimento do punho, utilizamos o software Kinovea (versão 0.8.15). O Kinovea é um software de código aberto gratuito sob a licença GPL v2 e pode ser baixado no site do projeto Kinovea (https://www.kinovea.org/). O código fonte do Kinovea é versionado usando o git e hospedado no github. A versão 0.8.15 permite executar todas as funções fornecidas pelo software.

Em primeiro lugar, após o download do vídeo no software, uma medida de referência de distância deve ser fornecida para calibrar o software e a análise. Neste estudo de caso, decidimos usar o tamanho do microfone (o tamanho usual da maioria dos microfones sem fio é de aproximadamente 20 a 25 centímetros). O tamanho de 21 cm foi utilizado como referência. Embora uma referência deva ser adicionada ao software para quantificar distâncias e velocidades, a intenção da análise não é fornecer seus valores absolutos, mas mostrar a aplicabilidade do software. O mesmo vale para a análise de figuras geométricas e seu respectivo cálculo de área. Para análises futuras, é importante destacar a importância dos valores de referência. Antes de gravar vídeos futuros para análise posterior, são necessários valores de referência em centímetros de qualquer objeto para calibrar o software.

Em segundo lugar, um marcador foi colocado no punho como uma opção de configuração e sua trajetória foi seguida ao longo do vídeo. Terceiro, o vídeo foi analisado quadro a quadro, para movimentos mais lentos, na velocidade aproximada de 20-40% da velocidade normal do vídeo e, para movimentos mais rápidos, 5-10% da velocidade. Acelerar ou desacelerar o vídeo é importante para que o marcador de punho e sua trajetória não sejam perdidos.

Concluída a análise da trajetória dos punhos, o tempo e as trajetórias nos dados dos eixos Y e X (em centímetros) foram exportados para uma planilha do Excel. A seguir, foi construída uma representação gráfica para identificar a figura geométrica. Para identificar os eventos de pico nos parâmetros de distância e velocidade, selecionamos o ponto no tempo em que a maior distância e velocidade ocorreu nos eixos Y e X. Para mostrar a figura geométrica desenhada pela trajetória do punho, uma borda de linha foi inserida em torno dos eventos que mais ocorreram nos eixos Y e X. A Figura 2 mostra o passo a passo do processo de configuração do software e a análise de vídeo.

Fig. 2: Passo a passo do processo de configuração para analisar o vídeo. Fonte: imagem do YouTube editada pelos autores com KINOVEA Software, 2020. Reproduzida com a permissão de Mel Duarte e FLIP - Feira Literária de Paraty.

Após inserir o vídeo na área de trabalho do software Kinovea, o primeiro passo (1) foi calibrar as medidas usando um tamanho de segmento conhecido (como mencionado acima, o tamanho do microfone – 21 centímetros – foi usado nessa análise). O segundo passo (2) foi identificar o punho e configurar o marcador, escolhendo a opção de “seguir a trajetória” – a seta amarela indica o marcador. No final do vídeo, depois que a trajetória do marcador é identificada, os valores de tempo e as distâncias percorridas nos eixos Y e X são exportados para uma planilha do Excel.

5 Resultados e discussão

De acordo com a Figura 3, podemos observar a figura geométrica como resultado da trajetória do punho direito durante a performance.

Fig. 3: Trajetória do punho nos eixos Y e X durante a performance. A linha tracejada azul representa a figura geométrica resultante para o movimento do punho direito. Fonte: Autores, 2020.

Além desse resultado gráfico, a Tabela 1 apresenta a distância total percorrida em metros durante 4:27:50 (minutos: segundos: milissegundos) da performance de poesia. Conforme apresentado, a distância total percorrida na direção vertical (eixo Y) foi aproximadamente 2 vezes maior que a distância percorrida na direção horizontal. No entanto, a distância percorrida é bastante longa nas duas direções, representando a expansão do corpo. A distância total percorrida foi utilizada para identificar a expansão do corpo em diferentes situações e ambientes. Os demais parâmetros relativos à distância também seguiram o mesmo padrão, onde os movimentos verticais foram mais explorados pela artista. Em relação à velocidade de movimento, também foram identificadas velocidades mais altas na direção vertical. Neste relato de caso específico, sugerimos que o padrão de movimento ascendente e descendente se refere à afirmação desse corpo durante a performance, enquanto ele se impõe no espaço. Juntamente com a análise de fala (linguagem), seria possível encontrar padrões para movimentos com velocidades mais altas indo em direções específicas. Trajetórias mais longas e velocidades mais altas podem representar partes importantes e impactantes do discurso. Se os parâmetros cinemáticos do corpo com a fala forem combinados, a Corpografia de Resistência poderá ser analisada de um ponto de vista quantitativo e qualitativo.

Fig. 4: Distâncias (Pico e Média); Amplitude; Velocidade (Pico e Média) durante o desempenho. Fonte: Autores, 2020.

Surge então a questão: é possível identificar um padrão de Corpografia de Resistência neste caso? Uma resposta a esta pergunta não pode ser fornecida apenas através do reconhecimento de padrões de movimento, devem ser interpretados do ponto de vista dos corpos como um agente ativo que transforma atmosferas. O corpo, nesse sentido, forma um desenho impressionante, uma imagem no espaço, e realiza uma corpografia que, quando associada aos conceitos de atmosfera e resistência, dá origem a uma corpografia de resistência, algo poderoso que afeta e é afetado por outros corpos. Nesse sentido, esse exemplo, em um ambiente público, incorporado às opressões diárias, com seu contexto político e artístico, mostra o corpo afetando e criando uma nova ambiência, mesmo que de forma efêmera.

A questão da segurança devido às proxêmicas é outro ponto de discussão. Um corpo que produz mais reverberações cria um espaço diferente próximo a ele, como pode ser visto na Figura 4, e pode acabar construindo uma 'linguagem espacial' que informa a quantidade de espaço que deve ser respeitada. Ele estende a zona de 'contato' (indesejado), ecoando as palavras do filósofo e teólogo dinamarquês K. E. Løgstrup (1997).

