A América Latina como “ilha”: um projeto utópico libertário

Cláudia Gonçalves Felipe

Cláudia Tolentino Gonçalves Felipe tem graduação em História, é doutora em História e pós-doutoranda na área de Ciências Humanas. Atualmente, é pesquisadora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, onde pesquisa a produção artística de John Cage e Hélio Oiticica no pós-Segunda Guerra. claudiatolentino.ufu@gmail.com http://lattes.cnpq.br/6635612645290887


Como citar esse texto: FELIPE, C. T. G. A América Latina como “ilha”: um projeto utópico libertário. V!RUS, São Carlos, n. 22, Semestre 1, julho, 2021. [online]. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus22/?sec=4&item=4&lang=pt>. Acesso em: 26 Abr. 2024.

ARTIGO SUBMETIDO EM 7 DE MARÇO DE 2021


Resumo

Concebido como contribuição ao dossiê “Latinoamérica: você está aqui!”, proposto pela revista V!RUS, este artigo aborda um projeto político-cultural formulado por anarquistas latino-americanos na década de 1950. Sua proposta, em termos gerais, visava a reconfiguração libertária das fronteiras políticas, sociais, geográficas e econômicas do continente. Compreendendo o anarquismo como um movimento internacionalista, analisamos, em um primeiro momento, a organização de encontros e conferências que tinham como propósito o fortalecimento de um movimento universalista capaz de agregar diferentes povos em torno de uma mesma finalidade: a edificação da utopia libertária. Em seguida, buscamos compreender um caso específico, envolvendo a proposição de uma sociedade latino-americana realizada na Conferência Anarquista Americana de Montevidéu (1957). Essa conferência contou com a participação de representantes do anarquismo provenientes de vários países do continente americano e teve como pauta principal a necessidade de integração dos países da América em uma única “ilha”, na qual fronteiras políticas, sociais, geográficas ou econômicas seriam abolidas em prol da consolidação de uma sociedade federalista libertária.

Palabras-clave: Anarquismo, Universalismo, América Latina, Utopia



1Introdução

Em artigo publicado no jornal Ação Direta, o anarquista Edgard Leuenroth (1946) explorou elementos provenientes de seu projeto para a transformação da sociedade brasileira. Partindo da premissa de que a Segunda Guerra Mundial foi o resultado de um “choque de ambições e da exploração do homem pelo homem” que estremeceu as bases sobre as quais se assentavam a organização de todas as nações, o militante advertia que outro conflito de tal magnitude levaria, inevitavelmente, à ruína da humanidade1. Diante desse cenário, Leuenroth afirmou que, para alguns indivíduos, melhorias de caráter imediato seriam suficientes para manter o “edifício” em pé; para outros, apenas uma transformação completa das bases/estruturas poderia impedir um colapso. O anarquista assegurou que de nada adiantariam conferências e armistícios, encarados como medidas provisórias que, a longo prazo, se mostrariam ineficazes. Por outro lado, a construção da anarquia poderia promover uma paz duradoura entre os povos:

O rancho de pau-a-pique em que vivemos ameaça desabar ao impulso de uma ventania mais forte dos varjões de leste. Os esteios roídos pelo cupim exigem substituição, as goteiras da coberta reclamam uns molhos de sapé, precisando-se, ainda, tapar, com punhados de barro, os buracos das paredes e socar terra nos desníveis do chão-batido. É preciso pô-lo em condições de nos dar morada por mais algum tempo, enquanto cuidamos da mudança. A planta da casa grande já está sendo ultimada, para que não se retarde a sua construção. Será um grande e belo edifício ensolarado, com amplas janelas, por onde entrará muito ar e muita luz. Terá cômodos espaçosos, forrados e assoalhados, e, ainda, uma despensa farta. Ao mobiliário se juntarão o rádio, a televisão e a geladeira, e, na sala do lado, não faltaria uma estante de livros. Apressemos-lhe a construção, a tempo do rancho não nos cair em cima (LEUENROTH, 1946, p. 1).

Depois de enumerar os benefícios da anarquia, Leuenroth asseverou que as mazelas e sofrimentos provenientes da sociedade capitalista seriam abolidas. Para tanto, o projeto utópico anarquista (“planta da casa”) foi anunciado como forma de edificação dessa nova ordem social. Imaginar, escrever, projetar seus fundamentos, organização e funcionamento seria, para o autor, uma demanda urgente. Se o sistema estava falido, arruinado, não restava outra saída senão transformá-lo. Propor novas formas de vida e de convivência entre os homens, no pós-guerra, foi uma preocupação não apenas de Edgard Leuenroth, mas também de outros anarquistas como Ênio Cardoso, que esboçou um projeto libertário para a América Latina baseado em uma sociedade livre de fronteiras políticas, sociais, geográficas ou econômicas (CARDOSO, 1960). Apesar dessa atuação, parte da historiografia que estudou a atuação libertária no pós-Segunda Guerra conferiu pouca ou nenhuma importância às propostas em questão (SILVA, 2014). Logo, os estudiosos acabaram desconsiderando aspectos importantes da prática libertária, como seu caráter universalista e transnacional (afinal, tratava-se de uma atuação conjunta em redes de militantes de diferentes nacionalidades).

Concebido como contribuição ao dossiê “Latinoamérica: você está aqui!”, proposto pela revista V!RUS, este artigo aborda um projeto político-cultural formulado por anarquistas latino-americanos na década de 1950. Sua proposta, em termos gerais, visava a reconfiguração libertária das fronteiras políticas, sociais, geográficas e econômicas do continente. Compreendendo o anarquismo como um movimento internacionalista, analisamos, em um primeiro momento, a organização de encontros e conferências que tinham como propósito o fortalecimento de um movimento universalista capaz de agregar diferentes povos em torno de uma mesma finalidade: a edificação da utopia libertária. Em seguida, buscamos compreender um caso específico, envolvendo a proposição de uma sociedade latino-americana realizada na Conferência Anarquista Americana de Montevidéu (1957). Essa conferência contou com a participação de representantes do anarquismo provenientes de vários países do continente americano e teve como pauta principal a necessidade de integração dos países da América em uma única “ilha”, na qual fronteiras políticas, sociais, geográficas ou econômicas seriam abolidas em prol da consolidação de uma sociedade federalista libertária.

2 Ruindo fronteiras

O militante Edgar Rodrigues afirmou que, no pós-Segunda Guerra, o alargamento das relações libertárias possibilitou que o anarquismo brasileiro se consolidasse como um movimento sem fronteiras, solidário e crítico em relação às práticas libertárias em âmbito internacional (RODRIGUES, 1993). Nos jornais, encontramos diversas denúncias contra as perseguições e atrocidades sofridas por anarquistas de diferentes nacionalidades, mas também notas de solidariedade que ofereciam apoio e palavras de incentivo, discussões e debates de ideias provenientes de várias localidades, textos e publicações libertárias, reflexões sobre a necessidade de integração nacional, continental e internacional. A tentativa de fortalecimento das relações internacionais entre organizações anarquistas foi intensificada após o ano de 19452. Militantes e autores de diversas partes do mundo começaram a discorrer sobre a importância da criação de laços e de uma rede de solidariedade internacional. Tal iniciativa era uma forma de resistência e um mecanismo de fortalecimento e disseminação do ideal libertário, encarado como único caminho para a promoção da anarquia3.

Em 1945, anarquistas do movimento francês e espanhol sugeriram a necessidade de um encontro internacional, com o intuito de propor ações integradas. No ano seguinte, militantes búlgaros aconselharam a nomeação de uma comissão para preparar um congresso internacional. A primeira circular da comissão solicitava sugestões de temas a serem debatidos no encontro e de um local para sua realização. Além disso, aventava a possibilidade de constituição de uma Federação Anarquista Internacional. O resumo das respostas recebidas foi publicado em uma segunda circular, escrita em espanhol, francês e italiano. Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Bolívia, Brasil, Cuba, China, Equador, Espanha, Itália, México, Polônia, Suíça e Suécia estão entre os países que enviaram comentários.

