V!RUS: Ivana, obrigado por aceitar nosso convite! O tema desse número da revista é "Lugares do Habitar: Revisited". Queremos conversar com você sobre o papel das comunicações na alteração ou mesmo na criação desses lugares.

A primeira pergunta refere-se às redes sociais e suas interfaces como lugar de habitar. Podemos enxergar esses ambientes digitais como lugares de um habitar expandido?

Ivana Bentes: Sem dúvida, a ideia inicial dos teóricos e mesmo o senso comum de que deveríamos pensar uma distinção entre real e virtual mostrou-se insustentável. As redes são, hoje, territórios cognitivos, afetivos, nos quais queremos estar cada vez mais. São lugares de fluxos e de trocas cada vez mais intensas. Nesse sentido, são novos lugares, híbridos de presença/ausência, altamente estimulantes.

A ideia da expansão, no episódio das manifestações na Espanha, por exemplo, acabou de vez com a cisão território versus redes. O que vimos foi um colapso da distinção real/virtual. Eu fiquei três dias, quase inteiros, acompanhando a Puerta del Sol virtual Movimento popular chamado 15-M que começou no dia 15 de maio de 2011 a partir das redes sociais e internet, e se estendeu às ruas de várias cidades espanholas, a começar pela praça Puerta del Sol, em Madrid. Queria-se demonstrar a insatisfação dos jovens frente a falta de oportunidades de emprego e perspectivas. O canal de tv pela internet www.solttv.tv transmitiu ininterruptamente imagens das manifestações, que agora assumem um caráter itinerante., transmissão ao vivo do acampamento em Madrid, e foi uma experiência intensa. Ao mesmo tempo em que havia uma ocupação territorial, a mobilização via redes foi decisiva.

V!RUS: Esse "querer estar cada vez mais" pode ter um paralelo com a ideia de "oásis" ou de "refúgio", muitas vezes atribuída à habitação pelas pessoas?

Ivana Bentes: É um oásis bem populado. Ninguém quer estar "sozinho", é sozinho com muitos, uma nova forma de compartilhar o tempo e o espaço. Sem dúvida é um refúgio, mas bastante "animado". Hoje, vejo muitas pessoas "sozinhas" em ambientes públicos, em companhia de um celular, ou outros dispositivos de conexão, mergulhadas nesse "estar" simultaneamente no território e na rede.

V!RUS: Nesse caso, a ideia de oásis ganha um caráter de lugar de onde se retirar, de um ponto de vista quase ideológico, ou, pelo menos, marcado por uma convergência clara de interesses... Seria uma ilustração do conceito de individualismo em rede, de Manuel Castells Segundo Castells (2003), o individualismo em rede corresponde a um padrão social e não a um agrupamento de pessoas isoladas, é uma estrutura social que abarca redes individuais, sejam elas online e/ou offline, com base em interesses, valores, afinidades e projetos.
CASTELLS, M. A galáxia da internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.?

Ivana Bentes: Gosto da ideia de uma singularidade em fluxo. Sim, o individualismo em rede ou o conceito de "multidão" do Antonio Negri O conceito de multidão foi descrito pelos filósofos políticos Antonio Negri e Michael Hardt em seus livros Império, de 2000, e Multidão: Guerra e Democracia na era do Império, de 2004. Grosso modo, "a multidão, para esses filósofos, viria a substituir o conceito de proletariado como categoria de análise. Devido à atual hegemonia do trabalho imaterial, qualquer pessoa [...] pode pertencer à nova 'classe trabalhadora'” (WIKIPEDIA).
WIKIPEDIA. Conceito de Multitude. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Multitude>. Acesso em: 17 jun. 2011. que une o mais singular e o comum, o coletivo.

V!RUS: Como você introduziria, nessa conversa, o conceito de co-presença?

Ivana Bentes: Estar aqui e lá ao mesmo tempo, essa ideia me fascina e encanta muitos. Não por uma questão de "onipresença", nem de superpoderes, mas como uma experiência cada vez mais cotidiana de podermos abrir "janelas" entre os espaços, de fazer os espaços se comunicarem. Por meio de uma web-cam, uma chamada pelo Skype, um GTalk aberto continuamente. São possibilidades de viver em co-presença. Tenho feito experiências como essas na rede. Conversas infinitas, que nunca "acabam". Ficam simplesmente "abertas".

