A cidade na perspectiva sociotécnica: ontologias políticas, agenciamentos urbanos e lugares híbridos

Fabíola Belinger Angotti, Marcelo Hamilton Sbarra, Paulo Afonso Rheingantz, Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro

Fabíola Belinger Angotti é arquiteta e urbanista. Pesquisadora dos Programas de Pós-Graduação em Arquitetura e em Psicologia, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estuda percepção ambiental e análise da forma arquitetônica e da morfologia urbana; relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), Teoria Ator-Rede (TAR) e Arquitetura e Urbanismo.

Marcelo Hamilton Sbarra é arquiteto e urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estuda avaliação pós-ocupação, qualidade do lugar, psicologia ambiental e análise do discurso.

Paulo Afonso Rheingantz é arquiteto e urbanista, Doutor em Engenharia de Produção. Professor dos Programas de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal de Pelotas. Estuda avaliação pós-ocupação e qualidade do lugar na perspectiva dos estudos Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).

Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro é psicóloga, Doutora em Comunicação e Cultura. Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Cultura Contemporânea: subjetividade, conhecimento e tecnologia. Estuda subjetividade, tecnologias e vigilância a partir da Teoria Ator-Rede (TAR).


Como citar esse texto: ANGOTTI, F. B.; SBARRA, M. H.; RHEINGANTZ, P. A.; PEDRO, R. M. L. R. A cidade na perspectiva sociotécnica: ontologias políticas, agenciamentos urbanos e lugares híbridos. V!RUS, São Carlos, n. 14, 2017. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus14/?sec=4&item=1&lang=pt>. Acesso em: 15 Out. 2024.


Resumo

Entendendo que a cidade contemporânea tem se complexificado em função das diversas relações que ocorrem entre pessoas, ambientes e objetos, neste artigo buscamos explorar algumas possibilidades relacionadas com a temática da chamada da revista V!RUS 14, tecendo a cidade na contemporaneidade. Inspirados nos estudos Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) e na Teoria Ator-Rede (TAR) trazemos à reflexão o nosso entendimento de cidade múltipla e suas ressonâncias nos lugares híbridos no campo da Arquitetura-Urbanismo (AU), a partir de leituras de autores que atuam nestes campos. Nessa perspectiva, reconhecemos a cidade como um território cuja performance se produz a partir dos atravessamentos que envolvem os agenciamentos e os efeitos das conexões entre os diferentes actantes que participam da vida urbana. Associar os estudos CTS, a TAR e a AU possibilita o delineamento de uma ontologia alternativa para compreender, produzir e performar os movimentos de um conjunto heterogêneo de entidades ou lugares híbridos que se coproduzem continuamente.

Palavras-chave: Cidade contemporânea; Ciência-Tecnologia-Sociedade; Teoria Ator-Rede; Ontologias políticas; Lugares híbridos


1 Introdução

A possibilidade de atentar para os processos que constituem a cidade, priorizando as ações dos diferentes atores, nos serviu como motivação para apresentar nossa visão – inspirada no pensamento de autores (AMIN; GRAHAN, 1997; FARÍAS; BENDER, 2010; FARÍAS, 2011; AMIN; THRIFT, 2002) que se ancoram nos referenciais do campo de estudos Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS)1 e, mais especificamente, da Teoria Ator-Rede (TAR)2 – sobre a cidade contemporânea, o estudo dos ambientes urbanos e a diversidade de relações envolvendo pessoas, ambientes e objetos e suas ontologias políticas (MOL, 2008).

As conexões possíveis entre os estudos CTS, a TAR e a Arquitetura-Urbanismo (AU)3 nos possibilitam entender a “cidade como uma parcialidade de múltiplas associações de redes heterogêneas envolvendo os espaços e as ações que nelas são performadas” (FARÍAS; BENDER, 2010, p. 1, tradução nossa). Como a cidade está em contínuo movimento, seus lugares e edifícios podem ser caracterizados como quase-tecnologias e como tipos (GUGGENHEIM, 2010): ao mesmo tempo em que são singulares – têm localização e forma estável – acolhem diferentes usos. Por serem transformados pelas ações de seus usuários e dos novos dispositivos artificiais e tecnológicos (LATOUR; YANEVA, 2008), também podem ser imóveis mutáveis (GUGGENHEIM, 2010).

Tecer a cidade em sua complexidade requer, portanto, acolher suas diversidades, contradições, movimentos e temporalidades que, ao se articularem, produzem lugares híbridos4. A experiência de viver e sentir a cidade implica em encontros e desencontros, conexões constantes entre os diferentes atores humanos e não humanos que, ao se hibridizarem, produzem efeitos sociais, políticos, éticos, subjetivos e estéticos (RHEINGANTZ; PEDRO; SZAPIRO, 2016).

Apostamos em uma abordagem transdisciplinar e em um trabalho conjunto e constante de fazer e refazer o diálogo de produção de conhecimento para compreender a cidade na atualidade e contornar as limitações das propostas e análises que, privilegiam os aspectos morfológicos, quantitativos e funcionais dos lugares, e que se baseiam no paradigma estabelecido pela Modernidade (LATOUR, 1994), aqui entendida como uma “atitude” que envolve a “operação conjunta de dois conjuntos de práticas distintas” (PEDRO, 2003, p. 30): a “hibridação”, ou conjunto de práticas responsáveis pela criação de misturas entre gêneros híbridos de natureza e sociedade; e a “purificação”, que condiciona a evolução da ciência à eliminação de todas as influências ‘externas’ (a subjetividade humana).

Reforçamos a ideia de que a associação dos estudos que envolvem CTS, TAR e AU possibilita pensar em uma ontologia para compreender, produzir e mapear os lugares que atuam no urbano, enfatizando sua polifonia que, a todo tempo, repercute no entendimento dos modos como se tece a cidade em ação5.

