As redes na rede: articulações ativistas e mídia social

Laís Grossi de Oliveira

Laís Grossi de Oliveira é Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Pontifícia Universidade Católica Minas. Membro da equipe de assessoria à revisão de Planos Diretores de 11 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte.


Como citar esse texto: OLIVEIRA, L. G. As redes na rede: articulações ativistas e mídia social. V!RUS, São Carlos, n. 14, 2017 Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus14/?sec=4&item=6&lang=pt>. Acesso em: 27 Abr. 2024.


Resumo

A partir do estudo de 39 ativismos urbanos de Belo Horizonte-MG, o presente artigo1 busca compreender a ação da sociedade civil enquanto um dos muitos atores que conformam as cidades. Como anuncia o editorial desta edição da Revista V!rus, “a cidade contemporânea é produzida por múltiplos atores, de gestores públicos, planejadores e estudiosos a grupos empresariais privados, organizações do terceiro setor e, em especial, por seus habitantes em geral, entre tantos outros” (2017, s.p.). É evidente, entretanto, os desequilíbrios de poder entre esses atores, o que Souza e Rodrigues (2004) ressaltam na consonância existente, em geral, entre o Estado e os grupos já privilegiados da sociedade.

As articulações entre os ativismos urbanos apresentam-se como os momentos mais expressivos de rompimento - ainda que temporário - desse cenário de desequilíbrio, possibilitando, ainda, a catalização da construção de projetos comuns entre grupos da sociedade civil organizada. As tecnologias de informação constituem importante ferramenta na articulação e formação de redes entre referidos grupos, que se utilizam, cada dia mais, do Whatsapp, Facebook e outras redes sociais digitais. É justamente na análise desses meios, em especial do Facebook, que concentra-se este artigo. Para tanto, foram monitoradas as fanpages dos ativismos urbanos e suas interações que ocorrem por meio de curtidas e compartilhamento de conteúdo.

Obviamente, as relações entre os ativismos se dão para além do Facebook. No entanto, as articulações ocorridas nessa rede social reproduzem diversas características das demais articulações, dentro e fora do meio digital, tais como sua efemeridade, sua ligação a momentos emergenciais ou a recorrência de algumas pautas comuns.

Palavras-chave: Ativismos urbanos; Belo Horizonte-MG; Redes sociais.


Introdução

A cidade é suporte à reprodução das relações sociais e econômicas de uma certa sociedade, sendo produto e produtora de suas dinâmicas (LEFEBVRE, 2013). Em uma sociedade marcada por profundas assimetrias de poder, a cidade, portanto, torna-se palco para a performance de relações de dominação tais como aquela entre classes,- o que é observado por Lefebvre e Harvey - de raça - como percebe Eugene McCann (1999) - ou de gênero - o que é desenvolvido pela geógrafa Doreen Massey (1994). A cidade dominante é fruto dessas relações, sintetizada por Lefebvre como espaço em que predomina a “homogeneidade-fragmentação-hierarquização” (2013, p. 58, tradução nossa2).

Se essa cidade dominante configura-se, em geral, de uma consonância entre iniciativa privada e Estado, a sociedade civil emerge como possibilidade de seu contraponto3. A sociedade civil torna-se, então, um ator coletivo que age na produção da cidade junto ou - o que é mais comum - contra o Estado e a iniciativa privada, sendo que suas ações e impactos não devem ser analisados de maneira individualizada, mas cumulativa. Como anunciado pelo editorial desta edição da Revista V!rus, a cidade é, portanto, produto da ação de diversos atores, ou o: “Locus onde reverberam os grandes fluxos do planeta, a cidade contemporânea é produzida por múltiplos atores, de gestores públicos, planejadores e estudiosos a grupos empresariais privados, organizações do terceiro setor e, em especial, por seus habitantes em geral, entre tantos outros” (2017, s.p.).

Para que se possa aferir esse impacto cumulativo, é necessário compreender como se configura tal ator coletivo e as articulações que se desenvolvem entre os grupos que o constituem.

Desde o contexto de Belo Horizonte, buscou-se investigar movimentos, ativismos, associações, comitês, fóruns, coletivas e coletivos4 para os quais o espaço é elemento catalisador de suas ações, de referência identitária ou condicionante de suas táticas e estratégias: grupos que, em última instância, tenham o objetivo de transformar as dinâmicas do espaço urbano5. É central para eles a luta pelo acesso à cidade e aos seus equipamentos e serviços, mas, mais ainda, a questão do direito à cidade tal como defendido por Lefebvre (2008): o direito de transformar a cidade, de participar na tomada de decisão sobre seus rumos e dela se apropriar.

Será adotado para denominar tais grupos o termo de Marcelo Lopes de Souza (2006) ativismo urbano em sentido forte - ou apenas ativismo urbano quando o contexto estiver claro. Encaixam-se nessa categorização grupos da sociedade civil que se contraponham às dinâmicas espaciais urbanas dominantes com ações públicas organizadas e relativamente duradouras (mais do que uma passeata, por exemplo) (SOUZA, 2006, p. 278)6.

Foram selecionados 39 ativismos urbanos com atuação em Belo Horizonte, conformando um universo com vasta diversidade de abordagens, táticas, posicionamentos políticos e temáticas de luta tais como ambientalistas, anarquistas e ocupações urbanas para fins de moradia, o que é sintetizado na Figura 1.

Fig. 1: Ativismos urbanos abordados na pesquisa. Fonte: A autora.

A marcação temporal é uma informação importante, pois diferentes formas de atuação e de articulação são observadas entre os antigos e os novos grupos. Os ativismos internos ao retângulo cinza são aqueles denominados ao longo do texto como novos ativismos urbanos, em contraposição aos tradicionais. Enquanto os primeiros têm sua origem a partir de 2009, os denominados tradicionais são aqueles surgidos entre o fim dos anos 1980 e início dos 1990. A principal diferença entre tais grupos diz respeito à retomada das ações diretas pelos novos ativismos, enquanto os tradicionais empreendem uma luta institucional. Esses últimos, embora tenham empreendido diversas ações diretas em suas origens, foram aos poucos incorporados ao aparelho estatal e aos canais institucionalizados de participação, devido à sua relação estreita com partidos políticos e governos.

Junho de 2013 é também uma marcação temporal importante à dinâmica dos grupos investigados, tendo em vista os protestos que eclodiram em todo o país. Uma série de ativismos surge após esse período, como é possível perceber na figura. Alguns, como a Assembleia Popular Horizontal (APH-BH), o Tarifa Zero-BH e o Movimento Passe Livre - BH (MPL-BH) são reverberações diretas dos protestos. Embora não seja possível estabelecer essa mesma relação com outros ativismos pós-junho, evidentemente, eles foram influenciados pelo imaginário que surge após o período, alimentados pelo impacto da escala dos protestos e pela sinalização de ganhos e transformações que pareciam finalmente se concretizar.

As linhas que unem os ativismos demonstram as diferentes categorias às quais eles pertencem tomando por base aspectos como forma de organização, pautas, posição política, conjuntura de criação etc. Tais categorias não foram esgotadas, limitando-se àquelas importantes ao contexto do trabalho:

1. Ativismos urbanos tradicionais com a pauta da habitação

2. Ativismos urbanos com a pauta da proteção ambiental

3. Ocupações urbanas para fins de moradia

4. Ativismos ligados à pauta da mobilidade

5. Ocupações de espaços públicos e vazios para outros fins

6. Ativismos de relação direta com os protestos de 2013 e a Copa do Mundo de 2014

7. Associações de bairro e de defesa local

8. Campo libertário

Articulações e ativismos urbanos

Uma vez delimitados os ativismos urbanos, iniciou-se a tentativa de apreender sua forma de atuação e articulações. Essas performam-se tanto no espaço físico, quanto no digital e possuem forte relação de complementariedade.

Além do contexto local e eventos pontuais, a atuação recente dos grupos da sociedade civil organizada relaciona-se ainda a um contexto macro de ascensão do neoliberalismo, mudanças na organização do trabalho, emergência de governos de esquerda desde os anos 1990 e à onda participacionista. A socióloga Ana Clara Torres Ribeiro (2014) considera que a ênfase culturalista dos movimentos sociais contemporâneos, o abandono da noção de classe e a consequente fragmentação de um suposto sujeito coletivo seriam reflexos diretos dessas transformações sociais, econômicas e políticas mais amplas.