A maioria dos participantes saudou a iniciativa da comissão e ponderou sobre a criação de uma organização anarquista internacional. Os argentinos, por exemplo, mencionavam o risco de a Federação Internacional se tornar autoritária e exercer o direito de representar todo o anarquismo, a despeito das particularidades regionais. Assim, eles propuseram a criação de uma comissão de relações internacionais, que desempenharia funções meramente informativas e inter-relacionais. Já os franceses afirmavam que essa organização, com o devido planejamento, poderia ser importante não apenas para fortalecer as relações libertárias em geral, mas também para auxiliar, de forma eficiente, rebeliões anárquicas em diversas localidades. Além disso, sugeriu-se a criação de uma organização responsável pela guarda, preservação e circulação de arquivos libertários. Esta ação foi considerada imprescindível, pois garantiria a intercomunicação libertária e o fortalecimento das redes de contato4.

Em janeiro de 1948, um artigo publicado no jornal francês Le libertaire sugeria que o mundo havia acabado de testemunhar o fim de uma era de terror e o início de um tempo áureo. Sendo assim, o ano de 1948 foi concebido como o limite de uma virada secular, marcada pelo cessar de guerras e horrores. Tal reviravolta seria garantida pela união anarquista internacional, a ser efetivada por um encontro organizado em oposição à guerra e ao autoritarismo. Esse seria um avanço em prol da construção de um mundo harmônico, unido e fundado sobre os preceitos libertários (LE LIBERTAIRE, 1948, p. 1). No jornal brasileiro A Plebe, especificamente numa edição de junho de 1948, que reúne informações provenientes do exterior sobre a preparação desse encontro anarquista internacional, foi publicado um artigo escrito por Souza Passos sobre o anarquismo como solução para todos os problemas enfrentados pelo mundo sob a égide do regime capitalista: as guerras, a fome, a imoralidade, a corrupção, a desigualdade, ódios, invejas e desentendimentos entre os homens e as sociedades. Para Passos, o desequilíbrio mundial só terminaria com o estabelecimento de uma sociedade composta de povos federados e unidos pelo sentimento de solidariedade e pelo apoio mútuo. A realização de um encontro anarquista internacional seria, portanto, uma etapa importante (PASSOS, 1948). Os dois artigos mencionados salientam as expectativas frente à possibilidade de fortalecimento das relações anarquistas em âmbito internacional.

Entre os dias 15 a 17 de maio de 1948 foi realizada, em Paris, a chamada “Conferência Anarquista Internacional”, na qual examinou-se a situação geral do mundo, assim como das organizações e relações anarquistas mundiais. Também foi elaborado um programa de trabalho internacional e designada uma organização para a sua coordenação, denominada Commission Internationale des Relations Anarchistes (C.R.I.A.). O C.R.I.A. teria as seguintes responsabilidades: mediação entre grupos libertários isolados com o intuito de assegurar a solidariedade; organização de arquivos internacionais para viabilizar a circulação de publicações anarquistas; redação de boletins regulares com informação sobre iniciativas de integração libertárias, escritos em diversas línguas. No manifesto da conferência, lançado logo após sua realização, mencionava-se o desejo de unificação internacional por meio da solidariedade e da fraternidade. Nesse sentido, ações e iniciativas voltadas para o estreitamento dos laços entre anarquistas foram incentivadas e encaradas como caminho para a organização de uma sociedade libertária universal. No manifesto, o anarquismo era concebido como único ideal capaz de sanar as crises e de evitar um ciclo de guerras ininterruptas. Além disso, somente ele poderia proporcionar uma sociedade irmanada no amor e no respeito:

A democracia burguesa faliu. O capitalismo privado mostrou sua incapacidade de resolver suas próprias contradições. Seja liberalismo ou totalitarismo, um e outro nos vinculam a uma economia de guerra e toda a sociedade trabalha na produção dos meios de destruição. Um entendimento entre os dois blocos que esmagam o mundo não forneceria qualquer solução. A base do acordo apresentado por Stalin em dezessete de maio não é outro senão a preparação, em conjunto, de novos massacres. A eventual combinação dos planos de Marshall e Molotoff não resolverá nem o caos social nem nenhum dos problemas colocados pelas ruínas e pela fome. Esses planos constituem um novo instrumento do imperialismo exercido sob o pretexto de melhoria econômica e política. Nenhuma das forças espirituais que pretendem dirigir a humanidade de acordo com os imperativos dos Estados, das Igrejas e dos Partidos, é agora capaz de exercer uma função útil. Todos submergiram nos fanatismos mais brutais. Todas as organizações políticas, sindicais e religiosas imbuídas do autoritarismo tornaram-se os instrumentos da escravidão. (...) Tudo o que nossa geração tem experimentado nada mais é do que uma acumulação de males resultante do próprio funcionamento da sociedade autoritária, do esmagamento das forças da liberdade (CONFERÊNCIA ANARQUISTA INTERNACIONAL, 1948, p. 1).

Anunciava-se que, com o alargamento das relações internacionais, do auxílio e do apoio mútuo entre diferentes países, o mundo estaria se preparando para romper com o modus operandi da sociedade vigente. A prática da solidariedade foi indicada como um exercício de conquista, como forma de revolução capaz de alcançar todos os povos. Essa revolução, ancorada nos princípios anarquistas, poderia arrancar a humanidade desse ciclo de destruição: “a anarquia, um princípio organizador sem dogmas ou fronteiras, é o único caminho para a paz” (CONFERÊNCIA ANARQUISTA INTERNACIONAL, 1948, p. 1). Ou seja, o único caminho para uma confraternização universal.

Alguns países conceberam a realização de um encontro anarquista internacional como incentivo a uma melhor articulação do próprio movimento local. Por razões diversas, como a intensificação dos regimes autoritários e totalitários, a incidência das grandes guerras e conflitos locais, o movimento anarquista de vários países sofria perseguições sem precedentes. A participação em um encontro internacional serviria de estímulo para a perpetuação da luta libertária. No Brasil, por exemplo, logo após a realização da conferência internacional de 1948, foi organizado um congresso nacional que visava o fortalecimento das relações locais e regionais, assim como da difusão e propaganda do ideal libertário. A declaração abaixo, realizada pelo militante anarquista Edgard Rodrigues, avalia o alcance desse congresso:

O encontro de 1948 não se limitou a provar que o anarquismo não havia morrido, ou a desafiar a capacidade organizativa dos seus militantes, serviu também para planejar e aprovar seus rumos no Brasil, uniformizar a propaganda e criar o CRA (Comissão de Relações Anarquistas), cuja atividade ultrapassaria as fronteiras geográficas do território brasileiro. Serviu igualmente para trocar experiências e cultura sociológica, ampliar o intercâmbio de propaganda com os movimentos de outros países e abrir espaço para a realização do Congresso do Rio de Janeiro de 1953. Aprovou ainda a formação de grupos específicos, uniões locais, municipais, deliberou contra o colaboracionismo, o militarismo, o clericalismo e o combate a todas as ditaduras (RODRIGUES, 1993, p. 29).

Para Rodrigues, o encontro nacional fortaleceu o movimento anarquista brasileiro e auxiliou no alargamento das relações internacionais. A Comissão de Relações Anarquistas, criada durante o encontro, foi responsável pelo estreitamento dos laços entre os anarquistas do país e de outras partes do mundo, tais como franceses, italianos, espanhóis, argentinos, peruanos, mexicanos, japoneses, suíços, britânicos, cubanos, americanos e uruguaios. A CRA agilizou a troca de informações, correspondências, circulares, boletins, relatórios e jornais. Como veremos, tentativas de fortalecimento do anarquismo como um movimento universalista levou à proposta, na América, de configuração do continente como uma única “ilha” sem divisões de fronteiras políticas, sociais, geográficas ou econômicas.