2 Ontologias políticas e multiplicidade da cidade na atualidade

Alinhada com a perspectiva CTS, e partindo do entendimento de que a 'realidade' é modelada a partir das práticas cotidianas que permitem interagirmos com ela, Annemarie Mol cunhou o termo composto ontologia política6: ontologia define o que “pertence ao real, as condições de possibilidade com que vivemos” (MOL, 2008, p. 63) e política sublinha o “modo ativo desse processo de modelação, seu caráter aberto e contestado” (MOL, 2008, p. 63). A realidade, em sua dimensão ontológica, é sempre feita, localizada – histórica, cultural e materialmente – e múltipla (MOL, 2008). Performar uma determinada realidade significa que ela é muito mais produzida do que observada, ou seja, é “manipulada por meio de vários instrumentos, no curso de uma série de diferentes práticas" (MOL, 2008, p. 66). Ao retirar o caráter supostamente estável e determinado da realidade, tecer a cidade implica em acolher diferentes versões ou as múltiplas realidades do urbano em si, cada vez mais intrincadas e difíceis de serem generalizadas (AMIN; THRIFT, 2002). Em suas múltiplas realidades, a cidade é composta simultaneamente:

como uma cidade turística, como um sistema de transporte, como a competência territorial, como o mercado imobiliário, como playground para skatistas e praticantes de parkour7, como espaço do consumo, como a paisagem de poder, como um espaço público para ações políticas e manifestações, como espaço vigiado, como um espaço de trânsito, como um ambiente criativo, como uma tela gigante para grafiteiros e artistas de rua, tais como rede de esgotos etc (FARÍAS, 2011, p. 29, tradução nossa).

Tal proposição possibilita que outras entidades sejam incluídas no processo de entendimento da cidade, contrapondo-se à ideia de uma única verdade presente em outras concepções vigentes, tais como as leituras morfológica, sociológica e sistêmica da cidade, ou a “cidade inteligente” – que se apoia na presença de tecnologias de informação e comunicação de modo a enfatizar as dimensões produtiva e competitiva da cidade. A qualidade do urbano não se resume à sua materialidade, à sua geografia ou à sua tecnologia. Ela vai sendo tecida nas possibilidades de conexões que se estabelecem enquanto ocorrem as ações que, por sua própria natureza e dinâmica, não são passíveis de categorizações ou análises cuja ênfase se restrinja a um determinado elemento ou conjunto de elementos.

Como grande parte das teorias e abordagens dedicadas a pensar a cidade tende a se concentrar em alguns elementos da vida urbana – como cultura, habitação, política, planejamento etc. –, Amin e Grahan (1997) propõem a cidade multiplex, um conjunto de espaços onde se aglutinam diversos intervalos de teias relacionais, interconectadas e fragmentadas; [...] uma justaposição de contradições e diversidades” (AMIN; GRAHAN, 1997, p. 418, tradução nossa).

Em sua complexidade, as cidades incorporam a natureza, as pessoas, as coisas e o ambiente construído. Elas são espacialmente abertas e entrecruzadas por diversos fluxos de pessoas, tipos de mobilidades, informações e mercadorias, onde a vida urbana é um produto dessa mistura (AMIN; THRIFT, 2002). “Cada momento urbano pode provocar improvisações performativas inesperadas; [...] isso significa a luta para nomear as espacialidades negligenciadas e inventar outras novas, imprevisíveis” (AMIN; THRIFT, 2002, p. 4, tradução nossa). Como a cidade está em toda parte do mundo e abriga assentamentos com múltiplas configurações, é cada vez mais difícil concordar sobre o que realmente conta como cidade (AMIN; THRIFT, 2002). Proliferam áreas metropolitanas8 e lugares interligados por corredores de comunicação, tais como aeroportos e linhas aéreas, estações e linhas férreas, estacionamentos e autoestradas, teleportos e vias de informação. "As pegadas da cidade estão por todos esses lugares, na forma de viajantes urbanos, turistas, tele-trabalho, mídia e urbanização de estilos de vida" (AMIN; THRIFT, 2002, p. 1, tradução nossa).

Assim, em lugar de pensar a cidade a partir da fragmentação dos lugares, que por vezes promove a segregação espacial, ou ainda, a partir da relação centro-periferia, nosso interesse vêm se ocupando progressivamente dos aspectos ou elementos que performam a conexão entre tais lugares.

Seguindo o argumento de Devan Sudjic (1992 apud AMIN; THRIFT, 2002), os conglomerados da Grande São Paulo ou da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro, associam diferentes cidades ou centros urbanos, como São Bernardo e Nova Iguaçu, mesmo sendo tão próximas. São conglomerados de cidades e lugares híbridos envolvidos com a vida cotidiana que acontecem nos assentamentos adjacentes.

Ao entender a realidade como múltipla, a ontologia política possibilita visualizar, operar ou tecer as múltiplas realidades urbanas com o auxílio de dispositivos tecnológicos, que amplificam e requalificam nossa performance sociotécnica de georreferenciamento, de gráfica digital e de inclusão da dimensão paramétrica; scanners, dispositivos de vigilância etc. Nossas observações têm sido performadas a partir de uma associação híbrida entre os dispositivos humanos de percepção e alguns dispositivos tecnológicos – tais como, máquinas fotográficas, imagens de satélite, além de anotações, croquis, desenhos esquemáticos etc. Essa "visão ampliada" tem possibilitado registrar e descrever com mais riqueza os detalhes da experiência, os deslocamentos, as interrupções e os elementos relevantes.

Ao potencializar a visão e a percepção humana, a performance da “visão ampliada” derruba por terra “qualquer ideia da visão como passiva; esses artifícios [...] nos mostram que todos os olhos, incluídos os nossos [...], são sistemas de percepção ativos, construindo traduções e modos específicos de ver, isto é, modos de vida” (HARAWAY, 1995, p. 16).

