Por uma cartografia social dos encontros

Eduardo Rocha, Juan Manuel Diez Tetamanti, Carolina Mesquita Clasen

Eduardo Rocha é Doutor em Arquitetura e Urbanismo, professor e pesquisador do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, e coordenador do Laboratório de Urbanismo. Estuda modos de vida e a produção de um desenho urbano voltado para as pessoas nas cidades.

Juan Manuel Diez Tetamanti é Doutor em Geografia, professor e pesquisador na Universidad Nacional de la Patagonia San Juan Bosco. Estuda geografia econômica e social, planejamento urbano e desenvolvimento.

Carolina Mesquita Clasen é artista visual e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas. Estuda relações entre os espaços expositivos, urbanos e suas imanências.


Como citar esse texto: ROCHA, E.; DIEZ TETAMANTI, J. M.; CLASEN, C. M. Intervenção no bairro Dunas: por uma cartografia social dos encontros. V!RUS, São Carlos, n. 14, 2017. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus14/?sec=4&item=4&lang=pt>. Acesso em: 27 Abr. 2024.


Resumo

Este artigo é produto do encontro e da experiência com cartografia social de grupos de pesquisa brasileiro e argentino, compostos de arquitetos e urbanistas com geógrafos, no Bairro Dunas, periferia da cidade de Pelotas, região sul do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. A metodologia da Cartografia Social acompanhou a tecitura da cidade, as inter-relações do caso concreto do Bairro Dunas, linha-a-linha, na urdidura entre vida cotidiana, desejos, problemas, soluções e ações do poder público. O texto busca trazer à tona questões referentes ao método da Cartografia Social como a organização, a análise e as formas de aplicação, além de apontar para os aspectos emancipatórios e comunitários envolvidos no processo. Propõe-se que a Cartografia Social pode auxiliar a tecer a cidade, desfazendo a dicotomia centro-periferia na produção de novos espaços sociais, a partir de investigação-intervenção.1

Palavras-chave: Cartografia social; Investigação-intervenção; Emancipação.


1 Introdução

Este artigo é fruto de muitos encontros. Encontros dos pesquisadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUrb) e Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo2 (PROGRAU/Universidade Federal de Pelotas/UFPel) com os amigos do Instituto de Investigaciones Geograficas de la Patagonia3 (IGEOPAT/Universidad Nacional de la Patagonia San Juan Bosco/UNPSJB). Encontros dos centros de pesquisa com o Bairro Dunas, na cidade de Pelotas, da periferia com o centro. Encontros entre as pessoas. Bons encontros de um mundo que se abre e de forças que fazem pensar, que agenciam e constroem (DELEUZE, 2009). O texto tem um duplo objetivo: ilustrar parte da metodologia de aplicação de oficinas de Cartografia Social, com a intenção de sistematizar a tarefa científica em relação a este método, e descrever metodologicamente o processo de intervenção concreta no Bairro Dunas. Ambos estão justapostos e interconectados permanentemente.

Questiona-se: como, a partir desta experiência, é possível tecer reflexões metodológica de aproximação entre uma comunidade periférica e uma instituição de pesquisa? De que maneiras estão inter-relacionados centro e periferia?

Buscamos utilizar a Cartografia Social como tecitura visando desfazer a dicotomia centro-periferia, tecendo pistas na urdidura entre vida cotidiana, desejos, problemas, soluções e ações do poder público. Buscamos entender a cidade através da construção de linhas que se articulam entre conteúdo e expressão, agenciamento maquínico e coletivo, não mais opostas, mas inter-relacionadas e inseparáveis (DELEUZE; GUATTARI, 1997).

Como resultado de encontros de trabalho, consideramos este aporte como um pequeno avanço que poderá ser refinado e melhorado a partir de novas experiências, tanto nossas como de colegas que desejem aproximar-se da aplicação da Cartografia Social como método de investigação e intervenção social.

2 Perfil de Pelotas e Bairro Dunas

A cidade de Pelotas (Fig.1) está localizada na região sul do Brasil, no estado do Rio Grande do Sul, às margens do Canal São Gonçalo que liga a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim. Tem uma população de aproximadamente 350.000 habitantes, e dista 259 km de Porto Alegre (capital do Estado) e 560 km de Montevidéu (capital do Uruguai). Pelotas, como em geral as cidades médias na América Latina, produz uma periferia segregada e carente - fruto das políticas públicas e do planejamento do Estado - apoiada pela desigualdade social. A borda periférica não é excluída deste planejamento urbano, mas é a partir dessa inserção urbana crítica e segregadora que o Capital se fortalece.

Fig. 1: Mapa da localização de Pelotas no estado do Rio Grande do Sul e Brasil. Fonte: Os autores.

O Bairro Dunas (Fig. 2) é um exemplo típico de periferia de cidade média no Brasil. Utilizamos a expressão periferia tal como o fazem Nabil Bonduki e Raquel Rolnik (1979), ao afirmarem que periferias são as parcelas do território da cidade que têm baixa renda diferencial. Assim, este conceito ganha maior precisão e vincula, concreta e objetivamente, a ocupação do território urbano à estratificação social. O termo periferia assume, então, além de seu conceito geográfico de "o que está à margem", o conceito social de exclusão.

Fig. 2: Imagem Google da localização do Bairro Dunas na cidade de Pelotas. Fonte: Elaborado pelos autores com dados do mapa ©2015 Google.

Dunas tem sua origem em 1986 por uma ação do Poder Executivo municipal que destinou uma área de 60 hectares para a implantação de um loteamento. Hoje possui aproximadamente 20 mil moradores e é vizinho de outros bairros da periferia da cidade de Pelotas, como Areal e Bom Jesus. O nome do bairro, contraditoriamente, advém da vizinhança “murada” estabelecida com um Clube Social da “classe alta” da cidade (MEREB, 2011; SOARES JUNIOR, 2011).

3 Cartografia Social como método dos encontros

Na perspectiva das Ciências Humanas e Sociais, a cartografia nasce do diálogo entre Michel Foucault e Gilles Deleuze com sua gênese na tradição nietzschiana. O esboço do método surge a partir das já conhecidas perspectivas de Foucault da arqueologia do saber, genealogia do poder e genealogia da ética. Os dois autores mantêm uma relação muito próxima com o campo da geografia – empregando termos como território, campo, latitude, longitude, paisagem, deslocamento, etc. – sempre no sentido de uma produção coletiva. O termo faz referência à ideia de mapa, que caracteriza o terreno de forma estática e extensa. Contrapõe-se à topologia quantitativa, ou seja, está disponível ao registro do acompanhamento das transformações, da captura de intensidades, decorridas no terreno percorrido e à implicação do sujeito percebedor no mundo cartografado (FONSECA; KIRST, 2003). Ainda para Gilles Deleuze, em seu livro intitulado Foucault: “Se há muitas funções e mesmo matérias diagramáticas, é porque todo diagrama é uma multiplicidade espaço-temporal. Mas, também, porque há tantos diagramas quanto campos sociais na História” (1988, p. 44). Como se tramam as possibilidades cartográficas do encontro?