3 A integração da américa latina

Entre os dias 14 e 21 de abril de 1957 ocorreu, em Montevidéu, a Primeira Conferência Anarquista Americana. Nela compareceram delegações anarquistas do Brasil, da Argentina, do Chile, do Uruguai e de Cuba5. A conferência foi organizada pela Comissão Continental de Relações Anarquistas (CCRA), que congregava “todos os grupos anarquistas do continente americano6” e tinha como objetivo estudar a situação econômica, social, política e cultural da América. O documento que descreve esta conferência afirma que o estudo partia de uma baliza essencial do pensamento libertário: a compreensão do homem como um ser livre e histórico que age em busca da satisfação de suas vontades, mas sempre em consonância com os direitos do próximo. O intuito era compreender em que medida a sociedade permitia (ou não) que o homem se realizasse em sua plenitude.

Os anarquistas querem liberdade, paz e solidariedade entre os homens. Diante da dura realidade, reafirmamos nossa atitude ao convidar os homens a construírem para si essa paz e liberdade, superando fatores materiais, preconceitos e dogmas, interesses mesquinhos e autoritarismos. À intenção suicida de dividir irredutivelmente o mundo em dois blocos igualmente autoritários e desumanos, nos opomos com nossa atitude anarquista, fraterna e solidária. Diante da corrida insensata da qual nasce a guerra que os mentores do poder pretendem nos lançar, anunciamos nossa decisão suprema de não matar ou morrer para outros fins que não os autênticos valores de liberdade, fraternidade e justiça. Diante da exploração e colonização de algumas nações por outras, proclamamos o direito dos povos de governar seu destino. Diante da existência: ditaduras legais e ilegais, nacionalismos estreitos e rancorosos, expomos nossa condição universal e libertária. Diante do capitalismo privado ou estatal, e diante do coletivismo compulsivo e desigual, reivindicamos o socialismo libertário, feito sob medida para o homem, produto de suas aspirações e preferências (PRIMEIRA CONFERÊNCIA ANARQUISTA AMERICANA. MONTEVIDEO, 1957, p. 8-9, tradução nossa7).

Torna-se evidente que, para além das divisões e discórdias provocadas pelos homens no seio das sociedades capitalistas, os anarquistas desejavam a construção de um mundo fraterno, solidário, pautado em preceitos de caráter universal. O documento menciona grandes problemas que acometiam o mundo do pós-Segunda Guerra, como o alastramento dos autoritarismos, dos imperialismos e dos sentimentos nacionalistas, males provenientes de injustiças, ódios, discórdias e guerras. Esses males só poderiam ser combatidos por meio da perpetuação da liberdade e da solidariedade. Para impedir que o Estado continuasse com seu poder de dominação e de atrofiamento do homem enquanto ser livre e social, seria necessário multiplicar as redes de associações livres, fortificando as relações sociais e estimulando as capacidades criadoras dos homens.

Para comprovar que os preceitos libertários de harmonia social eram compatíveis com a ordem natural de qualquer sociedade (que deveria ser livre, igualitária, solidária e universal), o documento salienta que a própria constituição do continente americano seria favorável a uma integração regional e federada de seu conjunto geográfico. Logo, apresenta a proposta de um território sem fronteiras, sobretudo entre os países que integravam a América Latina:

O continente americano possui características que facilitam, em relação a outras partes do mundo, a integração regional e federada de seu conjunto geográfico. Características comuns como linguagem, idiossincrasia, origem histórica etc., e aspectos variados e complementares, contribuem para atenuar as diferenças impostas pela distante localização geográfica. Por outro lado, as necessidades de abastecimento de alimentos, bens de consumo, matérias-primas etc., impõem uma complementação entre as diferentes atividades produtivas. Todas as condições estão reunidas e todas as necessidades justificam a transformação da atual América Latina, subdividida nacionalmente em um continente no qual as barreiras foram removidas. Como anarquistas que não reconhecem pátria e nacionalidade, lutamos pela internacionalidade das sociedades humanas, ultrapassando as fronteiras dos preconceitos e autoritarismos locais. A América encontrará uma solução para muitos de seus problemas no dia em que os sistemas nacionais despóticos de governo forem substituídos por uma organização na qual os indivíduos, direta e livremente, atendam aos problemas sociais, coordenados em um sistema federativo regional (PRIMEIRA CONFERÊNCIA ANARQUISTA AMERICANA. MONTEVIDEO, 1957, p. 22, tradução nossa8).

O texto prossegue explicando a perspectiva libertária sobre a necessidade dessa integração da América Latina:

A ação militante dos anarquistas estará sempre informada pela ideia de que somos todos irmãos sem discriminação; que as diferentes origens nacionais, continentais, sociais, religiosas etc., carecem de significado diante da indiscutível realidade das massas oprimidas em todo o planeta. Como americanos, denunciamos que a subdivisão do povo em nacionalismos exasperados é um mero instrumento de exploração econômica, de opressão política e de desintegração cultural dos habitantes do continente. Como anarquistas, nosso caráter internacional e onde quer que vivamos e atuemos, lutaremos contra os estados existentes e contra os superestados cuja formação é fomentada (PRIMEIRA CONFERÊNCIA ANARQUISTA AMERICANA. MONTEVIDEO, 1957, p. 23, tradução nossa9).

Através desse documento, os anarquistas justificavam a integração regional e federada do continente americano, além de nele mencionarem as tarefas imprescindíveis para o seu êxito: realização de estudos sobre a “realidade americana”; articulação da imprensa libertária continental; circulação regular, na América, do material anarquista publicado; fortalecimento de vínculos entre os diferentes movimentos anarquistas, em âmbito continental e mundial; incentivo à circulação de militantes por grupos libertários dos países americanos; criação de uma biblioteca/arquivo internacional anarquista; atuação dos militantes nos sindicatos e em outros espaços de sociabilidade (como é o caso dos centros de cultura); criação de comunidades libertárias para a experimentação prática de convivência livre, solidária e fraternal; estímulo de práticas solidárias e fraternas entre os americanos.

Sobre essa conferência, encontramos algumas notas em jornais anarquistas da época, como no Ação Direta, Solidaridad Obrera e Tierra y Libertad. Dentre elas, destacamos a nota publicada no Ação Direta, que se trata de referência a uma carta enviada pelo delegado que representou o Brasil no evento, destinada aos editores e leitores do periódico, na qual o autor relata suas percepções da conferência:

A conferência se desenvolveu em plano tão profundamente anarquista, que, em tudo, chegamos a acordos por unanimidade. [...] Como vereis pelas atas que nos serão dirigidas diretamente, o acordo fundamental é o de intensificar as relações e a organização, projetando o mais possível nossas atividades nas organizações obreiras, culturais etc., propiciando a criação de comunidades (AÇÃO DIRETA, 1957, p. 4).

O delegado ressaltou o caráter do livre acordo como mote da conferência e da anarquia. Em uma reunião ou sociedade de homens livres e iguais, seriam o acordo e o respeito entre as partes que garantiriam a harmonia. Nesse sentido, estimular a intensificação das relações entre militantes de diferentes países e a organização de atividades obreiras e culturais seria crucial para a convivência harmônica em uma sociedade libertária. Do mesmo modo, o incentivo à criação de comunidades anarquistas, tal como a Comunidad del Sur10, de Montevidéu, demonstra que pela prática da solidariedade, da integração entre os homens, do respeito ao outro, da convivência harmônica, seria possível a construção de um mundo mais justo e humano e uma forma de combate aos sistemas autoritários e exploratórios vigentes na América e no mundo. Em busca da construção de uma sociedade livre do horror das guerras e das discórdias oriundas dos imperialismos e autoritarismos, os anarquistas do pós-Segunda Guerra apregoavam que a edificação da utopia libertária era não apenas possível, mas também necessária. A edificação de uma “ilha libertária americana” foi considerada um passo inicial para a erradicação dos males sociais e para a construção de um mundo universalista pautado nos preceitos libertários.