Fig. 5: Corpo cine-gráfico produzindo 'linguagem espacial'. Fonte: imagem do YouTube editada pelos autores com o software KINOVEA, 2020. Reproduzida com a permissão de Mel Duarte e FLIP Feira Literária de Paraty.

Por outro lado, qual é a importância e a relevância de uma análise cine-gráfica detalhada dos movimentos corpográficos para a interpretação dos poderes dos corpos (de mulheres, neste caso) como transformadores de ambiências/atmosferas no espaço público urbano? Acreditamos que essa abordagem lança luz não apenas sobre o que significa movimento corporal, mas como este produz significado e transforma as atmosferas urbanas. Quando associados à palavra e poesia, que pode ser seguida em detalhes através do vídeo, os gestos corporais (linguagem corporal) e os gestos na linguagem (linguagem poética) se apoiam e se intensificam (ALBERTSEN, 2012) e, portanto, também se intensificam os poderes expressivos para a transformação atmosférica.

Nossa proposta de 'subsídio quantitativo para análise qualitativa' é, antes de tudo, uma tentativa de contribuir para a discussão metodológica nas ciências sociais aplicadas e enfatizar o papel do corpo em uma perspectiva urbana. A intenção não é generalizar ou universalizar os padrões de movimento, mas iniciar uma nova maneira de discutir a diversidade como um elemento central ao intervir em espaços públicos urbanos e na cidade, a fim de progredir e alcançar o direito democrático à cidade.

É importante ressaltar o caráter piloto deste estudo. É baseado em uma tecnologia já existente para análise de movimento no esporte (ADNAN et al., 2018), usando um vídeo pré-gravado do Youtube (Disponível em: hhttps://www.youtube.com/watch?v=_S_RYKZqcG4&t = 195s;. Acesso em: 1 mar. 2020), com o objetivo de explicar e ilustrar o potencial dessa abordagem transdisciplinar. Para que essa metodologia seja útil no futuro, existem muitos desafios e diferentes maneiras de avançar, como capturar e investigar vídeos em e a partir de uma realidade de palavras cotidianas e como analisar movimentos corporais em interação com o ambiente. Novas tecnologias, como drones, podem ser usadas nesse sentido? Como podemos cruzar dados de movimento de referência com as palavras faladas? Além dessas e de outras questões e dificuldades, as vantagens dessa abordagem são o uso de um software de análise de movimento 2D gratuito, que é uma ferramenta facilmente acessível e empregável, elegível para muitas aplicações metodológicas.

6Conclusões

Este artigo teve como objetivo reunir pesquisas do ponto de vista teórico de forma empírica. A intenção aqui não é descobrir um padrão ou generalizar o comportamento, uma vez que lida com um recorte delimitado, ciente de seu contexto e escala. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, justificada e apoiada em dados quantitativos, que não aspira a nenhuma afirmação universal, o que implicaria uma perspectiva reducionista no contexto urbano.

Também não é nossa intenção, por meio deste método, atestar qualquer ponto de vista específico ou binário relacionado aos conceitos de “gênero feminino”. Poderia ser usado com qualquer pessoa, em qualquer lugar, e com um foco diferente, usando o desempenho corporal como uma unidade de análise, precisamente para escapar das conceituações universais dos corpos urbanos. Mas alguns pontos são obviamente 'status quo' em nosso contexto: o método pode ser aplicado a uma única pessoa ou mais de uma pessoa quando conectado ao conceito de ambiente – dessa forma, no presente estudo, a noção de ambiente de resistência foi adotada sob o recorte de gênero, seguido pelo que chamamos de corpografia de resistência (1); o corpo deve ser visualizado em todo o seu conteúdo (2); se a pessoa avaliada não produz nenhum movimento corporal, seria útil avaliar os movimentos corporais de outras pessoas para verificar os efeitos desse silêncio corporal (3). Assim, com a metodologia proposta, podemos analisar corpo/espaço no sentido de existência, ausência, mudança, troca, entre outros.

Destacamos a necessidade de combinar diferentes métodos disciplinares de análise, de organizar informações sem criar um escopo rígido para um assunto fluido e efêmero por natureza. As proposições metodológicas apresentadas aqui têm como objetivo testar, materializar e ilustrar a hipótese inicial. A pesquisa qualitativa de objetos subjetivos, em essência, não pode ser generalizada.

Portanto, aqui apresentamos resultados e ferramentas aliados à metodologia que nos forneceu uma delimitação de nosso foco e nos ajudaram a expandir o contexto selecionado para análise. Construímos nossa pesquisa através dos caminhos escolhidos ao lidar com as questões que surgem no seu processo analítico e reflexivo. A mesma pesquisa deve passar por avaliações, críticas, modificações, complementos e desenvolvimentos. Dado que o espaço também é construído através do movimento, esta pesquisa tem como objetivo contribuir para esse campo de estudo, explorando o terreno metodológico que deve estar em constante construção e modificação para que possa evoluir junto à sociedade.

A proposta metodológica aqui apresentada visa incentivar discussões sobre a relação corpo/espaço, tornando os corpos urbanos a unidade de análise desse espaço. Ao permitir adaptações a muitas análises possíveis do corpo como elemento com o poder de promover mudanças de ambiência, mesmo que efêmeras, o método pode ser aplicado a várias escalas e tópicos de pesquisa, promovendo outras maneiras de entender a conformação do espaço pelos corpos que o experimentam. Acrescentar narrativas ao espaço é reconhecer sua complexidade e desigualdade territorializada, que é um ponto de partida para sua ressignificação. Entender o espaço em seus mais diversos significados faz o urbanismo insurgente caminhar em direção à plena experiência do direito à cidade.