Além disso, a Cartografia Social é um método de construção coletivo, horizontal e participativo. Esta particularidade, que à primeira vista parece responder à moda atual dos métodos de intervenção e investigação, resgata os modos mais antigos de construção de mapas: os modos coletivos. Estes modos coletivos exercem força sobretudo em duas questões: inicialmente consideram banal o conhecimento do espaço (SANTOS, 1996), e o território como plural de modo que quem participa da “obra” do mapa possui saberes diversos sobre “o lugar”. Por outro lado, consideram coletivo e horizontal o resultado desse mapeamento, de modo que o processo de construção do mapa seja fruto de troca e debate. Tal processo implica em uma tarefa compartilhada, com forte troca de ideias, um debate sobre ações, objetos e conflitos, e, finalmente, um consenso. Isto é essencial, já que o mapa tradicional carece dessa passagem, sendo legitimado segundo quem o construiu por um saber técnico – seja acadêmico, governamental ou militar.

Neste sentido, é necessário resgatar a importância do “poder da cartografia”. Quem possui a informação sobre a localização dos objetos dispõe de ferramentas para comandá-los. Neste percurso, trabalhar com cartografia, incluindo a construção de mapas em si, permite, por um lado, não separarmos o vivido da construção de dados reais, e, por outro lado, no sentido da organização, localizar esses dados no mapa para lê-los no que poderíamos chamar de uma fotografia incompleta do terreno. No caso da Cartografia Social, essa fotografia é um filme coletivizado. Por ser dinâmico, sempre estará incompleto, mesmo quando for concluído. Não há final: o mapa é um relato dinâmico. Os mapas não somente representam o território cumprindo a função de familiarizar o sujeito com o entorno. O mapa também naturaliza a ordem das relações que lhe são permitidas com o espaço, cumprindo uma função ideológica. No sentido do que postula Montoya Arango (2007), reconhecer o mapa como uma mensagem social implica, por um lado, um trabalho de decomposição retórica e de metáforas cartográficas, e, por outro lado, um afastamento do pensamento positivista para ingressar na teoria social, desrespeitando os princípios de neutralidade e de objetividade de que se tem revestido o pensamento científico até agora.

Desligando-se da neutralidade e objetividade, o mapa da cartografia social é fruto de processos comunitários e de subjetivação. Desta forma, duplamente descentrados em agentes individuais e grupais, estes processos implicam o funcionamento das máquinas de expressão que podem ser tanto de natureza extra-pessoal (sistemas antropológicos) ou infra-humana (sistemas corporais, de percepção, de afeto) (GUATTARI; ROLNIK, 1999). O mapa da cartografia social é festivo e aparentemente caótico porque é dinâmico e vivo, em oposição ao solitário mapa dos institutos geográficos estatais. Isto não implica que um seja mais valioso que o outro. O que marca seus limites é uma diferença de gênesis. Enquanto o mapa tradicional nasce normalizado, o social o faz consensuado. Enquanto o tradicional é trabalhado de modo vertical, o social é horizontal. Porém, ambos compartilham o poder da cartografia.

A Cartografia Social está vagamente organizada em seus elementos iconográficos e sua estrutura interna de desenho. A norma é consensuada entre os cartógrafos sociais e seu objetivo geral é determinado pelo problema a tratar. Esse objetivo pode ser um mapa sobre os conflitos do bairro, sobre a localização de recursos comuns, sobre problemas ambientais, sobre a distribuição de água na comunidade, etc.. Apontamos que as normas de construção do desenho, do mapa, são fruto de organização seletiva. O resultado final é difícil de sistematizar em modo gráfico, razão pela qual a obra final do mapa é acompanhada de uma explicação oral e, em algumas ocasiões, escrita. Isto faz com que o mapa em si seja um elemento inacabado, acompanhado por uma explicação oral que o completa. O mapa e essa explicação somente são realizados por quem construiu o mapa, constituindo o texto que referencia o problema tratado inicialmente. Assim, é difícil sistematizar o mapa obtido na Cartografia Social, ao contrário dos modernos sistemas digitais de informação geográfica, que tentam sistematizar e ordenar todos os objetos e dados para, em seguida, gestioná-los. Neste sentido, a gestão pode ocorrer em lugares distantes, o que implica um comando espacial externo, podendo gerar “espaços derivados”, nas palavras de Max Sorre (1947). Em definitivo, como nos diz Carballeda (2012), o território, como espaço de contenção de cenários sociais, pode apresentar-se de forma heterogênea, com distintas lógicas, diferentes formas de compreensão e explicação dos problemas sociais a partir dos próprios atores que o habitam.

A intervenção no território aproxima-se da noção de espaços micro-sociais e também da noção de cenário de intervenção. A partir disso, é possível compreender e explicar as diferentes expressões da questão social abarcando distintos ângulos, perspectivas e visões. Para Orlandi: “Na reconstrução conceitual deleuziana, o próprio encontro é pensado como conexão complexa, uma conexão que comporta linhas heterogêneas” (2014, p.10), na busca por uma Cartografia Social dos encontros.

4 Metodologia de intervenção

O grupo de trabalho, integrado por docentes, estudantes de graduação e pós-graduação da UFPel, considerou oportuno aplicar o seguinte dispositivo de trabalho no bairro: 1) Visitas aleatórias ao bairro (de bicicleta); 2) Entrevista inicial com um líder social local; 3) Planificação de um piloto para aplicar Cartografia Social, em acordo com os referentes sociais do bairro; 4) Divulgação da oficina de Cartografia Social pelos referentes locais; 5) Aplicação do piloto e realização de uma oficina de Cartografia Social no Comitê de Desenvolvimento do Dunas (CDD) e; 6) Devolução à comunidade.

4.1 Uma viagem em bicicleta

A experiência da viagem em bicicletas é transcendental para a investigação urbana. Poderíamos pensar que existem várias dimensões de cidade para serem percorridas. Diferentes urbes emergem a partir do ônibus, do carro, da bicicleta ou a pé. Diferentes aromas, contatos e trocas se sucedem ao deslocar-se utilizando meios variados. Na viagem, recordamos as palavras de Careri (2014) em Walkscapes, ten years after, quando diz que, na América Latina, andar significa enfrentar-se com muitos medos: medo da cidade, medo do espaço público, medo de infringir normas, medo de apropriar-se do espaço.

Como um ato crítico-metodológico, a viagem de bicicleta foi a ferramenta que nos permitiu “outra aproximação”, como rompimento, da cidade e posteriormente de Pelotas. Sem dúvida, “a viagem” faz parte da interação entre o emocional, o pessoal e o intelectual. Para Hammersley e Atkinson (1994), a reação pessoal se transforma através de análises reflexivas do conhecimento público pessoal. A viagem, no sentido de passagem, constitui também um elemento de “estar ali” remarcado nas técnicas etnográficas. Temor, ansiedade, vergonha, atração, amor, sedução – disse Guber (2001) – cabem em uma categoria sistematicamente negada pela investigação social.