Apesar da fragmentação, a articulação em rede é uma das características fundamentais dos ativismos. A adoção de tal organização não se restringe somente aos ativismos, toda a sociedade assim se organiza, sendo uma característica marcante das relações de poder. Os grupos dominantes organizam-se por meio de projetos conjuntos, que mobilizam diferentes redes - política, militar, cultural etc. A contraposição às relações de poder deve, portanto, como afirma Castells (2005), operar na mesma lógica de sua organização: em redes ativistas em torno de projetos comuns alternativos.

A identificação dessas articulações e das temáticas e acontecimentos capazes de mobilizar e articular os ativismos urbanos na presente pesquisa deu-se por meio de consulta à literatura acadêmica produzida sobre os ativismos estudados, do monitoramento de suas fanpages no Facebook7 e de entrevistas com ativistas dos referidos grupos.

É importante destacar que, apesar das articulações atuais trazerem novas possibilidades de ampliação de alcance e de dinamicidade, ambas impulsionadas pelas tecnologias de informação, o imaginário no que tange a força da união entre os grupos é fruto de um longo processo histórico. Junto aos resultados empíricos de experiências de articulação, contribuem para a essa construção aportes teóricos de diversos autores que recuperam sistematicamente ao longo da história do pensamento crítico a aposta numa articulação entre os grupos subjugados da sociedade.

Quando Marx e Engels em 1848 escrevem o Manifesto Comunista, percebe-se ali essa aposta em uma aliança para a revolução, ao apelarem para a constituição de uma identidade de classe entre os grupos de operários que atuavam em lutas locais e, em alguns casos, em conflito entre si. Esse espírito é sintetizado pela célebre frase: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!” (MARX; ENGELS, 2003).

Mais tarde, Gramsci (1999), desde um contexto de fracasso da esperada revolução na Europa Ocidental, reafirma a importância de uma aliança, estendida, entretanto, para além dos proletários urbanos. Para o marxista italiano, a construção de uma identidade de classe é restritiva, dado que, para além dos proletários urbanos, outros grupos são dominados no sistema capitalista. A estratégia de revolução deve, portanto, constituir-se sobre uma aliança entre esses atores subordinados aos grupos no poder, articulada e dirigida pela classe operária (GRAMSCI, 1999).

Mais recentemente, Laclau e Mouffe (1987) retomam e atualizam o pensamento de Gramsci, reforçando sua ideia de ampliação das articulações para oprimidos além da classe operária. Eles, entretanto, contestam o protagonismo depositado por Gramsci na classe operária na construção dessa aliança e sugerem ainda a transposição dos limites de classe e a “construção de sujeitos parcialmente unificados cuja determinação fundamental seja a determinação popular” (LACLAU; MOUFFE, 1987, p. 23, tradução nossa8).

Mais do que procurar evidências de adesão sistemática ao pensamento deste ou aquele autor, por parte dos ativismos, é interessante observar em que medida essas construções teóricas são capazes de apreender a realidade das articulações que se estabelecem entre eles. Para essa sobreposição, foi necessário apreender a redes estabelecidas entre os ativismos urbanos de Belo Horizonte e os projetos comuns que as articulam. Foram tomadas como base entrevistas com envolvidos nos grupos e as interações públicas entre as fanpages dos ativismos no Facebook. Evidentemente, inúmeras outras conexões se estabelecem no ambiente digital via grupos de e-mails, Whatsapp e outros aplicativos de mensagens instantâneas. Entretanto, embora relatados pelos entrevistados, esses espaços são restritos aos ativistas. Portanto, além da falta de acesso a eles, há de se considerar, ainda, as questões éticas em se publicizar interações estabelecidas em meios privados.

Em Belo Horizonte foi relatada pelos entrevistados uma relação dinâmica de trocas entre os grupos. Essas articulações são consideradas fundamentais à resistência dos ativismos devido à fragmentação desses atores coletivos e a sua concentração em temáticas isoladas e em abordagens locais. Elas servem, então, tanto à ampliação das pautas dos grupos - para além das demandas e ações locais - como à ampliação de sua pressão política, sobretudo, em relação aos outros agentes na produção do espaço urbano - como o Estado e a iniciativa privada.

As mobilizações que se destacam no histórico recente dos ativismos evidenciam, entretanto, que, em geral, as articulações mais expressivas ocorrem por curtos períodos e como resistência às possibilidades de perdas. Elas são catalisadas pela constituição, ainda que temporária, de um “inimigo comum”, como, por exemplo, o processo contra o impeachment - golpe - da presidenta Dilma, que conseguiu mobilizar até mesmo os ativismos tradicionais, há muito concentrados em uma atuação pacífica dentro dos espaços governamentais.

Com a localização do antagonismo em pessoas ou acontecimentos específicos e pontuais - no prefeito Márcio Lacerda em Belo Horizonte, no presidente Michel Temer, na Copa do Mundo, no aumento da passagem etc. - as articulações tornam-se emergenciais e pontuais. Após o fim da situação que as unificava, devido a vitórias, ainda que momentâneas, ou ao esgotamento das possibilidades de ação, elas se desmobilizam. Como observa Castells (2013), sua unidade é a indignação comum em relação a determinada situação.

A percepção da necessidade de articulações mais duradouras entre os ativismos, constituindo espaços permanentes de diálogo, de troca de experiência e de constituição de uma luta conjunta é generalizada entre os entrevistados. Porém, essas tentativas são em geral subsumidas pelas ameaças do dia a dia, desarticulando-se em função de lutas individuais dos grupos. Quando mais duradouras, elas estão confinadas aos ativismos de mesmas pautas ou pautas próximas, como mobilidade, movimentos de ocupação de terrenos vazios ou movimentos culturais.

A percepção de que a segregação da cidade se reproduz também na articulação entre os ativismos é generalizada: há uma descontinuidade entre os ativismos de centro e de periferia9 e entre ambos e a sociedade em geral. É o que transparece na fala de uma das ativistas: “[a articulação] é meio centrocêntrica, porque a gente acha que Belo Horizonte é centro! A gente esquece que a cidade é muito maior que isso. O centro tá muito bem agregado, enquanto o pau tá quebrando na periferia.” (P.K., 2015). Evidentemente, existem exceções e tentativas de romper com essa falta de diálogo, mas de maneira ainda pouco expressiva. Os poucos ativismos de periferia capazes de se articularem aos grupos de centro o fazem, em geral, deslocando-se da periferia ao centro.

A falta de diálogo relaciona-se, em parte, à diferença de pautas. Enquanto nos ativismos de periferia a tendência é por lutas pelo acesso a direitos já estabelecidos mas não universalizados, os ativismos de centro lutam pelo reconhecimento de novos direitos. A distância entre os grupos de centro e periferia é ainda reforçada pelo posicionamento crítico dos novos ativismos em relação a tentativas anteriores de aproximações pelo chamado trabalho de base. De fato, não raro tal prática resultou em relações de dependência e de vínculos paternalistas, colonizadores e até utilitários.

Se o diálogo entre ativismos do centro e da periferia é pouco efetivo, ecoar para além desse universo, na sociedade em geral, é ainda menos. Mesmo em questões que dizem respeito à maioria das pessoas, como, por exemplo, uma chamada para protestar contra o aumento da tarifa dos ônibus, dificilmente um grupo para além do usual será mobilizado. Isso não significa, necessariamente, que a pauta seja considerada ilegítima por aqueles externos ao universo ativista, mas que, entre identificar e mobilizar, existe uma distância que os grupos não conseguiram romper. É essa justamente uma de suas grandes questões: Como atingir e mobilizar a sociedade de maneira ampliada, já que ela é também subjugada pelas mesmas relações de dominação combatidas pelos grupos?

As redes na rede: mídias sociais digitais e ativismos

Os padrões enumerados na seção anterior são também observados quando analisadas as interações públicas entre as fanpages dos ativismos no Facebook. No contexto da pesquisa, foram considerados dois tipos de relação mediados pelo site: as curtidas entre as fanpages dos ativismos e o compartilhamento de informações entre elas. Às informações extraídas foram aplicados métodos de Análise de Redes Sociais (ARS), que se baseiam nas interações entre atores e nos papéis por eles desempenhados em seus contextos (RECUERDO; BASTOS; ZAGO, 2015). Para isso, são utilizados modelos matemáticos e computacionais que geram representações gráficas, os chamados grafos, de relações entre elementos em um determinado momento. Nos grafos, as relações são representadas por arestas que unem os atores, representados por círculos.