Agradecimentos

Este estudo foi financiado em parte pela “Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil” - CAPES, Código Financeiro 001 / CAPES PRINT. Agradecemos, portanto, à CAPES, ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura - PROARQ da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), à Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB) e à Arkitektskolen Aarhus (Dinamarca), que sediou este estudo.

Referencias

ADNAN, N.; PATAR, M.; LEE, H.; YAMAMOTO, S.; JONG-YOUNG, L.; MAHMUD, J. Biomechanical analysis using Kinovea for sports application. IOP Conference Series: Materials Science and Engineering, v. 342, p. 1-9, 2018.

ALBERTSEN, N. Gesturing Atmospheres. Ambiances in action / Ambiances en acte(s) - International Congress on Ambiances, Montreal, Canada, 2012.

ANDERSON, B.; ASH, J. Atmospheric Methods. In: Vannini, P. (Ed.). Non-Representational Methodologies: Re-Envisioning Research. London, UK: Routledge Publishing, 2015. p. 34-51.

ARISTÓTELES. A Política. Tradução: Roberto Leal Ferreira. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

BESTETTI, M. L. T. Ambiência: espaço físico e comportamento. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 17, p. 601–610, 2014.

BILLE, M.; SIMONSEN, K. Atmospheric Practices: On Affecting and Being Affected. Space and Culture, 2019. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1206331218819711. Acesso em: 24 maio 2020.

CAMARGO, M. A. “Manifeste-se, faça um zine!”: uma etnografia sobre “zines de papel” feministas produzidos por minas do rock (São Paulo, 1996-2007). Cadernos Pagu, p. 155–186, 2011.

FALABRETTI, E. S. A presença do Outro: inter-subjetividade no pensamento de Descartes e de Merleau-Ponty. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v. 22, n. 31, p. 515-541, jul/dez. 2010.

FERRAZ JÚNIOR, T. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão e dominação. São Paulo: Atlas, 1993.

FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty, 2016. Flip 2016 - Mel Duarte no Sarau.. [video] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_S_RYKZqcG4&t=194s. Acesso em: 24 maio 2020.

JACQUES, P. B. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, 08., n. 093.07, Vitruvius, fev. 2008. Disponível em: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/165. Acesso em: 24 maio 2020.

LABAN, R. Laban’s Principles of Dance and Movement Notation, Lange R. (Ed.). London: MacDonald and Evans, 1956.

LEFEBVRE, H. O direito à cidade. Tradução: Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2001.

LORAUX, N. Les Expériences de Tirésias. Le féminin et I'Homme grec. Paris: Gallimard, 1989.

LØGSTRUP, K. System og symbol. Essays. Copenhagen, Denmark: Gyldendal, 1997.

MACAGNO, E. History of kinematics: inception of modern kinematics. Iowa City: Iowa Institute of Hydraulic Research, the University of Iowa, 1991.

MOREIRA, C. A indústria do medo e a vida na cidade. Arquitextos, São Paulo, 03., n. 035.01, Vitruvius, abr. 2003. Disponível em: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.035/692. Acesso em: 24 maio 2020.

SANTANA, E. P. Cidades entre: dimensões do sensível em arquitetura ou a memória do futuro na construção de uma cidade. Tese (Doutorado em Ciências da Arquitetura). Programa de Pós-graduação em Arquitetura - PROARQ da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

RANCIÈRE, J. The Politics of Art. An interview with Jacques Rancière. Versobooks.com: [online], 2015. Disponível em: https://www.versobooks.com/blogs/2320-the-politics-of-art-an-interview-with-jacques-ranciere6. Acesso em: 24 maio 2020.

SALEM, S. Intersectionality and its discontents: Intersectionality as traveling theory. European Journal of Women's Studies, v. 25, n.4, p. 403-418, 2018.

SCOTT, J. W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.

STOKOE, P.; SCHÄCHTER, A. La Expresión Corporal. Buenos Aires: Paidós, 1977.

VIANNA, K.; CARVALHO, M. A Dança. São Paulo: Summus, 2005

Kinematic-graphic body: a transdisciplinary method proposal for embodied cities

Mariana Valicente, Ethel Pinheiro, Cintia Ramari e Niels Albertsen

Mariana Valicente is an architect and urbanist, has a Master's degree in Architecture, and is a researcher at the Postgraduate Program in Architecture and Urbanism of the Federal University of Rio de Janeiro, Brazil. She collaborates with the LASC research laboratory and works as a researcher and heritage educator at SESC Pompeia Cultural Center, in Sao Paulo. She studies gender, urban appropriations, educational territories, free space system, modes of production of contemporary space, and the right to the city. mvalicente@gmail.com

Cintia Ramari is a Bachelor in Physical Education and holds a Master's degree in Movement Biodynamics and Sports. She is a researcher at the National University of Brasilia, Brazil, where she carries out research on biomechanics of walking impairment in neurological diseases. cintiaramarif@gmail.com

Ethel Pinheiro is an architect and urbanist and Doctor in Architecture. She is a Professor at the Faculty of Architecture and Urbanism at the Federal University of Rio de Janeiro, Brazil, where she coordinates the Postgraduate Program in Architecture and Urbanism, and is the Editor-in-Chief of its scientific journal CADERNOS PROARQ. She conducts research on ​​architectural representation with an emphasis on urban space planning and design, technical and observation drawing, and urban anthropology. ethel@fau.ufrj.br

Niels Albertsen is a Master of Political Sciences and Professor Emeritus at the Aarhus School of Architecture, Denmark. He has been dedicated to teaching and research since 1975, evolving at an intersection between urban and social theory, theories of architecture and design, the sociology of the architectural profession, and the sociology and philosophy of art. na@aarch.dk

,

How to quote this text: Valicente, M., Ramari, C., Pinheiro, E., Albertsen, N., 2020. Kinematic-graphic body: a transdisciplinary method proposal for embodied cities. V!rus, Sao Carlos, 20. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus20/?sec=4&item=9&lang=en>. [Accessed: 19 April 2024].


