Redes sociais na cidade, ou a condição urbana da coexistência

Vinicius de Moraes Netto, Roberto Paschoalino, Maira Pinheiro

Vinicius de Moraes Netto é Arquiteto, PhD em Estudos Avançados em Arquitetura e Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense.

Roberto Paschoalino é cientista social e pesquisador do Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanas.

Maira Pinheiro é pesquisadora do Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos.

Como citar esse texto: NETTO, V. de M.; PASCHOALINO, R.; PINHEIRO, M. Redes sociais na cidade, ou a condição urbana da coexistência. V!RUS, São Carlos, n.4, dez. 2010. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus04/?sec=4&item=5&lang=pt>. Acesso em: 27 04 2024.

Resumo

Este artigo apresenta uma abordagem alternativa à possibilidade de planejar coexistência na cidade. Propõe-se que, antes de conceber e projetar espaços de coexistência é necessário compreender as condições urbanas para promover o reconhecimento das diferenças, no espaço concreto, entre indivíduos, grupos e classes. Desenvolve-se uma abordagem capaz de identificar padrões distintos de apropriação do espaço profundamente relacionados à formação de redes sociais: a espacialização de práticas e movimentos corporais, as quais constituiriam padrões de encontro e possibilidades controladas de comunicação – fatores que estão no cerne da emergência de redes sociais. Este artigo aborda os processos de segregação dinâmica na cidade, desvelando o papel do espaço na convergência ou divergência das experiências urbanas de indivíduos, grupos ou classes.

Palavras-chave: segregação dinâmica, coexistência, alteridade.

1. Introdução: entender a coexistência antes de projetar a coexistência

Uma das principais preocupações de nossos dias é a de afirmar a possibilidade de a cidade contemporânea ser locus da pluralidade, da comunicação entre classes diferentes e do reconhecimento do Outro. Este artigo investiga as condições em que pluralidade, diversidade social e comunicação efetiva entre diferentes classes sociais podem emergir, o que nos leva a explorar a complexidade das ações e interações cotidianas e potencialmente conectadas que costumam formar as redes sociais. Neste artigo, sustenta-se que, antes de conceber e planejar espaços de coexistência, é fundamental entender as condições urbanas que podem promover coexistência, reconhecimento e interação de diferentes grupos ou classes sociais, focando no papel do próprio espaço urbano como elemento capaz de promover coexistência. Este trabalho tem por objetivos descrever processos de segregação dinâmica na cidade, e descerrar o papel do espaço em aproximar mundos segregados de maneira a promover a integração de grupos ou classes sociais distintas. A questão da exclusão social é geralmente associada à segregação, e definida como restrições que o lugar impõe ao contato, comunicação e relações sociais, ou limites à interação social (FREEMAN, 1978). Tradicionalmente, a segregação urbana é vista como o processo de formação de áreas social e espacialmente diferenciadas, de maneira que concebemos a segregação espacial como uma forma de produzir distância social; em outras palavras, o espaço separa.

Entretanto, as pessoas não permanecem imóveis nessas áreas segregadas. Elas movimentam-se pela cidade, apropriando-se de lugares distintos, de acordo com a situação – da casa para o trabalho, ou em busca de lazer e socialização. Podemos pensar que essa mobilidade poderia tornar o espaço um meio obsoleto de produzir, configurar ou consolidar segregação. Ainda assim, como veremos adiante, a mobilidade varia de acordo com desigualdades sociais e o contexto, de modo que em diversas cidades e regiões a segregação ainda é uma característica marcante, mesmo na vida urbana de alta mobilidade e conectividade (THRIFT, 2008) típicas das cidades e socialidades no século XXI. Nossas cidades ainda se parecem com máquinas de distanciamento entre os socialmente diferentes. O ponto central do nosso argumento é que, uma vez que nossas sociedades são sistemas complexos de interação e nós somos tão móveis, deve-se olhar para o espaço para além das abordagens tradicionais. Este artigo se propõe a analisar os espaços entremeados pelas ações sociais, deslocamentos cotidianos e interações. Com efeito, isso implicaria em tocar um aspecto social complexo e fugidio, um emaranhado virtualmente indescritível de ações e interações.

Para tornar essa análise possível, adotaremos o seguinte procedimento metodológico: (i) uma mudança de foco, passando da tradicional idéia de segregação espacial para a centralidade do corpo na mediação das interações potenciais entre grupos e classe sociais distintos; ou seja, ao invés de limitarmos a identificar apenas o local de moradia como atributo de segregação, nos propomos a analisar também deslocamentos, ações e interações na cidade como características inerentes e diferentes de acordo com o grupo social; (ii) identificar a forma como as pessoas formam suas redes sociais presenciais no espaço urbano, de maneira que de similaridades de ações e estilos de vida possam ser reconhecidas em seu papel em aproximar ou diferenciar essas redes sociais, permitindo observar traços de (iii) como diferenças sociais se transformam em distâncias estruturais, e o Outro, uma forma de alteridade invisível.

Uma abordagem que seja bem-sucedida em encontrar esses aspectos ofereceria uma descrição da emergência de diferentes mundos sociais coexistindo em uma mesma cidade – e suas possibilidades de relação. Observaremos assim os diferentes padrões de apropriação do espaço, e como eles afetam ações e encontros, de maneira que redes sociais são constituídas de acordo com esses padrões de apropriação, em não apenas por encontros aleatórios na cidade. Feito isso, poderemos entender como encontros espaço-temporais estruturam as redes sociais, de maneira que similaridades e diferenças nas práticas urbanas cotidianas constituam sociabilidades internamente coesas e externamente dissociadas – processos que são o próprio reflexo da segregação dinâmica. Se radicalizada a distinção entre essas práticas corporais de sociabilidade, a cidade deixa de ser um espaço de geração de interações e encontros potenciais entre grupos ou classes sociais distintos – interações que assegurariam a coexistência. A criação de espaços restritos a um grupo e espaços de difícil acesso ao transporte coletivo são exemplos de radicalizações que afetam a possibilidade de encontro, em especial em cidades fortemente desiguais, como as brasileiras.

O presente trabalho reflete sobre as instâncias que constituem a vida social onde a segregação é de fato mais presente: as ações que realizamos na cidade, coletivamente imersos em atividades de reprodução social – ações que são sutil e insuspeitamente atravessadas de distância social, de uma segregação que acompanha os corpos dentro do próprio reino da vida cotidiana. Acostumamo-nos a esse problema justamente por ele perpassar constantemente nossa experiência urbana: atores diferenciados que se locomovem e apropriam diferentemente do espaço, mas que o fazem sem tomar conhecimento um do outro.

2. A condição da coexistência: como vivenciamos o espaço urbano

Gostaríamos de introduzir uma abordagem microestrutural da coexistência social e seu oposto, a segregação social, usando o conceito de “rede social”, aqui definido como conjunto de relações entre seres sociais1. Esse conceito geral é capaz de operar em escalas diferentes de relações sociais baseadas em interações entre grupos, classes ou etnias, e pode ser estendido de forma a tratar das condições espaciais de integração social em diferentes contextos. A presente abordagem é baseada também em um segundo conceito, padrões de apropriação do espaço urbano, capaz de identificar formas diferentes, mas típicas de apropriação, e associá-las a grupos distintos. Padrões de apropriação têm relação com as formas de “atuar o espaço” socialmente. Eles estão intimamente ligados à mobilidade e às capacidades de desempenhar atividades na cidade. Se nos atermos ao problema das sociedades desiguais, determinados grupos e classes sociais têm orçamentos limitados para gastar com transporte, ou não dispõem de automóveis particulares. A renda também afeta o número de atividades e as possibilidades de consumo na cidade, ou seja, a parcela da cidade economicamente viável de se visitar na busca de serviços.

Avançando na análise da segregação dinâmica na cidade, se nos valermos dos estudos configuracionais2, podemos considerar a cidade como uma rede espacial de ruas e locais de atividade. Encontros são ora dispersos pelas ruas, ora concentrados em pontos de ônibus, estações de metrô, locais de trabalho, lazer e consumo e edifícios complexos comoshopping centers e universidades. Essas atividades são atratoras para atores sociais: é dentro desses locais que parte substancial da vida urbana se desenrola, tais como a comunicação e a possibilidade de relacionar atos individuais a redes de ações que constituem a vida em sociedade.3 As atividades – e lugares – na cidade possuem papéis bem-definidos nessas redes e rotinas [isto é, nas ações de trabalho e consumo diário, em termos instrumentais] assim como na vida social das pessoas e grupos. Podemos participar de determinada atividade se ela nos interessa, se temos algo a fazer nela, se podemos pagá-la e se temos como chegar até ela – mas, antes disso, podemos participar dela apenas se soubermos que essa atividade existe e onde ela se desenrola. Ora, isso significa que nem todas as atividades que têm lugar na cidade são interessantes ou acessíveis a todos; ainda assim, elas são atraentes e podem ser levadas a cabo por alguns grupos. Essas atividades têm impacto sobre nossas ações, sendo centelhas para uma série de movimentos dentre a trama espessa de deslocamentos que tem início nas moradias.