O anarquista francês Perez Guzman, depois de definir o conceito de utopia como um porvir ansiado por indivíduos que buscavam um mundo melhor, afirmou que a utopia libertária seria uma potência capaz de proporcionar a comunhão universal entre todos os povos.

A potência criativa do ideal derrubará um dia as barreiras erguidas pela diferença de raça e nacionalidade e executará o grande trabalho de todos os seres que se juntam em um abraço estreito e solidário; e, então, todos nós viveremos em "ANARQUIA" (GUZMAN , 1961, 2).

Publicado em 1961 no jornal mexicano Tierra y Libertad, o artigo em questão sustentou que a paz, tão almejada em um mundo assolado pelo terror das guerras, só poderia ser alcançada com a eliminação das fronteiras políticas, étnicas e sociais. O discurso de Guzman vai de encontro às reflexões de teóricos e pensadores anarquistas, que buscavam a efetivação prática da anarquia. Afinal, como uma sociedade amparada na liberdade, na igualdade e na solidariedade poderia se constituir quando a divisão e a discórdia são a regra? Como afrouxar a linha das convenções, das fronteiras e da relação com o outro em uma sociedade individualista? Como confrontar os nacionalismos, os patriotismos e, portanto, a imposição de limites capazes de impedir a adesão a um projeto comum?

4 Conclusões

Por reconhecer as singularidades e diferenças entre os povos, os anarquistas defendiam a liberdade, a igualdade de direitos e deveres e a solidariedade como princípio aglutinador das diferenças. Orientados pelo respeito, pela empatia e pelo reconhecimento do outro como um igual, eles insistiam na construção de uma sociedade harmônica, fraterna e pacífica. Podemos, portanto, considerar a “ilha americana libertária”, proposta pela Primeira Conferência Anarquista Americana, como uma etapa crucial no projeto político-cultural utópico de edificação da anarquia pelos anarquistas latino-americanos. A metáfora da ilha, no caso, não remete à clausura. Diferentemente da época em que o mundo estava sendo cartografado, como no tempo da colonização portuguesa, a ilha anarquista não se encontra mais no além-mar: ela está aqui, entre nós, servindo-se de cenário para uma distopia a ser erradicada.

Não se trata de uma metáfora espacial, de um deslocamento para outras paragens livres da corrupção capitalista, mas de uma metáfora temporal, que situa a anarquia no mesmo cenário (uma ilha fluida e sem fronteiras que se adapta, constantemente, às contingências históricas), projetado no amanhã (FELIPE, 2019). Assim, os projetos anarquistas buscavam evidenciar a necessidade da solidariedade, da criação de condições flexíveis e dinâmicas para a elaboração de uma coletividade cujo desenho, sempre feito e desfeito, permitiria um alargamento constante da ilha, da existência libertária. A compreensão desses projetos permite o pesquisador do movimento anarquista latino-americano desvelar importantes aspectos políticos e culturais relacionados ao contexto do pós-Segunda Guerra no continente, marcado pelo horror à guerra e pela força crescente dos nacionalismos, imperialismos e autoritarismos então vigentes.

Referências

AÇÃO DIRETA. A Conferência Anarquista de Montevidéu. Ação direta, São Paulo, ano 31, n. 18, p. 4. 1957.

AÇÃO DIRETA. O Congresso Anarquista Internacional. Ação Direta, São Paulo, ano III, n. 130, p. 4, 1958.

CONFERÊNCIA ANARQUISTA INTERNACIONAL. Manifesto da Conferência Anarquista Internacional, Paris, 1948.

CARDOSO, E. Projeto de Federação Anarquista latino-americana. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1960.

CORRÊA, F. Surgimento e breve perspectiva histórica do anarquismo (1868-2012). São Paulo: Faísca, 2013.

FELIPE, C. T. G. Tópicas libertárias no pós-Segunda Guerra: notícias de todo lugar em uma época de intranquilidade. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, 2019. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/336269. Acesso em: 21 abr. de 2021.

GUZMAN, P. Idealistas y Positivistas. Tierra y Libertad, México, ano 18, n. 217, p. 02, 1961.

LE LIBERTAIRE. Reafirmations internationalistes pour l'année de grâce. Le libertaire, Paris, n. 110, p. 1, 1948.

LE LIBERTAIRE . Pour l'internationale anarchiste. Le Libertaire, Paris, n. 115, p. 04, 1948.

LEUENROTH, E. O problema brasileiro sob o ponto de vista dos anarquistas. Ação Direta, São Paulo, ano 1, n. 9, p. 1, 1946.

PASSOS, S. Desequilíbrio internacional e solução libertária. A Plebe, São Paulo, ano 31, n. 16, p. 01, 1957.

PRIMEIRA CONFERÊNCIA ANARQUISTA AMERICANA. 1º Conferência Anarquista Americana, 1957, Montevidéu, Uruguai.

RODRIGUES. E. Movimento ideológico sem fronteiras. Entre ditaduras (1948-1962), Rio de Janeiro: Achiamé, 1993.

SILVA, R. V. Elementos Inflamáveis: Organizações e Militância Anarquista no Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1964). Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: https://tede.ufrrj.br/jspui/handle/jspui/3344. Acesso em: 21 abr. de 2021.

1 É importante ressaltar que a problemática da guerra sempre foi objeto de discussão entre os anarquistas em diferentes tempos e lugares, não sendo uma exclusividade do período estudado. Nesse sentido, parece-nos pertinente compreender como ela foi tratada no pós-segunda Guerra, quais os sentidos que lhe foram atribuídos em meio à perspectiva de projeção da anarquia (uma sociedade universalista, harmônica, antiautoritária e firmada sob a ética do acordo e respeito mútuos).

2 Convém ressaltar que, no início do século XX, ocorreram iniciativas de integração e fortalecimento das relações anarquistas em âmbito mundial. Em 1907, na cidade de Amsterdã, aconteceu o Primeiro Congresso Internacional Anarquista. Na ocasião, foi criado, em Londres, um departamento internacional anarquista, que funcionou até o ano de 1911. Em 1927, durante uma conferência internacional realizada por iniciativa de um grupo de anarquistas russos exilados na França, chamado Dielo Trouda, foi proposta a criação de uma nova organização com o intuito de articular o movimento anarquista a nível internacional. Anarquistas russos, chineses, franceses, italianos e poloneses propuseram a criação de uma Federação Anarquista Internacional. Contudo, a conferência foi interrompida com a invasão da polícia e com a prisão de todos os seus membros (CORRÊA, 2013).

3 Cabe ressaltar que entre as décadas de 1940 e 1960 o movimento anarquista em âmbito internacional foi marcado por várias iniciativas organizadas por associações libertárias que contaram com a participação de anarquistas latino-americanos como: a Cruz Vermelha Anarquista (1960); a Internacional de Federações Anarquistas – IFA (1968); a rearticulação da Internacional Sindicalista - IWA-AIT (1951) (CORRÊA, 2013).

4 Para mais informações sobre as circulares mencionadas, mencionamos os jornais Le Libertaire (1948) e Ação Direta (1946).

5 Os anarquistas dos Estados Unidos, da Bolívia, do Haiti, do México, de Santo Domingo, do Panamá e do Peru não compareceram, mas enviaram propostas, projetos e sugestões de temas a serem debatidos.

6 A CCRA era uma extensão da Comissão de Relações Internacionais Anarquistas (CRIA), estabelecida na Europa em 1948. A CRIA congregava grupos anarquistas dos seguintes países: Alemanha, Argélia, Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia, Cuba, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Guatemala, Holanda, Índia, Inglaterra, Israel, Itália, Iugoslávia, Japão, México, Marrocos, Panamá, Peru, Portugal, Suíça, Tunísia, Uruguai e Venezuela (CORRÊA, 2013).