O caminho entre a Universidade/FAUrb e o Bairro Dunas compreende uma distância de aproximadamente 6 quilômetros. A distância é suficiente para experimentar as desigualdades próprias de qualquer cidade média da América Latina. É suficiente para sobrepor usos residenciais, industriais, ruas quase vazias e avenidas cheias de veículos. Uma escola, uma rua de terra e uma pequena porta. A vizinha nos indica o Comitê de Desenvolvimento Dunas (CDD), onde encontramos dona Maria.

Fig. 3: Vista do CDD. Rua Um, Bairro Dunas. Fonte: Dados do mapa ©2015 Google.

Fig. 4: Vista a partir do CDD. Rua Um, Bairro Dunas. Fonte: Dados do mapa ©2015 Google.

4.2 Percorrendo o bairro

A entrevista inicial com Maria nos entusiasmou para continuar conhecendo o bairro e explorar seus territórios. Dois dias depois, entrevistamos uma professora, da escola primária que se encontra em frente ao CDD (Fig. 3 e 4). Ao passar pela porta de grade que separa a escola da rua principal do Dunas, um novo território parecia abrir-se, onde a dinâmica entre os professores e as crianças que ali se encontravam geravam uma aura de proteção. A professora que nos recebeu mostrava certa desconfiança. Aqui, os limites não são somente subjetivos ou discursivos, individuais ou coletivos, senão de desmaterialização das regulamentações físicas territoriais ou das simples observações. A que serve geógrafos ou arquitetos trabalharem sobre territórios que já estão revelados até por poderosos satélites militares, senão para chegar ao profundo da construção territorial dos sujeitos, em suas próprias divisões e convenções?

A viagem pelo bairro foi, assim, um vínculo permanente entre a sensação de medo, a intenção e o corpo. Maria nos havia oferecido um passeio pelo bairro a pé. – Eu caminho até onde será a futura praça, depois não, porque mais ao fundo é perigoso (MARIA, 2014). A menção do perigo é, no Brasil, uma permanente advertência para o caminhante. Para Ramiro Segura, existe, em relação ao medo, uma topologia que vai, em termos gerais, desde a intimidade e seguridade do espaço privado da casa até a inseguridade generalizada e anônima do espaço público da cidade (SEGURA, 2006).

A segmentação do espaço público, com os estratos temidos e perigosos, territorializa os medos, de modo geral, à borda da cidade. Enquanto caminhávamos pela avenida Ulysses Guimarães para “o fundo” do bairro, Maria saudava os vizinhos e nos contava sobre como o lugar havia sido ocupado inicialmente, sobre o processo de medição e alguns dos conflitos de infraestrutura existentes até os dias de hoje. Chegamos até o centro geográfico do bairro. As divisões começavam e se aprofundam. – Até aqui caminhamos, mas além eu não os acompanho. Essa parte do bairro prefiro não entrar porque é perigosa e tem muita gente que não conheço, não recomendo que entrem sozinhos aí (MARIA, 2014). As palavras de Maria indicavam que a fronteira estava traçada. Regressamos ao CDD. O bairro Dunas já não era um retângulo no mapa.

4.3 Projeto da oficina

Quando realizamos uma oficina de Cartografia Social, damos especial ênfase a dois instrumentos: o dispositivo e o roteiro.

O dispositivo é a bateria metodológica que inclui todo o processo, desde o início do planejamento até o final da apresentação dos mapas realizados. Deste modo, o dispositivo inclui o planejamento das entrevistas iniciais e seu tipo; as entrevistas aleatórias e seu tipo; as observações e caminhadas pela área de trabalho; a sistematização da demanda e a elaboração de um programa de trabalho para essa demanda.

O roteiro é uma sequência de aspectos cartografáveis e referenciáveis com uma ordem cênica que possa ser sistematizada. Isto pode ser visto como uma “referenciabilidade” que colabora como guia com a construção do texto-mapa e com a leitura desse texto-mapa. O roteiro é o código simbólico que permitirá o desenho da Cartografia Social. Ao mesmo tempo, no roteiro se explicitam o objetivo do trabalho, os destinatários e tudo aquilo que se deseje socializar com os cartógrafos sociais. O trabalho de projeto do roteiro, que se encontra, como mencionamos, dentro do dispositivo de investigação-intervenção, é muitas vezes consensuado com os referentes locais, discutido, posto à prova e avaliado tanto dentro do laboratório como na organização que o convoca. Neste caso, o roteiro foi consensuado em duas oportunidades por integrantes do CDD e seus referentes. Assim, os pontos chave de intervenção e de interesse dos referentes interatuam com os interesses e objetivos que motivaram o trabalho no território.

O evento do projeto do roteiro é transcendental por pelo menos cinco motivos: a) a claridade de interpretação que permita a criação de mapas e sua legibilidade posterior; b) a interação entre o grupo acadêmico e o grupo social; c) a negociação de interesses entre estes grupos; d) a claridade de objetivos e intencionalidades dos agentes envolvidos, e e) a criação de pactos de privacidade, divulgação, etc..

Os motivos mencionados acima formam parte de um processo metodológico que se encontra em permanente discussão. Uma discussão criativa e comunitária que, neste caso particular, gerou o esquema de roteiro apresentado a seguir.

4.3.1 Objetivo

Cartografar o bairro Dunas com o propósito de pensar suas problemáticas no contexto da cotidianidade. Propôs-se traçar resoluções para estas problemáticas a partir da utilização dos elementos existentes no espaço geográfico.

4.3.2 População convidada

A projeção foi trabalhar com a população em geral, vizinhos do bairro e pessoas interessadas em fazer uma cartografia coletiva da comunidade, em conjunto com a comunidade.

4.3.3 Ação

Desenhar com diferentes cores (Tabela 1), na mesma folha, variadas temáticas, em grupo.

Tabela 1: Momentos do desenho do mapa. Fonte: Autores, 2014.

Formaram-se dois grupos (Fig. 5 e 6) de aproximadamente sete integrantes cada um. Para a formação usamos a técnica de “pan y queso4, entre um adulto e uma criança. Uma vez formados os grupos, foram dispostas folhas de papel no chão e canetas pretas, verdes, vermelhas e azuis em quantidade suficiente para que todos os integrantes pudessem desenhar.

Fig. 5: Primeiros momentos da oficina de Cartografia Social no CDD, Bairro Dunas. Fonte: Edu Rocha, 2014.

Fig. 6: Primeiros momentos da oficina de Cartografia Social no CDD, Bairro Dunas. Fonte: Edu Rocha, 2014.

