Coexistência: notas para um projeto de pesquisa

Denise Mônaco dos Santos

Denise Mônaco dos Santos é Arquiteta, Doutora em Arquitetura e Urbanismo, pesquisadora do Nomads.usp, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

Como citar esse texto: SANTOS, D. M. Coexistência: notas para um projeto de pesquisa.V!RUS, São Carlos, n. 4, dez. 2010. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus04/?sec=6&item=1&lang=pt>. Acesso em: 27 04 2024.

A tolerância consiste em ter crenças e aceitar dialogar com outras pessoas que têm convicções diferentes. É chegar a um consenso com os outros para estabelecer uma coexistência dinâmica e engajar-se em um processo de enriquecimento mútuo permanente (CHELIKANI, 1999, p.30).

Durante o primeiro semestre de 2010, todos os pesquisadores do Nomads.usp foram convidados a participar de diversas sessões de trabalho onde as pesquisas do Núcleo deveriam ser reestruturadas em torno de uma ampla temática comum. O resultado último dessas sessões de trabalho foi a elaboração de um projeto de pesquisa, por ora chamado Territórios Híbridos: meios digitais, comunidades e ações culturais, ou T-híbridos, conforme acrônimo usado pelo Nomads.usp. O objetivo desse texto é apresentar alguns referenciais teóricos desse projeto que, por um lado, sintetiza grande parte dos caminhos percorridos pelas pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo na área até então, e por outro, sinaliza os interesses e inquietações que norteiam diversos trabalhos em andamento.

O foco central do projeto T-híbridos é dar continuidade à exploração da constituição de espacialidades híbridas, combinando a realização de ações de cunho cultural nas instâncias concreta e virtual em territórios urbanos, ampliando as possibilidades de uso de mídias digitais em ações culturais, tendo como perspectiva as políticas públicas.1 Tal ampliação considera, principalmente, a constituição de espacialidades híbridas em espaços urbanos como possibilidade de desenho da coexistência na cidade. Nesse sentido, a questão da coexistência, em suas possíveis e diferentes abordagens, é central ao projeto, e de grande interesse para o Nomads.usp hoje. É o ponto para o qual converge a busca de interlocuções do Núcleo, expressa nesta edição da V!RUS.

Coexistência e tolerância parecem fazer parte de um conjunto de conceitos que florescem na contemporaneidade, primeiramente, nos circuitos das instituições e organizações que realizam ações e práticas junto a determinadas populações, comunidades e grupos sujeitos a condições desiguais, ou vivências excludentes e conflituosas, para depois ganhar destaque no universo acadêmico. Trata-se de conceitos e noções empregados em contextos específicos de relações entre grupos, mas com sentidos bastante amplos, que lhes imprimem uma carga de imprecisões e ambigüidades que reflexões no campo das Ciências Sociais procuram manifestar, buscando aprofundar e ampliar as práticas a eles associadas. Bar-Tal diz que,

Em essência, eles têm sido mais utilizados para descrever estados desejados aos quais sociedades, nações ou estados deveriam aspirar. O pressuposto fundamental no desenvolvimento desses conceitos tem sido o de que o sistema de relações intergrupais, atualmente prevalecente em muitos países, está longe de ser satisfatório e que há necessidade de mudá-los completamente, ou pelo menos melhorá-los. (BAR-TAL, 2004. P.253)

A qualidade, condição ou estado de existência simultânea é o significado literal que o termo coexistência ainda assume em diversos dicionários (Ferreira, 1986; Houaiss, 2002; LONGMAN, 1995). Entretanto, coexistência é uma noção que está se consolidando sobre novas bases, associada à existência simultânea de opostos e, ainda, relacionada prioritariamente a situações de conflitos, sejam eles, étnicos, religiosos, políticos, ideológicos, culturais, de classe, de identidades, de gênero, entre outros.

Coexistência não é um conceito muito popular entre os cientistas sociais e educacionais do mundo e, portanto, é raramente usado em comparação com outros conceitos que descrevem relações intergrupais positivas (Weiner, 1998). Uma razão para isso é a indefinição e indistinção do conceito e outra é que ele se refere apenas a relações intergrupais minimamente positivas (BAR-TAL, 2004, p.256).