V!RUS: Isso significaria habitar no que chamamos espacialidades híbridas, nas quais cada vez mais pessoas transitam diariamente, muitas vezes sem se dar completamente conta.

Ivana Bentes: Essa ideia de espaços que nos conectam instantaneamente com outros... Podemos pensar em uma arquitetura pós-paredes. Que funcione como janelas-mídias abertas em fluxo contínuo, em co-presença com outros ambientes cognitivos, afetivos...

Conversas infinitas e a não necessidade de dizer bom dia ou adeus :)

V!RUS: Não necessidade de voltar para casa também?

Ivana Bentes: Não voltar para casa supõe um nomadismo radical!!! Sempre que viajo só me sinto "em casa" quando abro meu Gmail e reencontro todas as pessoas, afetos e problemas do meu continente afetivo. É mágico! É a minha "casa" que me acompanha. Mas ainda existem muitas experiências territorializadas que marcam, que chamam... não dá pra virtualizar tanto...

Ter uma "casa", em algum "lugar", pra voltar! Isso é reconfortante. De novo, acho que é isso que vocês definiram como espaços híbridos, mentais/territoriais. Essa é uma ótima questão. Tenho estudado alguns conceitos poéticos do espaço e encontrei um maravilhoso na Lygia Pape Lygia Pape (1927, 2004) foi uma artista brasileira vinculada ao movimento neoconcretista. Foi escultora, gravadora, cineasta, pintora e professora. que vem dos anos 1970, a ideia dos "espaços imantados".

Ela ficava fascinada com esses aglomerados que se formam numa feira, no meio da rua, numa praça. Do nada, um espaço se "imanta", se cria, por um interesse transitório. Surge ali uma pequena comunidade, no meio da rua, no meio de pessoas anônimas. Acho genial essa ideia. O espaço construído como nas redes, um chat ou uma troca de mensagens no Facebook, pode criar outros espaços imantados como esses, provisórios, mas intensos.

Ainda nessa relação entre coletivo e singular, entre território e redes, acompanhei a Marcha da Liberdade Manifestação pela liberdade de expressão, ligada a diversas causas, realizada em 28 de maio de 2011, em São Paulo. em São Paulo e, junto à presença dos corpos, das conversas, das trocas face a face, manifestação clássica da multidão, havia centenas de pessoas twittando, fotografando, postando e jogando nas redes, de forma intensa. De novo, as duas dimensões. Não há incompatibilidade entre as redes e os territórios. O espaço e o tempo estão curto-circuitando. Entramos em fluxo.

V!RUS: As categorias clássicas de análise "público" e "privado" seriam ainda suficientes para entendermos (ou explicarmos) essa noção de habitar?

Ivana Bentes: Não dá mais para separar completamente o público do privado. Na verdade, essas separações sempre foram "artificiais", históricas, não servem mais, talvez, para pensarmos outros estilos de cultura e de estar no mundo.

Mas, temos que ir devagar com o andor... pois vão surgindo outros limites, novos limites... Uma forma das pessoas criarem o tal oásis é "desplugar", um luxo para poucos hoje. Quem pode se dar ao luxo de ficar desconectado um dia inteiro? "Fora da sua área de cobertura"... Ficamos mais intolerantes com a "ausência" do outro.

V!RUS: Modelos de habitar simultaneamente em rede e em territórios estendem ao meio digital formas de habitar solidárias já presentes em seu espaço físico, como no caso do Circuito Fora do Eixo O Circuito Fora do Eixo é uma rede criada em 2005 por coletivos de Cuiabá, Rio Branco, Uberlândia e Londrina, que atua “como multiplicador da cultura, e não apenas no fomento, mas também no estímulo à formação de seus agentes culturais.” Hoje trabalha em diferentes frentes temáticas como Economia Solidária, Centro Multimídia, Tecnologias Livres, Artes Visuais, Música, Clube de Cinema, Palco, Partido da Cultura, Universidade FDE, Fora do Eixo Letras.
PORTAL FORA DO EIXO. Site do Circuito Fora do Eixo. Disponível em: <http://foradoeixo.org.br/institucional>. Acesso em: 17 jun. 2011. Suas referências são marxistas, sua efetivação se dá através das redes telemáticas.