Esses dispositivos também tecem ou configuram uma classe de objetos que rompe com o entendimento de que são coisas fixas da natureza material; configuram objetos concebidos como estruturas abertas ou coisas-para-serem-usadas que continuamente se transformam em alguma coisa mais (KNORR-CETINA, 2001).

Se a moralidade e as ontologias políticas estão inscritas nos corpos e mentes [humanas] e nas coisas ou objetos [não humanos], a complexidade das múltiplas realidades de uma cidade se entrelaçam em uma infinidade de possibilidades de agenciamentos urbanos.

3 Estudos Ciência-Tecnologia-Sociedade, Teoria Ator-Rede e Arquitetura-Urbanismo

Ao questionar a predominância das ciências e das tecnologias como conhecimento absoluto e incontestável, em detrimento do mundo social, o campo dos estudos CTS entende que o conhecimento científico e tecnológico transgride as fronteiras entre o técnico e o social (CUKIERMAN, 2007).

A TAR considera que ao ser produzido pelos movimentos e traços deixados pelos elementos que o compõem, o social forma uma redesociotécnica ou coletivo (LATOUR, 2001; 2004; 2012) que, por estar em constante transformação, demanda que sigamos seus deslocamentos, suas conexões (PEDRO, 2010). Os agenciamentos estabelecidos entre os actantes9 produzem efeitos, que movimentam posições, alteram objetivos e redefinem sentidos (LATOUR, 2012). Isto significa que a ação é sempre partilhada e coletiva10.

Embora inicialmente pensada para dar conta das práticas ditas “sociais” existentes em laboratórios científicos, a TAR passou a ser utilizada em diferentes campos das Ciências Humanas e, mais recentemente, nas pesquisas de Arquitetura e Urbanismo. A proposição de compreender o social por meio de suas redes heterogêneas e a agência atribuída aos não humanos parece ser o ponto de interseção entre alguns dos principais trabalhos que relacionam os estudos CTS, a TAR e a A-U.

Aibar e Bijker (1997) podem ser considerados um dos precursores dos estudos que consideram a cidade como um artefato sociotécnico. Em sua análise do Plano Cerdà – plano urbanístico desenvolvido para Barcelona – reuniram diferentes actantes que participaram do concurso para a escolha do projeto a ser implementado para a expansão da cidade e exploraram as inúmeras controvérsias decorrentes desse processo.

Com o intuito de aplicar nos estudos urbanos um conjunto de perspectivas desenvolvidas no campo de CTS e, mais especificamente, da TAR, o livro Urban Assemblages: How Actor-Netowirk Theory Changes Urban Studies, organizado por Ignacio de Farías e Thomas Bender (2010), reúne diferentes artigos de autores que reconhecem a TAR como um dispositivo importante para lidar de maneira criativa com a descoberta e investigação dos fatos, a complexidade das cidades e as transformações urbanas. Ao ampliar a rede de casualidades, proliferando tanto humanos quanto não humanos, os autores utilizam a TAR como um procedimento para elaborar novas perguntas e produzir descrições mais expressivas da vida na cidade (FARÍAS; BENDER, 2010).

Nessa perspectiva, é possível compreender as cidades (FARÍAS, 2010; 2011) e edifícios não como projeções ou representações do social (YANEVA, 2009), mas entendê-los como:

[...] um movimento modulador de regulação de diferentes intensidades de engajamento, redirecionando a atenção dos usuários; de misturar e colocar as pessoas juntas, concentrando-se nos fluxos de atores e em distribuí-los de modo a compor uma força produtiva no espaço-tempo (LATOUR; YANEVA, 2008, p. 87, tradução nossa).

Como decorrência, é possível qualificar os lugares e edifícios das cidades como quase-tecnologias ou imóveis mutáveis. Ao mesmo tempo em que têm localização e forma estável, podem acolher diferentes atividades, além de serem transformados por seus usuários (GUGGENHEIM, 2010). Contexto, objeto e usuário estão diretamente implicados e se fazem no mesmo movimento. Atentar para as misturas possíveis entre os atores diverge, por exemplo, de abordagens cujo conhecimento está centrado apenas no objeto, enfatizando seu caráter técnico ou funcionalista.

As interlocuções entre TAR e AU complexificam o entendimento da cidade contemporânea, e a dinâmica de sua performance não se limita a teorias ou sentidos globalizantes, que apagam e/ou encobrem os sentidos locais e as práticas cotidianas. Sua produção se dá em condições que envolvem tanto influências locais ou situadas, quanto globais. Ao serem reassociadas, as diferentes características que performam e tecem a cidade configuram-se uma mistura que, em lugar de apagar as influências da internacionalização, delineia novos e instáveis contornos.

Essa abordagem reforça a ideia de uma contribuição possível da TAR para se pensar as associações entre pessoas e coisas, matéria e significado (FALLAN, 2008). Esses encontros podem produzir novas ontologias para os lugares, esses objetos desordenados e evasivos (FARÍAS, 2010) e seus modos de estar presente (FARÍAS; BENDER, 2010). Seguir as práticas e os agenciamentos entre actantes distintos permite contornar os dilemas existentes no processo de entendimento da cidade, que apresenta uma estrutura heterogênea e em constante mutabilidade.

4 Tecendo a cidade na perspectiva sociotécnica: entre múltiplas realidades, performances e lugares híbridos

A partir dos estudos de AU que buscam nos fundamentos dos CTS e da TAR ampliar seu entendimento sobre o urbano e as entidades que o compõem, temos explorado a ideia de que a cidade é um território atravessado por diferentes coletivos urbanos, ressaltando a multiplicidade de performances que corporificam a vida urbana e os lugares. Já não é possível delimitar a cidade por suas fronteiras, uma vez que ela transborda e se configura no interfaceamento das práticas que ocorrem nos lugares. A partir disso, é possível que o estudo das práticas cotidianas seja um elemento norteador de projetos urbanísticos. Reconhecer e fazer proliferar as vozes dos grupos locais e suas diferentes versões sobre necessidades, negociações e, também, processos de resistência implica transformar o processo de planejar a cidade, ainda fortemente inspirado na visão de urbanistas, arquitetos e especialistas. Isso possibilita que diferentes formas de diagnóstico proliferem e se entrelacem, em lugar de se sobrepor umas às outras, conferindo uma natureza híbrida (LATOUR, 1994) aos lugares.