Os nós dos grafos aqui gerados são, portanto, as fanpages dos ativismos urbanos, unidos por duas categorias de relações: as curtidas e o compartilhamento de informações. Neste último caso, os conteúdos compartilhados também são representados por círculos, uma vez que são articuladores dos diversos agentes que compõem a rede.

As curtidas entre as fanpages dos ativismos trazem uma informação importante, pois significam assumir publicamente uma conexão, o reconhecimento de luta, ou ainda o interesse em acompanhar suas publicações. Utilizando o Netvizz10 para extrair os dados das curtidas, duas redes foram geradas. A primeira delas, denominada rede de grau 1 (Fig. 2), restringe-se às articulações pelas curtidas entre as fanpages dos ativismos urbanos de Belo Horizonte, configurando-se um universo composto por 39 delas. A segunda, denominada rede de grau 2 (Fig. 3), amplia o universo para atores para ativismos ligados a outras temáticas, canais de mídia, grupos da academia, instituições públicas, partidos e figuras políticas.

Fig. 2: Rede de grau 1. Fonte: A autora.

Fig. 3: Rede de Grau 2. Fonte: elaboração própria.

O tamanho dos círculos e da letra corresponde ao número de curtidas de cada fanpage pelos demais atores da rede. Como resultado, temos, conforme apresentado na Figura 2, uma rede com alto grau de articulação entre as fanpages, embora algumas se mantenham marginais. É notória a divisão bem delimitada entre certas categorias de ativismos. Aqueles de pauta predominantemente ambiental, por exemplo - Parque Jardim América, Fica Fícus, Rede Verde, Salve a Mata do Planalto, Comupra (Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu) e Amau (Articulação Metropolitana de agricultura Urbana) -, encontram-se no limite superior do grafo; já os grupos de orientação anarquista e autonomista - Bloco de Lutas pelo Transporte, MPL-BH e, em parte, a APH-BH – encontram-se à esquerda do grafo e as ocupações urbanas para fins de moradia, apesar de bem inseridas na rede, encontram-se fortemente conectadas entre si e aos grupos que lhes dão apoio.

Nota-se ainda a proximidade entre os ativismos que têm o mesmo espaço - o Viaduto Santa Tereza - como local de encontro e que com ele desenvolveram um sentido de pertencimento; A Real da Rua, que nasceu da necessidade de um fórum de discussão sobre o espaço do Viaduto; A Ocupação, evento cultural que tem como premissa a apropriação de espaços públicos e que teve ali três de suas edições; o Viaduto Ocupado, uma articulação em oposição às obras do Viaduto em 2014; e o Okupa Viaduto Santa Tereza, grupo contra práticas higienistas do poder público na região do baixo centro belorizontino, caracterizada pela grande frequência de grupos marginais (moradores de rua, prostitutas e travestis etc.). A proximidade entre esses grupos traz à tona que determinados lugares podem tornar-se catalisadores de articulações, unificando grupos para os quais são referenciais de identidade e pertencimento.

Em seguida, também pelo Netvizz foram colhidas informações sobre curtidas em um universo expandido de fanpages. Denominada rede de grau 2, são consideradas, além das curtidas entre os ativismos urbanos delimitados para a pesquisa, todas as fanpages por eles curtidas e as interações dessas com as demais. As seguintes cores foram utilizadas na diferenciação entre os agentes que passam a compor o grafo: ativismos urbanos em sentido forte em rosa, movimentos ligados à arte e à cultura em roxo, canais de mídia tradicional e alternativa em cinza, ativismos de outros locais ou de escalas mais abrangentes em amarelo, movimentos estudantis em azul claro, grupos religiosos em marrom, instituições e órgãos públicos em laranja, ativismos atuantes em Belo Horizonte com enfoque distinto do espaço urbano em verde, grupos de pesquisa e extensão universitária, instituições universitárias ou grupos de assessoria técnica em azul escuro, partidos políticos e figuras políticas em vermelho e sindicatos e associações profissionais em marrom claro.

Nessa nova configuração, observa-se, como apresentado na Figura 3, a forte inserção de atores ligados à arte e à cultura. Seu envolvimento junto aos ativismos urbanos de Belo Horizonte tem sido uma constante desde a Praia da Estação, quando é incorporada às formas de ação e protesto uma vertente artístico-cultural, os protestos-festa observados por Igor Oliveira (2012).

Novamente observamos a proximidade entre grupos de mesma temática ou posição política, explicitando a existência de articulação entre eles. Os grupos ligados à mobilidade, por exemplo, encontram-se concentrados na extrema esquerda da figura, enquanto os ligados ao cicloativismo estão na porção superior e os órgãos e instituições governamentais na extrema esquerda. Chama atenção a pouca inserção dos partidos, sindicatos e movimentos religiosos, sobretudo ao recordarmos que em momentos anteriores esses atores foram importantes articuladores dos ativismos urbanos.

Articulações temporais no Facebook

Ainda tomando como base as interações por Facebook, a análise das publicações e compartilhamentos de conteúdo entre as fanpages dos ativismos urbanos reforçam muitas das tendências já apresentadas. Das informações recolhidas durante a investigação, entre 01 setembro de 2015 e 3 de junho de 2016, emergiram os temas capazes de articular os ativismos durante essa temporalidade e sua periodicidade. Foram coletados 1357 posts publicados ou compartilhados pelos ativismos urbanos. Esses foram sistematizados por data, grupos que com ele interagiram – publicando ou compartilhando – e os temas abordados. Com essa informação foram gerados os grafos seguintes que representam as articulações estabelecidas no facebook durante os dez meses de recolhimento de dados. O mesmo padrão de cores anterior foi adotado na categorização dos tipos dos atores, com o acréscimo do rosa escuro para os círculos relativos aos temas e do lilás para pessoas que tiveram suas postagens compartilhadas pelos ativismos. Seus nomes foram substituídos por iniciais, mantendo somente o de figuras publicamente conhecidas. É importante ressaltar que além das pessoas cujos posts foram compartilhados, milhares de outras interagiram com as publicações coletadas. Não interessava à pesquisa, entretanto, interações individuais, mas sim aquelas dos ativismos como atores coletivos.

Em setembro de 2015 a Segunda Ocupação da Câmara Municipal, promovida por ativismos ligados à questão do transporte, conseguiu mobilizar grupos ligados à diferentes temáticas, como vemos na Figura 4. A ação tinha como pauta principal a realização de uma Audiência Pública para discutir os aumentos ilegais da tarifa do ônibus ocorridos naquele mesmo mês. Por outro lado, assuntos de menos expressividade ficaram contidos a grupos de mesma temática, como é possível observar no caso das ocupações urbanas para fins de moradia à esquerda, mobilizadas em torno de temáticas como os despejos das ocupações urbanas Canaã (em Contagem) e Macuco, Recanto Verde e Limoeiro (em Timóteo).

Fig. 4: setembro de 2015. Fonte: A autora.

Fig. 5: Outubro de 2015. Fonte: A autora.

Os grupos ambientalistas configuram outro núcleo à direita cujo principal tema de discussão é a reunião do COMAM (Conselho Municipal de Meio Ambiente) em que havia a possibilidade de aprovação do licenciamento para o empreendimento da Construtora Direcional em uma área verde de quase 200 mil metros quadrados, a Mata do Planalto.

O rompimento da Barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, ocorrido no dia 5 de novembro de 2015, foi também um tema que conseguiu mobilizar os diversos ativismos no espaço digital, como apresentado na Figura 6. A comoção em torno do desastre explicita-se nas atividades das fanpages em novembro, no entanto, os ativismos urbanos promoveram ou se engajaram em poucas ações off-line. Isso demonstra que, embora muitas vezes, os assuntos trazidos no ambiente digital reflitam ações em curso fora dele - diretas ou institucionais -, essa não é uma regra. O engajamento não necessariamente irá refletir em ações para além desse meio.