Ivana Bentes: O Fora do Eixo é um circuito experimental e genial. Quanto mais conheço mais fico envolvida e impactada com o que estão experimentando. Acho que é um novo "comunismo", pós-hippie, tecno-odara Odara é uma palavra afro-brasileira que qualifica no sentido de bom, bonito e positivo. comunismo das redes. Acho que eles estão respondendo e criando novas perguntas para uma questão difícil: como viver juntos?

V!RUS: Eles estão 24 horas por dia conectados via redes, via documentos Google, etc., e o circuito não existiria da forma como é hoje sem a comunicação via internet.

Ivana Bentes: Sem dúvida, ele não existiria antes da internet, com essa potência virótica, de contaminação que eles têm. É uma experimentação radical de tentar trabalhar, comer, delirar, compartilhar, fabular, nas casas/coletivos e em fluxo. Fazer bando, fazer multidão entre singularidades farfalhantes, como a do Pablo Capilé Produtor cultural, idealizador e co-fundador do Espaço Cubo, em Cuiabá, um dos coletivos fundadores do Circuito Fora do Eixo. um dos "nós" das redes.

V!RUS: À questão 'como viver juntos?' poderíamos acrescentar outra: 'por quê viver juntos?', lembrando-nos do dilema do conteúdo das comunicações frente à facilidade de comunicar-se. Talvez se possa entender a qualidade da comunicação como pressuposto para a qualidade do próprio habitar, em relação à simples possibilidade de comunicar-se.

Ivana Bentes: É muita "comunicação" para pouca expressão... às vezes muita.

V!RUS: Sim, e o reflexo disso no viver cotidiano dessas pessoas em comunicação.

Ivana Bentes: Veja só, fiquei muito atenta quando o Rene Silva, do Voz da Comunidade Rene Silva criou, há seis anos, o jornal Voz da Comunidade, que busca retratar a realidade da comunidade do Morro do Adeus, onde mora e estuda, no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro., surgiu no Twitter durante a ocupação do Complexo do Alemão, aqui no Rio. Foi tocante, um garoto de 17 anos contando, de dentro da favela, o que ele via. Mas o que ele via, afinal, da janela dele, era muito "pouco" em termos de informação. Noventa por cento das informações "objetivas" eram o simples relato dele, sua forma, singular, de expressar o que via na GloboNews. :-) Ele via a mesma TV que nós, que estávamos vendo de fora da favela. No entanto, era impressionante quando ele dizia: "está um silêncio grande, só ouço o zi zi zi dos grilos". Ou: "queria comer uma pizza, mas tem um tanque do exército lá embaixo", ou "minha mãe não me deixa sair na rua para ver o que está acontecendo".

Nada disso seria "matéria de TV", ou informação. Ele simplesmente "comunicava" afetos, vivências, percepções ínfimas que jamais seriam "notícia". Acho que é isso que comunicamos nas redes. Ninguém aguenta mais tanta informação descafeinada, sem um mundo junto...

V!RUS: Ele dava corpo a narrativas de sua experiência, no sentido benjaminiano talvez?

Ivana Bentes: Sim, exatamente, o "anti-jornal". Mas usando uma mídia que pode potencializar essa subjetividade, essa singularidade. Um momento pós-mídia de massa, pós-"notícia"... A mídia de massa nos entupiu de informações e reduziu os "mundos" que poderiam singularizá-las. O que acho que estamos experimentando, criando, é um laboratório global de afetos, de modos de afetar e sermos afetados. Onde acaba a esfera pessoal? No Facebook, por exemplo, um aluno meu, um desconhecido, um político, pode acompanhar e/ou compartilhar parte da minha vida privada, momentos mais livres, sensações, impressões, estados subjetivos... Isso em um nível de massificação que pode ser bem grande. A subjetividade na era da sua reprodutibilidade técnica... Gosto do experimento...

V!RUS: Outra questão que gostaríamos de discutir com você é a do controle da rede, como no caso do uso da ferramenta Google Docs pelo Fora do Eixo, por exemplo. A questão da propriedade desses imensos bancos de dados, como os do Facebook, mas também dos próprios canais de comunicação, que podem simplesmente ser descontinuados por seus proprietários... Fazendo desaparecer, em segundos, esse tal 'habitar ampliado'...