7 Do original em espanhol: “Los anarquistas deseamos la libertad, la paz y la solidaridad entre los hombres. Ante la dura realidad reafirmamos nuestra actitud al invitar a los hombres a construir por sí esa paz y esa libertad superando los factores materiales, los prejuicios y dogmas, los intereses mezquinos y los autoritarismos que se les oponen. Ante el propósito suicida de dividir irreductiblemente al mundo en dos bloques igualmente autoritarios e inhumanos, oponemos nuestra actitud anarquista, fraternal y solidaria. Ante la insensata carrera nací a la guerra a que pretenden lanzamos los mentores del poder, anunciamos nuestra suprema decisión de no matar ni morir con propósitos ajenos a los auténticos valores de libertad, fraternidad y justicia. Ante la explotación y el coloniaje de unas naciones por otras, proclamamos el derecho de los pueblos a regir su destino. Ante la existencia de dictaduras legales e ilegales, de nacionalismos estrechos y rencorosos, exponemos nuestra condición universal y libertaria. Ante el capitalismo privado o del estado, y ante el colectivismo compulsivo y desigual, reivindicamos el socialismo libertario, a la medida del hombre, producto de sus aspiraciones y preferencias”.

8 Do original em espanhol: “El continente americano tiene características que facilitan con respecto a otras partes del mundo, la integración regional y federada de su conjunto geográfico. Rasgos comunes como el idioma, idiosincrasia, el origen histórico, etc., y aspectos variados y complementarios, contribuyen a atenuar las diferencias que impone la distante locación geográfica. Por otra parte, las necesidades en el suministro de alimentos artículos de consumo, materias primas, etc., impone una complementación entre las distintas actividades productivas. Todas las condiciones están dadas y todas las necesidades justifican la transformación de la actual América Latina subdividida nacionalmente en un continente en el que las barreras hayan sido suprimidas. Como anarquistas, que no reconocemos una patria y una nacionalidad, bregamos por la internacionalidad de las sociedades humanas, ultrapasando las fronteras los prejuicios y los autoritarismos localistas. América encontrará solución a muchos de sus problemas el día en que los despóticos sistemas de gobierno nacionales sean sustituidos por una organización en la que los individuos concurran directa y libremente a le atención de los problemas sociales, coordinados en un sistema federativo regional

9 Do original em espanhol: “La acción militante de los anarquistas estará siempre informada por la idea de que todos somos hermanos sin discriminación; de que los distintos orígenes nacionales, continentales, sociales, religiosos, etc., carecen de significación ante la realidad indiscutible de masas oprimidas a lo largo y lo ancho del planeta. Como americanos, denunciamos que la subdivisión del pueblo en exasperados nacionalismos es un mero instrumento de la explotación económica, la opresión política y la desintegración cultural de los habitantes del continente. Como anarquistas, nuestro carácter internacional y cualquiera sea el lugar donde vivamos y actuemos, lucharemos contra los estados existentes y contra los superestados cuya formación se propicia”.

10 Comunidade autogestionária anarquista, fundada em 1955, na cidade de Montevidéu.

Latin America as an “island”: a libertarian utopian project

Cláudia Gonçalves Felipe

Cláudia Tolentino Gonçalves Felipe has a degree in History, she is a Ph.D. in History, and a postdoctoral fellow in the area of Human Sciences. She is currently a researcher at the Institute of Philosophy and Human Sciences at the State University of Campinas, where she researches the post-World War II artistic production of John Cage and Hélio Oiticica. claudiatolentino.ufu@gmail.com http://lattes.cnpq.br/6635612645290887


How to quote this text: Felipe, C. T. G., 2021. Latin America as an “island”: A libertarian utopian project. Translated from Portuguese by Cleber Vinicius do Amaral Felipe. V!RUS, 22, July. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus22/?sec=4&item=4&lang=en>. [Accessed: 26 April 2024].

ARTICLE SUBMITTED ON MARCH, 7, 2021


Abstract

Conceived as a contribution to the dossier "Latin America: you are here!”, proposed by the V!RUS journal, this article addresses a political-cultural project formulated by Latin American anarchists in the 1950s. Their proposal, in general terms, aimed at the libertarian reconfiguration of the political, social, geographical, and economic borders of the continent. Understanding anarchism as an internationalist movement, we analyze, at first, the organization of meetings and conferences to strengthen a universalist movement capable of aggregating different peoples around the same goal: the achievement of the libertarian utopia. Next, we analyze a specific case, involving the proposition of a Latin American society held at the American Anarchist Conference of Montevideo (1957). This conference was attended by representatives of anarchism from different regions of the American continent and had as its main agenda the need for integrating their countries into a single "island", where political, social, geographical, or economic borders would be abolished in favor of the consolidation of a libertarian federalist society.

Keywords: Anarchism, Universalism, Latin America, Utopia



1 Introduction

In an article published in the journal Ação Direta, the anarchist Edgard Leuenroth (1946) explored elements from his project for the transformation of Brazilian society. Based on the premise that World War II was the result of a "clash of ambitions and the exploitation of man by man" that shook the foundations on which the organization of all nations sat, the militant warned that another conflict of such magnitude would inevitably lead to the ruin of humanity1. Given this scenario, Leuenroth stated that, for some individuals, immediate improvements would be enough to keep the "building" standing; for others, only a complete transformation of the bases/structures could prevent a collapse. The anarchist assured that conferences and armistices would not be enough, as they were seen by him as provisional measures that, in the long run, would prove ineffective. On the other hand, the construction of anarchy could promote lasting peace among peoples:

The wattle and daub house ranch where we live threatens to collapse at the impulse of a stronger wind of the eastern floodplain. The pillars gnawed by termite require replacement, the drips from the roof claim for some bundles of straw, also needing to cover, with some handfuls of clay, the holes on the walls and to punch the earthen floor. We need to improve it so it can shelter us for some time while we take care of the transformation. The floorplan of the big house is already being finished so that its construction does not delay. It will be a large and beautiful sunny building, with large windows, through which will pass a lot of air and light. It will have spacious rooms, lined and paved, and a complete pantry. The furniture will be complemented with a radio, a television, and a refrigerator, and, in the next room, there would not be a lack of a bookcase. Let's finish the construction on time so that the house ranch does not fall on us (Leuenroth, 1946, p. 1, our translation).

After enumerating the benefits of anarchy, Leuenroth asserted that the sores and pains stemming from capitalist society would be abolished. To this end, the utopian anarchist project ("house plan") was announced as a way of building this new social order. Imagining, writing, designing its foundations, organization, and functioning would be, for the author, an urgent demand. If the system was bankrupt, ruined, there was no other way out but to transform it. Proposing new forms of life and coexistence among men in the post-war period was a concern not only for Edgard Leuenroth but also for other anarchists, such as Ênio Cardoso, who outlined a libertarian project for Latin America based on a society free of political, social, geographical, or economic boundaries (Cardoso, 1960). Despite these representations, part of the historiography that studied the libertarian acting in the post-World War II conferred little or no importance to these proposals (Silva, 2014). Soon, scholars ended up disregarding important aspects of libertarian practice, such as its universalist and transnational aspects (after all, it was a joint action activated by networks of militants of different nationalities).

Conceived as a contribution to the dossier "Latin America: you are here!”, proposed by the V!RUS journal, this article addresses a political-cultural project formulated by Latin American anarchists in the 1950s. Their proposal, in general, aimed at the libertarian reconfiguration of the political, social, geographical, and economic borders of the continent. Understanding anarchism as an internationalist movement, we analyze, at first, the organization of meetings and conferences to strengthen a universalist movement capable of aggregating different peoples around the same goal: the building of the libertarian utopia. Next, we analyze a specific case, involving the proposition of a Latin American society held at the American Anarchist Conference of Montevideo (1957). This conference was attended by representatives of anarchism from different regions of the American continent and had as its main agenda the need of integrating their countries into a single "island", where political, social, geographical, or economic borders would be abolished in favor of the consolidation of a libertarian federalist society.