Fig. 6: Novembro de 2015. Fonte: A autora.

Fig. 7: Dezembro de 2015. Fonte: A autora.

Esse grafo revela ainda a falta de relação entre os ativismos tradicionais e os novos. No grupo isolado à esquerda estão os ativismos tradicionais de moradia, fundados entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Essa desconexão, evidenciada também em outros momentos e nas entrevistas, delimita o cenário em que, de um lado estão os ativismos tradicionais com uma ação enraizada nos canais institucionalizados e, em sua maioria, contrários às ações diretas - são radicalmente contra as ocupações de terrenos vazios, por exemplo - e de outro, os novos ativismos que normalmente consideram os primeiros como parte do status quo.

A Figura 8, que representa a dinâmica em janeiro de 2016, revela mais uma vez o aumento da tarifas como um assunto mobilizador. Foram três atos consecutivos contra o aumento (as chamadas para os atos foram feitas pelo MPL-BH) e em paralelo dois processos judiciais foram movidos alegando irregularidades no aumento: um pela Defensoria Pública, acionada pelo Tarifa Zero-BH, e o outro pelo Ministério Público de Minas Gerais. Mesmo com as movimentações o aumento foi mantido.

Fig. 8: Janeiro de 2016. Fonte: A autora.

É ainda notável nesse grafo que o rompimento em Bento Rodrigues praticamente desaparece entre os assuntos compartilhados, evidenciando a brevidade das mobilizações que se estabelecem nesse meio. Por um lado, a própria dinâmica da internet contribui a esse fato com a sobreposição de informações por novas informações geradas. A essa desinformação produzida pelo excesso de informação é correntemente utilizado o termo white out (PRUDÊNCIO, 2009). Por outro lado, esse fato reflete a própria natureza das articulações dos ativismos, muito restritas aos momentos emergenciais para, logo em seguida, dissolverem-se. As obrigações diárias e lutas cotidianas de cada um dos grupos, causam, assim, o arrefecimento de uma pauta comum.

Em fevereiro, é importante ressaltar a emergência da agenda feminista entre os ativismos urbanos, pauta que se tornou constante desse momento em diante, o que é revelado na Figura 9. A emergência da discussão de gênero nos diferentes grupos reflete na criação de frentes feministas que buscam discutir a questão da mulher tanto em relação às pautas de seus ativismos, quanto em relação à reprodução de relações de dominação de gênero interna aos grupos. Essa é uma discussão sistemática, embora se fortaleça em momentos críticos, como, por exemplo, na ocasião das propostas contrárias aos direitos da mulher por Eduardo Cunha na Câmara, ou no caso do estupro coletivo à jovem de 16 anos no Rio de Janeiro (os momentos aparecem nos grafos de novembro e maio). Não é possível afirmar que há uma articulação entre esses grupos que atuam de maneira dispersa nos ativismos, nem que exista uma unidade de pensamento entre essas ativistas (é provável, inclusive que existam uma série de conflitos). Entretanto, a repercussão que a Ocupação Tina Martins, uma casa de referência a mulheres vítimas de violência autogerida, teve entre os demais ativismos urbanos parece evidenciar a força da identidade de gênero entre as ativistas.

Fig. 9: Fevereiro de 2016. Fonte: A autora.

Em 13 de março de 2016, ocorreu o primeiro de uma série de protestos contra o governo de Dilma Rousseff, que iriam desencadear o seu processo impeachment. Este assunto tornou-se um tema generalizado entre os grupos, o que nota-se na Figura 10. A resistência, no entanto, ocorreu de maneira fragmentada.

Fig. 10: Março 2016. Fonte: A autora.

O processo de impeachment e os protestos que se mobilizaram contra ele continuaram como temas centrais entre os grupos durante abril, como manifestado na Figura 11. O perigo de despejo da Ocupação Tina Martins foi também um dos temas articuladores. Seu grande eco sugere o fortalecimento da pauta feminista entre os ativismos urbanos. De forma surpreendente, o despejo foi suspenso instaurando-se uma mesa de negociação com o Governo do Estado. Um imóvel foi cedido ao grupo, ainda incluído na Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher. Seu atual desafio é resistir de forma autônoma do Estado, sobretudo financeiramente.

Fig. 11: Abril de 2016. Fonte: A autora.

Fig. 12: Maio de 2016. Fonte: A autora.

Considerações finais

Os momentos de mobilização têm o essencial papel de tornar os grupos da sociedade civil em atores mais expressivos e com maior poder político, quebrando a evidente assimetria de poderes com os demais atores que atuam na produção do espaço urbano. Como defendem Marcelo Lopes de Souza e Glauco Rodrigues (2004, p. 27), há uma evidente convergência entre Estado e grupos dominantes, em que o primeiro, com frequência, intervém e decide de forma a favorecer os segundos. Ou seja, esses momentos têm a capacidade de equilibrar, ainda que brevemente, o poder de influência dos ativismos urbanos na produção do urbano.

Entretanto, como vimos, são, em geral, articulações pontuais e que emergem como resistências a processos destituintes que ameaçam os grupos ou suas pautas. Ainda que não sejam contínuas, ganhos são vislumbrados dessas articulações, pois num contexto de disputa, seu caráter performático e, portanto, a ideia de que existe uma rede de apoio contínua e ininterrupta entre os ativismos, é suficiente para dá-los força política. São ganhos significativos como a resistência de 9 mil famílias nas 16 ocupações urbanas para fins de moradia de Belo Horizonte, apesar das múltiplas tentativas de despejo; a conservação, pelo menos até o momento, de duas áreas de importância ambiental ameaçadas pela construção de empreendimentos imobiliários - a Mata do Planalto e o Parque Jardim América -; a promessa de gestão compartilhada entre poder público e grupos locais de um antigo Mercado local localizado no bairro de Santa Tereza.

Como resistências a processos do Estado e da iniciativa privada, esses ganhos são, em sua maioria, “não perdas” e, portanto, pouco capazes de transformações estruturais. É o que podemos observar na fala de um dos ativistas:

[...] a gente fica refém do conflito! E ficando refém do conflito, a dimensão constituída de outros modos de vida e outras práticas [...] ficam em segundo plano. [...] Superou o conflito e aí agora tem que construir para além do conflito. Como mobilizar, como garantir a presença de pessoas? É sempre uma dificuldade, o conflito é um ótimo dispositivo de mobilização (J.M., 2015).

Por outro lado, desses processos de resistência podem surgir construções capazes de ampliar o horizonte de luta e também dos ativistas. O caráter didático da luta foi relatado inúmeras vezes pelos entrevistados, cuja tomada de consciência em relação aos impactos de suas ações e das forças e interesses em disputa pelo espaço urbano e por sua produção alimentam suas formações políticas. É o caso do Grupo História em Construção, que configurou-se inicialmente como um movimento de resistência às remoções durante as obras do Programa Vila Viva11, na Vila das Antenas. Após o fim da intervenção que resultou em inúmeras remoções, o grupo segue atuando, sendo uma de suas ações uma oficina comunitária, onde é discutida a gestão coletiva de recursos e objetos de trabalho, com base no compartilhamento.

As ações contribuem, então, na transformação de mentalidade de seus próprios ativistas, e em alguns casos conseguem expandir-se para outros grupos, resultando em pequenas mudanças de pensamento aqui e ali, ainda que em uma minoria. Nas ocupações urbanas para fins de moradia, por exemplo, percebe-se uma sutil mudança de pensamento em relação à propriedade privada. Dentre seus apoiadores - pessoas ligadas a movimentos sociais, à academia, às entidades de classe etc. -, a submissão da propriedade privada aos interesses sociais e ambientais sempre foi um consenso. Por outro lado, entre os moradores, sobretudo das áreas de formação espontânea, era comum perceber o foco de sua justificativa de ação na falta de acesso formal à moradia. Hoje, embora persista o discurso da necessidade, há também o reconhecimento da legitimidade em dar uso a terras que não cumprem com sua função social. Um início, portanto, do questionamento ao caráter absoluto da propriedade privada.