Abstract

This paper aims to present methodological strategies to a qualitative analysis supported by the interpretation of quantitative data in public urban spaces, as ‘Corpography’ has done. Including new narratives for urban planning and public policies that take into account perspectives that consider not only physical spaces but also the subjective ambiances and performances stimulated by the relationship of the body with public environments is a challenge for the Applied Social Sciences and especially urban ethnographic research. In an effort to evade the limitations caused by a technocratic approach or reductionist analyses of gender in urban spaces and steering towards an approach that considers the social-political body as a unit of analysis, the intention hereby proposed is to raise questions, issues, and possibilities inherent to a research of this nature. Therefore, this paper aims to shed light on theoretical and practical challenges in this kind of research and highlights possible methodological paths to follow in order to fill in those gaps and build a reliable, serious, deep, and complex analysis of gender and public spaces under the perspective of women’s corpographies: the choreography of political bodies active in urban spaces as an alternative of resisting in a gender-excluded city.

Keywords: Gender, Ambiances, Urban space, Body, Methodology



1 Introduction: background and context

The exercise of citizenship is historically linked to the collective use and appropriation of public spaces. The Greek Agora is an important landmark in Western thought, in which discourse and urban practice merge and are transformed simultaneously into a political and social acts. This practice clearly required a specific political body but at the same time excluded part of the population, as several historical records point out (Aristoteles, 1998; Loraux, 1989; Ferraz Júnior, 1993).

Nowadays, this exclusion also takes place. Urban philosopher and sociologist Henri Lefebvre (1968) forcefully questioned and conceptualized this issue in “The Right to the City”: Who has the right? How can we create democratic and non-exclusive spaces though architecture and urbanism? Public spaces can only be contemplated as such by including diversity. Different bodies, different needs, different contexts. Politics, it can be argued, is basically about the struggle of excluded people for their inclusion in the considerations, deliberations and confrontations of public spaces. In the same manner as the arts, it is about the rearrangement of our perceptions.

In this sense, art is like politics and vice-versa, if we understand art as something that goes beyond creations exclusively made by formally recognized artists (Rancière, 2015). This, we believe, can be applied to the resistance of women’s performances of poetry in urban public space: Slam das Minas is urban politics and art at the same time.

While proposing to analyze the city and the right to the city through the perspective of gender and the body in the city, this paper simultaneously understands the city as a set of diverse ambiances (or atmospheres). These ambiances are experienced in space through the combination of subjective and objective factors that concomitantly affect and change one another. Therefore, ambiances reciprocally affecting and being affected have powers of space transformation.

From this viewpoint, in order to better understand the scope of the city, we can say that it is not only composed of the material environment in which one lives but also of the “moral effect that this physical environment induces on the behavior of individuals" (Bestetti, 2014, p. 602, our translation). Similarly, the contextual and affective impact of the ambiance on the body should be emphasized:

The environment in which we situated, whether built or not, emits stimuli that may please or displease us, creating a feeling of discomfort if there is a great disparity with the limits of our body. Moreover, the cultural background of the individual will determine what is pleasing or unpleasant, as the choices depend on one's history (Bestetti, 2014, p. 602, our translation).

Thus, ambiances are produced through experiences, affectivities and sensations in each environment (Pinheiro, 2010). We may have ambiances that affect an individual (or a group of people) positively or negatively, while ambiances can also be affected by an individual (or a group) in a mutual scenario. In the context of this field of knowledge, this research expands and updates the concepts of sensitive ambiance and spatial empathy according to the concepts coined by LASC (Research Laboratory Architecture, Subjectivity and Culture - Federal University of Rio de Janeiro), which highlights the contribution of researches and methodologies to the development of practical actions that fulfill the complex contemporary urban demands. It, therefore, seeks to contribute with ideas and solutions more humane, creative, and fair for the problems and difficulties inherent to the coexistence of differences and, moreover, to reduce inequalities.

Given this background, we rely on theories of affection when considering relationships of mutual and simultaneous (positive or negative) affectivities: by affecting and being affected, and by imposing conditions and being conditioned (Anderson and Ash, 2015). Active and passive elements are in constant exchange:

I understand the world because I am in it and it envelops me. I understand my body the moment I experience the body of the Other. The expression of the body itself is, finally, the encounter and communication of a significant correlate data in the body of the Other (Falabretti, 2010, p. 528, our translation).

The process of the body that transforms the space (active position) and the body simultaneously transformed by it (passive position) is the subject matter of the present analysis. The body and ambiances in public spaces can impose conditions and be conditioned at the same time. While most research on ambiances and atmosphere is concerned with how these affect us, for instance in commercial centers, that focus on the perception and where people are passively affected by the atmosphere, this research is interested in how people’s active expression of the atmosphere affects and transforms those atmospheres/ambiances (Bille and Simonsen, 2019).

The unit of analysis for our research is the body since it is the common link between gender and the city, which affects and allows itself to be directly affected in a constant and culturally perpetuated relational dynamic. It is this constant challenge of ‘resistance action’ in the body/space relationship that, in this research, defines women's bodies in the contemporary city. Here, the term ‘Women's Bodies’ refers to any kind of body that identifies itself as woman, that performs or has been socialized as such, whether cis, trans or non-binary. That is, those treated as such bodies independent of the gender identification or expression that pervades the concept of woman and the historical/spatial oppressions that accompany it.

When suggesting that the body has the power to re-signify ambiances, the identification of this body of resistance and the understanding of its movements transcends the role of the urbanist. Therefore, we searched for methodologies outside this field. Additionally, given the proposed transdisciplinary possibilities and methodological challenges, technological support is needed to successfully contemplate the contemporary city and its complexity. Hence, to understand patterns of the body through its Resistance Corpography, biomechanical analysis using computerized tools from other disciplinary fields were applied to provide data for measuring technical performances. Thus, this research presents a new methodology to illustrate how this analysis can be applied to body language and how it can complement the ethnographic narratives of ambiances.