O foco se desloca para identificar e descrever os múltiplos agenciamentos dos actantes que performam os lugares da cidade. Em vez de considerar características e domínios delimitados e coesos para compreendê-los, importa entender como eles são articulados, ocultos, expostos, recrutados ou descartados (FARÍAS, 2010). Por princípio todos os actantes são mediadores11: todos eles influenciam e são modificados em suas interações, transformando os lugares em algo que produz experiências e traduções12 singulares.

Valoriza-se o momento da experiência, os deslocamentos, as trocas de informação, a dinâmica de uso do ambiente, ou seja, tudo o que é momentaneamente produzido ou tecido na cidade. Reunir um conjunto de narrativas e performances dos diversos actantes que participam da coprodução da cidade emerge como uma estratégia que possibilita mapear e examinar lugares, edifícios e seus usos, projetos e políticas públicas, planos urbanísticos, dispositivos tecnológicos etc. Trata-se de uma estratégia que possibilita abandonar as explicações sociais para acompanhar os movimentos e traços que vão sendo deixados pelos actantes que participam da configuração dos lugares13.

Esse entendimento reforça a ideia de que o conhecimento é situado (HARAWAY, 1995; LAW; MOL, 2000) e deve ser apreendido a partir da imersão e contato com os lugares da cidade. Ao invés de fazer deduções abstratas ou generalizar a partir de paradigmas ou exemplos individuais (AMIN; GRAHAN, 1997), a TAR defende que é preciso “ver de perto”, o que envolve aprender a ser afetado por muitos elementos e “ser sensível àquilo de que é feito o mundo” (LATOUR, 2008, p. 39).

Ao incorporar os não humanos ao conjunto de atores da vida urbana, buscamos diluir as fronteiras entre sujeito e objeto e “[...] começamos a tarefa de repovoar a cidade com todas aquelas entidades que foram apagadas por uma abordagem convencional" (AMIN; THRIFT, 2002, p. 5, tradução nossa). Em meio ao caráter multidimensional, reconhecemos a cidade contemporânea “como uma ordem de incerteza e como uma arena política cheia de potencialidades” (AMIN; THRIFT, 2002, p. 5, tradução nossa), onde a urbanidade emerge de uma relação de coprodução entre os actantes e seus múltiplos processos de associações que não preexistem nas ruas, edifícios, pessoas, mapas etc (RHEINGANTZ, 2012).

Diferentes ontologias possibilitam que os lugares sejam apreciados e usufruídos pelas multidões que os performam, ao mesmo tempo em que são desprezados por estudiosos e profissionais de projeto. São diferentes ‘percepções de realidades’ sobre a cidade, e isso requer uma abordagem capaz de lidar com a complexidade que tece as práticas urbanas e a cidade hoje.

5 Considerações finais

Neste artigo, buscamos apontar alguns argumentos que demonstram que os estudos em Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) e a Teoria Ator-Rede (TAR) podem contribuir para o entendimento da cidade e seus lugares, especialmente, as pesquisas de Arquitetura-Urbanismo.

A abordagem sociotécnica da cidade, por envolver humanos e não humanos, contribui para se pensar as relações que tecem a cidade na contemporaneidade. Um outro olhar é possível a partir das redes de associações e performances dos actantes existentes nos coletivos urbanos.

A cidade é continuamente feita e refeita pelos agenciamentos, cujos efeitos dos movimentos entre os actantes precisam ser observados. Atentar para estes movimentos, incluindo os não humanos, possibilita entender o quanto nos encontramos articulados a eles, e o quanto eles também nos fazem fazer coisas. Como os lugares têm agência, eles devem ser definidos por aquilo que fazem, não por aquilo que representam.

Por fim, reforçamos a ideia de que atentar para a composição híbrida da cidade pode se configurar em uma forma de resistência às outras concepções vigentes. O entendimento da cidade e da experiência urbana como uma interface que aprende e que é afetada pela articulação entre seus diversos elementos ou actantes implica na necessidade de rastrear suas conexões, fazendo emergir outras concepções de cidade, mais participativas e mais polifônicas.

6 Agradecimentos

Agradecemos o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).

7 Referências

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1 O campo de estudos denominado de CTS surgiu em torno de 1980 tendo como principal objetivo compreender, revisar e decidir a respeito das consequências da ciência e da tecnologia na sociedade atual. Apresenta duas principais vertentes – a norte-americana e a europeia. As duas tradições apresentam como foco superar a ideia tradicional que fundamenta a ciência e a tecnologia, promovendo a cooperação da sociedade nas decisões que conduzem o avanço tanto da ciência, quanto da tecnologia. Evidencia-se que as soluções dos problemas sejam democráticas, superando a manipulação da ciência da tecnologia.

2 Teoria desenvolvida por Bruno Latour, em parceria com outros sociólogos das ciências e das técnicas, entre os quais Michel Callon e John Law, que questiona a separação entre ciência e sociedade, sujeito e objeto, natureza e cultura (LATOUR, 2001), cuja designação deriva do inglês Actor-Network Theory (ANT).

3 Adotamos a palavra composta proposta por Castello (2007), entendendo que não faz sentido trabalhar os dois termos arquitetura e urbanismo separados, pois não atendem suficientemente fenômenos de dupla face, a exemplo de onda-partículas e ator-rede.