Por outro lado, os limites dessas mudanças de mentalidade podem ser observados em acontecimentos recentes como os retrocessos relativos aos direitos trabalhistas, à democracia e ao uso de violência policial contra manifestações durante a Copa de 2014 e as Olimpíadas, ao que parece, com o apoio de grande parte da sociedade. Ao contrário dos 99% anunciados pelo famoso slogan do movimento Occupy Wall Street, poucos parecem dispostos a pensar outros horizontes possíveis ou se identificarem contra a realidade existente. Com um campo de influência tão restrito, como podem, então, os ativismos urbanos se contrapor ao modelo dominante de produção das cidades?

Os pequenos ganhos constituintes somam-se àqueles de resistência, como a implantação da Casa de Referência Tina Martins, um abrigo autogestionado por mulheres para mulheres em situação de risco; os espaços públicos ocupados por atividades culturais; a tomada, ainda que temporária, da cidade pela festa durante o carnaval. Todas construções que apontam para outra cidade em superação àquela dominante e essencialmente capitalista, mas ainda, machista, racista, homofóbica. Ainda que pequenos, incipientes e atravessados por várias contradições, esses ativismos conseguem trazer alguma liberdade, justiça e igualdade ao espaço urbano, funcionando, assim como protótipos de outros horizontes possíveis, fagulhas de esperança, ainda mais necessárias nesses tempos sombrios que nos esperam.

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1Artigo baseado em dissertação de mestrado defendida pela autora junto ao Núcleo de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (NPGAU) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), intitulada "Ativismos e a cidade: redes de resistência na produção do urbano" (2016), sob a orientação da Profa. Dra. Silke Kapp.

2Do original em francês: “Homogeneidad-fragmentación-jerarquización” (LEFEBVRE, 2013, p. 58).

3Sem, entretanto ignorar que essa mesma sociedade civil pode ter uma atuação conservadora - o que reforçaria o status quo - e que, por outro lado, o Estado pode, eventualmente, ter uma atuação progressiva e capaz de amenizar certas desigualdades, como manifesta Marcelo Lopes de Souza em diversas ocasiões (2001, 2006, 2008).

4Todas essas são formas como se denominam os grupos em questão

5Obviamente o espaço urbano enquanto lócus do poder e da política é uma pauta que atravessa todos os ativismos urbanos, que inclusive podem utilizá-lo de forma estratégica. Entretanto sua dinâmica é uma pauta secundária, não constituindo o cerne desses ativismos.

6Em contraposição a “movimento social”, mais correntemente adotado na literatura acadêmica sobre atores coletivos da sociedade civil, a adoção do termo serve para contornar duas questões. A primeira delas é a necessidade levantada pelo autor de diferenciação entre grupos da sociedade civil com um horizonte de transformação mais amplo daqueles que se atêm à solução de problemas pontuais e localizados. O termo movimento social deve reservar-se àqueles que lutam por transformações estruturais e ambiciosas. Embora relevante a questão, tal categorização não foi discutida durante a pesquisa. Isso porque restringir-se aos grupos que trazem horizontes de luta radicais poderia resultar em duas posturas opostas, mas igualmente perniciosas. Uma primeira seria enquadrar determinados grupos na categoria movimentossociais como forma de legitimá-los e reconhecer sua importância, ignorando, porém, o caráter restrito de suas ações e a falta de questionamentos a problemas estruturais na reprodução de relações sociais. Por outro lado, tal restrição poderia também resultar na desconsideração de iniciativas capazes de transformações que, mesmo parcelares e não estruturais, contribuem à produção da cidade. A segunda razão para adoção do termo ativismos urbanos, é que os grupos de estudo se autodenominam de inúmeras maneiras, evidenciando muito de seus valores fundamentais. Os integrantes da Praia da Estação (um dos grupos investigados), por exemplo, rechaçam enfaticamente as denominações movimento e coletivo, por acarretarem uma série de pressupostos com os quais não se identificam. Desse modo, o termo ativismo urbano é, por sua generalidade, capaz de abarcar toda a pluralidade de organizações e associações coletivas, sem, no entanto, imprimir sobre elas os sentidos atrelados a termos mais correntes.

7É importante ressaltar que o período compreendido pela pesquisa - de setembro de 2015 a maio de 2016 - resultou em sua finalização em um período conturbado tanto em nível nacional, como local. No contexto nacional, vivíamos a eminência do julgamento final do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o que resultaria em seu afastamento do cargo, junto a um governo interino (e ilegítimo) no poder que diariamente anunciava novos retrocessos sociais. Na conjuntura local a proximidade de eleições municipais desenhava um cenário de fragmentação entre os grupos. Parte dos ativismos empenha-se na tentativa de tomada do espaço da política, lançando seus próprios candidatos, buscando construir candidaturas para “mandatos abertos e compartilhados” (CIDADE QUE QUEREMOS, 2016, s.p.) ou ainda apoiando candidatos historicamente envolvidos com suas pautas, enquanto outros discutiam as contradições em despender energias, recursos e esperanças em um modelo político que consideravam falido.

8Do original em espanhol: “[...] construcción de sujetos parcialmente unificados cuya determinación fundamental sea una determinación popular [...]” (LACLAU; MOUFFE, 1987, p. 23).

9Como periferia refiro-me às áreas carentes de infraestrutura e serviços ocupadas por população de baixa renda e, geralmente, informais. Incluem-se aí as áreas geograficamente periféricas, em que, pelo preço da terra, são a única possibilidade para essa população e ainda as favelas, que padecem das mesmas carências e instabilidades, apesar de bem localizadas.

10O Netvizz é uma ferramenta de código aberto para extração de dados do facebook. Os dados são processados em programas de visualização de redes como o Gephi.

11O Programa Vila Viva segundo seu órgão executor é uma "ação integrada de urbanização, desenvolvimento social e de regularização dos assentamentos existentes" (PEREIRA; AFONSO; MAGALHÃES, 2007, s.p.). Sua implantação, entretanto, resultou em grandes impactos nas áreas de intervenção, sobretudo em relação ao número de famílias despejadas para a realização de obras, em sua maioria viárias.

Activism and social media

Laís Grossi de Oliveira

Laís Grossi de Oliveira is Master in Architecture and Urbanism. Professor of Architecture and Urbanism course, at Pontifical Catholic University of Minas. She is member of the advisory team to the revision of Executive Plans of 11 municipalities of the Metropolitan Region of Belo Horizonte.


How to quote this text: Oliveira, L. G. Networks in the network: activism and social media. V!RUS, 14. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus14/?sec=4&item=6&lang=en>. [Accessed: 27 April 2024].


Abstract:

Abstract

From the study of 39 urban activism groups in Belo Horizonte-MG, thepresent article seeks to understand the action of civil society asone of the many actors that produce the cities. As this V!RUS issue’seditorial heralds, "the contemporary city is produced bymultiple actors, from public managers, planners and scholars toprivate business groups, third sector organizations and, inparticular, by its inhabitants." (2017, s.p). However, theimbalances of power between these actors are evident, which Souza andRodrigues (2004) emphasize in the existing consonance between theState and the already privileged groups of society.

The articulations between urban activism are the most dramaticmoments of rupture - even if temporary - of this scenario ofimbalance, making it possible to catalyze the construction of commonprojects among groups of organized civil society. Informationtechnologies are a valuable tool in networking among urban activism,which is increasingly using WhatsApp, Facebook, and other digitalsocial networks. It is precisely in the analysis of these means,especially Facebook, that this article is built. To do so, urbanactivism fan pages were monitored as well as their interactions,occurring through Facebook likes and content sharing.

Obviously, the relationships between urban activism go beyondFacebook. However, the connections occurring in this social networkreproduce several characteristics of the other articulations, insideand outside the digital environment, such as its ephemerality, itsconnection to emergency moments or the recurrence of some commonguidelines.

Keywords : Urban activism; Belo Horizonte; social networks.


Introduction

The city supports the reproduction of some society’s social andeconomic relations, being both product and producer of its dynamics(Lefebvre, 2006). In a society marked by profound power asymmetries,the city thus becomes the stage for the performance of relations ofdomination such as those between classes - as observed by Lefebvreand Harvey -, of race - as Eugene McCann (1999) -, or of gender -which is argued by the geographer Doreen Massey (1994). The dominantcity is the result of those relations, synthesized by Lefebvre as aspace in which "homogeneity-fragmentation-hierarchy"prevails (2013, p.58, our translation).