2 Resistance, body language

In addition to the rationale presented above, it is, however, necessary to highlight an intersectional perspective, which is indispensable when dealing with women’s bodies in public space. In the Brazilian case, like in many other, gender, class, and race are inseparable and associated with other articulations embedded in this concept, not only in terms of diversity, but also complexity. Intersectionality goes beyond adding up different forms of oppression. It is understanding how these oppressions affect one another and are structurally connected (Salem, 2018).

The categories of gender, class and race transit and arrange themselves intersectionally in each context, and thereby reflect relationships of power, oppression, and resistance. Intersectionality concerns not only diversity, but also context.

Moving away from the logic of intersectionality as an embodiment of gender-related oppressions and their expressions in the territory, we perceive that women's bodies create public atmospheres of resistance, re-signifying space. The issues of gender do not, and will not, cease in the private sphere; the way society thinks and deals with different genders affects public life, urban environments and its politics. (Scott, 1988, our translation).

In many cases, bodily performances are not limited to free choice but also are a consequence of subjectivities embedded in urban experiences. Seen in the intersectional perspective of gender oppression, there is a recurring atmosphere/ambiance of ‘fear’ (‘atmos-fear’!) which sometimes are more forcefully imposed than others, and is the result of historical daily oppressions and violence reiterated by the ‘industry of fear’ (Moreira, 2003, our translation).

However, in opposition to the ‘atmosphere of fear’ there is also the powerful ‘atmosphere of resistance’, that occurs through daily acts, circulation strategies, policies, and occupation. In this scenario, art plays a fundamental role in criticism and dissention, just as demonstrations and protests confront reality through political bodies. Therefore, aiming at recognizing and understanding women's bodily performances as a form of re-signifying urban atmospheres, we developed a new conceptual and methodological approach to better illustrate the body-space relationship: Resistance-Corpography. Here, the term Corpography refers to bodies’ expressive choreographies in the urban context, which we define as a graphic-kinematic-body that responds by changing and re-signifying its surrounding atmosphere.

Researchers from the Federal University of Bahia (Brazil), Fabiana Dultra Brito and Paola Berenstein Jacques, developed the concept of ‘corpography’ associated with micro-resistances to, and resulting from, the process of spectacularization of contemporary cities: “an urban corpography is a type of cartography performed by and in the body, that is, the urban memory inscribed in the body, the record of its experience of the city, a kind of urban spelling of the lived city itself, which is inscribed but also shapes the body of those who experience it” (Jaques, 2008, our translation). In this case, it is as if the city has gained a body, embodying the active and passive relations between subject and environment.

Given this context, this paper will focus on Slam das Minas (Women’s Slam) as a potent and representative case study of ‘Resistance-Corpography’, examined according to the kinematic-graphic method developed during a doctorate stage at Arkitektskolen Aarhus, in Denmark, from September 2019 to February 2020.

Slam Poetry is a growing movement, organized and performed by women (cis, trans and non-binaries) in public urban spaces of many cities in Brazil, changing the local ambiances by those resistant bodies' performance. The Slam das Minas is more than a everyday bodies' performance of resistance but is also an alternative way of using public spaces, circulation, and appropriation. It should also be understood as a bodily way of reclaiming the Right to the City by challenging it through art (as politics) and through the voice of the excluded, which can be considered as an elementary principle to rethink urban planning based on real demands of inclusion and equality (Rancière, 2015).

To understand the impact of bodily performances and their transformation of local ambiances, we must synthesize observations of motion. Previous studies from Rudolf Laban (1975) and the concept of theoretical diffusions from Angel and Klauss Vianna (Vianna and Carvalho, 2005) in Brazil and Patricia Stokoe (Stokoe and Schächter, 1977) in Argentina in the 1960s and 1950s, have described bodily performance through dance using observational documentation and symbols to map bodily movement and expression. However, from the point of view of our expressive ambiance/atmosphere approach to the body, it is important to get even closer to the continuous flow of bodily movements and gestures than such notation systems seem to allow. Here, kinematics might be useful. We, therefore, decided to apply this approach because, according to our knowledge, there is still an application of this direct approach to the body or movement analysis and its impact on urban ambiance and planning.

In order to describe the motion of points, objects and bodies, without reference to the causes of motion, the branch of classical physics known as kinematics has been widely used in all kinds of sciences (Macagno, 1991). The understanding of human motion through kinematics has been consistently involved multidisciplinary approaches encompassing different scientific disciplines: biomechanics, functional anatomy, physiology, neuroscience, among others. Additionally, the development of new technologies regarding human motion analysis has contributed to the advance of film industry, especially animations.

By using a transdisciplinary approach derived from the biomechanics and applied social sciences, it is possible to capture the patterns of bodies’ movement in any context, whether it is a single body or a complex interaction between bodies, which could change the local ambiance. In order to perform a simple kinematic analysis to observe, measure and compare movements using two-dimensional (2D) video analysis, we used the Kinovea (https://www.kinovea.org/) software (explained further below). This software is simple to use and analyzes the body without physical sensors or markers.

The summary image of the video created by the software generates a composite picture where the overall motion of the body can be described. The data can be then extracted and analyzed according to the needs of each specific scientific field. More precisely, considering the scope of the current study, which highlights the importance of illustrating the body-space relationship, kinematics movement analysis software can be used to quantify and generate a pattern of body performance to subsidize a Resistance-Corpography description.

Having this context in mind, the purposes of this study are: 1) to propose a new transdisciplinary approach to describe Corpography using 2D kinematics movement analysis; 2) to investigate the kinematics parameters which better describe the pattern of the body performance in the case study of Slam das Minas; 3) and through the inclusion of body, language, and ambiance associations, propose ways of approaching the contemporary city and its complexities through the body.