O deslocamento, por sua vez, geralmente envolve grandes distâncias, percorridas pelo movimento pedestre, transporte coletivo ou por veículos particulares. O meio de transporte utilizado tem uma influência tão grande sobre as possibilidades de apropriação do espaço quanto à rede viária que articula os locais de atividade. A apropriação do espaço relaciona-se ao número de locais e atividades que uma pessoa pode utilizar, aí incluídos os espaços públicos pelos quais ela passa. Se os deslocamentos e ações deixassem traços visíveis no espaço, poderíamos ver como se dá a apropriação das redes espaciais urbanas; relacionar os caminhos aos indivíduos que os percorreram, e organizar esses indivíduos em grupos ou classes pode revelar padrões específicos de apropriação do espaço e sua influência na formação das redes sociais. É justamente esse o objetivo e o método que este artigo se dispõe a desenvolver.

Dessa forma, se formos capazes de relacionar diferentes padrões de apropriação a diferentes grupos sociais, poderíamos começar a perceber também as redes sociais como específicas e diferenciadoras, tecidas sobre canais e nós de convergência social. Certos grupos se deslocariam por determinadas ruas e visitariam determinados locais com mais frequência do que outros grupos, ainda que alguns caminhos e locais também sejam comuns a outros grupos.4 Essas redes espacializadas de apropriação são traços de nossa presença efetiva no espaço. Se pudéssemos mapear esses caminhos, poderíamos ter uma boa noção de como grupos sociais diferentes espacializam suas ações. Padrões de apropriação do espaço moldam as ações dos atores na cidade e, ao fazer isso, tendem a ter efeito sobre a interação social potencial, sobre a formação de relações entre pessoas e, finalmente, sobre a própria formação de redes sociais. Faz-se, assim, a passagem da espacialidade para a emergência de redes sociais. O caminho teórico que queremos explorar está no quadro abaixo:

Padrões de apropriação do espaço -> Padrões de encontro no espaço

-> Padrões de formação da rede social

-> Geração de coexistência ou de mundos sociais distintos na cidade

3. A formação de redes sociais no espaço

Qual é a chance de encontrarmos pessoas de outros grupos ou classes sociais? Se pudermos entender de que maneira o espaço é parte da geração da possibilidade de encontro, teremos avançado no entendimento das condições da coexistência relacionadas as dinâmicas segregação que acompanham o corpo [em oposição às abordagens estáticas, restritas às áreas de moradia]. A forma como atuar a cidade é chave para esse entendimento. Ela é ativa na formação da principal “substância” a partir da qual as redes sociais são formadas: os encontros. O conceito de Giddens de serialidade ou sequenciação dos encontros como forma de coordenar a organização social e integrar as interações no tempo e espaço é certamente útil. Gostaríamos de acrescentar ainda um segundo conceito: as sociedades como sistemas de encontro (HILLIER; HANSON, 1984). Esses dois conceitos nos ajudarão a compreender a importância do encontro na produção de sociabilidades e também a definir a ideia de padrões de encontro como seqüências ativas na definição de condições de co-presença e efetiva interação em sociedades heterogêneas.

Estar no mesmo lugar que outros sujeitos é, obviamente, a condição para a interação de fato [oposto, portanto a interações via internet, que pertencem a uma natureza completamente diferente e possui outros fins; encontros virtuais dificilmente seriam capazes de manter uma sociedade coesa]. A formação de redes sociais depende de possibilidades de co-presença, ou seja, está diretamente ligada à questão do acesso às atividades na cidade. Eventos sociais estão dispostos no espaço e, portanto, sujeitas a condições variadas de acesso social e espacial, podendo não estar localizadas dentro dos interesses, orçamento ou possibilidades de acesso de dado ator ou grupo. Caminhos de ação cotidiana são condicionados pela estrutura urbana, potenciais de mobilidade e interesses sociais, e séries de encontros em locais específicos dependerão desses fatores. Estruturas urbanas e padrões espaciais de localização e acessibilidade na cidade são importantes, pois implicam em vias, áreas e lugares com variadas probabilidades de convergência de trajetos e rotinas.

Os espaços que fazem parte desses itinerários habituais [daily paths – Hägerstrand, 1970] constituem os nós de convergência de uma série de linhas de vida – vórtices de co-presença e interação potencial (figura 1). A cidade é atuada como uma estrutura de espaços atratores acessados em diferentes momentos. Essas nodalidades aumentam o potencial de convergência de atores que compartilham capacidades semelhantes de deslocamento e atuação na cidade, constituindo-se, portanto como pontos de formação de determinadas redes sociais. Padrões mais complexos de apropriação do espaço [envolvendo capacidades inerentes de mobilidade espacial e social] resultam em um potencial mais transpacial – menos dependente do espaço – na formação de redes pessoais. Esse tende a ser o caso dos grupos de maior renda, capazes de ter gastos maiores com transporte e consumo. Os locais de atividade destinados a esses grupos tendem a ser menos dependentes de uma localização específica – eles podem ser espacialmente distantes entre si. Nesse caso, o principal fator de construção de relações sociais e da rede social pessoal não é mais a proximidade, mas a mobilidade. A capacidade de mobilidade espacial e acesso social permite que os atores se envolvam em um número maior de atividades, sendo que cada um desses locais são pontos de encontro e, potencialmente, de novos vínculos.

Figura 1: Nodalidades urbanas convergem atores e suas “linhas de vida” no tempo e espaço. Fonte: Arquivo dos autores.

Grupos e classes sociais com menor capacidade de movimentação e atuação na cidade têm padrões de apropriação que demandam maior atenção teórica, dado que existem diferenças na intensidade de desigualdade social em diferentes contextos. Em cidades onde esse nível é elevado, os grupos sociais de menor renda possuem orçamentos limitados para investir em consumo, o que restringe atividades de lazer – criando assim outras maneiras de apropriação do espaço para estruturar a vida social. Estudos empíricos [como veremos adiante] mostram que esses grupos estão mais intimamente relacionados às áreas e espaços públicos próximos às suas residências no que tange à lugares para interagir e criar laços sociais. Esses grupos, naturalmente, também produzem seus nós urbanos de convergência social, que articulam séries de eventos e interações na formação de suas redes sociais. É importante observar que, mesmo para padrão de apropriação desses grupos sociais, há um raio de ação que rompe com a fricção da proximidade. As atividades localizadas próximas ao local de trabalho aumentam esse raio de apropriação, ainda que relacionem essas atividades aos tempos e rotinas do trabalho. O transporte público e a crescente propriedade de veículos automotores certamente permitem trajetos mais amplos e complexos de deslocamento na estrutura citadina. Entretanto, como a mobilidade é limitada por capacidade financeira e fricção espacial, há, ainda, uma tendência geral à uma apropriação local, em que o raio de ação do movimento pedestre é determinante.

Baseados nessas observações propomos dois tipos ideais [enquanto reduções ou tipificações teóricas] de padrões espaciais de formação de redes sociais: (i) redes baseadas em padrões complexos de apropriação e maior capacidade de mover-se e atuarem na cidade; e (ii) redes localizadas, com padrões de apropriação e sistema de encontros sociais dependentes da proximidade.

4. Segregação em redes sociais

Figura 2: Mapear os trajetos dos atores na cidade permite uma avaliação da segregação como um fenômeno social dinâmico. Redes sociais, mesmo fortemente segregadas, podem se justapor em determinadas ruas e locais. Fonte: Arquivo dos autores.

1 Nosso uso discursivo e visual desse conceito difere da acepção da Análise de Redes Sociais e outras abordagens teóricas de grafos (Cf. GRAVONETTER, 1973; SCOTT, 1991; WASSERMAN; FAUST, 1994; FREEMAN, 2006).

2 Como Kruger (1979), Hillier e Hanson (1984), Krafta (1994), Holanda (2002), entre outros. Essa abordagem foi desenvolvida originalmente em Netto e Krafta (1999).

3 Derivamos essa observação de Habermas (1984).

4 Gonzales et al (2008) reuniram um extenso banco de dados de deslocamento, baseado nas informações das torres de telefonia móvel em cidades estadunidenses. Os autores destacaram uma tendência acentuada à recursividade no movimento e apropriação de espaços e lugares.