If this dominant city is, in general, a consonance between privateinitiative and the State, civil society emerges as a possibility ofcounterpoint. Civil society then becomes a collective actor who actsin the production of the city together or - more commonly - againstthe State and private initiative. Its actions and impacts, therefore,should not be analyzed individually, but cumulatively. As announcedby the editorial of this edition of V!RUS, the city is, therefore,the product of the action of several actors, or: "Locus wherethe great flows of the planet reverberate, the contemporary city isproduced by multiple actors, from public managers, planners andscholars to private business groups, third sector organizations and,in particular, by its inhabitants." (2017, s.p.).

To measure this cumulative impact, it is necessary to understand howis this collective actor configured and the articulations between thegroups which constitute it.

From Belo Horizonte’s context, this study sought to investigatemovements, activism, associations, committees, forums, andcollectives for which space is a catalyzing element of action, ofidentity reference or conditioning of their tactics and strategies.Ultimately, groups that have the objective of transforming thedynamics of urban space. It is central to them the struggle foraccess to the city and its equipment and services, but, even more so,the question of the Right to the City as defended by Lefebvre (2008):the right to transform the city, to participate in decision-makingabout its directions and to appropriate it.

To denominate such groups, we will adopt Marcelo Lopes de Souza’sterm: urban activism in the strong sense (2006) - or only urbanactivism when the context is clear. The category embeds civil societygroups that oppose dominant urban spatial dynamics with organized andrelatively long-lasting public actions (more than a march, forexample) (Souza, 2006, p.278).

A total of 39 urban activism groups were selected in Belo Horizonte,constituting a universe with a wide diversity of approaches, tactics,political and thematic positions of struggle such asenvironmentalists, anarchists and urban occupations for housingpurposes, which is summarized in Figure 1.

Fig. 1: Urbanactivism addressed in research. Source: the author.

Time marking is important information, since different forms ofaction and articulation are observed between old and new groups.Urban activism groups inside the gray rectangle are those calledthroughout the text as new urban activisms, as opposed to traditionalones. While the former have their origin from 2009, the so-calledtraditional ones are those that arose between the late 1980s andearly 1990s. The main difference between such groups concerns theresumption of direct action by the new urban activisms, while thetraditional ones undertake an institutional struggle. Although theyhave conducted some direct actions in their origins, they havegradually been incorporated into the state apparatus andinstitutionalized channels of participation because of their closerelationship with political parties and governments.

June 2013 is also a significant time marking to the investigatedgroups dynamics, because of the protests that broke out across thecountry. Much urban activism arose after this period, as can be seenin the figure. Some, such as Assembleia Popular Horizontal (APH-BH),Tarifa Zero - BH and Movimento Passe Livre - BH (MPL-BH) are directreverberations of the protests. Although it is not possible toestablish this same relationship with other post-June activism, theywere evidently influenced by the imagery that emerged after theperiod, fuelled by the impact of the protests’ scale and thesignaling of gains and transformations that seemed to materializefinally.

The lines that connect urban activism groups in the figuredemonstrate the different categories to which they belong based onaspects such as organization, guidelines, political position, theconjuncture of creation, etc.. These categories were not exhausted,being limited to those critical to this work’s context:

1. Traditional urban activisms with housing agenda

2. Urban activisms with environmental protection agenda

3. Urban occupations for housing purposes

4. Activisms linked to the mobility agenda

5. Occupations of public spaces and empty spaces for other purposes

6. Activisms in direct relation to the protests of 2013 and 2014World Cup

7. Neighborhood and local defense associations

8. Libertarian field

Urban articulations and activisms

Once urban activisms were delimited, an attempt was made to apprehendits form and articulations. These perform in both physical anddigital spaces are in a strong complementary relationship.

In addition to the local context and occasional events, the recentactions of organized civil society groups are also related to a macrocontext of the rise of neoliberalism, changes in the organization ofwork, the emergence of leftist governments since the 1990s and theparticipatory wave. The sociologist Ana Clara Torres Ribeiro (2014)considers that a culturalist emphasis of the contemporary socialmovements, the abandonment of the notion of class and the consequentfragmentation of a supposed collective subject would be directreflexes of these broader social, economic and politicaltransformations.

Despite the fragmentation, the articulation of networks is one of thefundamental characteristics of activisms. An adoption of such anorganization is not restricted only to activisms, the whole societyorganizes itself this way, being a striking feature of powerrelations. Dominant groups are arranged through articulating projectsthat mobilize different networks - political, military, cultural,etc. The opposition to power relations must, therefore, as Castells(2005) affirms, operate in the same logic of its organization:Activist networks around common alternative projects.

The identification of these networks and the themes and eventscapable of mobilizing and articulating urban activisms in the presentresearch were made through consultation in the academic literatureproduced on the activisms studied, monitoring their fan pages onFacebook and interviewing some of the referred groups’ activists.

It is important to emphasize that, despite the new possibilitiesbrought by current articulations for the expansion of scope anddynamicity in the groups, both driven by information technologies,the imaginary around the uniting force between urban activisms is thefruit of a long historical process. Together with the empiricalresults of articulation experiences, contribute to this work severalintellectual assets that systematically recover throughout thehistory of critical thinking the commitment with the articulationbetween the subjugated groups of the society.

When Marx and Engels wrote the Communist Manifesto in 1848, it isevidenced this commitment on an alliance for revolution by appealingto the constitution of a class identity among the workers’ groupsengaged in local struggles and, in some cases, in conflicts betweenthem. This spirit is summed up by the famous phrase: "Workers ofthe world unite!" (Marx and Engels, 2003).

Later on, Gramsci (1999), from a failed context of the expectedrevolution in Western Europe, reaffirms the importance of analliance, extended, however, beyond the urban proletarians. For theItalian Marxist, the construction of a class identity is restrictive,since, in addition to the urban proletarians, other groups aredominated in the capitalist system. The strategy of revolution must,therefore, be based on an alliance between the subordinated groups,articulated and directed by the working class (Gramsci, 1999).

More recently, Laclau and Mouffe (1987) take up and update Gramsci'sthinking, reinforcing his idea of expanding the articulationsfor the oppressed beyond the working class. They, however, challengeGramsci's leading role in the working class in the construction ofthis alliance and also suggest the transposition of class boundariesand the "construction of partially unified subjects whosefundamental determination is popular determination" (Laclau andMouffe, 1987, p. 23, our translation).

More than seeking evidence of systematic adherence to the thought ofthis or that author, on what concerns activisms, it is interesting toobserve to what extent these theoretical constructions are able toapprehend the reality of the articulations that are establishedbetween them. For this overlap, it was necessary to seize thenetworks created between urban activisms in Belo Horizonte and thejoint projects that articulate them. Theses analyses were based oninterviews with groups’ participants and public interactions amongtheir Facebook fan pages. Numerous other connections are establishedin the digital environment via email groups, WhatsApp, and otherinstant messaging applications, of course. However, although reportedby the interviewees, these spaces are restricted to the activists.Therefore, in addition to the lack of access to them, the ethicalissues in publicizing interactions established in private media mustalso be considered.

In Belo Horizonte, the interviewees reported a dynamic relationshipbetween the groups. These articulations are considered fundamental tothe resistance of activisms due to the fragmentation of thesecollective actors and their concentration on isolated themes andlocal approaches. They serve both to broaden the groups’ agendas -in addition to local demands and actions - and to increase theirpolitical pressure, especially in relation to other actors in theproduction of urban space - such as the State and the private sector.

The mobilizations that stand out in the recent history of activismsshow, however, that, in general, the most expressive networks occurfor short periods and as resistance to the possibilities of losses.They are catalyzed by the constitution, albeit temporary, of a"common enemy", such as the case against the impeachment -coup - of President Dilma, who has been able to mobilize eventraditional activisms long concentrated in peaceful action within thegovernmental spaces.

With the placing of antagonism in particular people or events - inthe mayor Márcio Lacerda in Belo Horizonte, in the President MichelTemer, in the 2014 FIFA World Cup, in the increase of bus fares, etc.- articulations happen in emergent and punctual situations. After theend of the fact that unified activisms, due to victories, even ifmomentary, or the exhaustion of the possibilities of action, thenetworks demobilize. As Castells (2013) observes, its unification isthe common indignation towards a given situation.