Ivana Bentes: A questão é importantíssima, pois a mesma rede em fluxo, descentralizada e horizontal, serve tanto às novas liberdades quanto às novas formas de controle, também "dóceis" e flexíveis. Invisíveis. A maioria das pessoas não "vê" esse controle dos seus dados, do seu perfil, dos seus hábitos de consumo e como estamos sendo rastreados e vigiados, inclusive com nosso consentimento. É um tipo de vigilância nova, consentida, vigilância participativa, o que seria difícil de imaginar antes da internet.

A questão política tem a ver com as novas lutas globais e pós-internet: o direito ao anonimato nas redes, a preservação dos seus dados, o não rastreamento, a não criminalização das novas práticas sociais como as de compartilhar arquivos, remixar, enfim, fazer o conhecimento circular livremente...

No caso do Google, do You Tube, do Facebook, realmente é preocupante, pois o conteúdo da economia 2.0 somos nós! E negociamos nossa subjetividade, privacidade, em troca de ferramentas, aplicativos e "terra digital"...

V!RUS: Os últimos acontecimentos no MinC quanto a direitos autorais e licenças creative commons Ver http://www.creativecommons.org.br. indicariam uma tentativa de elitização semelhante à que se percebe na cidade física?

Ivana Bentes: Podemos, sim, relacionar o retrocesso nas terras digitais com as questões do espaço urbano. O ataque a símbolos da cultura livre, o embarreiramento da reforma da Lei dos Direitos Autorais tem a ver com um ataque aos "commons", ao comum, a tudo que aponta para uma constituição do comum: bens públicos, licenças flexíveis, ampliação dos usos comuns (educacionais, culturais) dos bens culturais. Quanto ao espaço urbano, temos visto, no Rio, uma tentativa de privatizar espaços públicos ou urbanizá-los para uma elite, ou ainda de remover os pobres dos cartões postais da cidade em nome da "Cidade Beta Global" Uma das classes de metrópolis propostas na categorização de cidades globais feita pelo Globalization and World Cities Study Group & Network (GaWC), baseada em diferentes critérios.
Ver: GLOBALIZATION and World Cities Study Group & Network (GaWC). Disponível em: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/>. Acesso em: 17 jun. 2011.. O Rio de Janeiro, laboratório do capitalismo cognitivo O capitalismo cognitivo, também chamado de capitalismo informacional por alguns, é parte de um campo teórico amplo, que procura abarcar os processos de reestruturação do modo de produção capitalista. Considera que, no mundo atual, o trabalho esteja prioritariamente ligado às competências cognitivas, e que a informação e o conhecimento são as principais fontes de riqueza., do capitalismo cultural O autor norte-americano Jeremy Rifkin, ao cunhar a noção de capitalismo cultural, refere-se à ideia de cultura de acesso, envolta em fluxos informacionais e comunicacionais possibilitados pelos meios digitais, que estimula a padronização de modos de vida a partir de ações de marketing, por exemplo. que pode beneficiar apenas uma elite. É um risco real pré-Copa e pré-Olimpíadas.

V!RUS: Ivana, uma última pergunta: em relação a tudo que conversamos aqui, o futuro lhe parece promissor?

Ivana Bentes: O futuro está em disputa! Acredito na construção de futuros alternativos! Estamos disputando e construindo futuros; vivemos em um momento em que as dinâmicas das lutas - o capitalismo cultural e em fluxo, em tempo real, o capitalismo e o comunismo das redes - se sobrepõem. Só nos resta criar novos mundos habitáveis, reais, virtuais, mentais. Outras "terras" e lugares... para morar.

V!RUS: Ivana, foi um prazer! Muito obrigado pelo seu tempo.

Ivana Bentes: Gostei da experiência... começamos uma "conversa infinita".

V!RUS: Ivana, thanks for accepting our invitation! The theme of this issue is "Places of Living: Revisited". We want to talk to you about the role of communications in changing or even creating these places.

The first question refers to social networks and their interfaces as a place to live. May we see these digital environments as expanded places of living?

Ivana Bentes: Undoubtedly, the theorists' initial idea and even the common sense that we should think a distinction between real and virtual proved to be unsustainable. The networks are, today, cognitive and affective territories, in which we want to be in more and more. They’re places of flows and increasingly intense exchanges increasingly intense. In that sense this course are new places, highly stimulating hybrids of presence/absence highly stimulating.