Podemos deduzir dessas observações que redes sociais pessoais espacialmente mais complexas são capazes de se mesclar com maior facilidade em uma rede social de grupo ou classe (figura 2). Os potenciais de mobilidade e de acesso a diferentes eventos na cidade [arranjados no espaço urbano de acordo com padrões de localização tipicamente descritos pela economia urbana] moldam geograficamente o alcance dessas redes. Diferentes pontos de convergência articulam de maneira distinta as séries de encontros e a formação de redes sociais diferentes. Grupos e classes com rendas elevadas e, portanto com maior mobilidade, tendem a possuir um potencial maior de conhecer pessoas que pertencem a sua própria classe ou grupo. Os encontros podem realizar-se mais freqüentemente, dado que esses atores têm acesso a muitos locais de atividade geograficamente diversos e têm maiores chances de conhecer outras redes sociais. Nos grupos sociais de menor mobilidade, a recursividade dos encontros é fortemente dependente da proximidade espacial.

As redes dos grupos e classes são estruturadas por meio das conexões mais prováveis de redes pessoais [os contatos que cada pessoa tem], que são, por sua vez, afetadas pelos padrões de apropriação. Se desdobrarmos essa ideia, veremos que diferenças no padrão de apropriação em que as redes sociais se baseiam implicam em incompatibilidades no acesso a localização e na sequenciação dos eventos sociais que de outra maneira poderiam ser sobrepostos ou justapostos: a desarticulação dos encontros. Diferenças em estilos de vida, renda, mobilidade espacial e acesso social a eventos implica em desencontros na própria estrutura espaço-temporal das ações dos diferentes atores sociais. Essa possibilidade consiste de um deslocamento das possibilidades materiais de co-presença, comunicação e probabilidade de novos encontros. Em outras palavras, há uma chance maior de as redes sociais incorporarem atores que compartilham padrões de apropriação similares, a despeito de quão complexos ou dispersos pela cidade eles sejam. Além disso, os itinerários cotidianos afetam as “linhas de vida” – atividades, círculo de amigos, tempo disponível, oportunidades de trabalho – compondo assim a estrutura material da vida social de grupos em geral, e constantemente mudando o cenário futuro das ações e interações sociais na cidade.

Sincronicidade e complementaridade das ações

Essas descrições evocam a complexidade da vida social, bem como suas condições materiais. Porém, se já é complicado traçar o itinerário cotidiano de um ator isoladamente, o que dizer de vários itinerários se entrecruzando e divergindo no espaço urbano? Como podemos delinear uma imagem mais ampla, uma imagem do conjunto dessas linhas de vida entrelaçadas? Acima, relacionamos as limitações e possibilidades de participação em eventos sociais ao papel das atividades e lugares urbanos e dos padrões de localização e acessibilidade na estruturação de diferentes redes sociais. Gostaríamos de aprofundar as descrições desses processos altamente elusivos de agregação/desagregação social por meio de um conjunto de noções.

Em primeiro lugar, propomos a extensão de um conceito originalmente usado pela economia espacial, a ideia de complementaridade urbana, e reparti-la em três: (a) a complementaridade das atividades urbanas localizadas no espaço, que se desdobra em (b) a complementaridade das ações entre os atores e (c) a complementaridade das ações dentro da própria rotina de um indivíduo. Articuladas, essas três complementaridades formam o cerne da vida social urbana: o que nos mantêm unidos como sistemas sociais localizados. Em segundo lugar, devemos também partir o conceito de rotinização de Giddens (1984) em dois: sincronicidade [a ocorrência simultânea dos eventos e ações sociais sem que haja uma causa discernível] e recursividade das ações dos atores [o impulso à repetição, conceito explorado pelo próprio Giddens]. O desdobramento desses conceitos originais permite penetrar nas relações das ações individuais e do sistema de atividades urbanas na formação de situações de co-presença e interação, e também em como as redes sociais são espacialmente produzidas e reproduzidas. Nossa intenção é demonstrar que a cidade é um sistema material de possibilidades de ação, encontro e comunicação:

Estrutura Urbana -> Sincronia / assincronia dos caminhos de ação no espaço -> Convergência / divergência de redes diferenciadas

Os conceitos de recursividade, sincronicidade e complementaridade dos caminhos de ação como manifestações das atividades e rotinas urbanas englobam (a) a condição temporal das ações [conexões5 pela repetição: ações são freqüentemente seqüenciais, se observadas ao longo do tempo]; (b) a condição sociofuncional das ações [conexões da interdependência sistêmica: ações são imersas em eventos sociais interrelacionados e complementares]; e (c) as ligações sistêmicas entre essas duas condições [conexões através dos períodos de desenvolvimento de certas atividades: durante sua realização ou no intervalo entre duas atividades, as ações sociais são parcialmente sincronizadas ou alinhadas no tempo e no espaço].

Com esse recorte analítico, pretendemos captar a volatilidade da cooperação da ação, desvelar a fragilidade da condição da interação e da própria possibilidade da interação – e a potência de um sistema de ações de grande proporção e recursividade, desdobrando-se em emaranhados de relações parciais, momentâneas. A organização social, por sua vez, é coletivamente produzida e reproduzida pela sincronia e por sua estrutura material: a própria cidade. No intuito de descrever a possibilidade de superposição dos itinerários individuais, acaba-se por atingir a relação entre a formação de laços sociais dentro de um sistema social e sua espacialização sob forma da estrutura urbana: aspectos da organização material da ação social. O cenário de uma rede intra-urbana com múltiplos nós atraindo e convergindo vários percursos individuais de maneira intermitente e simultânea, aleatória, mas estruturada, carrega a ideia da cidade como uma forma complexa de sincronias e assincronias, composta por dependências mútuas de cadeias de ações e atividades complementares, com relativa coordenação entre as ações. Exemplos são nossas rotinas de consumo e trabalho, quando participamos e interagimos com outros atores – momentaneamente ou recursivamente – dentro de atividades cooperadas. Ainda, além da dimensão temporal, as ações estão sempre atreladas a estruturas espaciais da cidade [digamos, ruas onde certas atividades podem a ser encontradas] e espaços que escapam a qualquer estrutura reconhecível [como espaços intersticiais na trama da cidade]. Tal descrição das complexidades das ações cotidianas na cidade parece potencialmente representativa, observadas na estruturação e rotinização da vida social, remetendo assim à concretização social e material dos esforços individuais e à própria possibilidade de associação de nossas práticas. Estes são as instâncias onde os desafios materiais da reprodução social são superados – desafios que naturalizamos em nossos cotidianos.

O espaço desempenha um papel de difícil compreensão teórica: devemos imaginar atores imersos em atividades dispostas em períodos de tempo, alguns convergindo simultaneamente em pontos do espaço urbano que podem estar vazios no período seguinte. Ver a disposição espacial desse emaranhado tremendamente complexo de linhas de convergência e divergência de ações é virtualmente impossível, mas reduções desse cenário permitem a compreensão de aspectos das dinâmicas da vida social e das condições de integração, segregação e coexistência. Fragmentos dessa forma espaço-temporal de organização podem ser mapeadas em um diagrama tetradimensional (figura 3). As atividades realizadas em T1, T2 e T3 ocorrem em diferentes momentos ou períodos de tempo; nesses eixos temos a convergência/divergência dos caminhos de ação dos diferentes atores.

Figura 3: Redes sociais atuando a cidade: recursividade, sincronicidade e complementaridade das ações no tempo, e padrões de acessibilidade e complementaridade das atividades em localizações no espaço se relacionam tanto com a aleatoriedade quanto a estruturas nas possibilidades de encontro. Fonte: Arquivo dos autores.