4 A expressão lugares híbridos se articula com duas outras propostas que problematizam a relação dos ambientes com a tecnologia: os lugares ampliados (FIRMINO, 2011) e os lugares de clonagem (CASTELLO, 2007) e guarda similaridades com o sentido de hibridação tal como tratado por Latour (2001), que designa as misturas próprias aos espaços “entre”, os lugares de mediação. Estes são lugares em que nada se propaga sem que haja transformação, reapropriação local, sendo eles próprios agentes de transformação.

5 Cf. Latour (2011) e Rheingantz (2016).

6 Cf. Mol (2008), a ontologia política não decorre diretamente, mas é influenciada pelo perspectivismo, que multiplica o ponto de vista e a perspectiva com que cada um de nós humanos vê uma mesma realidade que permanece singular, intocada e abre as portas para um pluralismo em que diferentes perspectivas de uma mesma realidade coexistem lado a lado; e pelo construtivismo, que a partir de diferentes histórias de construção, evidencia como cada versão específica de verdade ou de sucesso de um determinado fato foi construída ou criada.

7 Parkour é um treino de transposição de obstáculos que permite seu praticante ultrapassar obstáculos do ambiente utilizando as habilidades de seu próprio corpo como, saltar sobre vãos, escalar muros, equilibrar em corrimãos. Alguns indivíduos que praticam esta modalidade acreditam que ela seja uma busca pelo desenvolvimento da autonomia do corpo e da mente sobre os desafios do cotidiano.

8 Cf. Amin e Thrift (2002, p. 1), "metade da população mundial vive em cidades. Treze megacidades têm uma população de mais de 10 milhões de habitantes. Tóquio, São Paulo, Nova York, Cidade do México, Xangai, Bombaim, Los Angeles, Buenos Aires, Seul, Pequim, Rio de Janeiro, Calcutá e Osaka".

9 Designação utilizada em substituição a usuários e atores, por sua inadequação para também designar os diversos atores não humanos que povoam o mundo na perspectiva sociotécnica dos atores-rede. Cada actante é definido por aquilo que ele faz, é “uma rede de certos padrões de relações heterogêneas” (LAW, 1992, p. 5), ou um efeito de rede.

10 Cf. Latour (2001), coletivo é uma palavra que não se refere a uma entidade que resulta de um ‘acordo político’ que divide artificialmente as coisas em esfera natural e esfera social, mas às múltiplas conexões entre humanos e não humanos . Rede de interfaces onde cada objeto ou evento é concebido como uma mistura de homens, coisas e técnicas, cujo movimento “apaga” as fronteiras entre sujeito e objeto (PEDRO, 1998); onde os fatos se tornam “objetivos” pela reapropriação local, em diferentes pontos ou conexões da rede, por diferentes atores (PEDRO, 2003).

11 Cf. Latour (2012), o entendimento de mediação nega a ideia de que o sujeito (humano) age sobre um objeto (não humano) de modo que o primeiro atue para produzir uma reação no segundo (relação de causa e efeito); de que o sujeito tenha uma relação hierárquica sobre o objeto.

12 Conforme Law (1992), traduzir é fazer conexão. “Implica transformação e a possibilidade de equivalência, a possibilidade de que uma coisa (por exemplo, um ator) possa representar outra (por exemplo, uma rede)” (LAW,1992, p. 7). Também supõe percepção, interpretação e apropriação. Caracteriza a negociação ou a comunicação entre o observador e o usuário, uma vez que ela também pressupõe a possibilidade de vir a ser recusada, negociada ou até mesmo ser novamente traduzida.

13 Cf. Angotti (2013; 2016).

The city in a sociotechnical perspective

Fabíola Belinger Angotti, Marcelo Hamilton Sbarra, Paulo Afonso Rheingantz, Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro

Fabíola Belinger Angotti is architect and urban planner. Researcher at Architecture Graduate Program, and at Psychology Graduate Program, both at Federal University of Rio de Janeiro. She studies environmental perception and analysis of the architectural form and the urban morphology, relationship between Science, Technology and Society, Actor-Network Theory and Architecture and Urbanism.

Marcelo Hamilton Sbarra is Master in Architecture and Urbanism. Researcher at Architecture Graduate Program, at Federal University of Rio de Janeiro. He studies post-occupation evaluation, place quality, environmental psychology, and discourse analysis.

Paulo Afonso Rheingantz is architect and urban planner, Doctor in Production Engineering. Professor at Architecture and Urbanism Graduate Program, at Federal University of Rio de Janeiro and at Federal University of Pelotas. He studies post-occupation evaluation and place quality from the perspective of the Science, Technology and Society studies.

Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro is psychologist, Doctor in Communication and Culture. Professor of the Graduate Program in Psychology, at Federal University of Rio de Janeiro. She is Coordinator of the Research Group Contemporary Culture: subjectivity, knowledge and technology. She studies subjectivity, technologies and surveillance based on the Actor-Network Theory.


How to quote this text: Angotti, F. B., Sbarra, M. H., Rheingantz, P. A. and Pedro, R. M. L. R. The city in a sociotechnical perspective: political ontologies, urban assemblages and hybrid places. V!RUS, 14. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus14/?sec=4&item=1&lang=en>. [Accessed: 15 October 2024].


Abstract

Understanding that contemporary city is becoming more complex due to the several relations that take place among people, environments and objects, in this article we explore some possibilities related to the theme of the V!RUS 14 Journal call, weaving the city in contemporaneity. Inspired by the Science-Technology-Society (STS) studies and the Actor-Network Theory (ANT), we bring to reflection our comprehension about a multiple city and its resonances in hybrid places, in the Architecture-Urbanism (AU) field, by reading authors from these areas. In this direction, we recognize the city as a territory whose performance is produced from crossings which involve assemblages and effects of the connections among different actants that participate of urban life. Associating STS studies, the ANT and AU allow to delineate an alternative ontology to understand, produce and perform the moves of a heterogeneous ensemble of entities or hybrid places that continuously coproduce themselves.