The perception of the need for more durable articulations betweenactivisms, constituting permanent spaces for dialogue, exchange ofexperience and the constitution of an articulating struggle iswidespread among the interviewees. However, these attempts areusually subsumed by daily threats and individual group struggles.When they are longer lasting, they are confined to same or nearagendas’ activisms, such as mobility, empty land occupationmovements, or cultural movements.

The perception that the city’s segregation is also reproduced inthe articulation between activisms is widespread: there is adiscontinuity between the centre and periphery activisms and betweenboth and society in general. This discontinuity is evident in thespeech of one of the activists: "[the articulation] iscentrecentric because we think that Belo Horizonte is its centralarea! We forget that the city is much bigger than that. The centralarea is very well put together, while all hell is breaking loose onthe periphery." (P.K., 2015). Obviously, there are exceptionsand some attempts to overcome this lack of dialogue, but in an evenless expressive way. The few peripheral activisms that can articulatewith the central groups do so, in general, moving from the peripheryto the central area.

The lack of dialogue is related, in part, to the difference ofagendas. While in peripheral activisms the tendency is for strugglesfor access to rights that are already established but notuniversalized, central area activism is fighting for the recognitionof new rights. The distance between central areas and peripherygroups is further reinforced by the critical positioning of newactivisms concerning previous attempts at approximations by theso-called base work. In fact, this practice often resulted independency relations and paternalistic, colonizing, and evenutilitarian ties.

If the dialogue between central areas and periphery activisms is notvery productive, echoing beyond this universe in society as a wholeis even less. Even in matters that concern most people, such as acall to protest against the increase in bus fares, hardly a groupbeyond the usual will be mobilized. This situation does notnecessarily mean that the agenda is considered illegitimate by thoseoutside the activist universe, but that, between identifying andassembling, there is a distance that the groups have not been able tooverpass. This is precisely one of their great questions: How toreach and mobilize society in an expanded way since it is alsosubjugated by the same domination patterns fought by the activistgroups?

Networks in the network: digital social media and activisms

The subjects listed in the previous section are also observed whenanalyzing the public interactions among Facebook fan pages. In thecontext of this research, two types of relationship mediated byactivisms fan pages were considered: Facebook likes between activismfan pages and the sharing of information between them. To theinformation extracted were applied methods of Social Network Analysis(ARS), which are based on the interactions between actors and on theroles they play in their contexts (Recuerdo et al., 2015). For this,mathematical and computational models that generate graphicalrepresentations are used, the so-called graphs, that relate elementsat a given moment. In graphs, relationships are represented by edgesthat join the actors, represented by circles.

The nodes of the generated graphs are, therefore, urban activisms fanpages, united by two categories of relationships: Facebook likes andinformation sharing. In the latter case, shared content is alsorepresented by circles, since they are articulators of the variousagents that compose the network.

Facebook likes among activisms fan pages bring relevant information,because they mean publicly assuming a connection, the recognition ofstruggle, or even the interest in following their publications. UsingNetvizz to extract Facebook likes data, two networks were generated.The first one, called grade 1 network (Figure 2), is restricted toarticulations made by Facebook likes among urban activism fan pagesin Belo Horizonte, forming a universe composed of 39 of them. Thesecond, called grade 2 network (figure 3), broadens the universe ofactors for activism linked to other themes, such as media channels,academy groups, public institutions, political parties and politicalfigures.

Fig. 2: Grade 1 network. Source: the author.

The circles and font sizes correspond to the number of Facebook likesof each fan page by the other actors of the network. As a result, wehave, as shown in figure 2, a network with a high degree ofarticulation between fan pages, although some remain marginal. Thewell-defined division between some categories of activisms isremarkable. Those with a predominantly environmental agenda, forexample – Parque Jardim América, Fica Fícus, Rede Verde, Salve aMata do Planalto, Comupra (Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeirode Abreu) and AMAU (Articulação Metropolitana de AgriculturaUrbana) – find themselves in the upper limit of the graph; Whereas,the anarchist and autonomist groups - Bloco de Lutas pelo Transporte,MPL-BH (Movimento Passe Livre – BH) and, in part, APH-BH(Assembleia Popular Horizontal) – are located to the left of thegraph and the urban occupations for housing purposes, although wellinserted in the network, are strongly connected to each other and tothe groups that support them.

It is also noticeable the proximity between activism groups that hasthe same space - Santa Tereza Viaduct - as a place of encounter andthat with it developed a sense of belonging. A Real da Rua was bornfrom the need for a discussion forum on the space of the viaduct,while A Ocupação, a cultural event that has as its premise theappropriation of public spaces and that has had three of its editionsthere. The Viaduto Ocupado, an articulation in opposition to theinfrastructure works of the viaduct in 2014 and the Okupa ViadutoSanta Tereza, a group against municipal government’s urbancleansing policies in the central region, characterized by a greatfrequency of marginal groups (street dwellers, prostitutes, andtransvestites, etc.). The proximity between these groups evidencethat some locations can become catalysts for articulations, unifyinggroups for which they are references to identity and belonging.

In the following step, Netvizz also collected information aboutFacebook likes in an expanded universe of fan pages. Called the grade2 network, it considers, besides the Facebook likes among urbanactivism delimited groups for the research, all the fan pages theyhave liked and the interactions of these with the other urbanactivisms fan pages. The following colours were used in thedifferentiation between the agents that make up the graph: urbanactivism in the strong sense in pink, movements linked to art andculture in purple, traditional and alternative media channels ingray, activism of other places or broader ranges in yellow, studentmovements in light blue, religious groups in brown, institutions andpublic bodies in orange, activism in Belo Horizonte with a distinctfocus than urban space in green, research and outreach universitygroups and university organizations or groups of technical assistancein dark blue, political parties and political figures in red andtrade unions and professional associations in light brown.

Fig. 3: Grade2 network. Source: the author.

In this new configuration, displayed in figure 3, a strong insertionof actors linked to art and culture is noticed. Their involvementwith Belo Horizonte’s urban activisms has been a constant sincePraia da Estação movement when an artistic-cultural slope has beenincorporated into the forms of action and protest, the‘party-protests’ (or carnivalesque protests) observed by IgorOliveira (2012).

Again, it is displayed a proximity between groups of the same subjector political position, explaining the existence of articulationbetween them. Groups linked to the mobility issues, for example, areconcentrated on the extreme left of the figure, while those relatedto cycle activism are in the upper portion of the figure andgovernment agencies and institutions on the extreme left. It is worthnoting the little insertion of parties, unions and religiousmovements, especially when we remember that at some points in thepast these actors were influential articulators of urban activism.

Temporal articulations on Facebook

Still based on Facebook interactions, the analyses of publicationsand content sharing among urban activisms fan pages reinforces manyof the trends already presented. From the information gathered duringthe research, between September 1st, 2015 and June 3rd, 2016, themescapable of articulating groups during this temporality and itsperiodicity surfaced. 1357 posts published or shared by urbanactivisms were collected. These posts were systematized by date,groups that interacted with them - publishing or sharing - and thetopics covered. With this information, the following graphs weregenerated representing the articulations established on Facebookduring the ten months of data collection. The same previous colorpattern was adopted in the categorization of actor types, with theaddition of dark pink to theme circles and lilac to people who hadtheir posts shared by activisms fan pages. Their names have beenreplaced by initials, keeping only known public figures’ ones. Itis important to note that in addition to people whose posts wereshared, thousands of others interacted with the collectedpublications. Research, however, did not concern individualinteractions, but rather those of activisms as collective actors.

In September 2015 the second occupation of the City Council (inPortuguese Segunda Ocupação da Câmara Municipal), promoted byactivisms related to the transportation issue, managed to mobilizegroups linked to the different themes comprised on this research, asshown in figure 4. The action had as its primary agenda the holdingof a public hearing to discuss the increases of the bus fare occurredthat same month. On the other hand, subjects of less expressivenesswere contained in same themes groups, as can be seen in the case ofurban occupations for housing purposes on the left of the graph,mobilized around themes such as urban evictions in Canaã (inContagem) and Macuco, Recanto Verde and Limoeiro (in Timóteo), urbanoccupations in small towns of the state of Minas Gerais.