3 Methods

To exemplify this transdisciplinary methodology and its applicability, several parameters were established to tackle the arising demands and limitations of the study. A pilot study with the Danish Slam (2019), undertaken by the doctoral students of this research while residing in Denmark, was crucial to define the methodological feasibility of studying a public event, along with possible analytical kinematic parameters and outputs.

The Danish Slam has the same general rules as the Brazilian Slam, which could be the basis for cross-national comparison, although this was not the intention. The Danish case was only used to test the methodology and to draft the Kinovea software parameters.

The event took place on November 21, 2019, in a bar at the Aarhus University Student House. The Danish indoor event was focused exclusively on the moving body and performance. To maintain impartiality, all footage and other records were taken from the perspective of the general audience with mobile phones. Although the ideal would be a frontal-lateral shot of the body, due to the public's disposition in the event, only a frontal shot was possible. In this logic, the body has two axes, the X and the Y, starting (mark 0, 0 of the graph) at the starting point of the marking made (fists, in this case). The X-axis corresponds to the horizontal movement (right/left) and the Y-axis corresponds to the vertical movement (up/down).

Fig. 1: A, location of the fists’ markers (indicated by the white arrow). B, Fists’ trajectory during the performance. Source: Valicente, M, 2019.

Based on this, we were able to define the first protocol for application, i.e.: possible spatial planes; body structure to be tracked; outputs such as distance, velocity, and the geometrical figure. At the end of the location of the fists’ markers (see figure 1-A) throughout the video, resistance-corpography is read by recording the trajectory of the space markers (see figure 1-B), as well as by providing time and distance data on the X and Y axes, resulting in a spreadsheet to be interpreted.

After that first approach, a more precise and structured application of this methodological test was applied for the Brazilian case. In order to standardize the quality of the image, sound, and accessibility of the original video on virtual platforms, we selected a public Youtube video with the quality required for the software video-mapping and methodology application.

The video records the performance of the slammer Mel Duarte, a member of Slam das Minas, during the event called FLIP (Paraty International Literary Festival of 2016). The video is 5 minutes and 6 seconds long and was chosen due to its image quality, enough contrast for locating the markers on the body during the performance, and the frontal location of the camera. After choosing a video that corresponds to the basic criteria of the feasibility of the software and research, the video was downloaded from Youtube (Flip - Festa Literária Internacional de Paraty, 2016) and the established method was applied.

4Transdisciplinary methodological proposal

This new methodological approach is a transdisciplinary proposal aiming to identify and describe Resistance-Corpography in urban spaces, as already mentioned. The body-space relationship in urban spaces is an object of study mainly related to the fields of urbanism and architecture, and the impact of the body in public spaces has moreover been investigated by subjective observations. This proposed methodology was aimed as a subsidy to the Resistance-Corpography quantitative description through the employment of a kinematics movement analysis software, more commonly employed in the fields of sports and rehabilitation. Therefore, the proposed intersection between the qualitative and quantitative observations produces a transdisciplinary attempt towards new ways of approaching the contemporary city and its complexity through the body.

Our proposal is to analyze videos filmed during performances focused on gender — Women’s Slam — in open public spaces and to quantify parameters related to body movements such as the distances covered, speed of movement, and the geometrical figure resulting from the movement of the fist (or wrist). By analyzing bodies in motion in the poetry competitions of Slam, especially in the ‘Slam das Minas’, the protagonism of the upper limbs’ movement can be observed, especially the arms (most visible part of the body when someone is standing). Despite various movements including bending, lifting, and walking in different directions, the arm is an element that is generally synchronized to the performer’s speech and gaze, and of the body’s imposition in space. The arm, along with the voice, is an essential element of language in a Slam's poetry performance.

Outlining bodily movement is especially important for methodologies in architecture and urbanism that aim to analyze ways of exploring and assessing public spaces, that are concerned with how people and spaces arrange themselves when attracted by someone’s singular gesture. We understand this is very common in almost every small and large city. We believe that focusing on this gestural movement is, firstly, of paramount importance, and a crucial contribution to this scientific research methodology. Secondly, another contribution is related to the possibility of applying a non-invasive tool for interpreting the crowd or individuals, as there is no need to get too close or to interfere with the performance, as the mapping is done through video recordings. Given these considerations, we believe that the possibilities presented here are enormous for many other sciences such as anthropology, sociology, physical education, biological sciences, and physiotherapy but mainly for architecture and urbanism. Considering the challenging context of social isolation due to the Pandemic, this approach allows one to track bodily movement at a distance.

Even though arms are usually markers for the identification of resistance corpography, we justify our use of fists as markers given the fact that clenched fists are commonly used as a symbol in various resistance movements, including in the feminist and anti-racist struggle: "Raised and clenched fists are symbols commonly associated with resistance. Thus, in workers' marches, slogans are spoken with one fist clenched and pointed upwards according to the rhythm of spoken words. The Black Power movement also adopted a clenched, raised fist as its symbol" (Camargo, 2011, p. 165, our translation).

To carry out the fist-movement analysis, we used the Kinovea software (version 0.8.15). Kinovea is a free open-source software under the GPL v2 license, and can be downloaded from the Kinovea project website (https://www.kinovea.org/). The source code for Kinovea is versioned using git and hosted on Github. Version 0.8.15 allows you to execute all the functions provided by the software.

Firstly, after downloading the video into the software, a distance reference measure must be provided to calibrate the software and the analysis. In this case-report study, we decided to use the microphone size (the usual size of most wireless microphones is approximately 20 - 25 centimeters). The size of 21 cm was used as reference. Although a reference must be added into the software in order to quantify distances and speeds, the intention of the analysis is not to provide their absolute values but to show the software’s applicability. The same stands for the geometric figure analysis and its respective area calculation. For future analysis, it is important to highlight the importance of reference values. Before recording future videos for their subsequent analysis, reference values in centimeters of any object are necessary to calibrate the software.