Keywords: Contemporary city; Science-Technology-Society; Actor-Network Theory; Political ontologies; Hybrid places.


1 Introduction

The possibility of addressing the processes that constitute the city prioritizing actions by different actors was our motivation to present our point of view – inspired by thoughts from authors (Amin and Grahan, 1997; Farías and Bender, 2010; Farías, 2011; Amin and Thrift, 2002) whose works’ foundations are in the field of Science-Technology-Society (STS)1 studies, especially the Actor-Network Theory (ANT)2 – on contemporary city, the study of urban relations and the diversity of relations involving people, environments and their politicalontologies (Mol, 2008).

The possible connections among studies of STS, ANT and Architect-Urbanism (AU)3 allow us to understand that the “city is made of multiple partially localizated assemblages built of heterogeneous networks, spaces and practices”4 (back cover in Farías and Bender, 2010). Because the city is in continuous movement, its places and buildings can be described as quasi-technologies and types (Guggenheim, 2010): at the same time as they are singular – with stable location and form – they host different uses. As they are transformed by users’ actions and new artificial and technological devices (Latour and Yaneva, 2008), they can also be mutable immobiles (Guggenheim, 2010).

To weave the city in its complexity requires, then, to welcome its diversities, contradictions, moves and temporalities that articulate and produce hybrid places5. The experience of living and feeling the city implicates in encounters, separations, constant connections between different humans and non-human actors who hybridize and produce social, political, ethical, subjective and aesthetic effects (Rheingantz et al., 2016).

We bet on a transdisciplinary approach and on joint and constant work of dialogue for knowledge production to understand today’s city and overcome the limitations of those proposals and analysis that privilege morphological, quantitative and functional aspects of places, based on the paradigm established by Modernity (Latour, 1994). Modernity, herein, is understood as an “attitude” that involves “a joint operation of two ensembles of different practices” (Pedro, 2003, p.30, our translation): “hybridization”, or an ensemble of practices responsible for the creation of a mix of hybrid kinds of nature and society; and “purification”, which conditions the evolution of science to the elimination of every “external” influence (human subjectivity).

We highlight the idea that associating studies involving STS, ANT and AU gives place to thinking of an ontology for understanding, producing and mapping places that act in the urban, emphasizing its polyphony, which echoes all the time in the comprehension of the modes of weaving the city in action6.

2 Political ontologies and the city’s mulriplicity today

Aligned with the STS perspective and starting from the comprehension that “reality” is modelled from daily practices that allow us to interact with it, Annemarie Mol settled the expression political ontology7: ontology defines what “belongs to the real, the conditions of possibility in which we live” (MOL, 2008, p.63, our translation) and politics highlights the “active mode of this modelling process, its open and contested feature.” (MOL, 2008, p.63, our translation) Reality, in its ontologic dimension, is always made, located – historically, culturally and materially – and multiple (MOL, 2008). Performing a given reality means it is much more produced than it is observed, or so to say: it is “manipulated through several instruments, in the course of several different practices” (MOL, 2008, p.66, our translation). By removing the supposedly stable and determined character of reality, to weave the city implies in welcoming different versions or multiple realities of urban itself, more and more intricate and difficult to generalize (AMIN; THRIFT, 2002). The city’s reality exists in many forms, being simultaneously compounded:

‘as touristic city, as a transport system, as a territorial competence, as the real estate market, as a playground for skaters and parkour8 practitioners, as a consumption space, as a creative environment, as a giant screen for graffiti and street artists, as well as for sewer networks etc.’ (Farías, 2011, p.29, our translation).

Such proposition allows to include other entities in the process of understanding the city, in contraposition to the idea of one singular truth that is present in other current conceptions, like the morphological, sociological and systemic analysis of the city or the “smart city” – which is based on the presence of information and communication technologies to emphasize the productive and competitive dimensions of the city. The quality of the urban is not reduced to its materiality, geography or technology. It is woven within the possible connections established when there are actions which, by their own nature and dynamics, cannot be categorized or analyzed, whose emphasis is restricted to a certain element or set of elements.

While most of the theories and approaches dedicated to think about the city tend to focus on few elements of urban life, like culture, housing, politics, planning etc., Amin and Graham (1997, p. 418) propose the multiplex city, a "set of spaces where diverse rangers of relational web coalesce, interconnect and fragment; […] a juxtaposition of contradictions and diversities."

In their complexity, cities incorporate nature, people, things and built environment. They are spatially open and intermeshed flows of people, kinds of mobility, information and goods, where urban life is a product of this mix (Amin and Thrift, 2002). “Each urban moment can spark performative improvisations which are unforeseen and unforeseeable. [...] this has meant the struggle to name neglected spatialities and invent new ones” (Amin and Thrift, 2002, p.4). Since the city is everywhere in the world, incorporating settlements of varying composition, it is no longer possible to agree on what counts as a city (Amin and Thrift, 2002). Metropolitan areas9 pullulate in a chain of places interconnected by communication corridors, such as airports and airways, stations and railways, parking lots and motorways, teleports and information highways. “The footprints of the city are all over these places, in the form of city commuters, tourists, teleworking, the media, and the urbanization of lifestyles” (Amin and Thrift, 2002, p.1).

Hence, instead of thinking the city through fragmenting places, which sometimes promotes spatial segregation, or from the center-periphery relation, our interest is to progressively deal with aspects or elements that perform the connection among such places.

Following the ideas of Devan Sudjic (1992 cited in Amin and Thrift, 2002), the urban sprawls of Greater São Paulo and of Baixada Fluminense, in Rio de Janeiro, Brazil, associate different cities or urban centers, such as São Bernardo and Nova Iguaçu, even though they are so close to each other. These are conglomerates of cities and hybrid places, involved in the daily life that takes place in adjacent settlements.