Celi Regina Pinto (2001, p.48) destaca uma questão parecida quando se trata da noção de tolerância, “muito associada à multiplicidade de identidades, novas e antigas, que buscam espaços de legitimidade para suas práticas específicas” e, portanto, nesse sentido, também de interesse quando se trata de fomentar relações positivas entre grupos:

Em que pese haver uma espécie de boa vontade generalizada com a noção de tolerância, não me parece que seja uma categoria simples. Ao contrário, tal noção é bastante complexa, está povoada de implicações morais, éticas, religiosas e de relações de poder, podendo ser facilmente intercambiada com as idéias de compaixão, compreensão, amor ao próximo. (PINTO, 2001, p.44)

A definição de tolerância proposta pela UNESCO (1995) em sua Declaração de princípios sobre a tolerância, ainda que louvável e de importância reconhecida, não explicita tais implicações. Pelo contrário, parece justamente presa a valores a serem buscados pelos seres humanos:

A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. [...] A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem (UNESCO, 1995, p.11-12).

É importante perceber que, ao se apropriar dessas noções, ainda mais em um contexto que envolve aplicações práticas, precisa-se romper com as definições de senso comum, superficiais, sob pena de engendrar-se em proposições ingênuas e inócuas. A noção de tolerância, quando examinada com mais atenção, ainda não consegue desvincular-se de seus sentidos negativos, ligados principalmente à capacidade de suportar algo – o sofrimento ou o outro, ou romper com as relações de poder que constituem as relações entre tolerantes e tolerados (PINTO, 2001; DALLARI, 2003).

Para Pinto,

[...] os tolerantes só o são porque têm poder, para que a relação assimétrica entre os tolerantes e os tolerados mude de qualidade a discussão toma outra direção: devemos redirecioná-la no sentido de buscar formas de redistribuição de poder na sociedade que tenham como resultado o fim da necessidade de alguns grupos identitários dependerem da tolerância para garantir até mesmo suas vidas (PINTO, 2001, p.61).

Entretanto, há um esforço, nos dias atuais, em trazer para a agenda das práticas com grupos a tolerância em seus sentidos positivos, frente às impossibilidades impostas pelas situações conflituosas a serem enfrentadas:

[...] o uso moderno e a análise filosófica incluem, em qualquer definição contemporânea de tolerância, determinado número de elementos. A tolerância é, essencialmente, uma virtude pessoal que reflete a atitude e a conduta social de um indivíduo ou o comportamento de um grupo. Pode ser a idéia, a capacidade ou o gesto de voltar-se para uma realidade diferente de sua própria maneira de ser, de agir ou de pensar. Pode ser uma postura indiferente ou voluntariamente neutra de reconhecimento da existência da diferença ou, então, uma atitude de resistência paciente mesclada de desaprovação. Pode, também, consistir em aceitar a diferença, vendo nela uma fonte de enriquecimento, em vez de demonstrar permissividade em relação às coisas, boas ou más, sem julgá-las (CHELIKANI, 1999, p.23-24).

Com relação à coexistência, o conjunto de definições parece ser menos conflituoso, dado que a noção coexistência não traz consigo aspecto algum ligado a prerrogativas negativas. Entretanto as duas noções, de tolerância e de coexistência, comungam no sentido de ambas trazerem consigo um risco, ainda que velado, de eternizar relações de desigualdade e discriminação (BAR-TAL, 2004; PINTO, 2001).

Khaminwa, da Coexistence International (CI)2, apresenta uma definição de coexistência segundo uma perspectiva de atuação prática, o que implica na estruturação de uma política de coexistência como antídoto contra conflitos:

Coexistência é um estado no qual dois ou mais grupos estão convivendo, respeitando suas diferenças e resolvendo seus conflitos sem violência. [...] No âmago da convivência está a consciência de que indivíduos e grupos diferem de diversas maneiras, incluindo classe, etnia, religião, gênero e inclinação política. Estas identidades de grupo podem ser as causas dos conflitos, contribuir para as causas dos conflitos, ou podem se solidificar à medida que os conflitos se desenvolvem e se intensificam. Uma política de coexistência, no entanto, diminui a probabilidade de que as diferenças entre identidades de grupo se transformem em um conflito prejudicial ou intratável. [...] A coexistência existe antes e depois de conflitos violentos. No entanto, não é estática. Como todos os ambientes sociais, que oscila, dependendo do nível de interação social. Coexistência existe em situações em que indivíduos e comunidades ativamente aceitar e abraçar a diversidade (coexistência ativa) e onde os indivíduos e as comunidades apenas tolerar outros grupos (coexistência passiva). Comunidades que não estão tendo um conflito violento pode ser localizado em qualquer lugar dentro deste intervalo (KHAMINWA, 2003).