Secondly, a marker was set on the fist as a configuration option and its trajectory was followed throughout the video. Third, the video was analyzed frame by frame at the speed of approximately 20 - 40 % of normal video speed and for slower movements, and 5 - 10% of the speed for faster movements. Speeding up or slowing down the video is important so that the fist-marker and its trajectory are not lost.

Once the fists’ trajectory analysis was concluded, the time and trajectories on Y and X axis (in centimeters) data were exported onto an excel spreadsheet.

Following, a graphic representation to identify the geometrical figure was built. In order to identify the peak events in the distance and speed parameters, we selected the time point were the highest distance and speed on the Y and X axis occurred. To show the geometrical figure drawn by the fist trajectory, a line border was inserted around the events that most occurred on the Y and the X axis. Figure 2 shows the step by step configuration process of the software and the video analysis.

Fig. 2: Step by step of the configuration process to analyze the video. Source: YouTube image edited by the authors with KINOVEA Software, 2020. Reproduced with the kind permission of Mel Duarte and FLIP Feira Literária de Paraty.

After inserting the video into the Kinovea software workspace, the first step (1) was to calibrate the measures using a known segment size (as above-mentioned, the microphone size - 21 centimeters - was used in this analysis). The second step (2) was to identify the fist and to set up the marker choosing the option to “follow the trajectory” - the yellow arrow indicates the marker. At the end of the video, after the marker’s trajectory is identified, the time values and the distances traveled in the Y and X axis are exported to an excel spreadsheet.

5 Results and discussion

According to Figure 3, we can notice the geometrical figure as an output of the right fist’s trajectory during the performance.

Fig. 3: Fist trajectory on Y and X axis during the performance. The blue dashed line represents the geometrical figure as the output for the right fist movement. Source: The Authors, 2020.

In addition to that graphical result, Figure 4 presents the total distance traveled in meters during 4:27:50 (minutes: seconds: milliseconds) of the poetry performance. As presented, the total distance traveled in the vertical direction (Y-axis) was approximately 2 times longer than the distance traveled on the horizontal direction. However, the distance traveled is quite far in both directions, representing the expansion of the body. The total distance traveled was used to identify the expansion of the body in different situations and environments. The other parameters regarding to distance also followed the same pattern, where vertical movements were most explored by the artist. Regarding the movement speed, higher speeds were also identified in the vertical direction. In this specific case-report, we suggest that the rising and falling movement pattern refers to the affirmation of this body during the performance, while it imposes itself in space. Along with speech (language) analysis, it would be possible to find patterns for movements with higher speeds going in specific directions. Longer trajectories and higher speeds may represent important and impacting parts of the speech. If body kinematics parameters with speech are combined, Resistance Corpography could be analyzed from a quantitative as well as qualitative point of view.

Fig 4: Distances (Peak and Average); Amplitude; Speed (Peak and Average) during the performance. Source: The Authors, 2020.

The question then arises: is it possible to identify a Resistance Corpography pattern in this case? An answer to this question cannot be provided merely through the recognition of movement patterns. These must be interpreted from the point of view of bodies as an active agent transforming atmospheres. The body in this regard forms an impressive drawing, an image in space, and performs a corpography, which when associated with the concepts of atmosphere and resistance, gives birth to a corpography of resistance, something powerful that affects and is affected by other bodies. In this sense, this example in a public environment embedded in daily oppressions, with its political and artistic context, shows the body affecting and creating a new ambiance, even if ephemerally.

The issue of security due to proxemics is another point of discussion. A body that produces more reverberations creates a different space next to it, as can be seen in Figure 5, and may end up building a 'spatial language' that informs the amount of space that should be respected. It extends the zone of (unwanted) ‘contact’, echoing the words from the Danish philosopher and theologian, K. E. Løgstrup (1997).

Fig. 5: Kinematic graphic body producing 'spatial language'. Source: YouTube image edited by the authors with KINOVEA Software, 2020. Reproduced with the kind permission of Mel Duarte and FLIP Feira Literária de Paraty.

On the other hand, what is the importance and relevance of a detailed kinematic graphic analysis of corpographical movements for the analysis and interpretation of women’s bodies’ transformative powers on atmosfears/ambiances in urban public space? We believe that this approach sheds light not only what bodily movement means, but how it produces meaning and how it transforms urban atmospheres. When associated with prose, which can be followed in detail through the video, the bodily gestures (body language) and the gestures in language (poetic language) support and intensify each other (Albertsen, 2012, our translation), and hence, also intensify the expressive powers towards atmospheric transformation.

Our proposal of ‘quantitative subsidy for qualitative analysis’ is first of all, an attempt to contribute to the methodological discussion in applied social sciences and to emphasize the role of the body in an urban perspective. The intention is not to generalize or universalize movement patterns, but to initiate a new way to discuss diversity as a central element when intervening in public urban spaces and the city, in order to progress and achieve the democratic right to the city.

It is important to emphasize the pilot character of this study. It is based on an already existing technology for movement analysis in sports (Adnan et al., 2018), using a pre-recorded Youtube video, (Available at:: https://www.youtube.com/watch?v=_S_RYKZqcG4&t=195s. Accessed in: 30 abr. 2019.Access: 1 Mar. 2020)aiming to explain and illustrate the potential of this transdisciplinary approach. For the usefulness of the methodology in the future, there are many challenges and different ways to move forward, such as how to capture and investigate videos in and from a real world reality and how to analyze bodily movements in interaction with the environment. Can new technologies such as drones be used in this regard? How can we cross-reference movement data with the spoken words? Besides these and other questions and difficulties, the advantages of this approach are that we used a free 2D movement analysis software, which is an easily accessible and employable tool eligible for many methodological applications.

6 Conclusions

This article focused on gathering research from a theoretical point of view in an empirical way. The intent here is not to uncover a pattern or to generalize behavior, since it deals with a snapshot of reality, cut off from its context and scale. This is qualitative research, justified and supported by quantitative data, that does not aspire to any universal statements, which would imply a reductionist perspective in the urban context.