Understanding reality as multiple, political ontology aims to visualize, operate or weave multiple urban realities, supported by technological devices that amplify and requalify our sociotechnical performance in georeferencing, digital graphic and inclusion of the parametric dimension; scanners, surveillance devices etc. Our observations have been performed from a hybrid association between human perception devices and some technological devices – like as photo cameras and satellite images, and also notes, sketches, drawn schemes etc. Such “expanded vision” is allowing to register and describe experience details, displacements, interruptions and relevant elements more richly.

By intensifying human vision and perception, the performance of “expanded vision” knocks down “any idea of a passive vision; such devices […] show us that every eye, including ours [...], is an active perception, building translation and specific ways of seeing, or so to say, of living” (Haraway, 1995, p.16, our translation).

These devices also weave and configure a set of objects that breaks up with the comprehension of fixed things of material nature; they configure objects conceived as open structures, or things-to-be-used, continuously changing into something else (Knorr-Cetina, 2001).

If morality and political ontologies are inscribed in [human] bodies and minds and in [non-human] things and objects, the complexity of multiple realities in a city is tangled in infinite possibilities of urban assemblages.

3 Science-Technology-Society Studies, Actor-Network Theory and Architecture-Urbanism

By questioning the predominance of science and technologies as absolute and indisputable knowledges, to the detriment of the social world, the STS studies field understands that scientific and technological knowledge transgresses the frontiers between technical and social (Cukierman, 2007).

The ANT considers that the social, when it is produced by moves and footprints left by the elements that compose it, forms a sociotechnical or collective network (Latour 2001; 2004; 2012) which is in constant transformation and because of that, requires that we follow its displacements, its connections (Pedro, 2010). The assemblages established between the actants10 produce effects that move positions, change goals and redefine senses (Latour, 2012). It means that an action is always shared and collective.11

Even though it has been firstly thought to explain the practices named “social” that exist in scientific labs, the ANT started to be used in different fields of Human Sciences and more recently, in Architecture and Urbanism researches. The proposition of understanding the social through its heterogeneous networks and the agency assigned to non-humans seems to be the intersection among the main studies that relate STS studies, the NAT and AU.

Aibar and Bijker (1997) can be considered as precursors of the studies that consider the city as a sociotechnical artefact. In their analysis of the Cerdà Plan – Barcelona’s masterplan – they gathered different actants who participated on the contest for choosing the project for the city expansion and explored several controversies of this process.

Aiming to apply the perspectives developed in the STS studies field, especially in the ANT, in urban studies, the book Urban Assemblages – How Actor-Network Theory Changes Urban Studies, organized by Ignacio de Farías and Thomas Bender, gather articles from authors who recognize ANT as an important tool to deal creatively with discovery and research of facts, complexity of cities and urban transformations. By broadening networks, proliferating both human and non-humans, ANT is used by these authors as a procedure for elaborating new questions and thus produce more expressive descriptions of city life (Farías and Bender, 2010).

In this sense, it is possible to understand cities (Farías, 2010; 2011) and buildings not as projections or representations of the social (Yaneva, 2009), but as:

‘[...] a moving modulator regulating different intensities of engagement, redirecting users’ attention, mixing and putting people together, concentrating flows of actors and distributing them so as to compose a productive force in time-space’ (Latour and Yaneva, 2008, p.87).

Consequently, it is possible to describe the cities’ places and buildings as quasi-technologies or mutable immobiles. At the same time as they have stable location and form, they can host different activities and be transformed by their users (Guggeheim, 2010). Context, object and user are directly implicated and are made within the same move. Paying attention to the possible mixtures between actors is dissenting, for instance, from approaches whose knowledge is only focused on the object, emphasizing its technical or functional feature.

The interlocution of ANT and AU becomes complex the understanding of contemporary city and the dynamic of its performance is not limited to globalizing theories or senses that erase and/or cover local senses and daily practices. Its production takes place in conditions that involve both local or situated and global influences. When re-associated the different features that perform and weave the city, a mixture is configured and instead of erasing the influences of internationalization, it designs new unstable contours.

Such approach highlights the idea that ANT may contribute for thinking associations between people and things, matter and meaning (Fallan, 2008). These encounters may produce new ontologies for places, these out of order and evasive objects (Farías, 2010) and their ways of being present (Farías and Bender, 2010). Following practices and assemblages among different actants allows to overcome the dilemmas that exist in the process of understanding the city, which presents a heterogeneous structure of constant mutability.

4 Weaving the city in a sociotechnical perspective: among multiple realities, performances and hybrid places

Starting from AU studies that search their basis in STS and ANT to expand understanding about urban and the entities that form it, we have been exploring the idea of city as a territory crossed by different urban collectives, highlighting the multiplicity of performances that embody urban life and places. It is no longer possible to delimitate the city by its borders, once it overruns and is configured in the interface of the practices that happen in places. From this, it is possible that the study of daily practices is a guiding element for urbanistic projects. To recognize and proliferate the voices of local groups and their different versions about needs, negotiations, and also their resistance processes, implies in transforming the process of planning the city, which is still strongly inspired by the view of urban planners, architects and experts. That allows spreading and tangling different diagnosing modes, instead of imposing some over others, and grant a hybrid nature (Latour, 1994) to places.