5 Resultados obtidos

O mapa social se comporta como objeto-texto que solidifica uma imagem coletiva e consensuada, de cada memória e interpretação individual posta em cena ante uma situação comunitária. Ele é complexo e não pode ser separado de sua instância de produção. A partir dessa solidificação da memória e do intercâmbio de informação territorial, o mapa facilita a visualização das dinâmicas do passado e do presente, que fala das trocas e interpela o próprio cartógrafo social com essas trocas acontecidas e postas em cena.

5.1 A dinâmica de trabalho

O trabalho sobre o “chão” proporciona horizontalidade, ao mesmo tempo em que provoca uma outra sensação subjetiva do espaço. Esta situação convida os participantes cartógrafos sociais a ocupar um espaço novo que frequentemente não utilizam ou não experimentam desde a infância. O mapa em branco, o início e a discussão sobre “o que vamos fazer agora?” apresenta-se como uma intriga que se soma à nova situação espacial comunitária, onde todos os gestores estão na mesma situação espacial. Imediatamente, os referentes locais tomaram um lugar principal na organização do mapa. As mulheres referentes-chefes tomaram a posição de “explicadoras” do tema e da interpretação do “roteiro”. Nesta situação inicial, foi interessante observar como as crianças prestavam atenção na nova situação de desenhistas sentados no piso e como tomavam partido desta cena, passando a governar um espaço que, para elas, é cotidiano: o espaço do jogo.

Enquanto o mapa seguia em branco, os referentes começavam a ordenar uma estrutura para a cartografia, de modo abstrato. Os elementos eram discutidos quanto à sua localização, relação e relevância. Primeiro, desenhou-se o CDD e, a partir desta referência, discutiram-se os elementos restantes.

5.2 Os corpos e o mapa

A partir da psicologia social, Patrícia Mercado (2002) nos diz do social que faz território no corpo, nos corpos, e encontra, não sem contradição, o modo de conservar e reproduzir sua própria vitalidade.

Os grupos de cartógrafos devem, como lema de trabalho, desenvolver o desenho no chão (Fig. 7 e 8). Isto implica que todos os integrantes trabalhem à mesma altura e em um espaço que “expõe” a totalidade do corpo ante o resto. A cena de trabalho que geralmente se frequenta, onde o torso e a cabeça estão descobertos e desde a cintura até os pés permanecem ocultos em uma situação estática, é modificada. Agora o corpo está despregado do solo, apoiado em múltiplos setores e, para realizar o desenho, cada integrante deve mover-se ou modificar sua postura. Há uma resistência ao colocar-se em uma situação de jogo sem suporte material, tal como uma cadeira, uma mesa ou uma estante. No Dunas, os referentes locais, assim como em outras experiências, preferiram inicialmente adotar a mesma situação corporal, ficando de cócoras ou em pé. O solo é horizontal, igualitário e expositivo. Daqui, a importância de tentar que se aceite grupalmente a localização neste lugar.

A comunicação entre os corpos e a palavra vai aprofundando-se à medida que o mapa requer consenso e acordos. Os corpos falam e as palavras desenham. Um novo texto vai sendo composto entre as observações, as discussões e o intercâmbio de informações que constroem o mapa.

O agenciamento com Alberto Sava (2009) aponta a formação de sujeitos sociais baseada desde uma estrutura de linguagem verbal, o que reafirma a atenção para o corpo e a palavra. A observação e abordagem do corpo são, sem dúvida, indispensáveis na Cartografia Social. Não há texto final sem corpo e não há mediação completa sem corpo.

Fig. 7: Momento de relação horizontal e das formas de enunciar processos na oficina de Cartografia Social no Bairro Dunas. Fonte: Edu Rocha, 2014.

Fig. 8: Momento de relação horizontal e das formas de enunciar processos na oficina de Cartografia Social no Bairro Dunas. Fonte: Edu Rocha, 2014.

5.3 Os mapas

A realização do mapa coletivo implica em um processo de intercâmbio de informações territoriais que constitui um dos elementos mais ricos da Cartografia Social. Esse intercâmbio de informações territoriais se realiza em função: a) da memória territorial; b) do território vivido, e c) do território argumentado.

Sobre a memória territorial, o mapa se comporta como objeto que solidifica uma imagem coletiva e consensuada de cada memória individual posta em cena ante uma situação comunitária.

Sobre o território vivido, o mapa em geral é um intercâmbio de experiências, sensações, juízos, localizações e relações que são postas em discussão grupal, o que incorpora a visão de “outros” na construção de um cenário mapeado. O território vivido é, ao mesmo tempo, a fonte do desenho e o consenso.

O território argumentado implica que cada um dos integrantes aplique, de modo individual, um argumento de território a representar no mapa. Esse argumento é posto em debate coletivamente e é validado ou não. A argumentação individual é permanentemente posta em jogo.

Os mapas do Dunas (Fig. 9 e 10) iniciaram-se com o desenho do CDD como epicentro. Dunas, enquanto bairro, organizou-se como parte “apartada” da cidade de Pelotas. Os limites do bairro incluíram tanto elementos físicos e tangentes, quanto os de caráter simbólico, como temor e identidade.

Foram destacados como problemáticos os elementos da baixa disponibilidade comunitária do espaço de uso comum e a violência dos espaços de usos comum.

Paradoxalmente, os dois pontos implicam em um conflito entre espaços de uso comum e espaços públicos. A baixa disponibilidade comunitária de espaços de uso comum se refere principalmente à inexistência de uma praça, de espaços fechados para o “lazer” e à demora da execução de obras por parte da prefeitura.

Os espaços públicos e comuns, tanto ruas como praças, apresentaram-se como argumentos para indicar limites marcados pelo temor de circular, pelo abandono da infraestrutura e pela separação entre uma racionalidade urbana para Pelotas e outra para o bairro Dunas.

Fig. 9: Mapa produzido na oficina de Cartografia Social no Bairro Dunas. Fonte: Edu Rocha, 2014.

Fig. 10: Mapa produzido na oficina de Cartografia Social no Bairro Dunas. Fonte: Edu Rocha, 2014.

5.4 Apresentação do mapa e discussão final

A apresentação dos mapas abordou os temas indicados acima. O problema da violência no espaço público marcou o argumento de um território de conflito. Ao mesmo tempo, assinalou-se, em várias oportunidades, que não existem possibilidades claras de se encontrar soluções aos problemas levantados. – São problemas que nos extrapolam, que não tem que ver somente com o bairro, senão que vêm da política do país, da prefeitura [...] Nós o que podemos fazer além disso? Nós organizamos muitas vezes, porém o problema é que sentimos que não nos escutam. (fragmento da apresentação do mapa).

As problemáticas mapeadas ampliaram o texto numa discussão sobre os conflitos territoriais, a dificuldade da enunciação coletiva em grupos de trabalho e uma revisão histórica de processos participativos em momentos de maiores carências de infraestrutura - quando a população torna-se mais participativa.