2 Ruining borders

The militant Edgar Rodrigues stated that, in the post-Second World War, the expansion of libertarian relations allowed the consolidation of Brazilian anarchism as a movement without borders, solidary, and critical about libertarian practices at the international level (Rodrigues, 1993). In the newspapers, we find several complaints against the persecutions and atrocities suffered by anarchists of different nationalities but we also find notes of solidarity offering support and words of encouragement, discussions, and debates about ideas from various localities, texts and publications with a libertarian intent, reflections about the need for national, continental and international integrations. The attempt to strengthen international relations between anarchist organizations intensified after 19452. Militants and authors from different parts of the world began to discuss the importance of creating ties and establishing a network of international solidarity. Such an initiative was a form of resistance and a mechanism for strengthening and disseminating the libertarian ideal, which was seen as the only way to promote anarchy3.

In 1945, anarchists from the French and Spanish movement suggested the need for an international meeting to propose integrated actions. In the following year, Bulgarian militants recommended the appointment of a commission to prepare an international congress. The committee's first circular called for suggestions on topics to be discussed at the meeting and a place for its realization. In addition, it envisaged the possibility of establishing an International Anarchist Federation. The summary of the responses received was published in a second circular, written in Spanish, French, and Italian. Germany, Argentina, Austria, Belgium, Bolivia, Brazil, Cuba, China, Ecuador, Spain, Italy, Mexico, Poland, Switzerland and Sweden are among the countries that have submitted comments.

Most of the participants welcomed the commission's initiative and pondered the creation of an international anarchist organization. Argentines, for example, mentioned the risk of the International Federation becoming authoritarian and exercising the right to represent the whole anarchism despite regional particularities. Thus, they proposed the creation of a committee of international relations, which would perform purely informative and inter-relational functions. The French stated that this organization, with adequate planning, would be important not only to strengthen libertarian relations in general but to efficiently assist anarchic rebellions in various locations. In addition, another suggestion was the creation of an organization responsible for the keeping, preservation, and circulation of libertarian files. This action was considered indispensable, as it would ensure libertarian intercommunication and the strengthening of contact networks4.

In January 1948, an article published in the French newspaper Le libertaire suggested that the world had just witnessed the end of a time of terror and the beginning of a golden era. Thus, the year 1948 was conceived as the limit of a secular turn, marked by the cessation of wars and horrors. Such a turnaround would be guaranteed by the international anarchist union, to be carried out by a meeting adverse to war and authoritarianism. This would be an advance in the construction of a harmonious world, united and founded on libertarian precepts (Le Libertaire, 1948, p. 1). In the issue published in June 1948, the Brazilian newspaper A Plebe dedicated to the survey of information, sourced from abroad, about the preparation of this international anarchist meeting. One of the articles, written by Souza Passos, dealt specifically with anarchism as a solution to all the problems faced by the world under the aegis of the capitalist regime: wars, hunger, immorality, corruption, inequality, hatred, envy, and disagreements between men and societies. For Passos, the global imbalance would only end with the establishment of a society composed of federated peoples and united by the feeling of solidarity and mutual support. The holding of an international anarchist meeting would, therefore, be an important step (Passos, 1948). Both articles highlight the expectations about the possibility of strengthening anarchist relations at the international level.

Between May 15 and 17, 1948, it was held, in Paris, the so-called "International Anarchist Conference", which examined the general situation of the world as well as the anarchist organizations and their relations around the world. The participants developed an international work program and designated an organization for its coordination, called Commission Internationale des Relations Anarchistes (C.R.I.A.). C.R.I.A. would have the following responsibilities: mediation between isolated libertarian groups to ensure solidarity; assembling of international archives to enable the circulation of anarchist publications; drafting of regular bulletins with information about libertarian integration initiatives, written in several languages. The conference manifest, launched shortly after its realization, mentioned the desire for international unification through solidarity and fraternity. In this sense, actions and initiatives aimed at strengthening the bonds between anarchists were encouraged and seen as a way of organizing a universal libertarian society. In the manifesto, anarchism was conceived as the only ideal capable of solving crises and avoiding a cycle of uninterrupted wars. Moreover, only this ideal could provide a society united in love and respect:

Bourgeois democracy is bankrupt. Private capitalism has shown its incapacity to resolve its own contradictions. State capitalism, under the total form of Bolshevik dictatorships, of misleading "Labour" [Party] nationalizations, or of the reactionary demagogies of fascism, has shown itself to be the pitiless degradation of all human values. Liberalism and totalitarianism chain us to an economy of war, where the whole of society serves the production of means of destruction. A reconciliation between the two blocks which overwhelm the world would bring no salvation ... None of the problems created by ruin, famine and social chaos will be resolved by the eventual combination of the Marshall [U.S.] and Molotov [USSR] plans [for post-war reconstruction). Under the pretext of economic and political reconstruction, these plans are instruments of imperialism. None of the spiritual forces which pretend to lead humanity according to the dictates of States, Churches and Parties is today any longer capable of a useful role. All have floundered in the most brutal fanaticism. All the political, trade union and religious organizations embodied in authority have become merely the machines of slavery. (...) All that our generation has lived through is no other than an accumulation of evils, resulting from the very functioning of authoritarian society, from the crushing of the forces of liberty (International Anarchist Manifesto, 1948 apud Graham, 2009, p. 40-41).

It was announced that, with the expansion of international relations, aid, and mutual support between different countries, the world would be preparing to break with the modus operandi of the current society. The practice of solidarity was indicated as an exercise of conquest, as a form of revolution capable of reaching all peoples. This revolution, anchored in anarchist principles, could tear humanity out of this cycle of destruction: “Anarchy, principle of organization without dogmas or frontiers, is the sole road to peace...” (International Anarchist Conference, 1948 apud Graham, 2009, p. 42). In other words, the only way to achieve universal fraternization.

Some countries conceived the organization of an international anarchist meeting as an incentive to improve the articulation of the local movement itself. For several reasons, such as the intensification of authoritarian and totalitarian regimes, the incidence of major wars, and local conflicts, the anarchist movement suffered unprecedented persecution in some countries. Participation in an international meeting would serve as a stimulus for the perpetuation of the libertarian struggle. In Brazil, for example, shortly after the 1948 international conference, a national congress was organized aiming at strengthening local and regional relations, as well as the dissemination and propaganda of the libertarian ideals. The statement below, made by anarchist and militant Edgard Rodrigues, assesses the scope of this congress:

The 1948 meeting did not merely prove that anarchism had not died or lost the organizational capacity of its militants, it also served to plan and approve its directions in Brazil, standardize propaganda and create the CRA (Comissão de Relações Anarquistas), whose activity would exceed the geographical borders of the Brazilian territory. It also served to exchange experiences and sociological culture, expand the exchange of propaganda with the movements of other countries and make room for the 1953’s Congress of Rio de Janeiro. It also approved the formation of specific groups, local and municipal unions, deliberated against collaborationism, militarism, clericalism, and the fight in opposition to all dictatorships (Rodrigues, 1993, p. 29, our translation).

For Rodrigues, the national meeting strengthened the Brazilian anarchist movement and helped to expand international relations. The Comissão de Relações Anarquistas (Anarchist Relations Commission), created during the assembly, was responsible for narrowing ties between anarchists in the country and other parts of the world, such as French, Italian, Spanish, Argentines, Peruvians, Mexicans, Japanese, Swiss, British, Cubans, Americans, and Uruguayans. The CRA expedited the exchange of information, correspondence, circulars, bulletins, reports, and newspapers. As we shall see, attempts to strengthen anarchism as a universalist movement led to the proposal, in America, of configuring the continent as a single "island" without divisions of political, social, geographical, or economic borders.