5. Aleatoriedade e contingência dos encontros

Todas as organizações envolvem a coordenação da interação em fluxos de relações espaço-temporais canalizados por meio de contextos e localidades. (GIDDENS, 1984, p. 77)

Para conseguirmos ver como a cidade, enquanto o locus possível da coexistência, é apropriada por tais redes sociais segundo diferenciações nos fluxos de interação no tempo e espaço, conforme mencionado por Giddens, gostaríamos de desenvolver um pouco mais esse arcabouço conceitual que apresentamos. O objetivo é atingir as cadeias de ação baseadas na co-presença as quais constituem a formação de redes sociais na cidade. Uma ideia fundamental para essa compreensão é a possibilidade de convergência de ações em lugares específicos. Podemos entender a geração de fluxos diferenciados de ação emergindo da seqüência de eventos sociais que se desdobram em locais de atividade [por exemplo: local de trabalho → local de almoço → trabalho → lazer/consumo → residência] contando com convergências relativamente sincronizadas e recursivas, e ampliando assim as possibilidades de se encontrar atores da mesma classe ou grupo social. Lugares urbanos são o suporte material do entrelaçamento das trajetórias individuais, e da produção de relações entre atores. Devido a essa estrutura temporal, em especial nos dias úteis, e à distribuição dos locais de atividade [em especial grandes atratores onde atividades variadas têm lugar, tais como universidades, hospitais, estações de metrô e shopping centers] ao longo de estruturas urbanas reconhecíveis [como ruas principais em bairros e cidades], podemos encontrar densidades distintas de encontro e coexistência, bem como encontrar pistas para identificarmos as forças produtoras de segregação. A reprodução social, por sua vez, é constituída por [e constitui] convergência de linhas de vida em espaços e momentos tanto de maneira contingente quanto não contingente. É difícil apreender teoricamente a contingência, mas podemos amenizar as dificuldades se entendermos que as ações de sociabilidade operam de maneira relacional, e que mesmo a contingência e a aleatoriedade podem ser materialmente distribuídas e concentradas – especialmente se produzimos espaço de maneira a relacionar nossas ações e interações.

De fato, sugerimos que as cidades são mecanismos de compressão da aleatoriedade e contingência de interação, gerando uma “redução da complexidade social” [de acordo com Luhmann, a redução das possibilidades de imprevisibilidade das escolhas de interação]. Sociedades estruturam o espaço na forma de cidades não apenas para possibilitar as trocas socioeconômicas, como afirmado na economia espacial. Mais sutilmente que isso, cidades consistem de uma maneira de controlar a elusividade do encontro, a frágil condição material da interação, e os riscos de um nível de assincronia insustentável na associação dos cursos de ação. Associações criadas por espaços desestruturados ou por completa dispersão em espaços quase-urbanos ou não-urbanos seriam social e economicamente dispendiosos demais para se tornarem suporte das interações. Se o espaço urbano é coletiva e historicamente estruturado, então essa estrutura pode muito bem ter o efeito de fazer convergir os corpos e ações em uma crescente possibilidade de interação e concretização dessas possibilidades em um fluxo real de interação e comunicação heterogeneamente distribuídos em uma estrutura heterogênea. Interações são sistemicamente relacionadas e ancoradas em nodalidades distribuídas pelo espaço urbano e que conectam caminhos de ação cotidiana e articulam o que experienciamos coletivamente como vida social.

Tal descrição é potencialmente esclarecedora no sentido de mostrar a sincronia relativa das ações desempenhadas em locais de atividade distribuídos de acordo com sua complementaridade, o que dá forma a padrões de localização e acessibilidade – e mais, a espacialidades internas que podem articular determinadas redes sociais. É esse o recorte espaço-temporal que permite entender a sobreposição de caminhos de ação cotidiana dos diferentes grupos na cidade. Mesmo se as frequências de atos mudam, a recursividade é capaz de levar os atores para certos lugares para desempenhar suas tarefas diárias. Ainda que haja desencontros temporais, a presença corporal pode acontecer, aumentando assim as chances de encontro e tendo como variáveis o tamanho do sistema urbano, a diversidade de atividades e a posição dos grupos e classes em seu espaço social [nos termos de Bourdieu].

Assim, o espaço ainda é um fator importante na reprodução da segregação, mas de uma maneira muito mais complexa que os efeitos das áreas segregadas, e com um potencial muito maior de integrar e segregar atores. Esse conjunto de conceitos objetiva descobrir as dinâmicas diárias de sistemas sociais localizados e suas condições e possibilidades de integração ou segregação. Locais de alta centralidade e acessibilidade tendem a justapor os caminhos de ação dos atores a caminho de nós sociais [locais de atividade], aumentando assim o potencial de co-presença e recursividade dos encontros. Ainda, a apropriação se dá em cadeia: de um local para outro, de acordo com a complementaridade das rotinas, espacialmente estimulados pela complementaridade da localização [proximidade]. A característica principal dos espaços acessíveis é justamente permitir a complementaridade das rotinas, baseadas em distâncias curtas e rapidamente percorridas. Isso, naturalmente, aumenta a probabilidade de encontro. Tais probabilidades de encontro são distribuídas de acordo a estruturas espaciais e temporais da ação na cidade. Espaços com boa acessibilidade possuem forte potencial de convergência de grupos sociais diferentes e de articular vida privada e vida coletiva. De fato, os conteúdos sociais [atividades] produzidas nas arquiteturas e lugares e distribuídos pelas estruturas de acessibilidade têm um papel importante na [re]produção das relações sociais e na configuração de redes sociais. Entretanto, a variedade de fluxos de ação na cidade [levando-se em consideração a complexidade da seleção entre as atividades disponíveis na cidade] gera um panorama altamente variável de encontros. Vimos que pode-se tornar essa complexidade mais palpável se observarmos que um mesmo lugar articula muitos caminhos de ação cotidiana. Os trajetos dos atores convergem de maneira aparentemente aleatória, mas de fato eles o fazem de acordo com padrões variados mas específicos de complementaridade, recursividade e sincronicidade. Espacialmente, os caminhos de ação são modelados por meios de apropriação do espaço [o poder da mobilidade espacial e do acesso social] e por diferenças sociais.

Juntas, essas propriedades materiais da ação asseguram a passagem da ação individual para a social, constituindo a condição material da organização e reprodução social (cf. NETTO 2007; 2008). Elas o fazem, porém, não de uma forma mecânica, pois organização e reprodução social envolvem alta flexibilidade e variabilidade na disposição material dos caminhos de ação. Há uma relação direta entre padrões de encontro e padrões de apropriação espacial, ainda que imersa em probabilidades e cercada pela aleatoriedade – uma relação não-determinística em que a contingência toma forma da assincronia e escolhas espaciais distintas. A aleatoriedade nunca se descola do processo, mas é de alguma maneira estruturada e disposta em probabilidades parcialmente identificáveis, de maneira que ela se encontra em volta e no interior da elusiva estrutura da ação social. Caminhos de ação convergem ou divergem como lugares ou momentos de encontro em função da diferenciação do próprio espaço. Os caminhos de ação encontram sincronicidade dentro de fluxos de ação no tempo e no espaço da cidade, canalizados através de estruturas urbanas e moldadas por padrões de apropriação e complementaridade funcional. Esses são os tempos e os espaços de emergência dos encontros. Devido à recursividade dos encontros, as redes pessoais de laços concretos são formadas, e por afinidades compartilhadas de caminhos de ação no tempo e no espaço, emergem progressivamente redes sociais de classes e de grupos. Isso inclui a realização dos potenciais para interação social latente nas próprias afinidades materiais, pois as estruturas espaço-temporal de trajetos distintos permitem maiores compatibilidades entre determinados atores. Incompatibilidades assumem a forma de síncopes na escolha, acesso e sequenciamento desses pontos no espaço e no tempo que compõem nossas ações.

Em outras palavras, em nossos caminhos de ação subjazem probabilidades distintas de encontrar o Outro. Uma forma específica de apropriação espacial remete ao que Sartre (GIDDENS, 1984) definiu como “encerramento dos relacionamentos”. Interação, enquanto a articulação de caminhos de ação, emerge em espaços públicos ou no interior de fronteiras arquitetônicas. O fator material ativo para a coesão interna de redes sociais é a maior probabilidade de encontro. Concomitantemente, é o que as separa gradualmente, no próprio fluxo da vida cotidiana. Se pudéssemos mapear a formação de redes sociais como convergências espaço-temporais de corpos da cidade, talvez pudéssemos entender as consequências da segregação que acompanha o corpo.

Um estudo empírico sobre redes sociais no espaço urbano

Esses padrões podem ser identificados através de métodos que incluem o mapeamento dos caminhos de ação individuais e a análise dos padrões de acessibilidade e redes de transporte urbano. O conjunto dos mapas dos caminhos de ação dos diferentes grupos são descrições espaciais parciais de redes sociais. Técnicas de superposição desses mapas [analógica, computacional ou por meio de sistemas de informação geográfica] podem ser empregadas de maneira a permitir vislumbrar como se dá a interação potencial entre redes sociais no espaço. Desenvolvemos um estudo para ilustrar a aplicação do conceito de redes sociais segregadas em uma situação real, na cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.6 Realizamos um estudo com um grupo de 20 atores de diferentes estratos sociais, que trabalham ou estudam em unidades da Universidade Federal Fluminense distribuídas em três nodalidades [uma unidade de Planejamento Participativo, no centro da cidade; o campus do Valonguinho, no centro; e Praia Vermelha – pontos negros nas figuras 4 e 5], com intuito de analisar seu papel na articulação dos distintos caminhos de ação. Estratos sociais foram baseados na renda familiar mensal dos entrevistados, distribuídos em três categorias: azul [até R$ 1114 ou US$ 637], roxo [R$ 1114 a R$ 4806 ou US$ 2747] e vermelho [acima de R$ 4806 ou US$ 2747]7. Foram coletados dados referentes às rotinas dos atores, desde o momento que eles deixaram suas casas, englobando também outras atividades realizadas durante o dia [local de almoço, compras para casa, etc.]. Também mapeamos os locais que os atores costumam utilizar para atendimento médico, educação, lazer e demais locais de consumo, de maneira a enriquecer as informações espaciais. O nível de sobreposição dos atores no espaço é mostrado pela intensidade das cores de um mesmo grupo. Os mapas mostram atores que moram em diferentes áreas de Niterói e da região.