A apresentação e discussão final ampliam os temas e geram aspectos impensados inicialmente como problemáticas. Por exemplo, o desenho de um assassinato em um dos mapas gerou um debate sobre o espaço comum para as crianças - a oferta de oficinas comunitárias no CDD e a participação da escola. A pergunta “existe um mapa para as crianças e outro para os adultos?” sugeriu a necessidade de se aprofundar a demanda das crianças sobre espaços comuns, os quais não necessariamente devem ser físicos.

6 Conclusões

A cartografia como método emancipador coloca o desafio de se produzirem heterotopias. Estes lugares [as heterotopias] são absolutamente diferentes, opostos, e enunciam contra-posições possíveis, emergindo "uma espécie de contestação simultaneamente mítica e real do espaço em que vivemos" (FOUCAULT, 2001, p.416 ).

Assim formas de existência e de subjetividades são deformadas, em um exercício de liberdade, não como abstração, mas como prática concreta.

A estratégia cartográfica permite escapar ao decalque, à cópia, à reprodução e à repetição de si mesmo, tornando possível a singularização, a produção de si mesmo a partir de novas estéticas da existência. O caso apresentado no artigo possibilita um avanço na organização dos aspectos mais relevantes em relação tanto à aplicação como à sistematização de oficinas de Cartografia Social. Deste modo, podemos afirmar que estas experiências cartográficas extrapolam os mapas, dando conta de um processo de produção coletivo, e reforçando uma estrutura integral de cartografia como elemento de poder e da Cartografia Social.

Neste sentido, a análise dos mapas, que se concentram na memória territorial, no território vivido e no território argumentado, marca, sem dúvida, um novo espaço de representação gráfica. Uma representação gráfica que não decalca as configurações topológicas produzidas pelas formas da terra, mas que representa um entremeado complexo das configurações mentais que emanam de uma discussão e de um consenso (Fig. 11 e 12).

Talvez o espírito do rizoma nos interconecte, levando-nos inevitavelmente a novos lugares e a espaços sociais mais justos, criando esse "novo" coletivamente. Mapas assim construídos são produtores de subjetividades5 intertextuais, propiciadas pelas travessias tecidas menos pelo extra-material e mais pela corporalidade, constituindo novos discursos e possibilidades. Esse investimento de travessia pressupõe proximidades e distanciamentos em sua urdidura. Tais incursões pela diversidade de formas de expressões, da periferia ao centro e vice-versa, resultam em forças transformadoras, nas quais o mapa da Cartografia Social aparece como um corpo dividido, abrangendo inacabadamente outros corpos, criando novas configurações.

Gilles Deleuze diz que “o gestus é o desenvolvimento das atitudes nelas próprias, e, nessa qualidade, efetua uma teatralização direta dos corpos, frequentemente bem discreta, já que se faz independente de qualquer papel” (1990, p. 231).

Fig. 11: As crianças e os mapas. Fonte: Edu Rocha, 2014.

Fig. 12: Cartaz de divulgação da oficina. Fonte: Edu Rocha, 2014.

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1Este artigo constitui uma ampliação e revisão do texto: DIEZ-TETAMANTI; ROCHA, 2016. Disponível em: <http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/view/8897>.

2http://prograu.ufpel.edu.br/

3http://www.igeopat.org/

4Ver mais em: http://locapormi.blogspot.com.br/2006/09/cmo-jugar-al-pan-y-queso.html

5“[...] autores como Foucault, Deleuze e Guattari apresentaram grandes contribuições ao refletirem a questão da subjetividade, especialmente pela crítica radical que teceram sobre os modos hegemônicos de seu tratamento. Puderam lançar luz no debate e o fizeram destacando o caráter processual e produtivo da subjetividade, possibilitando, portanto, sua desnaturalização” (LEITE; DIMENSTEIN, 2002, p.23).

Intervention in Dunas neighbourhood: for a social cartography of encounters

Eduardo Rocha, Juan Manuel Diez Tetamanti, Carolina Mesquita Clasen

Eduardo Rocha is Doctor in Architecture and Urbanism. He is Professor and Researcher of the Department of Architecture and Urbanism, at Federal University of Pelotas. He is Coordinator of the Urban Planning Laboratory. He studies ways of life and the production of an urban design aimed at the people in the cities.

Juan Manuel Diez Tetamanti is Doctor in Geography. Professor and Researcher at the National University of Patagonia San Juan Bosco. He studies economic and social geography, urban planning and development.

Carolina Mesquita Clasen is a visual artist and researcher at Architecture and Urbanism Postgraduate Program, at Federal University of Pelotas. She studies the relationship among exhibition spaces, urban spaces and their imanences.


How to quote this text: Rocha, E., Diez Tetamanti, J. M. and Clasen, C. Intervention in Dunas neighbourhood: for a social cartography of encounters. V!RUS, 14. [online] Available at: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus14/?sec=4&item=4&lang=en>. [Accessed: 27 April 2024].


Abstract

This article results from the encounter and experience with the Social Cartography Methodology by Brazilian and Argentinean research groups, composed of architects, urban planners, and geographers in the Dunas neighborhood, within the periphery of Pelotas, in the Southernmost Brazil state of Rio Grande do Sul. The methodology of Social Cartography followed the weaving of the city, the interrelationships of the particular case of the Dunas neighborhood, line-by-line, in the sewing of the daily life, desires, problems, solutions, and public authorities' actions. The text seeks to raise issues related to the Social Cartography method, such as organization, analysis, and forms of applications. It also points to emancipatory and communitarian aspects involved in this process. We propose that Social Cartography can help to weave the city, undoing the dichotomy between center and periphery while new social spaces are produced from intervention research.1

Keywords: Social cartography; Intervention research; Emancipation


1 Introduction

This article is a product of many encounters. Encounters of researchers from the Architecture and Urbanism School (FAUrb) and the Post-Graduation Program in Architecture and Urbanism2 (PROGRAU/Federal University of Pelotas/UFPel/Brazil) with friends from the Patagonia Research Institute in Geography3 (IGEOPAT/ National Patagonia University in San Juan Bosco/UNPSJB/Argentina). Encounters between the research centers and the Dunas neighborhood in Pelotas (Brazil), between the city’s periphery and the center. Encounters with people. Real encounters between the world that opens up and forces that make thinking, and builds. (Deleuze, 2009). This text has a double goal: to illustrate part of the application of the methodology of Social Cartography workshops, aiming to systematize the scientific task of this method; and to methodologically describe the process of a concrete intervention in Dunas neighborhood. Both are permanently juxtaposed and interconnected.

We question: how is it possible, from this experience, to weave methodological reflections of approximation between a community in the city outskirts and a research institution? In which ways are the city center and periphery related?