The idea of expansion, in the manifestation episode in Spain, for example, finished ended with the division: territory versus networks. What we saw was a collapse of the real/virtual distinction. I stayed three days, almost whole, following the Puerta del Sol virtual Citizens' movement called 15-M which began on May 15, 2011 from the internet and social networks, and was extended to the streets of several Spanish cities, starting at the Puerta del Sol square in Madrid. They wanted to demonstrate young people's dissatisfaction facing the lack of employment opportunities and perspectives of the current Spanish political and economic model. The www.solttv.tv internet television channel broadcasted continuously images of the demonstrations, which have taken an itinerant character., live broadcast of the camp in Madrid, and was an intense experience. While there was a territorial occupation, the networks mobilization was decisive.

V!RUS: This idea of "wanting to be more and more" may have a parallel with the notion of "oasis" or "refuge", often attributed to the living for people?

Ivana Bentes: It is a well-populated oasis. Nobody wants to be "alone", it is like being alone among many, a new way to share time and space. No doubt it is a refuge, but rather "lively". Today, I see many people "alone" in public places in the company of a mobile phone, or other connecting devices, immersed in "being" simultaneously whithin the territory and the network.

V!RUS: In this case, the idea of oasis gets a feature of a place from which we retreat ourselves, from an almost ideological point of view, or at least marked by a clear convergence of interests... Would it be an illustration of the Manuel Castells’ concept of networked individualism According to Castells (2002), the networked individualism corresponds to a social pattern rather than to an gathering of isolated individuals. It is a social structure that embraces individual networks, whether they are online and/or offline, based on interests, values, affinities and projects. Castells, M. The Internet Galaxie. Oxford: Oxford University Press, 2002.?

Ivana Bentes: I like the idea of a singularity in flow. Yes, the networked individualism or the concept of "multitude" of Antonio Negri The concept of multitude has been described by political philosophers Antonio Negri and Michael Hardt in their books Empire (2000), and Multitude: War and Democracy in the Age of Empire (2004). Roughly speaking, "the multitude, for these philosophers, would replace the concept of the proletariat as a category of analysis. Due to the current hegemony of immaterial labor, anyone [...] can belong to the new 'working class'" (Wikipedia). Wikipedia. Multitude concept. Available at: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Multitude> [Accessed 17 June 2011]., which joins the most singular and the common, the collective.

V!RUS: How would you introduce, in this conversation, the concept of co-presence?

Ivana Bentes: Being here and there at the same time, this idea fascinates me and delights many. Not as a matter of "omnipresence", neither superpowers, but as an experience more and more daily in which we can open "windows" between spaces, making spaces communicate: through a web-cam, a Skype call, a GTalk continuously open. These are possibilities of living in co-presence. I have been doing experiments like these in the network. Endless conversations that never "end". They are simply "open".

V!RUS: It would mean to dwell in what we call hybrid spatialities, in which more and more people transit daily, often without realizing it completely.

Ivana Bentes: This idea of spaces connecting us instantly with others... We may think about a post-walls architecture. Which can work as open media-windows in a continuous flow, in co-presence with other cognitive, affective environments …

Endless conversations, no need to say good morning or goodbye :)

V!RUS: No need to go back home too?

Ivana Bentes: Not going back home supposes a radical nomadism!!! Whenever I travel I just feel "at home" when I enter my Gmail and meet all people I know, all affections and problems of my emotional continent. It's magic! It's my "home" that accompanies me. But still there are many territorialized experiences that mark and call... we can not virtualize them so much…

Having a "home", somewhere, to return back! That's comforting. I think this is what you define as hybrid spaces, both mental/territorial. This is a great topic. I have studied some poetic concepts of space and found a wonderful one from Lygia Pape Lygia Pape (1927, 2004) was a Brazilian artist connected to the Neo-Concrete movement. She was a sculptor, engraver, filmmaker, painter and teacher., which comes from the seventies, the idea of "magnetized spaces".

She was fascinated with these clusters rising at a market, in the middle of the street, in a square. Suddenly, a space gets "magnetized", created by a temporary interest. A small community then arises, in the middle of the street, among anonymous people. I find this idea brilliant. The space built as in the network, a chat or an exchange of messages on Facebook, can create other magnetized spaces, provisional but intense ones.