É interessante observar que a autora classifica a tolerância como coexistência passiva, ressaltando as relações entre essas duas noções, como o faz também Chelikani, no trecho citado no início deste texto.

Em comum com Khaminwa, Bar-Tal destaca a questão da não violência na sua definição de coexistência. Entretanto, este autor dá uma dimensão psicológica, de estado de mente, à condição de coexistência e sua dinâmica, o que está no centro da sua defesa da possibilidade de educação para a coexistência:

Coexistência, na minha visão, se refere às condições que servem como pré-requisitos fundamentais para a evolução de relações intergrupais harmoniosas avançadas. Refere-se ao real reconhecimento do direito do outro grupo de existir em paz com suas diferenças e à aceitação do outro grupo como um parceiro legítimo e igual com quem divergências devem ser resolvidas de formas não-violentas. [...] Mas o âmago da coexistência se refere a um estado de espírito partilhados pelos membros da sociedade. Nesse sentido, a coexistência é principalmente um processo de formação do repertório psicológico dos membros da sociedade. Os atos acompanhados de cooperação, integração, ou trocas são derivações comportamentais diretas da coexistência (BAR-TAL, 2004, p.245-257).

O autor destaca, ainda, nesse texto, como principais componentes da coexistência, suas condições elementares, além do princípio da não-violência, o reconhecimento da existência legítima do outro grupo, a personalização dos membros do outro grupo e a igualdade de parceria.

Essas duas noções, coexistência e tolerância, tratadas ainda de forma inicial no âmbito do projeto T-híbridos, parecem indicar caminhos para se pensar o sentido da constituição de espacialidades híbridas como desenho de coexistência, principalmente indicando estratégias e possibilidades de ações, abrindo perspectivas a serem exploradas. São conceitos tratados e aplicados a situações de conflitos de múltiplas dimensões, priorizando, entretanto, os mais extremados, que trazem consigo o desejo de abarcar as diferenças no âmbito das relações entre grupos e comunidades e, ainda mais, construir, ao explicitá-las, um processo rico de encontro e de transformações. Pinto destaca que “[...] devemos livrar-nos radicalmente de uma espécie de euforia ingênua em relação à proliferação das diferenças. Constatá-las, buscar suas condições de emergência e suas potencialidades, em vez de simplesmente festejá-las, parece ser um bom caminho” (PINTO, 2001, p.51). Espera-se que, no âmbito do T-Híbridos, possa-se trilhar esse caminho de efetivação fecunda das potencialidades de coexistência de diferenças em meio urbano.

1 Essa exploração foi iniciada no âmbito do projeto Comunidades_online, coordenado pelo Nomads.usp e desenvolvido com diferentes parceiros, entre os anos de 2003 e 2008, em Cidade Tiradentes, distrito da zona leste da cidade de São Paulo, com financiamento da Fapesp na linha de fomento de políticas públicas.

2 Iniciativa da Brandeis University, que desde 2005 se dedica ao “fortalecimento de recursos disponíveis para executores de políticas, profissionais liberais, pesquisadores, advogados e organizações e redes que promovem a coexistência em nível local, nacional e internacional. A CI defende uma abordagem complementar para o trabalho de coexistência, facilitando conexões, aprendizagens, reflexões e pensamento estratégico entre aqueles que atuam no campo da coexistência e profissionais de áreas correlatas” (CI, 2007).

Referências

BAR-TAL, D. Nature, rationale and effectiveness of education for coexistence. Journal
of Social Issues
, v. 60, n. 2, p. 253-271, 2004.

CHELIKANI, R. V. B. J. Reflexões sobre a tolerância. Rio de Janeiro: Garamond, 1999. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001314/131427por.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2010.

CI. Sobre Coexistence International. In: Foco em Coexistência e Recursos Naturais. 2007. Disponível em: <http://www.brandeis.edu/coexistence/linked%20documents/Coex%20and%20Nat%20Resources%20PORT-FINAL.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2010.

DALLARI, D. A. Cotidiano e tolerância. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL CULTURA E INTOLERÂNCIA, 2003, São Paulo. Conferência. São Paulo: SESC Vila Mariana, nov. 2003. Disponível em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/images/upload/conferencias/7.rtf>. Acesso
em: 19 nov. 2010.