3 The integration of latin america

Between April 14 and 21, 1957, the First American Anarchist Conference took place in Montevideo, with the presence of anarchist delegations from Brazil, Argentina, Chile, Uruguay, and Cuba5. The conference was organized by the Comissão Continental de Relações Anarquistas (Continental Commission on Anarchist Relations), CCRA, which brought together "all anarchist groups from the American continent6" and aimed to study the economic, social, political, and cultural situation of America. The document describing this conference states that the study started from an essential goal of libertarian thought: the understanding of man as a free and historical being who acts in search of the satisfaction of his wishes, but always in line with the rights of others. The intention was to comprehend to what extent society allowed (or not) man to come true in its fullness.

The anarchists want freedom, peace, and solidarity among men. In the face of the harsh reality, we reaffirm our attitude by inviting men to build for themselves this peace and freedom, overcoming material factors, prejudices and dogmas, petty interests, and authoritarianism. To the suicidal intention of irrevocably dividing the world into two equally authoritarian and inhuman blocs, we oppose it with our anarchist, fraternal, and supportive attitude. Faced with the foolish race from which borns the war that the masters of power intend to put us, we announce our supreme decision not to kill or die for purposes other than the authentic values of freedom, brotherhood, and justice. Faced with the exploitation and colonization of some nations by others, we proclaim the right of peoples to rule their destiny. Faced with the existence of legal and illegal dictatorships, narrow and spiteful nationalisms, we expose our universal, and libertarian condition. Faced with private or state capitalism and faced with compulsive and unequal collectivism, we claim libertarian socialism, tailor-made for man, the product of his aspirations and preferences (Primeira Conferência Anarquista Americana. Montevideo, 1957, p. 8-9, our translation7).

It is evident that, in addition to the divisions and disagreements caused by men within capitalist societies, anarchists wanted the construction of a fraternal, solidary, and based on universal precepts. The document mentions major problems that affected the world after World War II, such as the spread of authoritarianism, imperialism, and nationalist sentiments, evils arising from injustices, hatreds, discords, and wars. These evils could only be fought through the perpetuation of freedom and solidarity. To prevent the State from continuing with its power of domination and the atrophy of man as a free and social being, it would be necessary to multiply the networks of free associations, strengthening social relations, and stimulating the creative capacities of people.

To prove that the libertarian precepts of social harmony were compatible with the natural order of any society (which should be free, egalitarian, solidary, and universal), the document highlights that the very constitution of the American continent would favor regional and federated integration of its geographical set. Therefore, it presents the proposal for a territory without borders, especially among the countries that were part of Latin America:

The American continent has characteristics that facilitate, in comparison to other parts of the world, the regional and federated integration of its geographical set. Common characteristics such as language, idiosyncrasy, historical origin, etc., and varied and complementary aspects, contribute to attenuate the differences imposed by distant geographical location. On the other hand, the needs of food supply, consumer goods, raw materials, etc., impose a complementation between the different productive activities. All conditions are grouped, and all needs justify the transformation of contemporary Latin America, which is nationally subdivided into a continent in which barriers have been removed. As anarchists who do not recognize homeland and nationality, we fight for the internationality of human societies, crossing the boundaries of local prejudices and authoritarianism. America will find a solution to many of its problems on the day that national despotic systems of government are replaced by an organization in which individuals, directly and freely, turn their attention to social problems, coordinated in a regional federative system. (Primeira Conferência Anarquista Americana. Montevideo, 1957, p. 22, our translation8).

The text continues to explain the libertarian perspective on the need for this integration of Latin America:

The militant action of anarchists will always be informed by the idea that we are all brothers without discrimination; that the different origins national, continental, social, religious, etc., lack meaning in the face of the indisputable reality of the oppressed masses across the planet. As Americans, we denounce that the subdivision of the people into exasperated nationalisms is a mere instrument of economic exploitation, political oppression, and cultural disintegration of the inhabitants of the continent. As anarchists, our international character and wherever we live and act, we will fight against existing states and against superstates whose formation is fostered. (Primeira Conferência Anarquista Americana. Montevideo, 1957, p. 23, our translation9).

Through this document, the anarchists justified the regional and federated integration of the American continent, besides mentioning the essential tasks for its success: conducting studies about the "American reality"; articulation of the continental libertarian press; regular circulation, in America, of published anarchist material; strengthening bonds between the different anarchist movements, at continental and global levels; encouraging the movement of militants by libertarian groups in American countries; creation of an international anarchist library/archive; activities of militant members in trade unions and other spaces of sociability (such as cultural centers); creation of libertarian communities for the practical experimentation of free, solidary, and fraternal coexistence; and encouragement of solidarity and fraternal practices among Americans.

About this conference, we find some notes in contemporary anarchist newspapers, as in Ação Direta, Solidaridad Obrera, and Tierra y Libertad. Among them, we stand out the note published in Ação Direta, which is a reference to a letter sent by the delegate who represented Brazil at the event, aimed at the editors and readers of the journal, in which the author reports his perceptions of the conference:

The conference was developed in such a deeply anarchist plan that, in everything, we reached unanimous agreements. (...) As you will see by the minutes that will be addressed to us directly, the fundamental agreement is to intensify relations and organization, projecting, as much as possible, our activities in the workers' and cultural organizations, etc., providing the creation of communities (Ação Direta, 1957, p. 4, our translation).

The delegate stresses the character of the free agreement as the motto of the conference and anarchy. In a meeting or a society of free and equal men, the agreement and respect between the parties would be responsible for ensuring harmony. In this sense, stimulating the intensification of relations between militants from different countries and the organization of work and cultural activities would be crucial for harmonious coexistence in a libertarian society. Likewise, encouraging the creation of anarchist communities, such as the Comunidad del Sur10 in Montevideo, demonstrates that by the practice of solidarity, integration between men, respect for the other, harmonious coexistence, it would be possible to build a more just and humane world and a way of combating the authoritarian and exploitative systems in force in America and the world. In search of the construction of a society free from the horror of wars and conflicts stemming from imperialism and authoritarianism, post-World War II anarchists proclaimed that the building of libertarian utopia was not only possible but also necessary. The building of an "American libertarian island" was considered an initial step towards the eradication of social ills and for the construction of a universalist world based on libertarian precepts.

The French anarchist Perez Guzman, after defining the concept of utopia as an event pursued by individuals seeking a better world, said that the libertarian utopia would be a power capable of providing universal communion among all peoples.

The creative power of the ideal will break down the barriers erected by the difference of race and nationality and will perform the great work of all beings who come together in a close and supportive embrace; and then we will all live in "ANARCHY" (Guzman, 1961, p. 2, our translation).

Published in 1961 in the Mexican newspaper Tierra y Libertad, this article argued that peace, so desired in a world beset by the terror of wars, could only be achieved by eliminating political, ethnic, and social boundaries. Guzman's speech approaches the reflections of anarchist theorists and thinkers, who sought the practical realization of anarchy. After all, how can a society based on freedom, equality, and solidarity be constituted when division and conflict are the rules? How to loosen the line of conventions, borders, and relationships with others in an individualistic society? How to confront nationalisms, patriotisms, and, therefore, the imposition of limits capable of preventing the adherence to a common project?

4 Conclusions

Recognizing the singularities and differences between peoples, anarchists defended freedom, equal rights and duties, and solidarity as unifying principles of differences. Guided by respect, empathy, and recognition of the other as an equal, they insisted on building a harmonious, fraternal and peaceful society. We can therefore consider the "libertarian American island", proposed in the context of the Primeira Conferência Anarquista Americana (First American Anarchist Conference), as a crucial step in the utopian political-cultural project of building anarchy by Latin American anarchists. The metaphor of the island, in this case, does not refer to the cloister. Unlike the time when the world was being mapped, as in the time of Portuguese colonization, the anarchist island is no longer located overseas: it is here, among us, using the setting for a dystopia to be eradicated.