Still about this relationship between collective and singular, between territory and network, I was in the March of Freedom March of Freedom. Demonstration for freedom of expression, in several senses, held on May 28, 2011, in the city of Sao Paulo. in São Paulo, with the presence of bodies, conversations, face to face interaction, a classic manifestation of multitudes, there were hundreds of people tweeting, taking pictures, posting them and playing in the network, intensely. Again, the two dimensions. There is no incompatibility between network and territories. Space and time are short-circuiting. We enter the flow.

V!RUS: The classic analytic categories of "public" and "private" would still be sufficient to understand (or explain) this notion of living?

Ivana Bentes: We can no longer completely separate the public sphere from the private one. In fact this separation has always been "artificial", historical, perhaps they are no longer useful to understand other types of culture and of being in the world.

But we have to go slowly... because other boundaries arise, new boundaries... A way for people to create the so called oasis is "unplugging", a luxury for a few people today. Who can afford to be disconnected a full day? "Out of coverage area"... We are more intolerant with the other's "absence".

V!RUS: Models of living simultaneously networked and in territories extend to digital media solidary ways of living, already present in their physical space, as it is the case of Fora do Eixo Circuit The Off-Axis Circuit is a network created in 2005 by groups from the cities of Cuiaba, Rio Branco, Uberlândia and Londrina, which acts "as a multiplier of culture, not only in stimulating but also in encouraging the formation of its cultural agents." It works today on different thematic fronts as Solidarity Economy, Media Center, Free Technologies, Visual Arts, Music, Film Club, Theater, Party of Culture, University FDE, Off-Axis Letters. Fora do Eixo Portal. Site about Circuito Fora do Eixo. Available at: <http://foradoeixo.org.br/institucional> Accessed 17 June 2011.. Their references are Marxist, implemented via telematic networks.

Ivana Bentes: Fora do Eixo is an experimental and brilliant circuit. The more I know, the more I get involved and impressed by what they are experiencing. I think it is a new "communism", post-hippie, techno-odara Odara is an african-brazilian word meaning good, beautiful and positive., networks’ communism. I think they are responding and creating new questions for a difficult issue: how to live together?

V!RUS: They are 24 hours a day connected via network, via Google documents, etc., and the circuit really would not exist in its today's shape without the communication via internet.

Ivana Bentes: No doubt, it would not exist before internet, with this viral capacity, of contamination. It is a radical experiment of trying to work, eat, rave, share, fable, within the houses or the collectives and in the flow. Making flocks, making multitudes among rustling singularities, such as those of Pablo Capilé Cultural producer, creator and co-founder of Espaço Cubo (Cube Space), in Cuiaba, which is one of collectives that founded the Off-Axis Circuit.

V!RUS: To the question ‘how to live together?’ we might add another one: ‘why to live together?’ This reminds us the dilemma of communications’ content compared to the ease of communicating?... Perhaps we can understand the quality of communication as a precondition to the quality of dwelling itself, compared to the mere possibility of communicating.

Ivana Bentes: It is a lot of "communication" for little expression... or sometimes much expression.

V!RUS: Yes, and their reflection on the daily lives of these people in communication.

Ivana Bentes: You know, I was very attentive when Rene Silva, from Voz da Comunidade Rene Silva created, six years ago, the Voz da Comunidade (Community Voice) newspaper that retracts the reality of Morro do Adeus community, where he lives and studies, in the Complexo do Alemão, Rio de Janeiro., emerged in Twitter during the occupation of the Complexo do Alemão Complexo do Alemão is a groupment of slums in the North District of the city of Rio de Janeiro. It was occupied at 28 November, 2011 by military forces and the police, in a struggle against drugs traffickers., here in Rio. It was touching, a 17 years old boy telling, from inside the slum, what he was seeing. But after all, what he saw from his window, was too "little" in terms of information. Ninety percent of the “objective” information were his simple repport, his singular manner to express what he was seeing at GloboNews Brazillian cable TV network. :-) He watched the same TV than us, who were watching from outside the slum. Nevertheless, it was impressive when he said: "there is a great silence, I only hear the crickets zi zi zi". Or, "I would like to eat some pizza, but there is an army tank down there" or "my mother doesn`t let me go outside to see what is happening".