Focus changes to lay on identifying and describing the multiple assemblages of the actants that perform the city places. Instead of considering delimited and cohesive features and domains to understand them, it is important to understand how they are articulated, hidden, exposed, recruited or discarded (Farías, 2010). As a principle, all the actants are mediators12: all of them are influenced by and modified in their interactions, transforming places into something that produces singular experiences and translations.13

Value is given to the moment of the experience, displacements, information exchanges, the dynamics of use of the environment, in other words, to everything that is produced or woven in the city at a given moment. To assemble a set of narratives and performances, of the several actants that participate on coproducing the city, comes up as a way of mapping and examining places, buildings and their uses, public projects and policies, urban plans, technological devices etc. It is a strategy that allows to abandon the social explanations and follow moves and footprints left by actants who participate of the places configuration.14

This comprehension reinforces an idea that knowledge is situated (Haraway, 1995; Law and Mol, 2000) and that it must be seized in immersion and contact with city places. Rather than making abstract assumptions or generalizing from paradigms or individual examples (Amin and Grahan, 1997), ANT stands for a need to “see closely”, and that involves learning to be affected by many elements as well as “being sensitive to what the world is made of.” (Latour, 2008, p.39, our translation)

By incorporating non-human to the ensemble of urban life actors, we seek to attenuate the frontiers between subject and object and “[…] begin the task of repopulating the city with all those entities that have been erased by a conventional approach” (Amin and Thrift, 2002, p.5). In a multidimensional feature, we recognize contemporary city as “an ordering of uncertainty and as a political arena full of potentialities” (Amin and Thrift, 2002, p. 5), where urbanity emerges from a relation of coproduction between actants and their multiple association processes, that do not pre-exist in streets, buildings, people, maps etc. (Rheingantz, 2012).

Different ontologies allow places to be appreciated and enjoyed by the crowds that perform them, while they are despised by those who study and work with planning. These are different “perception of realities” about the city, that require an approach which can the deal with complexity that weaves urban practices and today’s city.

5 Final considerations

In this article, we sought to point out some arguments that demonstrate that the STS studies and the ANT may contribute to understanding the city and its places, especially in Architecture-Urbanism researches.

The sociotechnical approach to the city, by involving humans and non-humans, contributes to think about the relations that weave the city in contemporaneity. Another view is possible through networks of associations and performances by the actants that exist in urban collectives.

The city is continuously done and redone by assemblages whose effects of the moves among actants must be observed. To be attentive to these moves, including non-human ones, allows us to understand how linked we are to such actants and how they make us do things. Once places have agency, they must be defined by what they do and not by what they represent.

Finally, we reinforce the idea of paying attention to the hybrid composition of the city may be a way of resisting to other current conceptions. Understanding the city and urban experience as an interface that learns and is affected by the articulation among its several elements or actants implies in the need to trace these connections, bringing up different conceptions of the city, more participative and more polyphonic.

6 Acknowledgements

We thank for financial support from Brazil’s Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico [National Council for Scientific and Technological Development] (CNPq) and Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior [Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel] (CAPES).

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1The field of studies called STS appeared around 1980, with a main goal of understanding, reviewing and deciding about consequences of science and technology in current society. It presents two main branches, the North-American and the European. Both traditions focus on overcoming the traditional idea that substantiate science and technology, promoting society’s cooperation in decisions that lead progresses in both science and technology. They demand democratic solutions for problems, surpassing manipulation of science and technology.

2The theory was developed by Bruno Latour, together with other science and technique sociologists, among which Michel Callon and John Law. It questions the separation between science and society, subject and object, nature and culture (LATOUR, 2001).

3We take the hyphenated expression as proposed by Castello (2007), understanding that individually the two words do not sufficiently cover double-faced phenomena such as wave-particles and actor-network, making it useless to work with architecture and urbanism separately.

4See Section 2 in this article.

5The expression hybrid places articulates with two other proposals that problematize the relation of environments and technology: augmented places (FIRMINO, 2011) and places of cloning. (CASTELLO, 2007) It is similar to Latour’s (2001) sense of hybridization, which refers to the mixtures that characterizes the “in-between” spaces, the mediation places. These are places in which nothing is propagated without transformation, local re-appropriation, as they are transformation actants themselves.

6Cf. Latour (2011); Rheingantz (2016).

7According to Mol (2008), political ontology is not due to perspectivism], but is influenced by it, that multiplies the points of view and perspectives from which each one of us humans sees the same reality, that remains singular and untouched, and opens the doors for a pluralism in which different perspectives of a same reality coexist side by side; and by constructivism, which shows, from different histories of construction, how each specific version of the truth or of the success of a fact is built or created.

8Parkour is a workout practice of obstacle transposition, which allows practitioners to overcome the environment’s obstacles using their own physical skills, such as jumping over spans, climbing walls and balancing on rails. Some people who practice it believe it is a search for development of autonomy of the body and the mind over the challenges of daily life.

9According to Amin e Thrift (2002, p.1), "Half of the world’s population now lives in cities. Thirteen megacities have a population of more than 10 million: Tokyo, São Paulo, New York, Mexico City, Shanghai, Bombay, Los Angeles, Buenos Aires, Seoul, Beijing, Rio de Janeiro, Calcutta and Osaka."

10Denomination used in substitution of users and actors, because of their inadequacy for designating several non-human actants that are in the world, from the sociotechnical perspective of actors-network. Each actant is defined by that what it does, it is “a patterned network of heterogeneous materials” (Law, 1992, p.5), or a network effect.

11According to Latour (2001), collective is a word that does not refer to an entity resulting from a “political agreement” that artificially divides things into a natural sphere and a social one, but to the multiple connections between humans and non-humans. It is a network of interfaces in which each object or event is conceived as a mixture of men, things and techniques, whose movement “erases” the frontiers between subject and object (Pedro, 1998); in which facts become “objective” through local re-appropriation, in different points or network connections, by different actors (Pedro, 2003).

12According to Latour (2012), the understanding of mediation denies an idea that the subject (human) acts over an object (non-human) so that the first acts in order to produce a reaction in the latter (cause and effect relation); of the subject as hierarchically superior to the object.

13According to Law (1992), to translate is to make a connection. It “implies transformation and the possibility of equivalence, the possibility that one thing (for example an actor) may stand for another (for instance a network)” (Law,1992, p.7). It supposes perception, interpretation and appropriation. It characterizes the negotiation or the communication between observer and user, once it also presupposes a possibility to be refused, negotiated or even translated again.

14Cf. Angotti (2013; 2016).