We seek to use Social Cartography as a weaving to undo the centre-periphery dichotomy, by sewing up daily life, desires, problems, solutions and public authorities' actions. We seek to understand the city through the construction of lines articulated between content and expression, machinic and collective assemblages, no longer opposed but interrelated and inseparable. (Deleuze & Guatarri, 1997)

As a result of work meetings, we consider these contributions as a small contribution, which can be refined and improved from new experiences, both ours and for colleagues who wish to approach social cartography as a method of research and social intervention.

2 The profile of Pelotas and Dunas

The city of Pelotas (Fig.1) is located in Southern Brazil, in the state of Rio Grande do Sul, on the banks of the São Gonçalo Channel, which connects the lagoons Dos Patos and Mirim. It has a population of approximately 350.000 inhabitants and is 259 km far from Porto Alegre (the state’s capital) and 560 km from Montevideo (Uruguay’s capital). Pelotas, as most middle-sized cities in Latin America, produces a periphery which is segregated and needy – as a result of the State’s public policies and planning –, supported by social inequality. The urban edge is not excluded from urban planning, but this critical and segregated insertion strengthens the Capital.

Dunas neighborhood (Fig. 2) is a typical periphery of a middle-sized Brazilian city. We use the word periphery from Nabil Bonduki and Raquel Rolnik (1979) writings, who state that peripheries are city territories with differential low-income, which makes the concept more precise and also attaches, more concretely and objectively, the occupation of the urban land and social stratification. Periphery, then, assumes a concept that goes beyond the geographical meaning of being in the margin, but a social concept of being excluded.

Dunas neighborhood origins go back to 1986, through a local action by the City Hall which appointed a 60-hectares area for implementing townhouses projects. Today, more than 20 thousand people live there. It is close to other outskirts neighborhoods like Areal and Bom Jesus. The name Dunas comes contradictorily from its “walled” vicinity to an upper-class social club with the same name (Mereb, 2011 & Soares Junior, 2011).

Fig. 1 - Map showing the location of the city of Pelotas at Rio Grande do Sul state, Brazil. Source: Map data © 2015 Google. Edited by the authors.

Fig. 2 - Google Image showing the Dunas District delimitation, at Pelotas. Source: Map @2015 Google. Edited by the authors.

3 Social cartography as a method of encounters

From the perspective of Human and Social Sciences, Cartography was born from the dialogue between Michel Foucault and Gilles Deleuze, with its genesis in the Nietzschean tradition. The method's outline derives from Foucault’s already known perspectives of an archaeology of knowledge, the genealogy of power and ethics. Both authors keep a very close relationship with the Geography field – using words like territory, field, latitude, longitude, landscape, displacement, etc. –, always towards a collective production. The term refers to the idea of a map, which characterizes the land statically and extensively. It contrasts with quantitative topology, that is, it is available for registering the monitoring of transformations, the capture of intensities that happens on the covered ground, and for the implication of the perceiver subject in the cartographed world. (Fonseca and Kirst, 2003). For Gilles Deleuze, in his book Foucault, “If there are many functions and even diagrammatic matters, it is because every diagram is a spatiotemporal multiplicity. But it is also because there are as many diagrams as there are social fields in History.” (1988, p. 44, our translation). How are the cartographic possibilities of the meeting plotted?

Besides, Social Cartography acts as a collective, horizontal and participative construction method. This particularity that at first seems to respond to the current fashion of intervention and research methods brings back the oldest methods of building maps: the collective modes. Such modes exercise their force especially in two points: first, it considers banal the knowledge of space (Santos, 1996), and the territory as plural, in a way that those who participate in the “work” of the map possesses different knowledge about “the place”. On the other hand, they consider the result of such mapping as collective and horizontal, so the making of the map must be the product of exchange and debate. Such process implies a shared task, with a consistent exchange of ideas, discussion about actions, objects and conflicts and finally, consensus. This is essential, as the traditional map lacks such passage because it is legitimized according to those who built it from technical knowledge – be it academic, governmental or military.

It is thus necessary to rescue the importance of the “power of cartography”. Those who possess information about the location of objects have the tools to command them. In this way, working with cartography, including the construction of maps per se, allows us not to separate the lived from the building of real data, and, on the other hand, in the sense of the organization, to locate this data on the map to read it, which we could call an incomplete photograph of the land. In the case of Social Cartography, this photography is a collectivized film. Since it is dynamic, it will always be incomplete, even when it is finished. There is no end: the map is a dynamic portrait. Maps not only represent the territory and produce it, fulfilling the function of familiarizing the subject with the surroundings; maps also naturalize the order of the relationships allowed with space, playing an ideological role. As Montoya Arango (2007) states, to recognize the map as a social message implies, in a way, in a work of rhetorical decomposition and cartographic metaphors, and in another way, in moving away from positivist thinking to join social theory, disrespecting principles of neutrality and objectivity that have coated scientific thinking so far.

By getting away from neutrality and objectivity, the social cartography’s map is the product of community and subjectivization processes. This way, doubly decentred in individual and group agents, those processes imply in the functioning of expression machines which can have an extra-personal (anthropological systems) or an infra-humane (body, perception, affection systems) nature. (Guattari & Rolnik, 1999) The social cartography map is a festive map, apparently chaotic because it is dynamic and alive; as opposed from the lonely maps by state-owned geographic institutes. That does not mean that one is more valuable than the other. It is a genesis difference that sets its limit. While a traditional map is born normalized, the social one comes from consensus. While work in the traditional one is vertical, in the social one, it is horizontal. Both, however, share the power of cartography.

Social Cartography is vaguely organized in its iconographic elements and internal design structure. Norm comes from a consensus among social cartographers, and its general goal is determined by the problem to be addressed. This goal can be a map about the neighborhood’s conflicts, about the location of common resources, about environmental problems, water distribution in the community, etc.. We stress that the construction norms of the map and its design results from a selective organization. It is hard to systematize the final result graphically, and because of that, the final work of the map is accompanied by an oral and sometimes written explanation. That makes the map itself an unfinished element, as it comes with an oral report that completes it. Map and explanation are only presented by those who built it, who made the text that references the problem addressed at first. Thus, the map obtained through Social Cartography is hard to systematize, in opposition to modern digital systems of geographic information, which try to organize and order all the objects and data and then manage them. Therefore, management can happen in distant places, which implies a spatial command that is external and may create “derived spaces”, in the words of Max Sorre (1947). Undoubtedly, as Carballeda (2012) states, the territory, as a place for restraining social sceneries, may present itself heterogeneously, with different logics, comprehension and explaining modes for social problems, from actors who live in it themselves.

Intervention in the territory approximates to the notion of micro-social spaces and also to the intervention sceneries one. From that, it is possible to understand and explain the different expressions of social issues, covering different angles, perspectives, and views. For Orlandi: “In the Deleuzian conceptual reconstruction, encounter itself is thought of as a complex connection, a connection that admits heterogeneous lines” (2014, p. 10, our translation), searching for a Social Cartography of encounters.