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

KHAMINWA, A. N. Coexistence. Beyond Intractability. Eds. Guy Burgess and Heidi Burgess. Conflict Research Consortium, University of Colorado, Boulder. Postado: Julho de 2003. Disponível em: <http://www.beyondintractability.org/essay/coexistence/>. Acesso em 18. nov. 2010.

HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

PINTO, C. R. J. Para além da Tolerância. In: BIASOLI-ALVES, Z.; FISCHMANN, R. (Org.). Criancas e adolescentes: construindo uma cultura da tolerância. São Paulo: Edusp, 2001, p. 43-63.

LONGMAN. Dictionary of contemporary English. 3. ed. Harlow Essex; Longman Group, 1995.

UNESCO. Declaração de Princípios Sobre a Tolerância. Paris, 16 nov. 1995. Disponível em:<http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2010.

WEINER, E. Coexistence work: A new profession. In: E. Weiner (Ed.), The handbook of interethnic existence. New York: Continuum, 1998. p. 13-24.

Coexistence: notes for a research project

Denise Mônaco dos Santos

Denise Mônaco dos Santos is an architect, PhD in Architecture and Urbanism, Post-Doctoral research fellow at Nomads.usp, Department of Architecture and Urbanism, University of Sao Paulo, Brazil.

How to quote this text: Santos, D. M., 2010. Coexistence: notes for a research project. Translated from Portuguese by Fábio Abreu de Queiroz, V!RUS, 04, [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus04/?sec=6&item=1&lang=en>. [Accessed: 27 04 2024].

Tolerance consists in having beliefs and accepting to dialogue with others who have different convictions. It means to reach a consensus with others to establish a dynamic coexistence and engage in a permanent process of mutual enrichment (Chelikani, 1999, p.30).

During the first semester of 2010, all researchers of Nomads.usp were invited to participate in various workshops in which the research at the Center should be restructured around a wide common theme. The ultimate result of these workshops was the production of a research project, for now called "Hybrid Territories: digital media, community and cultural actions", or T-hybrid, as the acronym used at Nomads.usp. This paper aims to present some theoretical frameworks of this project that, on the one hand, synthesizes many of the paths taken by research works developed by the Center in the area until now; and on the other hand, it signals the interests and concerns that guide various ongoing works.

The central focus of the T-hybrid project is to continue the exploration of the constitution of hybrid spatiality, combining the performance of actions of cultural nature in concrete and virtual instances in urban territories, expanding the possibilities of using digital media in cultural actions, with the public policies as a perspective.1 This expansion mainly considers the constitution of hybrid spatialities in urban spaces as a possibility of designing coexistence in the city. In this sense, the issue of coexistence in their different and possible approaches is central to the project, and of great interest to Nomads.usp today. It is the point to which converges the Center’s search for interlocutions, expressed in this issue of the V!RUS journal.

Coexistence and tolerance seem to be part of a set of concepts that flourish in contemporaneity; primarily in circles of institutions and organizations that perform actions and practices among certain populations, communities and groups subject to unequal conditions, or exclusionary and conflicting experiences, to gain prominence in the academic universe. These are concepts and notions used in specific contexts of relationship between groups, but with very broad senses. They give them a load of inaccuracies and ambiguities that reflections in the field of social sciences seek to manifest, searching to deepen and broaden the practices associated to them. Bar-Tal says:

In essence, they have been mostly used for describing desired states to which societies, nations, or states should aspire. The underlying assumption in developing these concepts has been that the system of intergroup relations currently prevailing in many countries is far from being satisfactory and there is a need to change them completely, or at least to improve them. (Bar-Tal, 2004, p.253)

The quality, condition or state of simultaneous existence is the literal meaning that the term coexistence still takes in several dictionaries (Ferreira, 1986; Houaiss, 2002; Longman, 1995). However, coexistence is a notion that is being consolidated over new bases, associated with the simultaneous existence of opposites, and yet primarily related to situations of conflict, whether they are ethnic, religious, political, ideological, cultural, of class, of identity, of gender, among others.

Coexistence is not a very popular concept among social and educational scientists in the world and, therefore, is seldom used in comparison to other concepts describing positive intergroup relations (Weiner, 1998). One reason for this is the vagueness and indistinctiveness of the concept and another is that it pertains only to minimal positive intergroup relations (Bar-Tal, 2004, p.256).