Besides, it is not our intention through our method to attest any specific or binary point of view related to concepts of “the female gender”; this could be used with any person anywhere, and with a different focus, by applying the body performance as a unit of analysis, precisely in order to escape from universal conceptualizations of urban bodies. But some points are, of course, ‘status quo’ in our context: the method can be applied to a single person or more than one person when connected to ambiance concept — in this way, in the current study, the notion of resistance ambiance was adopted under the gender clip, followed by what we named as resistance corpography (1); the body must be visualized in its full content (2); if the assessed person does not produce any bodily movement, it would be useful to assess other people’s body movements to verify the effects of this body-silence (3). Thus, with the proposed methodology, we can analyze body/space in the sense of existence, absence, change, exchange, among others.

We highlight the need to combine different disciplinary methods of analysis, to organize information without creating a rigid scope for a subject that is fluid and ephemeral by nature. The methodological propositions presented here are intended to test, materialize, and illustrate the initial hypothesis. Qualitative research of subjective objects, in essence, cannot be generalized. Therefore, here we presented outcomes and tools allied to the methodology, which provided us with a delimitation of our focus and helped us to expand the context selected for analysis. We build our research through the paths that are chosen to deal with the issues that arise in the analytical and reflexive process. The same research must undergo evaluations, criticism, modifications, complements, and developments. Given that space is also built through movement, this research aims to contribute to this field of study, exploring the methodological ground that must be in constant construction and modification so it can evolve alongside society.

The methodological proposal presented here aims to encourage discussions about the body/space relationship, making urban bodies the unit of analysis of that space. By allowing adaptations to many possible analysis of the body as an element with the power to promote ambiance changes, even if ephemeral, the method can be applied to multiple scales and research topics, promoting other ways of understanding the conformation of space by the bodies that experience it. To add narratives to space is to recognize its territorialized complexity and inequality, which is a starting point for resignification. When understanding space in its most diverse meanings, insurgent urbanism may be a step towards the full experience of the right to the city.

Acknowledgments

This study was financed in part by the “Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil” – CAPES, Finance Code 001/CAPES PRINT. We are therefore thankful to CAPES and to the Graduate Program in Architecture – PROARQ of Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ), Faculty of Physical Education of University of Brasília (UnB) and Arkitektskolen Aarhus (Denmark), who hosted this study.

References

Adnan, N. M. N., Ab Patar, M. N. A., Lee, H., Yamamoto, S.-I., Jong-Young, L., Mahmud, J., 2018. Biomechanical analysis using Kinovea for sports application. IOP Conference Series: Materials Science and Engineering, 342, p. 1-9.

Albertsen, N., 2012., Gesturing atmospheres. Ambiances in action / Ambiances en acte(s). International Congress on Ambiances. Montreal: Canada, p. 69-74.

Anderson, B., Ash, J., 2015. ‘Atmospheric Methods’. In: Vannini, P, (ed.). NonRepresentational Methodologies: Re-Envisioning Research. London, UK: Routledge Publishing, p. 34-51.

Aristóteles, 1998. A Política. Trad.: Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes.

Bestetti, M. L. T., 2014. ‘Ambiência: espaço físico e comportamento’. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 17, p. 601-610.

Bille, M., Simonsen, K., 2019. Atmospheric Practices: On Affecting and Being Affected. Space and Culture. doi: 10.1177/1206331218819711.

Camargo, M., 2011. "Manifeste-se, faça um zine!": uma etnografia sobre "zines de papel" feministas produzidos por minas do rock (São Paulo, 1996-2007). Cadernos Pagu. São Paulo: Cad. Pagu, 36, p. 155-186.

Falabretti, E., 2010. A presença do Outro: Inter-subjetividade no pensamento de Descartes e de Merleau-Ponty. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, 22(31), p. 515-541.

Ferraz Júnior, T., 1993. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão e dominação. São Paulo: Atlas.

Flip - Festa Literária Internacional de Paraty, 2016. Flip 2016 - Mel Duarte no Sarau. Available at: https://www.youtube.com/watch?v=_S_RYKZqcG4&t=194s. Accessed: 16 Jun. 2020.

Jacques, P., 2008. Corpografias urbanas. Arquitextos 093.07. São Paulo: Vitruvius [online]. Available at: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/165. Accessed: 1 Mar. 2020.

Laban, R., 1956. Laban’s Principles of Dance and Movement Notation. London: MacDonald and Evans.

Lefebvre, H., 1968. O direito à cidade. São Paulo: Centauro.

Loraux, N., 1989. Les Expériences de Tirésias. Le féminin et I'Homme grec. Paris: Gallimard.

Løgstrup, K., 1997. System og symbol. Essays. Copenhagen, Denmark: Gyldendal.

Macagno, E., 1991. History of kinematics: inception of modern kinematics. Iowa City: Iowa Institute of Hydraulic Research, the University of Iowa.

Moreira, C., 2003. A indústria do medo e a vida na cidade. Arquitextos 035.01. São Paulo: Vitruvius [online]. Available at: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.035/692. Accessed: 1 Mar. 2020.

Pinheiro, E., 2010. Cidades 'ENTRE'. Dimensões do sensível em arquitetura ou a memória do futuro na construção de uma cidade. PhD Thesis. Federal University of Rio de Janeiro.

Rancière, J., 2015. The Politics of Art. An interview with Jacques Rancière. [online]. Available at: https://www.versobooks.com/blogs/2320-the-politics-of-art-an-interview-with-jacques-ranciere6.Accessed: 1 Mar. 2020

Salem, S., 2018. ‘Intersectionality and its discontents: Intersectionality as traveling theory’. European Journal of Women's Studies, 25(4), p 403-418.

Scott, J., 1988. Gender and the Politics of History. New York: Columbia University Press, p. 28-50.

Stokoe, P., Schächter, A., 1977. La Expresión Corporal. Buenos Aires: Paidós.

Vianna, K., Carvalho, M., 2005. A Dança. São Paulo: Summus.