4 Intervention methodology

The work group, formed by professors, undergraduate and graduate students from UFPel, considered it opportune to apply the following work tools in the neighborhood: 1) random visits in the neighborhood (on bike); 2) initial interview with a local social leader; 3) planning a pilot action to apply the Social Cartography method, according to the neighborhood's social references; 4) locally publicizing the Social Cartography workshop among residents; 5) application of the pilot action and Social Cartography workshop at CDD (Dunas’ Development Committee); 6) feedback to the community.

4.1 A bike trip

The experience of traveling by bike is transcendental for urban research. We can think that there are several dimensions of the city that can be ridden. Different urbes emerge from the bus, the car, the bike or on foot. Different smells, contacts, and exchanges happen when one travels by various means. During the trip, we recalled the words by Careri (2014) in Walkscapes, ten years later, when he says that in Latin America, walking around means to face many fears: fear of the city, fear of public spaces, fear of breaking the rules, fear of taking ownership of the space.

As a critical methodological act, the bike ride allowed us “another approach”, as a rupture, from the city and then from Pelotas. Undoubtedly, “the trip” is a part of the interaction between the emotional, the personal and the intellectual. For Hammersley e Atkinson (1994), the personal reaction is transformed by different reflexive analysis of public personal knowledge. The trip, in the sense of a passage, is also an element of “being there”, remarked in ethnographic techniques. Fear, anxiety, shame, attraction, love seduction – stated Guber (2001) – fit into a category that is systematically denied by social research.

The route connecting the University/FAUrb to Dunas has about 6 kilometers. The distance is long enough to experience the inequalities prevailing in any middle-sized city in Latin America. It is enough to overlap residential and industrial uses, almost empty streets and avenues filled with cars. A school, a dirt road, and a small door. A neighbor indicates the Dunas’ Development Committee (CDD), where we meet Ms. Maria.

Fig. 3 – View on the CDD. Street One, at Dunas District. Source: Google Street View, 2015.

Fig. 4 - View from the CDD. Street One, at Dunas District. Source: Map data © 2015 Google.

4.2 Going through the neighborhood

The initial interview with Maria brought us enthusiasm to keep on getting to know the neighborhood and explore its territories. Two days after we interviewed a teacher from the primary school that is in front of CDD. (Figs. 3 and 4) Having passed through the grid door that separates the school from Dunas’ main street, a new territory seemed to open up, in which the dynamics between teachers and children created an air of protection. The teacher who received us showed some suspicion. That confirms the relevance of limits, not only subjective or discursive ones but of dematerialization of physical territorial regulation or simple observation. Why is it worth to geographers and architects to work in territories revealed by powerful military satellites, if not to get into the depths of the subjects’ territorial constructions, into their divisions and conventions?

The trip around the neighborhood was then a permanent bond between the sensation of fear, the intention, and the body. Maria suggested walking around with us. "– I walk until there, where the square is, but I don't go beyond because it is dangerous over there". (Maria, 2014, our translation). In Brazil, to mention danger is a permanent warning given to those who walk around. For Ramiro Segura, regarding fear, there is a topology that goes, in general, from intimacy and safety of the private space at home to the general anonymous unsafety of the city’s public space (Segura, 2006).

The segmentation of the public space, with fearful and dangerous places, territorializes the fears, usually in the city margins. While we walked by Ulysses Guimarães Avenue towards the “back” of the neighbourhood, Maria greeted the neighbours and told us about the first occupation, about the mediation process and some of the infrastructure conflicts that still exist nowadays. We got to the geographic centre of the neighbourhood. Divisions get started and got deeper. – Until here we walked, but further on I do not go with you, I prefer not to go into this part of the neighbourhood, because it is dangerous and there are many people who I do not know. I believe you shouldn't go there alone. (Maria, 2014, our translation). Maria’s words indicated that a frontier was traced. We went back to CDD. Dunas was no longer a rectangle in the map.

4.4 Workshop project

When carrying out a Social Cartography workshop, we emphasize two tools: the device and the itinerary.

The device is the methodological ensemble for the whole process, from the beginning of the planning to the final presentation of the maps created. This way, the device includes planning the initial interviews and their type; the random interviews and their type; the observations and walks around in the work area; the systematization of the demands and the elaboration of a working program for these requests.

The itinerary is a sequence of cartographable and referenceable aspects in a scenic order which can be systematized. That can be seen as a “referentiality”, which collaborates as a guide for the construction of the text-map and its reading. The itinerary is the symbolic code which will allow us to design a Social Cartography. At the same time, the itinerary makes the goals, the addresses, and all that one wishes to exchange with social cartographers. The work of planning the route, which is, as we mentioned, within the intervention research device, often comes from consensus with local references, which is debated, tested and assessed both in the lab and in the organization that makes it. In this case, itinerary came from a consensus from two opportunities with CDD members and their references. Thus, the key points of the intervention of the reference’s interests interact with the interests and goals which motivated the work in this territory.

The event of projecting the itinerary is transcendental for at least five reasons: a) the clarity of interpretation that allows the creation maps and their future legibility; b) the interaction between the academics and the social group; c) the negotiation of interests between these groups; d) the clarity of the agents’ goals and intentions; and e) the creation of agreements for privacy, publicity and so on.

The reasons mentioned above are part of a methodological process that is permanently discussed. A creative community discussion, which created, in this particular case, the itinerary scheme that we present next.

4.4.1. Objective

To cartograph Dunas, aiming to think about the neighborhood’s problems in the context of daily life, we proposed to trace solutions for those problems using elements existing in the geographic space.

4.4.2. Invited population

We were expecting to work with the population in general, neighbors and people interested in making a collective cartography of the community, together with this community.

4.4.3. Action

To draw using different colours (Table 1), in the same sheet, with varied themes, in groups.

Tab. 1 - Moments of the map design. Source: the authors, 2014.

Two groups were formed (Figures 5 and 6) with approximately seven members each. To compose them, we used the “bread and cheese” technique, between one adult and one child. Once groups were formed, sheets of paper were placed on the floor. Black, green, red and blue pens were available for everyone to draw.

Fig. 5 - First moments of the Social Cartography at Dunas District. Source: Edu Rocha, 2014.

Fig. 6 - First moments of the Social Cartography at Dunas District. Source: Edu Rocha, 2014.

5 Obtained results

Social maps behave as an object-text that solidifies a collective consensual image, of each memory and interpretation put into scene facing a community situation. It is complex and cannot be separated from its production instance. The map, from this memory solidification and territorial information exchange, makes it easy to visualize the past and present dynamics, which speak about exchanges and interpellates the social cartographer with such exchanges and exposures.

5.1 Work dynamics

To work "on the floor” provides horizontality, at the same time as it causes another subjective sensation of the space. This situation invites the participant social cartographers to occupy a new space, which they usually haven’t been using or experiencing since childhood. The blank map, the beginning and the discussion about “what will we do now?” showed up as an intrigue that is added to the new communitarian spatial situation, in which all the managers are similar. Immediately, the local references took a central place in the map’s organization. The women reference-chiefs took the position of “explainers” of the theme and the “itinerary” interpretation. In the first situation, it was interesting to observe how children paid attention to their new situation of designers, sitting on the floor, and how they took part of this scenery and started to govern a space that is usual for them: the space of the game.