Celi Regina Pinto (2001, p.48) highlights a similar issue writing about the notion of tolerance, "highly associated with the multiplicity of identities, new ones and old ones, that seek spaces of legitimacy to their specific practices". Therefore, in this sense, this question is also of interest when fostering positive relations between groups:

Although there is a sort of widespread goodwill with the notion of tolerance, it does not seem to be an easy category. Instead, such notion is quite complex, is crowded with moral, ethical, and religious implications and relations of power, and can easily be interchanged with the ideas of compassion, understanding, love for others. (Pinto, 2001, p.44)

The definition of tolerance proposed by UNESCO (1995) in its Declaration of Principles on Tolerance, though laudable and of recognized importance is not explicit about such implications. On the contrary, it seems justly stuck to values to be pursued by human beings:

Tolerance is respect, acceptance and appreciation of the richness and diversity of our world's cultures, our forms of expression and ways of being human. It is fostered by knowledge, openness, communication, and freedom of thought, conscience and creed. Tolerance is harmony in difference. [...] The practice of tolerance means that every person has the free choice of convictions and accepts that others enjoy the same freedom. It means accepting the fact that human beings, naturally characterized by the diversity of their physical aspect, their situation, their way of expressing themselves, their behaviors and their values, have the right to live in peace and to be as they are. It also means that nobody should impose their views to others. (UNESCO, 1995, p.11-12)

It is important to realize that, by appropriating of these notions, especially in a context that involves practical applications, it is necessary to break with the common sense and superficial definitions, at the risk of engendering in naive and innocuous propositions. The notion of tolerance, when examined more carefully, is still unable to extricate itself from its negative senses related, principally, to the ability to tolerate something – the suffering or the other – or to break with the power relations that constitute the relationship between tolerant and tolerated (Pinto, 2001; Dallari, 2003).

According to Pinto:

[...] the tolerant ones only are because they have power, to change in quality the asymmetrical relationship between the tolerant and the tolerated, the discussion takes another direction: we must redirect it seeking ways to redistribute power in society resulting in the end of the need for some identity groups to depend on the tolerance to ensure even their lives (Pinto, 2001, p.61).

However, there is an effort, nowadays, to bring to the agenda of practices with groups, the tolerance in its positive senses, against the impossibilities imposed by conflict situations to be faced:

[...] The modern use and the philosophical analysis include, in any contemporary definition of tolerance, a number of elements. Tolerance is essentially a personal virtue that reflects the attitude and social conduct of an individual or the behavior of a group. It may be the idea, the ability or the gesture of turning to a reality different of the own way of being, acting or thinking. It may be an indifferent or voluntarily neutral posture of recognition of the existence of difference, or else an attitude of patient endurance merged with disapproval. It may also consist in accepting the difference, seeing in it a source of enrichment, instead of demonstrating permissiveness toward things, good or bad, without judging them (Chelikani, 1999, p.23-24).

With respect to coexistence, the set of definitions seems to be less conflictual, as the notion of coexistence does not carry any aspect connected to negative prerogatives. However both the notions of tolerance and coexistence commune in the sense of bringing with them the risk, albeit veiled, of perpetuating relations of inequality and discrimination (Bar-Tal, 2004; Pinto, 2001).

Khaminwa, from Coexistence International (CI)2, presents a definition of coexistence according to a perspective of practical action, which implies the organization of a policy of coexistence as an antidote to conflict:

Coexistence is a state in which two or more groups are living together while respecting their differences and resolving their conflicts nonviolently. […] At the core of coexistence is the awareness that individuals and groups differ in numerous ways including class, ethnicity, religion, gender, and political inclination. These group identities may be the causes of conflicts, contribute to the causes of conflicts, or may be solidified as conflicts develop and escalate. A policy of coexistence, however, diminishes the likelihood that identity group differences will escalate into a damaging or intractable conflict. […] Coexistence exists before and after violent conflict. However, it is not static. Like all social environments, it fluctuates, depending on the level of social interaction. Coexistence exists in situations where individuals and communities actively accept and embrace diversity (active coexistence) and where individuals and communities merely tolerate other groups (passive coexistence). Communities that are not experiencing violent conflict can be located anywhere within this range (Khaminwa, 2003).

Interestingly, the author classifies tolerance as passive coexistence, emphasizing the relations between these two notions, as does Chelikani in the passage quoted in the begining of this paper.