None of this would be a “matter on the TV” or information. He was only "communicating" affections, experiences, tiny perceptions that would never be "news". I think that is what we communicate on the networks. Everybody has enough of so much caffeine free information, without having a world aside...

V!RUS: He externalized narratives of his experience, perhaps in the Benjaminian sense?

Ivana Bentes: Yes, exactly, it was like the "anti-newspaper". But using a medium which can potentialize this subjectivity, this singularity. A moment post-mass media, post-"news"... Mass media clogged us with information, reducing the "worlds" that could singularize it. I think what we are experiencing, creating, a global laboratory of affections, of ways of affecting and of being affected. Where does the personal sphere end? For instance, on Facebook, my students, or unknown people, or yet a politician, can follow and/or share a part of my private life, free moments of mine, sensations, impressions, subjective states... And this, in a level of massification that can be quite huge. This is the subjectivity in the age of mechanical reproduction... I like this experiment...

V!RUS: Another issue we would like to discuss with you is the control of the network, such as the use of the Google Docs tool by Fora do Eixo, for example. The issue of the ownership of huge databases, just like Facebook's, but also of the communication channels themselves, which can simply be stopped by their owners... They can make disappear in seconds the so called 'extended living'...

Ivana Bentes: This is a very important issue, because the same network in flow, decentralized and horizontal, serves both the new freedoms and newmeans of control. They are "docile" and flexible as well. Invisible.

Most people do not "see" this control of their own data, their profile, their consumption habits nor how we are being tracked and monitored, even with our consent. It is a new kind of surveillance, consensual, participatory surveilling, which could be difficult to imagine before the internet.

The political issue has to do with the new global, post-internet struggles: the right to anonymity in the networks, the preservation of one's data, the right to not being tracked, to non criminalization of new social practices as sharing files, remixing, making knowledge go around freely...

The case of Google, YouTube and Facebook, is really worrying because we are the content of 2.0 economy! And we negotiated our subjectivity, our privacy, in exchange for tools, applications and "digital land"...

V!RUS: Would recent events in the Brazilian Ministry of Culture regarding copyright and creative commons See: http://creativecommons.org.

Ivana Bentes: Yes, we can relate the regression in digital lands to the issues of urban space. The assault on symbols of the free culture, the creation of barriers to the reform of the Copyright Law has to do with an attack to the "commons", to what is in common, to everything pointing to the constitution of the common: public assets, flexible licensing, widening of common uses (educational, cultural) of cultural assets. Regarding the urban space in Rio, we have been noticing an attempt to privatize public spaces or to urbanize them for the elite, or still to remove the poors from the postcards places in the city, on behalf of the "Beta Global City" A metropolises classes proposed by the Globalization and World Cities Study Group & Network (GaWC) to categorize global cities, based on different criteria. GLOBALIZATION and World Cities Study Group & Network (GaWC).
See: Globalization and World Cities Study Group & Network (GaWC). Available at: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/> [Accessed 17 June 2011].. This is a Rio de Janeiro, a laboratory of cognitive capitalism Cognitive Capitalism, also called Informational Capitalism, is part of a broad theoretical which seeks to cover the processes of restructuration of the capitalist mode of production. It considers that, in today’s world, work is mainly linked to cognitive skills, and information and knowledge are main sources of wealth., of cultural capitalism The American author Jeremy Rifkin, by creating the notion of Cultural Capitalism, refers to the idea of culture of access, which is wrapped by informational and communicational flows made possible by digital media, which fosters the standardization of ways of living through marketing activities, for example. that can benefit only the elite. This is a real risk in this pre-World Cup and pre-Olympic Games.

V!RUS: Ivana, a last question: concerning everything we talked here about, from your point of view does the future look promising?

Ivana Bentes: The future is under contest! I believe in the construction of alternative futures! We are running for and building futures; we are living at a time when the dynamic of fights - as the cultural capitalism and in the flow, in real time, the network capitalism and communism - overlap. All we can do is to create new habitable worlds, real or virtual ones, mental ones. Another "lands" and places... to live in.

V!RUS: Ivana, it was a pleasure! Thank you for your time.

Ivana Bentes: I enjoyed the experience... we have started an "infinite conversation".