While the map was still blank, the references started to order a structure for the cartography, in an abstract way. Elements were discussed regarding their location, relation, and relevance. First, the CDD was drawn, and from there, there was the debate about the rest of the elements.

5.2 The bodies and the map

Starting from social psychology, Patrícia Mercado (2002) tells us about social aspects that make its territory in the body, in the bodies, and find - not without contradictions - a way to maintain and reproduce its vitality.

According to their work motto, groups of cartographers must develop the drawing on the floor. (Figures 7 and 8) This requirement implies that all members work at the same height and in a space which “exposes” the totality of their body to the others. The work scene in which one usually is, where the torso and the head are uncovered and from the waist to the feet the body stays hidden in a static situation is modified. Now, the body is unattached from the ground, supported in multiple sectors, and to draw, each member must move or change their posture. There is resistance to putting oneself in a game situation without material support, like a chair, a table or a shelf. In Dunas, the local references, just like in other experiences, preferred to initially adopt the same body situation, squatting or standing up. The ground is horizontal, egalitarian and expositive. Thus, it is important to try the group to accept being in this place.

Communication between bodies and words becomes deeper as the map requires consensus and agreements. Bodies speak and words draw. A new text is composed among the observations, discussions and information exchange that build the map.

In what concerns the body and the word, the agency with Alberto Sava (2009) points to their formation as social subjects, based in a verbal language structure. There is no doubt that the body must be imperatively observed and approached in Social Cartography. There is no final text without the body and there is no complete mediation without the body.

Fig. 7 - Moment of horizontal relationship and ways of articulating processes in the Social Cartography workshop at Dunas District. Source: Edu Rocha, 2014.

Fig. 8 - Moment of horizontal relationship and ways of articulating processes in the Social Cartography workshop at Dunas District. Source: Edu Rocha, 2014.

5.3. The maps

Building a map collectively implies a territorial information exchange process that is one of the richest elements of Social Cartography, and happens because of: a) territorial memory; b) the lived territory; and c) the argumented territory.

About territorial memory, the map behaves as an object that solidifies a collective and agreed upon image and each memory brought up in a community situation. The map starts from such solidification of memory and exchange of territorial information.

About the lived territory, the map is, in general, an exchange of experiences, sensations, judgments, locations, and relations brought for group discussion, incorporating “others'” views within the construction of a mapped scenario. The lived territory is at once the source of design and the consensus.

The argumented territory implies that each member applies individually a territory argument to be represented on the map. This argument is then put into the debate in the group and finally validated or not. Individual argumentation comes permanently into play.

The maps of Dunas (Figures. 9 and 10) started with the drawing of CDD as the epicentre. Dunas, as a neighborhood, organized itself as an apart location from Pelotas as a city. The neighborhood limits included both physical and tangent elements and symbolic ones, such as fear and identity.

The problems highlighted were the rare availability of spaces for shared use by the community and the violence in the existing community areas.

Paradoxically, both these issues implicate in a conflict between spaces for shared use and public spaces. The little availability of spaces for shared use by the community regards especially the inexistence of a square, of closed “leisure” areas and the delay of the city hall to achieve construction works.

Public and common spaces, both streets and squares, showed up as arguments to indicate limits marked by fear of circulating, abandonment of the infrastructure and separation of the urban rationality for Pelotas from the one for Dunas.

Fig. 9 - Map produced at the Social Cartography workshop at Dunas District. Edu Rocha, 2014.

Fig. 10 - Map produced at the Social Cartography workshop at Dunas District. Edu Rocha, 2014.

5.4. Map presentation and final discussion

The maps presentation approached the themes discussed above. The problems with public spaces and violence marked the argument of a conflict territory. At the same time, in several moments, problems with no clear possible solutions came up. These issues go beyond us; they do not have only to do with the neighborhood but come from the country’s politics, the city hall […] What can we do further? We often organized ourselves, but we feel like no one listens to us. (extract from the map presentation, our translation)

The mapped problems expanded the text into a discussion about territorial conflicts, the difficulty to call for collective works and a historical review of the participation processes in moments of greater lack of infrastructure when the population turns more participative.

The presentation and final discussion expanded themes and created openness to aspects that had not been thought as problems at first. For instance, the drawing of a murder in one of the maps resulted in a debate about common spaces for children – the offer of community workshops at the CDD and the participation of the school. The questions “must there be a map for children and another one for adults?” suggested a need to deepen the children’s demand for shared spaces, which do not have to be necessarily physical.

6. Conclusions

Mapping as an emancipatory method poses the challenge of producing heterotopias. These places [the heterotopias] are different, opposite, and enunciate possible counter positions, emerging "a sort of simultaneous and mythical contestation of the space in which we live" (FOUCAULT, 2001, pg. 416, our translation).

Hence, forms of existence and subjectivities are deformed, in an exercise of freedom not as an abstraction, but as a concrete practice.

The cartographic strategy allows the escape from the decal, from the copy, from the reproduction, and from one’s own repetition, making it possible to singularize, to produce oneselfness from new existence aesthetics. The case presented in this article allows advancing towards an organization of the most relevant aspects of both application and systematization of Social Cartography workshops. This way, we assert that such cartographic experiences raise beyond maps and account for a collective production process, reinforcing and integrating a cartography structure as an element – of power and Social Cartography.

In this sense, the analysis of the maps, which focus on territorial memory, lived territory and argumented territory, undoubtedly marks a new space of graphic representation. A graphic representation that does not decal topological configurations produced by the conformation of the land, but represents a complex scattering of mental configurations that emanate from a discussion and a consensus. (Figs.11 and 12)

Maybe it is the rhizome spirit that interconnects us, that takes us inevitably to new spaces and to fairer social spaces, collectively creating the new. Maps that are built this way are producers of intertextual subjectivities, provided by the crossings woven less by the extra-material and more by the corporality, constituting new discourses and possibilities. This investment in the traverse presupposes proximities and detachments, in its weaving. Such incursions into the diversity of expression forms, from the periphery to the centre and vice-versa, result into transforming forces, in which the Social Cartography map comes up as a divided body, that comprises other bodies incompletely, creating new configurations.

Gilles Deleuze says that “the gestus is the development of attitudes in themselves and, in this quality, it makes a direct theatrical dramatization of bodies, usually quite discrete, independent of any role.” (1990, p. 231, our translation)

Fig. 11 - Children and the maps. Source: Edu Rocha, 2014.

Fig. 12 - Advertisement poster for the workshop. Source: Edu Rocha, 2014.

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2http://prograu.ufpel.edu.br/

3http://www.igeopat.org/