It is not a spatial metaphor, a shift to other stops free of capitalist corruption, but a temporal metaphor, which situates anarchy in the same scenario (a fluid and borderless island that constantly adapts to historical contingencies), projected in tomorrow (Felipe, 2019). Thus, anarchist projects sought to highlight the need for solidarity, the creation of flexible and dynamic conditions for the elaboration of a collectivity whose design, always done and undone, would allow a constant enlargement of the island, of libertarian existence. The understanding of these projects allows the researcher of the Latin American anarchist movement to unveil important political and cultural aspects related to the post-World War II context on the continent, marked by the horror of war and the growing strength of nationalisms, imperialism, and authoritarianism in force.

References

Ação Direta, 1957. A Conferência Anarquista de Montevidéu. Ação Direta. São Paulo, ano 31, n. 18, pp. 4.

Ação Direta, 1958. O Congresso Anarquista Internacional. Ação Direta. São Paulo, year III, (130), pp. 4.

Cardoso, E., 1960. Projeto de Federação Anarquista latino-americana. Rio de Janeiro: Mundo Livre.

Corrêa, F., 2013. Surgimento e breve perspectiva histórica do anarquismo (1868-2012). São Paulo: Faísca.

Felipe, C. T. G., 2019. Tópicas libertárias no pós-Segunda Guerra: notícias de todo lugar em uma época de intranquilidade. PhD Thesis. Estadual University of Campinas. Available at: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/336269. Accessed 1 April 2021.

Graham, R., 2009. Anarchism: a documentary history of libertarian ideas. Vancouver: Black Rose Books.

Guzman, P., 1961. Idealistas y Positivistas. Tierra y Libertad, México, year 18, (217), pp. 02.

Le Libertaire, 1948. Reafirmations internationalistes pour l'année de grâce. Paris, (110), pp. 1.

Le Libertaire, 1948. Pour l'internationale anarchiste. Paris, n. 115, p. 04.

Leuenroth, E., 1946. O problema brasileiro sob o ponto de vista dos anarquistas. Ação Direta, São Paulo, year 1, (9), p. 1.

Passos, S., 1957. Desequilíbrio internacional e solução libertária. A Plebe, São Paulo, year 31, (16), pp. 01.

Primeira Conferência Anarquista Americana, 1957. 1º Conferência Anarquista Americana, Montevidéu, Uruguai.

Rodrigues. E., 1993. Movimento ideológico sem fronteiras. Entre ditaduras (1948-1962), Rio de Janeiro: Achiamé.

Silva, R. V., 2014. Elementos Inflamáveis: Organizações e Militância Anarquista no Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1964). PhD Thesis. Rural Federal University of Rio de Janeiro. Available at: https://tede.ufrrj.br/jspui/handle/jspui/3344. Accessed 1 April 2021.

1 It is important to emphasize that the problem of war has always been the object of discussion among anarchists at different times and places, and it is not an exclusivity of the period studied. In this sense, it seems pertinent to understand how this issue was addressed in the post-World War II and which meanings were attributed to it in the midst of the perspective of projection of anarchy (a universalist, harmonic, anti-authoritarian society based on the ethics of mutual agreement and respect).

2 It should be noted that, in the beginning of the 20th century, initiatives were made to integrate and strengthen anarchist relations worldwide. In 1907, in the city of Amsterdam, the First International Anarchist Congress took place. At the time, an international anarchist department was created in London, which operated until 1911. In 1927, during an international conference held at the initiative of a group of Russian anarchists exiled in France, called Dielo Trouda, it was proposed the creation of a new organization with the aim of articulating the anarchist movement at the international level. Russian, Chinese, French, Italian and Polish anarchists proposed the creation of an International Anarchist Federation. However, the conference was interrupted with the invasion of the police and the arrest of all its members (Corrêa, 2013).

3 It is noteworthy that, between the 1940s and 1960s, the anarchist movement at international level was marked by several initiatives organized by libertarian associations that had the participation of Latin American anarchists such as: the Cruz Vermelha Anarquista (1960); the Internacional de Federações Anarquistas - IFA (1968); the rearticulation of the Internacional Sindicalista - IWA-AIT (1951). (Corrêa, 2013).

4 For more information on the circulars mentioned, we mention the newspapers Le Libertaire (1948) and Ação Direta (1946).

5 Anarchists from the United States, Bolivia, Haiti, Mexico, Santo Domingo, Panama and Peru did not attend it, but sent proposals, projects and suggestions for topics to be discussed.

6 The CCRA was an extension of the Comissão de Relações Internacionais Anarquistas (CRIA), established in Europe in 1948. CRIA brought together anarchist groups from the following countries: Germany, Algeria, Argentina, Australia, Bolivia, Brazil, Bulgaria, Canada, Chile, China, Colombia, Korea, Cuba, Ecuador, Spain, United States, France, Guatemala, Netherlands, India, England, Israel, Italy, Yugoslavia, Japan, Mexico, Morocco, Panama, Peru, Portugal, Switzerland, Tunisia, Uruguay and Venezuela (Corrêa, 2013).

7 From the original in Spanish: “Los anarquistas deseamos la libertad, la paz y la solidaridad entre los hombres. Ante la dura realidad reafirmamos nuestra actitud al invitar a los hombres a construir por sí esa paz y esa libertad superando los factores materiales, los prejuicios y dogmas, los intereses mezquinos y los autoritarismos que se les oponen. Ante el propósito suicida de dividir irreductiblemente al mundo en dos bloques igualmente autoritarios e inhumanos, oponemos nuestra actitud anarquista, fraternal y solidaria. Ante la insensata carrera nací a la guerra a que pretenden lanzamos los mentores del poder, anunciamos nuestra suprema decisión de no matar ni morir con propósitos ajenos a los auténticos valores de libertad, fraternidad y justicia. Ante la explotación y el coloniaje de unas naciones por otras, proclamamos el derecho de los pueblos a regir su destino. Ante la existencia: de dictaduras legales e ilegales, de nacionalismos estrechos y rencorosos, exponemos nuestra condición universal y libertaria. Ante el capitalismo privado o del estado, y ante el colectivismo compulsivo y desigual, reivindicamos el socialismo libertario, a la medida del hombre, producto de sus aspiraciones y preferencias”.

8 From the original in Spanish: “El continente americano tiene características que facilitan con respecto a otras partes del mundo, la integración regional y federada de su conjunto geográfico. Rasgos comunes como el idioma, idiosincrasia, el origen histórico, etc., y aspectos variados y complementarios, contribuyen a atenuar las diferencias que impone la distante locación geográfica. Por otra parte, las necesidades en el suministro de alimentos, artículos de consumo, materias primas, etc., impone una complementación entre las distintas actividades productivas. Todas las condiciones están dadas y todas las necesidades justifican la transformación de la actual América Latina subdividida nacionalmente en un continente en el que las barreras hayan sido suprimidas. Como anarquistas, que no reconocemos una patria y una nacionalidad, bregamos por la internacionalidad de las sociedades humanas, ultrapasando las fronteras los prejuicios y los autoritarismos localistas. América encontrará solución a muchos de sus problemas el día en que los despóticos sistemas de gobierno nacionales sean sustituidos por una organización en la que los individuos concurran directa y libremente a le atención de los problemas sociales, coordinados en un sistema federativo regional”.

9 From the original in Spanish: “La acción militante de los anarquistas estará siempre informada por la idea de que todos somos hermanos sin discriminación; de que los distintos orígenes nacionales, continentales, sociales, religiosos, etc., carecen de significación ante la realidad indiscutible de masas oprimidas a lo largo y lo ancho del planeta. Como americanos, denunciamos que la subdivisión del pueblo en exasperados nacionalismos es un mero instrumento de la explotación económica, la opresión política y la desintegración cultural de los habitantes del continente. Como anarquistas, nuestro carácter internacional y cualquiera sea el lugar donde vivamos y actuemos, lucharemos contra los estados existentes y contra los superestados cuya formación se propicia”.

10 Anarchist self-management community, founded in 1955 in the city of Montevideo.