Figura 4: Os trajetos dos atores na cidade e a segregação como um fenômeno social dinâmico: trajetos de ação em um único dia: azul, roxo e vermelho. Os caminhos dos atores azuis e roxos sobrepõem-se substancialmente. As redes sociais, mesmo fortemente segregadas, tem pontos e linhas de sobreposição em determinados locais – lugares potenciais da coexistência. Fonte: Arquivo dos autores.

Figura 5: Detalhe dos mapas espaciais no Centro: o caminho pedestre é representado por linhas azuis, enquanto o movimento veicular [público ou particular] é representado por linhas contínuas. Fonte: Arquivo dos autores.

O estudo demonstra, primeiramente, o efeito da segregação residencial como a assincronia inicial nos trajetos, com a maioria das residências dos atores azuis e roxos localizados em áreas ao norte. Complexidades nos padrões locais são captadas, dado que atores com menor renda podem residir em lugares acessíveis [como favelas]. Em segundo lugar, podemos observar como pontos de ônibus e locais de consumo e serviços localizados próximos ao local de trabalho ou estudo têm maior potencial de convergência. Um método gráfico (figuras 6 a 8) adiciona a dimensão temporal aos trajetos de ação espaciais, o que permite uma visão de como o padrão de apropriação espacial influencia o potencial de co-presença entre indivíduos pertencentes a estratos sociais distintos. O diagrama mostra as sincronias espaciais potenciais, bem como as disjunções temporais nesses trajetos. No caminho para o trabalho, níveis distintos de mobilidade dos atores podem levá-los a utilizar as mesmas ruas, ou então a variações na estrutura espaço-temporal das rotinas.

Figura 6: Coexistência e divergência: as linhas representam a movimentação dos atores no espaço [variação vertical, onde O é o centro] e no tempo [variação horizontal]. Fonte: Arquivo dos autores.

Figura 7: O diagrama espaço-temporal mostra casos típicos de um estudo empírico em escala micro. A convergência das linhas indica sobreposição potencial de redes sociais, momentos e espaços para reconhecimento do Outro. Fonte: Arquivo dos autores.

5 Termo de Parsons (1971) e Luhmann (1995) apontando as relações funcionais entre ações que formam sistemas sociais.

6 Outros estudos apontam diferenças fundamentais nos modos como atores de diferentes classes se apropriam do espaço: veja Santos, (et. al, 1985), Holanda (2000) e Aguiar (2003). Gostaríamos de agradecer a colaboração de Lessa na ampliação do estudo.

7 Taxa de câmbio em 25 de agosto de 2010.

Figura 8: O diagrama espaço-temporal pode revelar a complexidade dos caminhos de ação de atores na cidade. Fonte: Arquivo dos autores.

6. A possibilidade [urbana] da coexistência

O presente trabalho se propôs a trazer uma abordagem alternativa à segregação espacialmente estática, visando, para tanto, capturar os trajetos dos corpos no espaço, e os locais onde os corpos podem ser reconhecidos como sinal de diferença social, alteridade e identidade. Considerou a vida cotidiana nas cidades como atos imersos em possibilidades controladas de interação naturalizadas em estilos de vida e padrões de apropriação compartilhados entre aqueles com posições sociais similares.

Gostaríamos de sugerir ainda que o conceito de padrões de encontro concentrados ou dispersos no tempo e no espaço pode ser utilizado mesmo em sociedades mais homogêneas, e focados em grupos de naturezas e escalas distintas. Esse conceito nos permite entender a distância estrutural entre atores como sendo intrínseca à formação de redes sociais. Restrições da interação são baseadas em diferentes capacidades de atuação e mobilidade no sentido de gerar situações temporais e espaciais pra reproduzir encontros e divergir encontros entre os socialmente diferentes – potencialmente dessincronizando suas práticas no tempo-espaço da cidade. Configura-se assim redes sociais espacializadas, altamente dinâmicas e com pouca superposição. Em outras palavras, diferenças na apropriação implicam em especificidades de formação de redes sociais, potencialmente reproduzindo uma distância social estrutural. Nesse caso, redes sociais diferentes, mesmo que eventualmente sobrepostas, tendem a não produzir convergências suficientes em intensidade e forma apropriada para serem efetivamente entrelaçadas pela interação recursiva, que permite o contato efetivo com o Outro.

Nesse cenário de possibilidade de segregação sobre o corpo, como situamos o design da coexistência? Talvez a questão mais apropriada seja “como podemos projetar espaços e planejar cidades de maneira a estimular a coexistência?” Qualquer resposta a essa questão deve ter como base o conhecimento de quais as espacialidades que de fato potencializam a coexistência. Diversidade urbana de atividades, socialidades, complexidade do padrão de localização, acessibilidade e mobilidade são claramente características-chave a serem incluídas em tais ações de projeto. O conceito de rede social espacializada tem como foco as condições de coexistência como convergência de ações que não deixam traços visíveis: momentos fugidios, encontros e interações que desaparecem de maneira tão súbita quanto surgem; e foca nos corpos e espaços como condições cotidianas para formação e interação de mundos sociais distintos dentro de uma mesma cidade.

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Social networks in the city, or the urban condition of coexistence

Vinicius de Moraes Netto, Roberto Paschoalino, Maira Pinheiro

Vinicius de Moraes Netto is an Architect, PhD in Advanced Studies in Architecture and Associate Professor at Universidade Federal Fluminense, Brazil.

Roberto Paschoalino is a Social Scientist, Rsearcher at the Center for Housing and Urban Studies and Design, Brazil.

Maira Pinheiro is a researcher at the Center for Housing and Urban Studies and Design, Brazil.

How to quote this text: Netto, V. de M. Paschoalino, R. and Pinheiro, M., 2010. Social networks in the city, or the urban condition of coexistence, V!RUS, 04, [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus04/?sec=4&item=5&lang=en>. [Accessed: 27 04 2024].

Abstract

The present work brings an alternative approach to the possibility of designing coexistence in the city. It proposes that before conceiving and designing the spaces of coexistence, we need to understand the urban conditions to promote the recognition of differences of groups and classes in concrete spaces. It develops an approach able to identify different patterns of spatial appropriation deeply related to social networks formation: the spatialisation of practices and bodily movement. In turn, they constitute patterns of encounter and controlled possibilities of communication at the heart of the emergence of social networks. The paper aims to address processes of real-time segregationin our cities, unveiling roles of space in generating convergences and divergences of different socialities in urban experience.

Key words: real-time segregation, coexistence, otherness.

1. Introduction: understandingbefore designingcoexistence

One of our major concerns is to assert the possibility of the “contemporary city as a locus of the plurality, of communication among the socially different, of of acknowledging the Other. This paper investigates the conditions through which plurality, social diversity and actual communication among socially different people may emerge. It addresses directly the complexity of potentially connected actions and interactions that compose everyday lives in the formation of social networks. It argues that, before trying to conceive and design the spaces of coexistence, we need to understand the urban conditions to promote coexistence and the possibility of recognition and interaction of different social groups and classes – or how the city may relate to coexistence through its very concrete spatiality. This paper aims to describe processes of real-time segregation in the city, trying to unveil the role of actual space to approximate segregated worlds in order to relate different socialities within the city.

The problem of social exclusion is indeed generally related to segregation, defined as restrictions which place limits upon contact, communication and social relations, or limits on social interaction (Freeman, 1978). As far as urban approaches are concerned, segregation is usually seen as the process of formation of socially and spatially differentiated areas. We see spatial segregation as a means to engender social distance. Space separates.