In common with Khaminwa, Bar-Tal highlights the issue of non-violence in his definition of coexistence. However, the author gives a psychological dimension, of state of mind, to the condition of coexistence and its dynamic, which is at the heart of his defense of the possibility of education for coexistence:

Coexistence, in my view, refers to the conditions that serve as the fundamental prerequisites for the evolvement of advanced harmonious intergroup relations. It refers to the very recognition in the right of the other group to exist peacefully with its differences and to the acceptance of the other group as a legitimate and an equal partner with whom disagreements have to be resolved in nonviolent ways. […] But the core of coexistence refers to a state of mind shared by the members of the society. In this sense, coexistence is primarily a formative process of the psychological repertoire of society members. The accompanying acts of cooperation, integration, or exchanges are direct behavioral derivations of the coexistence (Bar-Tal, 2004, p.245-257).

The author also highlights in that text, as major components of coexistence, its basic conditions, beyond the principle of nonviolence, the recognition of the legitimate existence of the other group, the personalization of the members of the other group and the equality of partnership.

These two notions, coexistence and tolerance, treated yet under a initial form in the scope of T-híbridos project, seem to indicate ways to think about the meaning of constituting hybrid spatiality as design of coexistence, mainly, indicating strategies and possibilities for actions, opening perspectives to be explored. These are concepts treated and applied to situations of multiple dimensions conflicts, prioritizing, however, the most extreme, that bring with them the desire to embrace the differences in relations between groups and communities and, further, by expliciting them, building a rich process of matching and transformation. Pinto (2001, p.51) notes that "[...] we must rid ourselves radically from a kind of naive euphoria about the proliferation of differences. Noting them, tracing their emergency conditions and their potential, rather than simply celebrating them, seems to be a good path". It is expected, in the scope of T-híbridos project, the possibility of treading this path of fruitful effectuation of potential for coexistence of differences in urban areas.

1 Such an exploration was initiated under the project "Online_communities", coordinated by Nomads.usp and developed with various partners, between the years of 2003 and 2008 in Cidade Tiradentes, a eastern district of Sao Paulo, funded by FAPESP in the public policies funding category.

2 Initiative of Brandeis University, which since 2005 dedicates to "strengthening the resources available to policymakers, practitioners, researchers, advocates, organizations, and net- works promoting coexistence at local, national, and international levels. CI advocates a com- plementary approach to coexistence work through facilitating connections, learning, reflection, and strategic thinking between those in the coexistence field and those in related areas" (CI, 2007).



References

Bar-Tal, D., 2004. Nature, rationale and effectiveness of education for coexistence. Journal of Social Issues, 60(2), pp.253-271.

Chelikani, R. V. B. J., 1999. Reflexões sobre a tolerância. [online] Rio de Janeiro: Garamond. Available at: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001314/131427por.pdf>. [Accessed 18 November 2010].

CI., 2007. Sobre Coexistence International. In: Foco em Coexistência e Recursos Naturais. [online] Available at: < http://www.brandeis.edu/coexistence/linked%20documents/Coex%20and%20Nat%20Resources%20PORT-FINAL.pdf >. [Accessed 19 November 2010].

Dallari, D. A., 2003. Cotidiano e tolerância. In: Seminário de Cultura e Intolerância, [online] São Paulo: SESC Vila Mariana. Available at:<http://www.sescsp.org.br/sesc/images/upload/conferencias/7.rtf>. [Accessed 18 November 2010].

Ferreira, A. B. H., 1986. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.2nd ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Houaiss, A., 2002. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.

Khaminwa, A. N., 2003. Coexistence. In: Beyond Intractability, Eds. Guy Burgess and Heidi Burgess. Conflict Research Consortium. [online] Boulder, University of Colorado. Available at: <http://www.beyondintractability.org/essay/coexistence/>. [Accessed 18 November 2010].

Longman., 1995. Dictionary of contemporary English. 3rd ed. Harlow Essex: Longman Group, 1995.

Pinto, C. R. J., 2001. Para além da Tolerância. In: Zelia Biasoli-Alves, Roseli Fischmann. orgs. Criancas e adolescentes: construindo uma cultura da tolerância. São Paulo: Edusp, pp.43-63.

UNESCO, 1995. Declaração de Princípios Sobre a Tolerância. [online] Available at: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdf>. [Accessed 18 November 2010].

Weiner, E., 1998. Coexistence work: A new profession. In: E. Weiner (Ed.), The handbook of interethnic existence. New York: Continuum, pp.13–24.