The environmental groups are another nucleus on the right of thegraph whose main discussion topic is a meeting of COMAM (ConselhoMunicipal de Meio Ambiente) in which the licensing for theConstrutora Direcional’s real estate projects in a green area ofalmost 200 thousand square meters, would be approved.

The disruption of Fundão dam, in Bento Rodrigues (in Mariana, MinasGerais), occurred on November 5th, 2015, was also a theme that wasable to mobilize the various activism groups in the digital space, asshown in figure 6. The commotion around the disaster is explicit inthe fan pages activities in November. However, urban activismspromoted or engaged in fewer off-line actions. This demonstratesthat, although often the issues brought in the digital environmentreflect ongoing actions - either direct or institutional - outsideit, this is not a rule. Engagement will not necessarily reflectactions beyond this medium.

This graph also reveals the lack of relationship between traditionaland new activisms. In the isolated group on the left are thetraditional housing activisms, founded between the late 1980s andearly 1990s. This disconnection, noticed earlier in the research andin interviews, delimits the scenario in which, on the one hand,traditional activisms with action rooted in institutionalizedchannels, and mostly against direct action - radically against emptyland occupations, for example - and on the other, the new activismthat usually sees the former as part of the status quo.

Figure 8, which represents the dynamics in January 2016, reveals onceagain the increase in bus fares as a mobilizing issue. There werethree consecutive acts against the increase (calls for actions weremade by MPL-BH) and at the same time two lawsuits were filed allegingirregularities in the increase: one by the State Public Defender'sOffice (Defensoria Pública), triggered by Tarifa Zero-BH, and theother by the Public Prosecutors' Office of Minas Gerais (MinistérioPúblico de Minas Gerais). Even with these articulations, theincrease was maintained.

It is also remarkable in this graph that the disruption of BentoRodrigues dam practically disappears between the shared subjects,evidencing the brevity of the mobilizations that are established inthis environment. On the one hand, the very dynamics of internetcontribute to this fact by overlapping information by new informationgenerated. To this disinformation produced by information excess iscommonly used the term white out (Prudêncio, 2009). On the otherhand, this fact reflects the very nature of urban activismsarticulations, very restricted to the emergency moments for, soonafter, dissolve themselves. Daily obligations and struggles of eachgroup, thus, cause the quenching of a common agenda.

In February, it is important to emphasize the emergence of thefeminist agenda among urban activisms, an agenda that became constantfrom then on, which is revealed in figure 9. The emergence of genderdiscussion in different groups reflects the creation of feministfronts that seek to discuss the gender issue both concerning theiractivisms themes and about the reproduction of gender dominationrelations within their groups. This is a systematic discussion,although it strengthens at critical moments, such as at the time ofproposals against women's rights by Eduardo Cunha in the FederalCongress, or in the case of the collective rape of the 16-year-oldgirl in Rio de Janeiro (these moments appear in the graphs ofNovember and May). It is not possible to say that there is anarticulation between these groups, which act in a dispersed way intheir activism, nor that there is a unit of thought among thesefeminist activists (it is even probable that there are a series ofconflicts between them). However, the repercussion that Tina Martinsoccupation, a self-managed reference house to women victims ofviolence, had among other urban activisms seems to show the strengthof the gender identity among the activists.

On March 13th, 2016, the first of a series of protests against DilmaRousseff's government took place, what would trigger her impeachmentprocess. This issue became a generalized theme among urban activisms,which can be seen in Figure 10. Resistance, however, occurred in afragmented way.

The process of impeachment and the protests against it continued ascentral themes between the groups during April, as manifested infigure 11. Tina Martins occupation’s danger of eviction was alsoone of the articulating themes by then. Its great echo suggests thestrengthening of feminist agenda among urban activisms. Surprisingly,the eviction was suspended by the establishment of a negotiatingtable with Minas Gerais State government. A State-owned house wasassigned to the group, still included in a network to combat violenceagainst women. Its current challenge is to resist autonomously fromthe State, especially financially.

Fig. 4: September2015. Source: The author.

Fig. 5: October2015. Source: The author.

Fig. 6: November2015. Source: The author.

Fig. 7: December 2015. Source: The author.

Fig. 8: January 2016. Source: The author.

Fig. 9: February2016. Source: The author.

Fig. 10: March2016. Source: The author.

Fig. 11: April2016. Source: The author.

Fig. 12: May 2016. Source: The author.

Final comments

Mobilization moments have the essential role of making civil societygroups more expressive actors and with greater political power,breaking the evident asymmetry of forces with the other actors in theurban space production process. As Marcelo Lopes de Souza and GlaucoRodrigues (2004, 27) argue, there is an evident convergence betweenthe State and dominant groups, in which the former often intervenesand decides in favor of the latter. That is, these moments have thecapacity to balance, albeit briefly, the power of influence of urbanactivisms in the production of the urban.

However, as we have seen, these moments are, in general, punctualarticulations that emerge as resistances to destitution processesthat threaten groups or their agendas. Although they are notcontinuous, gains are glimpsed from these articulations, because in acontext of dispute, their performative character and, therefore, theidea that there is a constant and uninterrupted support networkbetween the activisms, is enough to give them political force. Thereare significant gains such as the resistance of 9 thousand familiesin the 16 urban occupations for housing purposes in Belo Horizonte,despite multiple attempts to evict them. The conservation, at leastso far, of two areas of environmental importance threatened by theconstruction of real estate projects - Mata do Planalto and ParqueJardim América. The promise of shared management between publicpower and local groups for an old local market located in SantaTereza’s district.

As resistances to governmental and private sector processes, thesegains are, for the most part, "non-losses" and, therefore,hardly capable of structural transformations. This is what we canobserve in the speech of one of the activists:

‘[...] we are held hostage to the conflict! And being held hostageby the conflict, the other ways of life and other practicesdimensions [...] are kept in the background. [...] You overcome theconflict and then you have to build beyond the conflict. How tomobilize, how to ensure people’s presence? It is always difficult,and conflict is a great mobilization device’ (J.M., 2015).

On the other hand, from these resistance processes can ariseconstructions capable of enlarging the horizon of struggle and alsoof the activists. The didactic character of the conflict has beenreported countless times by the interviewees, whose awareness of theimpacts of their actions and the forces and interests in the urbanspace disputes and its production feed their political formations.This is the case of História em Construção group, which wasinitially set up as a resistance movement to residents’ evictionsduring the real estate works of Vila Viva government program in Viladas Antenas. After the end of the intervention that resulted innumerous evictions, the group continues to act, one of its actionsbeing a community workshop, where the collective management ofresources and work objects is discussed, based on sharing knowledge.

Actions, therefore, contribute to the mentality transformation oftheir activists and, in some cases, succeed in expanding into othergroups, resulting in small changes in thinking here and there, albeitin a minoritarian way. In urban occupations for the purpose ofhousing, for example, one perceives a subtle change of thought aboutprivate property. Among its supporters - people linked to socialmovements, academia, class entities, etc. - the submission of privateproperty to social and environmental interests has always been aconsensus. Besides, among the residents, especially in the areas ofspontaneous formation, it was common to perceive the justifying focusfor their actions in the lack of formal access to housing. Today,although the necessity discourse persists, there is also recognitionof the legitimacy of using land that does not fulfill its socialfunction. A beginning, therefore, of questioning the absolutecharacter of private property

Moreover, the limits of these mentality changes can be observed inrecent events as the setbacks related to labor rights, democracy andthe use of police violence against demonstrations during the 2014FIFA World Cup and the Olympic Games, it seems, with a significantpart of society’s consent. Contrary to the 99% announced by thefamous slogan of the Occupy Wall Street movement, few people seemwilling to think of other possible horizons or identify themselvesagainst the current reality. With such a limited field of influence,how can urban activism counteract the dominant model of cityproduction?

The small gains that preserve or broaden rights are added to those ofactivist resistance, such as the implementation of Casa de ReferênciaTina Martins, a shelter self-managed by women for women at risk; Thepublic spaces occupied by cultural activities; The taking of the cityby the Festival, though temporary, during Carnival. They are allconstructions that point to another city that overcomes that dominantand essentially capitalist, but still, misogynist, racist andhomophobic one. Although small, incipient and crossed by variouscontradictions, urban activism can bring some freedom, justice, andequality to urban space, working as prototypes of other possiblehorizons, sparks of hope, even more necessary in these dark timesthat await us.

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