However, people do not remain static in these areas. People move through spaces within the city, appropriate different places in different situations – from commuting to work or going to places for having fun or socialising. We may think that mobility could well render space an obsolete means of producing, setting or embedding segregation. Yet, as we shall see below, mobility varies according to social inequalities and context, and in many different regions and cities, segregation still appears as a strong feature – even in current, 21st century urban life and its high mobility and connectivity (Thrift, 2008). So why do we still observe segregation as an active part of social life in our cities? Our cities still seem like efficient machines of distance between the socially different. The core of our argument is that, since our societies are interaction systems of such complexity and we are so mobile, we have to see space beyond usual views of spatial segregation. This paper proposes a look into spaces deeply intertwined in social actions, daily movements and interactions. Indeed, that would imply penetrating a highly complex and elusive substance of the social, a virtually traceless maze of actions and interactions. In order to do so, we shall first (i) shift the substantive focus from segregated spaces to the centrality of the body in mediating potential interaction between the socially different, i.e. from identifying where different people live to identifying how they move, act and interact in the city as attributes of their own social condition; (ii) identify how people get to know each other and their social networks are formed, so that similarities in their actions and lifestyles may be seen with a role in putting them together or apart as segregated networks, in order to see (iii) how social differences turn into structural distance, and the Other a form of unknown Otherness. Those would be descriptions of the emergence and relation of different social worlds within a same city. We shall see how differences in the forms people appropriate space to live, move, work and so on are put into action, shaping how they perform and meet and how their personal networks are constituted beyond the appearance of random encounters. Then, we shall see how sequences of encounters in time-space structure social networks, and similarities and differences in daily urban practices turn into internally cohesive socialities – and consist of the very movements of a real-time form of segregation. In such form of social reproduction, the city ceases to be a means of generating interactions that may relate the socially different, and ensure coexistence.

The present work addresses instances that constitute social life, where the problem lies de facto: the acts we perform in the city, collectively immersed in duties and activities of social reproduction – instances hold an unsuspected manifestation: the subtle penetration of social distance well within in the realm of everyday life. That is a problem we have become accustomed to exactly because it constantly cuts across our urban experience: how socially differentiated acting subjects moving through and appropriating spaces of the city do so while virtually unacknowledged to ourselves.

2. The condition of coexistence: how we experience urban space socially

I would like to advance a microstructural approach to social coexistence and its opposite, social segregation, using a well-known notion, “social network”, here meaning open sets of relationships among social beings.1 That is a concept able to deal with different scales of social relations based on ethnic, class or group interactions, which may be materially extended in order to deal with the spatial conditions of social integration in different contexts. This approach is also based on a second concept – one able to identify different forms of appropriation of urban space that may be related to different groups. Appropriation patterns have to do with forms of enacting space socially. They are intimately related to mobility and the capabilities of carrying on activities in the city. In uneven societies, certain social groups and classes have limited budgets to absorb costs of transportation, or cannot afford to have private cars. Income also matters in the number of consumption activities one is able to engage.

Let me advance a form of analysing the city beyond segregated areas: if we draw upon configurational studies,2 we may consider the city as a spatial network of streets and activity locations. Encounters are either dispersed in streets or polarised in places like bus stops, underground stations, work, leisure and consumption places, or complex buildings like shopping centers or universities. These activities are “attractors” to social agents: it is within buildings that a substantial part of social life comes into being, like communication and the possibility of relating individual acts into complexes of actions that make up societies.3 Urban activities are highly related to the roles they play in social life [spanning from functional and economic to symbolic and non-instrumental] and to socially differentiated communities or groups. We may join a particular activity if it interests us, if we have a role to play there, if we may afford it, and if we may get there – and before that, if we are able to know where it is or that it exists in the first place. Now all these things mean that the plethora of activities that make up cities are either not interesting or accessible [socially and/or spatially] to everyone. Nevertheless, they are still attractive to groups willing and able to access them and participate in those ongoing social situations. They have impacts over our actions, being the spark to the maze of movement emanating from residential locations. Movement, in turn, frequently involves large distances, covered by pedestrian movement, public or private forms of transport [from the underground and buses to private cars]. These forms affect it as much as the street network that connects all these places. The appropriation of space relates to the number of places and activities one may reach, and public spaces one passes through. If movement and action left visible traces in space, we would see such spatial networks of appropriation. Relating these paths to specific groups’ appropriation patterns and how they are active in social networks formation, is, in essence, the aim and method this paper undertakes.

Now, if we were able to relate different appropriation patterns embedding these spatio-temporal paths to different social groups, we could start to see networks also as differentiated networks – as channels and “nodalities” of social convergence. Certain groups would move through somewhat different streets [even though many of them may be in common] and appropriate certain locations more than others.4 These spatialised networks of appropriation are traces of our effective presence in space. If we could map at least part of these paths, we could have a good idea of how socially differentiated groups spatialise their actions. Importantly, patterns of appropriation of space shape the material action of agents. When they do so, they tend to have effects over the potential to social interaction, and over the very formation of actual relations between people, the passage from the spatiality of interaction to the emergence of social networks. The theoretical path we wish to explore goes as follows:

Patterns of appropriation of space -> Patterns of encounter in space

-> Patterns of social network formation

-> Generation of coexistence / different social worlds in the city

3. Social network formation in space

What is the chance of meeting people from other social groups? If we could understand how space is part of possibilities of encounters, we would take a key step in understanding the dynamics of coexistence / segregation manifested upon the body. The way we enact the city is the key here. It is active in the generation of the main ‘substance’ out of which social networks are formed: encounters. Giddens (1984) notion of seriality of encounters as a means to the coordination of, social organization and integration interactions in time and space is certainly helpful. We would like to add to this a second notion: that of societies as systems of encounters (Hillier and Hanson, 1984). These two notions will help us understand the role of encounter in the reproduction of socialities, and to define a notion of patterns of encounters as sequences active in the definition of circumstances of co-presence and effective interaction in heterogeneous societies.

Being in a same place as other acting subjects is of course the condition of actual interaction [as opposed to dematerialized interactions through the internet, which have a completely different nature and role; virtual encounters hardly could hold a society together]. The formation of social networks depends on circumstances of co-presence, in turn a matter of access to ongoing activities in a city. Social situations are spatially arranged in a way that renders them subject to different features of social and spatial access: they may be outside one’s field of social interests, budget or spatial capabilities. Action paths are shaped by urban structures, potentials of mobility and social interests: sequences of encounters in specific places will depend upon them. Urban structures and spatial patterns of location and accessibility in a city matter: they imply streets and areas and places where we are most likely to converge to in our daily lives and routines. Spaces that compose “daily paths” (Hägerstrand, 1970) constitute the dots of convergence of the maze of life lines – vortexes of co-presence and potential interaction (figure 1).

Figure 1: Urban nodalities converge actors and their “lifelines” in time-space. Source: Authors' archives.

The city is enacted like a structure of polarised places accessed in different moments. These nodalities increase the potential to converge actors sharing similar powers to move and enact the city; they are the spatial dots in the formation of a particular social network. The broader and more complex the pattern of appropriation of space [and the social and spatial mobility embedded in it], the broader one’s potential to form personal social networks spread over this geography. That tends to be the case of groups of higher income, able to afford costs with transportation and consumption. Activity places produced by and for those social groups may also be less reliant on a specific location pattern – they may be spatially distant from each other. In this case, the major factor to build social relationships and personal networks shifts from “proximity” to “mobility” itself. This power of spatial mobility and social access allows agents to join a higher number of activities, and these places mediate new encounters and potentially new relationships.

Social groups and classes with less power to move and enact the city have patterns of appropriation of space that demand more theoretical attention, since there are regional differences in the balance of inequalities. In strongly unequal cities, these groups have very limited budgets to invest in activities of consumption, so leisure activities are constrained by those factors – which in turn generate other forms of appropriating space for organising social life. Observations and empirical studies [see below] show that these groups are more closely related to the areas and public spaces around home to interact and develop relationships. Of course, these groups also produce social nodalities, which also articulate sequences of social situations and recursive interaction in space-time frames more adequate for communication and social network formation. It is also very important to consider that there is indeed a range of non-dependency on proximity in the pattern of spatial appropriation of these social groups. Activities placed around work increase the range of appropriation of city space, even if tied to the temporal frame of work. Public transport and increasing ownership of private cars certainly allow broader and more complex paths and geometries of movement over the city structure. However, as mobility is refrained by limited budgets and spatial friction, there is still an overall tendency to a local level of appropriation, with spatial ranges frequently limited or shaped by the pedestrian range of movement.

Based on these observations, we propose two typical spatial patterns of personal networks: (i) networks based on more complex patterns of appropriation and more power to move and enact in the city; and (ii) localized networks, based on proximity-dependent appropriation patterns and social encounter systems. The differentiation between these two is clearer in strongly uneven societies.

4. Exclusion and segregated networks

Figure 2: Mapping paths of agents moving through city spaces allows a deeper assessment of segregation as a real-time phenomenon. Social networks, even strongly segregated, may overlap in certain streets and places. Source: Authors' archives.

We may infer from these observations that spatially complex personal networks are able to mix with more intensity (figure 2). Potential to mobility and access to different social situations distributed in space according to accessibility patterns shape geographically the social reach of networks. Different nodalities will articulate differently the sequences of encounter and the formation of differentiated networks. Groups and classes of higher income, more mobile, tend to have a stronger potential to have a broader knowledge of their own group or class. Encounter may succeed more intensively, as agents may overlap recursively over distinct places and get to know other personal networks. In less mobile social groups, recursivity of encounters is strongly dependent on spatial proximity.

Group and class networks are structured through more likely connections of personal networks, in turn affected by appropriation patterns. A step further, spatial differences in patterns of appropriation which anchor social networks imply incompatibilities in the sequencing and location of social situations that could overlap them: a disarticulation of encounters that becomes intertwined in relationships. Differences in lifestyles and income, spatial mobility and social access to events bring mismatches in the very spatio-temporal structure of actions of socially different agents. It consists of a displacement of the material possibilities of co-presence, communication, and the probability of new encounters. In other words, there is a higher probability of social networks absorb agents sharing similar appropriation patterns, however complex or spread over the city those coexistent patterns may be. In addition, daily paths affect the course of one’s life – her activities, circle of friends, the time available, opportunities of work. They compose the material structure of social life, constantly changing the future scenario of social actions and interactions.

1 Our discursive and visual use of the notion is different from uses in Social Network Analysis and other graph theoretical approaches (e.g. Gravonetter, 1973; Scott, 1991; Wasserman and Faust, 1994; Freeman, 2006). This approach was first developed in Netto and Krafta (1999).

2 Kruger (1979), Hillier and Hanson (1984), Krafta (1994) and Holanda (2002).

3 We draw this observation upon Habermas (1984)

4 Gonzales et al’s (2008) extensive data base of mobility recorded through mobile phone calls in American cities showed a remarkable tendency to recursivity in movement and appropriation of spaces and places

Synchronicity and complementarity of actions

These descriptions evoke the complexity of social life and its material conditions. But if one’s action path already seems something so difficult to apprehend, how can we see personal paths intertwining or diverging in urban space? How can we have a broader picture – a picture of the whole of these spatially tangled life lines? We connected the constraints and possibilities of joining social situations to the role of urban nodalities and spatial patterns in structuring the very formation of [differentiated] social networks. We would like to deepen the descriptions of these highly elusive processes of social aggregation / disaggregation through a set of notions. First, we shall propose the extension of a concept originally found in spatial economics: the idea of urban complementarity, and break it down in three: (a) the usual complementarity of urban activities located in space; and its unfolding into (b) the complementarity of actions among agents, and (c) the complementarity of actions within one’s own routine or action plan. These three articulated complementarities lie at the heart of the urban reproduction of social life – what keeps us together as localised social systems. Second, we shall also break down Giddens’ (1984) notion of routinisation in two: synchronicity [the simultaneous occurrence of social events and actions with no discernible causal connection] and recursivity of agents’ actions [the drive to repetition, a notion also explored by Giddens]. The unfolding of these two original notions should serve us to penetrate into the relation of individual actions and the urban activity system in the generation of the circumstances of co-presence and interaction, and how social networks are spatially produced and reproduced. Our intention is to demonstrate the city as a material system of possibilities of action, encounter and communication:

Urban structure -> Synchronised / diachronous action paths in space

-> Convergence / divergence of differentiated networks

The concepts of recursivity, synchronicity and complementarities of actions paths as manifestations of urban activities and routines encompass, accordingly (a) the temporally vertical condition of action [connection5 through repetition: actions are frequently recursive in time]; (b) the social and functional condition of action [connection through systemic interdependencies: actions are embedded in interrelated, complementary social situations]; and (c) the systemic bridge between these two conditions [connection through proper periods to carry on particular activities: during their actualization or through exchanges of their outputs, social actions are partially synchronized or aligned in time and in space]. This analytical framework is intended to grasp the elusiveness of cooperation of action, and unveil both the fragility engendered by the volatile condition of interaction to come into being, and the strength of a massive and recursive system of actions geared to functional organization. In turn, social organization is collectively produced and reproduced through synchrony and a material structure: the city itself. Aiming to describe the possibility of superimposition of agents’ daily paths, it ends up reaching the relation between emerging socialities within a localized social world and its urbanized structure: aspects of the material organization of social action.

The urban scenario of multiple social nodalities attracting and converging life lines intermittently and simultaneously, randomly yet structurally, contains a complex form of internal synchronies – to be sure, immersed in syncopation - due to the mutual dependency of chains of actions and activities, their complementarity and the relative coordination of actions. Even when free from temporal frameworks, actions are always already bound to spatial structure and spaces that elude structure [perhaps the very interstitial spaces of Otherness]. Such analytical reduction of the complexities of daily actions in a city seems potentially meaningful: they are observed in the material structuration and routinization of life, and refer to the social and material actualization of daily individual efforts and the association of practices – temporal and functional challenges of social reproduction that we take for granted. Here, space finds a role of difficult theoretical grasp: we must imagine agents immersed in activities arranged in frames of time, some simultaneously converging in points of urban space, which in turn might be empty in the next moment. Seeing the spatiality of the tremendously complex maze of social convergences and divergences is virtually impossible – but reductions of such scenario would probably help us understand the dynamics of social life and the conditions of integration and segregation. Excerpts from this spatio-temporal form of the social organization may be mapped in a four-dimensional diagram (figure 3). Activities performed in T1, T2 and T3 happen in different moments or concentrations of time; in those moments, we have the convergence/divergence of the routines of different agents or lifelines.

Figure 3: Social networks enacting the city: recursivity, synchronicity and complementarity of actions in time, and patterns of appropriation, accessibility and complementarity of activities in location patterns in space shape both randomness and pattern in the possibilities of encountering the socially different. Source: Authors' archives.

5. Randomness and contingency of encounters

All organizations involve the co-ordination of interaction in flows of time-space relations ‘channeled’ through contexts and locales (Giddens, 1984, p.77).

In order to see how the city as the locus of coexistence operates through differentiations within the everyday flows of interaction in time-space mentioned by Giddens, we would like to tie this set of concepts a little tighter as to penetrate the chains of actions based on co-presence that constitute the formation of social groups and networks. A substantive key into that structure is the possibility of convergence of actions into specific places. We may understand the generation of differentiated flows of action emerging from the sequencing of social situations in specific sets of activity places – say,

within the “work place → lunch place → work place → leisure activity → residence” structure – with a relatively synchronised and recursive convergence, having as a result the amplification of possibilities of encounter of socially similar agents [and by extension, groups and classes]. These places consist of the material backbone of the crisscrossing of individual paths and the production of relationships. Due to such temporal structure [especially in weekdays] and distribution in activity places [especially largely attractive and functionally structural activity-places, such as universities, hospitals, underground stations, shopping centers] in internally heterogeneous structures, we may find different densities of encounter, as well as the reproductive forces of segregation. A step further, social reproduction itself is constituted through [and constitute in return] convergences of life lines in spaces and times both in contingent and non-contingent ways. Contingency is of course hard to grasp theoretically, but we could tame it if we understood that actions, if they are to be social, operate in a relational fashion, and that even contingency and randomness may be materially distributed and concentrated – especially if we produce space in order to relate our actions and interactions.

In fact, we suggest that cities are devices exactly for compressing the absolute randomness and contingency of interaction into a form of “reduction of complexity”, i.e. the reduction of possibilities and unpredictability of interaction choices [in Luhmann’s sense]. Societies would structure space in the form of cities not only as a way to ensure socioeconomic exchange [as correctly asserted in spatial economics]. Farther and more subtly than that, they seem to do so as a way of dealing with the elusiveness of encounter, the fragile material condition of interaction, and the risks of a functionally unbearable level of syncopation in the association of action courses. Associations engendered by unstructured spaces or by complete, non-urban spatial dispersion would be socially and economically too costly for becoming the material backbone of interactions. If urban space is collectively and historically structured, then this very structure may well have the effect of converging bodies and acts into increasing possibilities of interaction, and the actualization of these possibilities into actual flows of interaction and communication heterogeneously distributed in a heterogeneous structure. Interactions are systemically related and anchored in nodalities distributed in urban space, which connect action paths and articulate what we experience collectively as social life. Such reduction is potentially useful to show the relative synchrony of actions performed in activity places distributed according to their complementarity, which in turn shape location and accessibility patterns – and beyond, into interstitial spatialities which may articulate particular social networks. In such a complex spatio-temporal frame lies a possibility of understanding the overlapping of action paths of differentiated groups within a city. Even if frequencies change, recursivity is likely to bring agents to certain spaces in their attempt to carry on their daily activities. Despite temporal differences, bodily presence may happen over and over and increase chances of encounters, having as variables the size of the urban system, diversity of activities and positions of groups and classes in their social space [in Bourdieu’s terms].

So space still matters in social segregation – but in a way far more complex than segregated areas and with far more potential for integrating and segregating actors. Together, this set of concepts aims at uncovering the dynamics of localized social systems and their conditions of integration or segregation. Spaces of high centrality and accessibility are likely to overlap social networks in their paths to nodalities in search of interaction, increasing the potential to co-presence and recursivity of encounters. Additionally, appropriation happens in chains: from one place to the next, according to their complementarity within our routines, spatially stimulated by complementarity in location. A major feature of accessible spaces is precisely to allow complementarity within our routines, supported within shorter ranges easily covered. Of course, that increases the probability of encounter. Such probabilities are distributed according to spatial and temporal frames of action. Accessible spaces are potentially strong for converging different social groups and articulating private lives into collective life.

Indeed social contents of architectural morphologies distributed along accessibility structures have an important role in the reproduction of social relations and the configuration of social networks. However, the variety of action flows in a city – taking into account the complexity of selection among activities available in a city – generates a highly changeable panorama of encounters. We have seen that this complexity may be broken down through the idea that a same place articulates many action paths. Temporally, agents’ paths converge apparently randomly, but in fact do so according to specific patterns of complementarity, recursivity and synchronicity. Spatially, paths are shaped by forms of appropriating space [the power of spatial mobility and social access] and social differentiation. Together, these material properties of action ensure the passage from individual action to social action, and consist of the very material condition of social organisation and reproduction (cf. Netto 2007; 2008). They do so, but in no mechanistic way: social organisation and reproduction involve high flexibility and variability in the material arrangement of action paths described. There is a direct relation between encounter patterns and spatial patterns, but one deeply embedded in probabilities and surrounded by randomness – a non-determinant relation where contingencies take the form of diachronism and distinct spatial choices. Randomness is never out of the process, but it is somewhat structured and filtered into partially identifiable probabilities – it is both around and within the fragile, elusive structures of social action. Action paths will converge or diverge as places and times of encounters according to the social differentiation of space itself. Life lines will meet synchronously within the organization of action flows in the time-space of the city, channeled through urban structures and molded by appropriation patterns and functional complementarity. These will be the spaces and times of constitution of encounters. From the recursivity of encounters, social ties of personal networks are formed, and by sheer affinities in the spatio-temporality of action paths group and class networks progressively emerge. That includes the actualization of a potential to social interaction latent in those very material affinities. The very spatio-temporal structure of differentiated paths will allow more compatibility among certain actors. Incompatibilities take the form of syncopation in the choice, access and sequencing of those dots of space and time that compose our action paths. In other words, within our action paths lie distinct probabilities of encountering the Other.

A specific form of spatial appropriation relates to what Sartre (Giddens, 1984) defined as the “enclosure of relationships.” Interaction, as the articulation of action paths, emerges in public spaces or within architectural borders. However, different appropriation and network formation patterns affect the possibility of interaction. The active material factor for the internal cohesion of social networks is the higher probability of encounter. At the same time, that is what separates them progressively, in the very flux of everyday life. If we could map network formations as spatio-temporal convergences of bodies in the city, perhaps we could understand the consequences of the segregation upon the body.

Empirical descriptions

These patterns can be identified through methods including mapping of individual daily paths and the analysis of accessibility patterns and transport systems in a city. The collection of maps of action of differentiated groups6 generated either way are partial spatial descriptions of social networks. Techniques to superimpose these maps [analogical, algorithmic, or through geographical information systems] may be employed in order to assess how social networks potentially interrelate through space. We carried on a study of the second type in order to illustrate the application of the concept of segregated networks in a real context, the city of Niteroi in the Rio de Janeiro metropolitan region. We geared the study to a group of twenty people of different social classes picked randomly who attend activities in three units in Universidade Federal Fluminense located in the city centre [black dots in figures 4 and 5], in order to analyze their role in articulating distinct action paths. The study was based on income levels [up to R$ 1114 or U$ 637, from R$1114 to R$ 4806 or U$ 2747, and above R$ 4806 or U$ 2747 monthly]7 represented as blue, purple and red paths. We interviewed and mapped their paths from the time agents leave home to work and other activities during a typical routine day. We also mapped medical service, education, leisure and consumption places, as a way to enrich spatial information. Activity places are not differentiated out in the diagram, although this information is recorded. The level of superimposition of agents in space is shown by the intensity of colors of a same group. Maps show agents living in different areas in Niteroi and region.

Figure 4: Spatial networks: action paths in a single day; blue [up to U$ 637], purple [U$ 2747] and red [above U$ 2747]. Blue and purple agents’ paths substantially overlap, but purple agents have more mobility and reach. Source: Authors' archives.

Figure 5: Zooming in: pedestrian movement is represented by dashed lines; public and private vehicular movement by continuous lines. Source: Authors' archives.

The study shows, first, the effect of residential segregation as initial asynchronies in agents’ paths, with most blue and purple residences located in the north area. Complexities in location patterns are captured, as lower income agents may also live in accessible intra-urban locations [namely, favelas]. Second, we may observe how the position of places like a central bus station, consumption and service generate spaces of potential convergence around the work place. A graphic method (figures 6 to 8) adds the temporal dimension to the spatial action paths. It allows a different view into how appropriation and spatial patterns affect the potential to co-presence among the socially different. The diagram shows potential spatial synchronies as well as temporal disjunctions in these paths. When commuting to work, even distinct mobility levels may bring them to the same streets, as well as to variations in the spatio-temporal structure of their routines.

Figure 6: Coexistence and divergence: lines represent agents moving from the centre [vertical variation] and in time [horizontal variation]. A selection of three patterns: a highly pedestrian purple agent located in central area [a favela]; the spatio-temporal diagram shows properties of spaces based on distance from the centre. A red agent works part time from home, electronically networking with colleagues. The blue line shows a very typical action path for lower income agents. Source: Authors' archives.

Figure 7: The spatio-temporal diagram shows typical cases in a micro-scale empirical study. The convergence of lines indicates potential overlapping of networks and times and spaces for acknowledging the Other. Source: Authors' archives.

Figure 8: Spatio-temporal diagrams may grasp the complexity of daily action paths in the city. Source: Authors' archives.

6. The [urban] possibility of coexistence

The present work attempted to bring an alternative approach to segregation as a spatially static phenomenon. This approach captures instead the paths of the body in space, and the spaces and places where the body is segregated [even outside segregated areas] and places where the body may be recognized as a sign of social difference, alterity and identity. The paper approached daily life in cities as agencies immersed in controlled possibilities of interaction naturalized in lifestyles and appropriation patterns shared among those with similar social positions. The notion of encounter patterns concentrated or dispersed in time and space may be general enough to be recognized even in societies that are more homogeneous.

5 A notion developed by Parsons (1971) and Luhmann (1995) related to functional relations of actions in a social system.

6 Other studies point out substantial differentes in the ways socially actors different [according to class] appropriate urban space: see Santos et al (1985), Holanda (2000) and Aguiar (2003). We would like to thank the valuable contribution of Lessa in this empirical study.

7 Exchange rate in August 25th 2010.

These concepts allow us to understand the structural distance among agents as intrinsic to the very formation of networks. Controlled interaction is based on different social and spatial capacities to generate temporal and spatial situations to reproduce encounters and to diverge possibilities of encounter among the socially different – potentially desynchronizing their practices in the time-space of the city. Such emergences take the form of highly dynamic spatialised social networks with little superimposition. In other words, differences in appropriation imply specificities in the formation of social networks that lead into structural distance. Differentiated social networks, even moving along one another at times, lack convergences in number and nature appropriate to effectively intertwine through recursive interaction which would allow the contact with the other.

What about designing coexistence? Perhaps the best question is “how can we design spaces and plan cities in order to stimulate coexistence?” Any answer to such question must feed from knowledge of what spatialities actually generate coexistence. Urban diversity in activities, socialities; complexity in location patterns; accessibility and mobility are clearly key properties to be included in such actions. The concept of spatialised social networks was intended to focus on the conditions of coexistence as convergences of actions that do not leave visible traces easily: elusive movements, encounters and interactions that disappear virtually as soon as come into being, and bodies and spaces as real-time conditions for the formation of interacting social worlds within a same city.

References

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